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UNIP - UNIVERSIDADE PAULISTA CURSO: PEDAGOGIA DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM DOS ALUNOS COM DEFICIÊNCIA POLO 2018 DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM DOS ALUNOS COM DEFICIÊNCIA Trabalho Monográfico – Curso de Graduação – Licenciatura em Pedagogia, apresentado à comissão julgadora da UNIP EaD sob a orientação da professora Ana Beatriz Lopes Françoso. POLO 2018 DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM DOS ALUNOS COM DEFICIÊNCIA Trabalho Monográfico - Curso de Graduação – Licenciatura em Letras Língua Portuguesa e Língua Inglesa, apresentado à comissão julgadora da UNIP, sob a orientação do. Prof º. BANCA EXAMINADORA ______________________________________________________________ Orientador: ______________________________________________________________ Professor: ______________________________________________________________ Professor: , ______,_____________________, 2018. DEDICATÓRIA Dedico este trabalho a meus familiares, eternos incentivadores do meu crescimento pessoal e profissional. AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus por ter me fortalecido ao ponto de superar as dificuldades e também por toda saúde que me deu e que permitiu alcançar esta etapa tão importante da minha vida. À minha família e amigos que nunca desistiram de mim e sempre me ofereceram amor eu deixo uma palavra e uma promessa de gratidão eterna. Aos meus tutores do curso de Pedagogia por me auxiliarem no ensino-aprendizagem, para que eu possa transmitir ao próximo um ensino de qualidade. A todas as pessoas que de alguma forma fizeram parte do meu percurso eu agradeço com todo meu coração. “As grandes ideias surgem da observação dos pequenos detalhes”. Augusto Cury RESUMO Esse trabalho teve como objetivo estudar o desenvolvimento e a aprendizagem dos alunos com deficiência. Deficiência até bem pouco tempo atrás era tido como uma aberração da natureza, um incapaz. Após estudos, leis, e principalmente com Declaração de Salamanca o deficiente foi introduzido na inclusão social, com direitos e garantias. Ela trouxe um acesso e permanência dos alunos portadores de necessidades especiais ao campo da educação, dando direitos às escolas regulares. A Educação Inclusiva insere alunos especiais em salas de aula regulares remetendo esses alunos para avaliação de aprendizagem. Para tanto, a escola deve se adequar a esses alunos garantindo aprendizagem e desenvolvimento. E para ter desenvolvimento, essas crianças especiais dependem da qualidade de sua vivência social, com a família, colegas, escolas. Nesse sentido, a avaliação de alunos com deficiência tem características complexas, visto que inexiste uma avaliação adequada. Para tanto, essa avaliação deve se basear em condições que permitem desempenho pedagógico, oferecendo subsídio para o planejamento e a aplicação de novas estratégias de ensino permitindo alcançar o objetivo determinado pelo professor em cada conteúdo específico. Assim foi dividido em três capítulos onde abordou a deficiência, a educação especial e inclusão e o desenvolvimento e aprendizagem dos alunos com deficiência. O método utilizado foi o dedutivo, e a metodologia foi através de bibliografias, artigos científicos, revistas sobre o assunto estudado. Assim chegou à conclusão que a avaliação de alunos com deficiência tem características complexas, pois inexiste uma avaliação adequada. Palavras Chave: Deficiência – Educação Inclusiva - Escola. ABSTRACT This study aimed to study the development and learning of students with disabilities. Disability until very recently was regarded as a freak of nature, an incapable one. After studies, laws, and especially with Declaration of Salamanca the disabled was introduced into social inclusion, with rights and guarantees. It has brought special needs students into the field of education by giving them access to regular schools. Inclusive Education inserts special students into regular classrooms by referring these students to learning assessment. To do so, the school should suit these students ensuring learning and development. And to have development, these special children depend on the quality of their social experience, with family, colleagues, schools. In this sense, the evaluation of students with disabilities has complex characteristics, since there is no adequate evaluation. To do so, this evaluation must be based on conditions that allow pedagogical performance, providing support for the planning and application of new teaching strategies allowing the achievement of the goal determined by the teacher in each specific content. It was thus divided into three chapters which addressed disability, special education and inclusion, and the development and learning of students with disabilities. The method used was the deductive, and the methodology was through bibliographies, scientific articles, journals on the subject studied. Thus, he concluded that the evaluation of students with disabilities has complex characteristics, since there is no adequate evaluation. Key words: Disability - Inclusive Education - School. S U M Á R I O INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 9 1 HISTÓRICO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA .......................................................... 12 1.1 Conceito de Deficiência .................................................................................................... 12 1.2 A Pessoa com Deficiência no Mundo Ocidental ............................................................... 16 1.3 A Pessoa com Deficiência no Brasil ................................................................................. 19 2 EDUCAÇÃO ESPECIAL E INCLUSÃO ......................................................................... 22 2.1 Educação Especial ............................................................................................................. 22 2.2 Educação Especial no Brasil ............................................................................................. 23 2.3 Conceito de Inclusão ......................................................................................................... 27 2.4 Educação Inclusiva ........................................................................................................ 2929 2.5 Escola x Inclusão ............................................................................................................... 31 3 DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM DOS ALUNOS COM DEFICIÊNCIA... .................................................................................................................................................. 34 3.1 Histórico da avaliação da aprendizagem ........................................................................... 34 3.2 Avaliando diferenças ......................................................................................................... 35 3.3 A prática das escolas inclusivas ........................................................................................ 38 3.4 Documentos Internacionais ...............................................................................................39 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 42 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 44 9 INTRODUÇÃO De acordo com a OMS (Organização Mundial de Saúde), a palavra deficiência pode ser o termo usado para definir a ausência ou a disfunção de uma estrutura psíquica, fisiológica ou anatômica, que diz respeito à biologia da pessoa. A expressão ‘pessoa com deficiência’ pode ser aplicada referindo-se a qualquer pessoa que possua uma deficiência. Contudo, há de se observar que em contextos legais ela é usada mais restritamente referindo-se a pessoas que estão sob o amparo da lei. Na antiguidade acreditava-se que as pessoas com deficiência não poderiam ser educadas, sendo consideradas como aberrações da natureza, sendo rotuladas de incapazes, sem qualquer participação na vida em comunidade. A Convenção da Guatemala, internalizada à Constituição Brasileira pelo Decreto nº 3.956/2001 no seu artigo 1º define deficiência como “uma restrição física, mental ou sensorial, de natureza permanente ou transitória, que limita a capacidade de exercer uma ou mais atividades essenciais da vida diária, causada ou agravada pelo ambiente econômico e social”. As deficiências podem ser de várias maneiras e a mais difícil é a deficiência mental. A deficiência mental constitui um impasse para o ensino na escola comum e para a definição do Atendimento Educacional Especializado, pela complexidade do seu conceito e pela grande quantidade e variedades de abordagens do mesmo (GOMES et. al., 2007, p.14). Dessa forma, a dificuldade de diagnosticar a deficiência mental leva seu conceito a várias revisões periódicas. A Educação Especial surgiu no Brasil em 1854 com a criação do Instituto dos Meninos Cegos no Rio de Janeiro. Com a Constituição Federal de 1988 foi assegurado direitos à todos de educação garantindo atendimento educacional a pessoas portadoras de necessidades especiais. Em 1994 reforçando esses direitos, surgiu a Declaração de Salamanca, um dos mais importantes documentos mundialmente visando a inclusão social. Ela trouxe um modelo inovador de acesso e permanência de alunos com deficiência em escolas regulares. Segundo a declaração todas as escolas devem acomodar todas as crianças, independentemente de suas condições físicas, intelectuais, emocionais, linguísticas e outras. Assim, surgiu