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MENTES PERIGOSAS: A IMPUTABILIDADE PENAL DOS PSICOPATAS À LUZ DO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO

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MENTES PERIGOSAS: A IMPUTABILIDADE PENAL DOS PSICOPATAS À LUZ DO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO
DANGEROUS MINDS: THE PENAL IMPUTABILITY OF PSYCHOPATHIES FOR THE BRAZILIAN LEGAL SYSTEM
 Arthur Henrique Monteiro dos Santos Alencar*
 Onélia de Setúbal Rocha de Queiroga**
RESUMO
O delito pode ser definido como uma ação onde estão presentes a tipicidade, a ilicitude e principalmente a culpabilidade, que se conceitua como a reprovação pessoal pela realização de uma ação ou omissão típica e ilícita. Por outro lado, verificamos que a prática delituosa encontra-se muitas vezes associada à presença de psicopatologias, notadamente a esquizofrenia e a psicopatia, um dos diagnósticos mais frequentes nos indivíduos avaliados via medicina forense. Nesse sentido, o estudo das mentes criminosas sempre foi um tema bastante discutido em matéria de Direito Penal, desde os tempos da escola penal positiva, quando se passou a analisar a as características psicológicas dos indivíduos que praticavam delitos. Essa relação existente entre o comportamento criminoso e a presença da psicopatia em indivíduos é o principal objeto de estudo do presente artigo que tem por objetivo compreender as razões morais e sociais, além das motivações que levam um psicopata a delinquir, analisando sua personalidade, a perspectiva sociocultural na qual está inserido e os mecanismos de resposta e sanções do Direito Penal brasileiro para os crimes praticados por esses elementos. Para isso, a pesquisa foi dividida em três momentos. Primeiro, trataremos da psicopatia e das principais características dos psicopatas. Num segundo momento, analisaremos a questão da imputabilidade e das sanções penais ou medidas de segurança aplicadas ao criminoso psicopata e, por fim, discutiremos a imputabilidade penal desses indivíduos em ordenamento jurídico atual, por meio de considerações finais.
Palavras – Chave: Direito Penal. Crime. Psicopata. 
	ABSTRACT
	
The crime can be defined as an action where typically, illicitness and especially guilt are present, which is conceptualized as personal reprobation for the performance of a typical and illicit action or omission. On the other hand, we find that the practice of delinquency is often associated with the presence of psychopathologies, notably schizophrenia and psychopathy, one of the most frequent diagnoses in individuals evaluated through forensic medicine. In this sense, the study of criminal minds always been a well-discussed topic in criminal law since the days of the positive criminal school, when it came to analyzing the psychological characteristics of individuals who committed crimes. This relation between criminal behavior and the presence of psychopathy in individuals is the main object of study of this article that aims to understand the moral and social reasons, as well as the motivations that lead a psychopath to delinquency, analyzing his personality, perspective socio-cultural context in which it is inserted and the mechanisms of response and sanctions of the Brazilian Criminal Law for the crimes practiced by these elements. For this, the research was divided into three moments. First, we will deal with psychopathy and the main characteristics of psychopaths. In a second moment, we will analyze the issue of imputability and criminal sanctions or security measures applied to the criminal psychopath and, finally, we will discuss the criminal imputability of these individuals in current legal system, by means of final considerations.
Key- Words: Criminal Law. Crime. Psycho.
1 INTRODUÇÃO
Quando se fala em psicopatia, o primeiro pensamento que geralmente vem à cabeça do leitor é em relação aos criminosos de alta periculosidade, assassinos em série, frios e calculistas. É bem verdade que esses psicopatas existem, mas não são os únicos que demonstram condutas criminosas. Muitos psicopatas praticam delitos de menor potencial ofensivo como furtos e fraudes, e são mais difíceis de serem diagnosticados. Ou seja, todo psicopata possui certo nível de periculosidade e precisa ser compreendido na esfera penal, notadamente em relação às penas.
Note-se que nem todos os psicopatas cometem crimes, pois dependem de fatores internos (biológico e psicológico) e externos (meio social), então o foco da pesquisa será o criminoso psicopata, ou seja, aquele que comete crimes e a sua relação com o Direito Penal e Processual Penal, principalmente em relação à imputabilidade penal e a execução da pena, alinhados com a psicologia forense e a psiquiatria para tentar especificar os conceitos e repercussões sociais da psicopatia. 
Nesse sentido, em relação aos crimes praticados por indivíduos diagnosticados com psicopatia, a junção das alterações normativas produzidas pelo legislador com conceitos emanados da doutrina e os entendimentos jurisprudenciais se mostram fundamentais para encontrar as definições das sanções penais a estes indivíduos, mas em relação à execução da pena, ainda existem muitas controvérsias e limitações, que serão demonstradas e questionadas no presente estudo.
Ressalte-se que a nossa intenção aqui, não é questionar a nomenclatura do psicopata à luz do Direito Penal ou dos profissionais da área da saúde, mesmo acreditando que existem divergências nesse sentido. A intenção da pesquisa é fazer uma abordagem jurídica acerca da execução da pena aplicada ao condenado muitas vezes considerado inimputável em decorrência da sua psicopatia, a partir das opções existentes entre a substituição ou a redução da pena. 
