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ARQUEOLOGIA_E_EGIPTOLOGIA (1)

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1	
WEEKS,	Kent.	Archaeology	and	Egyptology.	In:	WILKINSON,	Richard	(Ed.).	Egyptology	Today.	
Cambridge:	Cambridge	University	Press,	2008.	p.	7-22.	
	
ARQUEOLOGIA	E	EGIPTOLOGIA	
KENT	WEEKS1	
Tradução	livre	e	notas	de	rodapé:	Marcia	Severina	Vasques	
	
	 Por	volta	de	1250	a.C.,	o	sumo-sacerdote	de	Ptah	em	Mênfis,	Khaemwese,	quarto	filho	
de	Ramessés	 II,	 limpou	e	reparou	várias	pirâmides	e	templos	em	Giza	e	Saqqara.	Mesmo	em	
sua	época,	elas	já	estavam	em	ruínas	há	milhares	de	anos.	Ele	as	restaurou	dizendo	que	foi	por	
causa	de	elas	serem	“de	uma	antiguidade	muito	amada”	e	que,	por	isso,	ele	não	poderia	deixar	
que	elas	caíssem.	Estudiosos	modernos	têm	chamado	Khaemwese	de		“o	primeiro	arqueólogo	
do	 mundo”.	 Certamente,	 ele	 foi	 um	 defensor	 entusiasta	 da	 preservação	 arqueológica:	 ele	
acreditava	 que,	 ao	 proteger	 as	 construções	 religiosas,	 ele	 honrava	 aos	 ancestrais	 egípcios	 e	
assegurava	 que	 as	 práticas	 religiosas	 contemporâneas	 permaneceriam	 fieis	 às	 antigas	 e,	
portanto,	continuariam	puras	em	relação	às	formas	de	adoração.	
	 Infelizmente,	proteger	antigos	monumentos	 raramente	 tem	sido	o	objetivo	da	maior	
parte	das	pessoas:	da	antiguidade	até	agora	a	maioria	viu	neles	construções	que	deveriam	ser	
ignoradas	ou	saqueadas.	Se	um	monumento	era	acessível,	ele	provavelmente	servia	como	um	
canteiro	para	a	aldeia,	os	seus	blocos	de	pedra	eram	usados	para	fazer	novas	construções	e	as	
paredes	de	tijolos	foram	derrubadas	para	serem	utilizadas	como	fertilizante.	As	tumbas	foram	
utilizadas	 como	 lugar	de	estocagem	ou	armazéns.	Mesmo	deteriorados,	 antigos	 sítios	 foram	
considerados	como	lugares	que	continham	tesouros.	Desde	a	Antiguidade	as	pessoas	sabiam	
que	as	tumbas	e	os	templos	continham	riquezas,	incluindo	ervas	e	especiarias,	objetos	de	arte,	
madeiras	 e	 vestimentas	 caras,	 papiros	 e,	 o	melhor	 de	 todos,	 ouro.	 Histórias	 a	 respeito	 das	
grandes	riquezas	tinham	se	tornado	tão	comuns	que	no	século	VIII	manuais	descreviam	como	
os	 homens	 tinham	 se	 tornado	 ricos	 com	 o	 saque	 de	 sítios	 e	mesmo	 contavam	 aos	 leitores	
quais	sítios	escavar.	
	 E	escavações	 foram	 feitas,	mesmo	nos	 cantos	mais	 remotos	do	país.	 Por	25	 séculos,	
até	o	século	XX,	os	monumentos	do	antigo	Egito	foram	saqueados,	seus	tesouros	derretidos,		
moídos,	levados	para	fora	e	vendidos.	Poucas	pessoas	mostravam	algum	interesse	em	registrar	
ou	proteger	as	antiguidades.	
	 Um	dos	poucos	que	parecia	 se	preocupar	 foi	Al-Idrisi,	um	estudioso	árabe	do	 século	
XIII,	que	publicou	detalhadas	descrições	dos	monumentos	de	Giza.	Ele	mediu		as	suas	pedras	(e	
noticiou	que	 algumas	 foram	 reutilizadas	 em	estruturas	posteriores),	 descreveu	a	 camada	de	
argila	(clay	plaster)	sobre	as	suas	paredes	(ele	identificou	a	sua	composição	e	fonte)	e	analisou	
os	dejetos	que	enterravam	as	suas	paredes	(ele	foi	um	dos	primeiros	a	traçar	uma	estratigrafia	
do	 antigo	 sítio).	 Al-Idrisi	 também	 criou	 teorias	 sobre	 as	 funções	 dos	monumentos.	 	 Isto	 foi	
muitos	séculos	antes	de	os	europeus	publicarem	os	seus	estudos.	
																																																													
1	Atualmente,	professor	da	Universidade	Americana	do	Cairo.	Para	mais	informações:	
http://www.thebanmappingproject.com/about/staff_1.html	
	
	 2	
	 Há	 várias	 razões	para	o	 atraso	dos	egiptólogos	europeus.	 Em	primeiro	 lugar,	 poucos	
europeus	liam	árabe	e	fontes	como	Al-Idrisi	eram	desconhecidas	na	Europa.	Em	segundo	lugar,	
antes	da	decifração	dos	hieróglifos	em	1822	a	única	informação	disponível	sobre	o	Egito	vinha	
dos	 comentários	 bíblicos	 e	 dos	 autores	 clássicos.	 Visitantes	 clássicos	 do	 Egito	 incluindo	
Heródoto,	Diodoro	da	Sicília,	Horapollo	e	Plínio,	o	Velho,	descreveram	algumas	das	coisas	que	
eles	viram	em	suas	visitas	a	Alexandria	e,	ocasionalmente,	ao	Vale	do	Nilo,	subindo	o	rio	além	
de	Giza	 e	Mênfis.	 No	 entanto,	 as	 suas	 descrições	 foram	 superficiais	 e	 fantasiosas.	 Viajantes	
pós-clássicos	 estavam	 interessados	 em	 ver	 como	 o	 Egito	 lançava	 luz	 sobre	 a	 Bíblia	 e	 não	
estavam	 interessados	 no	 Egito	 mesmo,	 o	 que	 produziu	 uma	 visão	 distorcida	 do	 Egito.	 Em	
terceiro	 lugar,	 até	o	 século	XVII,	 poucos	europeus	 visitaram	o	Egito.	Os	únicos	monumentos	
que	eles	 viram	em	primeira	mão	 foram	os	obeliscos	que	 tinham	sido	 levados	para	a	Europa	
pelos	romanos.	
	 Mas,	apesar	das	limitações,	histórias	sobre	o	Egito	feitas	por	viajantes	europeus	foram	
se	 tornando	 imensamente	 populares	 e	 escritores	 que	 nunca	 tinham	 ido	 ao		
Egito	simplesmente	inventavam	histórias	que	poderiam	alimentar	a	venda	de	seus	livros.	Eles	
diziam	ter	visto	seres	de	uma	cabeça	e	uma	perna	no	deserto	além	das	pirâmides	e	diziam	que	
os	 egípcios	 eram	 gênios	 semidivinos,	 intermediários	 entre	 homens	 e	 deuses.	 Eles	
proclamavam	 que	 a	 cultura	 egípcia	 era	mais	 avançada	 do	 que	 qualquer	 uma	 que	 a	 Europa	
tinha	 produzido	 e	 que	 a	 sua	 ciência,	 engenharia,	 arte	 e	 arquitetura	 alcançava	 níveis	 que	 os	
simples	mortais	nunca	alcançariam.	