a inclusão social, que nada mais é do que um conjunto de meios e ações que combatem a exclusão aos 10 benefícios da vida em sociedade, provocada pela falta de classe social, origem geográfica, educação, idade, existência de deficiências ou preconceitos raciais. Nesse contexto, esse trabalho tem como objetivo discutir o desenvolvimento e a aprendizagem dos alunos com deficiência. Para tanto, a inclusão é vital, visto que conforme seu próprio nome diz, reporta-se a incluir. Atualmente vivemos num cenário educacional onde o momento é o da inclusão. Há vários questionamentos sobre os antigos paradigmas e as formas de avaliação, e são propostos novos modelos de avaliação e novas formas de ensinar e avaliar para a Educação Inclusiva. A Educação inclusiva remete a várias reflexões no que diz respeito à avaliação da aprendizagem, mas nota-se que há uma significativa escassez em literaturas e de ações pedagógicas nesse sentido. A escola deve se adequar aos alunos com deficiência, proporcionando aprendizagem e desenvolvimento. O desenvolvimento da criança portadora de necessidades especiais depende da qualidade de sua vivência social, com a família, colegas, escola, todos considerados espaços de aprendizagem. A aprendizagem do aluno é comumente reduzida a uma estatística diante de padrões pré-determinados, valorizando-se mais o produto do que o processo de aprender. No entanto, esse posicionamento se mostra inadequado tanto às necessidades do aluno (cognitivas e afetivas), como às demandas da sociedade atual (FERNANDES, 2010, p.77). Assim, uma nova cultura de avaliação passa por reflexões, críticas, questionamentos sobre a habilidade de lidar de forma mais democrática, estimulando as possibilidades de cada aluno na descoberta de conhecimentos. A avaliação em alunos com deficiência tem características complexas, pois inexiste uma avaliação adequada. Isso faz que com que valide ainda mais os preconceitos em relação aos deficientes. A avaliação deve se caracterizar como um instrumento capaz de estabelecer as condições de aprendizagem do aluno e sua relação com o ensino. Seus procedimentos devem permitir uma análise do desempenho pedagógico, oferecendo subsídios para o planejamento e a aplicação de novas estratégias de ensino que permitam alcançar o objetivo determinado pelo professor em cada conteúdo específico. (OLIVEIRA E CAMPOS, 2005, p.53). Dessa forma, a avaliação surge como elemento crucial para orientar a prática pedagógica através do desempenho do aluno. Quando a população de referência são alunos de escolas comuns e portadores de deficiência, a avaliação processual de sua aprendizagem é crucial para garantir sua 11 escolarização. A inexistência de uma avaliação adequada às suas necessidades especiais mostra uma compreensão ineficaz ou equivocada do processo de ensino e aprendizagem desses alunos portadores de deficiência. Se o professor identifica que o aluno tem dificuldades para realizar atividades ou mesmo que não participa, deve-se interferir rapidamente nesse processo bem o professor e a equipe escolar. Pode ser que este aluno necessite de mais tempo em relação aos outros alunos; necessita de material introdutório mais simples; necessita de meios especiais de acesso tal como o método de Braille, intérprete ou instrutor de libras; equipamentos de comunicação alternativa; jogos pedagógicos (SÃO PAULO, 2007). Ter que trabalhar com a desigualdade escolar no processo de ensino aprendizagem é consequência direta da inclusão escolar dos alunos portadores de necessidades educacionais especiais. Assim, o processo de avaliação terá que ocasionar de maneira processual, ademais de observar para especificidades de cada deficiência, seja ela sensorial, intelectual, física e múltipla. (BRASIL, 2005). Assim, o primeiro capítulo abordará o conceito de deficiência e suas várias formas. No segundo capítulo com título de Educação Especial e Inclusão tratará dos conceitos de educação especial e inclusão, educação inclusiva, da discussão de escola x inclusão e a mostra de documentos internacionais sobre o assunto. No terceiro capítulo abordará o desenvolvimento e a aprendizagem dos alunos com deficiência de uma maneira geral. Adentrará o histórico da avaliação da aprendizagem, as diferenças e sua avaliação, o processo de desenvolvimento e aprendizagem e os documentos internacionais. A metodologia a ser utilizada será feita através de pesquisas bibliográficas em livros, periódicos e artigos extraídos da internet; documentais nas quais um maior destaque será dado às obras nacionais, visando explicar um problema a partir de referências teóricas publicadas em documentos. O levantamento de dados, feito através de revistas, sites de Internet lembrando que são fontes de natureza periódica e os livros são de leitura corrente, os mais utilizados para a pesquisa. O assunto encontrado em livros diferentes, onde será estabelecida uma comparação e feita uma análise chegando a uma conclusão. Sendo assim, será feito pesquisas em bibliotecas públicas, particulares e livrarias, e casos práticos no dia-a-dia, bem como na Internet, para chegar-se a um resultado positivo almejado. 12 1 HISTÓRICO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA 1.1 Conceitos de Deficiência Abordar o conceito de deficiência há vários conceitos imprecisos, com variaçõesrelacionadas ao modelo médico e ao modelo social que resultam dificuldades na aplicação. A deficiência é tão antiga quanto a humanidade, e ao longo do tempo desde a pré-história até os tempos atuais, as pessoas sempre tiveram que decidir a atitude a ser adotada em relação aos membros mais vulneráveis da comunidade que precisavam de ajuda para conseguir alimento, segurança, tais como as crianças, velhos, e as pessoas com deficiência. Deficiência para muitos é um incapaz, um ser sem valor, uma pessoa diferente das demais. Para outros, é uma limitação. Aqui será conceituado o termo deficiência em vários ângulos, médico e social. Sassaki (1997, p.29) menciona que o modelo médico da deficiência é responsável em parte pela resistência da sociedade em aceitar a necessidade de mudar suas estruturas e atitudes para incluir as pessoas portadoras de deficiências buscando o seu desenvolvimento pessoal, social, educacional e profissional. Assim, esse modelo social da deficiência, é ligado à inclusão social onde a sociedade deve se adaptar incluindo os deficientes na sociedade, buscando assim, igualar os deficientes a qualquer outro cidadão. Deficiência: perda ou anormalidade de estrutura ou função psicológica, fisiológica ou anatômica, temporária ou permanente. Incluem-se nessas a ocorrência de uma anomalia, defeito ou perda de um membro, órgão, tecido ou qualquer outra estrutura do corpo, inclusive das funções mentais. Representa a exteriorização de um estado patológico, refletindo um distúrbio orgânico, uma perturbação no órgão (AMIRALIAN et al. 2000, p.98). A OMS (Organização Mundial de Saúde) é umas das organizações mais importantes que trabalham continuamente sobre uma definição geral de deficiência. De acordo com a Classificação Internacional de Deficiências, Atividades e Desvantagens (International Classification of Impairments, Disabilities and Handicaps - ICIDH) emitida pela Organização Mundial de Saúde (OMS) não descreve necessariamente o processo da incapacidade, apenas fornece meios para diferenciar as diversas dimensões e domínios que caracterizam a deficiência. Segundo a ICIDH, o conceito de deficiência pode ser aplicado a diversos aspectos da saúde e doença, sendo um referencial unificado para a área. Estabelece com objetividade, 13 abrangência e hierarquia de intensidades, uma escala de deficiências com níveis de dependência, limitação e com respectivos códigos, propondo assim que sejam utilizados com a CID pelos serviços de medicina, reabilitação e segurança social. Deficiência significa a limitação de atividades devido à incapacidade. O impacto da incapacidade no desempenho do indivíduo. Incapacidade: restrição, resultante de uma deficiência, da habilidade para desempenhar uma atividade considerada normal para o ser humano. Surge como consequência direta ou é resposta do indivíduo a uma deficiência psicológica, física, sensorial ou outra. Redeficiência psicológica, física, sensorial ou outra. Representa a objetivação da deficiência e reflete os distúrbios da própria pessoa, nas atividades e comportamentos essenciais à vida diária (AMIRALIAN et al. 2000, p.98). Esse conceito refere-se a situação física da pessoa. Incapacidade refere-se a nível orgânico, como uma anormalidade funcional ou estrutura do corpo. Desvantagem: prejuízo para o indivíduo, resultante de uma deficiência ou uma incapacidade, que limita ou impede o desempenho de papéis de acordo com a idade, sexo, fatores sociais e culturais Caracteriza-se por uma discordância entre a capacidade individual de realização e as expectativas do indivíduo ou do seu grupo social. Representa a socialização da deficiência e relaciona-se às dificuldades nas habilidades de sobrevivência (AMIRALIAN et al., 2000, p.98). Expressa as limitações em termos de desempenho de um papel social. É a consequência geral da incapacidade e/ou deficiência. Dessa forma, deficiência não é uma doença, e sim uma insuficiência, uma falha, um defeito que apenas cria limitações ao seu portador, sem, contudo, torná-lo absolutamente incapaz para o desempenho de determinadas atividades laborativas. Na CIDID (Classificação Internacional das Deficiências, Incapacidades e Desvantagens) visa complementar a abordagem médica evitando utilizar a mesma palavra designando as