Diante dessas situações, procuramos responder ao seguinte questionamento: Em relação a responsabilidade penal do psicopata à luz da legislação penal e processual penal brasileira, qual é o tratamento dispensado ao psicopata criminoso em resposta ao ato ilícito por ele praticado?
Assim essa relação existente entre o comportamento criminoso e a presença da psicopatia em indivíduos é o principal objeto de estudo do presente artigo que tem por objetivo compreender as razões morais e sociais, além das motivações que levam um psicopata a delinquir, analisando sua personalidade, a perspectiva sociocultural na qual está inserido e os mecanismos de resposta e sanções do Direito Penal brasileiro para os crimes praticados por esses elementos.
Para tanto, o presente estudo é baseado em uma pesquisa de caráter descritivo-bibliográfica, utilizando-se de livros, artigos científicos e publicações eletrônicas, dentre outros recursos disponíveis dentro do tema proposto, que nos ajudaram a construir um referencial teórico para o trabalho. Foram citados autores como Rogério Greco e Guilherme de Souza Nucci da área jurídica e Erwing Goffman, na seara jurídica - psiquiátrica, os quais as obras foram de suma importância para estabelecer os conceitos necessários para o desenvolvimento e a conclusão da pesquisa.
Ainda em relação ao aspecto metodológico, a pesquisa foi dividida em três momentos onde serão demonstrados os traços definidores da psicopatia, atentando ao quadro legislativo atual, com foco na finalidade das sanções e a problemática da imputabilidade criminal. Exemplos verídicos, muito próximos de nossa realidade, serão utilizados para auxiliar na compreensão da realidade que propomos investigar, tecendo por fim, uma reflexão crítica acerca do tema, por meio de considerações finais. 
2 ASPECTOS GERAIS DA PSICOPATIA
2.1 Histórico e conceitos
Quando pensamos em psicopatas é muito comum vir em nossas mentes figuras notáveis como Adolf Hitler ou Charles Manson, por exemplo. Não se pode negar que estes indivíduos realmente praticaram o mal por meio de crimes bizarros e grotescos, mas por outro lado, não se pode atribuir a eles a alcunha de psicopatas como sinônimo de assassinos, serial killers ou lunáticos. 
De acordo com Damasceno (2014), a psicopatia abrange muito mais do que a imagem criada pela mídia e pela própria sociedade. É muito comum o uso do termo “psicopatia” em filmes,novelas, ou pela mídia para atrair aqueles que de certa forma despertam interesse pelo tema e essa midiatização da psicopatia faz com que as pessoas acreditem que os psicopatas são apenas assassinos, ou criminosos de alta periculosidade, frios, desalmados e cruéis.
Segundo Cordeiro (2003), o termo “psicopata” foi empregado, a priori, para designar alguns comportamentos que eram vistos como repugnantes pela sociedade. A discussão efetiva sobre a problemática da psicopatia se iniciou já no final do século XVIII, quando alguns estudiosos da área, dentre os quais psiquiatras e filósofos, passaram a estudar a relação entre o livre arbítrio e as transgressões morais cometidas por indivíduos com distúrbios de personalidade. 
Foi o médico psiquiatra Philippe Pinel que em 1801, passou a estudar e verificar alguns pacientes com atos impulsivos ou autodestrutivos, que mesmo assim possuíam a habilidade de raciocínio preservada e, em alguns casos, eram conscientes do que estavam praticando.
 Foi por meio dos estudos de Pinel que se verificou a possibilidade de haver um indivíduo insano, mas livre de perturbações mentais. Daí também a origem da expressão “ficar pinel”.
Segundo Damasceno (2014), alguns estudos mais recentes sobre a psiquiatria no século XX, apontavam que o indivíduo psicopata demonstra uma identidade deformada, com algumas dificuldades em programar sua vida ou dota-la de uma continuidade biográfica. É um indivíduo com pouca aptidão para formar símbolos e controlar impulsos, o que tende a ser descarregado mediante ações muitas delas criminosas.
De acordo com Goffman (2005), o conceito de psicopatia não é uniforme. Há quem afirme que existam até quatro acepções atualmente, quais sejam a latu sensu, que seria qualquer transtorno e que antigamente era concebido como loucura; uma enfermidade degenerativa hereditária, com temperamento cíclico; personalidades anormais que sofrem pela própria sociedade e ainda um transtorno mental centrado especificamente no caráter dos indivíduos que o apresentam.
Como bem explica Vieira D’assumpção (2011):
(...) os psicopatas são completamente diferentes dos seres humanos, embora sejam considerados da mesma espécie, pois são desprovidos de emoção ou sentimento, portanto, sendo impossível se colocar no lugar do próximo, ou seja, haver algum tipo de sentimento em relação ao outro. É importante ressaltar que os psicopatas possuem níveis variados de gravidade: leve, moderado e grave. Os primeiros se dedicam a trapacear, aplicar golpes e pequenos roubos, mas provavelmente não cometerão assassinatos. Já os últimos são cruéis e sentem prazer ao realizar seus atos brutais. (VIEIRA D’ASSUMPÇÃO, 2011, p. 10).
Ressalte-se que a psicopatia não possui uma cura específica, em se tratando de um transtorno de personalidade e não de um período momentâneo de alterações comportamentais. Por outro lado, é necessário verificar que o transtorno apresenta formas e graus diversificados e apenas nos casos mais graves é que se observam barreiras de convivência social intransponíveis. 