	 O	 meio	 natural	 egípcio	 não	 era	 menos	 maravilhoso	 do	 que	 o	 cultural.	 Escritores	
relatam	que	rãs	eram	geradas	espontaneamente	nos	 lodos	negros	do	Vale	do	Nilo	e	contam	
que	 as	 mulheres	 ficavam	 grávidas	 simplesmente	 por	 beber	 da	 água	 do	 Nilo.	 O	 Egito,	 eles	
acreditavam,	era	o	Jardim	do	Éden	–	literalmente	o	mais	perfeito	lugar	da	terra.	
	 Acuradas	ou	não,	estas	histórias	ganharam	grande	popularidade	na	Europa		e	o	apetite	
as	pessoas	para	as	coisas	do	Egito	foi	além	disso	aguçado	pelo	crescimento	das	coleções	dos	
museus	no	século	XVIII.	Milhares	não	 foram	capazes	de	ver	os	objetos	egípcios	e	o	que	eles	
viram	–	múmias,	estátuas	com	corpos	humanos	e	cabeças	de	animais,	hieróglifos	indecifráveis	
–	pareceu	mesmo	confirmar	ideias	de	selvageria.	A	egiptologia	não	se	tornaria	uma	disciplina	
acadêmica	até	o	 século	XIX,	mas	nos	 anos	de	1600	e	1700	o	antigo	Egito	ocupava	um	 lugar	
proeminente	 na	 imaginação	 europeia	 –	 romantizado,	 adorado,	 imitado	 e	 exagerado.	 Estas	
fantasias	 primeiras	 sobre	 o	 Egito	 tiveram	 consequências	 posteriores	 para	 o	 seu	 estudo.	 Por	
exemplo,	 muitos	 historiadores	 respeitados	 argumentaram	 que,	 embora	 todas	 as	 outras	
civilizações		antigas	tenham	se	desenvolvido	por	caminhos	similares,	o	Egito	era	uma	exceção	à	
regra	e	deveria	ser	excluído	dos	estudos	de	“cruzamentos	culturais”2.	(Arnold	Toynbee3	falou	a	
respeito	no	seu	famoso	Um	Estudo	da	História).	Estas	 ideias	atrasaram	a	nossa	compreensão	
de	como	egípcia	surgiu	e	prolongou	a	ideia	que	ela	tinha	aparecida	pronta	no	Vale	do	Nilo	com	
nenhum	antecedente	indígena.	
	 A	 base	 para	 tal	 visão	 começou	 a	 mudar	 depois	 da	 decifração	 dos	 hieróglifos	 por	
Champollion	em	1822,	mas	apenas	lentamente.	Estudiosos	europeus	não	clamavam	por	cópias	
acuradas	dos	textos	em	hieróglifos	e	epigráficos	e	por	expedições	devidamente	estabelecidas	
na	 Europa	 para	 registrar	 os	 monumentos	 egípcios.	 Grandes	 projetos,	 como	 aqueles	 dos	
franceses	 (que	 resultou	 na	 Description	 de	 l’Égypte),	 de	 Carl	 Lepsius	 (The	 Denkmaler	 aus	
Aegypten)	 e	 de	 John	 Gardner	 Wilkinson	 (Manners	 and	 Customs	 of	 the	 Ancient	 Egyptians)	
produziram	cópias	de	textos	e	desenhos	de	monumentos	e	ofereceram	 interpretações	sobre	
																																																													
2	Cross-cultural	Studies	–	em	antropologia,	são	os	estudos	que	comparam	culturas	diferentes.	(N.T.).	
3	Historiador	britânico	(1889-1975).	
	 3	
as	 quais	 a	 Egiptologia	 do	 século	 XIX	 foi	 fundada.	 O	 quadro	 que	 a	 Europa	 fazia	 do	 Egito	
começou	a	se	transformar.	Descrições	mais	precisas	começaram	a	substituir	as	fantasiosas	e	a	
cultura	egípcia	foi	considerada	como	tendo	uma	origem	humana	e	não	mais	semidivina.	[...].	
	 Estes	 primeiros	 trabalhos	 epigráficos	 são	 ainda	 de	 grande	 valor	 porque	 muitos	
monumentos	 que	 eles	 registraram	 desapareceram.	 Os	 exploradores,	 algumasvezes,	
transportaram	 tumbas	 e	 paredes	 de	 templos	 inteiras.	 Os	 camponeses	 egípcios,	 além	 disso,	
saquearam	sítios	à	procura	de	objetos	para	vender	ao	número	crescente	de	turistas.	Técnicas	
de	escavação	pobres	também	destruíram	sítios.	A	epigrafia	egípcia	e	a	história	da	arquitetura	
foram	aperfeiçoadas	em	seus	métodos	no	século	XIX,	mas	a	arqueologia	egípcia	não.	Mesmo	a	
mais	incompetente	das	escavações	resultaria	em	tesouros	e	os	escavadores	ainda	viam	pouco	
a	ganhar	em	adotar	métodos	mais	meticulosos.	Eles	acreditavam	que	os	sítios	egípcios	eram	
cornucópias4	arqueológicas:	haveria	sempre	mais	a	encontrar.		
	 Por	exemplo,	em	1830,	Howard	Vyse	estava	usando	pólvora	para	 localizar	a	entrada	
das	pirâmides	de	Giza	e	fazer	buracos	no	corpo	da	Esfinge	para	ver	se	ela	era	oca.	Escavadores	
alugariam	 centenas	 de	 trabalhadores	 para	 tirar	 a	 areia	 dos	monumentos.	Os	 sítios	 que	 eles	
escavaram	 foram	 geralmente	 templos	 de	 pedra	 ou	 tumbas,	 monumentos	 conhecidos	 por	
terem	 paredes	 decoradas	 e	 com	 inscrições,	 além	 de	 artefatos	 de	 fina	 qualidade.	 Sítios	 no	
deserto	 foram	 preferidos	 porque	 eles	 eram	 mais	 fáceis	 de	 escavar,	 pois	 estavam	 menos	
sujeitos	a	serem	inundados	e	eram	melhor	preservados	do	que	os	sítios	que	ficavam	perto	das	
áreas	 úmidas	 de	 cultivo.	 Um	 escavador	 poderia	 apressadamente	 mapear	 alguns	 muros	 de	
pedra	 durante	 o	 seu	 trabalho,	 mas	 as	 paredes	 feitas	 de	 tijolos	 eram	 derrubadas.	 Objetos	
quebrados	 ou	 não	 decorados	 eram	 descartados	 e	 somente	 objetos	 que	 eram	 julgados	
atrativos	o	bastante	para	um	museu	eram	salvos.	Nenhum	registro	foi	feito	da	onde	estavam	
estes	 objetos	 ou	 dos	 elementos	 que	 poderiam	 a	 ele	 estar	 relacionados.	 Escavadores	
publicaram	uma	informação	superficial	acerca	de	seu	trabalho	ou	não	publicaram	nada.	
	 Houve	poucas	expedições.	Nos	anos	de	1850	o	escocês	Alexander	Henry	Rhind	escavou	
o	Vale	dos	Reis	e	Giza	e	meticulosamente	registrou	o	que	ele	encontrou,	descrevendo	mesmo	
fragmentos	 que	 seus	 colegas	 poderiam	 simplesmente	 ter	 jogado	 fora.	 Rhind,	 que	 tinha	
escavado	 sítios	 antigos	 na	 Escócia	 antes	 de	 ir	 para	 o	 Egito,	 foi	 um	dos	 primeiros	 a	 datar	 os	
depósitos	 estratigráficos	 em	 potencial.	 Ele	 foi	 o	 primeiro	 a	 reconhecer	 a	 existência	 de	 uma	
cultura	pré-dinástica	no	Egito,	em	várias	sepulturas	que	ele	limpou	perto	de	Giza.	Ele	pediu	a	
seus	colegas	que	deixassem	as	antigas	construções	intactas	e	apenas	fez	cópias	das	inscrições.	