deficiências, as incapacidades e as desvantagens. Dessa forma, utilizou um adjetivo ou um substantivo para uma deficiência, um verbo no infinitivo para uma incapacidade e para uma desvantagem, um dos papéis de sobrevivência no meio físico e social conforme a tabela abaixo: Tabela 01. Distinção semântica entre os conceitos Deficiência Incapacidade Desvantagem Da linguagem Da audição (sensorial) De falar De ouvir (de comunicação) Na orientação 14 Da visão De ver Musculoesquelética (física) De órgãos (orgânica) De andar (de locomoção) De assegurar a subsistência no lar De realizar a higiene pessoal De se vestir (cuidado pessoal) De se alimentar Na independência física Na mobilidade Nas atividades da vida diária Intelectual (mental) Psicológica De aprender De perceber (aptidões particulares) De memorizar De relacionar-se (comportamento) De ter consciência Na capacidade ocupacional Na integração social Fonte: AMIRALIAN et al., 2000, p.98. Assim, a deficiência proposta pela CIDID representa uma perda ou uma alteração ou uma função psicológica, fisiológica ou anatômica. Essa definição esclarece todas as deficiências, a saber: deficiência, incapacidade e desvantagem social. Em 2001 essa proposta foi reeditada e revista introduzindo um funcionamento global da pessoa com deficiência em relação aos fatores contextuais e do meio, ressituando-a entre as demais e rompendo o seu isolamento. Segundo Assante, (2000) ela chegou a motivar a proposta de substituição da terminologia “pessoa deficiente” por “pessoa em situação de deficiência”, para destacar os efeitos do meio sobre a autonomia da pessoa com deficiência. O art. 3º do Decreto nº 3.298, de 20 de dezembro de 1999 regulamenta a Lei nº 7.853, de 24 de outubro de 1989 e dispõe sobre a Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência que considera: I. deficiência é toda perda ou anormalidade de uma estrutura ou função psicológica, fisiológica ou anatômica que gere incapacidade para o desempenho de atividade, dentro do padrão considerado normal para o ser humano; II. deficiência permanente é aquela que ocorreu ou se estabilizou durante um período de tempo suficiente para não permitir recuperação ou ter probabilidade de que se altere, apesar de novos tratamentos; III. incapacidade é uma redução efetiva e acentuada da capacidade de integração social, com necessidade de equipamentos, adaptações, meios ou recursos especiais para que a pessoa portadora de deficiência possa receber ou transmitir informações necessárias ao seu bem-estar pessoal e ao desempenho de função ou atividade a ser exercida. 15 No mesmo decreto, o art. 4º insere mais detalhes sobre a pessoa portadora de deficiência. Houve alterações com o Decreto 5.296 de 2004: Art. 4º É considerada pessoa portadora de deficiência a que se enquadra nas seguintes categorias: I - deficiência física - alteração completa ou parcial de um ou mais segmentos do corpo humano, acarretando o comprometimento da função física, apresentando-se sob a forma de paraplegia, paraparesia, monoplegia, monoparesia, tetraplegia, tetraparesia, triplegia, triparesia, hemiplegia, hemiparesia, ostomia, amputação ou ausência de membro, paralisia cerebral, nanismo, membros com deformidade congênita ou adquirida, exceto as deformidades estéticas e as que não produzam dificuldades para o desempenho de funções; (Redação dada pelo Decreto nº 5.296, de 2004) II - deficiência auditiva - perda bilateral, parcialou total, de quarenta e uns decibéis (dB) ou mais, aferida por audiograma nas frequências de 500HZ, 1.000HZ, 2.000Hz e 3.000Hz; (Redação dada pelo Decreto nº 5.296, de 2004) III - deficiência visual - cegueira, na qual a acuidade visual é igual ou menor que 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica; a baixa visão, que significa acuidade visual entre 0,3 e 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica; os casos nos quais a somatória da medida do campo visual em ambos os olhos for igual ou menor que 60o; ou a ocorrência simultânea de quaisquer das condições anteriores; (BRASIL, 2004) IV - deficiência mental – funcionamento intelectual significativamente inferior à média, com manifestação antes dos dezoito anos e limitações associadas a duas ou mais áreas de habilidades adaptativas, tais como: a) comunicação; b) cuidado pessoal; c) habilidades sociais; d) utilização dos recursos da comunidade; e) saúde e segurança; f) habilidades acadêmicas; g) lazer; e h) trabalho; V - deficiência múltipla – associação de duas ou mais deficiências (BRASIL, 2004). Assim, esse artigo modificado pela Decreto 5.296, de 2004 enumerou categorias em que se enquadram portadores de deficiência, ou seja: A - Deficiente físico: é o portador de alteração completa ou parcial de um ou mais segmentos do corpo humano, acarretando o comprometimento da função física; B - Deficiente auditivo: o acometido de perda parcial ou total das possibilidades auditivas sonoras; C - Deficiente visual: aquele que possui diminuição da acuidade visual, redução do campo visual ou ambas as situações; D - Deficiente mental: aquele cujo funcionamento intelectual é significativamente inferior à média, sendo esta manifestação presente desde antes dos dezoito anos de idade e associada a limitações em duas ou mais áreas de habilidades adaptativas (comunicação, cuidado http://www.planalto.gov.br/ccivil/_Ato2004-2006/2004/Decreto/D5296.htm#art70 http://www.planalto.gov.br/ccivil/_Ato2004-2006/2004/Decreto/D5296.htm#art70 http://www.planalto.gov.br/ccivil/_Ato2004-2006/2004/Decreto/D5296.htm#art4ii http://www.planalto.gov.br/ccivil/_Ato2004-2006/2004/Decreto/D5296.htm#art4iii http://www.planalto.gov.br/ccivil/_Ato2004-2006/2004/Decreto/D5296.htm#art4iii 16 pessoal, habilidades sociais, utilização da comunidade, saúde e segurança, habilidades acadêmicas, lazer e trabalho); E - Deficiência múltipla: quando ocorrem associações de duas ou mais deficiências. Tratando-se de portadores de necessidades especiais, é necessária uma maior abrangência, pois além de ser portadores de deficiência, ainda inclui os portadores de superdotação, pessoas com condições sociais, físicas, emocionais, sensoriais, intelectuais diferenciadas, os com dificuldades de aprendizagem e portadores de condutas típicas, tais como os hiperativos, e também os desfavorecidos e marginalizados. 1.2 A Pessoa com Deficiência no Mundo Ocidental No Egito antigo há mais de cinco mil anos, a pessoa com deficiência se integrava nas diferentes e hierarquizadas classes sociais, seja faraó, nobres, funcionários insignes, artesãos, agricultores ou escravos (GUGEL, 2007). De acordo com o autor referido, o Egito antigo foi conhecido por muito tempo como “A terra dos Cegos”, denominação feita por Hesíodo, poeta da Grécia antiga, porque os egípcios eram constantemente acometidos por infecções nos olhos, que resultavam, muitas vezes, em cegueira. Segundo Brandão (1992) na Grécia antiga valorizavam a beleza ideal, esculturas em forma humana, além da perfeição das formas, equilíbrio e movimento. Na mitologia grega narciso era mais belo do que mortais e imortais, sendo desejado por deusas, ninfas e jovens da Grécia antiga. Foi castigado a um amor impossível, apaixonando-se pela própria imagem refletida na água. Na cultura grega e romana da Antiguidade, a sociedade era hostil com os deficientes, e estes ficavam escondidos em lugares interditos e ocultos, ou abandonados e eliminados. Na Grécia antiga, havia procedimento oficial para o abandono ou eliminação das pessoas com deficiência, inclusive da legalidade do aborto e restrição da prole para mães que já possuíssem um filho deficiente (BRANDÃO, 1990). As pessoas com deficiência eram, para os egípcios, de natureza divina e, por causa disso, tratadas com privilégios. Os gregos e romanos, por sua vez, afastavam-nas do convívio social, abandonando-as ou atirando-as em rochedos, por serem associadas a maus presságios. A deformidade, vista como uma condição indigna, um castigo divino para os homens comuns, era considerado, inclusive, um obstáculo à sucessão, como exemplificado na história dos dois filhos mais velhos do rei ateniense Codro: Nileu não aceitou ficar subordinado a seu irmão Médon, porque era coxo (FERNANDES, 2010, p.18). 17 Segundo Carmo (1991) na Europa Medieval, os deficientes eram submetidos ao ridículo e à zombaria. A população concebia seu nascimento como uma forma de castigo divino. As leis romanas da antiguidade não eram favoráveis às pessoas com deficiência. Era oficialmente permitido aos pais matar crianças com deformidades físicas pela prática do afogamento, e há relatos que os pais preferiam abandonar seus filhos em cestos no Rio Tibre ou outros lugares sagrados (FERNANDES, 2010). Com a difusão do Cristianismo na Roma antiga, essa prática de eliminar os filhos nascidos com deficiência começou a extinguir. Foram perseguidos severamente e condenados à morte após julgamento a partir do século IV. Dá início à assistência cristã abrigando enfermos, idosos, desvalidos e indigentes, pessoas portadoras de deficiência onde renovavam a esperança de acolhimento, e cura para seus males. No século V foi marcado por precárias condições de vida e saúde. A população mais ignorante encarava filhos deficientes como castigo divino e chegavam a conceber poderes especiais de bruxos a elas. As crianças nascidas eram separadas dos pais e ridicularizadas (SMITH, 2008). Pessoas com deficiência eram vítimas de perseguição e julgamentos onde eram acusados de bruxaria e feitiçaria, vindo a serem executadas. Quem castigava era a Igreja Católica, e tinham legitimidade, pois usavam do argumento que o homem seria a imagem e semelhança de Deus, um ser perfeito (FERNANDES, 2010). De acordo com Silva (2009), nos séculos XVI e XVII em toda a Europa foram caracterizados por uma grande pobreza, onde havia mendigos e deficientes, crianças abandonadas. Crianças com deficiência eram vendidas em asilos e destinadas para mendigar, sendo mutiladas para despertar compaixão e piedade dos outros, e quando não mais serviam, eram abandonadas totalmente. Percebe-se como eram grandes o desprezo e o preconceito nessa época. Assim, entrou- se na fase de institucionalização, onde os indivíduos que apresentam deficiência eram segregados e protegidos em instituições residenciais. Conquanto no “final do século XIX e meados do século XX, pelo desenvolvimento de escolas e/ou classes especiais em escolas públicas, visando oferecer à pessoa deficiente uma educação à parte” (MIRANDA, 2003, p.02). Assim, os deficientes eram protegidos em instituições residenciais, e no final do séc. XIX, desenvolveu-se as escolas e classes especiais nas escolas públicas oferecendo educação para as pessoas deficientes. 