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CUMPRIMENTO DE SENTENÇA E PROCESSO DE EXECUÇÃO 1 Cumprimento de Sentença e Processo de Execução CUMPRIMENTO DE SENTENÇA E PROCESSO DE EXECUÇÃO 2 CUMPRIMENTO DE SENTENÇA E PROCESSO DE EXECUÇÃO AULA 1: TEORIA GERAL DA TUTELA DE EXECUÇÃO 1 - A tutela de execução e o CPC: realização de direitos e pretensões materiais de títulos executivos judiciais e extrajudiciais O acesso à Justiça é sem dúvida um tema recorrente no âmbito da academia, em seus diversos e amplos aspectos de abordagem, pelas condições econômicas daqueles que pretendem demandar ou demandados são; pela celeridade que se espera de atos e ritos processuais como um todo; pelo comportamento dos sujeitos do processo; pela possibilidade de recursos; entre outros temas. Após a promulgação da Constituição de 1988, o Brasil viveu períodos de reforma da legislação processual e reestruturação do Poder Judiciário em prol de um aumento quantitativo e qualitativo de acesso à Justiça (não necessariamente acesso ao Poder Judiciário). Até os meios alternativos à jurisdição rebatizados de meios adequados receberam em décadas e com prioridades distintas a devida atenção do legislador em prol de melhores resultados de satisfação na solução formal e material dos conflitos. Em sede do que demonstrava ser um desfecho legislativo, chegou-se ao Código de Processo Civil de 2015 (CPC/2015) repleto de ajustes em sede de teoria geral do processo, tutela de conhecimento de primeiro grau e recursais com novidades pautadas em padrões decisórios intitulados de precedentes, entre outros temas. No âmbito da tutela de execução, o CPC funcionou mais como uma consolidação das alterações legislativas levadas a cabo desde meados dos anos 1990, consolidando o sincretismo processual com uma melhor distribuição de ritos de cumprimento de sentença, e valorizando importantes alterações para a ação e a defesa em sede de CUMPRIMENTO DE SENTENÇA E PROCESSO DE EXECUÇÃO 3 processos de execução de títulos executivos extrajudiciais. Sim, o CPC em sede de tutela de execução, foi um misto de consolidação e ajuste fino, mas não trouxe, do ponto de vista legislativo, nenhuma grande pérola a ser desvelada. Pois bem. Então a tutela de execução continua sendo “tutela de execução”. E você, caro acadêmico em especialização, caro advogado ou profissional das demais funções essenciais ao funcionamento da Justiça, consegue descrever, em poucas palavras, o que seria a “execução” enquanto tutela jurisdicional prestada pelo Estado Juiz? Vamos experimentar? Por tutela de execução podemos entender a atividade estatal do Poder Judiciário em realizar o direito material e as pretensões de respectivos titulares existentes em decisões judiciais e outros documentos que a lei chama de títulos executivos extrajudiciais. Em ambos os casos, dever haver sempre certeza, liquidez e exigibilidade presentes – exatamente como você já aprendeu na lei e na doutrina como requisitos de qualquer título executivo. Se assim entendermos a tutela de execução, encontraremos no CPC as denominações de cumprimento de sentença e processo de execução, sem prejuízo de outros tópicos que devemos e podemos agregar em comentários. Ao olhar inicialmente o CPC, encontramos o seguinte: • Cumprimento de sentença (arts. 513 a 538) – dispositivos destinados à ritualística do exercício da ação, à jurisdição e a uma possível defesa na fase de cumprimento de sentenças com conteúdo condenatório de obrigações diversas, dividido, na prática, em cinco ritos processuais possíveis. • Processo de execução (arts. 771 a 925) – dispositivos destinados à ritualística do exercício de ação, à jurisdição e a uma possível defesa nos processos que têm como objeto uma ou mais obrigação certa, líquida e exigível. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA E PROCESSO DE EXECUÇÃO 4 Você consegue ter a mesma visão? Pensou em situações distintas? Vamos ver se há alguma semelhança com as observações a seguir e que serão essenciais para que você compreenda a metodologia das aulas da disciplina, incluindo vídeos, material de apoio e tudo mais, ok? O que você precisa incialmente saber da tutela de execução no CPC para a presente aula e a sequência dos estudos na disciplina: • O conteúdo “Cumprimento de Sentença” prevê cinco ritos diferentes para a fase de cumprimento de uma sentença condenatória. De acordo com a combinação de critérios objetivos (obrigação) e subjetivos (credores/devedores), o legislador diferenciou os ritos, isto é, diferenciou o que cada advogado, juiz, promotor e todos que eventualmente participem do processo pode ou deve praticar em relação a atos processuais. • Apesar de não estar explícito no título, o “cumprimento de sentenças” também regula a execução de decisões judiciais interlocutórias e monocráticas, normalmente concessivas de tutelas provisórias. Os critérios acima são os mesmos. • Também não é explicado de forma clara e inicial, mas existem dispositivos do conteúdo do “Processo de Execução” que são comuns, pois inerentes a toda e qualquer execução como disposições gerais, princípios, responsabilidade patrimonial e a fase comum de expropriação patrimonial nos casos de títulos executivos com obrigação de pagar quantia certa (judiciais ou extrajudiciais). Regulação da penhora, avaliação, depósito, alienação antecipada são apenas alguns exemplos de temas que são de uso comum. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA E PROCESSO DE EXECUÇÃO 5 Ficou surpreso? Pois é, mas pode conferir em seus casos práticos da advocacia se não é isso que ocorre. Verifique também em sua doutrina de estudo como o tema é tratado e reflita. É possível que você esteja adquirindo a visão mais completa agora. Se não ficou surpreso, ótimo! Sinal de que você em algum momento já percebeu que o legislador “fala menos do que deveria”. Certamente, no campo legislativo da tutela de execução, isso ocorre. Se discordou, faça uma nova leitura dos dispositivos legais e depois as seguintes reflexões: • Que dispositivos regulam como devem ser cumpridas as tutelas provisórias? • É possível identificar as diferenças dos atos processuais a serem praticados se decisão judicial condenatório for de fazer, não fazer, dar ou pagar quantia certa, inclusive no caso de alimentos e também em face da Fazenda Pública? • Qual a razão do legislador não regular no “ Cumprimento de Sentença” os atos de penhora, avaliação e depósito? Após suas reflexões e um olhar no passado do CPC de 1973, você perceberá que o tema da Execução era tratado como objeto do Livro II. As sentenças eram “executadas” de modo muito similar aos processos de execução dos títulos extrajudiciais. Por tal razão, e por uma opção legislativa, optou o CPC manter normas de aplicação para a execução de ambas as execuções. Entendeu? Vamos agora ver alguns princípios aplicáveis à tutela de execução, tanto de títulos executivos judiciais e como extrajudiciais. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA E PROCESSO DE EXECUÇÃO 6 2 - Princípios aplicáveis à tutela de execução • Princípios do acesso à Justiça e razoável duração do processo – consagrados incialmente na CRFB/1988 e com grande aporte doutrinário jurisprudencial nas décadas seguintes, hoje reforçam o CPC em meio ao movimento formal e material de constitucionalização do Direito Processual (art. 5º, XXXV c/c art. 3º e 4º do CPC). • Princípio do título executivo – sem título executivo, não existe execução. Pode haver ação monitória ou ação de conhecimento originária, mas não execução. É necessário um título executivo certo, líquido e exigível (arts. 513, 515, 783 e 784 do CPC). • Princípio da responsabilidade patrimonial – juiz e advogados em regra não conseguem em autos processuais a produção de lastro patrimonial para assegurar a efetividade material das execuções.Limitações legais e contratuais e fraudes patrimoniais podem inviabilizar o resultado ou o desfecho único esperado (arts. 789 a 792 do CPC, Lei nº 8.009/90). • Princípio da efetividade da execução – a execução deve satisfazer o credor, preferencialmente com o direito e a pretensão originária. Princípio muito valorizado com as tutelas específicas das obrigações de fazer, não fazer e dar a partir dos anos 1990. Luiz Guilherme Marinoni é um autor que merece reconhecimento e leitura pelo pioneirismo e pelo tempo dedicado ao tema (arts. 139, IV; 536-538 e 806-823 do CPC). • Princípio da menor onerosidade para o executado – a execução dever ocorrer na medida do título e, quando houver possibilidade do cumprimento originário ou equivalente ocorrer por mais de um meio, que seja eleito o de menor gravidade (patrimonial e pessoal) ao devedor, CUMPRIMENTO DE SENTENÇA E PROCESSO DE EXECUÇÃO 7 garantidor ou mesmo terceiro que possa suportar a execução (art. 805 do CPC). • Princípio do contraditório e defesa – ainda que seja um tema polêmico em sede de doutrina e jurisprudência, fato é que com a CRFB/1988 e o CPC em vigor, o devido processo legal e todos os seus corolários devem estar presentes em processos judiciais. Por óbvio, que não necessariamente de forma idêntica da fase cognitiva, como, inclusive, já ocorre na fase recursal (conhecimento em instâncias superiores). O direito à impugnação e ao livre peticionamento para alegar inconsistências processuais e fatos supervenientes por si só demonstram o respeito. O CPC em vigor, art. 10, reforça a posição adotada (arts. 10, 525 do CPC c/c art. 5º, LIV e LV da CRFB/1988). • Princípio do desfecho único – é nítida a diferenciação do tratamento legislativo em relação aos atos do exequente, juiz e executado em sede de tutela de execução se comparado aos processos em fase de conhecimento. Tal fato se dá em razão e como corolário direto do princípio do título a sua presunção de legalidade e executoriedade. Por tal razão, por exemplo, executados são intimados ou citados para pagar e não apenas, apresentar “resposta” (arts. 523 c/c 775 do CPC). Não se preocupe, pois o tema dos princípios e sua aplicação prática serão revisitados no decorrer das aulas. 