Ele	também	foi	um	dos	primeiros	a	acreditar	que	a	fotografia	poderia	ser	usada	para	registrar	
monumentos,	uma	prática	que	Maxime	du	Camp5	tinha	começado	em	1849.	Finalmente,	Rhind	
insistiu	 que	 os	 escavadores	 deveriam	 publicar	 completamente	 o	 que	 eles	 descobriram.	 Ele	
apela	 para	 ouvidos	 surdos.	 Apesar	 destes	 esforços,	 foi	 	 outro	 homem	 (cujas	 técnicas	 de	
escavação	 muito	 ruins	 destruíram	 muitas	 evidências	 que	 ele	 descobriu)	 o	 responsável	 por	
mudanças	que	levaram	ao	fim	das	práticas	destrutivas	em	arqueologia	contra	as	quais	Rhind	já	
havia	 reclamado.	Auguste	Mariette,	um	 jovem	assistente	do	Museu	do	Louvre,	em	Paris,	 foi	
enviado	ao	Egito	para	comprar	manuscritos	coptas,	mas,	ao	invés	disso,	usou	o	dinheiro	para	
escavar	em	Saqqara,	descobrindo	o	grande	labirinto,	o	local	sagrado	de	enterramento	do	touro	
Ápis,	 chamado	de	Serapeum.	Sua	descoberta,	 largamente	publicizada,	 foi	 seguida	por	outras	
em	Tebas,	Abidos,	Edfu	e	dezenas	de	outros	sítios.	Por	volta	de	1858,	a	reputação	de	Mariette	
																																																													
4	Na	cultura	greco-romana	a	cornucópia	era	um	vaso	em	forma	de	chifre	(corno,	da	onde	deriva	o	nome	
do	vaso),	no	qual	eram	colocadas	flores	e	frutas,	símbolos	da	abundância	e	da	fertilidade.	(N.T.).	
5	Escritor	e	fotografo	francês.	(N.T.).	
	 4	
como	egiptólogo	era	inigualável	e	o	governante	do	Egito,	Ismail	Paxá6,	o	nomeou	Conservador	
dos	Monumentos	 Egípcios,	 chefe	 do	Conselho	 Supremo	de	Antiguidades.	Uma	das	 primeiras	
atitudes	de	Mariette	foi	estabelecer	o	Museu	Egípcio	no	Cairo.		
	 Com	 a	 sua	 morte,	 em	 1881,	 Mariette	 foi	 sucedido	 como	 Conservador	 por	 outro	
francês,	Gaston	Maspero,	professor	de	Egiptologia	que	 tinha	chegado	ao	Egito	em	1880.	Ele	
serviu	 até	 1886	 e	 novamente	 em	 1889	 até	 1914.	 Maspero	 fez	 vários	 importantes	 achados	
arqueológicos,	entre	os	quais	estava	o	esconderijo	das	múmias	reais	em	Deir	el-Bahari	e	várias	
construções	 maiores	 em	 Karnak.	 Mas	 hoje	 a	 sua	 reputação	 permanece	 principalmente	 em	
relação	 a	 três	 outras	 realizações.	 Ele	 criou	 o	 grande	 Catálogo	 Geral	 do	Museu	 Egípcio,	 um	
catálogo	que	já	tem	mais	de	80	volumes	e	ainda	está	em	progresso	e	ele	criou	um	periódico,	
os	Annales	du	Service	des	Antiquités	de	 l’Égypte,	o	qual	é	ainda	o	registro	oficial	do	trabalho	
arqueológico	 no	 Egito.	 Em	 terceiro	 lugar,	Maspero	 e	Mariette	 juntos	 traçaram	 os	 primeiros	
degraus	 efetivos	 para	 parar	 os	 saques	 e	 para	 proteger	 os	 sítios	 arqueológicos	 no	 Egito,	
estabelecendo	novas	regras	para	as	escavações	e	para	reprimir	os	roubos.	
	 Foi	também	em	1880	que	um	inglês	foi	encarregado	de	fazer	pesquisas	arqueológicas	
no	 Egito.	 William	 Flinders	 Petrie	 veio	 ao	 Egito	 ainda	 jovem	 com	 o	 objetivo	 de	 fazer	 um	
levantamento	 na	 Grande	 Pirâmide	 (de	 Quéops)	 e	 provar	 uma	 teoria	 que	 seu	 pai	 havia	
sustentado	a	respeito	das	medidas	da	pirâmide.	Ao	invés	disso,	o	seu	trabalho	preciso	provou	
que	 a	 teoria	 estava	 errada	e	o	meticuloso	 relatório	que	ele	publicou	 impressionou	bastante	
Amelia	 Edwards,	 fundadora	 da	 recentemente	 estabelecida	 Egypt	 Exploration	 Fund7,	 que	 ela	
ofereceu	sustentar	o	seu	trabalho.		
	 Petrie	era	autodidata	e	ele	teve	ideias	muito	precisas	sobre	como	melhor	conduzir	as	
escavações	 arqueológicas	 e	 analisar	 os	 seus	 dados.	 Comparada	 as	 outras	 escavações	 de	 sua	
época,	o	seu	trabalho	era	tão	detalhista	que	seus	colegas	o	rejeitaram	pensando	que	era	uma	
perda	de	 tempo	e	dinheiro.	Diferentemente	de	 seus	 colegas,	 que	ainda	 salvavam	apenas	os	
achados	considerados	de	qualidade	para	o	acervo	dos	museus	e	raramente	publicavam	os	seus	
dados,	Petrie	argumentava	que	mesmo	os	objetos	quebrados	e	que	não	possuíam	 inscrições	
poderiam	 ser	 preservados	 para	 análise,	 o	 contexto	 no	 qual	 os	 objetos	 foram	 encontrados	
deveriam	ser	registrados	e	os	sítios	deveriam	ser	mapeados	e	fotografados.	Ele	treinou	os	seus	
trabalhadores,	 desenvolvendo	 uma	 equipe	 permanente	 que	 ele	 empregou	 por	 décadas,	
compensando	boas	técnicas	de	escavação	com	dinheiro	e	louvor.	Pelas	seis	décadas	seguintes	
Petrie	escavou	e	publicou	importantes	descobertas	arqueológicas	mais	do	que	qualquer	outro,	
antes	 ou	 depois	 dele.	 Ele	 trabalhou	 em	 grandes	 sítios	 como	Giza	 e	 Tebas,	mas	 ele	 também	
escavou	 cemitérios	 menores	 e	 casebres	 de	 tijolos	 –	 os	 tipos	 de	 sítios	 que	 os	 outros	
escavadores	tinham	ignorado	porque	eles	eram	difíceis	de	escavar	e	porque	os	consideravam	
sem	importância.		
	 O	trabalho	de	Petrie	foi	revolucionário.	Embora	poucos	de	seus	colegas	adotassem	os	
seus	 métodos,	 os	 seus	 estudantes	 o	 fizeram	 e	 o	 futuro	 da	 Egiptologia	 se	 beneficiou	 disto.	
Petrie	 mostrou	 que	 os	 dados	 arqueológicos	 poderiam	 ser	 tão	 informativos	 quanto	 os	
hieróglifos.	 Ele	 mostrou	 o	 valor	 do	 contexto	 dos	 achados	 arqueológicos,	 o	 que	 mais	 tarde	
levaria	ao	uso	de	grades	e	quadrados	(quadrículas)	para	dividir	um	sítio	em	bem	controladas	
unidades	 de	 escavação.	 Ele	 estava	 consciente	 da	 importância	 da	 estratigrafia	 como	 um	
instrumento	cronológico,	por	rastrear	metodicamente	os	detalhes	da	arquitetura	de	vestígios	
																																																													
6	Ismail	Paxá	(1830-	1895)	foi	governador	e,	depois,	quediva	(vice-rei)	do	Egito	e	da	Núbia	quando	o	país	
estava	sob	domínio	do	Império	Otomano.	Foi	depostopelos	britânicos	em	1879.	