18 Com isso, houve uma grande evolução do século XVII até o século XX, dando ingresso aos deficientes às escolas públicas oferecendo educação. No século XIX foi um marco histórico para pessoas com deficiência. Ainda com influência das ideias humanistas da Revolução Francesa, foi implantado de que além de abrigos e hospitais, estas pessoas necessitavam de atenção especializada, sendo construída assim, as primeiras organizações com o propósito de compreender e estudar as característicasde cada deficiência. Assim, proliferou orfanatos, asilos, lares para crianças com deficiências, foi organizado grupos de reabilitação de feridos, principalmente nos Estados Unidos e Alemanha. Nessa época o médico Jean Marc Itard (1774-1838) desenvolveu as primeiras tentativas de educar uma criança de doze anos de idade, chamada Vitor, mais conhecido como o “Selvagem de Aveyron”. Reconhecido como o primeiro estudioso a usar métodos sistematizados para o ensino de deficientes, ele estava certo de que a inteligência de seu aluno era educável, a partir de um diagnóstico de idiota que havia recebido (MIRANDA, 2003, p.02). Jean Marc Itard era um grande médico, e foi o pai da Educação Especial, onde investiu parte de sua vida na tentativa de educar esse garoto com deficiência intelectual. Outro médico importante foi Edward Seguin (1812-1880) que influenciado por Itard criou o método fisiológico de treinamento, que consistia em estimular o cérebro por meio de atividades físicas e sensoriais (MIRANDA, 2003). Seguin não se preocupou apenas com os estudos teóricos sobre o conceito de idiotia e desenvolvimento de um método educacional, ele também se dedicou ao desenvolvimento de serviços, fundando em 1837, uma escola para idiotas, e ainda foi o primeiro presidente de uma organização de profissionais, que atualmente é conhecida como Associação Americana sobre Retardamento Mental (AAMR) (MIRANDA, 2003, p.02). Outra contribuição importante para a educação especial foi Maria Montessori (1870- 1956). Influenciada por Itard também, desenvolveu um programa de treinamento a crianças com deficiência mental, com base no uso sistemático e manipulação de objetos concretos. Suas técnicas foram experimentadas por vários países. Entre 1902 e 1912 cresceu na Europa a formação e organização de instituições voltadas para preparar pessoas com deficiência para suas necessidades específicas, onde o atendimento especializado era o mais adequado para cada deficiência (MAGALHÃES, 2002). 19 No período de Hitler, ocorrida entre 1939 a 1945 foi eliminado judeus, pessoas com deficiência, ciganos, em nome da política ariana de uma raça pura. Isso foi o início da 2ª Guerra Mundial. Com o fim da segunda guerra mundial, a Europa estava devastada, e os adultos sobreviventes apresentavam muitas sequelas físicas e mentais. Assim, segundo Smith (2008) instituições voltadas para pessoas com deficiência se consolidaram em vários países buscando ativamente alternativas para a sua integração social. 1.3 A Pessoa com Deficiência no Brasil A educação para os deficientes no Brasil foi marcada pela descontinuidade das iniciativas oficiais, colaborando para que familiares e segmentos da comunidade se organizassem em associações e lutassem em defesa dos direitos e da cidadania dessas pessoas. Os indivíduos com deficiências múltiplas e/ou graves, em especial estiveram sempre em situação de maior desvantagem devido à presença de acentuadas dificuldades de aprendizagem (RIBEIRO, BAUMEL, 2003). O atendimento educacional para pessoas com deficiência iniciou-se na segunda metade do século XIX, com a fundação de duas instituições: Imperial Instituto dos Meninos Cegos, em 1854 e o Instituto dos surdos-mudos, ambos na cidade do Rio de Janeiro. A criação desses dois institutos representou um grande marco para o atendimento de deficientes, abrindo espaço de conscientização e discussão da educação especial. No entanto, segundo Mazzotta (1996, p.29) “não deixou de se constituir em uma medida precária em termos nacionais, pois em 1872 com uma população de 15.848 c egos e 11.595 surdos, no país eram atendidos apenas 35 cegos e 17 surdos”. A população atendida nessas instituições eram pessoas pobres, infratores, pessoas com deficiências graves. As circunstâncias em que esses Institutos foram criados parecem justificar o insucesso, pela deteriorização que sofreram logo nos primeiros anos de funcionamento. O Instituto dos Meninos Cegos, hoje Instituto Benjamin Constant (IBC), por sua atuação insatisfatória, facilmente transformou-se em asilo de cegos (BUENO, 1993, p.87). Assim, nesse instituto foi muito precário seu atendimento, vindo a transformar em asilo. Segundo Leitão (2008) no início do século XX, as reformas estaduais de ensino legitimaram a 20 face elitista e discriminatória da escola, que isentava a obrigatoriedade de matrícula às crianças e jovens com incapacidade física ou mental. Aqui as pessoas eram tidas como inválidas, ou indivíduos sem valor algum, representavam um peso para a sociedade e suas famílias. A década de 1950 foi marcada por discussões sobre os objetivos e a qualidade dos serviços educacionais especiais. No Brasil, verificou-se uma rápida expansão das classes e escolas especiais nas escolas públicas e de escolas especiais comunitárias privadas e sem fins lucrativos, que isentavam assim o governo da obrigatoriedade de oferecer atendimento para as pessoas com deficiência na rede pública de ensino (FERNANDES, 2010, p.27). Entre 1950 e 1959 aumentou o número de estabelecimentos de ensino especial sendo que a maioria destes eram públicos em escolas regulares. O governo federal assumiu explicitamente em âmbito nacional o atendimento educacional aos portadores de deficiência. Em 1957 foi feita uma campanha para deficientes auditivos, a “Campanha para a Educação do Surdo Brasileiro”, tendo como objetivo promover medidas necessárias para a educação e assistência dos surdos. Logo após em 1958 criou a Campanha Nacional da Educação e Reabilitação do Deficiente da Visão. A partir da década de 60 quando os deficientes eram vistos como incapacitados, deu início a uma mudança de conceito. Em 1961 começa a vigorar a primeira lei sobre o assunto denominada de Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), de nº 4.024 de 20 de dezembro, incluídos 2 artigos referentes à educação dos excepcionais, garantindo direito à educação de pessoas deficientes. Ao longo da década de 60, ocorreu a maior expansão no número de escolas de ensino especial já vista no país. Em 1969, havia mais de 800 estabelecimentos de ensino especial para deficientes mentais, cerca de quatro vezes mais do que a quantidade existente no ano de 1960 (MIRANDA, 2003, p.05). Na Constituição de 1967 foi assegurado aos deficientes direito de receber educação para integração na comunidade. Os serviços especiais, com forma de estabelecimentos de ensino especial para pessoas com deficiência intelectual em escolas públicas e escolas regulares, diversificaram e as classes especiais destinadas a alunos com deficiência intelectual ao final da década de 70 passou a fazer parte do contexto escolar em todo o Brasil. Nessa mesma época a Sociedade Pestalozzi do Brasil que foi criada em 1945 contava com 16 instituições por todo o país. Surgida em 1954, a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais contava com 16 instituições em 1962. Foi criada nessa época, a Federação 21 Nacional das APAEs (FENAPAES), que, em 1963 realizou seu primeiro congresso (MENDES, 1995). Nessa época houve um impulsionamento na criação de outras instituições privadas com caráter filantrópico. Segundo Cerqueira (2008) no Brasil o movimento de integração social das pessoas deficientes ganha impulso na década de 70. De acordo com Zavareze (2009) uma das grandes conquistas na década de 80 para as pessoas com deficiência através de lutas pelos direitos foi a Constituição Federal Brasileira, garantindo integração escolar e atendimento educacional. De acordo com o art. 208, III da CF, estabelece o direito das pessoas com necessidades especiais receberem educação, preferencialmente na rede regular de ensino. O fracasso dos professores em relação às pessoas com deficiência, a má estrutura arquitetônica que não colabora com a inserção, a falta de empenho e/ou desconhecimentodo que se é possível fazer com aquele que é diferente, representa alguns aspectos que precisam ainda ser mudados (ZAVAREZE, 2009, p.02). Com a integração houve avanços para as pessoas deficientes comparadas com outros tempos. Surge assim, um tempo de controvérsias e discussões. E, a partir da década de 90, as ações em prol da educação inclusiva ganham contornos definidos entre nós. Em 1990, ao concordar com a Declaração Mundial de Educação para Todos, firmada em Jomtien, Tilândia, na conferência mundial da UNESCO, o Brasil fez opção pela construção de um sistema educacional inclusivo (CERQUEIRA, 2008, p.35). Em 1994 com a declaração de Salamanca reafirmou esse compromisso, dando visibilidade à educação especial. Em 1996 surgiu a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei nº 9.394/96, expressando avanços significativos na área da educação. De acordo com a alei, alunos de faixa etária de zero a seis anos tem direito à educação especial. Assim, a partir da década de 60 até a década de 80 os termos foram indivíduos defeituosos, deficientes ou excepcionais, e depois houve mudança referindo-se pessoas portadoras de deficiências. Logo após houve outra mudança substituindo o termo “deficiência” por “necessidade”, passando assim a ser pessoas portadoras de necessidades especiais. 