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Fernanda Carvalho, 4º semestre - TUT 04 1 Genética Epigenética DEFINIÇÃO: Quando se faz referência à epigenética, o prefixo “epi”, nesse contexto, não quer dizer que está acima da genética, mas sim algo mais próximo de “ao redor” da genética. o O termo epigenética foi utilizado pela primeira vez por Conrad H. Waddington, em meados da década de 40 – “Epigenetic landscape”; o Emergência de um eventual fenótipo em um organismo através do processo de desenvolvimento, este iniciado a partir de um perfil genético específico; o A relação entre fenótipo e genótipo não é linear e probabilística, não há um determinismo. Há influências de efeitos aleatórios ou ambientais; o Segundo Griffiths, Epigenética: alterações químicas não genéticas em histonas ou no DNA, que alteram a função gênica sem alterar a sequência do DNA; o Segundo Thompson, O campo da epigenética está crescendo rapidamente e consiste no estudo das mudanças hereditárias na função celular ou expressão gênica que podem ser transmitidas de uma célula para outra (e até mesmo de geração a geração), como resultado de sinais moleculares baseados na cromatina; o Estados epigenéticos complexos podem ser estabelecidos, mantidos e transmitidos por uma variedade de mecanismos: modificações no DNA, tais como a metilação do DNA; inúmeras modificações de histona que alteram o empacotamento da cromatina ou o acesso a ela; e substituição de variantes de histona especializadas que marcam a cromatina associada a sequências ou regiões particulares no genoma; o Essas mudanças de cromatina podem ser altamente dinâmicas e transitórias, capazes de responder rapidamente e de maneira sensível às necessidades de mudança na célula, ou podem ser de longa duração, capazes de serem transmitidas através de múltiplas divisões celulares ou mesmo para gerações subsequentes. Em ambos os casos, o conceito fundamental é que mecanismos epigenéticos não alteram a sequência de DNA subjacente e isso os distinguem de mecanismos genéticos, os quais são baseados na sequência. Juntas, as marcas epigenéticas e a sequência de DNA compõem o conjunto de sinais que orientam o genoma a expressar seus genes no momento certo, no lugar certo e nas quantidades certas. Como organismos geneticamente idênticos (gêmeos univitelinos ou os clones como esses camundongos das imagens) podem apresentar diferentes fenótipos? Pode-se pensar em vários fatores, dentre eles estão: expressão de diferentes genes, ativação e inativação de genes, genes que foram ativados e se expressaram foram diferentes. Pois bem, o que poderia justificar isso, então, seria os fenômenos epigenéticos, os quais são fenômenos aleatórios que modificam o DNA bioquimicamente, mas não alteram a sequência do DNA, pois se alterassem a sequência, não seria epigienética, mas sim Fernanda Carvalho, 4º semestre - TUT 04 2 Genética mutações. Entende-se, dessa forma, que, na epigenética, não terá alterações de sequência de DNA, mas sim alterações bioquímicas que acontecem na estrutura do DNA, como adição de radicais químicos, como por exemplo radical metil (metilação), adição de fosfato em histonas, acetilação de histonas associadas ao DNA, etc. Nesses indivíduos, então, terá uma diferença na expressão gênica e a epigenética irá regular a expressão gênica e ela se baseia em alterações bioquímicas que ocorrem na molécula do DNA sem alterar a sequência. A imagem acima retrata uma representação esquemática da cromatina e os três principais mecanismos epigenéticos: a metilação do DNA em dinucleotídeos CpG, associada à repressão gênica; várias modificações nas caudas das histonas, associadas tanto com a expressão quanto com a repressão gênica; e diversas variantes de histonas que marcam as regiões específicas do genoma, associadas a funções específicas necessárias para a estabilidade cromossômica ou integridade do genoma. Ao analisar esta imagem, pode-se inferir que: o Na primeira situação, em que você pensa em uma célula tronco embrionária, já se sabe que ela vai ter que se diferenciar em algum momento. O que faz ela se diferenciar é a expressão gênica; dependendo da necessidade da célula, terá uma ativação ou inativação de determinados genes. Essa ativação e inativação de genes irá depender do caminho que a célula seguir, nesse caminho ela será sinalizada por determinadas moléculas e essas moléculas estimulará ela a se diferenciar em determinada célula, e a mesma coisa irá acontecer em um outro caminho que a célula percorrer, o que fará ela se diferenciar em um outro tipo celular, e assim sucessivamente. Vale salientar, também, que