De acordo com Cordeiro (2003), além de psicopatas, esses indivíduos recebem ainda outras denominações, tais como sociopatas, antissociais, loucos, dentre outros, muitas vezes erroneamente. Os especialistas tendem a diferencia-los, mas alguns estudiosos ainda os tratam igualitariamente, inobstante o fato de a ciência já possuir meios de identificar as características da psicopatia, conforme veremos adiante.
2.2 A mente de um psicopata – características 
De acordo com Emilio (2013), algumas características inerentes à psicopatia são a indiferença aos sentimentos alheios, a frieza, o desrespeitos pelas normas de convívio social, incapacidade de manter relacionamentos mesmo na esfera familiar, a intolerância a frustrações naturais da vida, incapacidade de se sentir culpado pelos seus atos ou aprender com a experiência da punição e ainda propensão a mentir e culpar outrem pelos atos praticados por ele mesmo. 
Nas palavras do autor:
Salienta-se, contudo, que nem todas as pessoas que apresentam determinadas características como impulsividade, frieza ou insensibilidade, por exemplo, podem ser consideradas psicopatas, já que (...) a psicopatia é uma síndrome – um conjunto de sintomas relacionados. Os psicopatas, diferentemente das pessoas não psicopatas, são desprovidos de consciência moral, ou seja, estão absolutamente livres de constrangimentos ou julgamentos morais internos e podem fazer o que quiser, de acordo com seus impulsos destrutivos. (EMILIO, 2013, p. 8).
Segundo Damasceno (2014), os principais traços emocionais e interpessoais dos psicopatas são:
a) Eloquência e superficialidade: Os psicopatas de uma maneira geral são muito bem articulados e persuasivos nas histórias que contam, por outro lado, mesmo que consigam ludibrias as outras pessoas por meio da demonstração de um falso conhecimento inerente a qualquer área, facilmente revelam sua superficialidade se forem contestados por especialistas no assunto em questão, por exemplo.
b) Egocentrismo e grandiosidade: Para Disposti (2011), os psicopatas possuem uma visão extremamente egocêntrica e até narcisista e vaidosa do próprio corpo, dos seus valores e importância social, acreditam que conseguem viver de acordo com suas próprias regras e querem a todo custo exercer seu poder sobre os demais.
c) Ausência de remorso ou culpa: Os psicopatas de maneira geral apresentam total despreocupação com os efeitos muitas vezes devastadores de suas ações, tais como após o cometimento de um crime, embora sejam dissimulados e capazes de verbalizar ou exteriorizar algum tipo de remorso, mesmo que momentaneamente.
d) Falta de empatia: De acordo com Cordeiro (2003), os psicopatas são totalmente indiferentes aos direitos ou sofrimentos das pessoas, mesmo que esse sofrimento não seja decorrente de suas atitudes, concebendo as pessoas em sua volta como meros objetos. É capaz, por exemplo, de torturar ou mutilar suas vítimas com a mesma naturalidade de se cortar um bife durante a refeição.
e) Enganadores e manipuladores: O psicopata manifesta comportamento notadamente cativante, persuasivo e sedutor com o intuito de manipular as pessoas pra que atendam as suas necessidades ou desejos. Também é um excelente mentiroso, não se envergonha e não fica constrangido, é capaz de mudar rapidamente de assunto e refazer uma história para que pareça verossímil. 
f) Emoções rasas ou esparsas: Os psicopatas geralmente não possuem sentimentos como compaixão, amor, remorso. Suas demonstrações de afeto não passam de representação e muitas vezes não apresentam sinais de nervosismo como suor ou tremedeira, como bem cita Emílio (2013), os psicopatas:
(...) não possuem sentimentos como compaixão e respeito pelo próximo e, frequentemente, confundem amor com pura excitação sexual, tristeza com frustração e raiva com irritabilidade, o que leva muitos psiquiatras a afirmarem que tais emoções superficiais sentidas por eles não passam de “protoemoções”,ou seja, respostas primitivas a necessidades imediatas. Como bem salienta Maranhão: “suas ‘reações emocionais’ são ‘representações’ para produzir um determinado efeito programado: não passam de artifícios”. Até mesmo com relação ao medo, experimentos de laboratório revelam que os psicopatas, ao contrário da maioria das pessoas, não apresentam sensações corporais como suor nas mãos e tremedeira quando submetidos a situações desagradáveis. (EMILIO, 2013, p. 9).
De acordo com Damasceno (2014), em relação ao estilo de vida, o psicopata é impulsivo, procurando sempre viver o presente e pouco se importando com o futuro; fraco no controle de seus comportamentos, se mostrando bastante explosivos; possuem alta necessidade de excitação, ou seja, buscam por meio da prática de atos criminosos ou perigosos a diversão ou prazer; são irresponsáveis, não honram os compromissos pessoais e não são pontuais e possuem um comportamento adulto antissocial, transgredindo e ignorando as normas sociais.
Nesse sentido, quando cometem um crime, como um homicídio, por exemplo, são capazesde planejar e executar friamente o assassinato, com emprego de violência e frieza que lhes é peculiar. São considerados por alguns autores, como uma espécie de predador intraespécie, que utiliza de seu charme e persuasão para controlas os outros e satisfazer suas próprias necessidades.