22 2 EDUCAÇÃO ESPECIAL E INCLUSÃO 2.1 Educação Especial Educação é um ensino garantido a todos alunos nas escolas públicas. Educação especial é uma modalidade de ensino que se destina para educandos portadores de necessidades especiais, seja de deficiência física, sensorial, mental ou múltipla. A educação de alunos com deficiências, distúrbios graves de aprendizagem, comportamento, e outras condições que afetam o desenvolvimento, tradicionalmente tem se pautado em um modelo de atendimento especializado e segregado, denominado, de forma genérica, como Educação Especial (GLAT et al., 2006, p.02). Dessa forma, a educação é responsável pela socialização, ou seja, é a possibilidade de conviver com qualidade na sociedade, com caráter cultural viabilizando a integração. Na Constituição Federal de 1988 em seu artigo 1º, inc. II e III elegeu como fundamentos a cidadania e a dignidade da pessoa humana, e, como um de seus objetivos fundamentais a promoção do bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. (Art. 3º, inc. IV). No artigo 208, V estabelece que “o dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia do acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um”. A Constituição garante a todos o direito à educação e ao acesso à escola. Toda escola, assim reconhecida pelos órgãos oficiais como tal, deve atender aos princípios constitucionais, não podendo excluir nenhuma pessoa em razão de sua origem, raça, sexo, cor, idade, deficiência ou ausência dela (BRASIL, 2004, p. 06). Nesse sentido, o Estado é responsável em oferecer educação especial para esses alunos na faixa etária de zero a seis anos, durante a educação infantil, respeitando as possibilidades e capacidades de cada aluno. Segundo Ribeiro; Baumel (2003), a educação especial é uma modalidade da educação escolar que garante recursos e serviços educacionais especiais, organizados institucionalmente para apoiar, complementar, suplementar e, em alguns casos, substituir os serviços educacionais comuns. Conquanto, avalia a educação escolar e o desenvolvimento pleno das potencialidades dos educandos que apresentam deficiência em todas as etapas e modalidades da Educação Básica. 23 [...] a educação especial é uma ação educativa, de fins equiparáveis aos da educação geral, mas que atua com base em alguns recursos educacionais específicos postos à disposição de qualquer pessoa, que em alguns casos podem ser necessários de forma temporal e em outros de forma mais contínua e permanente (PARILHA, 1992, p.37 apud CARNEIRO, 2007, p.76). Dessa forma, a Educação Especial em todas as escolas públicas da rede regular de ensino deve garantir o acesso à matrícula, condições para o sucesso escolar de todos os alunos. 2.2 Educação Especial no Brasil A Educação Especial no Brasil teve seu início em 1854. Aqui será dado um breve relato sobre seu surgimento e o crescimento da Educação Especial. Alguns brasileiros no século XIX inspirados nos atendimentos a cegos, surdos, deficientes mentais, e deficientes físicos na Europa e Estados Unidos, promoveram uma educação e atendimento para esses indivíduos de forma oficial ou privada. (SILVA, 2001). O surgimento da fundação do Imperial Instituto dos Meninos Cegos, foi criado por D. Pedro II, devido a iniciativa de José Álvares de Azevedo, que era cego e estudava no Instituto dos Jovens Cegos de Paris. Bueno (1993) afirma que a história da educação especial no Brasil tem como marco fundamental a criação do “Instituto dos Meninos Cegos” em 1854 que atualmente se chama Instituto Benjamin Constant, e do Instituto dos Surdos-Mudos, chamado de Instituto Nacional de Educação de Surdos – INES, em 1857, ambos na cidade do Rio de Janeiro. Esta escola era caracterizada pela ênfase no aspecto literário e o ensino profissionalizante na tentativa de oferecer uma atividade profissional a meninos na faixa etária de 7 a 14 anos. Destaca-se nesses institutos a presença de oficinas instaladas para o desenvolvimento de atividades práticas de ofícios (QUEIROZ e SILVA, 2001, p.26). Com a criação desses dois institutos houve um grande avanço para os deficientes na conscientização e abriu espaço para discussão sobre sua educação. De acordo com Mazzotta (1996, p.29) “não deixou de se constituir em uma medida precária em termos nacionais, pois em 1872, com uma população de 15.848 cegos e 11.595 surdos, no país eram atendidos apenas 35 cegos e 17 surdos”, significando um número muito inferior em comparação com a realidade. Segundo Queiroz e Silva (2001), no Hospital Estadual de Salvador – BA, atualmente chamado de Hospital Juliano Moreira, iniciou a assistência a deficientes mentais, contudo sua prática não tinha caráter educativo, simplesmente era focado o atendimento médico. 24 Dessa forma, a Educação Especial caracterizou-se “por ações isoladas e o atendimento se referiu mais às deficiências visuais, auditivas e, em menor quantidade, às deficiências físicas” (MIRANDA, 2003, p.03). Na década de 30 e 40 houve várias mudanças na educação brasileira, tais como a expansão do ensino primário e secundário, a fundação da Universidade de São Paulo. Contudo, a educação do deficiente mental ainda era precária. Mas, somente no fim da década de 50 a inclusão da educação para deficientes ganhou espaço na política educacional, demonstrando o desinteresse do Estado em contemplar a população com esse benefício no ensino. Em 1957 foi implementada campanhas para atendimento a pessoas com deficiência. Tais campanhas vieram em razão da necessidade de expansão dos serviços de atendimento educacional especial, nos principais estados brasileiros. Bueno demarca historicamente a Educação Especial relacionada com a oferta de atendimento pública e privada: Após a Segunda Guerra Mundial, a educação especial brasileira distinguiu-se pela ampliação e proliferação de entidades privadas, ao lado do aumento da população atendida pela rede pública, que foi se configurando, cada vez mais, como uma ação em nível nacional, quer pela criação de federações nacionais de entidades privadas, quer pelo surgimento dos primeiros Serviços de Educação Especial nas Secretarias Estaduais de Educação e das campanhas nacionais de educação de deficientes, ligadas ao Ministério da Educação e Cultura (BUENO, 1993, p.94). Nesse período a escolarização de pessoas portadoras de deficiência não era uma prioridade dogoverno federal. A oferta de serviços especiais efetivou basicamente em instituições especializadas ou centros de reabilitação, voltadas para um atendimento centrado no modelo médico-pedagógico. Segundo Arlete Miranda (2003) nessa década houve muitas discussões sobre objetivos e qualidade na educação especial no mundo, e no Brasil houve uma expansão das escolas especiais nas escolas públicas e de escolas especiais comunitárias privadas e sem fins lucrativos, aumentando o número de estabelecimentos de ensino especial entre 1950 e 1959, sendo que a maioria destes eram públicos em escolas regulares. A disseminação da Educação Especial no Brasil, foi realizada através de ações isoladas do governo ou através de mobilização de pais e responsáveis por deficientes que passaram a criar associações visando atender as necessidades educativas de seus filhos e nesse contexto de movimentação popular destacamos a criação das APAES, especialmente em 1954 no Rio de Janeiro, sendo a primeira associação formada visando atender as necessidades educativas do excepcional (QUEIROZ e SILVA, 2001, p.27). 