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Vigilância epidemiológica no Brasil

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Vigilância epidemiológica no Brasil
Para que serve a Vigilância Epidemiológica?
A Vigilância Epidemiológica (VE) está incluída entre as Funções Essenciais de Saúde Pública (FESP). O Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica é um subsistema do Sistema Único de Saúde (SUS), baseado na informação-decisão-ação de doenças e agravos específicos. Os principais objetivos da VE são elaborar, recomendar e avaliar as medidas de controle e de planejamento. Com isso, a VE pode ser definida como uma atividade de informação para decisão/ação, desenvolvendo várias funções específicas, como:
· Coleta de dados e informações
· Processamento
· Análise e interpretação dos dados coletados
· Tomada de decisão/aç
· Avaliação
· Divulgação de informações pertinentes
· Normatização
Para que a VE possa cumprir o papel que lhe cabe, é necessário que ela disponha de informação, que é gerada a partir da coleta, do tratamento e da interpretação de dados. A informação constitui um instrumento capaz de estabelecer um processo dinâmico para o desencadeamento de medidas de controle pertinentes, o planejamento, a avaliação, a manutenção e o aprimoramento das intervenções públicas em saúde.
Avanços da Vigilância Epidemiológica no Brasil
Com a criação, em 1991, do Centro Nacional de Epidemiologia (Cenepi), foi impulsionada a ampliação da atuação da VE para além das doenças transmissíveis, conforme exigido pela Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990 (Lei do SUS), indicando 
a necessidade de atuar sobre determinantes e condicionantes dos problemas de saúde das populações (PAIM apud ALMEIDA FILHO; BARRETO, 2011).
Entre as atividades desenvolvidas pelos serviços de vigilância do país, destacam-se:
1- O monitoramento e a prevenção de Doenças e Agravos Não Transmissíveis (DANT).
2- A vigilância de óbitos infantis e maternos.
3- A vigilância de acidentes de trânsito.
Essa ampliação no modelo de atuação da Vigilância Epidemiológica vem possibilitando a articulação desta com instituições de ensino e pesquisa no país. Com o desenvolvimento de ações de promoção, prevenção, recuperação e reabilitação se busca alcançar a prestação de atenção integral à saúde da população.
Outro marco importante no avanço da VE no Brasil é a Lei nº 9.782, de 27 de janeiro de 1999, que dispõe sobre o Sistema Nacional de Vigilância Sanitária e a criação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que substituiu a Secretaria Nacional de Vigilância Sanitária.
A Anvisa tem por finalidade institucional:
"[...] promover a proteção da saúde da população, por intermédio do controle sanitário da produção e da comercialização de produtos e serviços submetidos à Vigilância Sanitária, inclusive dos ambientes, dos processos, dos insumos e das tecnologias a eles relacionados, bem como o controle de portos, aeroportos e fronteiras. "
BRASIL, 1999, art. 6º
Este mesmo instrumento define que “[...] as atividades de Vigilância Epidemiológica e de controle de vetores relativas a portos, aeroportos e fronteiras, serão executadas pela Agência, sob orientação técnica e normativa do Ministério da Saúde” (BRASIL, 1999, art. 7º).
Outro marco importante no avanço da VE no Brasil é a Lei nº 9.782, de 27 de janeiro de 1999, que dispõe sobre Entende-se por vigilância sanitária um conjunto de ações capazes de eliminar, diminuir ou prevenir riscos à saúde e de intervir nos problemas sanitários decorrentes do meio ambiente, da produção e da circulação de bens e da prestação de serviços de interesse da saúde, abrangendo:
a) O controle de bens de consumo que, direta ou indiretamente, se relacionam com a saúde, compreendidas todas as etapas e os processos, da produção ao consumo.
b) O controle da prestação de serviços que se relacionam, direta ou indiretamente, com a saúde.
O objetivo da vigilância sanitária é promover, proteger e garantir o acesso à saúde do consumidor, do trabalhador e da população.
Saiba mais
O conceito de vigilância em saúde passou a ser adotado com a criação da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS), em 9 de junho de 2003, pelo Decreto nº 4.726, reforçando uma área estratégica do Ministério da Saúde, fortalecendo e ampliando as ações de VE, para além da tradicional vigilância de doenças transmissíveis.