7	Hoje	chamado	de	Egypt	Exploration	Society.	Site:	http://www.ees.ac.uk	
	
	 5	
não	tão	bem	preservados;	ele	explicou	como	a	arquitetura	das	tumbas	reais	evoluiu	do	Egito	
mais	antigo.	Ele	desenvolveu	um	brilhante	sistema	de	traçar	a	cronologia	das	tumbas	e	de	seus	
conteúdos	 mapeando	 os	 atributos	 que	 mudavam	 da	 cerâmica	 (a	 seriação	 e	 sequência	 de	
datação).	 É	 um	 tributo	 a	 Petrie	 que	mesmo	 agora,	 um	 século	 após	 a	 primeira	 sequência	 de	
datação	ter	surgido,	estar	sendo	ainda	seguida.	Por	quatro	vezes	no	século	passado	(em	1939	
por	Petrie	mesmo,	em	1960	por	Walter	 Federn,	 em	1957	por	Werner	Kaiser	e	em	1982	por	
Barry	 Kemp),	 o	 processo	 foi	 reexaminado,	 mas	 somente	 pequenas	 revisões	 foram	 feitas.	 O	
trabalho	de	Petrie	realmente	mudou	a	arqueologia	não	somente	no	Egito	mas	em	toda	a	Ásia	
Ocidental	e	depois	de	sua	morte,	em	1942,	ele	veio	a	ser	chamado,	com	apenas	um	pouco	de	
exagero,	de	“Pai	da	Arqueologia	Moderna”.	
	 Um	 egiptólogo	 em	 particular	 se	 destacou	 como	 o	 melhor	 sucessor	 de	 Petrie	 e	 ele	
também	 impulsionou	 a	 arqueologia	 para	 ser	 uma	 disciplina	 mais	 intelectualizada.	 George	
Andrew	 Reisner	 foi	 um	 egiptólogo	 altamente	 respeitado	 que	 escavou	 em	 muitos	 sítios	
egípcios.	Sustentado	pela	Phoebe	Hearst	e	pela	Universidade	da	Califórnia,	Reisner	trabalhou	
em	Deir	el-Ballas	e	Naga	ed-Deir,	sítios	do	Médio	Egito	com	extensos	cemitérios	pré-dinásticos	
e	em	vários	sítios	grandes	no	Egito	e	na	Núbia	sudanesa.	Mas	o	seu	principal	trabalho	foi	em	
Giza,	 onde	 ele	 foi	 diretor	 da	 Expedição	 da	 Universidade	 de	 Harvard	 e	 do	Museu	 de	 Boston	
(Museum	 of	 Fine	 Arts).	 O	 trabalho	 de	 Reisner	 em	 Giza	 foi	 brilhante	 –	 cuidadoso,	 preciso	 e	
meticuloso,	 com	 uma	 grande	 ênfase	 no	 registro.	 Como	 Petrie,	 ele	 treinou	 os	 seus	
trabalhadores	 egípcios	 bem:	 eles	 mantinham	 o	 seu	 próprio	 caderno	 de	 notas	 e	 faziam	
fotografias	 de	 como	 eles	 trabalhavam.	 Não	 é	 usual	 encontrar	 projetos	 que	 mantenham	
detalhados	 registros	 ou	 onde	 o	método	 arqueológico	 correto	 é	 ensinado	 aos	 trabalhadores	
locais.	
	 	O	 trabalho	 de	 Reisner	 resultou	 em	 várias	 publicações	 importantes	 como	Mycerinus	
(1931),	The	Development	of	the	Egyptian	Tomb	(1936),	A	History	of	the	Giza	Necropolis	(1942)	
e	 The	 Tomb	 of	 Hetep-heres	 (1955);	 todas	 resultado	 de	 um	 maciço	 trabalho	 da	 mais	 alta	
qualidade.	Se	Reisner	falhou	em	alguma	coisa,	foi	pela	decisão	de	retardar	a	publicação	de	seu	
extensivo	 trabalho	 sobre	 o	 Grande	 Cemitério	 Ocidental	 de	 Giza	 até	 que	 todas	 as	 tumbas	
estivessem	escavadas.	Ele	quis	esperar	e	preparar	um	volume	múltiplo,	ordenando	a	 síntese	
dos	 dados	 cronologicamente.	 Infelizmente,	 Reisner	 morreu	 antes	 de	 conseguir	 fazer	 este	
trabalho	e	as	 suas	 caixas	 com	as	 suas	anotações	e	as	de	 seus	 trabalhadores,	 somente	agora	
estão	sendo	reunidas	e	publicadas.	Mas	os	dados	estão	todos	lá,	nas	suas	anotações	e	nas	de	
seus	 trabalhadores	 e,	 sessenta	 anos	 após	 a	 sua	 morte,	 a	 Giza	 de	 Reisner	 está	 sendo	
reconstruída	em	um	trabalho	feito	por	numerosos	especialistas.	
	 Tanto	Petrie	quanto	Reisner	devotaram	considerável	tempo	para	estudar	e	registrar	a	
cerâmica	 em	 suas	 escavações,	 coisa	 que	 poucos	 arqueólogos	 conseguiram	 fazer.	 Sabemos	
agora	 como	 estes	 cacos	 podem	 revelar	 importantes	 informações	 sobre	 o	 comércio,	 a	
economia,	a	dieta,	a	agricultura,	a	economia,	a	tecnologia	e	a	cronologia.	Mas	um	século	atrás,	
vasos	 decorados	 eram	 destinados	 ao	 acervo	 de	 museus	 e	 nada	 mais	 e	 os	 cacos	 eram	
considerados	 dejetos.	 Arqueólogos	 chamam	 estes	 episódios	 como	 a	 fase	 do	 estudo	 da	
cerâmica	enquanto	“objeto	da	história	da	arte”,	a	primeira	das	três	fases	na	qual	o	estudo	se	
divide.	Estas	fases	têm	sido	observadas	mais	estreitamente	porque	elas	refletem	o	modo	como	
as	outras	especialidades	da	arqueologia	egípcia	se	desenvolveram.		
	 Em	egiptologia,	a	fase	da	História	da	Arte	durou	todo	o	século	XX.	As	escavações	foram	
lentas	 para	 se	mover	 desta	 fase	 para	 a	 segunda,	 chamada	 de	 tipológica,	 porque	 a	 tipologia	
envolvia	 examinar	 não	 apenas	 o	 vaso	 todo	mas	milhares,	mesmo	 	milhões	 de	 cacos	 de	 um	
único	sítio	egípcio	e	então	arranjá-los	em	categorias	baseadas	em	seus	atributos	como	técnica	
de	 fabricação,	 forma	 e	 tratamento	 da	 superfície.	 Era	 cansativo,	 consumia	 tempo,	 mas	 o	
	 6	
esforço	valia:	por	exemplo,	a	técnica	de	seriação	idealizada	por	Petrie	tinha	um	resultado	e	o	
trabalho	de	Reisner	em	Kerma	(Núbia)	e	em	Giza	tinha	outro.	
