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ARTIGO O MÉTODO NA CONSTRUÇÃO DA TEORIA KEYNESIA

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1. o método na construção da teoria keynesia[footnoteRef:1] [1: Resenha bibliográfica apresentada na disciplina Metodologia da Análise Econômica, Profa. Cleide F. Moretto, nível IV, curso de ciências econômicas, Faculdade de Ciências Econômicas, Administrativas e Contábeis (Feac), Universidade de Passo Fundo (UPF), novembro 2016.] 
Gleciane Rossi[footnoteRef:2] [2: Acadêmicos do IV nível do curso de ciências econômicas, Feac/UPF.] 
Laura Moresco²
Resumo: John Maynard Keynes é considerado o mais importante economista da primeira metade do século XX, escritor do livro Teoria Geral do Emprego, Juros e Moeda. O objetivo desse artigo é apresentar o método na construção da teoria keynesiana com uma proposta de saber quais as bases metodológicas são observadas para a sua construção. Subjacente ao tal objetivo aplica-se o método da revisão integrativa. Para isso foi necessário mostrar a relevância e os fatos sociais e históricos para a construção de um método. Como resultado o artigo identifica que Keynes foi revolucionário não apenas na sua teoria, mas também no método, que viria a ser discutido somente após a década de 1970. O elemento central e distinguível do pensamento de Keynes é a incerteza. 
Palavras-chaves: Método; Keynes; Teoria;
*Classificação: B4 B41
1. INTRODUÇÃO
A evolução do pensamento de Keynes proporcionou ao mundo uma nova visão sobre a economia. Podemos dizer que Keynes foi um dos principais pensadores econômicos, que revolucionou, com suas teorias, o modo de enxergar o todo complexo.
Keynes desempenhou um papel muito importante na economia, pois a partir dele começamos a ver a mesma de modo macroeconômico, ou seja, não mais adiantava como os clássicos, se basear em uma variável de um determinado setor para compreender o sistema econômico, mas sim, ver todas as partes envolvidas na criação de um bem ou serviço, para tirar conclusões reais, assim descobrindo falhas e levantando novas questões muito importantes sobre o sistema. 
Vieira (2007) diz que, Keynes tinha a preocupação de conquistar diferentes públicos bem antes da publicação da Teoria Geral. Para cada público Keynes se colocou de maneiras diferentes, parecia que ele sabia a forma que devia se expressar para atingi-los. Pode-se dizer que Keynes conhecia bem o caminho que deveria trilhar para persuadir os seus colegas economistas profissionais de que as teorias econômicas, as quais governavam a prática científica até aquele momento (décadas de 1920-1930), estavam “erradas” e que eram incapazes de explicar o que se passava no “mundo real”. Ele acreditava que a retórica é uma ferramenta importante para convencer o público. A Teoria Geral apresenta indícios claros de um discurso persuasivo, seja no estilo ou na forma.
A chave do método de Keynes é sua compreensão da realidade como uma economia monetária, na qual os agentes econômicos procuram maximizar seus objetivos sob incerteza. Keynes observava a realidade como um sistema orgânico e complexo no qual os agentes eram interdependentes e maximizadores em um ambiente de incerteza. A incerteza é assim o elemento essencial e distinguível da teoria e método de Keynes.
Para Silva (1996), o grande economista John Maynard Keynes, considerado o maior do século X, nasceu em Cambridge – Reino Unido, no dia 05 de Junho de 1883. Filho de intelectuais, Keynes estudou no Colégio Éton, onde, logo destacou-se em Matemática, Filosofia e Humanidades. À Economia ele só se voltaria após a conclusão do ensino formal. Após, transferiu-se para a Universidade de Cambridge, onde foi aluno do grandioso economista Alfred Marshal. Posteriormente a conclusão dos estudos, Keynes foi funcionário público por dois anos, onde trabalhou no Ministério dos Negócios das Índias, após, voltou a Cambridge e virou professor da universidade, cargo este ocupado durante sete anos. Exerceu cargos no Tesouro Britânico durante três anos (1916-1919), quando, foi escolhido para chefiar a delegação britânica na Conferência de Paz de Versalhes, participando da assinatura do Tratado de Versalhes, que consistia no encerramento oficial da Primeira Guerra Mundial.
