Buscar

project finance TCC

Prévia do material em texto

PROJECT FINANCE: RISCOS E 
MITIGANTES NA ESTRUTURAÇÃO DE 
PROJETOS 
 
 
JOSÉ LUIZ PEREIRA DUARTE SILVA 
(UFF) 
LUIS PEREZ ZOTES 
(UFF) 
 
 
 
Resumo 
Este artigo tem por objetivo tratar da estruturação de projetos na 
modalidade Project Finance, apresentando um breve histórico, suas 
principais características e exemplos de utilização. Sua abordagem 
predominante diz respeito aos riscos inccorridos durante a consecução 
de um empreendimento e as suas formas de mitigação. Serão elencados 
os diversos tipos de riscos e os possíveis mitigantes que propiciariam a 
execução de um projeto com níveis de incertezas menores do que 
aqueles encontrados em projetos concebidos em outras modalidades de 
financiamento. Dessa forma, por intermédio da viabilização de 
empreendimentos de infraestrutura de grande porte, espera-se que o 
Project Finance contribua para o crescimento econômico do Brasil e 
sua consolidação no cenário mundial. 
 
Palavras-chaves: ESTRUTURAÇÃO. PROJECT FINANCE. RISCOS. 
MITIGANTES. 
8 e 9 de junho de 2012 
 
ISSN 1984-9354 
 
 
VIII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 
8 e 9 de junho de 2012 
 
 
 
 
 
2 
 
1. Introdução 
 
O Project Finance é uma engenharia financeira utilizada, geralmente, em projetos de 
infra-estrutura de grande porte. Tem como característica principal a segregação de seus ativos 
em uma entidade independente, normalmente uma Sociedade de Propósito Específico (SPE), 
responsável pela obtenção de recursos para sua consecução. Neste tipo de financiamento, 
pressupõe-se que as receitas geradas pelo empreendimento sejam capazes de fazer frente às 
despesas de pagamento dos recursos obtidos para sua execução. Ou seja, o fluxo de caixa 
deve ser a principal garantia do financiamento. São exemplos de projetos financiáveis na 
modalidade Project Finance as hidrelétricas, as rodovias, os portos e os aeroportos, dentre 
outros. 
Contudo, não se trata de uma ferramenta recente. A história relata que transações 
baseadas nas características deste tipo de instrumento já eram utilizadas pelos ingleses há 
mais de 700 anos. Um exemplo disso foi o empréstimo que a Coroa Britânica fez, em 1299, 
com o banco florentino Frescobaldi, um dos principais existentes no mundo na época (que 
possuía como principais concorrentes os Bancos Bardi, Peruzzi e Acciauioli, também de 
Florença, e o Banco de Veneza, todos da Itália), para exploração de minas de prata na região 
de Devon, litoral sudoeste da Inglaterra. Como forma de pagamento da dívida, os ingleses 
permitiram que os italianos extraíssem prata pelo período de um ano, sem limite de 
quantidade. O detalhe relevante nesta transação foi que a Inglaterra não deu qualquer garantia 
da qualidade da prata a ser extraída e os italianos assumiram o risco de performance da 
operação (FINNERTY, 1999). 
E é sobre a mitigação de riscos que se apóiam todos os desafios para a plena execução 
de projetos nesta modalidade. Tão importante quanto à obtenção de recursos financeiros para 
cumprir seu cronograma físico-financeiro são as garantias necessárias ao conforto dos 
financiadores. 
 
2. Breve histórico do Project Finance no Mundo e no Brasil 
 
 
 
VIII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 
8 e 9 de junho de 2012 
 
 
 
 
 
