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TÓPICOS EM LIBRAS 
DESCRIÇÃO 
Características das línguas de sinais e das comunidades surdas. Traços culturais das comunidades 
surdas: literatura, humor e arte surda. Variações linguísticas, regionalismo e padronização das 
línguas de sinais. 
PROPÓSITO 
Compreender os conceitos relacionados às línguas de sinais e à perspectiva da comunidade surda 
para tornar o mundo um lugar mais acessível. 
OBJETIVOS 
Módulo 1 
Apontar equívocos e senso comum a respeito das línguas de sinais e comunidades surdas 
Módulo 2 
Reconhecer aspectos importantes das culturas surdas, como arte, literatura e humor 
Módulo 3 
Identificar as variações linguísticas e as contradições dos processos de padronização das línguas 
de sinais 
INTRODUÇÃO 
Apresentaremos conceitos relativos às línguas de sinais e à cultura das comunidades surdas. 
As comunidades surdas são minorias linguísticas com artefatos culturais riquíssimos, marcadas 
pela peculiaridade linguística. 
As línguas de sinais são de modalidade visoespacial que, por meio das mãos, em articulação com 
o corpo e a face, produzem sinais e discursos complexos. Organizada espacialmente diante da 
pessoa que produz a língua, por meio de um sistema linguístico regrado, tem o mesmo status de 
qualquer outra língua. 
Símbolo Internacional da Língua de Sinais. | Fonte: UFMG. 
No Brasil, temos a Língua de Sinais Brasileira (Libras), reconhecida pela Lei nº 10.436, de 24 de 
abril de 2002, como meio legal de expressão e comunicação da comunidade surda brasileira. Além 
dela, temos no país línguas de sinais indígenas e de comunidades surdas locais. 
A popular Lei de Libras é regulamentada pelo Decreto nº 5.626, de 24 de abril de 2005, que 
institui a disciplina de Libras como componente curricular obrigatório nos cursos de licenciatura, 
fonoaudiologia e pedagogia, bem como disciplina optativa nos demais cursos de instituições de 
ensino superior. Portanto, esse decreto tem o intuito de disseminar a Libras e possibilitar que você 
curse essa disciplina e tenha contato com aspectos interessantes do povo surdo. 
MÓDULO 1 
Apontar equívocos e senso comum a respeito das línguas de sinais e comunidades surdas 
Vamos começar nossos estudos com alguns questionamentos. 
 
São exatamente essas questões – ou fatos que podem ser considerados interessantes a respeito 
das línguas de sinais e das comunidades surdas – que serão trabalhadas neste módulo. 
LINGUAGEM DE SINAIS É A LÍNGUA DOS SURDOS-MUDOS? 
Aqui temos dois equívocos frequentes de pessoas que não conhecem as comunidades surdas e as 
línguas de sinais. Primeiro, o correto é língua e não linguagem de sinais. 
As línguas de sinais (QUADROS; KARNOPP, 2004) possuem todos os níveis linguísticos existentes 
nas línguas orais, ou seja, fonologia, morfologia, semântica, sintaxe e pragmática. Portanto, é tão 
língua quanto a língua oral, apenas expressada e percebida por outra modalidade. 
Saiba mais 
Além de ser incorreto, do ponto de vista teórico, usar o termo “linguagem de sinais” é pejorativo, 
já que diminui a língua de sinais, como se por meio dela não fosse possível expressar conceitos 
abstratos e complexos, levando à ideia equivocada de que a Libras é apenas mímica, pantomima e 
gestos. 
O segundo equívoco é o termo “surdo-mudo”. Trata-se de um termo antigo, ainda muito 
difundido por meio de canais de comunicação. Veja mais sobre isso a seguir: 
MUDO 
A mudez ou afonia é a incapacidade total ou parcial de produzir fala, uma deficiência que nada 
tem a ver com a surdez 
SURDO 
Um surdo ou um deficiente auditivo pode aprender a falar frequentando um fonoaudiólogo e 
fazendo fonoterapia, se assim desejar. 
Portanto, o termo correto é apenas “Surdo”, e com frequência escrito com a primeira letra 
maiúscula, demarcando uma concepção cultural das pessoas surdas em oposição a uma abordagem 
clínica e normatizadora que tem o objetivo de consertar os corpos surdos (SKLIAR, 1999). Temos 
aqui uma concepção sociológica, não clínica, do indivíduo surdo. 
Os Surdos possuem uma língua, que no caso brasileiro é a Língua Brasileira de Sinais (Libras), 
adquirida naturalmente, da mesma forma que pessoas ouvintes aprendem a língua portuguesa. 
No entanto, no caso das crianças surdas, temos uma peculiaridade, já que cerca de 95% dos 
bebês surdos nascem em famílias ouvintes que não sabem língua de sinais e têm pouca ou nenhuma 
informação a respeito das possibilidades de educação bilíngue para crianças surdas. 
O QUE SERIA, ENTÃO, O BILINGUISMO SURDO? 
Os indivíduos Surdos são uma minoria linguística e aprendem a língua de sinais de forma natural 
quando entram em contato com seus pares, isto é, com a comunidade surda sinalizadora. A língua 
da comunidade ouvinte, que é majoritária, é aprendida como segunda língua – no caso dos Surdos 
brasileiros, a língua portuguesa. 
No entanto, por conta da falta de informações a respeito das possibilidades linguísticas de uma 
criança surda, os pais tendem a optar primeiramente por intervenções clínicas e tecnologia assistiva, 
e com frequência proibir a língua de sinais. 
É um equívoco, cometido por alguns profissionais da área da saúde, afirmar que a aquisição de 
uma língua de sinais prejudica a fala. Esse argumento já foi refutado diversas vezes, já que a 
aquisição de uma língua não atrapalha, de modo algum, a aprendizagem de outra. 
A LÍNGUA DE SINAIS RESUME-SE AO ALFABETO MANUAL? 
A resposta é não! 
Você já viu uma lista do alfabeto com a respectiva soletração manual ou datilologia em Libras e 
pensou que, caso decorasse aquelas configurações, conseguiria se comunicar plenamente com os 
Surdos? 
Você pode ter respondido sim ou não. E não há problemas nisso porque falta conhecimento 
sobre a relação entre o alfabeto e a língua de sinais. 
O alfabeto manual, ou a soletração digital, é apenas um dos recursos utilizados por sinalizantes 
das línguas de sinais. É um código que representa as letras do alfabeto como um empréstimo 
linguístico. Portanto, soletrar não é um meio com um fim em si mesmo. 
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Atenção 
Um ponto importante ressaltado por Gesser (2009) é que a soletração digital, tanto na sua forma 
produtiva (do ponto de vista de quem articula) quanto na receptiva (do ponto de vista de quem lê), 
pressupõe que a pessoa seja alfabetizada. 
Assim, como as crianças surdas que ainda não são alfabetizadas se comunicariam? 