Complementa o autor, que além de economista, Keynes também foi um escritor, publicou seu primeiro livro no ano de 1919, com o título The Economic Consequences of the Peace, sendo que sua principal obra foi o livro Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda, publicada em 1936. Apesar da formação e de seu grande conhecimento em matemática, o livro escrito, é extremamente acessível, não possuindo o vasto conhecimento que tinha sobre o método quantitativo. Keynes, após adoecer, veio a falecer no dia 21 de abril de 1964, em Sussex, na Inglaterra.
Segundo Corraza (2009) Keynes transita de uma visão individualista para uma visão organicista da realidade, no interior da qual as ações individuais, embora condicionadas, conservam espaço e autonomia relativas face às determinações da totalidade orgânica.
Complementa o autor que há muita controvérsia entre economistas sobre a visão ontológica de Keynes, mas é mais forte a tendência a sustentar que Keynes transita de uma visão individualista, como era a visão neoclássica em que se formou para uma visão organicista da realidade, no interior da qual as ações individuais, embora condicionadas, conservam espaço e autonomia relativas face às determinações da totalidade orgânica. 
Cardoso e Lima (2005), em seu trabalho relatam que a teoria geral, escrita por Keynes foi um importante marco para a economia mundial, pois esse permitiu explicar o funcionamento de um sistema complexo, dando origem a seu discurso organicista. Complementa os autores que Keynes em sua obra teoria geral, tenta repassar para o leitor uma visão do todo, comentando que o tempo entre a compra e a venda pode ser grande, e para que esse tempo não prejudique o resto dessa cadeia, o empresário deve fazer previsões, de modo que esse tempo seja reduzido.
Keynes em seu livro, Teoria Geral do Emprego do Juro e da Moeda, confirma essa mudança do foco microeconômico para o macroeconômico, pois nele podemos notar que o autor tenta passar a ideia que uma economia está relacionada com os diversos setores, mostrando que a falha de um desses pode afetar direta e indiretamente o todo complexo. 
O objetivo desse artigo é apresentar o método na construção da teoria keynesiana como uma proposta de saber quais as bases metodológicas é observada para a sua construção, aplicando o método da revisão integrativa em estudos da Ciência Econômica.
1. METODOLOGIA 
A metodologia escolhida foi o levantamento bibliográfico, ou pesquisa bibliográfica, que se utiliza densa literatura para estudar e analisar diversos aspectos de um tema, contribuindo para uma pesquisa futura mais elaborada.
Refere-se de uma revisão integrativa. A revisão integrativa da literatura é um método de pesquisa que permite a introdução das evidências na prática com a finalidade de reunir e sintetizar resultados de pesquisas sobe determinado tema ou questão, de maneira sintética e ordenada. Para a elaboração deste estudo, relacionados na metodologia de elaboração de revisões integrativas, percorrem-se as etapas: formulação da questão norteadora, coleta de dados, avaliação, análise e interpretação dos dados e apresentação dos resultados. Para nortear esta pesquisa formulou-se a questão: quais as bases metodológicas observadas na construção da teoria keynesiana? 
Inicialmente, para seleção dos estudos desta revisão integrativa, foram definidos os critérios de inclusão: somente artigos, publicados no idioma português e inglês, oriundos de estudos feitos no mundo todo, com ano de publicação 1970 a 2016, convergentes com a proposta do estudo das bases metodológicas observadas na construção da teoria keynesiana. Salienta-se que a busca foi realizada de forma ordenada, respectivamente, SciElo, Jstor e Portal de Periódicos da Capes , desta maneira as publicações que se encontravam indexas em mais de uma, foram selecionadas na primeira busca. Foram excluídos os estudos que não obtinham as informações necessárias para compor a pesquisa,artigos de ano de publicação inferior a 1970, sem resumos e duplicidades. A busca pelo material foi conduzida no período entre outubro e novembro de 2016. 