25 A partir daí, especificamente em 1957 o atendimento educacional a crianças especiais foi assumido pelo governo federal e criou-se campanhas voltadas para esse fim. Pode-se citar a “Campanha para a Educação do Surdo Brasileiro” que ocorreu em 1957 e teve por objetivo promover medidas necessárias para a educação e assistência dos surdos, em todo o Brasil. Logo após surgiu a “Campanha Nacional da Educação e Reabilitação do Deficiente da Visão”, em 1958. Nessa época houve uma grande expansão nas instituições privadas de caráter filantrópico sem fins lucrativos retirando a obrigação do governo em oferecer atendimento aos deficientes na rede pública de ensino. Ao longo da década de 60, ocorreu a maior expansão no número de escolas de ensino especial já vista no país. Em 1969, havia mais de 800 estabelecimentos de ensino especial para deficientes mentais, cerca de quatro vezes mais do que a quantidade existente no ano de 1960 (MIRANDA, 2003, p.05). Com a promulgação da LDB 4.024/61, reafirmou no plano da educação especial aos excepcionais o direito à educação. No art. 88 mencionava-se que para integrá-los à comunidade, sua educação deverá, dentro do possível, enquadrar-se no sistema geral de educação. Em 1967, a Sociedade Pestalozzi do Brasil contava com 16 unidades no país. A Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais cria em 1954 contava com 16 unidades em 1962. Foi criada nessa mesma época a Federação Nacional das APAEs (FENAPAES) (MENDES, 1995). Na década de 70 houve em países desenvolvidos várias discussões e questionamentos sobre a integração de deficientes mentais na sociedade. Assim, a educação especial passou a ser discutida, e tornou-se uma preocupação dos governos criando instituições públicas e privadas, órgãos normativos federais e estaduais. A década de 1970 anunciou, para a área da educação especial, a ampliação das ações políticas, em face de reivindicações que objetivavam melhorias para esta área. Disto resultou a incorporação de várias questões pertinentes à organização e sistematização da oferta de Educação Especial na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 5.692/71 (ROMERO, NOMA, 2004, p.04). Nessa LDB 5.692/71, art. 9º, demonstra as pessoas a serem atendidas pela Educação Especial: “alunos que apresentem deficiências físicas ou mentais, os que se encontrem em atraso considerável quanto à idade regular de matrícula e os superdotados”. 26 Na Constituição Federal de 1988 como se viu foi assegurado o direito a todos de educação, garantindo atendimento educacional às pessoas portadoras de necessidades especiais. O art. 205 da CF dá a seguinte garantia: Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho (BRASIL, 1988). E, não só garantiu acesso no plano educacional, assegurou-se direitos trabalhistas (art. 7º, XXXI e 37, VII), direito à saúde e à assistência social (art. 24, XIV e 203, IV e V) bem como condições garantidoras de acesso aos bens e serviços sociais, tais como transporte, logradouros. Portanto, a Constituição Federal de 1988 foi a primeira constituição dentre outras que garantiu a todos o direito à educação e ao acesso à escola, e escreveu de modo explícito o direito ao “atendimento educacional especializado dos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino” (art. 208, inc. III). A Declaração de Salamanca realizada em 1994 foi uma resolução das Nações Unidas onde trata dos princípios, política, prática em educação especial. É um dos mais importantes documentos mundialmente visando a inclusão social. Segundo Queiroz e Silva (2001), esta foi fundamentada pelos princípios da Declaração Universal dos Direitos Humanos, apontando para o direito fundamental à educação do portador de necessidades especiais, onde os sistemas de ensino devem promover oportunidades de acesso à escola. A Declaração de Salamanca traz um modelo inovador, o paradigma inclusivo, que advoga o acesso e a permanência de alunos com deficiência em escolas regulares. A comunidade internacional se reúne em Salamanca com o objetivo de reforçar a Declaração Universal dos Direitos Humanos (FARIAS; MAIA, 2007, p.57). Foi a maior vitória dos portadores de necessidades especiais, onde implantou a inclusão escolar. Assim, a presente declaração expressa que “Todas as escolas devem acomodar todas as crianças, independente de suas condições físicas, intelectuais, emocionais, linguísticas e outras” (BRASIL, 1994, p.3). 27 Com esse direito garantido, as crianças portadoras de necessidades especiais puderam ter livre acesso às escolas públicas, independente de suas condições físicas, intelectuais, linguísticas. Logo depois foi criado a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDBEN, Lei nº 9.394/96, com avanços significativos, expandindo a oferta da educação especial na faixa etária de zero a seis anos. De acordo com a LDBEN (art. 58 e seguintes), “o atendimento educacional especializado será feito em classes, escolas, ou serviços especializados, sempre que, em função das condições específicas dos alunos, não for possível a sua integração nas classes comuns do ensino regular” (art. 59, §2º). Com isso, nota-se a grande evolução que houve aos direitos dos portadores de necessidades especiais no campo da educação escolar. Assim, sobre a evolução da Educação Especial Fernandes (2010) discorre que: A evolução de paradigmas marcou a história da Educação Especial, culminando a proposta de Educação Inclusiva, como uma tentativa de eliminar as situações de exclusão em que ainda se encontram muitos alunos com deficiência em nossas escolas. Ao invés de adaptar essas pessoas à sociedade, apregoa-se, na atualidade, o imperativo de adaptar a sociedade a essas pessoas (FERNANDES, 2010, p.40). Nesse contexto, na década de 90 começaram discussões sobre o modelo de atendimento escolar, surgindo a inclusão escolar, como será vista a seguir. 2.3 Conceito de Inclusão Uma das terminologias mais empregadas atualmente quando se fala de educação, é o termo inclusão, principalmente na educação especial. O temo inclusão é utilizado com frequência a cada dia mais quando fala-se sobre inclusão de portadores de necessidades especiais na rede regular de ensino. Ainscow e Tweddle (2003) apud Fernandes (2010) adotam quatro elementos-chave na definição sobre inclusão: Inclusão é um processo, quer dizer, nunca termina porque sempre haverá um aluno que encontrará barreira para aprender; Inclusão diz respeito à identificação e remoção de barreiras, e isto implicacoleta contínua de informações que são valiosas para entender a performance dos alunos a fim de planejar e estabelecer metas; Inclusão diz respeito à presença, participação e aquisição de todos os alunos. Presença diz respeito à frequência e pontualidade dos alunos na sua escolarização. Participação tem a ver como os alunos percebem a sua própria aprendizagem e se a mesma possui qualidade acadêmica. Aquisição se refere aos resultados da aprendizagem em termos de todo conteúdo curricular dentro e fora da escola. 28 Inclusão envolve uma ênfase nos grupos de estudantes que podem estar com risco de marginalização, exclusão e baixo desempenho educacional. Envolve o monitoramento cuidadoso (estatísticas) pelas autoridades educacionais locais de alunos com risco de exclusão, assim como o apoio oferecido às escolas para assegurar que as mesmas estão lidando com as barreiras, a fim de prevenir que esses alunos não sejam excluídos (AINSCOW e TWEDDLE, 2003 apud FERNANDES, 2010, p.42). Assim a inclusão vem crescendo há uma década, mas a maioria dos alunos com necessidades especiais ainda não estão dentro da escola; são excluídos. Com esses conceitos, possibilita a inclusão educacional dos deficientes à escola, implementando mudanças na área pedagógica para suprir as necessidades ao aprendizado das crianças deficientes. Na década de 1990 começou as discussões sobre o novo modelo escolar, denominado inclusão escolar, surgindo assim, uma reação oposta ao processo de integração, e sua efetivação prática tem gerado controvérsias e polêmicas. Assim, para Oliveira e Miranda (2011, p.04) “O conceito de inclusão passou a ser trabalhado na educação especial de forma diferente do conceito de integração, no entanto, eles têm a mesma proposta, que é inserir os alunos que apresentam necessidades educacionais especiais no ensino regular”. Com isso, a inclusão escolar, “é articulada a movimentos sociais mais amplos que exigem maior igualdade e mecanismos mais equitativos no acesso a bens e serviços” (MANTOAN, PRIETO, 2006, p.16). Assim, inclusão é uma forma de garantir igualdade entre todos. Um acesso a bens e serviços a todos independente das diferenças. Ela considera a inserção de alunos reconhecendo a existência de inúmeras diferenças (pessoais, linguísticas, culturais, sociais, etc.). E ao reconhecendo demonstra a necessidade de mudanças na escola para receber esses alunos. De acordo com a Declaração de Salamanca, inclusão é um desafio para a educação, pois estabelece direito à educação para todos e não somente para aqueles que apresentam necessidades educacionais especiais. Observe o trecho: 3.O princípio que orienta esta Estrutura é o de que escolas deveriam acomodar todas as crianças independentemente de suas condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais, linguísticas ou outras. Aquelas deveriam incluir crianças deficientes e superdotadas, crianças de rua e que trabalham, crianças de origem remota ou de população nômade, crianças pertencentes a minorias linguísticas, étnicas ou culturais, e crianças de outros grupos desavantajados ou marginalizados (SALAMANCA, 1997, p.3). 29 Assim, a Declaração de Salamanca defende a ideia onde todos os alunos devem aprender juntos, independentemente de suas condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais, linguísticas ou outras. Com isso, trouxe um avanço importante quanto à inclusão escolar de alunos portadores de deficiências. 