2.3 Tipos de personalidade psicopata
De acordo com Goffman (2005), são vários os tipos e conceitos de personalidade psicopata, com características peculiares tanto no modo de ser quanto no modo de agir. Entre as personalidades psicopáticas estão os hipertímicos, os depressivos, os inseguros, os fanáticos, os explosivos, os inconstantes, os ostentativos, os insensíveis e os abúlicos, conforme veremos adiante.
a) Psicopatas hipertímicos: Os psicopatas hipertímicos apresentam como característica mais forte uma grande emotividade, com apresentação de picos de euforia ou de fúria;
b) Psicopatas depressivos: De acordo com Cordeiro (2003), os psicopatas depressivos são indivíduos tranquilos, melancólicos, deprimidos e sempre descontentes. São fadigados crônicos, apresentam um sentimento de inferioridade, são autocríticos, e dificilmente são bem sucedidos justamente por esse motivo. Em muitos casos são depressivos, desconfiados. Poucos cometem crimes, mas alguns tendem ao suicídio;
c) Psicopatas lábeis do estado de ânimo: São aqueles que possuem um estado de ânimo que oscilando desproporcionalmente, e que apresentam crises de irritação. São extremamente mau humorados e irritáveis.
d) Psicopatas de instintividade débil: De acordo com Milhomen (2013), esses psicopatas, também chamados de anancásticos, possuem um padrão de perfeccionismo e inflexibilidade. Possui temperamento descontrolado e apresenta dificuldade em compreender seus próprios sentimentos, confundindo, por exemplo, o sentimento de raiva com o de vingança, o que pode estimular a prática de crimes.
e) Psicopatas sem sentimentos: De acordo com Goffman (2005) esses psicopatas são delinquentes por natureza em virtude justamente na ausência de sentimentos como culpa ou remorso. São muito perigosos na medida em que são inteiramente sociáveis e não demonstram essa falta de sentimentos em público.
f) Psicopatas carentes de afeto: Esses indivíduos tiveram a ausência de carinho e afeto em suas vidas e desenvolveram a psicopatia baseada nessa lacuna sentimental. São indivíduos antissociais e dissimulados, podendo apresentar sinais de depressão e quadros de suicídio. 
g) Psicopatas fanáticos: Segundo Damasceno (2014), a característica marcante nesses indivíduos é uma tendência injustificável de interpretar as ações das pessoas ao seu redor como ameaçadoras ou humilhantes. Esses indivíduos supervalorizam sua importância e não admitem que seus pontos de vista sejam contestados. Valoriza suas ideias e são fanáticos em alguma área, quer seja religioso, político, esportivo ou profissional. 
h) Psicopatas inseguros de si mesmo: Também conhecidos como psicopatas abúlicos, possuem total incapacidade do seu potencial volitivo, ou seja, o enfraquecimento de suas vontades. São facilmente influenciáveis, absorvendo os bons e maus exemplos do meio em que vivem. 
Este indivíduo é comumente associado ao quadro de depressão, e possui dificuldades em tomar decisões desde as mais simples como a escolha de uma roupa até as mais difíceis como em quem votar na eleição. 
i) Psicopatas astênicos: Segundo Goffman (2005) são indivíduos sensitivos, dominados pelos sentimentos de incapacidade ou inferioridade. 
Passaremos adiante a uma análise das respostas do ordenamento jurídico brasileiro aos crimes cometidos por psicopatas, tanto em relação as sanções aplicadas, quanto em relação à execução das penas e a discussão acerca da imputabilidade ou não desses indivíduos. 
3 A RESPOSTA DO DIREITO PENAL: AS PENAS E MEDIDAS DE SEGURANÇA
De acordo com Costa (2014), ante a presença de psicopatas em nossa sociedade, precisamos de um sistema de controle social cada vez mais efetivo que consiga aplicar as sanções corretas ao indivíduo que porventura venha a infringir uma determinada norma. Nesse sentido, dentre os meios punitivos destaca-se o Direito Penal, que objetiva proteger aqueles direitos mais importantes e, por isso, detém as medidas punitivas mais gravosas.
Assim, tendo em vista que o Direito Penal é que possui a força diferenciada de sancionar o indivíduo, não podemos vulgariza-lo e utiliza-lo de maneira inconsequente em qualquer caso. Muito pelo contrário, o Direito Penal deve ser tido como ultima ratio, no sentido de que a criminalização de uma conduta só é legítima se constituir um meio necessário para a proteção de um bem jurídico, como a vida ou honra das pessoas.
Segundo Oliveira (2012) isso ocorre por que a sanção penal é mais gravosa que qualquer outra e pode ser dividida de acordo com o Código Penal vigente em penas e medidas de segurança. Em relação aos crimes praticados por indivíduo psicopata, faz necessário analisarmos cada uma dessas medidas, suas possibilidades e consequências, assim como a análise de qual seria a resposta cabível ao psicopata transgressor da norma penal. 
3.1 As penas
Conforme bem explica Nucci (2012), a pena consiste em uma sanção aplicada pelo Estado, através de ação penal, ao autor de um delito como forma de retribuição e prevenção. A sua finalidade é reeducar o delinquente, retirando-o do convívio social por um determinado tempo, para reafirmar em sua personalidade os valores sociais protegidos pelo Direito Penal. 