	 A	 terceira	 fase,	 a	 contextual,	 a	 fase,	 as	 formas	 dos	 vasos,	 a	 decoração,	 a	 técnica	 de	
fabricação	e	outros	atributos	foram	considerados	úteis	para	traçar	as	rotas	de	comércio	e	as	
interconexões	 culturais	 e	 para	 identificar	 mudanças	 na	 tecnologia	 da	 cerâmica.	 Estudos	
contextuais	 também	 ajudaram	 a	 refinar	 as	 tipologias	 da	 cerâmica.	 A	 fase	 contextual	 é	
especialmente	 bem	 ilustrada	 pelo	 trabalho	 dado	 pela	 Campanha	 de	 Salvamento	 da	 Núbia	
realizada	nos	anos	de	1960,	quando	arqueólogos	treinados	em	antropologia	trabalharam	sobre	
sítios	 que	 não	 ofereciam	 nenhum	 registro	 decifrável	 e	 também	 em	 recentes	 estudos	 da	
cerâmica	egípcia	pré-dinástica.		
	 O	 estudo	 contextual	 da	 cerâmica	 egípcia	 hoje	 é	uma	especialidade	 complexa	que	 se	
tornou	uma	parte	modelo	do	todo	projeto	arqueológico.	As	equipes	de	escavação	incluem,	no	
mínimo,	uma	pessoa	especializada	em	análise	de	 cerâmica	e	 todo	 caco	encontrado	em	uma	
escavação	 hoje	 é	 limpo,	 catalogado	 e	 analisado.	 As	 conferências	 de	 egiptologia	 têm	
desenvolvido	modelos	para	descrever	as	fábricas,	as	louças,	a	argila	e	os	sedimentos	de	onde	
elas	 vieram.	 Estudos	 etnográficos	 têm	 ajudado	 a	 explicar	 a	 manufatura	 da	 cerâmica	 e	
numerosos	testes	químicos	e	físicos	tem	redefinido	nossos	dados	de	cerâmica.	
	 Posto	de	maneira	mais	simples,	os	estudos	sobre	cerâmica	egípcia	se	deslocaram	para	
o	 estudo	de	pequenas	unidades:	 de	um	connaisseur/conhecedor	de	 vasos	 inteiros	na	 fase	1	
para	a	 tipologia	dos	 cacos	na	 fase	2	e	para	a	análise	microscópica	da	argila,	da	 têmpera,	do	
tratamento	da	superfície,	temperatura	da	queima,	pigmentos	e	fabricação	na	terceira	fase.	O	
aumento	da	ênfase	sobre	as	partes	que	compõem	o	vaso	e	os	seus	atributos	é	verdadeiro	para	
aproximadamente	 todos	 os	 aspectos	 da	 arqueologia	 egípcia.	 A	 egiptologia	 não	 é	mais	 uma	
disciplina	povoada	apenas	de	teólogos,	filólogos	e	historiadores	que	falam	apenas	de	aspectos	
gerais	como	foi	no	século	passado.	Ao	invés	disso,	os	egiptólogos	e	as	suas	especialidades	se	
detêm	mais	 sobre	 as	minúcias	 arqueológicas	 –	 os	 ossos	 de	 animais,	 os	 vestígios	 de	 plantas,	
pólens,	 tijolos,	 instrumentos	 de	 pedra,	 fragmentos	 de	 cestaria	 –	 a	 fim	 de	 extrair	 a	 menor	
informação	 possível.	 Os	 dados	 daí	 resultantes	 podem	 ser	 valiosos.	 Há	 alguns	 anos	 atrás,	
botânicos	 identificaram	a	existência	de	espécies	 variadas	de	ervas	entre	os	grãos	e	as	 flores	
que	 antigos	 sacerdotes	 tinham	 colocado	 na	 tumba	 de	 Tutankhamun	 e	 a	 partir	 deles	 foi	
possível	reconstruir	as	práticas	de	plantio	do	Novo	Império.	
	 Hoje,	 a	 tarefa	 de	 um	 diretor	 de	 um	 projeto	 arqueológico	 –	 um	 trabalho	 que	 nunca	
acaba	-		é	sintetizar	os	maciços	dados	técnicos	que	a	sua	equipe	produziu	e	traduzi-los	em	um	
quadro	 significativo	 da	 vida	 do	 antigo	 Egito.	 A	 sua	 equipe	 deverá	 ser	 grande.	 Tomo,	 por	
exemplo,	 dois	 projetos	 arqueológicos	 que	 vêm	 se	 desenvolvendo	 no	 Egito	 desde	 a	 década	
passada.	 O	 projeto	 de	 mapeamento	 do	 platô	 de	 Giza	 (The	 Giza	 Plateau	 Mapping	 Project)8	
escava	 uma	 vila	 de	 trabalhadores	 do	 Antigo	 Império	 ao	 lado	 das	 pirâmides.	 O	 projeto	 de	
mapeamento	de	Tebas	(The	Theban	Mapping	Project9)	está	limpando	uma	tumba,	a	KV	510,	no	
Vale	dos	Reise	desenhando	os	planos	administrativos	de	toda	a	Margem	Ocidental	Tebana11.	
Nestes	 projetos	 foram	 empregados	 mais	 de	 trinta	 diferentes	 especialistas.	 Estes	 incluem	
topógrafos,	 arquitetos,	 cartógrafos,	 fotógrafos,	 conservadores,	 antropólogos	 forenses,	
																																																													
8	The	Giza	Plateau	Mapping	Project.	Site	do	Oriental	Institute	of	Chicago:	
https://oi.uchicago.edu/research/projects/giza-plateau-mapping-project-gpmp-0	
9	The	Theban	Mapping	Project.	Site:	http://www.thebanmappingproject.com	
10	KV	é	a	sigla	para	King	Valley	(Vale	dos	Reis),	forma	de	classificação	padrão	para	as	tumbas	reais.	
11	A	Margem	Ocidental	do	Nilo	era	aonde	ficavam	as	necrópoles.	O	Vale	dos	Reis	(e	outros	importantes	
sítios	arqueológicos)	fica	na	margem	ocidental	de	Tebas	(hoje	a	cidade	de	Lúxor).		
	 7	
técnicos	 de	 raio	 X,	 arqueobotânicos,	 zooarqueólogos,	 palinólogos	 (que	 estudam	 os	 pólens),	
geólogos,	minerólogos,	hidrólogos,	 artistas,	historiadores	de	arte,	 especialistas	em	cerâmica,	
experts	em	análise	de	solo,	experts	em	estratigrafia,	pilotos	de	balão	de	ar,	fotógrafos	aéreos,	
técnicos	 em	 imagens	 de	 satélites,	 engenheiros	 elétricos,	 de	 mineração	 e	 de	 estrutura,	
químicos,	 programadores	 de	 computador,	 desenhistas,	 designers	 gráficos,	
administradores/gestores	 de	 recursos	 culturais,	 estatísticos,	 filólogo,	 especialistas	 em	
epigrafia,	geofísicos,	experts	em	tecnologia	de	rochas	e	egiptólogos.		
	 O	 tipo	 de	 informação	 que	 um	 grupo	 eclético	 da	 equipe	 de	 arqueólogos	 pode	 ter	 é	
ilustrativo	 do	 recente	 trabalho	 feito	 em	 Giza.	 Pelo	 projeto	 sobre	 o	 platô	 de	 Giza	 estão	
ocorrendo	 escavações	 em	 uma	 vila	 que	 empregava	 cerca	 de	 8.000	 a	 10.000	 homens	 na	
construção	da	Grande	Pirâmide,	que	viveram	há	4.500	anos	atrás.	Uma	meticulosa	escavação	
tem	ido	tão	longe	a	ponto	de	termos	175.000	ossos	de	animais	e	fragmentos	destes.	Cerca	de	
10%	das	espécies	foram	identificadas.	Destas,	a	maior	parte	dos	ossos	é	de	carneiros	e	cabras	
domesticados	(75%),	gado	(15%)	e	porcos	(5%).	Os	ossos	são	principalmente	de	animais	jovens	
e	machos.	