Para análise posterior a síntese dos artigos, as autoras construíram um quadro sinóptico, que comtemplou os aspectos considerados não pertinentes: como nome do artigo, objetivos, resultados e conclusões. Para a apresentação dos resultados esse quadro fora dividido em duas tabelas para facilitar a leitura e discussão dos achados científicos. Foram identificados 2 estudos na base de dados do SciELO, 445 no Jstor. Após uma análise minuciosa, observou-se que 28 artigos atendiam aos critérios determinados. Estes, então, constituíram a amostra desta revisão integrativa. 
Os dados utilizados neste estudo foram devidamente referenciados, respeitando e identificando seus autores e as demais fontes de pesquisa, observando de vigor ética quanto à propriedade intelectual dos textos científicos que foram pesquisados, no que tem relação ao uso do conteúdo e de citações das partes da obra consultada.
1. resultados e discussão
 Foram encontrados 30 artigos dos quais 2 apresentaram-se repetidos em mais de um local. Assim, das 28 elencadas, 17 abordavam o tema proposto e foram selecionados para compor esse estudo.
O debate sobre o método em John Maynard Keynes tomou corpo nos anos 1980 como resultado do resgate teórico dos escritos originais do autor, reunidos e publicados nos Collected Writings of John Maynard Keynes (CWJMK), por parte da teoria pós-keynesiana. Não obstante, talvez seja a referida questão uma das mais controversas nas várias interpretações sobre as ideias e concepções teóricas de Keynes, haja vista a diversidade de posições sobre qual seria o seu método (FERRARI FILHO; TERRA, 2016).
O pensamento de Keynes vem sendo discutido como exemplo de boa utilização da retórica (CORAZZA, 2009). Em relação, Corazza afirma: 
“[...] a elaboração do pensamento de Keynes sempre foi marcada pela preocupação de convencer o público alvo e de se fazer entender por ele. Neste sentido, pode-se dizer que o discurso teórico de Keynes tem um caráter persuasivo e retórico explícito”. (CORAZZA, 2009, p.11)
 O Papel do pensamento de Keynes foi de suma importância ao constituir a retórica como uma nova ferramenta auxiliar para convencer seus diferentes públicos: “Quando percebia que seus argumentos não eram suficientemente persuasivos, chegou mesmo a reforçar os fundamentos teóricos de seus argumentos, a fim de poder melhor convencer seus interlocutores.” (CORAZZA, 2009, p.14).
Segundo um estudo, onde demonstra, também, a preocupação de Keynes em deter a atenção dos seus tipos de públicos, em que diz: “Especificamente Keynes identifica três grandes categorias de audiências ou esferas de comunicação: os economistas profissionais, os formadores de opnião ou opnião pública educada e opnião pública em geral.” (ANUATTI apud VIEIRA, 2007, p. 5).
De acordo com Vieira (2007) pode-se perceber que uma das justificativas de parte do sucesso obtido pela Teoria Geral, no número de seguidores, se deveu a utilização da Retórica de Keynes.
O uso das metáforas por Keynes lhe serviu aos mais diversos fins. Em determinados momentos, ridicularizou-se muitas das afirmações da teoria atacada e, em outros, aproximou, através de elementos da linguagem, algumas de suas teorias dos fenômenos da natureza, aos olhos do auditório. A linguagem metafórica de Keynes foi ainda auxiliada pelo uso de diversas técnicas de abordagens indiretas de determinados assuntos, ora recorrendo a digressões que chamavam alguma autoridade para o debate, ora diluindo assuntos controversos, por diversos capítulos, de forma a criar certa confusão. Essa característica do texto keynesiano, a princípio, poderia ser imaginada como desnecessária por algum leitor desavisado (fruto do estilo do autor), mas, na realidade, revelou-se de grande valia. (VIEIRA, 2007, p. 17-18). 