3 - Competência para a tutela de execução no CPC O tema da competência é tratado de forma relativamente simples pelo CPC para efeito da tutela de execução de títulos judiciais e extrajudiciais. Para além de simples, a legislação obedece à lógica da formação dos títulos e sua natureza material. Vamos ver cada caso de tratamento legislativo e os pontos de atenção que precisamos levar em consideração na prática da advocacia: CUMPRIMENTO DE SENTENÇA E PROCESSO DE EXECUÇÃO 8 → Competência – cumprimento de sentença A competência para a chamada fase de cumprimento de sentenças vem regulada no art. 516 do CPC e traz as seguintes hipóteses, órgãos competentes e comentários: I – Tribunal – valorização da perpetuação da competência (competência originária). II – Juízo prolator da sentença de 1º grau – valorização da perpetuação da competência). III – Juízo cível competente – nos casos de sentença pela condenatória, sentença arbitral, sentença estrangeira, ou acórdão proferido por Tribunal Marítimo – aqui, como os títulos não foram originariamente gerados no processo civil (brasileiro ou não), o legislador remete às regras de competência que você analisaria em sede de exercício de ação de conhecimento, nos termos dos arts. 42 a 69 do CPC. → Possibilidades de modificação da competência – cumprimento de sentença Por outro lado, o parágrafo único permite a mitigação do princípio da perpetuação da competência nos casos de: I – bens localizados em comarca/seção judiciária distinta; II – atual domicílio do executado; III – juízo do local onde deva ser cumprida a obrigação. Repare que, nesses casos, a intenção do legislador, valorizando os princípios do desfecho único e da efetividade de execução (vistos acima), é aproximar o credor já em execução (exequente) do patrimônio ou da maior realidade fática para se chegar ao cumprimento da tutela específica, nos casos de obrigações de fazer, não fazer e dar. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA E PROCESSO DE EXECUÇÃO 9 Competência – processos de execução No caso dos processos de execução de títulos executivos extrajudiciais, o legislador também valoriza, de modo flagrante, os mesmos princípios citados anteriormente (desfecho único e efetividade da execução), apenas variando em mais opções, considerando que nos casos dos títulos extrajudiciais a liberdade de contratação (art. 421 do Código Civil), por exemplo, pode gerar mais opções do que as previsões dos arts. 42 a 69 do CPC. São as seguintes hipóteses e os respectivos órgãos competentes: I – foro de eleição, domicílio do executado ou de situação dos bens; II - pluralidade de domicílios, em qualquer um deles; III – incerto ou desconhecido o domicílio, onde for encontrado ou foro do domicílio do exequente; IV – local do ato ou fato que deu origem ao título, mesmo que tenha ocorrido modificação de residência ou domicílio do executado. Todas as normas refletem a valorização do acesso à Justiça, aqui considerado o acesso facilitado do credor (futuro exequente) em busca do patrimônio e ou bens específicos (móveis ou imóveis) do devedor (futuro executado). Tal valorização faz todo sentido, considerando que a execução no processo civil é de cunho patrimonial, inclusive nos casos de obrigações de fazer, não fazer e dar. Inexistindo a possibilidade da prestação originária ou mesmo outra fungível ou por equivalência, a resolução, a cargo do credor/exequente, se dará por perdas e danos. REFERÊNCIAS ARAÚJO, Luis Carlos de. Curso do novo processo civil. Rio de Janeiro: Editora Freitas Bastos, 2015. ASSIS, Araken de. Manual da execução. 20. ed. Rio de Janeiro: Revista dos Tribunais, 2018. BUENO, Cassio Scarpinella. Curso sistematizado de direito processual civil: tutela jurisdicional executiva. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2019. v. 3. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA E PROCESSO DE EXECUÇÃO 10 MARINONI, Luiz Guilherme. Tutela de urgência e tutela de evidência: soluções processuais diante do tempo da justiça. 2. ed. Revista dos Tribunais, 2018. NEGRÃO, Theotonio et al. Código de processo civil e legislação processual em vigor. 50. ed. ver. e atual. São Paulo: Saraiva, 2019. PINHO, Humberto Dalla Bernardina de. Manual de direito processual civil contemporâneo. 1. ed. São Paulo: Saraiva, 2019. AULA 2: RESPONSABILIDADE PATRIMONIAL 1 – Responsabilidade patrimonial Na aula 1, vimos que a tutela de execução é a atividade estatal do Poder Judiciário em realizar o direito material e pretensões de respectivos titulares existentes em decisões judiciais e outros documentos que a lei denomina títulos executivos extrajudiciais. Ao validarmos tal conceito, implicitamente compreendemos que para a realização do direito material e pretensões é necessário haver um lastro patrimonial para as execuções de pagar quantia certa e alimentos, por exemplo. E que também é necessário o lastro patrimonial no caso de impossibilidade de cumprimento da tutela específica das obrigações de fazer, não fazer e dar, pois pode ser que seja necessário convolar a execução para quantia certa, de modo a recuperar, em dinheiro, aquilo que não foi honrado na prestação originária. Então, é justamente nesse ponto que entra a noção inicial para conceituar a responsabilidade patrimonial de uma pessoa natural ou jurídica. Sim, todos nós, sem exceção, temos uma esfera jurídica pessoal e uma esfera jurídica patrimonial. A reponsabilidade patrimonial pode ser conceituada como “parte do patrimônio de pessoa natural ou jurídica apta a responder voluntária ou involuntariamente pelo cumprimento de suas obrigaçõesnão honradas originariamente”. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA E PROCESSO DE EXECUÇÃO 11 Partindo do conceito inicial e levando em conta que a presunção de solvência das pessoas naturais e jurídicas e do mercado como um todo é positiva, parte-se da premissa de sermos todos completamente responsáveis (patrimonialmente falando) pelas obrigações que contraímos nos atos jurídicos que praticamos no dia a dia. Sim! Você pratica atos jurídicos, mesmo que às vezes não perceba, até que algo dê errado e você, ou outras pessoas envolvidas, se movimente em busca de seus direitos! Mas, se todos têm presunção de solvência, mas não, ou necessariamente não, estarão solventes na sequência temporal da vida, como ter segurança jurídica na prática? Como um advogado “pode ou não atestar” a solvência de uma pessoa natural ou jurídica e recomendar, se for o caso, a celebração de determinado negócio jurídico? Então, para todos os fins de direito, e respeitados os atos de natureza sigilosa, no Brasil, normalmente quando alguém se apresenta para negócios, esse alguém é “avaliado pelos bens que detém propriedade ou o exercício de outros direitos que possam conferir certo status patrimonial que normalmente varia bastante”. E a partir daí podemos sofrer consequências jurídica, tais como restrições explícitas e implícitas na disponibilidade de bens, limitações ao crédito, invalidação total ou parcial da prática de atos jurídicos que causam danos a credores e terceiros e possível condenação por má-fé processual! Você já tentou alugar um imóvel ou comprar um carro financiado no “feirão” do shopping ou na concessionária? Se já tentou, certamente teve de preencher questionários, juntar comprovante de renda (às vezes despesas), escrituras e certidões de bens imóveis etc. Tudo serve para que o mercado avalie seu risco de amanhã ser uma pessoa inadimplente ou mesmo insolvente. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA E PROCESSO DE EXECUÇÃO 12 Para tanto, além da Lei de Registros Públicos (Lei nº 6.015/1973), existe uma série de entidades privadas e públicas que dentro da abrangência de suas competências podem “avaliar e certificar seu status de crédito” mediante consulta sua ou de outrem. Quando isso ocorre, você estará carimbado como bom ou mau pagador (risco de crédito), algo que ajudará ou atrapalhará bastante na busca de crédito direto ou outras operações. Limitações à responsabilidade patrimonial É correto também afirmar que nem todo nosso patrimônio responde por nossas obrigações, considerando existir um mínimo essencial à sobrevivência humana e que o direito protege. No caso brasileiro, existe um referencial maior, que é a dignidade da pessoa humana, presente com ênfase na CRFB/1988, e que irradia para todo o nosso ordenamento jurídico material e processual verdadeiras “limitações” aos direitos de credores em face de devedores. E não são poucas as restrições ou mesmo vedações de se expropriar a totalidade de bens de um devedor para satisfazer um ou mais credores. Limitações legais Existe, como a lei, a doutrina e a jurisprudência gostam de observar, uma série de bens impenhoráveis, isto é, que não podem ser penhorados porque não poderão ser utilizados diretamente para atender aos direitos de credores. É o que chamamos de limitações legais. Elas podem ser: • Voluntárias: o art. 1.711 CC representa um bem de família específico com função social/moradia; • Involuntárias: a Lei nº 8.009/90 e os arts. 789-796, 833-836 do CPC trazem hipóteses que a própria lei protege o devedor com função social do trabalho, moradia, propriedade e capital. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA E PROCESSO DE EXECUÇÃO 13 Obs.: Jurisprudência tem papel significativo na prática da advocacia e utiliza princípios com referência teórica para resolução de casos concretos. Limitações contratuais Ao lado das limitações legais e considerando a liberdade de contratar prevista no art. 421 do Código Civil, e mais ainda na Medida Provisória nº 881/2019, existem as limitações contratuais, que permitem que as partes envolvidas em determinados negócios presentes e futuros possam “preservar parte de seus bens” em comum acordo para não serem afetados (um pelo outro) em caso de disputas jurídicas entre si, não podendo, obviamente, prejudicar terceiros. Atos atentatórios à dignidade da Justiça De qualquer modo, devedores devem ter para consigo, com terceiros e, se for o caso, com o Poder Judiciário a chamada boa-fé objetiva (art. 422 do CC) para não incorrer em suspeita de atos dolosos com o intuito de fraudar seus respectivos credores e a Justiça como um todo. Quando isso ocorre, estaremos diante de hipóteses de má-fé processual e no âmbito da tutela de execução, de atos atentatórios à dignidade da Justiça, conforme previsão do art. 774 do CPC que lista, sem prejuízo de outras práticas, o que seriam tais atos. Vejamos um por um: I – frauda a execução; Exemplo: alienação gratuita ou onerosa de bens após ciência de processo que poderia levar à sua insolvência. II – se opõe maliciosamente à execução, empregando ardis e meios artificiosos; Exemplo: dificulta o cumprimento de atos de intimação ou citação. III – dificulta ou embaraça a realização da penhora; Exemplo: busca confundir o oficial de Justiça em penhoras portas adentro, esconde veículos ou insinua ser apenas usuário quando é também proprietário CUMPRIMENTO DE SENTENÇA E PROCESSO DE EXECUÇÃO 14 IV – resiste injustificadamente às ordens judiciais; Exemplo: não cumpre prazos para informação patrimonial, entrega de bens etc. V – intimado, não indica ao juiz quais são e onde estão os bens sujeitos à penhora e os respectivos valores, nem exibe prova de sua propriedade e, se for o caso, certidão negativa de ônus. Exemplo: o próprio inciso V é claro em suas hipóteses (não taxativas). Em todos os casos, resta flagrante o dolo do devedor ou terceiro que pratica tais atos em burlar, seja com atrasos ou mesmo com intenção definitiva de encerrar a fase ou tutela de execução. Fraudes e remédios processuais Uma vez reconhecido o conceito de responsabilidade patrimonial e suas limitações legais e contratuais, importante tema a ser revisitado são os atos jurídicos materiais de alienação ou oneração de patrimônio com o intuito de fraudar credores ou credores e o sistema de Justiça – neste último caso, chamado de fraude à execução. São as fraudes e seus remédios processuais que veremos na sequência. Fraude a credores & ação pauliana A fraude a credores é caracterizada pela prática de atos jurídicos (processual ou extraprocessual) que lesam diretamente interesses patrimoniais de um credor. Trata- se de um instituto de previsão no direito material (art. 158 do Código Civil), mas opera também no campo do processo. Os atos aqui referidos não são atos novos a ser estudados, mas sim atos que vocês já viram no campo do direito privado, e que têm como objeto bens e direitos e respectiva alienação ou oneração a título oneroso ou gratuito, o que dolosamente reduz sua responsabilidade patrimonial, impedindo ou dificultando a satisfação do crédito de credores, fora ou dentro do juízo. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA E PROCESSO DE EXECUÇÃO 15 Fraude a credores Ex.: Devedor (pessoa natural) vende seus dois carros e se torna insolvente após a relação obrigacional de mútuo constituída com o Credor (banco), sem que houvesse processo judicial de cobrança. Elemento objetivo – Dano patrimonial (ativo < passivo) = Deve mais! Elemento subjetivo – Dolo de fraudar (ciência) = Sabe das consequências do ato! Ação pauliana – Ônus da prova do credor para invalidar o ato e retornar status. É importante para que se possa corretamente caracterizar o ato de fraude a certeza jurídica do momento em que alguém tem uma relação obrigacional (credor- devedor).Em outras palavras, quando podemos chamar alguém de devedor e ele entender que tem um ou mais credores? Não se recorda do direito civil? Pois bem, credor e devedor assim são chamados no momento da constituição da relação obrigacional. Se eu vou a um Banco e faço um empréstimo (mesmo que seja no caixa eletrônico) no dia 10 do mês de janeiro para pagar em 10 de dezembro do mesmo ano, a partir do dia 11 já sou devedor do banco, e o banco passa a ser meu credor. Qualquer ato de alienação do meu patrimônio com dolo de não gerar condições de honrar o compromisso em dezembro nem permitir uma cobrança judicial é, sem dúvida, uma hipótese de fraude aos credores. Nesses casos, descoberto tempestivamente pelo credor o ato de alienação, pode ele pedir sua invalidação em juízo, a partir de uma ação desconstitutiva, chamada de ação pauliana. Havendo procedência do pedido, o bem volta à esfera jurídica do devedor e poderá, caso seja efetivamente necessário, ser objeto de penhora e futura expropriação patrimonial. Fraude à execução e ineficácia parcial CUMPRIMENTO DE SENTENÇA E PROCESSO DE EXECUÇÃO 16 A fraude à execução é uma modalidade mais gravosa de fraude, pois além de afetar os interesses privados do credor atinge também e macula o trabalho do sistema de justiça, quase sempre inerente aos atos do juiz e à atuação do Poder Judiciário como um todo. Para além do credor que intentou e conseguiu se tornar exequente, o juiz e seus auxiliares poderão trabalhar em vão, simplesmente porque o devedor (executado ou não) praticou atos de alienação ou oneração patrimonial que o deixaram insolvente. É risco quase certo de todos morrerem na praia, jamais alcançando a satisfação material, desfecho único pretendido em toda e qualquer execução. Fraude à execução Ex.: Devedor (pessoa natural) vende seus dois carros e se torna insolvente após a relação obrigacional de mútuo constituída com o Credor (banco) e com ciência de processo judicial de cobrança capaz de levar à insolvência. Elemento objetivo – Dano patrimonial (ativo < passivo) = Deve mais! Elemento subjetivo – Dolo de fraudar presumido = Sabe das consequências do ato; requerimento nos autos: ônus da prova invertido ao devedor (presunção). No caso da fraude à execução, para além da prévia existência da relação obrigacional (credor/devedor), é preciso demonstrar que o devedor tinha efetiva ciência da existência do processo. Em outras palavras, citação ou intimações são atos processuais que, cada qual a seu momento e turno, são capazes de trazer segurança jurídica sobre a existência ou não de ação judicial (conhecimento com pretensão condenatória ou processo de execução de título extrajudicial). CUMPRIMENTO DE SENTENÇA E PROCESSO DE EXECUÇÃO 17 O CPC melhorou consideravelmente as condições de segurança jurídica para se comprovar a efetiva ciência da existência de processo, quando se examina a leitura conjugada dos arts. 792 e 828. Tais dispositivos demonstram claramente que, dependendo do tipo de bem (móvel ou imóvel, com ou sem registros públicos ou privados confiáveis), é possível, com iniciativa do credor (exequente), comprovar que o devedor tinha ciência de um processo capaz de levá-lo à insolvência no caso de alienação ou oneração de seu patrimônio. Em meio às inovações legislativas, importante registrar súmulas do STJ, algumas ainda na vigência do CPC/1973, com destaque para a Súmula nº 375 que ainda produz seus efeitos práticos: CUMPRIMENTO DE SENTENÇA E PROCESSO DE EXECUÇÃO 18 Súmula nº 375 Inteiro Teor Súmula anotada O reconhecimento da fraude à execução depende do registro da penhora do bem alienado ou da prova de má-fé do terceiro adquirente. Súmula nº 486 Inteiro Teor Súmula anotada É impenhorável o único imóvel residencial do devedor que esteja locado a terceiros, desde que a renda obtida com a locação seja revertida para a subsistência ou a moradia da sua família. Súmula nº 549 Inteiro Teor Súmula anotada É válida a penhora de bem de família pertencente a fiador de contrato de locação. E no âmbito do STF, uma importante decisão da 1ª Turma em 2018 merece registro, apesar da polêmica criada: http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=381644. 1ª Turma afasta penhorabilidade de bem de família do fiador na locação comercial Em sessão realizada na terça-feira (12), a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que não é possível penhorar o bem de família do fiador na locação comercial. Por maioria dos votos, os ministros proveram o Recurso https://scon.stj.jus.br/SCON/sumulas/doc.jsp?livre=@num='375' https://scon.stj.jus.br/SCON/sumulas/doc.jsp?livre=@num='375' https://scon.stj.jus.br/SCON/sumanot/toc.jsp?livre=(sumula%20adj1%20'375').sub. https://scon.stj.jus.br/SCON/sumulas/doc.jsp?livre=@num='486' https://scon.stj.jus.br/SCON/sumulas/doc.jsp?livre=@num='486' https://scon.stj.jus.br/SCON/sumulas/doc.jsp?livre=@num='486' https://scon.stj.jus.br/SCON/sumanot/toc.jsp?livre=(sumula%20adj1%20'486').sub. https://scon.stj.jus.br/SCON/sumulas/doc.jsp?livre=@num='549' https://scon.stj.jus.br/SCON/sumulas/doc.jsp?livre=@num='549' https://scon.stj.jus.br/SCON/sumulas/doc.jsp?livre=@num='549' https://scon.stj.jus.br/SCON/sumanot/toc.jsp?livre=(sumula%20adj1%20'549').sub. http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=381644 CUMPRIMENTO DE SENTENÇA E PROCESSO DE EXECUÇÃO 19 Extraordinário (RE) 605709, no qual o recorrente alegava ser nula a arrematação de sua casa – localizada em Campo Belo (SP) – em leilão ocorrido no ano de 2002. Segundo o recorrente, o imóvel seria impenhorável por ser sua única propriedade, sendo ele o responsável pelo sustento da família. Assim, alegou que, na hipótese, cabe a proteção do direito fundamental e social à moradia. O julgamento teve início em outubro de 