2.4 Educação Inclusiva O movimento mundial pela educação inclusiva é uma ação política, cultural, social e pedagógica, desencadeada em defesa do direito em todos os alunos de estarem juntos, aprendendo e participando, sem nenhum tipo de discriminação. A educação inclusiva constitui um paradigma educacional fundamentado na concepção de direitos humanos, que conjuga igualdade e diferenças como valores indissociáveis, e que avança em relação à ideia de equidade formal ao contextualizar as circunstâncias históricas da produção da exclusão dentro e fora da escola (BRASIL, 2008). Reconhecer que dificuldades do sistema de ensino evidencia a necessidade de confrontar a discriminação e criar formas de superação, a educação inclusiva assume um papel central no debate da sociedade contemporânea e do papel da escola na superação da exclusão. A partir dos referenciais para a construção de sistemas educacionais inclusivos, a organização de escolas e classes especiais passa a ser repensada, implicando uma mudança estrutural e cultural da escola para que todos os alunos tenham suas especificidades atendidas (BRASIL, 2008. p.9). A Educação Inclusiva implica na construção de um “processo bilateral no qual as pessoas excluídas e a sociedade buscam, em conjunto, efetivar a equiparação de oportunidades para todos” (SOARES, PAULINO, 2005, p.02). Nesse sentido, a educação inclusiva é uma busca do direito de igualdade para todos. Em 1961 o atendimento educacional às pessoas com deficiência passa a ser fundamentado pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, que aponta o direito dos excepcionais à educação, preferencialmente dentro do sistema geral de ensino. Após surgiu a Lei nº 5.692/71 que alterou ao definir “tratamento especial” para os alunos com “deficiências físicas, mentais, os que se encontram em atraso considerável quanto á idade regular de matrícula e os superdotados”, não promovendo assim, a organização de um sistema 30 de ensino capaz de atender as diferenças e acabou reforçando o encaminhamento desses alunos com necessidades especiais para as classes e escolas especiais. Em 1994 é publicada a Política Nacional de Educação Especial orientando o processo de “integração instrucional” que condiciona o acesso às classes comuns do ensino regular àqueles que “(...) possuem condições de acompanhar e desenvolver as atividades curriculares programadas do ensino comum, no mesmo ritmo que os alunos ditos normais”. A atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, a Lei nº 9.394/96, no art. 59, preconiza que o sistema de ensino devem assegurar aos alunos currículo, métodos, recursos e organização específicos para atender às suas necessidades; assegura a terminalidade específica àqueles que não atingiram o nível exigido para a conclusão do ensino fundamental, em virtude de suas deficiências; e assegura a aceleração de estudos aos superdotados para conclusão do programa escolar. Também define, dentre as normas para a organização da educação básica, a “possibilidade de avanço nos cursos e nas séries mediante verificação do aprendizado” (art. 24, inciso V) e “[...] oportunidades educacionais apropriadas, consideradas as características do alunado, seus interesses, condições de vida e de trabalho, mediante cursos e exames” (art. 37). Em 1999, o Decreto nº 3.298, que regulamenta a Lei nº 7.853/89, ao dispor sobre a Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, define a educação especial como uma modalidade transversal a todos os níveis e modalidades de ensino, enfatizando a atuação complementar da educação especial ao ensino regular. Ao pensar na inclusão, constata-se que a exclusão começa bem cedo, com raízes na pobreza, na moradia imprópria, em doenças crônicas, no longo período de desemprego. Nessa condição, é negado às essas crianças recursos e oportunidades disponíveis às outras crianças. No posicionamento de Oliveira (2005), a educação inclusiva prevê a inserção de indivíduos em classes regulares, independentemente de suas condições físicas, cognitivas, sensoriais, origem socioeconômica, raça ou religião. Este aprender juntos implica levar em consideração o contexto histórico-cultural e social em que estão inseridos. A ideia de ser humano imerso num contexto social como tendo corpo e mente, enquanto ser biológico e social, como membro da espécie humana e participante de um processo histórico,conjuga com a concepção histórico-cultural. Esse movimento então é uma construção de uma sociedade democrática, onde todos têm direito à cidadania, e suas diferenças são aceitas e respeitadas. Com a educação inclusiva segundo Fernandes (2010, p.43), “coube à escola o compromisso de introduzir o aluno com deficiência no mundo social, cultural e científico, direito fundamental de todo ser humano”. 31 A educação inclusiva desafia as formas de exclusão e de discriminação, independentemente de ter se originado como resposta da sociedade à deficiência, ao gênero ou à raça, à pobreza ou à desvantagem social. É isso que a diferença da educação das necessidades especiais tal como era trabalhada no final do último milênio (PAN, 2009, p.118). Dessa forma, a educação inclusiva veio para ficar, como resultado de muitas discussões, estudos teóricos e práticas de organizações com pessoas portadores de deficiência e educadores, no mundo inteiro, para uma sociedade mais justa, onde direitos fundamentais tais como a igualdade dos direitos, e o fim da discriminação possam ser respeitados e aplicados. 2.5 Escola x Inclusão Na década de 1960 em vários países, as pessoas com deficiência passaram a receber mais igualdade junto à sociedade, e a forma de maior inclusão dessas pessoas diferentes foi através da integração à escolarização “como forma de dignificar as pessoas com deficiência, num espaço que era de todos e para todos” (FERNANDES, 2010, p.43). Assim, deu início a inclusão escolar. O movimento ganhou força e chegou ao Brasil. Com isso, deu um grande aumento no número de escolas de ensino especial. Em 1969 tinha mais de 800 estabelecimentos de ensino especial para deficientes mentais. [...] a escola para todos não é a escola de todos; as diferenças pessoais, sociais, econômicas e políticas nos mostram isso todos os dias. Do mesmo modo, colocar todos os alunos na escola não reduz desigualdades nem é exemplo de cidadania, uma vez que cidadania refere-se a padrões morais e não educacionais. A escola não é o lugar mais propício para vivenciar igualdades, muito pelo contrário; a escola que temos hoje tende a ressaltar diferenças, e é lá que elas são mais ampliadas (MELO, LIRA, FACION, 2009, p.64-65). Entretanto, algumas possibilidades podem ser delineadas utilizando-se os princípios preconizados pelas políticas inclusivas para a construção de um ensino de fato inclusivo, principalmente quando se entende que a escola e a sociedade devem se adequar às necessidades e às especificidades de seus alunos. O ensino escolar brasileiro ainda é restrito às algumas pessoas, principalmente no caso de pessoas com necessidades especiais, contudo, há um crescimento gradativo com a adesão de redes de ensino, de escolas e de profissionais, pais e instituições dedicados em prol da inclusão de pessoas com deficiência. É inegável que a inclusão coloca mais lenha na fogueira e que o problema escolar brasileiro é dos mais difíceis, diante do número de alunos que temos de atender, das 32 diferenças regionais, do conservadorismo das escolas, entre outros fatores (MANTOAN e PRIETO, 2006, p.23). A LDB declara que o ensino especial é uma modalidade e deve perpassar o ensino comum em todos níveis, seja da escola básica até o ensino superior. Para tanto, deve assegurar a permanência e o prosseguimento dos estudos de alunos com deficiências e deixar que o Estado assuma essa responsabilidade atendendo assim as necessidades educacionais de todos. O processo inclusivo estabelece que a escola deva estar preparada para acolher todos os alunos. O fracasso escolar é de responsabilidade de todos (professores, auxiliares, pais e alunos), contrariando assim a afirmativa da integração, em que o aluno necessita se adaptar às exigências da escola. A convivência escolar no processo de inclusão cria um rico campo de aprendizagem, em que as crianças desenvolvem habilidades como tolerância e aceitação do outro, importantes para sua vida social. Entretanto, importa referir a existência de um expressivo descompasso entre o que se propõe, com base na lei, e a operacionalização do sistema escolar brasileiro, diante de uma realidade muito difícil (BEYER, 2006, apud FERNANDES, 2010, p.44). Dessa forma, a efetiva aplicação da educação inclusiva se dá através da quebra dos preconceitos e aceitar as diferenças existentes. Os deficientes estão aos poucos adentrando o espaço social criando coragem para mostrarem suas caras para a sociedade, no mercado de trabalho. Estudos e experiências realizados no Brasil demonstram que a Educação inclusiva é benéfica para todos os envolvidos. Os alunos com deficiência aprendem • melhor e mais rapidamente, pois encontram modelos positivos nos colegas; • que podem contar com a ajuda e também podem ajudar os colegas; • a lidar com suas dificuldades e a conviver com as demais crianças. Os alunos sem deficiência aprendem • a lidar com as diferenças individuais; • a respeitar os limites do outro; • a partilhar processos de aprendizagem. Todos os alunos, independentemente da presença ou não de deficiência, aprendem • a compreender e aceitar os outros; • a reconhecer as necessidades e competências dos colegas; • a respeitar todas as pessoas; • a construir uma sociedade mais solidária; • a desenvolver atitudes de apoio mútuo; • a criar e desenvolver laços de amizade; • a preparar uma comunidade que apoia todos os seus membros; • a diminuir a ansiedade diante das dificuldades (REDE SACI, 2005, p.26-27). Assim, todos saem ganhando nessa integração de aprendizado. A implantação de um ensino que possibilite educar de forma inclusiva as diversidades impõe a construção de um projeto que não se dará ao acaso nem de uma hora para outra e que não é uma tarefa individual. 33 Trata-se de um trabalho coletivo, envolvendo discussões, embates entre governo, sociedade, escola e família, onde seja possível refletir sobre que escola construir e que indivíduos pretendem formar. 