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1 WEEKS, Kent. Archaeology and Egyptology. In: WILKINSON, Richard (Ed.). Egyptology Today. Cambridge: Cambridge University Press, 2008. p. 7-22. ARQUEOLOGIA E EGIPTOLOGIA KENT WEEKS1 Tradução livre e notas de rodapé: Marcia Severina Vasques Por volta de 1250 a.C., o sumo-sacerdote de Ptah em Mênfis, Khaemwese, quarto filho de Ramessés II, limpou e reparou várias pirâmides e templos em Giza e Saqqara. Mesmo em sua época, elas já estavam em ruínas há milhares de anos. Ele as restaurou dizendo que foi por causa de elas serem “de uma antiguidade muito amada” e que, por isso, ele não poderia deixar que elas caíssem. Estudiosos modernos têm chamado Khaemwese de “o primeiro arqueólogo do mundo”. Certamente, ele foi um defensor entusiasta da preservação arqueológica: ele acreditava que, ao proteger as construções religiosas, ele honrava aos ancestrais egípcios e assegurava que as práticas religiosas contemporâneas permaneceriam fieis às antigas e, portanto, continuariam puras em relação às formas de adoração. Infelizmente, proteger antigos monumentos raramente tem sido o objetivo da maior parte das pessoas: da antiguidade até agora a maioria viu neles construções que deveriam ser ignoradas ou saqueadas. Se um monumento era acessível, ele provavelmente servia como um canteiro para a aldeia, os seus blocos de pedra eram usados para fazer novas construções e as paredes de tijolos foram derrubadas para serem utilizadas como fertilizante. As tumbas foram utilizadas como lugar de estocagem ou armazéns. Mesmo deteriorados, antigos sítios foram considerados como lugares que continham tesouros. Desde a Antiguidade as pessoas sabiam que as tumbas e os templos continham riquezas, incluindo ervas e especiarias, objetos de arte, madeiras e vestimentas caras, papiros e, o melhor de todos, ouro. Histórias a respeito das grandes riquezas tinham se tornado tão comuns que no século VIII manuais descreviam como os homens tinham se tornado ricos com o saque de sítios e mesmo contavam aos leitores quais sítios escavar. E escavações foram feitas, mesmo nos cantos mais remotos do país. Por 25 séculos, até o século XX, os monumentos do antigo Egito foram saqueados, seus tesouros derretidos, moídos, levados para fora e vendidos. Poucas pessoas mostravam algum interesse em registrar ou proteger as antiguidades. Um dos poucos que parecia se preocupar foi Al-Idrisi, um estudioso árabe do século XIII, que publicou detalhadas descrições dos monumentos de Giza. Ele mediu as suas pedras (e noticiou que algumas foram reutilizadas em estruturas posteriores), descreveu a camada de argila (clay plaster) sobre as suas paredes (ele identificou a sua composição e fonte) e analisou os dejetos que enterravam as suas paredes (ele foi um dos primeiros a traçar uma estratigrafia do antigo sítio). Al-Idrisi também criou teorias sobre as funções dos monumentos. Isto foi muitos séculos antes de os europeus publicarem os seus estudos. 1 Atualmente, professor da Universidade Americana do Cairo. Para mais informações: http://www.thebanmappingproject.com/about/staff_1.html 2 Há várias razões para o atraso dos egiptólogos europeus. Em primeiro lugar, poucos europeus liam árabe e fontes como Al-Idrisi eram desconhecidas na Europa. Em segundo lugar, antes da decifração dos hieróglifos em 1822 a única informação disponível sobre o Egito vinha dos comentários bíblicos e dos autores clássicos. Visitantes clássicos do Egito incluindo Heródoto, Diodoro da Sicília, Horapollo e Plínio, o Velho, descreveram algumas das coisas que eles viram em suas visitas a Alexandria e, ocasionalmente, ao Vale do Nilo, subindo o rio além de Giza e Mênfis. No entanto, as suas descrições foram superficiais e fantasiosas. Viajantes pós-clássicos estavam interessados em ver como o Egito lançava luz sobre a Bíblia e não estavam interessados no Egito mesmo, o que produziu uma visão distorcida do Egito. Em terceiro lugar, até o século XVII, poucos europeus visitaram o Egito. Os únicos monumentos que eles viram em primeira mão foram os obeliscos que tinham sido levados para a Europa pelos romanos. Mas, apesar das limitações, histórias sobre o Egito feitas por viajantes europeus foram se tornando imensamente populares e escritores que nunca tinham ido ao Egito simplesmente inventavam histórias que poderiam alimentar a venda de seus livros. Eles diziam ter visto seres de uma cabeça e uma perna no deserto além das pirâmides e diziam que os egípcios eram gênios semidivinos, intermediários entre homens e deuses. Eles proclamavam que a cultura egípcia era mais avançada do que qualquer uma que a Europa tinha produzido e que a sua ciência, engenharia, arte e arquitetura alcançava níveis que os simples mortais nunca alcançariam. O meio natural egípcio não era menos maravilhoso do que o cultural. Escritores relatam que rãs