O Surdo/ouvinte não alfabetizado (leitura/escrita) na língua oral da comunidade ouvinte 
majoritária teria a mesma dificuldade que um indivíduo iletrado para utilizar esse recurso. 
Veja o alfabeto manual e aproveite para treinar seu nome em Libras: 
Alfabeto Manual 
| Fonte: Ensine.Me. 
Para a maioria das palavras e dos representantes no mundo real, existe uma forma de expressão 
em língua de sinais que não requer o uso da soletração digital. No entanto, esse recurso é 
importante em alguns casos específicos na língua de sinais. 
O alfabeto manual não é uma língua, e sim um código de representação das letras alfabéticas . 
É, portanto, um empréstimo linguístico da língua portuguesa ou de outra língua oral da comunidade 
ouvinte. Por consequência, o alfabeto manual também não é universal, sendo, por exemplo, o 
alfabeto manual da Língua Britânica de Sinais (BSL) completamente diferente do alfabeto manual da 
Libras. 
Exemplo 
Temos ainda um processo em que um sinal começa com a soletração manual e depois se 
transforma em um sinal lexicalizado. Podemos citar como exemplo o sinal de NUNCA. 
A LÍNGUA DE SINAIS É A VERSÃO SINALIZADA DA LÍNGUA ORAL? 
A Libras não é a língua portuguesa sinalizada. Nenhuma língua de sinais segue a mesma 
estrutura da língua oral. 
A língua de sinais tem estrutura própria, e é autônoma, ou seja, independente de qualquer 
língua oral em sua concepção linguística. 
(GESSER, 2009) 
Do ponto de vista da sociolinguística, o fato de a comunidade surda estar inserida e cercada pela 
comunidade ouvinte majoritária faz com que as línguas de sinais estejam em contato direto com as 
línguas orais – portanto,é natural ocorrerem empréstimos linguísticos. 
Isso acontece com qualquer língua com que se esteja em contato. Quantos empréstimos da 
língua inglesa nós, brasileiros, usamos no nosso cotidiano? Várias, correto? 
Portanto, mesmo que existam empréstimos linguísticos, como a soletração manual, isso não quer 
dizer que as línguas de sinais tenham suas raízes históricas nas línguas orais. As línguas de sinais 
emergem naturalmente em suas comunidades surdas. 
A LÍNGUA DE SINAIS É UNIVERSAL? 
Certamente uma das crenças mais frequentes em relação à língua de sinais é que ela seria 
universal, que todos os surdos ao redor do mundo se comunicariam com a mesma língua. Sabemos 
que as línguas orais variam geograficamente. 
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Então, por que com as línguas de sinais seria diferente? Seria muito interessante aprender uma 
língua de sinais e ser capaz de se comunicar com todos os surdos do mundo, não é mesmo? 
Mas isso não acontece. As línguas de sinais variam muito, até mesmo dentro de um país ou 
estado, como veremos no último módulo. Segundo Sofiato (2011), podemos citar como exemplos: 
Surdos franceses 
Língua de Sinais Francesa (LSF) 
Surdos norte-americanos 
Língua de Sinais Americana (ASL) 
Surdos brasileiros 
Língua de Sinais Brasileira (Libras) 
Saiba mais 
Um fato interessante é que a Libras tem forte influência da LSF e nenhuma influência da Língua 
Gestual Portuguesa (LGP), de Portugal. Desse modo, podemos apenas determinar parentescos e 
influências entre as línguas. A influência da LSF na Libras é apontada em vários trabalhos 
acadêmicos, conforme Sofiato (2011) e Martins (2017). 
Os registros históricos sobre a educação de surdos no Brasil mostram que ela está presente 
desde a vinda do Surdo francês Eduard Huet para fundar a primeira escola para surdos do país, o 
Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES), em 1857. 
A influência da LSF sempre esteve presente na Libras. Aliás, também teve forte influência na ASL 
por meio de Edward Miner Gallaudet, que foi até a França observar como os surdos franceses eram 
ensinados. Em homenagem a Gallaudet, temos a única universidade específica para surdos no 
mundo, a Gallaudet University, onde a ASL é a língua de instrução. 
As línguas de sinais são línguas naturais das comunidades surdas, ricas e complexas, tão variáveis 
quanto as línguas orais. Como afirma Gesser (2009), em qualquer lugar em que existam surdos 
existe língua de sinais, e o que é universal é o impulso para comunicação dos indivíduos, não a língua 
em si. 
Seria possível nos cinco continentes termos apenas uma língua de sinais? 
É bem possível, na verdade, que as línguas de sinais tenham uma quantidade maior de variação 
que lembre-se que, com a mudanç línguas orais, já que não possuem registro gráfico difundido, 
como veremos no fim deste módulo. 
A LÍNGUA DE SINAIS TEM GRAMÁTICA? 
Sim! As línguas de sinais são naturais da comunidade surda e possuem estrutura e gramática 
próprias. 
Os estudos linguísticos das línguas de sinais começaram com William Stokoe na década de 1960. 
Stokoe, considerado o pai da Linguística das línguas de sinais, fez análise linguística da ASL por meio 
das publicações seminais como: 
*Um dicionário de línguas de sinais americanas sobre princípios linguísticos (STOKOE; DOROTHY; 
CRONEBERG, 1965). 
Essas obras foram fundamentais para o reconhecimento do status linguístico das línguas de 
sinais, permitindo desenvolvimentos teóricos e metodológicos de análise de línguas de sinais, de sua 
estruturação interna e gramática. 
A língua de sinais, como afirmou Stokoe, tinha os mesmos parâmetros linguísticos das línguas 
orais, sendo eles fonologia, morfologia, sintaxe, semântica e pragmática. 
Apesar das diferenças de modalidade de realização e percepção entre as línguas orais e as de 
sinais, estas seguem princípios de organização estrutural semelhantes aos das línguas orais. 
Stokoe analisou sinais da ASL em suas unidades mínimas e propôs três parâmetros constitutivos 
independentes, como indicados a seguir. 
 Clique nas informações a seguir. 
Configuração de mão: Forma que a mão e os dedos apresentam durante a articulação do sinal. 
Localização: Lugar no corpo ou no espaço em que o sinal é articulado 
Movimento: Maneira como a mão se move no decorrer da articulação do sinal 
https://estacio.webaula.com.br/cursos/temas/cultura_das_comunidades_sinalizantes/index.html#collapse-steps3
https://estacio.webaula.com.br/cursos/temas/cultura_das_comunidades_sinalizantes/index.html#collapse-steps4
https://estacio.webaula.com.br/cursos/temas/cultura_das_comunidades_sinalizantes/index.html#collapse-steps5
Posteriormente, mais dois parâmetros foram propostos por Battison (1974) e Friedman (1975): a 
orientação da palma e os aspectos não manuais. 
Resumindo 
Esses cinco parâmetros, portanto, são itens de composição fonético-fonológica das línguas de 
sinais, e a presença deles forma o sinal. É interessante lembrarmos que, enquanto nas línguas orais 
as expressões faciais demarcam sentimentos e intensidades, nas línguas de sinais temos expressões 
faciais gramaticais. 