2014, quando o ministro Dias Toffoli (relator) – então componente da Primeira Turma – votou pelo desprovimento do RE, entendendo que a penhorabilidade do bem de família é possível tanto na locação residencial como na comercial> na ocasião, o julgamento foi suspenso pelo pedido de vista do ministro Luís Roberto Barroso. Nesta terça-feira (12), ele apresentou voto acompanhando o relator. De acordo com Barroso, o Supremo tem entendimento pacífico sobre a constitucionalidade da penhora do bem de família do fiador por débitos decorrentes do contrato de locação residencial. Para o ministro, a lógica do precedente é válida também para os contratos de locação comercial na medida em que, embora não envolva direito à moradia dos locatários, compreende o seu direito à livre iniciativa que também tem fundamento constitucional. Segundo ele, a possibilidade de penhora do bem de família do fiador que, voluntariamente oferece seu patrimônio como garantia do débito, impulsiona o empreendedorismo ao viabilizar a celebração de contratos de locação empresarial em termos mais favoráveis. No entanto, a ministra Rosa Weber abriu divergência ao acolher o parecer do Ministério Público Federal (MPF), que se manifestou pelo provimento do recurso extraordinário, entendimento seguido pela maioria dos ministros. A ministra fez considerações no sentido de que não se pode penhorar o bem de família na locação comercial. Do mesmo modo votou o ministro Marco Aurélio, segundo o qual deve haver manifestação de vontade do fiador na locação residencial ou comercial, CUMPRIMENTO DE SENTENÇA E PROCESSO DE EXECUÇÃO 20 acrescentando que, quanto à impenhorabilidade, a lei não distingue o tipo de locação. Para ele, não se pode potencializar a livre iniciativa em detrimento de um direito fundamental que é o direito à moradia, tendo em vista que o afastamento da penhora visa a beneficiar a família. Tambémvotou com a divergência o ministro Luiz Fux, no sentido da impenhorabilidade. Veja os comentários do texto no link em anexo e tire suas conclusões: https://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI298909,91041- 1+turma+do+STF+comete+lamentavel+equivoco+em+julgamento+sobre+a. REFERÊNCIAS ARAÚJO, Luis Carlos de. Curso do novo processo civil. Rio de Janeiro: Editora Freitas Bastos, 2015. ASSIS, Araken de. Manual da execução. 20. ed. Rio de Janeiro: Revista dos Tribunais, 2018. BUENO, Cassio Scarpinella. Curso sistematizado de direito processual civil: tutela jurisdicional executiva. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2019. v. 3. MARINONI, Luiz Guilherme. Tutela de urgência e tutela de evidência: soluções processuais diante do tempo da justiça. 2. ed. Revista dos Tribunais, 2018. NEGRÃO, Theotonio et al. Código de processo civil e legislação processual em vigor. 50. ed. ver. e atual. São Paulo: Saraiva, 2019. PINHO, Humberto Dalla Bernardina de. Manual de direito processual civil contemporâneo. 1. ed. São Paulo: Saraiva, 2019. https://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI298909,91041-1+turma+do+STF+comete+lamentavel+equivoco+em+julgamento+sobre+a https://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI298909,91041-1+turma+do+STF+comete+lamentavel+equivoco+em+julgamento+sobre+a CUMPRIMENTO DE SENTENÇA E PROCESSO DE EXECUÇÃO 21 AULA 3: OBRIGAÇÕES: TUTELA ESPECÍFICA E EXECUÇÃO 1 – Obrigações de dar, fazer e não fazer e quantia certa É bem provável que você já tenha percebido após a aula 2 que a tutela de execução no processo civil brasileiro tem um caráter patrimonial, em oposição à tutela de execução no processo penal que possui um caráter de predomínio da restrição da liberdade de ir e vir, ainda que com crescente interação com a patrimonialidade e seus encantos. Fato é que o Código de Processo Civil e outras leis especiais que regulam a tutela de conhecimento e execução estão cada vez mais correspondentes e atentas às necessidades reais da sociedade brasileira. Uma justiça efetiva não é necessariamente aquela medida por números, mas é também aquela que consegue entender as necessidades e conceder as respostas demandadas no tempo e espaço necessários. E nem sempre é fácil, considerando a realidade fática que permeia a sociedade civil, cada mais ativa e interativa, ávida por resultados quase que instantâneos, sob pena de não mais interessarem ou se prestarem para o uso originário. Atender às expectativas das obrigações de fazer, não fazer, dar e pagar quantia certa no tempo, espaço e modo mais adequado exige mais do que mera aplicação da lei existente. Exige a compreensão da necessidade de medidas de coerção e “incentivo” ao cumprimento originário, alternativas jurídicas ao cumprimento pelo devedor originário quando possível e não houver solução, e uma dose coerente de reparação material no que se convencionou chamar de perdas e danos pelo inadimplemento obrigacional. A leitura que se fazia das obrigações e possíveis soluções (já no caso do CPC/1916) era mais objetiva, estanque, no sentido de identificar a relação obrigacional, seus sujeitos, objeto e regras de pactuação. Parecia até que uma possível intervenção do Poder Judiciário fosse algo distante, meio que sem muito nexo e também alternativas. A mora e o inadimplento pareciam punidos com o peso e as métricas do próprio Código CUMPRIMENTO DE SENTENÇA E PROCESSO DE EXECUÇÃO 22 Civil, não havendo, de forma sistêmica, uma preocupação em busca de tutela específica “daquela obrigação”. Com base nessa visão, era improvável imaginar um advogado ir a juízo e pleitear o cumprimento contratual de obrigação de fazer, firme e convicto de que o Poder Judiciário faria de tudo para alcançar a tutela específica “daquela” obrigação muito antes da segunda metade dos anos 1990. Não se afirma que não existiam dispositivos pontuais ou mesmo ritos específicos já (ou quase desde sempre) preocupados em uma maior efetividade da caneta de juízes, desembargadores e ministros em atividade. Um excelente exemplo são as chamadas ações possessórias (códigos de 1973 e 2015) que já inauguravam, através do interdito proibitório, medidas mais efetivas de cumprimento de ordens judiciais de reintegração, manutenção e proteção preventiva da posse. Em 1990, o próprio Código de Defesa do Consumidor, ao introduzir a “Defesa do Consumidor em Juízo”, supera, e muito, a simples ideia de tutela coletiva e individual, e incentiva, por exemplo, a partir do art. 84, o que mais tarde seria o referencial teórico para tantas outras reformas e ajustes em prol da efetividade no cumprimento de medidas judiciais de obrigações de fazer, não fazer e dar. Muito antes, a Lei da Ação Civil Pública trazia em seu art. 11 ideias correlatas, sem contudo atingir em massa a advocacia privada e suas pretensões, até pelas restrições à época de seu objeto e sua legitimidade. Fato é que não havia uma tradição em busca do cumprimento forçado, medidas coercitivas e tudo mais. Majoritariamente, a mora e o inadimplemento se resolviam em rescisões contratuais (quando fosse o caso) e perdas e danos. É a partir dos anos 1990 (mais precisamente do meio para a segunda metade) que as ideias de tutelas específicas, medidas coercitivas mais fortes, ganham fôlego e produzem resultados. Daí a importância das normas processuais estarem adequadas CUMPRIMENTO DE SENTENÇA E PROCESSO DE EXECUÇÃO 23 aos direitos e pretensões que visam tutelar em abstrato. De nada adianta uma excelente regra se ela não produz resultados. Faça um teste e responda: Como seria uma ação de obrigação de fazer (retirada de nome de cadastro indevido) sem a possibilidade de medidas coercitivas ou a possibilidade de se obter uma tutela equivalente (certidão positiva com efeito de negativa)? Imagino que para algumas pessoas isso nem seria possível. As pessoas já contam com as ferramentas processuais. E olha que falamos aqui de duas das mais simples medidas que poderíamos invocar. Seria possível ainda falar em outras medidas de restrição de direito de ir e vir, praticar atos de compra e venda etc. A própria natureza das obrigações de fazer, associada à liberdade de contratar (art. 421 do CC), demonstra o quanto é útil ter ferramentas com as quais o juiz de ofício ou por requerimento possa empoderar sua própria decisão em prol do respeito e do cumprimento “voluntário”. O mesmo vale para as obrigações de não fazer. Hoje se consegue (para além das discussões) travar o funcionamento de aplicativos, TV, internet e outros sistemas operacionais diversos caso se demonstre a periculosidade ou o descumprimento efetivo da ordem. Os exemplos são bem repetitivos, e envolvem, em sua grande maioria, proibições de cunho dos direitos da personalidade ou o lado dos direitos patrimoniais, uso indevido de imagens etc. Com base na evolução da legislação e doutrina nos últimos 25 ou 30 anos, emissoras já saíram do ar porque se recusaram a cumprir ordens judiciais, políticos já foram CUMPRIMENTO DE SENTENÇA E PROCESSO DE EXECUÇÃO 24 impedidos de continuar no poder, torcedores foram obrigados a “curtir” o horário de jogos esportivos na delegacia do bairro etc. E tudo isso só foi possível graças a uma crescente cultura de dispositivos legais que vêm fortalecendo as decisões judiciais condenatórias de obrigação de fazer, não fazer e dar. No tocante às obrigações de pagar quantia certa, muito embora a própria natureza da obrigação não permita maiores punições, o CPC também inovou com possibilidades de restrições de direitos como meio indireto de coibir o descumprimento de mandados de pagamento e penhora, por exemplo. Ainda que com algumas restrições e polêmicas, fato é que existem também ferramentas para ajudar juízes e credores de quantia certa, ainda que em medida mais tímida. Vamos então ver, com base no CPC, que ferramentase dispositivos são esses e como podemos utilizar tais recursos nos peticionamentos (advogados, promotores, defensores) e nas próprias decisões (juízes e equipes de analistas). 