eram geradas espontaneamente nos lodos negros do Vale do Nilo e contam que as mulheres ficavam grávidas simplesmente por beber da água do Nilo. O Egito, eles acreditavam, era o Jardim do Éden – literalmente o mais perfeito lugar da terra. Acuradas ou não, estas histórias ganharam grande popularidade na Europa e o apetite as pessoas para as coisas do Egito foi além disso aguçado pelo crescimento das coleções dos museus no século XVIII. Milhares não foram capazes de ver os objetos egípcios e o que eles viram – múmias, estátuas com corpos humanos e cabeças de animais, hieróglifos indecifráveis – pareceu mesmo confirmar ideias de selvageria. A egiptologia não se tornaria uma disciplina acadêmica até o século XIX, mas nos anos de 1600 e 1700 o antigo Egito ocupava um lugar proeminente na imaginação europeia – romantizado, adorado, imitado e exagerado. Estas fantasias primeiras sobre o Egito tiveram consequências posteriores para o seu estudo. Por exemplo, muitos historiadores respeitados argumentaram que, embora todas as outras civilizações antigas tenham se desenvolvido por caminhos similares, o Egito era uma exceção à regra e deveria ser excluído dos estudos de “cruzamentos culturais”2. (Arnold Toynbee3 falou a respeito no seu famoso Um Estudo da História). Estas ideias atrasaram a nossa compreensão de como egípcia surgiu e prolongou a ideia que ela tinha aparecida pronta no Vale do Nilo com nenhum antecedente indígena. A base para tal visão começou a mudar depois da decifração dos hieróglifos por Champollion em 1822, mas apenas lentamente. Estudiosos europeus não clamavam por cópias acuradas dos textos em hieróglifos e epigráficos e por expedições devidamente estabelecidas na Europa para registrar os monumentos egípcios. Grandes projetos, como aqueles dos franceses (que resultou na Description de l’Égypte), de Carl Lepsius (The Denkmaler aus Aegypten) e de John Gardner Wilkinson (Manners and Customs of the Ancient Egyptians) produziram cópias de textos e desenhos de monumentos e ofereceram interpretações sobre 2 Cross-cultural Studies – em antropologia, são os estudos que comparam culturas diferentes. (N.T.). 3 Historiador britânico (1889-1975). 3 as quais a Egiptologia do século XIX foi fundada. O quadro que a Europa fazia do Egito começou a se transformar. Descrições mais precisas começaram a substituir as fantasiosas e a cultura egípcia foi considerada como tendo uma origem humana e não mais semidivina. [...]. Estes primeiros trabalhos epigráficos são ainda de grande valor porque muitos monumentos que eles registraram desapareceram. Os exploradores, algumasvezes, transportaram tumbas e paredes de templos inteiras. Os camponeses egípcios, além disso, saquearam sítios à procura de objetos para vender ao número crescente de turistas. Técnicas de escavação pobres também destruíram sítios. A epigrafia egípcia e a história da arquitetura foram aperfeiçoadas em seus métodos no século XIX, mas a arqueologia egípcia não. Mesmo a mais incompetente das escavações resultaria em tesouros e os escavadores ainda viam pouco a ganhar em adotar métodos mais meticulosos. Eles acreditavam que os sítios egípcios eram cornucópias4 arqueológicas: haveria sempre mais a encontrar. Por exemplo, em 1830, Howard Vyse estava usando pólvora para localizar a entrada das pirâmides de Giza e fazer buracos no corpo da Esfinge para ver se ela era oca. Escavadores alugariam centenas de trabalhadores para tirar a areia dos monumentos. Os sítios que eles escavaram foram geralmente templos de pedra ou tumbas, monumentos conhecidos por terem paredes decoradas e com inscrições, além de artefatos de fina qualidade. Sítios no deserto foram preferidos porque eles eram mais fáceis de escavar, pois estavam menos sujeitos a serem inundados e eram melhor preservados do que os sítios que ficavam perto das áreas úmidas de cultivo. Um escavador poderia apressadamente mapear alguns muros de pedra durante o seu trabalho, mas as paredes feitas de tijolos eram derrubadas. Objetos quebrados ou não decorados eram descartados e somente objetos que eram julgados atrativos o bastante para um museu eram salvos. Nenhum registro foi feito da onde estavam estes objetos ou dos elementos que poderiam a ele estar relacionados. Escavadores publicaram uma informação superficial acerca de seu trabalho ou não publicaram nada. Houve poucas expedições. Nos anos de 1850 o escocês Alexander Henry Rhind escavou o Vale dos Reis e Giza e meticulosamente registrou o que ele encontrou, descrevendo mesmo fragmentos que seus colegas poderiam simplesmente ter jogado fora. Rhind, que tinha escavado sítios antigos na Escócia antes de ir para o Egito, foi um dos primeiros a datar os depósitos estratigráficos em potencial. Ele foi o primeiro a reconhecer a existência de uma cultura pré-dinástica no Egito, em várias sepulturas que ele limpou perto de Giza. Ele