3 
Apesar de ser, como visto anteriormente, uma ferramenta com um histórico bastante 
antigo, somente em tempos mais recentes, entre as décadas de 60 e 80, se pode detectar sua 
utilização intensiva em projetos de grande envergadura ao redor do mundo. 
Um deles é o projeto de larga escala Trans Alaska Pipeline System (TAPS), 
desenvolvido entre 1969 e 1977 por uma joint venture formada por oito das maiores empresas 
de petróleo do mundo. Este empreendimento previa a construção de um oleoduto com 1.300 
Km de extensão, ao custo de quase US$ 8 bilhões, para o transporte do petróleo bruto e gás 
natural liquefeito do norte do Alasca para o porto de Valdez no sul do estado, único livre de 
gelo. Os esforços pré-construção demandaram aproximadamente 6 anos (de 1969 a 1975) e se 
destinaram à seleção da melhor rota, desenho do oleoduto e estudos geológicos. Sua fase de 
construção se deu entre março de 1975 e maio de 1977, e chegou a empregar mais de 28.000 
trabalhadores em seu momento de pico. Sua inauguração se deu em 20 de junho de 1977, 
quando ocorreu o primeiro transporte de óleo (FINNERTY, 1999). 
Um caso emblemático é o projeto da Euro Disneyland. A Walt Disney Company, 
conhecida empresa americana do ramo de entretenimento, sediada em Burbank, na Califórnia, 
expandiu seus domínios além do território americano quando da implantação do primeiro 
empreendimento fora dos Estados Unidos. A Tokyo Disneyland, localizada em Chiba, nos 
arredores de Tóquio, no Japão, foi inaugurada em abril de 1983. Já a Euro Disney localiza-se 
a 32 km de Paris, na França, ocupando uma área de aproximadamente 20 milhões de m
2
. Este 
posicionamento foi estrategicamente estudado, pois, num raio de seis horas de carro, flutua 
uma população de quase 100 milhões de habitantes, distribuída, principalmente, entre França, 
Inglaterra, Itália, Alemanha, Bélgica, Holanda e Suíça. Sua inauguração ocorreu em 1992, e, 
além do parque temático do Reino Encantado, a Disney construiu um resort com sete hotéis, 
um parque aquático e um centro de exposições. 
Este projeto, concebido após a assinatura de um acordo com o governo francês em 
1985, contava com uma estrutura financeira bastante alavancada, em meio a uma intrincada 
relação societária. O alto grau de alavancagem determinou um risco financeiro nas mesmas 
proporções, onerando o risco operacional para o projeto. A geração de recebíveis imobiliários 
era essencial para equilibrar o fluxo de caixa do projeto, trazendo-o a um nível de risco 
aceitável. Deste modo, em 1988, começaram os trabalhos de construção, e, apesar da recessão 
causada pela Guerra do Golfo, em 1990, a Euro Disneyland foi inaugurada em abril de 1992. 
Seu custo, na fase inicial, foi orçado em 14 bilhões de francos franceses. 
 
 
VIII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 
8 e 9 de junho de 2012 
 
 
 
 
 
4 
Mais recentemente, a partir do início da década de 90, a estruturação de projetos 
baseados na modalidade Project Finance passou a ser bastante difundida no mercado 
financeiro brasileiro. Levando em consideração uma diretriz governamental de privilegiar a 
privatização de seus ativos, principalmente os de energia elétrica e de telecomunicações, pela 
necessidade de melhoria da qualidade dos produtos e serviços oferecidos, houve a geração de 
uma enorme quantidade de projetos. Com a estabilidade econômica proporcionada pelo Plano 
Real, implementado em 1994, e com a confiança de órgãos financiadores internos e externos 
em alta, vários deles foram concebidos nesta modalidade, contando com a criatividade de 
bancos comerciais, de desenvolvimento, de investimentos, de entidades multilaterais e de 
assessores financeiros especializados. 
Para o sucesso deste tipo de financiamento, é necessário que o empreendimento, 
enquanto projeto, mostre capacidade de geração de fluxos de caixa suficientemente 
consistentes para que os financiadores aportem seu capital em troca de uma remuneração 
adequada. As garantias envolvidas neste modelo de crédito são bastante complexas. Um apoio 
jurídico constante se faz necessário para que todas as amarrações contratuais possam dar o 
lastro garantidor ao crédito concedido. 
Como exemplos de projetos estruturados na modalidade Project Finance no Brasil, 
segue, abaixo, um breve relato de empreendimentos com essas características (Bonomi, 
2004): 
– Ponte S.A. – Ponte Rio – Niterói – um bom exemplo de Project Finance “à 
brasileira”, tendo sido financiado em R$ 36 milhões pelo Banco Nacional de 
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), em 1996, pelo prazo de 10 anos, com 
garantia do fluxo de recebíveis de pedágio. Fruto de um Programa de ConcessõesRodoviárias 
do Governo Federal, em 1994, a Ponte era uma rodovia pré-existente, que carecia de maiores 
investimentos para manutenção de sua complexa e sensível estrutura física; 
– SEMESA S.A. – Serra da Mesa Energia – em 1993, o Governo Federal deu início a 
um processo de parceria com a iniciativa privada para aumento da capacidade instalada de 
energia elétrica no sistema energético nacional, através de um processo de licitação onde ao 
vencedor caberia a conclusão do aproveitamento hidrelétrico de Serra da Mesa, mapeado pelo 
Departamento Nacional de Águas e Energia Elétrica (DNAEE) e pela Eletrobrás. Serra da 
Mesa Energia S.A., cujo principal acionista era o Banco Nacional S.A., e Furnas Centrais 
Elétricas, representando os interesses estatais, formaram parceria até a quebra do Nacional, 
 