De acordo com Teles (2014), a primeira forma de punição aos crimes de natureza grave, cometidos por psicopatas é a pena privativa de liberdade. Em relação ao cumprimento de pena privativa de liberdade por psicopatas no ordenamento jurídico brasileiro, devemos destacar que muitas vezes esses indivíduos se passam presos “modelo” no intuito de conseguir a redução penal e se utilizam de sua persuasão para ameaçar ou intimidar outros presos. 
Nas palavras de Emílio (2013):
A capacidade de manipulação dos psicopatas homicidas é tão saliente que tentam ludibriar o advogado, o promotor, o juiz e até mesmo a família da vítima e os próprios peritos de sua inocência ou de sua insanidade. Levando-se em consideração sua alta capacidade de simular arrependimento, estes indivíduos possuem grandes chances de conseguir liberdade e voltar ao convívio da sociedade, contudo, sua personalidade os impulsiona a cometer novos crimes (estima-se que 70% deles reincidem quando soltos), já que não mudam o próprio comportamento durante o tempo que estão na prisão. (EMÍLIO, 2013, p. 20.).
Conforme explicita Oliveira (2012), cabe ao Magistrado a fixação do regime inicial da execução da pena ao acusado, sendo determinantes os critérios de natureza do delito, quantidade da pena e reincidência do agente. Na ocasião em que não se verifica uma ligação entre esses três elementos, o juiz deve observar as circunstancia do art. 59 do Código Penal atendendo a culpabilidade, aos antecedentes, a personalidade do agente, dentre outros.
Nesse sentido, para o início do cumprimento da pena, em qualquer que seja o regime, o Código Penal estabelece em seus arts. 34 e 35 a realização obrigatória de exame criminológico, que consiste em uma pesquisa de antecedentes pessoais, familiares, sociais e psíquicos do condenado, com o objetivo de obter dados que possam descrever a sua personalidade, algo muitíssimo importante no caso do psicopata. 
Como bem cita Pereira (2016) o artigo 96 da Lei de Execuções Penais – LEP, dispõe que estes exames deverão ser feitos no centro de observação e os resultados serão encaminhados a Comissão Técnica de Avaliação e na ausência de um centro de observação, os exames poderão ser realizados pela própria Comissão Técnica, como prevê o art. 98 da citada Lei.
Por outro lado, inobstante a importância dos exames psicológicos para classificação do preso e elaboração do plano individualizador da pena adequada para cada condenado, infelizmente no Brasil, existem poucos técnicos habilitados para tal, assim como poucos meios de treinamento dos mesmos para comporem as ComissõesTécnicas de Classificação, conforme dados do próprio Ministério da Justiça.
3.2 As Medidas de segurança
Segundo Nucci (2012), os sistemas penais modernos têm como figuras centrais de preocupação os dois lados que se encontram em lados diversos na lide penal, ou seja, a vítima e o criminoso. De um lado tem-se a vítima, prejudicada pelo comportamento de um agente infrator das normas penais. No lado oposto, tem-se o criminoso, que pode ser visto como um sujeito comum que porventura falhou ou mesmo como um sujeito perigoso, que apresenta riscos a sociedade.
De fato, o conceito moderno de periculosidade foi trazido pela escola positiva, através da ideia de que a pena passava necessariamente pela tese da defesa social, buscando-se, além da punição, a ressocialização do criminoso. Assim, deve-se se ter a noção de periculosidade daquelas pessoas tidas como incapazes e ao invés de uma pena mais dura, recebam tratamento diferenciado, através de uma medida de segurança. 
A grande discussão ocorre em decorrência do disposto no art. 26 do Código Penal, no sentido de que somente as pessoas consideradas inimputáveis podem receber uma medida de segurança substitutiva de pena privativa de liberdade ou restritiva de direitos, ressalvados alguns casos de semi-imputabilidade, pois, na realidade, o psicopata não pode ser considerado inimputável, tendo em vista que não possui uma doença mental, mas um desvio de personalidade.
De acordo com Oliveira (2012) essa discussão em torno da natureza jurídica da medida de segurança divide-se em duas correntes. A primeira delas tem a medida de segurança como medida não penal. 
Mesquita Júnior (2014), por exemplo, assevera que a constatação da psicopatia impediria uma sanção penal e implicaria na internação em um hospital de custódia e tratamento psiquiátrico do indivíduo, como forma de medida de segurança, senão vejamos:
A medida de segurança não é pena, nem espécie de sanção penal. Ela será cumprida, preferencialmente, em hospital psiquiátrico. Entretanto, são raros os hospitais psiquiátricos existentes. De qualquer modo, o CEC preceitua: “art. 99. O Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico destina-se aos inimputáveis e semi-imputáveis referidos no art. 26 e seu parágrafo único do Código Penal. Parágrafo único. Aplica-se ao hospital, no que couber, o disposto no parágrafo único do art. 88 desta Lei. Art. 100. O exame psiquiátrico e os demais exames necessários ao tratamento são obrigatórios para todos os internados. Art. 101. O tratamento ambulatorial, previsto no art. 97, segunda parte, do Código Penal, será realizado no Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico ou em outro local com dependência médica adequada. (MESQUITA JÚNIOR, 2014, p. 371). 
De acordo com Vasconcelos (2012), a medida de segurança e a pena se diferenciam pelos seus métodos. A pena impõe ao indivíduo uma punição estritamente ligada ao ato delituoso cometido, enquanto a medida de segurança impõe ao criminoso portador de alguma anomalia psicológica um tratamento compulsório. 