2 – O Código de Processo Civil: ferramentas e dispositivos em prol da tutela de execução e tutelas específicas Em que pese o CPC de 1973 ter incorporado boas medidas a partir das experiências do art. 461 e seus parágrafos (também aplicáveis ao art. 461), posteriormente inseridos no art. 287, em claro sinal de avanço do uso e reconhecimento da efetividade das astreintes e outras medidas possíveis, o CPC/2015 amplia o empoderamento dos juízes, levando o tema explicitamente aos “Poderes, Deveres e Responsabilidade do Juiz”, em seu art. 139, IV. Vejamos: Art. 139. O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste Código, incumbindo-lhe: [...] IV - determinar todas as medidas indutivas, coercitivas, mandamentais ou sub-rogatórias necessárias para assegurar o cumprimento de ordem judicial, inclusive nas ações que tenham por objeto prestação pecuniária; [...] CUMPRIMENTO DE SENTENÇA E PROCESSO DE EXECUÇÃO 25 Nota-se claramente o reconhecimento e fortalecimento das ferramentas em prol do que se espera da fluidez de um processo judicial e suas decisões, isto é, do cumprimento de suas decisões. Para Humberto Pinho (2019), as medidas listadas no art. 139, IV, seriam diferenciadas entre si da seguinte forma: a) Indutivas – como uma novidade ao CPC/1973 e mais próximas das coercitivas, embora possam dar um caráter mais de premiação do que de punição em caso de cumprimento. b) Coercitivas – já previstas no CPC/1973 e com papel de constranger o devedor ao pagamento, sob pena de sanções diversas, tais como multa, proibições específicas, entre outras possibilidades conforme os casos concretos. c) Mandamentais – determinam obrigações específicas e podem ser reforçadas por multas diárias, bem como o cumprimento por terceiros, por exemplo. Eram (e continuam) presentes em leis especiais, apesar de serem usadas no CPC/1973 em certos ritos especiais. d) Sub-rogatórias – independem da ação ou omissão do devedor, como no caso de busca e apreensão, por exemplo. Também já existiam no CPC/1973. Ao reforçar a atuação de juízes, inclusive de ofício, na aplicação das modalidades de medidas aqui explicadas, o CPC amplia a força da Justiça, objetivando proporcionar efetividade aos comandos e, consequentemente, aos resultados pretendidos. E o faz inicialmente na parte do código que fala dos poderes que o juiz tem em toda e qualquer fase de processo de conhecimento ou execução. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA E PROCESSO DE EXECUÇÃO 26 Em outras palavras, ainda que não diretamente em momentos de execução direta, pode o juiz se valer do comando e atuar com maiores chances de resultados materiais e, quando for o caso, processuais. Sim, pois temos ordens judiciais de natureza (ou objeto) processual, além daquelas que apenas concedem direitos materiais. Seja como for, visto a regra geral do art. 139, vamos às conexões em sede de matéria de tutela de execução: Prisão do devedor de alimentos, art. 139, IV, c/c 528 §1º, ambos do CPC – possibilidade de prisão, sem prejuízo de outras tentativas de restrição de direitos. Você acha o tema pacífico? Veja a sequência de decisões abaixo, apenas em 2018 e 2019: JUNHO 2018 “STJ proíbe apreensão de passaporte do devedor, mas mantém a de CNH”, disponível em: http://bit.do/e4yNc. DEZEMBRO 2018 “STJ valida bloqueio de passaporte como meio coercitivo para pagamento de dívida”, disponível em: http://bit.do/e4yNa. MARÇO 2019 “STF pode julgar se é inconstitucional a apreensão de CNH e passaporte a fim de garantir o pagamento de dívidas”, disponível em: http://bit.do/e4yM3. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA E PROCESSO DE EXECUÇÃO 27 Astreintes e outras medidas – art. 139, IV, c/c 536-537, todos do CPC – correspondência com os lendários arts. 461 e 461-A do CPC, um dos dispositivos que derivaram, por sua vez, do art. 84 do CDC, inicialmente utilizado para as execuções de obrigações de fazer, não fazer, e posteriormente às obrigações de dar. Cerne do desenvolvimento da aplicação das multas periódicas, rapidamente “consagradas” como “diárias”. Aqui separamos uma decisão bem completa, envolvendo até o poder geral de cautela, reforçado pelo art. 297 do CPC. Faça uma leitura e teça comentários sobre a aplicação de astreintes ao caso concreto: ASTREINTES – PODER GERAL DE CAUTELA Agravo de Instrumento nº 0020668-94.2017.8.19.0000, de 24 de maio de 2017, disponível em: http://bit.do/e4yMu. Para além dos arts. 536-537, o CPC também aborda o tema e suas possibilidades em dispositivos inerentes ao processo de execução como um todo. Veja: • Arts. 771-774; 777 (Disposições Gerais) • Arts. 806, §§ 1º e 2º (Dar) • Arts. 814-815 (Fazer) • Arts. 822-823 (Não Fazer) Viu? O CPC cercou por quase todos os lados (veja que não fomos aos procedimentos especiais) o fortalecimento de ferramentas que possibilitem o cumprimento do resultado que espera do título executivo judicial e extrajudicial. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA E PROCESSO DE EXECUÇÃO 28 E você? Já teve a oportunidade de requerer tais ferramentas? Foram admitidas e surtiram efeitos? Vejamos alguns casos sobre astreintes, valores e sua modificação: Superior Tribunal de Justiça STJ – RECURSO ESPECIAL: REsp 1714990 MG 2017/0101471-4, disponível em: https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/639479854/recurso-especial-resp- 1714990-mg-2017-0101471-4?ref=serp. Superior Tribunal de Justiça STJ – RECURSO ESPECIAL: REsp 1528070 SP 2015/0087081-4, disponível em: https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/652015787/recurso-especial-resp- 1528070-sp-2015-0087081-4?ref=serp. Superior Tribunal de Justiça STJ – AGRAVO INTERNO NO AGRAVO INTERNO NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL: AgInt no AgInt nos EDcl no AREsp 766996 MT 2015/0203985-6, disponível em: http://bit.do/e4yMh. E não podemos deixar de fora a Súmula nº 410 do STJ, que ainda na vigência do CPC/1973 buscava trazer maior segurança jurídica para o termo inicial de inicial da aplicação de multa por descumprimento. “A prévia intimação pessoal do devedor constitui condição necessária para a cobrança de multa pelo descumprimento de obrigação de fazer ou não fazer.” https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/639479854/recurso-especial-resp-1714990-mg-2017-0101471-4?ref=serp https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/639479854/recurso-especial-resp-1714990-mg-2017-0101471-4?ref=serp https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/652015787/recurso-especial-resp-1528070-sp-2015-0087081-4?ref=serp https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/652015787/recurso-especial-resp-1528070-sp-2015-0087081-4?ref=serp CUMPRIMENTO DE SENTENÇA E PROCESSO DE EXECUÇÃO 29 REFERÊNCIAS ARAÚJO, Luis Carlos de. Curso do novo processo civil. Rio de Janeiro: Editora Freitas Bastos, 2015. ASSIS, Araken de. Manual da execução. 20. ed. Rio de Janeiro: Revista dos Tribunais, 2018. BUENO, Cassio Scarpinella. Curso sistematizado de direito processual civil: tutela jurisdicional executiva. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2019. v. 3. MARINONI, Luiz Guilherme. Tutela de urgência e tutela de evidência: soluções processuais diante do tempo da justiça. 2. ed. Revista dos Tribunais, 2018. NEGRÃO, Theotonio et al. Código de processo civil e legislação processual em vigor. 50. ed. ver. e atual. São Paulo: Saraiva, 2019. PINHO, Humberto Dalla Bernardina de. Manual de direito processual civil contemporâneo. 1. ed. São Paulo: Saraiva, 2019. AULA 4: METODOLOGIA DA EXECUÇÃO NO CPC A tutela de execução: breve histórico no período de 1990 a 2005 O Código de Processo Civil de 2015 tem umaestrutura bem diferente de seu antecessor, considerando sua divisão em Parte Geral (VI Livros) e Parte Especial (IV Livros), principalmente no tocante à Parte Geral, mais completa e com perfil mais apropriado a uma teorização (ainda tímida) do processo. Processo Civil mesmo ocorre na Parte Especial, com o Livro I dedicado ao Processo de Conhecimento e Cumprimento de Sentença; o Livro II ao Processo de Execução; o Livro III ao Processo nos Tribunais e dos Meios de Impugnação das Decisões Judiciais; e o Livro Complementar com suas normas finais e transitórias. A bem da verdade, perpetua-se a mitigação do estudo e tratamento das fases de cognição de 1º e 2º graus de jurisdição (e 3ª instância), dificultando a percepção de que recursos e outros meios de impugnação de decisões judiciais são também tutela cognitiva. Ou não? Se o direito material e processual resta não definido, podendo os CUMPRIMENTO DE SENTENÇA E PROCESSO DE EXECUÇÃO 30 recursos terem provimento e modificar o resultado anterior, sim, sem sombra de dúvida estamos diante de fases de conhecimento. Ultrapassada tal observação, encontramos então na Parte Especial, Livro I, a chamada fase de cumprimento de sentenças, como o CPC assim o nomeia, muito embora os dizeres normativos se apliquem a toda e qualquer decisão condenatória do Poder Judiciário, nos termos do art. 515 do CPC. Por que não denominar “cumprimento de títulos executivos judiciais” ou “tutela da execução dos títulos executivos judiciais”? São questionamentos que devem permear seus estudos da presente aula, seja qual for sua conclusão. Gostando ou não gostando, fato é que o CPC inaugura a tutela de cumprimento de sentenças a partir do art. 513 do CPC, estendendo-se até o art. 538, conforme veremos. A bem da verdade, o tema da liquidação de sentenças (arts. 509-512) já adianta um pouco o porvir, sem necessariamente inaugurar normas gerais e ritos especializados