34 3 DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM DOS ALUNOS COM DEFICIÊNCIA 3.1 Histórico da Avaliação da Aprendizagem O tema educação escolar com necessidades especiais tem tido muito repercussão nos últimos tempos devido a sua ampliação de acesso nas escolas comuns, e também pelos desafios pedagógicos que acabam tendo que acontecer devido as diferenças de cada aluno. No que se refere à inclusão escolar, o acesso dos alunos que apresentam alguma necessidade especial às classes comuns não tem sentido sem que esteja acompanhado da inserção em processos significativos de aprendizagem, a partir das devidas modificações na estrutura física, material e humana da escola, na direção de identificar as necessidades educativas desses alunos e lhes oferecer as devidas oportunidades pedagógicas (BERNAL, 2010, p.85). Assim, a escola que recebe os alunos especiais devem-se adequar para inclusão eficiente, e a integração com os outros colegas. Esse panorama segundo a autora, supõe a valorização de respostas dos alunos especiais, a flexibilidade e disposição para perceber o seu potencial explícito ou implícito de acordo com as respostas, além de uma orientação positiva por parte dos professores, alunos e todos que participam com alunos especiais em escolas comuns. Historicamente a avaliação da aprendizagem tem sofrido muitas transformações. Segundo LIMA (2008) na antiguidade predominava a avaliação estrutura pelo oralismo. Na Grécia Antiga Sócrates submetia seus interlocutores a exaustivo inquérito oral, e avaliava para chegar a uma verdade. Na idade média teve o período marcado pelo teocentrismo, onde preconiza que Deus é o centro do universo: tudo foi criado por ele e por ele é dirigido. Assim, os interesses eram voltados para a fé e a revelaçãodivina. Aqui o modelo educacional era apresentado em conteúdo como certos e indiscutíveis onde a verdade deveria ser aceita sem dúvidas ou questionamentos. A aprendizagem era na base da repetição, enfatizando a capacidade de atenção e memória do aluno (LIMA, 2008). A aprendizagem então era uma decoração, através do método de repetição. A ciência impulsionou o homem a questionar os fenômenos e a descobrir suas causas, solicitando então o raciocínio, ao invés da memorização do saber. (...) Em 1702, em Cambridge, na Inglaterra, foi utilizado pela primeira vez, o exame escrito. Conforme esse legado histórico, a Idade Contemporânea apresentou uma visão de avaliação com as ideias materialistas e anticlericais do racionalismo, do enciclopedismo e do naturalismo (FERNANDES, 2010, p.61). 35 Assim, o instrumento de avaliação tem sido desviado de seu propósito principal com a aprendizagem, distorcidos e usados como forma de castigo, punição e até ameaças. Essa conduta é inaceitável por qualquer meio de ensino, indiferente dos alunos com ou sem necessidades especiais. Após a 2ª Guerra Mundial nos Estados Unidos (1939-1945) surgiram os testes escritos como avaliação sobre objetivos e competências específicas. No entanto, segundo FERNANDES (2010, p. 67) essa avaliação se dava com uma abordagem teórica baseada em práticas da rotina. “A trajetória da avaliação norte-americana exerceu uma forte influência nos modelos avaliativos Na LDBEN nº 9.394/96, a avaliação do rendimento escolar é inserida no art. 24, inc. V: a) avaliação contínua e cumulativa do desempenho do aluno, com prevalência dos aspectos qualitativos sobre os quantitativos e dos resultados ao longo do período sobre os de eventuais provas finais; b) possibilidade de aceleração de estudos para alunos com atraso escolar; c) possibilidade de avanço nos cursos e nas séries mediante verificação do aprendizado; d) aproveitamento de estudos concluídos com êxito; e) obrigatoriedade de estudos de recuperação, de preferência paralelos ao período letivo, para os casos de baixo rendimento escolar, a serem disciplinados pelas instituições de ensino em seus regimentos; (BRASIL, 1996). De acordo com a referida lei, a avaliação é feita através do sucesso alcançado pelo aluno durante o processo de ensino-aprendizagem. Atualmente as escolas brasileiras se mostram preocupadas com a promoção do educando e dos professores, em realizar as avaliações oferecendo satisfação aos pais, a administradores da escola e a todos os envolvidos nesse processo, sobre o sucesso escolar dos alunos deficientes. 3.2 Avaliando Diferenças Vive-se na atualidade no cenário educacional o momento da inclusão. Há vários questionamentos sobre os antigos paradigmas e as formas de avaliação, e são propostos novos modelos de avaliação e novas formas de ensinar e avaliar para a Educação Inclusiva. O trabalho educacional coma diversidade não pode ignorar a diferença ou a individualidade do aluno, assegurando um espaço para o diálogo, para a expressão de cada um e a participação de todos na construção do saber, com o apoio do conhecimento mútuo, da cooperação e da solidariedade (AMBROSETTI, 1999 apud FERNANDES, 2010, p.77). 36 A Educação inclusiva remete a várias reflexões no que diz respeito à avaliação da aprendizagem, mas nota-se que há uma significativa escassez em literaturas e de ações pedagógicas nesse sentido. Dessa forma, a inclusão é vital, visto que conforme seu próprio nome diz, reporta-se a incluir. Refletir sobre o processo do desenvolvimento humano impõe esforço permanente para superar concepções organicistas, que marcaram a história. O fato de colocar nos alunos portadores de deficiência toda responsabilidade pelo processo de aprendizagem e desenvolvimento revela a compreensão do ser humano. Esses alunos são considerados a partir das suas condições orgânicas. Para os alunos com deficiência incluídos nas classes comuns, a mediação exercida pelos outros membros do grupo (professores, colegas, funcionários da escola e do entorno) e pelos elementos da cultura que estão presentes no cotidiano escolar (ambiência, linguagem, materiais, conhecimento), contribui sobremaneira para a aprendizagem e, consequentemente, para o desenvolvimento de processos psicológicos cada vez mais elaborados (BERNAL, 2010, p.86). Assim, a escola deve se adequar aos alunos com deficiência, deve proporcionar aprendizagem e desenvolvimento. O desenvolvimento da criança portadora de necessidades especiais depende da qualidade de sua vivência social, com a família, colegas, escola, todos considerados espaços de aprendizagem. A aprendizagem do aluno é comumente reduzida a uma estatística diante de padrões pré-determinados, valorizando-se mais o produto do que o processo de aprender. No entanto, esse posicionamento se mostra inadequado tanto às necessidades do aluno (cognitivas e afetivas), como às demandas da sociedade atual (FERNANDES, 2010, p.77). Assim, uma nova cultura de avaliação passa por reflexões, críticas, questionamentos sobre a habilidade de lidar de forma mais democrática, estimulando as possibilidades de cada aluno na descoberta de conhecimentos. A avaliação em alunos com deficiência tem características complexas, pois inexiste uma avaliação adequada. Isso faz que com que valide ainda mais os preconceitos em relação aos deficientes. Segundo BEYER (2004) os procedimentos de avaliação podem gerar situações impróprias para a evolução da aprendizagem e prejudiciais para a autoestima do aluno, ao colaborar para um histórico escolar insatisfatório. A finalidade principal da avaliação deve consistir em analisar as potencialidades de desenvolvimento e aprendizagem do aluno com 37 deficiência, ponderando acerca dos recursos educacionais necessários em benefício da sua aprendizagem. Na condição de procedimento sistemático, a avaliação da aprendizagem auxilia consideravelmente em compreender fatores que beneficiam ou não a inclusão na escola. Nessa perspectiva, há a necessidade de verificação do aprendizado do aluno, dando subsídios para os professores e possibilitando decisões para melhoria da qualidade do ensino. A avaliação deve se caracterizar como um instrumento capaz de estabelecer as condições de aprendizagem do aluno e sua relação com o ensino. Seus procedimentos devem permitir uma análise do desempenho pedagógico, oferecendo subsídios para o planejamento e a aplicação de novas estratégias de ensino que permitam alcançar o objetivo determinado pelo professor em cada conteúdo específico. (OLIVEIRA E CAMPOS, 2005, p.53). Dessa forma, a avaliação surge como elemento crucial para orientar a prática pedagógica através do desempenho do aluno. Quando a população de referência são alunos de escolas comuns e portadores de deficiência, a avaliação processual de sua aprendizagem é crucial para garantir sua escolarização. A inexistência de uma avaliação adequada às suas necessidades especiais mostra uma compreensão ineficaz ou equivocada do processo de ensino e aprendizagem desses alunos portadores de deficiência. Se o professor identifica que o aluno tem dificuldades para realizar atividades ou mesmo que não participa, deve-se interferir rapidamente nesse processo bem o professor e a equipe escolar. Pode ser que este aluno necessite de mais tempo em relação aos outros alunos; necessita de material introdutório mais simples; necessita de meios especiais de acesso tal como o método de Braille, intérprete ou instrutor de libras; equipamentos de comunicação alternativa; jogos pedagógicos (SÃO PAULO, 2007). Para tanto, é necessário um sistema de avaliação mais preciso com os alunos portadores de necessidades especiais em instituições públicas ou em classes especiais e comuns. BEYER apresenta orientações para incluir os alunos com deficiência no espaço escolar
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