pediu a seus colegas que deixassem as antigas construções intactas e apenas fez cópias das inscrições. Ele também foi um dos primeiros a acreditar que a fotografia poderia ser usada para registrar monumentos, uma prática que Maxime du Camp5 tinha começado em 1849. Finalmente, Rhind insistiu que os escavadores deveriam publicar completamente o que eles descobriram. Ele apela para ouvidos surdos. Apesar destes esforços, foi outro homem (cujas técnicas de escavação muito ruins destruíram muitas evidências que ele descobriu) o responsável por mudanças que levaram ao fim das práticas destrutivas em arqueologia contra as quais Rhind já havia reclamado. Auguste Mariette, um jovem assistente do Museu do Louvre, em Paris, foi enviado ao Egito para comprar manuscritos coptas, mas, ao invés disso, usou o dinheiro para escavar em Saqqara, descobrindo o grande labirinto, o local sagrado de enterramento do touro Ápis, chamado de Serapeum. Sua descoberta, largamente publicizada, foi seguida por outras em Tebas, Abidos, Edfu e dezenas de outros sítios. Por volta de 1858, a reputação de Mariette 4 Na cultura greco-romana a cornucópia era um vaso em forma de chifre (corno, da onde deriva o nome do vaso), no qual eram colocadas flores e frutas, símbolos da abundância e da fertilidade. (N.T.). 5 Escritor e fotografo francês. (N.T.). 4 como egiptólogo era inigualável e o governante do Egito, Ismail Paxá6, o nomeou Conservador dos Monumentos Egípcios, chefe do Conselho Supremo de Antiguidades. Uma das primeiras atitudes de Mariette foi estabelecer o Museu Egípcio no Cairo. Com a sua morte, em 1881, Mariette foi sucedido como Conservador por outro francês, Gaston Maspero, professor de Egiptologia que tinha chegado ao Egito em 1880. Ele serviu até 1886 e novamente em 1889 até 1914. Maspero fez vários importantes achados arqueológicos, entre os quais estava o esconderijo das múmias reais em Deir el-Bahari e várias construções maiores em Karnak. Mas hoje a sua reputação permanece principalmente em relação a três outras realizações. Ele criou o grande Catálogo Geral do Museu Egípcio, um catálogo que já tem mais de 80 volumes e ainda está em progresso e ele criou um periódico, os Annales du Service des Antiquités de l’Égypte, o qual é ainda o registro oficial do trabalho arqueológico no Egito. Em terceiro lugar, Maspero e Mariette juntos traçaram os primeiros degraus efetivos para parar os saques e para proteger os sítios arqueológicos no Egito, estabelecendo novas regras para as escavações e para reprimir os roubos. Foi também em 1880 que um inglês foi encarregado de fazer pesquisas arqueológicas no Egito. William Flinders Petrie veio ao Egito ainda jovem com o objetivo de fazer um levantamento na Grande Pirâmide (de Quéops) e provar uma teoria que seu pai havia sustentado a respeito das medidas da pirâmide. Ao invés disso, o seu trabalho preciso provou que a teoria estava errada e o meticuloso relatório que ele publicou impressionou bastante Amelia Edwards, fundadora da recentemente estabelecida Egypt Exploration Fund7, que ela ofereceu sustentar o seu trabalho. Petrie era autodidata e ele teve ideias muito precisas sobre como melhor conduzir as escavações arqueológicas e analisar os seus dados. Comparada as outras escavações de sua época, o seu trabalho era tão detalhista que seus colegas o rejeitaram pensando que era uma perda de tempo e dinheiro. Diferentemente de seus colegas, que ainda salvavam apenas os achados considerados de qualidade para o acervo dos museus e raramente publicavam os seus dados, Petrie argumentava que mesmo os objetos quebrados e que não possuíam inscrições poderiam ser preservados para análise, o contexto no qual os objetos foram encontrados deveriam ser registrados e os sítios deveriam ser mapeados e fotografados. Ele treinou os seus trabalhadores, desenvolvendo uma equipe permanente que ele empregou por décadas, compensando boas técnicas de escavação com dinheiro e louvor. Pelas seis décadas seguintes Petrie escavou e publicou importantes descobertas arqueológicas mais do que qualquer outro, antes ou depois dele. Ele trabalhou em grandes sítios como Giza e Tebas, mas ele também escavou cemitérios menores e casebres de tijolos – os tipos de sítios que os outros escavadores tinham ignorado porque eles eram difíceis de escavar e porque os consideravam sem importância. O trabalho de Petrie foi revolucionário. Embora poucos de seus colegas adotassem os seus métodos, os seus estudantes o fizeram e o futuro da Egiptologia se beneficiou disto. Petrie mostrou que os dados arqueológicos poderiam ser tão informativos quanto os hieróglifos. Ele mostrou o valor do contexto dos achados arqueológicos, o que mais tarde levaria ao uso de grades e quadrados (quadrículas) para dividir um sítio em bem controladas unidades de escavação. Ele estava consciente da importância da estratigrafia como um instrumento cronológico, por rastrear metodicamente os detalhes da arquitetura de vestígios 6 Ismail Paxá (1830- 1895) foi governador e, depois, quediva (vice-rei) do Egito e da Núbia quando o país estava sob domínio do Império Otomano. Foi depostopelos britânicos em 1879. 