	 O	que	podem	os	arqueólogos	aprender	com	estas	estatísticas?	Eles	podem	ver	como	
era	bem	planejado	o	sistema	que	tinha	como	objetivo	suprir	com	alimento	uma	grande	força	
de	trabalho	e	que	esta	comida	era	mais	comum	na	dieta	dos	trabalhadores	do	que	se	pensava	
inicialmente.	Eles	notaram	que	uma	grande	quantidade	de	animais	não	poderia	ter	sido	criada	
localmente,	mas	 sim	que	deveria	 ter	 vindo	de	 várias	 partes	 do	 Egito,	 o	 que	 significa	 que	os	
animais	poderiam	ter	sido	deslocados	 junto	com	o	rebanho	para	a	vila	em	Giza	onde	seriam	
mortos.	 Carneiros	 e	 cabras	 eram	 bem	 suscetíveis	 ao	 pastoreio	 e	 eram	 um	 suprimento	 de	
proteína	 para	 a	 população.	 Além	 disso,	 eles	 eram	 os	 animais	 domésticos	 mais	 comuns	
encontrados	lá.	O	gado	era	mais	caro,	mas	um	único	animal	poderia	alimentar	mais	pessoas	do	
que	um	carneiro	ou	uma	cabra.	A	sua	quantidade	no	sítio	era	reduzida.	Porcos	são	difíceis	de	
criar	 e	 aqueles	 abatidos	 em	Giza	 provavelmente	 vinham	das	 fazendas	 próximas.	 Então,	 eles	
são	poucos	em	número.	Animais	jovens	são	melhor	habilitados	para	fazer	longas	viagens	e	eles	
possuíam	uma	melhor	qualidade	de	carne	do	que	os	animais	velhos.	Enfim,	poderia	 ter	 sido	
economicamente	 melhor	 matar	 os	 machos	 ao	 invés	 das	 fêmeas	 porque	 estas	 poderiam	
continuar	a	dar	mais	crias.	
	 Os	 especialistas	 do	 projeto	 de	 Giza	 estão	 agora	 explorando	 os	 tipos	 de	 estruturas	
burocráticas	 e	 econômicas	 necessárias	 para	 administrar	 atividades	 complexas.	 Como	 os	
administradores	 supervisionavam	a	 criação	de	animais	 longe	de	Giza	e	 arranjavam	para	que	
eles	chegassem	em	quantidade	adequada?	Como	eles	organizavam	os	açougues	e	as	cozinhas	
para	matar	e	cozinhar	os	animais	e	preparar	a	refeição	de	milhares	de	pessoas	todos	os	dias	
em	vários	anos?	A	equipe	do	projeto	de	Giza	está	estudando	as	padarias	e	as	instalações	para	
peixes	 presentes	 no	 sítio,	 tanto	 para	 ter	 uma	 informação	 técnica	 sobre	 o	 processo	 utilizado	
mas	também	para	saber	mais	sobre	a	força	de	trabalho.	Isto	é	verdadeiramente	a	arqueologia	
egípcia	como	até	então	não	se	tinha	sonhado,	ajudando	a	reconstruir	o	sistema	econômico	e	
social,	complexo	e	bem	organizado,	que	tornou	possível	a	construção	da	pirâmide	do	faraó.	
	 Em	outros	estudos	de	sítios	do	Antigo	Império	os	vasos	de	pedra	foram	analisados	para	
determinar	 de	 quais	 pedreiras	 vieram	 os	materiais,	 dados	 que	 nos	 servem	 para	mapear	 as	
rotas	marítimas	e	os	padrões	econômicos.	Um	estudo	cronológico	a	 respeito	dos	moldes	de	
pães	mostraram	que	uma	mudança	dramática	na	forma	do	molde	ocorreu	no	final	do	Antigo	
Império	e	os	arqueólogos	estão	agora	buscando	a	causa:	esta	foi	uma	decisão	econômica	ou	
talvez	foi	uma	nova	técnica	introduzida	por	um	novo	grupo	de	artesãos?	Um	exame	de	como	
os	bens	dos	enterramentos	estavam	distribuídos	em	sepulturas	de	grandes	cemitérios	usando	
como	 critério	 a	 localização,	 o	 tamanho	da	 sepultura,	 o	 sexo	do	habitante	da	 tumba	e	 a	 sua	
	 8	
associação	com	outros	elementos	 funerários,	está	 lançando	 luz	 sobre	aspectos	da	 sociedade	
egípcia	ligados	à	hierarquia,	à	estratificação	e	ao	gênero.	
	 Apesar	 destes	 avanços,	 não	 podemos	 recusar	 o	 fato	 de	 que	 uma	 escavação	
arqueológica	 é	 um	processo	 destrutivo.	 Uma	 vez	 escavado	 um	 sítio	 nunca	 poderá	 voltar	 ao	
que	 era	 e	 os	 arqueólogos	 percebem	 agora	 que	 as	 escavações	 devem	 ser	 conduzidas	
sabiamente	e	com	cuidado	ou	então	que	os	sítios	não	deveriam	ser	 inteiramente	escavados.	
Como	os	egiptólogos	modernos	decidem	qual	sítio	escavar	e	como	ele	(ou,	cada	vez	mais,	ela)		
faria	isso?	
	 Até	algumas	décadas	atrás	um	sítio	era	escolhido	porque	se	pensava	que	ele	continha	
belos	 objetos.	 Isto	 significava	 que	 ele	 era	 provavelmente	 um	 cemitério,	 cujas	 tumbas	
poderiam	 conter	 mobiliário	 funerário	 e	 paredes	 decoradas.	 Com	 menos	 frequência	 os	
escavadores	 escolhiam	 escavar	 templos,	 porque	 eles	 prometiam	 ter	 estatuária	 e	 textos.	
Menos	ainda	a	serem	escavadas	eram	as	áreas	de	habitação,	especialmente	aqueles	situadas	
na	planície	que	era	 inundada	pelo	Nilo	porque	elas	eram	difíceis	de	escavar	e	 tinham	pouca	
coisa	 a	 revelar	 além	 de	 ossos	 de	 animais,	 tijolos	 e	 cacos.	 Hoje	 em	 dia,	 são	 os	 sítios	 mais	
escolhidos	 porque	 eles	 nos	 dão	 informações	 sobre	 um	 assunto	 específico,	 frequentemente	
social	 ou	 cultural.	 Por	 exemplo,	 arqueólogos	 têm	 se	 perguntado	 o	 que	 pode	 este	 sítio	 nos	
revelar	 sobre	a	estratificação	 social,	o	papel	das	mulheres,	 a	estrutura	da	 força	de	 trabalho,	
dieta,	 saúde	 e	 mortalidade,	 comércio,	 urbanismo,	 mudança	 tecnológica,	 a	 centralização	 do	
governo	ou	a	vida	dos	soldados	egípcios	na	Núbia?	
	 Egiptólogos	não	escavam	mais	sítios	na	sua	totalidade	porque	eles	poderiam	privar	as	
próximas	 gerações	 de	 estudá-los	 de	 forma	mais	 adequada	 –	 já	 eles	 estarão	 equipados	 com	
diferentes	 e	 melhores	 tipos	 de	 técnica	 de	 escavação,	 além	 de	 buscarem	 respostas	 para	
diferentes	questões.	Estamos	mais	preocupados	em	escavar	somente	uma	parcela	significativa	
do	 sítio,	 uma	 parte	 do	 sítio	 que	 se	 espera	 ser	 a	mais	 promissora	 para	 responder	 as	 nossas	
questões.	