 
VIII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 
8 e 9 de junho de 2012 
 
 
 
 
 
5 
que foi substituído, em 1997, pela VBC Energia, empresa composta por Votorantim, 
Bradesco e Camargo Corrêa. No ano seguinte, a obra foi concluída, recebendo a VBC 51,54% 
da energia gerada e Furnas, o restante. Com 1.275 MW de capacidade de geração, Serra da 
Mesa é o elo entre os sistemas Sul/Sudeste/Centro-Oeste e Norte/Nordeste, tendo consumido 
investimentos de aproximadamente US$ 800 milhões; e 
– Via Lagos S.A. – objeto de uma concorrência para licitação de um trecho de 60 km, 
ligando Rio Bonito a São Pedro D’Aldeia, no estado do Rio de Janeiro, promovida de 
Departamento de Estradas de Rodagem estadual, a Via Lagos, Sociedade de Propósito 
Específico (SPE) criada pela Companhia de Concessões Rodoviárias (CCR), teve seu contrato 
de concessão homologado em 18/03/1997, com investimentos previstos da ordem de US$82 
milhões, a fim de recuperar esta importante malha viária na ligação com a Região dos Lagos 
fluminense. O financiamento contou com recursos nacionais do BNDES (equivalente a US$ 
20 milhões) e internacionais do BID (US$ 37 milhões), totalizando US$ 57 milhões. Os US$ 
25 milhões restantes foram a contrapartida oferecida pelos patrocinadores do projeto. 
 
3. Apresentação da Situação-Problema 
 
Um empreendimento desenvolvido na modalidade Project Finance necessita, quase na 
totalidade dos casos, de uma sofisticada engenharia financeira, cujo objetivo principal é a 
adequada alocação de riscos e retornos entre os participantes da estruturação de modo mais 
eficiente do que numa operação financeira convencional. 
A figura abaixo retrata a estrutura básica de uma operação de Project Finance. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
VIII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 
8 e 9 de junho de 2012 
 
 
 
 
 
6 
 
 
Figura 01 – Elementos Básicos de um Project Finance 
Fonte: Finnerty, 1999. 
 
Em sua origem, um projeto não possui qualquer histórico creditício no qual possa se 
basear para aspirar à obtenção de financiamentos para sua execução. Por isso, é preciso que o 
mesmo se mostre, aos olhos das entidades financiadoras, como um empreendimento técnica e 
economicamente viável. 
Pelo lado técnico, para que os emprestadores de recursos se sensibilizem, são 
necessárias garantias de que o projeto terá a produção estipulada em seu caso-base. Para isso, 
normalmente, são requeridas opiniões de consultores de engenharia independentes, de modo a 
atestar sua exeqüibilidade. Pelo lado financeiro, é preciso que os credores sintam-se 
confortáveis com a capacidade do projeto gerar fluxos de caixa consistentes ao longo do 
tempo, como forma de garantir o pagamento dos empréstimos concedidos, bem como 
remunerar adequadamente os inversores de capital próprio. Sua consistência deve ser tal que, 
mesmo diante da ocorrência de eventos desfavoráveis, possibilite honrar seus compromissos 
financeiros. Além disso, deve ter a garantia do fornecimento de matéria-prima suficiente para 
sua operação e uma gerência capacitada para gestão do projeto. 
O projeto demandante de financiamento na modalidade Project Finance deve atuar 
como uma unidade autônoma, capaz de gerar retornos superiores aos que poderiam ser 
obtidos caso as atividades fossem desenvolvidas pela empresa patrocinadora. Este ponto deve 
ser encarado positivamente, tendo em vista que proporciona maior capacidade de 
alavancagem à patrocinadora, permitindo que outros projetos, com baixo grau de atratividade, 
ou mesmo necessidades financeiras meramente operacionais, sejam executados. 
De acordo com Filha e Castro (2000, p.109): 
 