Conforme Corazza (2009), Keynes se convenceu que a retórica é uma ferramenta importante para convencer o público, mas em si mesma ela é insuficiente, ela precisa estar diretamente ligada com a teoria, para ter melhor aceitação pelos ouvintes.
“Os recursos retóricos estão presentes em toda parte do processo de evolução das ciências e a economia não está livre deles. Nos discursos, nas palestras, nos manuais que introduzem a ciência etc., aparecem por toda parte” (VIEIRA; 2007, p. 88). No simples fato, de tentar convencer outras pessoas, a aceitar a sua opinião como uma convicção, utiliza-se argumentos, fatos, evidências, para melhorar a sua aceitação, e ignora-se, ou não enfatiza-se tantos os pontos que não tenham apoios teóricos, ou que possam gerar duvidas, no referido discurso.
“Keynes intencionalmente criou um alvo para suas críticas “esquecendo” ou deixando, para um segundo plano, outras hipóteses da teoria tradicional, passando a se dedicar à tarefa de persuadir o público de que esses “pilares” estavam ruindo e, com eles, toda a tradição anterior.” (VIEIRA, 2007, p. 107).
De modo geral, Keynes pensava de modo em que atingisse os seus públicos e usava diferentes tipos de argumento para atingi-los, por exemplo, se o público era de economistas profissionais, Keynes se pronunciava de tal forma que detinha a atenção dos economistas, logo, se o público alvo fosse à opinião pública, seu pronunciamento se voltaria a tal.
Por sua vez, são inúmeras as interpretações sobre o método em Keynes: o histórico-indutivo e a importância do empirismo; o Keynesian Kaleidics de Shackle (1969); as influências legadas por Marshall; o pluralismo metodológico; o método keynesiano próprio; e a utilização da lógica ordinária nas exposições metodológicas e teóricas do autor ao invés da lógica formal. Essas interpretações circunscrevem-se a debater o método científico tanto em Keynes quanto nos pós-keynesianos e conseguem ilustrar a diversidade de opiniões que circunda o referido assunto. (FERRARI; TERRA, 2016, p.74) 
Complementa o autor o método de Keynes o dispunha concomitantemente como teórico e teorizado, experimentador e observador do real world. Logo, Keynes parecia preocupar-se não somente com o mundo em si, mas com o mundo tal qual ele é percebido e esta percepção só poderá ser apreendida pelo teórico se seu método lhe permitir fazer parte do mundo a ser modelado. Em suma, Carvalho (2003) está ressaltando o empirismo, isto é, a experiência, como essencial à elaboração teórica de Keynes. Fonseca (2010) também salienta a importância conferida por Keynes à fundamentação empírica como substância para a obtenção do conhecimento, mas usa como modelo teórico para tanto o método pragmático americano, de Charles Peirce, William James e John dewey.
Ao analisar o método de Keynes, Carvalho (2003) destaca um duplo movimento, no qual primeiramente insere o investigador na posição de a gente comum dentro do sistema objeto de estudo (com suas angústias e incertezas) e a posteriori na posição de “(...) analista externo para examinar como estas decisões se articulam entre si”. Como frisou Carvalho (2003, p. 180), “como os austríacos, Keynes reconhece que o que importa, de partida, não é o mundo em si, mas o mundo que é percebido”. 
Embora Keynes não tenha dado um tratamento sistemático aos aspectos metodológicos de sua teoria, isto não significa que ele desconsiderasse sua importância ou deixasse de abordá-los. Ao contrário, Keynes os aborda ao longo de sua obra e destaca sua relevância, para fundamentar seu pensamento, especialmente na medida em que procurou romper com a teoria neoclássica. Carabelli( 1998) aponta duas hipóteses para refutar a tese de que Keynes não se preocupou com a questão metodológica em sua obra: i) sendo o método o mesmo do Tratado sobre Probabilidade, Keynes não teria achado necessário aprimorá-lo, sobretudo porque era relativamente avançado para época e ii) na medida em que a conexão entre a teoria e prática era um principio condicionante do próprio método, a declaração de posições metodológicas exclusivas seria uma contradição. 