Essa mudança segue uma tendência internacional de órgãos como a Organização Mundial de Saúde (OMS) e o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), os quais têm utilizado os termos vigilância em saúde ou vigilância em saúde pública para representar, de maneira integrada, as atividades de vigilância das doenças transmissíveis; a vigilância das doenças e dos agravos não transmissíveis e dos fatores de risco destes; a vigilância ambiental em saúde; e a vigilância da situação de saúde (SILVA JUNIOR apud ALMEIDA FILHO; BARRETO, 2011).
Vigilância Epidemiológica de Doenças Transmissíveis (VEDT)
A VE foi desenvolvida a partir da necessidade de controle das doenças transmissíveis, denominadas anteriormente doenças pestilenciais ou quarentenáveis. Com a evolução da VE, vários métodos e práticas vêm sendo aplicados na maioria dos países ocidentais.
Tipos e fonte de dados
· Notificação compulsória
Representa a principal fonte de informação da VE de doenças transmissíveis. A notificação compulsória é a comunicação obrigatória da ocorrência de determinada doença ou agravo à saúde feita à autoridade sanitária, por profissionais da saúde ou qualquer cidadão, com o intuito de intervenção.
· Laboratórios
Os laboratórios de Imunologia, Bacteriologia, Virologia, Micologia, Parasitologia, Biologia Molecular e Anatomopatológicos são importantes fontes de dados por permitirem detectar casos que não foram conhecidos por meio da notificação.
· Sistema de Informação de Internação Hospitalar (SIH-SUS)
As internações hospitalares são importantes fontes de notificação em virtude de os hospitais serem a porta de entrada para os casos graves.
· Declaração de Óbitos (DO) – Sistema de Informação de Mortalidade (SIM)
Os dados das DOs alimentam o SIM, que é um importante elemento para o Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica (SNVE), tanto como fonte principal de dados, quando existem falhas de registro de casos no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), quanto como fonte complementar, por dispor de informações sobre as características de pessoa, tempo e lugar, assistência prestada ao paciente, causas básicas e associadas a óbitos, que são extremamente relevantes e muito utilizadas no diagnóstico da situação de saúde da população.
· Investigação epidemiológica
Essa atividade permite que se obtenham informações complementares sobre os casos para que se estabeleçam as fontes e os mecanismos de transmissão e as medidas de controle. Isso acrescenta informação aos dados da notificação, no que diz respeito à fonte da infecção, ao modo de transmissão e à confirmação diagnóstica, por exemplo.
· Notificação de surtos e epidemias
A ocorrência de surtos e epidemias deve ser imediatamente comunicada aos serviços de VE, para acompanhamento e adoção de medidas de controle.
· Imprensa e população
A imprensa e a população são importantes fontes de informação sobre a ocorrência de enfermidades em grupos populacionais, principalmente diante da suspeita de epidemias.
Em 2006, o Brasil adotou mecanismos semelhantes aos presentes no Regulamento Sanitário Internacional (RSI) para aumentar a sensibilidade do sistema de detecção, passando a buscar mais detalhadamente notícias circulantes nos meios de comunicação de massa (televisão, jornais, revistas, rádio e internet), para depois submetê-las à verificação pelas autoridades sanitárias locais.
· Dados demográficos, ambientais e socioeconômicos
Esses dados caracterizam muito bem a dinâmica populacional e as condições gerais de vida da população. Nos contextos demográfico, ambiental e socioeconômico, destacam-se as pesquisas realizadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
· Processamento, análise e interpretação de dados
Os dados coletados devem ser consolidados sistematicamente, com periodicidade definida de acordo com aapresentação epidemiológica de cada doença/agravo e com a disponibilidade de instrumentos de controle.
A análise dos dados é realizada por meio de cálculos de medidas de frequência, entre outras, ou também empregando métodos de análise estatística. Quanto mais precisas forem as análises, mais eficiente será o sistema de VE.