7 Hoje chamado de Egypt Exploration Society. Site: http://www.ees.ac.uk 5 não tão bem preservados; ele explicou como a arquitetura das tumbas reais evoluiu do Egito mais antigo. Ele desenvolveu um brilhante sistema de traçar a cronologia das tumbas e de seus conteúdos mapeando os atributos que mudavam da cerâmica (a seriação e sequência de datação). É um tributo a Petrie que mesmo agora, um século após a primeira sequência de datação ter surgido, estar sendo ainda seguida. Por quatro vezes no século passado (em 1939 por Petrie mesmo, em 1960 por Walter Federn, em 1957 por Werner Kaiser e em 1982 por Barry Kemp), o processo foi reexaminado, mas somente pequenas revisões foram feitas. O trabalho de Petrie realmente mudou a arqueologia não somente no Egito mas em toda a Ásia Ocidental e depois de sua morte, em 1942, ele veio a ser chamado, com apenas um pouco de exagero, de “Pai da Arqueologia Moderna”. Um egiptólogo em particular se destacou como o melhor sucessor de Petrie e ele também impulsionou a arqueologia para ser uma disciplina mais intelectualizada. George Andrew Reisner foi um egiptólogo altamente respeitado que escavou em muitos sítios egípcios. Sustentado pela Phoebe Hearst e pela Universidade da Califórnia, Reisner trabalhou em Deir el-Ballas e Naga ed-Deir, sítios do Médio Egito com extensos cemitérios pré-dinásticos e em vários sítios grandes no Egito e na Núbia sudanesa. Mas o seu principal trabalho foi em Giza, onde ele foi diretor da Expedição da Universidade de Harvard e do Museu de Boston (Museum of Fine Arts). O trabalho de Reisner em Giza foi brilhante – cuidadoso, preciso e meticuloso, com uma grande ênfase no registro. Como Petrie, ele treinou os seus trabalhadores egípcios bem: eles mantinham o seu próprio caderno de notas e faziam fotografias de como eles trabalhavam. Não é usual encontrar projetos que mantenham detalhados registros ou onde o método arqueológico correto é ensinado aos trabalhadores locais. O trabalho de Reisner resultou em várias publicações importantes como Mycerinus (1931), The Development of the Egyptian Tomb (1936), A History of the Giza Necropolis (1942) e The Tomb of Hetep-heres (1955); todas resultado de um maciço trabalho da mais alta qualidade. Se Reisner falhou em alguma coisa, foi pela decisão de retardar a publicação de seu extensivo trabalho sobre o Grande Cemitério Ocidental de Giza até que todas as tumbas estivessem escavadas. Ele quis esperar e preparar um volume múltiplo, ordenando a síntese dos dados cronologicamente. Infelizmente, Reisner morreu antes de conseguir fazer este trabalho e as suas caixas com as suas anotações e as de seus trabalhadores, somente agora estão sendo reunidas e publicadas. Mas os dados estão todos lá, nas suas anotações e nas de seus trabalhadores e, sessenta anos após a sua morte, a Giza de Reisner está sendo reconstruída em um trabalho feito por numerosos especialistas. Tanto Petrie quanto Reisner devotaram considerável tempo para estudar e registrar a cerâmica em suas escavações, coisa que poucos arqueólogos conseguiram fazer. Sabemos agora como estes cacos podem revelar importantes informações sobre o comércio, a economia, a dieta, a agricultura, a economia, a tecnologia e a cronologia. Mas um século atrás, vasos decorados eram destinados ao acervo de museus e nada mais e os cacos eram considerados dejetos. Arqueólogos chamam estes episódios como a fase do estudo da cerâmica enquanto “objeto da história da arte”, a primeira das três fases na qual o estudo se divide. Estas fases têm sido observadas mais estreitamente porque elas refletem o modo como as outras especialidades da arqueologia egípcia se desenvolveram. Em egiptologia, a fase da História da Arte durou todo o século XX. As escavações foram lentas para se mover desta fase para a segunda, chamada de tipológica, porque a tipologia envolvia examinar não apenas o vaso todo mas milhares, mesmo milhões de cacos de um único sítio egípcio e então arranjá-los em categorias baseadas em seus atributos como técnica de fabricação, forma e tratamento da superfície. Era cansativo, consumia tempo, mas o 6 esforço valia: por exemplo, a técnica de seriação idealizada por Petrie tinha um resultado e o trabalho de Reisner em Kerma (Núbia) e em Giza tinha outro. A terceira fase, a contextual, a fase, as formas dos vasos, a decoração, a técnica de fabricação e outros atributos foram considerados úteis para traçar as rotas de comércio e as interconexões culturais e para identificar mudanças na tecnologia da cerâmica. Estudos contextuais também ajudaram a refinar as tipologias da