Do ponto de vista dos financiadores, a análise de projetos industriais 
é, na sua essência, um estudo visando verificar a viabilidade do 
projeto, através da aferição das taxas de retorno e de sua capacidade 
de pagamento, associada a uma estrutura de garantias negociada em 
contrapartida aos créditos a serem concedidos. 
 
 
VIII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 
8 e 9 de junho de 2012 
 
 
 
 
 
7 
 
Para que esta viabilização aconteça é essencial que os possíveis riscos detectados na 
estruturação do empreendimento sejam analisados com profundidade e, a partir de então, 
sejam estabelecidos os parâmetros de proteção necessários para minimizar os impactos de sua 
ocorrência. 
 
4. Objetivo 
 
O objetivo deste artigo é abordar um dos pontos mais sensíveis na estruturação de 
créditos de longo prazo realizados por intermédio da modalidade de financiamento conhecida 
como Project Finance: a avaliação de riscos. 
Para que se possa entender adequadamente este relevante aspecto inerente à estrutura 
financeira de projetos, será apresentada uma análise das mais variadas formas de riscos e seus 
possíveis mitigantes. 
 
5. Método 
 
Para a concepção deste artigo, foi realizada uma pesquisa sobre o tema em material 
pré-existente, a exemplo de livros, artigos científicos, periódicos e impressos diversos. 
Segundo GIL (2009), este tipo de pesquisa classifica-se, quanto ao seu objetivo, como 
exploratória e, quanto ao seu procedimento, como bibliográfico. 
 
6. Riscos e mitigantes 
 
A avaliação e prevenção de possíveis riscos inerentes a um projeto financiado como 
Project Finance consome tempo e recursos durante a fase de sua estruturação. Deve-se 
procurar incessantemente pela melhor forma de mitigação, de modo a reduzir os impactos 
futuros provenientes de uma situação de risco. 
Segundo Finnerty (1999, p.39): 
 
 
 
VIII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 
8 e 9 de junho de 2012 
 
 
 
 
 
8 
Os credores de um projeto exigirão a proteção contra certos riscos 
básicos. Emprestar a um projeto antes do início da construção, sem 
proteção contra os vários riscos financeiros e do negócio, exporia os 
credores do projeto a riscos de capital. 
 
Um ponto de vista bastante interessante, e não observado em outros autores, possui 
Vellutini (2006), quando ressalta o “risco do acionista”, traduzido na capacidade setorial dos 
sponsors (patrocinadores) de um projeto. Para ele, os financiadores sempre devem certificar-
se de que o principal acionista do empreendimento possui especialização no setor, além de um 
currículo que demonstre sua experiência e histórico de sucesso na área. 
De acordo com Dymond; Pineda (2004), os riscos técnicos, creditícios, regulatórios e 
econômicos devem ser alocados entre as partes envolvidas por meio de detalhadas relações 
contratuais. 
Segundo Sorge e Gadanecz (2004), o risco político deve ser tratado como uma 
importante preocupação na estruturação contratual de um projeto. A melhor maneira de 
mitigar este risco, que envolve expropriações, guerras ou conversibilidades, é a obtenção 
garantias junto a agências de crédito à exportação ou bancos multilaterais de 
desenvolvimento. 
De acordo com Nevitt e Fabozzi (2000, p. 2), a melhor forma de entender as 
preocupações dos financiadores de projetos é considerar as causas mais comuns de falência 
destes empreendimentos, a saber: 
a) Atraso na completação, com aumento das despesas de juros sobrefinanciamento e 
atraso no início do fluxo de receitas; 
b) Sobrecustos de capital; 
c) Falhas técnicas; 
d) Falência do contratante; 
e) Interferências governamentais; 
f) Perdas não seguradas; 
g) Aumento de preços ou escassez de matéria-prima; 
h) Obsolescência técnica da planta; 
i) Perda de competitividade no mercado consumidor; 
j) Expropriação; 
 
 
VIII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 
8 e 9 de junho de 2012 
 
 
 
 
 
9 
k) Falha no gerenciamento; 
l) Projeções otimistas de valores de reservas, a exemplo de óleo e gás; 
m) Insolvência financeira do governo anfitrião. 
 