Observe o sinal a seguir com os indicativos das unidades mínimas e lembre-se de que, com a 
mudança de apenas um parâmetro, o significado do sinal é completamente diferente. 
Saiba mais 
No Brasil, os primeiros trabalhos sobre Libras são de Ferreira-Brito (1995) e, posteriormente, 
Quadros e Karnopp (2004). Temos também, lançado mais recentemente, um dicionário de Libras 
(CAPOVILLA et al., 2017), com cerca de 14.500 entradas registradas. 
A LÍNGUA DE SINAIS É APENAS MÍMICA/GESTOS E ICÔNICA? 
Mais uma vez, a resposta é não! As línguas de sinais são naturais, complexas, recombinativas, 
arbitrárias e também icônicas em certo grau. 
Para compreendermos melhor, vamos retomar os conceitos de língua e iconicidade: 
 Clique nas barras para ver as informações. 
LÍNGUA 
Para Saussure (1969), considerado o pai da Linguística, a língua, ou signo linguístico, é uma 
convenção entre os membros de uma comunidade e estabelece significado e significante. Um som, 
por si só, não possui nenhum significado. No entanto, se ele existe dentro de uma língua, esse som 
passa a ter significado por meio de uma convenção. Portanto, para Saussure, a relação entre a forma 
do referente e a forma das unidades básicas da língua falada, ou seja, palavras e morfemas, é 
essencialmente arbitrária. Isso significa dizer que não há necessariamente uma relação natural 
entre a língua (imagem acústica ou som) e o sentido a que ela remete (significante, representante 
no universo). 
ICONICIDADE 
Iconicidade é a propriedade linguística contrária à arbitrariedade e se caracteriza pela 
semelhança, em certos signos linguísticos, entre a forma (do sinal ou da palavra) e a “coisa” 
representada no universo. Iconicidade também existe nas línguas orais e ocorre, por exemplo, em 
onomatopeias, como “atchim” e “tique-taque”, e palavras onomatopaicas, como “sussurrar” e 
“zumbido”. 
Segundo Taub (2001), que é uma importante pesquisadora das línguas de sinais, a iconicidade é 
comum nas línguas orais e nas sinalizadas, e está presente em todos os níveis da estrutura 
linguística, incluindo desde morfologia e sintaxe até itens lexicais singulares. 
Mas e a língua de sinais? É só icônica? 
Veja os seguintes sinais retirados do Dicionário da língua de sinais do Brasil, o maior dicionário 
impresso de língua de sinais do mundo! 
Certamente, mesmo sem ser fluente em Libras, você consegue reconhecer esses sinais. 
Agora observe este: 
Segundo Martins (2017), se as línguas de sinais fossem constituídas apenas de elementos 
icônicos, mímicos, pantomímicos e pictóricos, o significado deveria ser imediatamente 
compreendido por observadores ingênuos. Se esse fosse o caso, as línguas sinalizadas não teriam o 
mesmo status das línguas faladas. 
Ainda segundo a autora, a iconicidade de um sinal não decorre simplesmente da semelhança 
entre a forma e o significado desse sinal, masde um processo sofisticado em que os recursos 
fonéticos dos sinais permitidos pela língua são construídos em analogia com a imagem associada 
ao referente. Esse processo envolve uma quantidade substancial de trabalho conceitual, que inclui 
seleção de imagem, mapeamento conceitual e esquematização de itens para se enquadrar nas 
regras da língua. A iconicidade só existe por meio de esforços mentais dos seres humanos, e 
depende das nossas associações conceituais naturais e culturais. 
A arbitrariedade da relação entre significante e significado é que permite a recombinação 
generativa entre as unidades mínimas abstratas que compõem a assim chamada “fonologia” das 
línguas de sinais. Em sinais icônicos transparentes, algum aspecto da forma física do sinal se 
assemelha à imagem sensória concreta do referente desse sinal. Assim, sinais icônicos transparentes 
podem representar analogicamente apenas referentes mais concretos. 
Há um paradoxo interessante sobre a iconicidade das línguas de sinais. Klima e Bellugi (1979) e 
Martins (2017) conduziram estudos explorando sistematicamente como a iconicidade poderia 
facilitar a compreensão de sinais por ouvintes ingênuos nessa língua. Temos duas observações, em 
parte, contraditórias entre si: 
Quando expostos a sinais e a informações acerca dos significados desses sinais, e solicitados a 
atribuir uma nota para avaliar o grau de iconicidade desses sinais, observadores ingênuos tendem a 
atribuir notas elevadas, e a persistir em buscar, nos sinais, aspectos que justifiquem, em maior ou 
menor grau, a sua forma a partir de seu significado. 
Quando expostos aos mesmos sinais, mas na ausência de informação acerca dos significados 
desses sinais, e solicitados a adivinhar-lhes o significado, esses mesmos observadores ingênuos 
tendem a atribuir a esses sinais significados díspares e inadequados. 
Esses estudos revelam que a maioria absoluta dos sinais é muito opaca, apesar de ser vista, 
quase sempre, como bastante icônica. Interessante, não é mesmo? 
A LÍNGUA DE SINAIS É ÁGRAFA? 
Mais uma vez: não! 
Então as línguas de sinais possuem uma escrita única e difundida? 
Também não. Vejamos: 
A escrita é uma representação da língua falada ou sinalizada por meio de símbolos gráficos; 
portanto, o sistema de escrita é um conjunto de símbolos. 
Até pouco tempo atrás, as línguas de sinais eram consideradas uma língua sem escrita. 
Veja a seguir mais sobre a origem da escrita de sinais no mundo: 
A primeira tentativa de escrita de sinais de que se tem registro é a do francês Roch-Ambroise 
Auguste Bébian, que publicou uma obra chamada Mimographie. 
Nos Estados Unidos, há o sistema de notação de William Stokoe (1960) – sim, o mesmo que fez a 
descrição fonético-fonológica das línguas de sinais. Também nos Estados Unidos temos o sistema de 
escrita de línguas de sinais mais difundido, o Signwritting (SW), baseado em um sistema para grafar 
coreografias. 
Os sistemas são como alfabetos e podem ser usados para grafar qualquer língua de sinais. Veja 
um exemplo da grafia do sinal casa em SW, preste atenção na transparência do sistema: 
 
Na Alemanha, há o Sistema de Notação de Hamburgo (HamNoSys) desde a década de 1980. 
No Brasil, temos a Escrita das Línguas de Sinais (ELiS), o primeiro sistema de transcrição criado 
no país por Mariângela Estelita Barros. 
CULTURA SURDA 
Apesar de ser bastante utilizado, o termo “cultura” nem sempre é bem compreendido, pois sua 
abrangência por vezes não é clara. Em geral, o senso comum atribui prestígio somente à cultura 
erudita, reconhecendo o seu valor estético, e a trata como única forma válida de cultura, como se 
fosse mais desenvolvida. 