não houve mutação para que isso ocorresse, mas sim uma ativação gênica, que é modulada através de mecanismos epigenéticos; o Na segunda situação, pensando em um indivíduo que tem uma predisposição, por exemplo, ao desenvolvimento de artrite reumatoide, dependendo da influência que ele sofra no meio, ele pode ter uma modulação de expressão gênica em cada um dos caminhos. Isso pode fazer com que ele, apesar da predisposição, seja um indivíduo saudável, pode fazer com que ele tenha uma doença mais persistente, uma doença precoce, etc. nota-se, então, que são vários caminhos distintos que podem acabar, por conta da exposição específica nesses caminhos, determinar exatamente o que o indivíduo irá apresentar fenotipicamente. Fernanda Carvalho, 4º semestre - TUT 04 3 Genética EPIGENÉTICA E EPIGENOMA: o Epigenética: refere-se ao estudo dos fatores herdados que modificam a expressão dos genes sem alterar a sequência de DNA; o Epigenoma: (“acima” do genoma): é o conjunto de modificações bioquímicas da cromatina que determina uma informação genética, refletindo o status epigenético da cromatina de uma célula. O epigenoma está muito ligado com o transcriptoma (conjunto de RNA mensageiro). A INFORMAÇÃO GENÉTICA: o Nem todos os genes são necessariamente expressos em todas as células de um organismo. A maioria está programada para permanecer reprimida. o Modificações epigenéticas são mecanismos moleculares que permitem preservar o estado inativo (cromatina fechada, condensada) por regenerar a estrutura repressiva da cromatina a cada rodada de replicação do DNA. Só serão mantidas relaxadas aquelas regiões da cromatina que contêm a informação genética dos genes que será preciso transcrever e traduzir daquela célula especificamente. Essas modificações bioquímicas são repassadas por geração; o A maior parte da cromatina estará fechada, compactada e, portanto, inativa. Para manter isso serão utilizados os mecanismos epigenéticos. o Essa imagem mostra o processo de diferenciação celular associado com a ativação e inativação de genes. De azul, tem os genes que são ativados em células indiferenciadas, e geralmente, quando uma célula ainda é indiferenciada, tem-se a expressão elevada desses genes. Mas observe que, no ponto que a célula de compromete com alguma linhagem específica (em verde), o nível de expressão desses genes (linha azul) começa a cair; isso porque são genes que se expressam mais em células indiferenciadas; o Se pensar nos genes da linha verde, esses genes são associados com a expressão das células que já se diferenciaram, então eles estão pouco expressos no início e quando a célula se compromete com uma linhagem, eles começam a aumentar a expressão; o Na linha vermelha, tem genes que são poucos expressos e tendem a diminuir a sua expressão a partirdo momento que ela se diferencia. Então, esses genes alternativos estão muito associados com mecanismos de bloqueio no nosso material genético; o E para que se consiga aumentar a expressão desses genes específicos, é preciso diminuir os genes de bloqueio (em vermelho). MECANISMOS EPIGENÉTICOS: Fernanda Carvalho, 4º semestre - TUT 04 4 Genética Metilação de citosinas: o Modificação covalente do DNA: substituição do H5 de citosinas por um grupo metil (doador: S-adenosilmetionina – SAM); o Essa doação é feita por enzimas específicas conhecidas como DNA metiltransferases em mamíferos: DNMT1, DNMT2, DNMT3A). Tipos: De manutenção; De novo. Observa-se na imagem que, apesar de a segunda sequência de DNA ter sofrido metilação, as duas sequências continuam iguais, não houve alteração. Porém, a metilação que ocorreu na citosina, pode mudar a forma na qual o gene se expressa (pode aumentar ou diminuir a expressão gênica). METILAÇÃO DE CITOSINAS NO DNA: Essa metilação de citosinas ocorre em pontos específos do DNA, que são as regiões conhecidas como ilhas CpG (regiões do material genético ricas em citosinas e guaninas) e inibe a expressão gênica pelo recrutamento de proteínas específicas de ligação a metil‑CpG, que, por sua vez, recrutam enzimas de modificação da cromatina para silenciar a transcrição; Ocorre nas sequências CpG in tandem, em ambas as fitas de DNA; o Ilhas CpG (geralmente encontradas nos promotores e nas regiões intergênicas {regiões com papeis regulatórios – íntrons}); o Em mamíferos, 60% - 90% de todas as CpGs estão metiladas. Mas afinal, o que essa metilação faz? A resposta é: depende. Não interfere no pareamento das bases nitrogenadas, mas adiciona informações: o Grupo metil posicionado no sulco maior do DNA (na parte externa; e por isso não interfere no seu pareamento); o