A seguir, serão abordados, então, os principais riscos ocorrentes em projetos 
estruturados e os instrumentos para sua mitigação (FINNERTY, 1999; BONOMI, 2004; 
VELLUTINI, 2006): 
 
1) Risco do Acionista 
Conceito – é o risco que corre o credor de que um acionista/patrocinador de um 
projeto não possua especialização no ramo no qual pretenda implementar o empreendimento. 
Mitigante – exigência pelos financiadores de experiência e histórico de sucesso no 
setor relacionado ao projeto. 
 
2) Risco Ambiental 
Conceito – é o risco relacionado a possíveis impactos negativos do projeto sobre o 
meio ambiente. Estes podem ocasionar atrasos no desenvolvimento do empreendimento ou, 
até mesmo, a necessidade de um redesenho do projeto-base para solução desses impasses. 
Mitigante – profundo conhecimento da legislação regulatória ambiental da localidade 
onde se projeta instalar o empreendimento, tanto em nível federal, quanto estadual ou 
municipal. Um estudo de impacto ambiental (EIA) bem realizado, acompanhado de um 
relatório de impacto sobre o meio ambiente (RIMA), pode prevenir o projeto de futuros 
problemas de meio ambiente. A obtenção das licenças prévia, de instalação e de operação são 
condições necessárias para o funcionamento da SPE. 
 
3) Risco de Câmbio 
Conceito – este risco ocorre quando os fluxos de receitas e despesas do projeto são 
denominados em duas ou mais moedas diferentes. Neste caso, o descasamento de taxas 
cambiais afeta o fluxo de caixa e pode causar problemas para honrar o serviço da dívida 
existente. 
 
 
VIII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 
8 e 9 de junho de 2012 
 
 
 
 
 
10 
Mitigante – a melhor forma de proteção à exposição cambial é a realização de 
operações de hedge por intermédio de contratos a termo e a futuro das moedas constantes no 
contrato de financiamento ou contratos de swap de moedas. 
 
4) Risco Comercial ou de Mercado 
Conceito – os fluxos de um projeto são, normalmente, baseados em contratos de 
compra e venda de longo prazo. Na hipótese de um comprador adquirir toda a capacidade de 
produção do empreendimento, ele fica exposto à variação de quantidade e preço que pode 
ocorrer em sua demanda de terceiros. É a este risco comercial/mercadológico que os 
financiadores do projeto não devem ficar sujeitos. 
Mitigante – exigência por parte dos credores do projeto de que eventuais cláusulas de 
isenção de responsabilidade dos compradores sejam as mais limitadas possíveis, garantindo 
constância e previsibilidade do fluxo de caixa do empreendimento. 
 
5) Risco de Construção/Conclusão 
Conceito – diz respeito ao risco do projeto não ser concluído dentro do prazo previsto 
por questões técnicas ou financeiras. 
Mitigante – assinatura de contrato de empreitada global de data certa e preço fixo 
(modalidade turnkey) com empreiteiros comprovadamente capazes e experientes naquele tipo 
de construção. A solidez financeira do empreiteiro, ou do consórcio de empreiteiros, deve ser 
aferida antes de sua contratação, de modo a evitar problemas posteriores. 
 
6) Risco Econômico 
Conceito – risco inerente à demanda pelo produto ou serviço fornecido pelo projeto. 
Caso haja queda nos níveis de venda projetados ou aumento de preço da matéria-prima, corre-
se o risco econômico de que o empreendimento não possa cobrir seus custos operacionais e 
gerar uma taxa de retorno atraente aos sponsors, além de cumprir com suas obrigações 
contratuais de pagamento aos credores da dívida. 
Mitigante – obter compromisso dos acionistas de aportes financeiros para satisfazer o 
serviço da dívida, realizar operações de hedge com contratos futuros e a termo de 
commodities para compensar oscilações do preço da matéria-prima e buscar outros mercados 
 
 
VIII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 
8 e 9 de junho de 2012 
 
 
 
 
 
11 
com potencial de consumo para suprir eventual queda na demanda e restabelecer os níveis de 
venda e, conseqüentemente, de geração de receitas. 
 