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No entanto, cultura abrange o conjunto de hábitos, conhecimentos e crenças de um povo. Em 
nosso estudo, vamos partir do que é cultura para a Sociologia, já que essa ciência tem como 
premissa que “é por meio da cultura que buscamos soluções para nossos problemas cotidianos, 
interpretamos a realidade e produzimos novas formas de interação social” (SILVA et al., 2017). 
Pensamos em cultura como o produto da interação de indivíduos que compartilham valores, 
experiências e visões semelhantes. Não é possível afirmar que há culturas inferiores ou superiores, 
visto que tal conceituação é advinda de preconceitos e visões de mundo há muito ultrapassados. 
Acreditamos numa visão sociológica, em que todos os artefatos culturais tenham valor. 
A fim de que isso possa ser explorado, é necessário que respeitemos valores, tradições, costumes 
e práticas dos povos, sem exceção, e deixemos de lado estereótipos e classificações sem 
fundamento. Esse conjunto de conhecimentos e ações é transmitido de geração a geração através 
de interações que podem ocorrer nas atividades do cotidiano ou em festividades especiais. 
Partindo desse pressuposto, lançamos uma questão: 
Existe uma cultura surda? 
 Clique nas opções a seguir. 
SIM 
NAO 
Pode ser questionado que o fato de os surdos utilizarem a mesma língua não lhes assegure nem 
proporcione outra cultura além daquela do local em que vivam. Contudo, os surdos contam com 
uma história de lutas e conquistas que os une como sujeitos com características subjetivas bastante 
específicas decorrentes de sua experiência de interação com o mundo pela visualidade e pela língua 
de sinais. 
A cultura surda traz em si elementos importantes que a identificam, constituem-na e a colocam 
no rol das diferentes culturas que perfazem o panorama das posições da modernidade tardia. Os 
espaços das culturas são regidos por tramas de poder. Cada cultura é, em si mesma, autoridade. 
(PERLIN, 2006, p. 138) 
Para Gladis Perlin, primeira doutora surda do Brasil na área dos estudos surdos (deaf studies), 
subárea dos estudos culturais, existe sim uma cultura dos surdos que é fruto da sua forma de ver o 
mundo. Vejamos alguns desses aspectos a seguir. 
Visualidade 
A vivência surda é muito visual. A visão é o principal sentido de contato com o mundo, de 
apreensão e significação das informações. 
Linguístico 
Como vimos no módulo anterior, as línguas de sinais, de modalidade visoespaciais, são as línguas 
naturais para as pessoas surdas. A língua de sinais é tão complexa quanto qualquer outra. Não se 
trata de uma versão em sinais de uma língua oral como o português, nem de simples gestos ou 
mímica. Em salas de aula, eventos públicos ou mesmo na televisão, deve ser feita a tradução entre a 
língua oral e a de sinais por um intérprete. 
Família 
Ligada ao nascimento de filhos surdos em lares ouvintes e de filhos ouvintes em lares surdos, ou 
mesmo de filhos surdos em lares surdos. Nesse âmbito, muitas questões ligadas à aceitação, à 
superproteção e à concepção sobre a surdez são discutidas. 
Comunidade surda 
Composta por surdos e por ouvintes militantes da causa, como professores, familiares, 
intérpretes, amigos, entre outros. 
Associações e organizações 
Centros cuja importância se manifesta, por exemplo, na possibilidade de o surdo interagir com 
outras pessoas surdas, o que favorece a construção da sua identidade, a possibilidade de aprender a 
língua de sinais, as lutas sociais do segmento por vezes abraçadas nessas organizações etc. 
https://estacio.webaula.com.br/cursos/temas/cultura_das_comunidades_sinalizantes/index.html#collapse-steps6
https://estacio.webaula.com.br/cursos/temas/cultura_das_comunidades_sinalizantes/index.html#collapse-steps7
Literatura surda 
Arte que abarca produções literárias em língua de sinais produzidas ou adaptadas por pessoas 
surdas. 
Artes visuais 
Englobam o teatro surdo e as artes plásticas. 
Criações e transformações materiais 
Exemplificadas pelas soluções alternativas para as pessoas surdas, como campainhas luminosas, 
telefones adaptados, dispositivos de vibração (relógios, celulares) em substituição ao despertador 
etc. 
Existem vários aspectos que demarcam a existência da cultura surda. O mês de setembro, 
chamado de Setembro Azul, é um marco importante para comunidadesurda, já que contém várias 
datas importantes como veremos a seguir: 
• 6/9 a 11/9 
Esses dias relembram um triste marco histórico para a comunidade surda, o Congresso de Milão, 
de 1880, onde as línguas de sinais foram proibidas e a educação de surdos passou a ser oralista. 
• 23/9 
Dia Internacional das Línguas de Sinais. 
• 26/9 
Dia Nacional do Surdo, data escolhida por conta da fundação da primeira escola de surdos do 
país, o Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES). 
• 30/9 
Dia do Tradutor, dia de homenagear os intérpretes de Libras, profissionais de extrema 
importância para a acessibilidade dos surdos. 
IDENTIDADES SURDAS 
A comunidade surda não é homogênea; existe outro conceito muito presente trazido por Perlin 
(2006) que merece nossa atenção: as identidades surdas. Segundo ela, não existe apenas uma 
forma de ser surdo e de se entender como tal. Vejamos a seguir quais são essas identidades. 
 Clique nas informações a seguir. 
Identidade de transição: Refere-se aos surdos que, após alguns anos vivendo sem conhecimento 
sobre a língua de sinais nem contato com a comunidade surda, aprendem a comunicar-se em uma 
língua visoespacial. 
Identidade flutuante: Refere-se aos surdos que se expressam através da maneira de ser ouvinte, 
vivem e interagem na sociedade buscando ser ouvintes. 
Identidade inconformada: Refere-se aos casos em que o surdo não se enxerga como bem 
compreendido pelos ouvintes, criando assim um sentimento de subalternidade. 
Identidade híbrida: Nesta identidade, incluímos os surdos que nasceram ouvintes e perderam a 
audição ainda na infância. Essas pessoas utilizam a comunicação através da língua oral e também da 
língua sinais. 
Identidade surda: São os surdos que utilizam a língua de sinais, participam da comunidade surda 
e têm orgulho de sua história, sua cultura e suas manifestações sociais. 
É fato que entendemos que as pessoas surdas de identidade surda são aquelas que se sentem à 
vontade com a sua diferença e, por isso, apresentam a surdez não como perda da audição. 
Também é fato que jamais poderemos nos referir às demais identidades como menores ou 
inferiores. 
Comentário 
A comunidade surda é heterogênea; os indivíduos surdos são atravessados por diversas questões. 
Surdos podem ser filhos de pais surdos ou ouvintes, podem usar aparelho auditivo ou ter implante 
coclear, podem ser oralizados ou não, e assim por diante. 