De acordo com Chick (2004) apesarde Keynes ter sido formado pelo o método de Marshall, ele o abandonou porque este método não era adequado ao seu propósito; que era analisar os mercados onde as repercussões macroeconômicas não pudessem ser ignoradas. Embora o método de equilíbrio de Walras tratasse a economia de forma agregada e incorporasse a ideia de interação das decisões dos agentes, este também não podia ser adotado, porque para Keynes o seu grande pecado era o “congelamento do tempo” e a exclusão da incerteza o que tornava este incapaz de explicar como uma economia poderia sofrer flutuações, sem recorrer a choques exógenos. 
Além disso, Keynes rejeitou tanto o método de Marshall quanto o método de Walras porque ele percebeu que ambos foram construídos a partir do individualismo metodológico de inspiração positivista. Isto significa que a concepção ontológica da ortodoxia postulava que a realidade econômica era fundada no Homo Economicus, ou seja, que a realidade econômica era composta por indivíduos racionais que buscam a maximização do lucro ou da utilidade. Para Keynes isto era um absurdo, por isso, ele desenvolveu uma ontologia alternativa que compreendia a realidade como um complexo orgânico composta por indivíduos racionaisque buscam a maximização de lucros ou utilidade sob incerteza. (CHICK, 2004) 
Conforme Vernengo (1994) e Corazza (2009), para Keynes a ciência econômica não poderia se espelhar nas ciências exatas, como para os neoclássicos, pois o movimento da realidade jamais poderá se assemelhar ao movimento dos objetos. Desse modo, a ciência econômica era para Keynes antes de tudo uma ciência moral, na qual os interesses, as paixões e o conhecimento dos agentes têm um papel fundamental na dinâmica do sistema.
Finalmente, Keynes compreendeu que não poderia utilizar exclusividade o método indutivo nem mesmo o método dedutivo, daí ele ter desenvolvido um método que combine ambos. Como também compreendeu que não poderia separar a teoria da pratica econômica. A chave do método de Keynes, que o coloca em uma posição oposta à ortodoxia, é sua compreensão da realidade como uma economia monetária, na qual os agentes econômicos procuram maximizar seus objetivos sob incerteza. 
Conforme Carvalho (2003), a preocupação com a tomada de decisão sob incerteza é o elemento mais importante do método de Keynes. Para os pós- keynesianos a incerteza é sem dúvida nenhuma o elemento mais importante e central do método e da teoria de Keynes. Nas palavras de Kregel (1976), a metodologia adotada por Keynes para analisar um mundo incerto foi a de fazer hipóteses alternativas sobre os efeitos da incerteza e da frustração de expectativas. 
Além disso, para Kregel (1976) a incerteza é o elemento central na definição da Demanda Efetiva, assim como a certeza dos eventos é o elemento central da Lei de Say. Esta interpretação de Kregel (1976) mostra claramente que a revolução keynesiana não se restringe ao aspecto teórico, mas também se estende ao seu método. Portanto, conforme Chick (1993), não se pode entender a teoria de Keynes sem que se entenda o seu método. 
Davidson (1972) igualmente destaca o ponto de partida e de chegada das teorias keynesianas como sendo o real world, acrescentando o seu caráter não-ergódico e, portanto, incerto e em constante evolução histórico-institucional (Davidson apud FERRARI; TERRA, 2007, p.74).
Corazza (2009) ressalta mais uma influência de Marshall sobre Keynes, que diz respeito à sugestão de Marshall de o método a ser usado depender das circunstâncias e da natureza do fenômeno. Não haveria um método a priori e todos os possíveis deveriam ser utilizados, desde que cabíveis à situação. 