7) Risco Financeiro 
Conceito – é o risco que corre o projeto de um aumento extemporâneo nas taxas de 
juros flutuantes contratadas para o financiamento. 
Mitigante – o cenário ideal seria a assunção de contratos com taxas de juros fixas. 
Porém, na maioria dos empréstimos bancários existentes atualmente, as instituições 
financeiras, para sua segurança, compõem sua remuneração com taxas de juros flutuantes. 
Graças ao desenvolvimento de ferramentas financeiras de proteção pelo mercado, o projeto 
pode realizar operações de hedge comprando contratos de teto (cap) de taxas de juros ou 
contratos de swap de taxas de juros com contraparte definida. 
 
8) Risco de Força Maior 
Conceito – é o risco relacionado à ocorrência de eventos fortuitos, ou seja, fora do 
controle das partes envolvidas, que possam prejudicar o desenvolvimento do projeto, seja em 
sua fase de construção, seja em sua fase de operação. Estes riscos incluem falha técnica 
irreparável, incêndio, greve, revoluções, convulsões sociais, terremoto, terrorismo, etc. 
Mitigante – contratação de pacote de seguros que cubra todos os possíveis riscos (all 
risk insurance). Por medida de segurança, os financiadores exigem ser beneficiários da 
apólice para o caso de ocorrência de sinistro. 
 
9) Risco de Inadimplência /Falência 
Conceito – este risco refere-se à possibilidade do mutuário da dívida ficar 
inadimplente, entrar em processo de recuperação judicial ou extrajudicial ou de falência 
perante o credor. 
Mitigante – neste caso, o financiador deve proteger-se por intermédio da exigência de 
contratação pelo projeto de um pacote de seguros (security package) com garantias reais. 
Normalmente, os acionistas também são compelidos a empenhar todo o capital social da 
empresa em favor do credor, bem como ceder seus direitos sobre empréstimos subordinados 
contraídos. 
 
 
 
VIII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 
8 e 9 de junho de 2012 
 
 
 
 
 
12 
10) Risco Legal 
Conceito – é o risco de perdas relacionado à falta de suporte legal a um contrato 
jurídico por ausência de representatividade de uma das partes negociadoras, de legalidade ou 
de insuficiência documental. 
Mitigante – contratos bem estruturados, com clara definição dos direitos e obrigações 
existentes entre as partes, que sejam legalmente constituídos e exeqüíveis. Financiadores e 
credores devem basear-se em avaliações e pareceres jurídicos emanados de consultores com 
experiência comprovada e renomada competência. 
 
11) Risco de Operação e Manutenção 
Conceito – este risco é relacionado à operação e manutenção do projeto por seu 
operador. 
Mitigante – o financiador deve exigir do mutuário a confecção de um contrato de 
O&M com um operador tecnicamente capacitado que contenha dispositivos de garantia de 
disponibilidade, bônus e penalidades por performance e cláusula de rescisão, de modo a 
incentivar a operação eficiente do empreendimento. 
 
12) Risco Político 
Conceito – é o risco que o projeto corre de que determinadas ações de autoridades 
políticas da localidade em que está instalado interfiram no seu desenvolvimento e/ou 
viabilização. Pode ocorrer através de sanções legais ou tributárias, dentre outros, tornando o 
projeto insustentável do ponto de vista econômico-financeiro. 
Mitigante – este risco pode ser minimizadopor intermédio de contratação de seguro 
contra risco político, contratos com empresas regionais ou tomada de recursos financeiros 
com bancos locais, os quais poderiam sofrer impactos negativos com o insucesso do projeto. 
 