do cumprimento de sentenças. Mas o que fez o legislador ao criar a estruturação do cumprimento de sentenças no CPC/2015? Em primeiro lugar, bebeu toda a fonte que inspirou as reformas processuais do CPC/1973, que desde 1994 vêm ratificando a ideia de concentração de atos processuais e o sincretismo processual, associado também à ideia de um processo bifásico de modo mais generalista, ainda que existam experiências anteriores no CDC (art. 84), por exemplo. Em 1994, o art. 461 do CPC/1973 permite o cumprimento de sentenças (na verdade, decisões judicias interlocutórias e monocráticas também) como uma fase ou momento subsequente ao da prolatação da decisão. O juiz, ao conceder uma tutela antecipada à época, determinava o seu imediato cumprimento (execução), e ao final do processo (fase de conhecimento), com a sentença de procedência do pedido, aguardava-se o cumprimento voluntário ou recurso. Em caso negativo do primeiro ou com recurso com CUMPRIMENTO DE SENTENÇA E PROCESSO DE EXECUÇÃO 31 efeito apenas devolutivo, inicia-se a execução com uma nova intimação, nos autos do mesmo processo. Aliás, o art. 461 do CPC/1973 (alterado em 1994) era, na verdade, cópia fiel do art. 84 do CDC/1990. Isso significa dizer que desde 1994 já não possuíamos o então Livro II tratando da execução de sentenças de fazer e não fazer. É bom recordar que, até 1994, sentenças e títulos extrajudiciais eram executados com os mesmos dizeres legislativos (Livro II do CPC 1973). O resultado gerou tamanha efetividade (talvez pelo incremento quase sincrônico do art. 273 do CPC) e celeridade propriamente dita com as sentenças que, em 2002, o legislador instalou o art. 461-A, dedicado ao mesmo sincronismo e cumprimento de sentenças (e possíveis decisões antecipatórias) agora às obrigações de dar. É talvez um dos artigos mais efetivos do ordenamento legislativo processual – considerando que, com exceção do perecimento ou não localização da coisa móvel ou imóvel, dificilmente o credor fica com a satisfação material pretendida. Mas a verdade é que, até 2005, pouca atenção era dada às alterações dos arts. 461 e 461-A do CPC/1973. Foi apenas com a instalação do art. 475-J, e seguintes, estendendo às obrigações de pagar quantia certa que boa parte da doutrina e operadores jurídicos começou a enxergar a realidade normativa e metodológica que se estende até os nossos dias e o CPC, com gratos ajustes em 2015. A metodologia e critérios da execução no CPC atual O CPC atual, apoiado na estruturação do código de processo deposto, ratifica a sua metodologia de procurar associar ritos diferenciados de acordo com dois critérios iniciais combinados entre si: CUMPRIMENTO DE SENTENÇA E PROCESSO DE EXECUÇÃO 32 (1) Espécie de título executivo (Judicial – Extrajudicial) (2) Espécie da obrigação (Fazer/não fazer – entregar/dar – pagar quantia certa) Esses são os dois critérios que inicialmente repartem os dizeres normativos a respeito da execução. Em primeiro lugar, independentemente da espécie ou natureza da obrigação, o CPC dividiu dois grandes blocos, conforme a origem do título executivo: Execução de Títulos Executivos Judiciais (Cumprimento de sentenças) com previsão dos arts. 513-538 do CPC. Execução de Títulos Executivos Extrajudiciais (Processos de execução) com previsão nos arts. 771-925 do CPC. Então, se você advoga e está querendo se especializar na tutela de execução no processo civil, já pode perceber que pode haver dois tipos de posicionamentos distintos, conforme a origem do título de seu cliente. Contudo, associado a esses dois critérios, há um terceiro, que complementa e ajuda a definir os caminhos processuais em cada caso. Na sequência, veja que o 3º critério é: (3) Status jurídico do exequente/executado CUMPRIMENTO DE SENTENÇA E PROCESSO DE EXECUÇÃO 33 Como assim? Fácil. Veja só. Os exequentes e executados são as pessoas naturais ou jurídicas, de direito público ou privado que têm personalidade e capacidade jurídica para os atos da vida civil. Ótimo. Então, se você é uma pessoa natural ou pessoa jurídica de direito privado, os dispositivos para figurar como exequente ou executado são os mesmos. Agora – considerando o status jurídico patrimonial das mesmas pessoas –, se de antemão já se sabe de seu caráter de insolvência patrimonial, os caminhos processuais são distintos, havendo, inclusive, aplicação das normas do CPC/1973 com relação aos processos de insolvência de pessoas naturais e possivelmente aplicação da Lei nº 11.101/2005 (Lei de recuperação judicial) para os insolventes pessoas jurídicas, como regra. E mais: se o credor for uma pessoa jurídica de direito público? Nesses casos, a tutela de execução deverá seguir a ritualística da Lei nº 6.830/1980, conhecida como a Lei de Execução Fiscal. Por sua vez, se o devedor for a pessoa jurídica de direito público, a hipótese será de utilização do CPC mesmo, mas em rito especialmente criado para confrontar as pessoas jurídicas de direito público de modo diferenciado. Agora, vamos fazer considerações a respeito de metodologia, critérios definidores e o que isso tudo resultou no CPC. Premissas da Tutela de Execução 1ª Premissa (ORIGEM DO TÍTULO): O CPC dividiu a tutela de execução conforme os títulos executivos judiciais e extrajudiciais. 2ª Premissa (ESPÉCIE DA OBRIGAÇÃO): Após tal divisão, o CPC analisa a espécie da obrigação (fazer e não fazer, dar e pagamento de quantias). CUMPRIMENTO DE SENTENÇA E PROCESSO DE EXECUÇÃO 34 3ª Premissa (STATUS JURÍDICO DO DEVEDOR): O CPC leva ainda em consideração se o devedor é pessoa natural ou jurídica de direito privado solvente ou insolvente, e se é jurídica de direito público ou privado. É na verdade um critério duplo de verificação. A conjugação dessas três premissas permitiu ao legislador CPC criar ritos distintospara títulos executivos judiciais e extrajudiciais. Em cada um dos casos, os ritos refletem os atos processuais mais adequados à busca pela satisfação material dos credores (exequentes). Agora você já consegue identificar a seguinte visão de sistema da tutela de execução no CPC e que será objeto de estudo de nossa próxima aula: CUMPRIMENTO DE TÍTULOS JUDICIAIS: CINCO RITOS PROCESSUAIS PROCESOS DE EXECUÇÃO: CINCO RITOS PROCESSUAIS Esperamos que você tenha aproveitado a presente aula para preparar de modo sistêmico o estudo dos ritos processuais de cumprimento de títulos judiciais e processos de execução no CPC. Agora que você já viu as razões e especificidades dos critérios apresentados, é só se preparar para a nossa próxima aula! REFERÊNCIAS ARAÚJO, Luis Carlos de. Curso do novo processo civil. Rio de Janeiro: Editora Freitas Bastos, 2015. ASSIS, Araken de. Manual da execução. 20. ed. Rio de Janeiro: Revista dos Tribunais, 2018. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA E PROCESSO DE EXECUÇÃO 35 BUENO, Cassio Scarpinella. Curso sistematizado de direito processual civil: tutela jurisdicional executiva. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2019. v. 3. MARINONI, Luiz Guilherme. Tutela de urgência e tutela de evidência: soluções processuais diante do tempo da justiça. 2. ed. Revista dos Tribunais, 2018. NEGRÃO, Theotonio et al. Código de processo civil e legislação processual em vigor. 50. ed. ver. e atual. São Paulo: Saraiva, 2019. PINHO, Humberto Dalla Bernardina de. Manual de direito processual civil contemporâneo. 1. ed. São Paulo: Saraiva, 2019. AULA 5: O CUMPRIMENTO DE TÍTULOS JUDICIAIS NO CPC O CPC lista, em seu art. 515, os títulos executivos judiciais, que podem ser sentenças acórdãos, decisões judiciais interlocutórias ou monocráticas nos casos de alguma concessão de tutela provisória possível. É importante registrar que o cumprimento de “liminares, tutelas e outros comandos condenatórios” se dá de modo equivalente ao de uma sentença, com as naturais ressalvas do caráter de provisoriedade. Vejamos as definições de títulos executivos judiciais do art. 515 do CPC e respectivos comentários: I – as decisões proferidas no processo civil que reconheçam a exigibilidade de obrigação de pagar quantia, de fazer, de não fazer ou de entregar coisa; Comentário: O inciso traz uma saudável modificação ao CPC, pois ratifica o que vem sendo ventilado nas aulas anteriores sobre a aplicação do “cumprimento de sentença” às decisões interlocutórias e monocráticas. Considerando que já no CPC/1973 a execução de tais decisões se dava pelo então cumprimento de sentença existente, o inciso I chega em boa hora. Uma pena que o legislador não aproveitou para modificar CUMPRIMENTO DE SENTENÇA E PROCESSO DE EXECUÇÃO 36 também a denominação macro, pois o mais adequado seria “cumprimento de títulos executivos judiciais” ou algo similar. II – a decisão homologatória de autocomposição judicial; Comentário: Interessante dispositivo também imigrante (em parte) do CPC/1973 e que valoriza o incentivo aos meios mais adequados de composição de conflitos, reforçando as garantias de maior efetividade em caso de não cumprimento voluntário. Aqui pode haver homologação de conciliação, transação, mediação e outros instrumentos com termos de ajustamento de condutas (TACs) e similares. III – a decisão homologatória de autocomposição extrajudicial de qualquer natureza; Comentário: Corolário do inciso anterior, reforça a autocomposição extrajudicial de naturezas diversas. Todos os itens do inciso II (com exceção da conciliação) podem, em tese, ter execução também pelo inciso III. O que vai ditar é o ambiente e o momento da autocomposição. IV – o formal e a certidão de partilha, exclusivamente em relação ao inventariante, aos herdeiros e aos sucessores a título singular ou universal; Comentário: Ratifica a força executiva dos processos sucessórios realizados em juízo, dando mais garantia aos herdeiros, sucessores