cerâmica. A fase contextual é especialmente bem ilustrada pelo trabalho dado pela Campanha de Salvamento da Núbia realizada nos anos de 1960, quando arqueólogos treinados em antropologia trabalharam sobre sítios que não ofereciam nenhum registro decifrável e também em recentes estudos da cerâmica egípcia pré-dinástica. O estudo contextual da cerâmica egípcia hoje é uma especialidade complexa que se tornou uma parte modelo do todo projeto arqueológico. As equipes de escavação incluem, no mínimo, uma pessoa especializada em análise de cerâmica e todo caco encontrado em uma escavação hoje é limpo, catalogado e analisado. As conferências de egiptologia têm desenvolvido modelos para descrever as fábricas, as louças, a argila e os sedimentos de onde elas vieram. Estudos etnográficos têm ajudado a explicar a manufatura da cerâmica e numerosos testes químicos e físicos tem redefinido nossos dados de cerâmica. Posto de maneira mais simples, os estudos sobre cerâmica egípcia se deslocaram para o estudo de pequenas unidades: de um connaisseur/conhecedor de vasos inteiros na fase 1 para a tipologia dos cacos na fase 2 e para a análise microscópica da argila, da têmpera, do tratamento da superfície, temperatura da queima, pigmentos e fabricação na terceira fase. O aumento da ênfase sobre as partes que compõem o vaso e os seus atributos é verdadeiro para aproximadamente todos os aspectos da arqueologia egípcia. A egiptologia não é mais uma disciplina povoada apenas de teólogos, filólogos e historiadores que falam apenas de aspectos gerais como foi no século passado. Ao invés disso, os egiptólogos e as suas especialidades se detêm mais sobre as minúcias arqueológicas – os ossos de animais, os vestígios de plantas, pólens, tijolos, instrumentos de pedra, fragmentos de cestaria – a fim de extrair a menor informação possível. Os dados daí resultantes podem ser valiosos. Há alguns anos atrás, botânicos identificaram a existência de espécies variadas de ervas entre os grãos e as flores que antigos sacerdotes tinham colocado na tumba de Tutankhamun e a partir deles foi possível reconstruir as práticas de plantio do Novo Império. Hoje, a tarefa de um diretor de um projeto arqueológico – um trabalho que nunca acaba - é sintetizar os maciços dados técnicos que a sua equipe produziu e traduzi-los em um quadro significativo da vida do antigo Egito. A sua equipe deverá ser grande. Tomo, por exemplo, dois projetos arqueológicos que vêm se desenvolvendo no Egito desde a década passada. O projeto de mapeamento do platô de Giza (The Giza Plateau Mapping Project)8 escava uma vila de trabalhadores do Antigo Império ao lado das pirâmides. O projeto de mapeamento de Tebas (The Theban Mapping Project9) está limpando uma tumba, a KV 510, no Vale dos Reise desenhando os planos administrativos de toda a Margem Ocidental Tebana11. Nestes projetos foram empregados mais de trinta diferentes especialistas. Estes incluem topógrafos, arquitetos, cartógrafos, fotógrafos, conservadores, antropólogos forenses, 8 The Giza Plateau Mapping Project. Site do Oriental Institute of Chicago: https://oi.uchicago.edu/research/projects/giza-plateau-mapping-project-gpmp-0 9 The Theban Mapping Project. Site: http://www.thebanmappingproject.com 10 KV é a sigla para King Valley (Vale dos Reis), forma de classificação padrão para as tumbas reais. 11 A Margem Ocidental do Nilo era aonde ficavam as necrópoles. O Vale dos Reis (e outros importantes sítios arqueológicos) fica na margem ocidental de Tebas (hoje a cidade de Lúxor). 7 técnicos de raio X, arqueobotânicos, zooarqueólogos, palinólogos (que estudam os pólens), geólogos, minerólogos, hidrólogos, artistas, historiadores de arte, especialistas em cerâmica, experts em análise de solo, experts em estratigrafia, pilotos de balão de ar, fotógrafos aéreos, técnicos em imagens de satélites, engenheiros elétricos, de mineração e de estrutura, químicos, programadores de computador, desenhistas, designers gráficos, administradores/gestores de recursos culturais, estatísticos, filólogo, especialistas em epigrafia, geofísicos, experts em tecnologia de rochas e egiptólogos. O tipo de informação que um grupo eclético da equipe de arqueólogos pode ter é ilustrativo do recente trabalho feito em Giza. Pelo projeto sobre o platô de Giza estão ocorrendo escavações em uma vila que empregava cerca de 8.000 a 10.000 homens na construção da Grande Pirâmide, que viveram há 4.500 anos atrás. Uma meticulosa escavação tem ido tão longe a ponto de termos 175.000 ossos de animais e fragmentos destes. Cerca de 10% das espécies foram identificadas. Destas, a maior parte dos ossos é de carneiros e cabras domesticados (75%), gado (15%) e porcos (5%). Os ossos são principalmente de animais jovens e machos. O que podem os arqueólogos aprender com estas estatísticas? Eles podem ver como era bem planejado o sistema que