13) Risco Regulatório 
Conceito – este risco diz respeito à estrutura regulatória do setor de atuação do 
empreendimento. Mudanças evolutivas na legislação pertinente podem causar transtornos ao 
bom desenvolvimento do projeto. 
Mitigante – realização de minuciosa revisão da estrutura regulatória setorial para plena 
adequação do empreendimento às normas de seu mercado de atuação. 
 
 
VIII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 
8 e 9 de junho de 2012 
 
 
 
 
 
13 
 
14) Risco de Suprimento de Matéria-Prima 
Conceito – é o risco que corre o projeto da interrupção do fornecimento ou do 
transporte de matérias-primas necessárias ao seu processamento. 
Mitigante – a melhor forma de proteção para este risco é a assinatura de contratos de 
longo prazo, com cláusulas de garantia de fornecimento e de penalização, caso o mesmo não 
ocorra, entre o projeto e potenciais fornecedores. 
 
15) Risco Tecnológico 
Conceito – é inerente à tecnologia utilizada para consecução do projeto. Dependendo 
do grau de avanço tecnológico do investimento, pode ocorrer, no transcurso de sua 
construção, obsolescência dos equipamentos/tecnologia utilizados, ocasionando desempenho 
técnico abaixo do esperado e conseqüente afetação do fluxo de caixa. 
Mitigante – nesta situação, o ideal é o fechamento de contrato na modalidade turnkey, 
onde construtores e operadores garantem o cumprimento de preços, prazos e, principalmente, 
performance estipulados no projeto-base. Caso isso não aconteça, poderão incidir penalidades 
que deverão ser direcionadas à satisfação do fluxo de caixa para pagamento das dívidas. 
 
7. Conclusão 
 
O objetivo deste artigo foi o de apresentar o contexto que abrange o desenvolvimento 
de projetos na modalidade Project Finance. Além da complexidade de sua estruturação 
financeira, com grande quantidade de contratos e intervenientes diversos, a necessidade de 
compartilhamento de todos os riscos envolvidos é um desafio a ser superado. 
A estrutura de riscos e mitigantes, de modo que o suporte ao financiamento seja eficaz 
para todas as partes envolvidas, é peça fundamental para o sucesso dos projetos. 
Deste modo, acredita-se que o modelo de financiamento Project Finance, respeitando 
os riscos encontrados e apresentando suas respectivas mitigações, possa ser utilizado de forma 
bastante intensa por investidores brasileiros e estrangeiros, de modo a proporcionar condições 
de desenvolvimento da infraestrutura nacional, viabilizando a construção de usinas de energia, 
estradas, portos, aeroportos e, assim, permitindo a continuidade do crescimento do país. 
 
 
 
VIII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 
8 e 9 de junho de 2012 
 
 
 
 
 
14 
REFERÊNCIAS 
 
BONOMI, Cláudio Augusto; MALVESSI, Oscar. Project Finance no Brasil: Fundamentos e 
Estudo de Casos / 2ª. ed. São Paulo: Atlas, 2004. 
 
DYMOND, Christopher; PINEDA, Ilse. Brazilian Power Project Finance. Journal of Project 
Finance, v.7, no.1, Spring 2001, p. 29 – 34. 
 
FILHA, Dulce C. M.; CASTRO, Marcial P. S.. Project Finance para a Indústria: Estruturação 
de Financiamento. Revista do BNDES, Rio de Janeiro, 2000. 
 
GIL, Antonio C.; Como Elaborar Projetos de Pesquisa / 4ª ed. São Paulo: Atlas, 2009. 
 
FINNERTY, John D.. Project Finance: Engenharia Financeira baseada em ativos. Rio de 
Janeiro: Qualitymark, 1999. 
 
NEVITT, Peter K.; Fabozzi, Frank J..Project Financing / 7ª ed. London: Euromoney Books, 
2000. 
 
VELLUTINI, Roberto. Estruturas de Project Finance em projetos privados: fundamentos 
e estudos de casos no setor elétrico do Brasil. Rio de Janeiro: Elsevier; Washington, Estados 
Unidos: Banco Interamericano de Desenvolvimento, 2006. 
 
SORGE, Marco; GADANECZ, Blaise. The term structure of credit spreads in Project 
Finance. International Journal of Finance & Economics, v. 13, n 1, p. 68-81, 2008. 
http://econpapers.repec.org/article/ijfijfiec/

Continue navegando