SUBGRUPOS DA COMUNIDADE SURDA 
Existem outras características que também unem os surdos em subgrupos menores dentro da 
comunidade surda. Podemos citar diversas relações de identificação que extrapolam a questão do 
ser surdo em um mundo ouvinte. 
Como exemplo de agrupamentos de surdos com outras características, estão: 
Religiosidade 
Podemos citar os surdos espíritas, testemunhas de Jeová, católicos e evangélicos. 
Identidade de gênero e orientação sexual 
Comunidades surdas que se encontram em associações e que também participam de paradas de 
diversidade. Nesses subgrupos, as questões relativas às necessidades específicas desses sujeitos são 
apresentadas e debatidas. 
Esportes 
A prática de esportes também é muito presente nas comunidades surdas pelo mundo, 
estimulando a organização de jogos intermunicipais, estaduais, nacionais e internacionais. A XXIV 
Surdolimpíadas de Verão, um evento internacional, acontecerá no Brasil, na cidade de Caxias do 
Sul-RS, entre os dias 5 e 21 de dezembro de 2021. 
As manifestações culturais surdas são criações coletivas ou individuais relacionadas ao sistema 
artístico ouvinte e suas produções. Nisso, vemos o fato de que as expressões poéticas configuram 
um grande polissistema, constituído por sistemas menores independentes como o da arte surda. 
A literatura surda 
Outro exemplo de uma atividade produtiva surda é a literatura surda, que costuma utilizar 
adaptações de contos famosos para a cultura surda, apresentando personagens surdos. Nesses 
contos, a experiência visual é enfatizada, bem como a valorização da língua de sinais e da surdez. 
Existem também produções originais produzidas por autores surdos e que não são adaptações. 
Essa literatura serve como meio de identificação e representatividade para seus leitores – 
apresentando histórias em que a narrativa sobre a surdez não é vista como uma perda, mas sim uma 
diferença, ajuda a construir no imaginário uma visão positiva de si. Os autores se utilizam também 
de estratégias da semiótica para destacar o uso das mãos e a visualidade, pois o objetivo é marcar a 
presença da visualidade e da Libras como empoderadoras, não como deficit. 
É possível afirmar que os surdos são seres biculturais, já que, além da cultura surda, experienciam 
a cultura de seu país, da comunidade ouvinte majoritária. Por meio das mais diversas relações 
sociais, todos compartilhamos da cultura de nosso país – na música, na dança, nas tradições e nos 
mais variados produtos culturais. 
Isso também inclui as pessoas surdas que interagem nesse grande sistema cultural brasileiro. O 
polissistema literário brasileiro inclui o sistema literário surdo, que busca protagonizar a experiência 
vivida por pessoas que nasceram no país e compartilham com os ouvintes de muitos traços culturais. 
Portanto, não se limita apenas a adaptar contos, mas a ajudar a interagir e a transformar através de 
um diálogo entre a tradição e a necessidade de ver-se representado. 
Livros infantis 
 Clique nas informações a seguir. 
Patinho surdo: Fala de um patinho que nasceu em um lugar com patinhos ouvintes. O ápice da 
história é o momento em que ele encontra patos surdos e aprende a “Língua de Sinais da Lagoa”. 
Esse livro é uma adaptação que relaciona a experiência prévia à língua de sinais com a ideia de 
exclusão, apresentando a possibilidade de aceitação e pertencimento. 
Cinderela surda: Nessa adaptação, a Cinderela e o príncipe são surdos e, em vez de perder o 
sapatinho de cristal, a personagem principal perde uma das luvas. A escolha da luva se dá para fazer 
uma referência às mãos, amplamente utilizadas pelos surdos para se comunicar. 
Tibi e Joca: Uma produção original, que conta a história de um surdo nascido em uma família de 
ouvintes até o seu encontro com a língua de sinais. 
https://estacio.webaula.com.br/cursos/temas/cultura_das_comunidades_sinalizantes/index.html#collapse-steps8
https://estacio.webaula.com.br/cursos/temas/cultura_das_comunidades_sinalizantes/index.html#collapse-steps9
https://estacio.webaula.com.br/cursos/temas/cultura_das_comunidades_sinalizantes/index.html#collapse-steps10
Humor surdo 
Dentro do sistema da literatura surda, podemos também falar do humor surdo e das piadas com 
personagens surdos. Essas anedotas são muito frequentes em encontros de surdos, tanto nos 
formais (congressos/fóruns de educação) como nos informais (associações de surdos). 
Fica clara a ideia de surdez constituída como diferença, não como limitação. Ao trazer o humor 
para as suas vidas, os contadores tratam de si mesmos com leveza e possibilitam que os 
interlocutores, da mesma forma, consigam compreender que não existe luto por serem surdos. Veja 
o exemplo de uma piada para crianças: O lenhador: Um homem trabalhava em uma floresta. Ele 
cortava árvores.E procurava árvores grandes para cortar.Quando encontrava alguma, usava seu 
machado para cortá-las. E então ele gritava:– Madeira! – E a árvore caía no chão.Um dia ele 
encontrou uma árvore enorme, e começou a cortá-la. Ele gritou para árvore, mas a árvore não 
caiu.Ele chamou um médico que entendia de árvores, que, após examiná-la, percebeu que ela era 
surda. Então o lenhador chamou um intérprete, que falou para a árvore, em Libras:– Madeira. – E 
ela caiu!Fica clara a ideia de surdez constituída como diferença, não como limitação. Ao trazer o 
humor para as suas vidas, os contadores tratam de si mesmos com leveza e possibilitam que os 
interlocutores, da mesma forma, consigam compreender que não existe luto por serem surdos. Veja 
o exemplo de uma piada para crianças: 
 O lenhador:Um homem trabalhava em uma floresta. Ele cortava árvores. 
E procurava árvores grandes para cortar. 
Quando encontrava alguma, usava seu machado para cortá-las. E então ele gritava: 
– Madeira! – E a árvore caía no chão. 
Um dia ele encontrou uma árvore enorme, e começou a cortá-la. 
Ele gritou para árvore, mas a árvore não caiu. 
Ele chamou um médico que entendia de árvores, que, após examiná-la, percebeu que ela era 
surda. 
Então o lenhador chamou um intérprete, que falou para a árvore, em Libras: 
– Madeira. – E ela caiu! 
Nas piadas, outro fator que fica evidente é o “ganho surdo”, devido à possibilidade de comunicar-
se em uma língua desconhecida para a maioria e a perda sofrida pelos ouvintes por não se 
comunicarem por meio dela. São denominados “ganhos surdos” (do inglês deaf gain) as relações 
que se dão com o mundo através da visualidade e os benefícios que isso pode trazer. Aqui a 
desvantagem não é do surdo, e sim do ouvinte, que desconhece os aspectos culturais relativos à 
visualidade. 