Controle da ligação de proteínas ao DNA; o Organização da cromatina e expressão gênica (frequentemente silenciamento gênico). Sendo assim, pode-se afirmar que, se a maioria dos nossos promotores gênicos estão inativos nas nossas células, é correto dizer que a maioria dos promotores gênicos de nossas células estão metilados. Então, o mecanismo epigenético de metilação é fundamental para mantermos o estado inativo dos nossos genes nas células que não necessitam deles. Essas metilações mantêm normalmente os genes inativos, pois são mecanismos epigenéticos fundamentais para mantermos o estado de inativação dos promotores gênicos e fazer com que eles não se expressem desnecessariamente nas nossas células. Fernanda Carvalho, 4º semestre - TUT 04 5 Genética ALTERAÇÕES NO PADRÃO DE METILAÇÃO E A CARCINOGÊNESE: o Alterações neste equilíbrio podem comprometer a expressão de genes críticos (oncogenes e genes supressores tumorais), resultando em diversos tipos de câncer. Hipometilação generalizada do genoma- frequente em sequências do DNA repetidas (DNA satélite, LINE e SINE), retrotransposons e genes cópia única; Hipermetilação que se apresenta em áreas localizadas dentro da região promotora de genes supressores de tumor, fatores de transcrição, genes de controle do ciclo celular, genes anti-apoptóticos e genes de reparo do DNA. Percebe-se, na imagem, que onde tem o processo tumoral estabelecido (câncer), abaixo da sequência normal, houve uma modificação no perfil de metilação se comparado com a sequência normal. Consequentemente, houve um bloqueio da expressão gênica, pois agora a cromatina encontra-se condensada (cromatina fechada não tem como fazer a leitura, sendo assim não gera RNAm e não gera expressão gênica). Os genes que precisam ser bloqueados para o estabelecimento do câncer são os genes supressores tumorais e os genes de reparo, os quais vão apresentar uma hipermetilação de ilhas CpG e, consequentemente, um bloqueio do processo transcricional, e esses genes bloqueados vão proporcionar o estabelecimento do tumor. Essa imagem aborda o mecanismo de metilação acontecendo e também sobre como os fatores ambientais podem modular essa resposta ao processo de metilação ou como os processos ambientais podem gerar a metilação. Observa-se, então, dois camundongos, e na região promotora de um deles (o marrom) tem a metilação, já no outro a região promotora não está metilada. Sabe-se que normalmente, na maior parte das situações, quando o gene está metilado, ele fica inativo, e é por isso que pode-se perceber que o gene do camundongo marrom está produzindo pouco RNAm, já no camundongo amarelo (em que não tem metilação), há uma produção maior de RNAm desse mesmo gene. Quando o gene não está metilado: o Camundongo com a pelagem amarela e com predisposição ao aparecimento de tumores e obesidade; Quando o gene está metilado: o Camundongo saudável e com pelagem marrom. E aí percebeu-se que, mudando a dieta desses camundongos durante a gestação (antes do nascimento) com suplementação específica, fez com que uma boa parte deles nascessem saudáveis. Eles nasceram saudáveis e marrons porque, aquilo que foi ingerido na gestação, foi capaz de gerar a metilação que eles não tinham anteriormente. Logo, percebe-se que aquilo que se ingere ou que se está exposto estão Fernanda Carvalho, 4º semestre - TUT 04 6 Genética associados com os mecanismos de metilação do DNA. E aí observa-se na imagem que os camundongos que não fizeram suplementação dietética durante a gestação, a maior parte nasceu com problemas, como tumoração e obesidade. Então, existe uma associação muito grande dos fatores ambientais com os mecanismos epigenéticos. “MEMÓRIA EPIGENÉTICA”: o A metilação em ambas as fitas permite reproduzir o padrão após a replicação do DNA -> as metilações podem ser herdadas de geração em geração; o Metilases de manutenção reconhecem fitas hemimetiladas (híbridas: fitas mães metiladas e fitas filhas não metiladas) e adicionam grupos metil às citosinas correspondentes; o Importância da hemimetilação para o reconhecimento de pareamentos errados durante a replicação. Modificação de histonas: o Sabe-se que as histonas são proteínas básicas que enovelam o material genético. Para que o material seja transcrito é preciso modificar as histonas covalentemente e isso vai alterar a expressão gênica (alterações: acetilação, metilação, fosforilação, ubiquitinação); o Uma segunda classe de sinais epigenéticos consiste em uma lista extensa de modificações em qualquer dos tipos principais de histonas, H2A, H2B, H3 e H4. Essas modificações incluem a metilação, a fosforilação, a