No entanto, contradizendo Mesquita Junior (2014), não há como conceder uma medida de segurança com caráter meramente administrativo notadamente nos casos de indivíduos psicopatas. A medida de segurança, mesmo se distinguindo em termos de rigor, das penas comuns, e se embasarem na periculosidade do agente, não deixam de ser uma espécie penal.
De acordo com Cordeiro (2003), na realidade, quando se trata de infratores tidos como inimputáveis, por serem portadores de alguma moléstia mental, o nosso ordenamento jurídico ainda se encontra entrelaçado aos princípios da Escola Positiva. A esperança paira na sensibilidade dos legisladores e julgadores em utilizar a interpretação sistemática da norma jurídica, para buscar a melhor alternativa em relação a aplicação da medida de segurança ao psicopata.
Na verdade, apesar da legitimidade da discussão acerca da possibilidade ou não da imposição de medidas de segurança ao psicopata, essa se dá em decorrência da discussão acerca da sua imputabilidade, semi-imputabilidade ou inimputabilidade, o que não deveria ocorrer. O psicopata é totalmente imputável, e não por isso deve receber penas comuns, conforme veremos adiante. 
3.3 A imputabilidade x a semi-imputabilidade
De acordo com Costa (2014), os psicopatas não são loucos, tendo em vista os padrões psiquiátricos e jurídicos aceitáveis. Suas ações não são resultantes de uma mente perturbada, mas sim de uma racionalidade fria e calculista, combinada com uma enorme incapacidade de considerar os outros seres humanos como seres capazes de pensar sentir.
A psicopatia não é a loucura propriamente dita e não deve, é claro, ser tratada como tal. Por outro lado, não se mostra razoável e nem conveniente que pelo fato de os psicopatas não possuírem doença mental, seja dispensada a sua responsabilidade por eventuais atos criminosos praticados contra a sociedade. Na verdade, o que se defende aqui é uma espécie de meio termo, em que o psicopata deveria ter um atendimento especial, ou seja, nem ir para o sistema prisional e nem cumprir medida de segurança, mas cumprir uma pena privativa de liberdade em local adequado que permitisse em alguns casos, a sua reintegração social.
Boa parte da doutrina e da jurisprudência já compactua dessa ideia, no sentido de que diante de um crime, qual quer que seja a sua natureza, o Estado precisa agir, mesmo que o crime tenha partido de um louco moral (psicopata), na medida em que estes indivíduos não podem ser considerados inimputáveis, visto a ausência de sentimento de culpa e a distorção na sua personalidade.
É o mesmo que se extrai do julgado colacionado logo abaixo, do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais do ano de 2015, senão vejamos:
TJ-MG - APELAÇÃO CRIMINAL APR 10035130036292001 MG (TJ-MG). DATA DE PUBLICAÇÃO: 09/07/2015 EMENTA: apelação criminal - latrocínio - error in judicando - inocorrência - sentença devidamente fundamentada - absolvição imprópria - alegação de incapacidade de compreensão da ilicitude dos fatos - improcedência - inimputabilidade não comprovada - condenação mantida - autoria e materialidade comprovadas - reprimenda - redução - réu semi-imputável - situação não vislumbrada no laudo psiquiátrico forense - assistência judiciária gratuita - possibilidade. Se a decisão recorrida se mostra devida e necessariamente fundamentada, não há que se falar em error in judicando. Se o Laudo Pericial demonstra que o réu tinha capacidade de compreender a ilicitude dos fatos praticados, torna-se impossível a absolvição imprópria. Comprovadas a materialidade e autoria delitivas, mister a manutenção do édito condenatório. Não vislumbrada a semi-imputabilidade do réu não há que se falar em redução da pena pela aplicação do disposto no artigo 26 do Código Penal.
Nas palavras de Palhares (2012):
Adotando-se a posição majoritária que considera a psicopatia como um transtorno de personalidade antissocial, o qual não afeta sua capacidade de entendimento quanto ao caráter do ilícito e nem sua capacidade de determinar-se de acordo com esse entendimento, resta concluir que o psicopata, a priori, deve ser considerado pelo direito penal como um infrator imputável, ao qual deverá ser imposta uma pena como sanção adequada no caso de cometimento de infrações penais. (PALHARES, 2012, p. 10).
Por outro lado, conforme explica Teles (2014), parte da doutrina insiste ainda em afirmar que as punições para os crimes cometidos por individuo comprovadamente psicopata devem levar em consideração um caráter supostamente semi-inimputável do indivíduo, conforme podemos extrair do julgado abaixo, emanado do Tribunal de Justiça do Estado do Pará: 
TJ-PR - APELAÇÃO CRIME ACR 6546301 PR 0654630-1 (TJ-PR). DATA DE PUBLICAÇÃO: 10/06/2010 EMENTA: apelação criminal. Crime de furto. inimputabilidade não configurada réu semi-imputável, confirmado por laudo psiquiátrico. Redução da pena efetuada nos termos do art. 26 do código penal . Substituição da pena privativa de liberdade por medida de segurança. sentença mantida. Princípio da insignificâncianão aplicado ao caso. réu reincidente. Precedentes. Recurso não provido. "Se o agente, ainda que não privado da capacidade de entender o caráter ilícito do fato, não se mostra inteiramente capaz de determinar-se de acordo com esse entendimento em razão do uso compulsivo e reiterado de substância alcoólica, não lhe pode ser atribuída a responsabilidade penal como se tivesse o domínio dos atos de vontade, devendo-se reconhecer ao menos a semi- imputabilidade, nos termos do art. 26 , parágrafo único , 2ª figura do CP . (RJTACRIM 42/149-50)."A reincidência, apesar de tratar-se de critério subjetivo, remete a critério objetivo e deve ser excepcionada da regra para análise do princípio da insignificância, já que não está sujeita a interpretações doutrinárias e jurisprudências ou a análises discricionárias. “O criminoso reincidente apresenta comportamento reprovável, e sua conduta deve ser considerada materialmente típica.” (STF. 1ª Turma. HC 97772/RS. Rel (a). Cármen Lúcia. DJe. nº. 218. Publ. 19.11.2009).