Na anedota surda, podem ser trazidas a diferença e as experiências difíceis vivenciadas pelos 
surdos como meio para o humor. Inclusive o elemento religioso é representado em sátiras de cura 
da surdez. Rir de si mesmo, do sagrado e do outro é uma forma de criar uma relação de 
proximidade. 
O WAFLLE: Em um café, dois amigos conversam sentados a uma mesa, enquanto na outra, um 
rapaz acompanhado por uma garota come seu lanche fazendo um enorme barulho com os talheres e 
também ao mastigar! Ao fim do lanche, o rapaz faz vários sinais com as mãos, em libras, dizendo 
“Este foi o melhor waffle que comi na vida!”. 
A garota, ao compreender a mensagem, diz em voz baixa e constrangida: “Todos aqui notaram!”. 
Na aula de mergulho: Professor: Seu marido é surdo? Não tenho certeza se poderemos fazer 
isso. 
Esposa: O que você quer dizer? 
Professor: Eu preciso me comunicar com ele embaixo d’água e ele não pode ouvir! 
Esposa: Como você se comunica embaixo d’água com pessoas que podem ouvir? 
Professor: Bem, nós usamos sinais manuais para... não, peraí! 
Professor: Dã! Desculpa! 
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O desafio da inclusão 
Com o passar dos anos (BAUMAN e MURRAY, 2014), diversos questionamentos surgiram sobre 
por que lutar pelo direito à diferença para se contrapor às práticas educacionais e médicas com 
visão negativa da surdez – pela valorização da diferença, pela necessidade de lutar e pela 
preservação do que é visto como falta pela maioria. 
Nessa busca por uma autocompreensão da subjetividade surda, foi possível observar diversos 
ganhos com a aquisição da língua de sinais, por exemplo: 
Crianças surdas 
Percepção de ganho com sua experiência visual 
Crianças ouvintes de famílias ouvintes 
Vantagens cognitivas, como a possibilidade de desfrutar de mais de uma cultura, e ter acesso a 
duas modalidades de língua 
Toda a materialidade concernente à compreensão do que significa ser surdo e o que isso gera é 
fruto do trabalho de Paddy Ladd quanto aos deaf studies no Reino Unido e seu trabalho de 
“descolonizar” os trabalhos de pesquisa sobre a surdez: “A pesquisa de Paddy Ladd inaugura um 
amplo e multifacetado campo teórico investigativo que se propõe dar protagonismo à mentalidade 
surda (deaf way) e sua história de resistência” (TERCEIRO; FERNANDES, 2019). 
Na continuidade de visões sobre os ganhos surdos, há alguns autores que citam os seguintes 
exemplos: 
• a possibilidade de não ouvir barulhos e conversas em locais tumultuados; 
• a questão da visão periférica, aguçada em indivíduos surdos; 
• as diferentes perspectivas sobre o mundo. 
Atenção 
Ao falarmos de ganhos surdos, não estamos jamais tentando diminuir ou negar as dificuldades 
encontradas pelas pessoas surdas por viverem em uma sociedade predominantemente ouvinte. 
Sabe-se que a falta de comunicação enfrentada por muitos surdos com suas famílias pode causar-
lhes muitos problemas, até mesmo na vida adulta. 
A visão de diferença e não de deficiência é capaz de nos ajudar a perceber que existem, sim, 
alguns ganhos na experiência da visualidade, e até mesmo no fato de não ser exposto a tudo que os 
ouvintes são sem poderem escolher. 
 O que se propõe aqui não é falar apenas sobre a Libras ou o que será preciso em relação às 
práticas educativas necessárias ao atendimento bilíngue. Na verdade, visamos a uma inclusão que 
atenda a todas as problemáticas das diferença dos sujeitos. Tem-se uma língua, uma cultura e 
diversas identidades que necessitam ser contempladas. 
Atualmente, os mais variados grupos sociais estão lutando por sua representatividade na arte, na 
mídia e no meio acadêmico – e isso inclui os surdos. O processo de autonomia, contrário ao de 
assujeitamento, requer manifestações de todas as ordens porque, nesse momento, não se quer 
ocultar e sim mostrar as especificidades concernentes a cada um. Com o advento da tecnologia e das 
mídias sociais, temos um gama de produções surdas, com protagonismo surdo. 
Saiba mais 
Podemos citar dois canais interessantes no YouTube: Porta dos Surdos e o canal do youtuber Leo 
Venturino. São excelentes fontes para aprender Libras! 
LÍNGUA E SOCIEDADE 
Para compreendermos a variação linguística e a padronização, precisamos nos atentar para a 
língua em suas relações com a sociedade. Essas relações são estudadas pela: 
Sociolinguística 
Ramo da linguística que estuda a língua como um fenômeno social, tendo como seu expoente os 
estudos de William Labov (2008) 
Labov, desde meados dos anos 1960, levantou discussões acerca da pluralidade e 
heterogeneidade da língua nos seus estudos seminais. Como língua e sociedade são fortemente 
correlacionadas, a língua varia no espaço geográfico, no decorrer do tempo, e nos diferentes 
espaços sociais, bem como nas diferentes situações comunicativas. 
Exemplo 
Percebemos no cotidiano essas variações por meio dos sotaques de indivíduos de outros estados, 
de uma palavra que uma pessoa mais velha utiliza e que não conhecemos, da formalidade de um 
tribunal do júri, e assim por diante. 
No primeiro módulo, vimos que as línguas de sinais não são universais e variam geograficamente 
– surdos franceses utilizam a Língua de Sinais Francesa (LSF), surdos norte-americanos utilizam a 
Língua Americana de Sinais (ASL), e assim por diante, certo? Este é o primeiro tipo de variação que 
notamos: existem línguas diferentes no mundo. 
Pensamos primeiramente nas “grandes línguas” associadas a grandes civilizações ou impérios. 
Isso nos remete à relação de língua e poder político. 
O mandarim é língua nativa de quase 1 bilhão de pessoas. Para termos uma ideia, se juntarmos o 
mandarim às outras sete línguas mais faladas no mundo (inglês, espanhol, hindi/urdu, árabe, russo, 
bengali e português), chegaremos a uma porcentagem entre 40% e 45% da população mundial. 
 
• Assim, 45% falam oito línguas; 
• Os outros 50% falam trezentas línguas; 
• A minoria, 5%, fala mais de 6 mil línguas restantes. 
Antes da tecnologia da escrita e das grandes civilizações, cada grupo ou tribo tinha a sua própria 
língua; portanto, havia muito mais línguas no mundo, mesmo com uma população bem menor. 
Saiba mais 
Antes da colonização portuguesa do Brasil, imagina-se que havia aproximadamente 1.175 línguas 
indígenas. Atualmente, temos cerca de 180 e dezenas estão ameaçadas de extinção. 
Exemplo 
Isso também acontece com as línguas de sinais. Segundo pesquisa publicada por Johnston (2006), 
a população de surdos nativos e sinalizadores na Austrália está diminuindo muito. Isso por conta do 
controle da rubéola, do mapeamento genético, do implante coclear e das políticas de inclusão. Com 
essa medida, a comunidade surda australiana pode diminuir a ponto de a Língua de Sinais 
Australiana (Auslan) desaparecer. 