Monitoramento de Doenças e Agravos Não Transmissíveis (DANT)
Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT), violências e acidentes representam graves problemas de saúde pública com alto impacto sobre a morbimortalidade da população. O monitoramento de doenças e agravos não transmissíveis tem como objetivo reduzir a incidência e a prevalência desses problemas de saúde, prolongando, dessa forma, a vida dos seres humanos, com boa qualidade.
Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS)
A Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS), por intermédio da Coordenação-Geral de Vigilância de Agravos e Doenças Não Transmissíveis (CGDANT), tem trabalhado para coordenar, fomentar e desenvolver estudos e pesquisas para a identificação e o monitoramento de fatores de risco, a análise e a avaliação das ações de promoção da saúde e a prevenção e o controle das DANT.
Uma importante estratégia para a prevenção das DANT é a utilização de técnicas pedagógicas ou intervenções educativas em saúde capazes de persuadir as pessoas a modificarem o estilo de vida. O perfil epidemiológico dessas enfermidades pode ser modificado por intervenções de promoção da saúde estimulando o autocuidado em saúde.
Além das intervenções educativas que mobilizam a população para a adoção de hábitos saudáveis, também são necessárias intervenções nos campos regulatório e de políticas públicas de promoção da saúde, conforme abordaremos na aula 8, como a promulgação de leis restritivas ao consumo de álcool e tabaco e as ações que promovem a prática de exercícios físicos.nAs abordagens metodológicas para estruturar as ações de monitoramento das DANT estão centradas na evolução de determinados indicadores relacionados à morbidade e à mortalidade.
Atenção
Para monitorar a ocorrência das DANT, é imprescindível que se disponha de dados confiáveis e acessíveis, para que sejam realizadas as análises epidemiológicas. Dessa forma, os indicadores escolhidos devem captar a conjuntura epidemiológica da doença ou agravo.
O monitoramento das DANT não está condicionado a sistemas de notificação compulsória, pois não é necessário o conhecimento de todos os casos para o planejamento e a execução de intervenções coletivas ou individuais para a prevenção.
Sistemas nacionais de informação em saúde
Conforme abordado anteriormente, o setor da saúde vem incentivando, nos três níveis de gestão, o desenvolvimento de pesquisas para identificar e monitorar:
· a situação epidemiológica;
· as necessidades no campo de assistência médica;
· os fatores de risco;
· as condições e o estilo de vida que influenciam tanto a incidência das doenças e dos agravos quanto a evolução e o prognóstico destes.
As principais fontes de dados utilizados para a construção de indicadores adequados a essa estratégia são os próprios sistemas nacionais de informação em saúde.
Sistema SUS
O Sistema de Informação Ambulatorial do SUS (SIA-SUS) e o Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH-SUS), apesar de não registrarem os atendimentos da rede privada não conveniada ao SUS, possuem uma cobertura abrangente, além de fornecerem dados sobre vários tipos de procedimentos que, praticamente, só são realizados no SUS, como os transplantes de órgãos.
Seguro de vida individual
No SIH-SUS é possível obter um conjunto de variáveis significativas para a construção de indicadores que são utilizados no monitoramento das DANT, como a causa da internação, os dias de permanência e a evolução da doença.bTodas as internações são codificadas segundo a Classificação Internacional de Doenças (CID), contando com a possibilidade de registrar a causa principal, ou seja, a doença que motivou a internação, e a secundária, isto é, a doença que contribuiu para a causa principal de internação.
Instituto Nacional do Câncer (Inca)
Outro sistema de referência para a obtenção de dados de morbidade é oferecido pelos Registros de Câncer, divulgados pelo Instituto Nacional do Câncer (Inca), possibilitando a realização de estimativas de morbidade. Com os dados obtidos a partir desses sistemas é possível construir vários indicadores para monitoramento da morbidade, por exemplo, taxas de internação por doenças específicas (doenças cardiovasculares, diabetes, entre outras); taxas de internação por determinados procedimentos, como a amputação de membros inferiores, permitindo avaliar as complicações do diabetes.
Sistema de Informação de Mortalidade (SIM)
O SIM permite o conhecimento do comportamento e das tendências de mortalidade por DANT, por meio do cálculo das taxas de mortalidade bruta ou padronizadas para cada doença.
Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel)
O Ministério da Saúde vem utilizando a combinação de inquéritos de prevalência de fatores de risco para as DCNT de base populacional, com um sistema fundamentado em inquéritos telefônicos, o Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), implantado em 2006.
Comentário
Diversos fatores de risco, como tabagismo, sedentarismo, ingestão excessiva de bebidas alcóolicas, alimentação inadequada, entre outros, têm sido monitorados com o auxílio do Vigitel.
É importante destacar que ele, desde que foi implantado, vem cumprindo com grande eficiência o objetivo de monitorar a constância e a distribuição dos principais determinantes das DCNT, por inquérito telefônico.
Acidentes de trânsito
Em se tratando de acidentes de trânsito, estados, municípios e instituições de pesquisa estão sendo estimulados a desenvolver estratégias para a redução dessas ocorrências.
	1
	A Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), proclamou oficialmente, no dia 2 de março de 2010, o período compreendido entre os anos de 2011 a 2020 como a Década Mundial de Ação pela Segurança no Trânsito, a fim de estimular esforços no mundo todo, para conter e reverter a tendência crescente de fatalidades e ferimentos graves em acidentes no trânsito no planeta.
	2
	Os ministérios da saúde e das cidades lançaram, no dia 11 de maio de 2011, o Pacto Nacional pela Redução dos Acidentes no Trânsito (Pacto pela Vida). A meta é estabilizar e reduzir o número de mortes e lesões em acidentes de transporte terrestre nos próximos 10 anos, como adesão ao Plano de Ação da Década de Segurança no Trânsito 2011-2020, lançado na mesma data (11 de maio de 2011), pela OMS.
	3
	-O Plano Nacional de Redução de Acidentes e Segurança Viária para a Década 2011-2020 é um conjunto de medidas visando à contribuição para a redução das taxas de mortalidade e lesões por acidentes de trânsito no país, por meio da implementação de ações de fiscalização, educação, saúde, infraestrutura e segurança veicular, a curto, médio e longo prazos.
Novo Regulamento Sanitário Internacional (RSI)
Em 2005, a 58ª Assembleia Mundial de Saúde aprovou o novo RSI, modificando a estratégia anterior para a notificação internacional de problemas de saúde que, até então, era restrita a três doenças específicas: Febre amarela, peste e cólera. Tal aprovação representou um marco para a Saúde Pública Internacional, estando o RSI mais adequado às realidades da comunidade sanitária internacional.
A abrangência do RSI foi ampliada para a
"[...] verificação e notificação de todos os EVENTOS URGENTES DE IMPORTÂNCIA INTERNACIONAL, independentemente de sua natureza (eventos naturais, acidentais ou intencionais), origem e fontes (biológicas, químicas ou radionucleares), com vistas à adoção de medidas temporárias ou permanentes que impeçam a propagação de doenças e seus agentes pelo mundo, sem criar transtornos desnecessários ao tráfego e ao comércio internacional. "
BRASIL, 2005, p. 26
A disseminação da Influenza A (H1N1), mais conhecida como gripe suína, emterritório nacional, foi um desses eventos recentes. Ela ajudou a demonstrar o desconhecimento de muitos setores sobre os papéis das autoridades nacionais bem como os limites e as limitantes do Estado frente ao quadro iminente daquele momento, principalmente quanto ao comércio internacional e aos direitos individuais dos cidadãos de se locomoverem para além das fronteiras dos países de origem e residência.
Em razão dos novos contextos epidemiológicos e das situações que propiciam a circulação de patógenos biológicos e não biológicos, potencialmente capazes de colocar em risco a saúde das populações dos países, foi proposta a notificação mais precoce de diversas situações clínicas suspeitas.

Epidemias | Fonte: Pixabay
Em substituição à lista anterior de doenças, estabeleceu-se um regulamento das denominadas Emergências de Saúde Pública de Importância Internacional.
Regulamento
Os países membros da OMS já implantaram esse novo regulamento e o Brasil já adotou providências para cumprir esse pacto. O Ministério da Saúde e a Anvisa tiveram papel relevante no aprimoramento do regulamento e, desde o início da década, o país está se preparando para o enfrentamento de situações inusitadas que possam colocar em risco a saúde da população.

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