e terceiros que podem ter realizados negócios jurídicos tempestivos com o inventariante. V – o crédito de auxiliar da Justiça, quando as custas, emolumentos ou honorários tiverem sido aprovados por decisão judicial; Comentário: Medida mais que justa, valorizando a sinergia e a celeridade processual para aqueles que de um modo ou de outro contribuíram para o resultado útil do processo. VI – a sentença penal condenatória transitada em julgado; CUMPRIMENTO DE SENTENÇA E PROCESSO DE EXECUÇÃO 37 Comentário: Cada vez mais efetivas no processo civil, as sentenças condenatórias do campo penal têm aumentado a capacidade de impor também restrições de cunho patrimonial, além de outras obrigações de fazer, não fazer e pagar quantia certa. VII – a sentença arbitral; Comentário: Símbolo da harmonia das possiblidades dos meios adequados de solução de conflitos e atuação do Poder Judiciário, a arbitragem tem suas limitações formais e materiais. Não havendo cumprimento voluntário, a execução do equivalente é realizada em cumprimento de sentença. O cuidado aqui é você não confundir: apesar de ser um título fora do Poder Judiciário, é considerando pelo sentido de equivalência aqui apresentado, um título executivo judicial. VIII – a sentença estrangeira homologada pelo Superior Tribunal de Justiça; Comentário: Fruto das parcerias cada vez mais efetivas em sede de cooperação internacional, o inciso VIII e o seguinte (IX) representam os esforços em busca de uma tutela judicial cada vez mais efetiva. IX – a decisão interlocutória estrangeira, após a concessão do exequatur à carta rogatória pelo Superior Tribunal de Justiça. Comentário: Comentário no item anterior. Atenção! Para além do reconhecimento dos títulos executivos judiciais, o art. 515 do CPC traz ainda dois importantes parágrafos que merecem o devido destaque: Citação – Intimação § 1º Nos casos dos incisos VI a IX, o devedor será citado no juízo cível para o cumprimento da sentença ou para a liquidação no prazo de 15 (quinze) dias. Comentário: Importantíssimo dispositivo para o peticionamento, pois uma das grandes diferenças do cumprimento de sentença em regra é a intimação no lugar da citação, como era antes do sincretismo processual iniciado nos anos 1990. Aqui, é CUMPRIMENTO DE SENTENÇA E PROCESSO DE EXECUÇÃO 38 exatamente o contrário, considerando que os títulos dos incisos respectivos foram formados em outro ramo processual que não o processo sob jurisdição civil. Autocomposição judicial Elementos subjetivos e objetivos estranhos ao processo § 2º A autocomposição judicial pode envolver sujeito estranho ao processo e versar sobre relação jurídica que não tenha sido deduzida em juízo. Comentário: O parágrafo 2º do art. 515 é para muitos um tema desconhecido e sem muito sentido, mas ajuda de modo significativo a autocomposição judicial em suas várias possiblidades. A permissão passou a existir no CPC/1973 em meio às reformas da tutela de execução de 2005, e permite que em meio a um acordo em construção as partes originárias envolvam outros direitos e pessoas para formalizar a autocomposição. De todo modo, com ou sem surpresas, os títulos executivos judiciais devem ser certos (obrigação identificada e diferenciada), líquido (quantificação) e exigíveis (sem impedimentos materiais ou processuais), e poderão ter o seu cumprimento requerido em juízo conforme as disposições dos arts. 513-538 do CPC. Na presente aula, vamos examinar os cinco ritos disponíveis para o cumprimento de sentenças, a saber: Ritos processuais – tipicidade no CPC Pagar quantia (credor e devedor particular) – arts. 520-527 Pagar quantia (credor particular e devedor público) – arts. 534-535 Pagar alimentos – arts. 528-533 Fazer, não fazer – arts. 536-537 CUMPRIMENTO DE SENTENÇA E PROCESSODE EXECUÇÃO 39 e Dar – arts. 536-538 Antes, porém, é importante que você entenda: quando nos referimos aqui a ritos, o fazemos no sentido eminentemente técnico, processual. Ou seja, de acordo com o título executivo que tiver em mãos, para realizar o direito material de seu cliente, você deverá eleger um dos caminhos processuais aqui indicados. Isso significa dizer que os ritos previstos em lei (Veja: Índice Sistemático do CPC) trazem uma previsão (não excludente) dos atos processuais do exequente, juiz e executado, sem prejuízo de outros que podem intervir no curso do processo. E, com tal previsão legal, respectivos advogados podem se programar, e, de algum modo, até prever e prevenir certas situações jurídicas, em especial quanto à satisfação material dos bens, nos casos de execuções pecuniárias, bem como as possibilidades de acesso à tutela específica das obrigações de fazer, não fazer e dar. Rito 1º – Execução pecuniária privada Pagar quantia (credor e devedor particular) – arts. 520-527 Trata-se do cumprimento de sentença de maior escala de ocorrências, considerando não só maior número de atos e negócios jurídicos envolvendo diretamente quantias certas, mas também como a consagração da ideia de que a tutela de execução no processo civil é patrimonial. Assim, mesmo as execuções de fazer e não fazer e dar são convertidas em perdas e danos, reforçando assim os números da execução de sentença com obrigações pecuniárias. Pois bem, quando a obrigação pecuniária não tiver a rubrica de alimentos ou não for em face da Fazenda Pública (e vice-versa), o rito a ser obedecido é justamente esse. A partir do art. 520 do CPC, encontramos os dispositivos que vão tratar da execução por quantia certa em face de devedor solvente de modo provisório e definitivo. É a CUMPRIMENTO DE SENTENÇA E PROCESSO DE EXECUÇÃO 40 partir do art. 523 que encontramos os requisitos formais do requerimento que o advogado do credor deve realizar: Início da fase de cumprimento: arts. 523-524 do CPC • Petição/requerimento de início de fase de cumprimento; • Demonstrativo discriminado e atualizado do crédito; • Outros requisitos (art. 524 do CPC); • Prazo de quinze dias para pagamento; • Possibilidade de multa de 10%; • Penhora ao não pagamento. A defesa correta é a impugnação, que não tem efeito suspensivo (regra) e não impede, portanto, a sequência do cumprimento, e pode ter como temas as chamadas matérias de ordem pública e outros fatos relevantes após a sentença. É a dialética presente em respeito ao contraditório continuado, ainda que bem mitigado em relação ao já proporcionado na fase de conhecimento. Vejamos os temas: Impugnação (temas): arts. 525-527 do CPC I - falta ou nulidade da citação se, na fase de conhecimento, o processo correu à revelia; II - ilegitimidade de parte; III - inexequibilidade do título ou inexigibilidade da obrigação; IV - penhora incorreta ou avaliação errônea; V - excesso de execução ou cumulação indevida de execuções; VI - incompetência absoluta ou relativa do juízo da execução; VII - qualquer causa modificativa ou extintiva da obrigação, como pagamento, novação, compensação, transação ou prescrição, desde que supervenientes à sentença. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA E PROCESSO DE EXECUÇÃO 41 Após o prazo de impugnação, sua solução (ou mesmo sua ausência), caso não ocorra sentença, a fase de cumprimento se empodera dos artigos do CPC destinados à expropriação patrimonial do executado (arts. 876-909), os mesmos aplicáveis à execução de títulos executivos extrajudiciais. OBS.: Importante registrar que os atos de penhora, avaliação e depósito de bens bem como as formas de expropriação são regidos por normas comuns do CPC (arts. 831-869). Rito 2º – Execução em face da fazenda pública Pagar quantia (credor particular e devedor público) – arts. 534-535 A fazenda pública em juízo é intimada, no caso de obrigação de quantia certa, para oferecer impugnação na forma da lei. Ela não sofre penhora nem é intimada para pagamento de quantia certa. No máximo, tratamos, em casos pontuais, de requisição de pequeno valor (RPV). A impugnação é o meio de defesa previsto para todas as fases de cumprimento de sentença. Ao final, caso o direito ao crédito persista, aplica-se o regramento dos precatórios. Rito 3º – Execução pecuniária específica Pagar alimentos – arts. 528-533 O CPC apresenta a possibilidade de o credor de alimentos adotar um rito que busque a medida coerciva da prisão (entre outras) para fazer com que o devedor cumpra com sua obrigação. Pode o credor optar pelo rito da execução por quantia certa, caso entenda inviável ou descabido o pedido de prisão como medida coercitiva, por questões circunstanciais (ex.: não localização do devedor). O devedor é intimado a pagar, demonstrar que o fez ou justificar a impossibilidade. A omissão leva à presunção de inércia e possibilidade de pagamento. Isso gera a CUMPRIMENTO DE SENTENÇA E PROCESSO DE EXECUÇÃO 42 possibilidade de prisão (questionável). A defesa é realizada por impugnação, mas pode haver HC ou AI no caso de prisão deferida. Rito 4º – Execução não pecuniária Fazer, não fazer – arts. 536-537 Há duas possibilidades, mas que têm muita equivalência na sequência processual dos atos que podem ocorrer no cumprimento de sentença. Em tese, o que muda é em razão da prestação a ser cumprida. Se fungível ou infungível, se haverá resistência, necessidade de multas ou outras medidas que possam reforçar a opção do devedor, agora executado, pelo cumprimento da ordem judicial. É importante tipificar corretamente nos peticionamentos, principalmente nos itens com requerimentos de medidas coercitivas e sendo a obrigação fungível, possível até o cumprimento por terceiros. Rito 5º – Execução não pecuniária Dar – arts. 536-538 O rito 5º guarda uma sintonia fina com o procedimento a ser adotado para as obrigações de fazer e não fazer. A bem da verdade, o comando final do requerimento e eventual é que são alterados, mas as medidas coercitivas e demais disposições de um rito valem para o outro. A divisão aqui é muito mais de cunho didático. Importante combinar também o art. 139, IV, do CPC. No caso do art. 538 do CPC, a efetividade pode chegar ao máximo desejado, pois, no caso da não entrega, expede-se mandado de busca e apreensão ou imissão na posse. Tirando a hipótese de perecimento da coisa, é bem provável que a satisfação material seja alcançada pelo exequente com o apoio do Poder Judiciário. A defesa é realizada também pela impugnação, nos termos do art. 525 e seguintes do CPC. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA E PROCESSO DE EXECUÇÃO 43 REFERÊNCIAS ARAÚJO, Luis Carlos de. Curso do novo processo civil. Rio de Janeiro: Editora Freitas Bastos, 2015. ASSIS, Araken de. Manual da execução. 20. ed. Rio de Janeiro: Revista dos Tribunais, 2018. BUENO, Cassio Scarpinella. Curso sistematizado de direito processual civil: tutela jurisdicional executiva. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2019. v. 3. MARINONI, Luiz Guilherme. Tutela de urgência e tutela de evidência: soluções processuais diante do tempo da justiça. 2. ed. Revista dos Tribunais, 2018. NEGRÃO, Theotonio et al. Código de processo civil e legislação processual em vigor. 50. ed. ver. e atual. São Paulo: Saraiva, 2019. PINHO, Humberto Dalla Bernardina de. Manual de direito processual civil contemporâneo. 1. ed. São Paulo: Saraiva, 2019. AULA 6: O CUMPRIMENTO DE TÍTULOS EXTRAJUDICIAIS NO CPC O CPC lista em seu art. 784 os títulos executivos extrajudiciais que são documentos privados e públicos criados pelo homem para, em tese, fazer circular e garantir valores mobiliários e imobiliários com um grau satisfatório de certeza, liquidez e exigibilidade a ponto de dispensar a submissão de seus direitos e pretensõesao primado dos processos de conhecimento. Os títulos executivos extrajudiciais autorizam os processos de execução e respectivas ordens e comandos em prol da satisfação do credor por meio da expropriação de bens do devedor. Ora, mas qual a razão de o direito abraçar tal diferenciação com base apenas em leis e documentos? Muito simples: as relações sociais se multiplicaram e se entrelaçaram de tal forma, espaço e tempo que a ideia originária de realizar justiça via um juiz que irá decidir o certo ou errado parece complexa e forte em demasia, se considerada a multiplicidade de negócios jurídicos praticados entre as partes. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA E PROCESSO DE EXECUÇÃO 44 Imaginar que as relações antigas do direito comercial entre mercadores de continentes distintos não poderiam gozar de uma série de presunções é querer que a todo momento, todo e qualquer fato, ato ou negócio jurídico não honrado tivesse de ser submetido ao crivo de um juiz ou tribunal. Já imaginaram como seria? Portanto, estamos diante de inteligentes opções legislativas que, de um lado, fortificaram no Brasil e em boa parte do mundo os documentos que formalizam as relações comerciais mais corriqueiras e de interesse da economia, para dar maior celeridade e certeza jurídica, se houver necessidade de recuperação de valores no Poder Judiciário ou outros meios adequados. Vejamos então títulos executivos extrajudiciais do art. 784 do CPC e respectivos comentários: I - I - a letra de câmbio, a nota promissória, a duplicata, a debênture e o cheque; Comentário: O inciso traz uma relação dos mais importantes documentos privados e que fazem a economia circular. São os famosos títulos de crédito, utilizados por grande parte do mercado para lastrear operações, assegurar outros negócios, transferir valores, entre outros propósitos. O fato de estarem logo no inciso I é simbólico, representando a real vocação do CPC em matéria de tutela de execução. II - a escritura pública ou outro documento público assinado pelo devedor; III - o documento particular assinado pelo devedor e por 2 (duas) testemunhas; IV - o instrumento de transação referendado pelo Ministério Público, pela Defensoria Pública, pela Advocacia Pública, pelos advogados dos transatores ou por conciliador ou mediador credenciado por tribunal; V - o contrato garantido por hipoteca, penhor, anticrese ou outro direito real de garantia e aquele garantido por caução; VI - o contrato de seguro de vida em caso de morte; VII - o crédito decorrente de foro e laudêmio; CUMPRIMENTO DE SENTENÇA E PROCESSO DE EXECUÇÃO 45 VIII - o crédito, documentalmente comprovado, decorrente de aluguel de imóvel, bem como de encargos acessórios, tais como taxas e despesas de condomínio; Comentário: Reunimos vários títulos executivos que têm como princípio básico a realização de pactos de livre manifestação de vontade das partes. Aqui pode haver documento público ou privado, homologação de, transação, mediação e outros instrumentos como termos de ajustamento de condutas e similares. Porém, a ideia central é a mesma: os sujeitos que formalizam entre si um contrato, formalizam de modo certo, líquido e exigível direitos e obrigações a tempo presente e futuro, para local e modos padronizados ou criados à parte. IX - a certidão de dívida ativa da Fazenda Pública da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, correspondente aos créditos inscritos na forma da lei; X - o crédito referente às contribuições ordinárias ou extraordinárias de condomínio edilício, previstas na respectiva convenção ou aprovadas em assembleia geral, desde que documentalmente comprovadas; XI - a certidão expedida por serventia notarial ou de registro relativa a valores de emolumentos e demais despesas devidas pelos atos por ela praticados, fixados nas tabelas estabelecidas em lei; Aqui estamos diante de certidões (públicas) e débitos oriundos de relação condominial prevista anteriormente. As certidões confirmam, para todos os fins de direito, que existem ou inexistem débitos em face de um CPF ou CNPJ, passíveis de processos autônomos de execução. XII - todos os demais títulos aos quais, por disposição expressa, a lei atribuir força executiva. Comentário: O inciso XXI necessita da interpretação mais objetiva e ao mesmo tempo mais ampla possível, considerando a possibilidade de livre criação legislativa do direito e suas fontes em estabelecer, ou não, novos títulos executivos ou até mesmo variações de alguns títulos executivos já existentes. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA E PROCESSO DE EXECUÇÃO 46 De um lado, traz certeza jurídica de que hoje só é título o que a lei aponta (ou apontar amanhã), mas deixa a possibilidade, muito saudável, de flexibilizar o direito para acontecimentos futuros, não legislando de modo a cercear ou dificultar o direito de futuras gerações. Para além dos incisos, o art. 784 do CPC traz importantes considerações acerca dos títulos executivos extrajudiciais e o exercício de ações em face de direitos creditórios. Considerando a temática envolvida, faremos tais comentários em conjunto com o disposto no art. 785 do CPC, que reflete a ideia do princípio da disponibilidade da execução, tema importantíssimo para o manejo de ferramentas processuais mais ou menos adequadas e casos mais complexos. Vamos lá, iniciando pelo § 1º do art. 784: § 1º A propositura de qualquer ação relativa a débito constante de título executivo não inibe o credor de promover-lhe a execução. Comentário: A previsão legal reforça a diferença entre a tutela de execução e a tutela de conhecimento, deixando claro que o exercício da ação executiva não pode, em tese, ser cerceado por qualquer outra ação relativa ao débito ou mesmo ao título executivo em si. Toda e qualquer manifestação deve prioritariamente ser exercida como resposta ao processo de execução, por meio de embargos do executado ou mesmo exceção de pré-executividade, em situações mais extremas. É importante destacar que não se proíbem ações envolvendo discussões sobre o título executivo e seus requisitos, por exemplo. O que não se pode é inviabilizar o exercício da ação de execução, sob pena de se retirar sentido da própria diferenciação da tutela executiva. Veja um exemplo de ação de inexigibilidade de título cumulada com sustação de protesto e seu respectivo desdobramento no âmbito recursal: CUMPRIMENTO DE SENTENÇA E PROCESSO DE EXECUÇÃO 47 (0096222-81.2007.8.19.0001 – APELAÇÃO) 1ª Ementa Des(a). CINTIA SANTAREM CARDINALI – Julgamento: 10/7/2019 – VIGÉSIMA QUARTA CÂMARA CÍVEL APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO CAUTELAR DE SUSTAÇÃO DE PROTESTO APENSADA À DECLARATÓRIA DE INEXIGIBILIDADE DE TÍTULO C/C INDENIZATÓRIA POR DANOS MATERIAIS E MORAIS. PROTESTO DE CONTRATO DE ALUGUEL. SENTENÇA QUE JULGOU IMPROCEDENTES OS PEDIDOS DA AÇÃO CAUTELAR, BEM COMO DA PRINCIPAL, AO FUNDAMENTO DE QUE O AUTOR NÃO INDICOU A CADERNETA DE POUPANÇA ONDE ESTARIA DEPOSITADA A GARANTIA OFERECIDA PELA RÉ, NEM, MUITO MENOS, NAS OUTRAS AÇÕES, DESCONTOU DO VALOR TOTAL DO DÉBITO A IMPORTÂNCIA DEPOSITADA A TÍTULO DE CAUÇÃO. RECURSO DA PARTE AUTORA, PRETENDENDO A REFORMA IN TOTUM DA SENTENÇA IMPUGNADA, QUE NÃO MERECE PROSPERAR. EM QUE PESE ASSISTIR RAZÃO AO APELANTE, POIS, DE FATO, O JUIZ DE PRIMEIRO GRAU SE EQUIVOCOU, POIS A GARANTIA FOI PRESTADA PELA AUTORA/LOCATÁRIA E NÃO PELA RÉ/LOCADORA, A SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA MERECE SER MANTIDA. CONTUDO, POR FUNDAMENTOS DIVERSOS. A CLÁUSULA 13ª DO CONTRATO DE ALUGUEL OBJETO DA LIDE PREVÊ O DEPÓSITO DE TRÊS MESES DE ALUGUEL, COMO GARANTIA. ARTIGO 38, §2º, DA LEI DO INQUILINATO. DÉBITO RELATIVO AO ALUGUEL DE MAIO DE 2007, PROTESTADO EM JUNHO DE 2007. INADIMPLÊNCIA DA PARTE AUTORA NO CITADO MÊS QUE É INCONTROVERSA. PROTESTO QUE OCORREU NA VIGÊNCIA DO CONTRATO, POIS ESTE SOMENTE FOI RESCINDIDO
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