No Brasil, temos um fenômeno frequente que chamamos de regionalismo. Por se tratar de um 
país continental – cuja riqueza cultural é impressionante, constituída pela mistura de várias 
nacionalidades da Europa, África e, ainda, dos povosautóctones, sem falar da gama de empréstimos 
linguísticos, especialmente da língua inglesa –, o regionalismo é muito frequente, sendo o dialeto 
uma de suas formas de expressão. 
Por exemplo, qual palavra está correta: macaxeira, aipim ou mandioca? 
 Todas. Mas caso você utilize a palavra macaxeira no sul do Brasil, pode não ser compreendido. 
O fato de variarem dentro da mesma língua mostra o quanto as línguas naturais são orgânicas e 
vivas. A língua circula entre as pessoas e não pode estar “presa” em dicionários e gramáticas. 
Quando essa variação vai além do “sotaque” e de algum léxico, é chamada de: 
 Clique na barra para ver as informações. 
DIALETO 
Dialetos são variedades de uma língua falada por comunidades geograficamente definidas. O 
dialeto às vezes é entendido como uma forma menos importante e complexa da língua, como uma 
língua inferior. No entanto, para a Linguística, o dialeto é apenas uma variante regional, uma 
variedade da língua com a mesma complexidade da língua-padrão. Portanto, linguisticamente 
falando, cada dialeto é uma língua, mesmo que política ou socialmente o dialeto esteja sempre 
vinculado ou subordinado a uma língua-padrão. 
Segundo Amorim e Di Santi (2019), a concepção de uma língua-padrão surge na tentativa de 
unificação política dos Estados centrais modernos com o objetivo de apagar a diversidade linguística 
regional e social dos cidadãos com seus dialetos. 
A padronização da língua está especialmente relacionada à tecnologia da escrita e se dá por 
meio da elaboração de instrumentos normativos, como as gramáticas e os dicionários. 
Resumindo 
Portanto, devemos compreender que, quando nos referimos à norma padrão, não nos referimos 
exatamente a uma variedade da língua, e sim a um abstrato construto histórico-social e cultural 
usado como referência para que se promova um processo de uniformização da língua. 
Partindo da perspectiva da norma padrão, temos a: 
 Clique na barra para ver as informações. 
NORMA CULTA 
Tida como a variedade de uso corrente entre falantes que vivem em meio urbano e com 
escolaridade superior, com forte influência da mídia. É um termo mais abrangente que língua-
padrão, pois refere-se não só ao padrão que é para além do regional, mas também às variedades 
cultas informais de cada região. Assim, norma culta pode ser tanto formal quanto informal. 
A língua-padrão pode ser considerada a variável linguística mais difundida, aquela língua utilizada 
nos telejornais, por exemplo, geralmente entendida por todos os falantes da língua. É a variante da 
língua utilizada neste texto, frequentemente a forma usada na educação formal e a mais 
amplamente utilizada pela mídia. 
Atenção 
Apesar de existir a chamada norma culta ou língua-padrão, quando ela está na “boca do povo”, a 
língua falada não deve ser tida como certa ou errada, caso contrário isso se configura, 
frequentemente, como preconceito linguístico. Sabemos que cada indivíduo tem sua história e seu 
contexto cultural, e o objetivo principal da língua é a comunicação. 
Você já percebeu que mesmo sem conhecimentos metalinguísticos a respeito de sintaxe ou 
morfologia da língua portuguesa conseguimos formar frases compreensíveis? 
Sabemos também, de forma automática e intuitiva, que o tipo de linguagem que usamos para 
nos comunicar com nossos avós, médicos ou em situações que demandem mais formalidade é 
diferente da forma que nos comunicamos com nossos amigos do bairro. Esse processo por vezes é 
automático e saudável; afinal, ficaria estranho chamar um amigo de senhor, não é mesmo? 
Portanto, alternar entre padrões linguísticos é adequado e devemos atentar para a pertinência 
de cada um deles. 
E nas línguas de sinais, como ocorrem as variações linguísticas? 
Vimos no módulo 1 que a Libras varia tanto quanto as línguas orais, certo? A grande maioria dos 
estudantes de Libras, já desde o início, costuma ouvir que existem regionalismos nessa língua. 
Muitos ficam desapontados pelo fato de não haver uma língua de sinais única, uniforme e utilizada 
em todos os países; outros compreendem que isso está presente nela como está em seu próprio 
idioma. 
No caso do Brasil, com sua vasta extensão territorial, seria ainda mais difícil pensarmos em uma 
uniformidade linguística. Assim como no português brasileiro, a Libras possui características 
vinculadas à sua regionalidade decorrente de aspectos geográficos e culturais. Visto que aqui 
existem diversas culturas, em estados com hábitos bem singulares, não é possível evitar a variação 
linguística, nem “contorná-la”. De Norte a Sul, existem danças, tradições, culinária e outros artefatos 
culturais que não pertencem ao folclore de outras partes do país, o que influencia também o léxico 
da região. 
A variação linguística em Libras é um assunto muito complexo e apresenta diversas questões que 
devem ser analisadas. Compreender as variações linguísticas da língua de sinais requer uma visão 
histórica sobre os surdos enquanto minoria linguística, já que a Libras é uma língua de resistência da 
comunidade surda (MACHADO; WEININGER, 2018). 
Esses são exemplos de variações lexicais regionais da Libras. Enquanto o primeiro sinal “Branco” é 
utilizado em São Paulo, o segundo é utilizado em vários estados, e o último somente no Rio Grande 
do Sul. 
Existe um sinal melhor do que o outro? 
Não! Mas existe um sinal que é amplamente utilizado, que nesse caso é o segundo sinal. 
Os processos de variação linguística são naturais e estão presentes em todas as línguas, tanto 
orais como de sinais. 
Exemplo 
Quando aprendemos inglês, sempre nos apresentam as variações norte-americana e britânica 
como se fossem somente essas as opções. Porém, mesmo dentro do que chamamos norte-
americano ou britânico, há várias diferenças de sotaque e léxico. 
Em razão do exposto, precisamos compreender que, do ponto de vista linguístico, os 
regionalismos, os dialetos e as variações não são consequências da “falta de instrução”. 
Todas as variedades de uma língua têm o mesmo valor, nenhuma é melhor do que a outra. 
Já do ponto de vista social e político, há uma variedade considerada melhor, que é a variedade 
padrão de uma língua e a norma culta. Quando alguém vai aprender inglês ou qualquer outra língua 
estrangeira, normalmente quer aprender a variedade padrão. 
O respeito à diversidade linguística deve estar presente nas conversas, nos momentos de troca e 
nas práticas de ensino. A linguagem apresenta-se em diferentes momentos, dentro de situações 
comunicativas e, por isso, todas as suas manifestações são válidas. 