tinha como objetivo suprir com alimento uma grande força de trabalho e que esta comida era mais comum na dieta dos trabalhadores do que se pensava inicialmente. Eles notaram que uma grande quantidade de animais não poderia ter sido criada localmente, mas sim que deveria ter vindo de várias partes do Egito, o que significa que os animais poderiam ter sido deslocados junto com o rebanho para a vila em Giza onde seriam mortos. Carneiros e cabras eram bem suscetíveis ao pastoreio e eram um suprimento de proteína para a população. Além disso, eles eram os animais domésticos mais comuns encontrados lá. O gado era mais caro, mas um único animal poderia alimentar mais pessoas do que um carneiro ou uma cabra. A sua quantidade no sítio era reduzida. Porcos são difíceis de criar e aqueles abatidos em Giza provavelmente vinham das fazendas próximas. Então, eles são poucos em número. Animais jovens são melhor habilitados para fazer longas viagens e eles possuíam uma melhor qualidade de carne do que os animais velhos. Enfim, poderia ter sido economicamente melhor matar os machos ao invés das fêmeas porque estas poderiam continuar a dar mais crias. Os especialistas do projeto de Giza estão agora explorando os tipos de estruturas burocráticas e econômicas necessárias para administrar atividades complexas. Como os administradores supervisionavam a criação de animais longe de Giza e arranjavam para que eles chegassem em quantidade adequada? Como eles organizavam os açougues e as cozinhas para matar e cozinhar os animais e preparar a refeição de milhares de pessoas todos os dias em vários anos? A equipe do projeto de Giza está estudando as padarias e as instalações para peixes presentes no sítio, tanto para ter uma informação técnica sobre o processo utilizado mas também para saber mais sobre a força de trabalho. Isto é verdadeiramente a arqueologia egípcia como até então não se tinha sonhado, ajudando a reconstruir o sistema econômico e social, complexo e bem organizado, que tornou possível a construção da pirâmide do faraó. Em outros estudos de sítios do Antigo Império os vasos de pedra foram analisados para determinar de quais pedreiras vieram os materiais, dados que nos servem para mapear as rotas marítimas e os padrões econômicos. Um estudo cronológico a respeito dos moldes de pães mostraram que uma mudança dramática na forma do molde ocorreu no final do Antigo Império e os arqueólogos estão agora buscando a causa: esta foi uma decisão econômica ou talvez foi uma nova técnica introduzida por um novo grupo de artesãos? Um exame de como os bens dos enterramentos estavam distribuídos em sepulturas de grandes cemitérios usando como critério a localização, o tamanho da sepultura, o sexo do habitante da tumba e a sua 8 associação com outros elementos funerários, está lançando luz sobre aspectos da sociedade egípcia ligados à hierarquia, à estratificação e ao gênero. Apesar destes avanços, não podemos recusar o fato de que uma escavação arqueológica é um processo destrutivo. Uma vez escavado um sítio nunca poderá voltar ao que era e os arqueólogos percebem agora que as escavações devem ser conduzidas sabiamente e com cuidado ou então que os sítios não deveriam ser inteiramente escavados. Como os egiptólogos modernos decidem qual sítio escavar e como ele (ou, cada vez mais, ela) faria isso? Até algumas décadas atrás um sítio era escolhido porque se pensava que ele continha belos objetos. Isto significava que ele era provavelmente um cemitério, cujas tumbas poderiam conter mobiliário funerário e paredes decoradas. Com menos frequência os escavadores escolhiam escavar templos, porque eles prometiam ter estatuária e textos. Menos ainda a serem escavadas eram as áreas de habitação, especialmente aqueles situadas na planície que era inundada pelo Nilo porque elas eram difíceis de escavar e tinham pouca coisa a revelar além de ossos de animais, tijolos e cacos. Hoje em dia, são os sítios mais escolhidos porque eles nos dão informações sobre um assunto específico, frequentemente social ou cultural. Por exemplo, arqueólogos têm se perguntado o que pode este sítio nos revelar sobre a estratificação social, o papel das mulheres, a estrutura da força de trabalho, dieta, saúde e mortalidade, comércio, urbanismo, mudança tecnológica, a centralização do governo ou a vida dos soldados egípcios na Núbia? Egiptólogos não escavam mais sítios na sua totalidade porque eles poderiam privar as próximas gerações de estudá-los de forma mais adequada – já eles estarão equipados com diferentes e melhores tipos de técnica de escavação, além de buscarem respostas para diferentes questões. Estamos mais preocupados em escavar somente uma parcela significativa do sítio, uma parte do sítio que se espera ser a mais promissora para responder as nossas questões. O sítio que escolheríamos não seria no Alto Egito, ao menos que este