	 O	sítio	que	escolheríamos	não	seria	no	Alto	Egito,	ao	menos	que	este	faça	parte	de	um	
projeto	 já	 estabelecido	ou	que	 esteja	 sendo	 ameaçado.	 Isto	 porque	o	Conselho	 Supremo	de	
Antiguidades	 recentemente	 proibiu	 novas	 escavações	 no	 Alto	 Egito,	 argumentando	 que	 as	
ameaças	 aos	 sítios	 arqueológicos	 no	 Delta	 do	 Nilo	 tinham	 se	 tornado	 tão	 grandes	 que	
escavações	 nesta	 área	 precisavam	 ser	 encorajadas.	 Os	 sítios	 do	 Delta	 foram	 amplamente	
ignorados	pelos	primeiros	escavadores,	a	quem	faltava	o	treinamento	necessário	para	escavar	
na	área	da	planícieinundada	pelo	Nilo	e	que	 tinham	pouco	 interesse	nos	 tipos	de	artefatos	
que	são	encontrados	aí.	
	 Atualmente,	os	arqueólogos	provavelmente	escolhem	um	dos	sítios	negligenciados	do	
Delta,	 escolhendo	 uma	 aldeia	 construída	 com	 tijolos	 simples	 ao	 invés	 de	 um	 cemitério	 ou	
complexo	 templário.	Os	 trabalhadores	escavam	 lentamente	para	expor	as	paredes	de	 tijolos	
encharcados	enterradas	na	lama	molhada.	Membros	da	equipe	se	debruçam	sobre	cacos	não	
decorados,	 ossos	 de	 animais	 e	 vestígios	 de	 plantas.	 Ao	 invés	 de	 empregar	 centenas	 de	
trabalhadores	sem	treinamento	e	supervisão,	com	a	finalidade	de	levar	para	longe	centenas	de	
metros	cúbicos	de	areia,	os	especialistas	empregariam	trabalhadores	experientes,	que	 talvez	
gastassem	 várias	 semanas	 raspando	 um	 único	 centímetro	 de	 lodo	 em	 uma	
quadrado/quadrícula	 de	 apenas	 10m	 de	 largura.	 Detalhados	 mapas	 mostram	 a	 localização	
precisa	 de	 todo	 objeto	 e	 todos	 os	 traços	 são	 desenhados,	 centenas	 de	 fotografias	 são	
tomadas,	 desenhos	 preparados	 e	 extensivas	 notas	 são	 feitas.	 Estatísticas	 são	 coletadas	 para	
mostrar	como	os	diferentes	atributos	da	cerâmica	mudaram	no	sítio.	Fragmentos	de	um	cesto	
de	 junco	 trançado,	 uma	 lasca	 de	madeira	 e	 um	 pedaço	 de	 pão	 encontrado	 ao	 lado	 de	 um	
	 9	
antigo	 forno	 são	 todos	 preparados	 para	 análise	 nos	 laboratórios	 montados	 no	 sítio.	 Os	
arqueólogos	 da	 atualidade	 trabalham	 mais	 como	 investigadores	 de	 crimes	 e	 nenhuma	
evidência	é	considerada	inconsequente.	
	 Entretanto,	 deve-se	 admitir	 que	 muitas	 técnicas	 adotadas	 pelos	 arqueólogos	 que	
trabalham	em	 todo	 lugar	do	mundo	 chegaram	 lentamente	 à	pesquisa	 egiptológica.	Algumas	
delas,	como	as	técnicas	de	datação	físico-químicas	são	também	imprecisas,	dando	datas	que	
giram	ao	redor	de	um	século	ou	mesmo	milênios	enquanto	os	egiptólogos	querem	datas	mais	
precisas	 de	 uma	 década	 ou	 menos.	 Outras	 técnicas	 são	 muito	 caras.	 Mas	 muitas	 não	 são	
familiares	 aos	 egiptólogos.	 A	 arqueologia	 egípcia	 está	 ainda	 isolada	 da	 especialização	 da	
academia	 e	 poucos	 daqueles	 que	 escavam	 os	 sítios	 arqueológicos	 tomaram	 parte	 em	
escavações	em	outros	países	ou	estudaram	métodos	arqueológicos	ou	interpretaram	a	teoria	
usada	em	outros	lugares	do	mundo.	
	 Entretanto,	gradualmente,	novas	técnicas	estão	sendo	utilizadas	na	Egiptologia	e	elas	
trarão,	sem	dúvida,	resultados	positivos	–	isto	se	os	sítios	arqueológicos	egípcios	sobreviverem	
o	 bastante	 para	 se	 beneficiarem	 delas.	 A	maior	 parte	 dos	 sítios	 está	 seriamente	 ameaçada	
hoje	pela	poluição,	pelo	aumento	do	lençol	freático,	pelas	incursões	das	terras	de	agricultura	e		
os	 seus	 desenvolvimentos	modernos	 e	 pelo	 vandalismo.	 Somente	 nas	 duas	 ou	 três	 décadas	
passadas		grande	ênfase	tem	sido	dada	–	finalmente	e	tardiamente	-	à	conservação	e	proteção	
dos	 sítios.	 De	 fato,	 o	 Conselho	 Supremo	 de	 Antiguidades	 agora	 requer	 que	 toda	 expedição	
inclua	um	componente	significativo	de	conservação	e	proteção	do	sítio.	
	 O	 Conselho	 Supremo	 de	 Antiguidades	 emite	 um	 contrato	 pelo	 qual	 a	 equipe	 de	
arqueólogos	 fica	 sujeita	 também	 a	 outras	 regras.	 A	 equipe	 deve	 ser	 constituída	 por	
reconhecidos	 experts	 em	 seus	 vários	 campos	 do	 conhecimento,	 o	 diretor	 deve	 ser	 um	
egiptólogo	 profissional	 e	 o	 projeto	 deve	 ser	 patrocinado	 por	 uma	 instituição	 acadêmica	 ou	
museu	reconhecidos.	Um	programa	de	conservação	deve	fazer	parte	do	trabalho	e	o	projeto	
deve	 estar	 de	 acordo	 em	 deixar	 o	 sítio	 salvo	 e	 em	 boas	 condições	 no	 final	 do	 trabalho.	 Os	
objetivos	do	projeto	são	supervisionados	por	um	comitê	permanente	do	Conselho	Supremo	de	
Antiguidades,	 composto	 por	 um	 grupo	 de	 cerca	 de	 quinze	 estudiosos	 egípcios.	 E,	 se	 eles	
aprovam	 o	 projeto,	 é	 feito	 um	 contrato	 de	 um	 ano,	 chamado	 de	 concessão,	 podendo	 ser	
renovado	 apenas	 se	 o	 projeto	 tiver	 se	 desenvolvido	 de	 forma	 adequada	 e	 se	 os	 resultados	
tiverem	sido	publicados	regularmente.	No	campo,	o	projeto	será	assinado	por	um	supervisor	
do	 Conselho	 Supremo	 de	 Antiguidades,	 que	 é	 o	 responsável	 por	 supervisionar	 o	 trabalho	 e	
assegurar	 que	 todas	 as	 regras	 do	 governo	 sejam	 cumpridas.	 O	 Conselho	 Supremo	 de	
Antiguidades	 nem	 providencia	 nenhum	 dos	 fundos	 	 para	 este	 trabalho	 –	 esta	 parte	 é	 de	
responsabilidade	 de	 quem	 fez	 o	 projeto	 –	 nem	 se	 encarrega	 da	 documentação	 (licença	
autorizando	 a	 escavação)	 necessária.	 Somado	 a	 isto,	 o	 Conselho	 Supremo	 de	 Antiguidades	
também	encoraja	 as	 expedições	 estrangeiras	 a	 incluir	 estudantes	 de	 egiptologia	 egípcios	 na	
equipe,	assim	como	 incluir	o	 treinamento	deles	para	o	 trabalho.	Os	 relatórios	 finais	deverão	
ser	 agora	 publicados	 em	 árabe	 e	 também	 na	 língua	 escolhida	 para	 o	 projeto,	 assim	 os	
membros	 júniores	 do	 Conselho	 Supremo	 de	 Antiguidades	 e	 os	 estudantes	 egípcios	 poderão	
manter-se	informados	a	respeito	do	trabalho	que	está	sendo	feito.	