acetilação das histonas e outros, ocorrendo em resíduos de aminoácidos específicos, localizados principalmente nas “caudas” N‑terminais de histonas, que se estendem para fora a partir do centro do nucleossomo; o Acredita‑se que essas modificações epigenéticas influenciem a expressão gênica, afetando a compactação da cromatina ou sua acessibilidade e sinalizando complexos de proteínas que, dependendo da natureza do sinal, ativam ou silenciam a expressão gênica naquele local. ACETILAÇÃO DE HISTONAS: o É feita pela proteína HAT e nada mais é do que a adição do radical acetil aos aminoácidos lisina das histonas; o Quando faz essa acetilação o material genético fica ativo e aí nessas regiões será possível fazer a transcrição. Quando não é mais necessário, as proteínasHDAC vão desacetilar essas histonas e aí, essas cromatinas que estavam soltas, voltam a se enovelar, inativando-as. Fernanda Carvalho, 4º semestre - TUT 04 7 Genética METILAÇÃO DE HISTONAS: o A metilação de histonas ocorre em resíduos de lisina; o O grau de metilação e o resíduo metilado estão envolvidos na regulação transcricional – ativação ou repressão dependente da lisina em questão; H3K9me e H3K27me são marcadores de silenciamento de DNA (regiões de heterocromatina, X inativado e promotores silenciados) enquanto H3K4me sugere DNA transcricionalmente ativo (promotores ativos). “MEMÓRIA GENÉTICA”: o Uma característica importante da estrutura da cromatina é que ela pode ser herdada. Essa forma de herança recebe uma denominação herança epigenética e é definida operacionalmente como a herança dos estados da cromatina de uma geração celular para a próxima; o O que essa herança significa é que, na replicação do DNA, tanto a sequência do DNA quanto a estrutura da cromatina são fielmente transmitidas para a próxima geração celular. Entretanto, contrariamente à sequência de DNA, a estrutura da cromatina pode ser alterada no curso do ciclo celular e durante gerações sucessivas de divisão celular; o Durante a replicação do DNA, o octâmero de histonas não se dissocia completamente, de forma que as fitas recém-sintetizadas têm seus nucleossomos montados a partir de histonas novas e antigas; o Parte do octâmero de histonas vai ser passado para as fitas que vão ser formadas, então a pessoa acaba herdando o perfil das histonas dos seus pais; o As modificações carregadas pelas histonas antigas são responsáveis em parte pela herança epigenética. Como tal, essas antigas modificações são denominadas marcas epigenéticas, tendo em vista que orientam a modificação das novas histonas. INFLUÊNCIAS AMBIENTAIS: o Os mecanismos genéticos estão muito atrelados aos fatores ambientais; o Se o indivíduo estiver exposto a determinados fatores, pode haver a metilação, por exemplo; o Pode-se afirmar, então, que a epigenética é fruto da exposição ambiental dos indivíduos; o Isso vai provocar mudanças fenotípicas nos indivíduos, como comportamento, sobrevida, suscetibilidade a doenças, etc. Fernanda Carvalho, 4º semestre - TUT 04 8 Genética EPIGENÉTICA E NUTRIÇÃO: o Determinados componentes bioativos de alimentos podem alterar a expressão gênica via alterações na metilação do DNA e modificações de histonas; o Disponibilidade do doador de grupos metil (SAM): É dependente de vias metabólicas relacionadas às vitaminas B6 e B12 – deficiência de vitamina B compromete a metilação do DNA; Envolve folato, betaina, colina e aminoácidos – consumo crônico de álcool pode alterar a disponibilidade de SAM através do desperdício de metionina e colina ou por diminuir a disponibilidade de vitamina B; o EGCG (polifenol – chá verde): pode diminuir a metilação global do DNA, em linhagens celulares de câncer, pela inibição competitiva DNMT; também aumenta o nível de miR-210 – diminuição da proliferação celular; o Redução de selênio (grãos e vegetais): diminuição da metilação global do DNA; expressão diminuída de DNMT1 em linhagens celulares de câncer de cólon e próstata. EPIGENÉTICA E A DIETA MATERNA: o A transmissão materna de marcas epigenéticas pode ser alterada por nutrientes: Consumo materno de vitamina B está associado com mudanças no risco de carcinogênese mamária e de cólon na prole; Consumo materno de colina, em ratas, aumenta os níveis de metilação de histonas (H3K9me2 e H3K27me) – possivelmente devido ao aumento na expressão de HMT (histonas metiltransferases); Dieta rica ou pobre em proteínas, em porcas, pode alterar a matilação global do gene na prole, através de mudanças na expressão das DNMTs. EPIGENÉTICA E ENVELHECIMENTO: EPIGENÉTICA E DOENÇAS:
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