faça parte de um projeto já estabelecido ou que esteja sendo ameaçado. Isto porque o Conselho Supremo de Antiguidades recentemente proibiu novas escavações no Alto Egito, argumentando que as ameaças aos sítios arqueológicos no Delta do Nilo tinham se tornado tão grandes que escavações nesta área precisavam ser encorajadas. Os sítios do Delta foram amplamente ignorados pelos primeiros escavadores, a quem faltava o treinamento necessário para escavar na área da planícieinundada pelo Nilo e que tinham pouco interesse nos tipos de artefatos que são encontrados aí. Atualmente, os arqueólogos provavelmente escolhem um dos sítios negligenciados do Delta, escolhendo uma aldeia construída com tijolos simples ao invés de um cemitério ou complexo templário. Os trabalhadores escavam lentamente para expor as paredes de tijolos encharcados enterradas na lama molhada. Membros da equipe se debruçam sobre cacos não decorados, ossos de animais e vestígios de plantas. Ao invés de empregar centenas de trabalhadores sem treinamento e supervisão, com a finalidade de levar para longe centenas de metros cúbicos de areia, os especialistas empregariam trabalhadores experientes, que talvez gastassem várias semanas raspando um único centímetro de lodo em uma quadrado/quadrícula de apenas 10m de largura. Detalhados mapas mostram a localização precisa de todo objeto e todos os traços são desenhados, centenas de fotografias são tomadas, desenhos preparados e extensivas notas são feitas. Estatísticas são coletadas para mostrar como os diferentes atributos da cerâmica mudaram no sítio. Fragmentos de um cesto de junco trançado, uma lasca de madeira e um pedaço de pão encontrado ao lado de um 9 antigo forno são todos preparados para análise nos laboratórios montados no sítio. Os arqueólogos da atualidade trabalham mais como investigadores de crimes e nenhuma evidência é considerada inconsequente. Entretanto, deve-se admitir que muitas técnicas adotadas pelos arqueólogos que trabalham em todo lugar do mundo chegaram lentamente à pesquisa egiptológica. Algumas delas, como as técnicas de datação físico-químicas são também imprecisas, dando datas que giram ao redor de um século ou mesmo milênios enquanto os egiptólogos querem datas mais precisas de uma década ou menos. Outras técnicas são muito caras. Mas muitas não são familiares aos egiptólogos. A arqueologia egípcia está ainda isolada da especialização da academia e poucos daqueles que escavam os sítios arqueológicos tomaram parte em escavações em outros países ou estudaram métodos arqueológicos ou interpretaram a teoria usada em outros lugares do mundo. Entretanto, gradualmente, novas técnicas estão sendo utilizadas na Egiptologia e elas trarão, sem dúvida, resultados positivos – isto se os sítios arqueológicos egípcios sobreviverem o bastante para se beneficiarem delas. A maior parte dos sítios está seriamente ameaçada hoje pela poluição, pelo aumento do lençol freático, pelas incursões das terras de agricultura e os seus desenvolvimentos modernos e pelo vandalismo. Somente nas duas ou três décadas passadas grande ênfase tem sido dada – finalmente e tardiamente - à conservação e proteção dos sítios. De fato, o Conselho Supremo de Antiguidades agora requer que toda expedição inclua um componente significativo de conservação e proteção do sítio. O Conselho Supremo de Antiguidades emite um contrato pelo qual a equipe de arqueólogos fica sujeita também a outras regras. A equipe deve ser constituída por reconhecidos experts em seus vários campos do conhecimento, o diretor deve ser um egiptólogo profissional e o projeto deve ser patrocinado por uma instituição acadêmica ou museu reconhecidos. Um programa de conservação deve fazer parte do trabalho e o projeto deve estar de acordo em deixar o sítio salvo e em boas condições no final do trabalho. Os objetivos do projeto são supervisionados por um comitê permanente do Conselho Supremo de Antiguidades, composto por um grupo de cerca de quinze estudiosos egípcios. E, se eles aprovam o projeto, é feito um contrato de um ano, chamado de concessão, podendo ser renovado apenas se o projeto tiver se desenvolvido de forma adequada e se os resultados tiverem sido publicados regularmente. No campo, o projeto será assinado por um supervisor do Conselho Supremo de Antiguidades, que é o responsável por supervisionar o trabalho e assegurar que todas as regras do governo sejam cumpridas. O Conselho Supremo de Antiguidades nem providencia nenhum dos fundos para este trabalho – esta parte é de responsabilidade de quem fez o projeto – nem se encarrega da documentação (licença autorizando a escavação) necessária. Somado a isto, o Conselho Supremo de Antiguidades também encoraja as expedições estrangeiras a incluir estudantes de egiptologia egípcios na equipe, assim como incluir o treinamento deles para o trabalho. Os relatórios finais