	 O	governo	egípcio	tomou	controle	dos	monumentos	do	país	apenas	em	1952,	depois	
da	 revolução	 que	 depôs	 o	 rei	 Faruk	 e	 que	 expulsou	 as	 delegações	 inglesas	 e	 francesas	 que	
controlavam	 a	 burocracia	 egípcia.	 Antes	 disso,	 o	 Serviço	 de	 Antiguidades	 Egípcias	 (depois	
chamado	de	Organização	das	Antiguidades	Egípcias	e,	posteriormente,	com	o	nome	atual	de	
Conselho	Supremo	de	Antiguidades)	 foi	dirigido	pelos	 franceses.	 	Cursos	de	egiptologia	eram	
raros	 nas	 escolas	 egípcias,	 em	 parte	 porque	 os	 europeus	 temiam	 o	 crescimento	 do	
nacionalismo	e	em	parte	porque	eles	queriam	permanecer	com	o	controle	das	antiguidades	do	
	 10	
país.	 Não	 havia	 nenhum	 programa	 de	 egiptologia	 completo	 nas	 universidades	 nacionais	
egípcias	 até	 depois	 da	 Segunda	 Guerra	 Mundial.	 Hoje,	 muitos	 estudantes	 graduados	 dos	
departamentos	de	Egiptologia	do	país	devem	trabalhar	como	guias	de	 turismo	porque	o	seu	
salario	é	significativamente	mais	alto	do	que	o	de	um	inspetor	de	antiguidades.	Somente	nos	
últimos	 anos	 cursos	 sobre	 métodos	 arqueológicos	 foram	 	 oferecidos	 aos	 estudantes	 de	
egiptologia	 egípcios	 e	 várias	 missões	 estrangeiras	 têm	 recentemente	 estabelecido	 escolas	
voltadas	para	o	 trabalho	de	 campo	em	arqueologia.	Mas	ainda	há	poucas	equipes	 formadas	
por	 egípcios.	 Ao	 invés	 disso,	 o	 que	 tem	 acontecido	 já	 por	 dois	 séculos	 é	 que	 quase	 todo	 o	
trabalho	arqueológico	é	feito	pelas	missões	estrangeiras.	
	 Em	média,	talvez	90	equipes	estrangeiras	escavem	no	Egito	a	cada	ano.	Eles	trabalham	
no	Delta	e	no	Vale	do	Nilo,	nos	desertos	oriental	e	ocidental,	nos	oásis,	no	Sinai,	ao	longo	da	
costa	mediterrânica	e	do	Mar	Vermelho	e	nos	sítios	subaquáticos.	As	missões	vêm	de	quase	
todos	os	países	europeus,	dos	Estados	Unidos,	Canadá,	Austrália	e	 Japão.	Alguns	países	 têm	
institutos	 de	 arqueologia	 bem	 estabelecidos	 que	 patrocinam	 vários	 projetos	 todos	 os	 anos.	
Entre	os	principais	está	o	 Instituto	Francês12	 (fundado	em	1880),	o	Egypt	Exploration	Society	
13(1882),	 o	 Instituto	 Arqueológico	 Alemão14	 (1907)	 e	 o	American	 Research	 Center	 in	 Egypt15	
(1948).	Outros	 institutos	 representam	 a	 Suíça,	 a	 Alemanha,	 a	 Áustria,	 a	 Itália,	 a	 Polônia	 e	 o	
Japão.	 A	 Universidade	 Americana	 do	 Cairo16,	 que	 oferece	 uma	 formação	 em	 Egiptologia,	
também	realiza	vários	projetos	anualmente.	
	 A	maior	parte	das	escavações	arqueológicas	 feitas	hoje	no	Egito	produzem	relatórios	
técnicos	 de	 alta	 qualidade.	 As	 narrativas	 das	 escavações	 do	 século	 XIX,	 como	 aquelas	 de	
Giovanni	Belzoni,	que	trabalhou	no	Vale	dos	Reis,	eram	lidas	mais	como	um	relato	de	aventura	
do	que	como	um	estudo	científico.	Nos	relatórios	de	hoje	faltam	as	grandes	generalizações	e	
histórias	 amplas	 que	 caracterizaram	 os	 trabalhos	 mais	 antigos,	 em	 parte	 porque	 os	 dados	
coletados	 pelos	 projetosmodernos	 estão	 além	 do	 escopo	 de	 uma	 só	 pessoa	 para	 que	 seja	
sintetizado.	 Como	 todo	 ramo	 do	 aprendizado,	 também	 a	 Egiptologia	 veio	 a	 se	 tornar	 uma	
coleção	de	microespecialidades	e	os	estudiosos	que	podem	reivindicar	um	conhecimento	de	
longo	 alcance	 e	 profundo	 destes	 campos	 são	 raros.	 De	 qualquer	 modo,	 este	 é	 um	
desenvolvimento	 promissor,	 pois	 ele	 traz	 detalhes	 até	 então	 não	 revelados	 para	 o	 nosso	
conhecimento	 do	 antigo	 Egito.	 Mas	 ele	 também	 deixou	 a	 maior	 parte	 dos	 egiptólogos	
relutante	e	mesmo	inábel	para	escrever	sínteses	que	eram	populares	no	século	passado.	
	 No	 entanto,	 para	 aqueles	 que	 revelam	 os	 detalhes	 do	 Egito	 Antigo,	 mas	 querem	
conhecer	 não	 apenas	 o	 que	 aconteceu	 mas	 também	 o	 como	 e	 o	 porquê,	 esta	 é	
verdadeiramente	uma	época	excitante.	Novas	técnicas	de	escavação	e	de	análise	têm	trazido	à	
luz	 aspectos	 da	 cultura	 egípcia	 que	 eram,	 até	 então,	 desconhecidos.	 A	 ênfase	 recente	 nos	
sítios	 de	 habitação,	 ao	 invés	 dos	 cemitérios,	 transformou	 nossa	 visão	 da	 sociedade	 egípcia,	
fazendo	com	que	a	vida	dos	camponeses	iletrados	fosse	quase	tão	acessível	quanto	àquela	dos	
nobres.	Os	sítios	pré-históricos	e	do	Dinástico	Inicial	estão	recebendo	atenção	redobrada	e	os	
seus	 estudos	 têm	 posto	 em	 xeque	 a	 noção	 do	 século	 XIX	 de	 que	 as	 mudanças	 na	 cultura	
egípcia	foram	resultantes	de	mudanças	biológicas	da	população.	Com	estas	novas	abordagens	
e	 instrumentos	de	interpretação,	o	estudo	do	Egito	Antigo	está	no	limiar	de	uma	nova	era.	E	
																																																													
12	IFAO	–	Instituto	Francês	de	Arqueologia	Oriental.	Site:	http://www.ifao.egnet.net	
13	Site:	http://www.ees.ac.uk	
14	Site:	https://www.dainst.org/standort/-/organization-display/ZI9STUj61zKB/kairo	
15	Site:	http://www.arce.org	
16	The	American	University	in	Cairo.	Site:	http://www.aucegypt.edu	
	
	 11	
existem	ainda	milhares	de	sítios	arqueológicos	esperando	para	serem	estudados,	se	–	e	este	é	
o	desafio	–	eles	não	forem	destruídos	antes.

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