Sendo assim, podemos afirmar que o psicopata não pode ser considerado inimputável. O psicopata não sofre de uma doença mental e sabe exatamente o que está fazendo quando comete um crime. O psicopata apesar dos distúrbios de personalidade não pode ser considerado um doente mental e consequentemente inimputável. 
O Estado deve optar pela imputabilidade desses indivíduos e talvez até pela semi-imputabilidade, observadas as adequações necessárias no modelo de execuções penal vigente, para o cumprimento de pena em local adequado, fora do convívio social e com condições de ser acompanhado por profissionais da área e, quem sebe, reinserido no meio social com o passar do tempo. 
3.4 Qual a sanção adequada para os psicopatas?
Conforme já foi citado anteriormente, no ordenamento jurídico brasileiro, são impostas penas ou medidas de segurança aos autores de infrações penais como forma de punição. Entretanto, diante da ausência de capacidade de aprendizado dos psicopatas por meio da sanção penal, deve-se observar o problema da reincidência criminal, não constituindo a pena em meio coercitivo e preventivo eficaz, como bem citamos.
De acordo com Vasconcelos (2012), seria inútil qualquer tipo de tentativa de reeducação do psicopata criminoso, porque não seria possível encontrar em sua personalidade qualquer nível ético em que possa trabalhar. Em verdade, os psicopatas iniciam as práticas delituosas precocemente, são os indivíduos mais indisciplinados dentro do sistema prisional e apresentam respostas insuficientes nos programas de ressocialização. 
Conforme explica Palhares (2012):
Como se não bastasse, o psicopata também é refratário a tratamentos psicoterápicos ou medicamentosos, sendo que a internação para tratamento psiquiátrico ou o tratamento ambulatorial também não se mostram eficazes para esse público, além de inadequados, uma vez que são considerados imputáveis. Outrossim, os especialistas afirmam que os psicopatas desestruturam as próprias instituições de tratamento, burlam as normas de disciplinas, contribuindo para aumentar a fragilidade do sistema, além de que instalam um ambiente negativo onde quer que se encontrem. (PALHARES, 2012, p. 11).
Sendo assim, pode-se concluir que aos psicopatas devem ser aplicadas penas e não medidas de segurança, observando o fato de que a segregação desses indivíduos com outros presos se revela perigosa para o sistema prisional e para a própria sociedade. 
Nesse sentido, alguns países desenvolvidos, como EUA e Alemanha, por exemplo, aplicam a pena restritiva liberdade mesmo aos psicopatas, mas dispõe de ambientes separados para o cumprimento da pena dos mesmos. Ou seja, o psicopata é condenado normalmente pelo eventual cometimento do crime, mas na execução penal tem uma particularidade em relação ao cumprimento da pena. 
Segundo Oliveira (2012), os psicopatas necessitam de supervisão e acompanhamento rigoroso e diferenciado, sendo que alguma falha nesse sistema pode trazer consequências imprevisíveis. Por isso, as penas cumpridas pelos psicopatas devem ter o acompanhamento e execução diferenciada dos demais presos, visando a segurança no ambiente carcerário e na própria sociedade. 
Palhares (2012) sugere nesse aspecto, a utilização de um sistema chamado de “psychopathy checklist” ou PCL no sistema prisional brasileiro, senão vejamos:
Assim, a utilização do psychopathy checklist ou PCL no sistema prisional brasileiro permitiria a identificação dos sentenciados portadores desse transtorno antissocial (quando a identificação não tiver ocorrido durante o processo criminal), separando-os na execução de suas penas dos demais sentenciados, disponibilizando pessoal tecnicamente preparado para lidar com esse público e suas peculiaridades (uma vez que os psicopatas sabem dissimular bom comportamento e regeneração, entretanto, estando em liberdade, certamente voltam a delinquir). Trata-se da efetivação do princípio da individualização da pena na fase de execução criminal. (PALHARES, 2012, p. 12).
De acordo com Milhomen (2013), o PCL é o instrumento mais adequado em forma de escala para avaliar a psicopatia e identificar os fatores de risco de violência de maneira a diferenciar o tratamento desses indivíduos na perspectiva da execução penal. O sistema tem sido adotado com sucesso em diversos países e contribuído para a intervenção terapêutica na vida dessas pessoas dentro do próprio sistema prisional. 
Ressalte-se por fim, um sistema diferenciado de execução penal se mostra ainda mais importante, tendo em vista que o psicopata muitas vezes possui boa conduta carcerária apenas em face de interesses secundários, como da diminuição da pena. A implantação de um sistema diferenciado permitiria auferir, por intermédio de uma equipe interdisciplinar, a real evolução do sentenciado portador de psicopatia no decurso de cumprimento da pena. 