deverão ser agora publicados em árabe e também na língua escolhida para o projeto, assim os membros júniores do Conselho Supremo de Antiguidades e os estudantes egípcios poderão manter-se informados a respeito do trabalho que está sendo feito. O governo egípcio tomou controle dos monumentos do país apenas em 1952, depois da revolução que depôs o rei Faruk e que expulsou as delegações inglesas e francesas que controlavam a burocracia egípcia. Antes disso, o Serviço de Antiguidades Egípcias (depois chamado de Organização das Antiguidades Egípcias e, posteriormente, com o nome atual de Conselho Supremo de Antiguidades) foi dirigido pelos franceses. Cursos de egiptologia eram raros nas escolas egípcias, em parte porque os europeus temiam o crescimento do nacionalismo e em parte porque eles queriam permanecer com o controle das antiguidades do 10 país. Não havia nenhum programa de egiptologia completo nas universidades nacionais egípcias até depois da Segunda Guerra Mundial. Hoje, muitos estudantes graduados dos departamentos de Egiptologia do país devem trabalhar como guias de turismo porque o seu salario é significativamente mais alto do que o de um inspetor de antiguidades. Somente nos últimos anos cursos sobre métodos arqueológicos foram oferecidos aos estudantes de egiptologia egípcios e várias missões estrangeiras têm recentemente estabelecido escolas voltadas para o trabalho de campo em arqueologia. Mas ainda há poucas equipes formadas por egípcios. Ao invés disso, o que tem acontecido já por dois séculos é que quase todo o trabalho arqueológico é feito pelas missões estrangeiras. Em média, talvez 90 equipes estrangeiras escavem no Egito a cada ano. Eles trabalham no Delta e no Vale do Nilo, nos desertos oriental e ocidental, nos oásis, no Sinai, ao longo da costa mediterrânica e do Mar Vermelho e nos sítios subaquáticos. As missões vêm de quase todos os países europeus, dos Estados Unidos, Canadá, Austrália e Japão. Alguns países têm institutos de arqueologia bem estabelecidos que patrocinam vários projetos todos os anos. Entre os principais está o Instituto Francês12 (fundado em 1880), o Egypt Exploration Society 13(1882), o Instituto Arqueológico Alemão14 (1907) e o American Research Center in Egypt15 (1948). Outros institutos representam a Suíça, a Alemanha, a Áustria, a Itália, a Polônia e o Japão. A Universidade Americana do Cairo16, que oferece uma formação em Egiptologia, também realiza vários projetos anualmente. A maior parte das escavações arqueológicas feitas hoje no Egito produzem relatórios técnicos de alta qualidade. As narrativas das escavações do século XIX, como aquelas de Giovanni Belzoni, que trabalhou no Vale dos Reis, eram lidas mais como um relato de aventura do que como um estudo científico. Nos relatórios de hoje faltam as grandes generalizações e histórias amplas que caracterizaram os trabalhos mais antigos, em parte porque os dados coletados pelos projetosmodernos estão além do escopo de uma só pessoa para que seja sintetizado. Como todo ramo do aprendizado, também a Egiptologia veio a se tornar uma coleção de microespecialidades e os estudiosos que podem reivindicar um conhecimento de longo alcance e profundo destes campos são raros. De qualquer modo, este é um desenvolvimento promissor, pois ele traz detalhes até então não revelados para o nosso conhecimento do antigo Egito. Mas ele também deixou a maior parte dos egiptólogos relutante e mesmo inábel para escrever sínteses que eram populares no século passado. No entanto, para aqueles que revelam os detalhes do Egito Antigo, mas querem conhecer não apenas o que aconteceu mas também o como e o porquê, esta é verdadeiramente uma época excitante. Novas técnicas de escavação e de análise têm trazido à luz aspectos da cultura egípcia que eram, até então, desconhecidos. A ênfase recente nos sítios de habitação, ao invés dos cemitérios, transformou nossa visão da sociedade egípcia, fazendo com que a vida dos camponeses iletrados fosse quase tão acessível quanto àquela dos nobres. Os sítios pré-históricos e do Dinástico Inicial estão recebendo atenção redobrada e os seus estudos têm posto em xeque a noção do século XIX de que as mudanças na cultura egípcia foram resultantes de mudanças biológicas da população. Com estas novas abordagens e instrumentos de interpretação, o estudo do Egito Antigo está no limiar de uma nova era. E 12 IFAO – Instituto Francês de Arqueologia Oriental. Site: http://www.ifao.egnet.net 13 Site: http://www.ees.ac.uk 14 Site: https://www.dainst.org/standort/-/organization-display/ZI9STUj61zKB/kairo 15 Site: http://www.arce.org 16 The American University in Cairo. Site: http://www.aucegypt.edu 11 existem ainda milhares de sítios arqueológicos esperando para serem estudados, se – e este é o desafio – eles não forem destruídos antes.
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