Desta forma, segundo Corazza (2009, p. 7-8), Keynes poderia ser considerado um pluralista metodológico, pois Keynes faz uma combinação dos métodos indutivo e abstrato dedutivo adequados e aplicáveis à solução de problemas específicos. [...] Keynes não parece ter adotado nenhum desses caminhos extremos, nem unicamente o indutivo e muito menos o método a priori abstrato dedutivo [...] Ele pode ser definido como um pluralista na definição do método em economia. 
3.1 Pós Keynesianismo
Bresser-Pereira (2011) Há indicações cada vez mais claras de que está surgindo no Brasil uma nova escola de pensamento econômico – uma Escola Keynesiano-estruturalista do Desenvolvimento – que tem como fundamento teórico uma Macroeconomia Estruturalista do Desenvolvimento e como proposta de política econômica ou, mais amplamente, como estratégia nacional de desenvolvimento, o Novo Desenvolvimentismo. 
Complementa o autor 
A macroeconomia estruturalista do desenvolvimento é uma teoria macroeconômica porque afirma que o principal ponto de estrangulamento do desenvolvimento econômico não está do lado da demanda mas do lado da oferta, e porque está baseada no pensamento de John Maynard Keynes e Michael Kalecki. É uma teoria estruturalista porque adota o método histórico-dedutivo, porque entende o desenvolvimento como mudança estrutural ou industrialização, porque está associada ao pensamento dos grandes economistas clássicos, principalmente Adam Smith e Karl Marx, dos economistas historicistas alemães e dos institucionalistas americanos, e dos economistas estruturalistas do desenvolvimento como rosenstein-rodan, Gunnar Myrdal, ragnar Nurkse, Arthur Lewis, raul Prebisch, Celso Furtado, Hans Singer e Albert Hirschman, e porque esse conjunto sistemático de ideias tem em seu núcleo duas tendências estruturais: a tendência dos salários a crescerem menos do que a produtividade e a tendência à sobreapreciação cíclica da taxa de câmbio. (BRESSER-PEREIRA, 2011, p. 306)
Bresser-Pereira(2011) diz que é uma escola keynesiano-estruturalista que, naturalmente, dá grande importância às instituições, mas não precisa explicitá-las em sua designação porque o estruturalismo reserva um papel central para elas. É uma escola que nasce brasileira, mas aproveita amplamente a experiência internacional. É uma escola que conta com contribuição de notáveis economistas, sociólogos e cientistas políticos de todo o mundo. 
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesta investigação foram encontrados estudos que descrevem e caracterizam os métodos que Keynes utilizou na construção de sua teoria. Também foram identificadas pesquisas sobre como o método de Keynes vem auxiliando o pós-keynesianismo. 
Verificou-se que Keynes passou de um foco microeconômico para o macroeconômico, dando importância ao indivíduo como um todo, ou seja, passou do individualismo para a organicidade, não tentando se basear em uma variável de um determinado setor para compreender o sistema econômico, mas sim, ver todas as partes envolvidas na criação de um bem ou serviço, para tirar conclusões reais, assim descobrindo falhas e levantando novas questões muito importantes sobre o sistema. 
	Analisou-se que Keynes utilizava a retórica para convencer os seus diferentes tipos de público, em cada um ele via um potencial a ser descoberto e se colocava de maneira diferente. Ele tinha a preocupação de convencer o público e se fazer entender por ele. Pode-se dizer que o discurso teórico de Keynes tem um caráter persuasivo e retórico explícito. 
Apesar de muitos autores dizerem que Keynes não tinha um método, pode-se dizer através desse trabalho que o mesmo tinha um método próprio e um tanto revolucionário, pois à época já se baseava em uma ontologia da realidade alternativa discutida somente a partir da década de 1970.
	Percebeu-se uma dificuldade em encontrar material sobre o método do individualismo e organicidade utilizado por Keynes. O estudo é apenas para contribuir na divulgação do método utilizado por Keynes na construção da Teoria Keynesiana e que o mesmo possa ampliar os conhecimentos de acadêmicos ou até mesmo o público em geral sobre o método que ele utilizou, auxiliando na elaboração de novos trabalhos. 
Referências
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