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS 
Conforme se depreende do presente trabalho o sistema penal brasileiro não se encontra preparado para os casos de crimes que envolvem indivíduos psicopatas, mesmo tendo em vista as sanções impostas e os casos de semi-imputabilidade previstos no Código Penal vigente. Ocorre que o indivíduo psicopata não desenvolve nenhum aprendizado em função das sanções que lhe são impostas em decorrência da pratica delituosa, tampouco se comporta como um indivíduo social, pois é agressivo, egocêntrico e insensível.
Por meio deste estudo ficou bastante claro que, juridicamente, o psicopata não pode e nem deve ser considerado um doente mental, tendo em vista que a psicopatia se trata de um distúrbio que afeta a personalidade e não uma anormalidade psíquica. Essa diferença é fundamental para determinar o grau de imputabilidade penal destes indivíduos, em decorrência de que acarreta ou não a presença do sentimento de culpa. 
Por outro lado, analisando os crimes cometidos por psicopatas, algumas de suas características se mostram bastante marcantes. O psicopata não é capaz de sentir remorso ou afeto, tem maior propensão ao cometimento de crimes e continuar a pratica-los. 
Ademais, ele não é sociável, o que dificulta um eventual processo de ressocialização como um dos fundamentos da pena em nosso ordenamento jurídico. Nesse sentido, o psicopata se mostra ainda mais perigoso, por que pode usar sua capacidade persuasiva para manipular e dificultar a recuperação de outros indivíduos apenados. 
Nota-se que os doutrinadores jurídicos pouco se manifestam sobre a psicopatia, e em relação as alternativas para os psicopatas que cometem algum tipo de delito. Na verdade o foco se concentra em demonstrar os conceitos e fixar a pena sem qualquer preocupação com as consequências do processo de execução penal. Os psicopatas são tratados à margem da sociedade como indivíduos perversos, e por isso tendem a ficar presos por mai tempo em relação aos criminosos comuns. 
Ressalte-se que essa pesquisa não buscou discorrer sobre o ambiente em que vive o psicopata ou mesmo como foi sua criação ou vida pregressa, mas sim em como esse indivíduo convive no meio socialdo qual faz parte, quer seja cometendo delitos, quer seja prejudicando outras pessoas em razão de que no ambiente carcerário, sob os efeitos do processo de prisionização, o psicopata tem totais condições de exercer seu poder de manipulação sobre seus companheiros de prisão e até mesmo sobre os agentes públicos.
Em relação à medida de segurança, foi verificado que é sanção que mais se aproxima dos ideais doutrinários, uma vez que o indivíduo será posto em liberdade apenas após a verificação da cessação de sua periculosidade. A problemática maior é centrada na questão da psicopatia criminal ainda não possuir cura ou tratamento. Além disso, há um risco eminente de erro humano no tocante a avaliação psicológica do indivíduo que pode ser posto em liberdade erroneamente, tendo em vista que os exames são irrefutáveis.
Uma alternativa nesse sentido seria abranger a individualização da pena no sentido do seu cumprimento e ainda na manutenção de um ambiente diferenciado onde o criminoso psicopata pudesse ser isolado dos presos comuns, apesar das divergências nesse sentido. 
Outra ideia interessante seria colocar o psicopata em um hospital de custódia e tratamento psiquiátrico, separados dos doentes mentais. Essas medidas talvez não sejam a solução para o problema em geral, mas meios viáveis em longo prazo, tendo em vista a inexistência de tratamento e cura.
Sendo ou não as melhores alternativas, as leis brasileiras poderão ter função primordial a partir do momento em que tratarem de uma sanção penal exclusiva para o preso psicopata, além de trata-lo de maneira diferente dos demais condenados quando da execução das penas. Não há qualquer motivo para apreensão em relação a rotulação, tendo em vista que verificada a psicopatia em um indivíduo, esta apenas será utilizada para dar especificidade a sanção penal.
Elaborar uma pesquisa com estes tipos de informação se mostrou gratificante na medida em que é imprescindível que o jurista moderno esteja por dentro dos aspectos da psicopatia, tendo em vista ser um perfil cada vez mais comum de transgressores, que possui particularidades que podem passar despercebidas no decurso do processo penal, quer seja para imputabilidade do transgressor, quer pela absolvição do mesmo.
Por fim, é necessário lembrar que, em relação ao tema, o fundamento do Direito se encontra nos indivíduos imputáveis e que sob o ponto de vista legal podem ser recuperados e reinseridos no convívio social. O que ocorre é que o psicopata visto como um transgressor nato acaba desenvolvendo características que o tornam inapto ao convívio social e como consequência disto, o indivíduo passa a ser ignorado.
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* Bacharelando no 10º período do curso de Direito do Centro Universitário de João Pessoa – Unipê, arthurmonteiro17@gmail.com, onde agradeço à minha família que me incentivou e me proporcionou essa oportunidade única, aos meus amigos e colegas de curso pela amizade e companheirismo e a minha orientadora pela atenção minha pessoa.
** Onélia de Setúbal Rocha de Queiroga, Docente do curso de Direito do Centro Universitário de João Pessoa – Unipê, Mestre em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco.

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