Atenção 
Todas as outras formas de variações linguísticas presentes nas línguas orais acontecem também 
nas línguas de sinais. Podemos citar as variações linguísticas entre os surdos nas associações de 
surdos e os surdos acadêmicos, bem como as variações entre surdos jovens e surdos mais velhos e 
em diferentes situações comunicativas. 
Vimos que os processos de padronização da língua estão atrelados especialmente à tecnologia de 
escrita em dicionários, obras didáticas e obras literárias. Apesar dos sistemas de notação (escrita) 
das línguas de sinais, nenhum deles é difundido. Assim, podemos ter uma variabilidade ainda maior 
no léxico das línguas de sinais do que nas línguas orais. 
Tomemos como exemplo a palavra “abacaxi”, registrada no Dicionário da Língua de Sinais do 
Brasil (CAPOVILLA et al., 2017): 
Ela apresenta seis sinais referentes! 
O excesso de variação lexical pode gerar alguns desafios, especialmente em relação a questões 
terminológicas específicas. Vejamos o exemplo a seguir. 
Se temos seis sinais de Libras diferentes para “membrana plasmática” e precisamos traduzir a 
prova do ENEM a fim de torná-la acessível aos surdos, qual dos sinais devemos utilizar? O ENEM é 
uma prova nacional. Por essa razão, alguma padronização da língua se faz necessária. 
Processos de padronização pressupõem no mínimo uma gramática prescritiva com as regras e 
estruturas da linguagem, que recomendauma em prol de outra, e um dicionário padrão que 
apresente o vocabulário. 
No caso da Libras, podemos citar duas obras de extrema importância, que não almejam 
padronização linguística em si, mas apresentam léxico representativo da Libras e descrições 
linguísticas pertinentes: 
Dicionário da língua de sinais do Brasil. (CAPOVILLA et al., 2017) 
Língua de sinais brasileira: estudos linguísticos. (QUADROS; KARNOPP, 2004) 
Exemplo 
Inúmeras inovações tecnológicas vêm impulsionando a propagação do conhecimento produzido 
pelos grupos de pesquisas. Podemos citar as pesquisas no campo da linguagem da Universidade 
Federal de Santa Catarina (UFSC), as quais influenciam as demais pesquisas no Brasil. 
Os termos utilizados nas produções acadêmicas muitas vezes não possuem sinal – os sinais 
criados em salas de aula ou por pesquisadores podem integrar o léxico da Libras. Essas iniciativas 
podem gerar discussões sobre tentativas de padronização. 
Podemos perguntar: os sinais criados em outras localidades devem ser descartados? 
Não! Mas, quando uma entidade com maior alcance cria sinais e divulga as suas produções, isso 
faz com que a escolha lexical seja feita pelos termos criados por ela. 
Comentário 
Além da tecnologia, a participação em eventos faz com que aconteça a difusão dos sinais, 
principalmente para aquelas áreas em que a terminologia é muito específica. Para os surdos e 
profissionais intérpretes, a procura por glossários terminológicos específicos acontece sempre que 
um aluno surdo ingressa em uma área de estudos para a qual ainda não existem sinais oficiais. 
Com as novas políticas de inclusão, muitos surdos ingressaram em universidades e cursos 
técnicos e profissionalizantes. Assim, a necessidade de traduzir as aulas ocorre, fazendo com que os 
intérpretes procurem aprender a terminologia. Atualmente, pela facilidade de difusão do 
conhecimento, muitos grupos compartilham seus termos locais, possibilitando que essa lacuna seja 
preenchida por seus colegas surdos/intérpretes de outras regiões. 
Apesar de não existir qualquer restrição quanto à utilização de sinais locais, os surdos e ouvintes 
sempre optam pela utilização de sinais produzidos em contextos acadêmicos. Dessa forma, as 
apresentações poderão ser mais bem compreendidas por pessoas de estados diferentes e criar certa 
uniformidade, pelo menos em relação à área de estudo. 
Atenção 
Contudo, os pesquisadores têm se atentado à relevância de evitar a dominação da língua 
portuguesa sobre a língua de sinais. Como muitos sinais apresentam marcas ligadas ao alfabeto 
manual, por exemplo, são realizadas novas discussões, e novos termos são criados. 
A relação binária “ouvinte ou surdo” e “língua oral ou língua de sinais” gera muitos conflitos 
decorrentes do desejo surdo de protagonizar a sua própria história. Por isso, os sujeitos surdos têm 
o papel principal na produção de terminologia. 
Tradutores e professores surdos, bem como intérpretes de LS, utilizam sinais dialetais próprios, 
sendo que a padronização é mais facilmente percebida só com o uso de sinais mais direcionados 
especificamente a determinada área de conhecimento (por exemplo: morfologia, fonologia, sintaxe 
etc.), por causa dos conteúdos eminentemente linguísticos dos textos-base. 
(AVELAR, 2008, p. 374) 
PADRONIZAÇÃO DE SINAIS 
Apesar da busca por uma padronização dos sinais, mesmo em produções acadêmicas na 
plataforma educacional virtual, o uso de sinais regionais não deve deixar de ser utilizado (AVELAR, 
2008). No entanto, acontece um movimento “natural” de pesquisar e utilizar aqueles sinais 
específicos aos conteúdos da área de tradução. 
Assim como nas línguas orais, a opção consciente ou não pela utilização de sinais gera algumas 
dificuldades para os tradutores-intérpretes de Libras, profissionais imprescindíveis para a 
acessibilidade linguística das pessoas surdas, que por vezes desconhecem o signo apresentado. 
Dica 
Nesses casos, a solução é solicitar o auxílio de colegas durante a tradução. Outra solução é 
pesquisar e registrar as diferenças dialetais, como uma estratégia de antecipação ao que poderia 
representar um problema. 
Vimos no começo deste módulo que língua e sociedade se relacionam fortemente, certo? E que 
poderes políticos e sociais atravessam essas relações. Podemos então questionar: 
Como deveria acontecer um processo de padronização das línguas de sinais, já que são 
consideradas línguas minoritárias? 
Processos de padronização são questionáveis e conduzem normalmente à discussão do que é a 
norma de uma língua. Eles, por vezes, servem para controlar a variação dialetal inerente aos 
sistemas linguísticos. 
Outro questionamento inerente aos processos de padronização das línguas de sinais são os 
interesses políticos que permeiam o processo. 
A quem interessa esse processo? Quem lidera esse processo? 
Hanna Eichmann (2009), por meio de entrevistas com professores surdos e análises teóricas, faz 
uma crítica aos processos de padronizações que por vezes são impostos e liderados por ouvintes. 
Atenção 
Segundo os resultados da pesquisa, os principais interessados nesse processo de padronização 
das línguas de sinais são os ouvintes, especialmente aqueles aprendizes de língua de sinais como 
segunda língua, já que os surdos, em sua maioria, não têm nenhuma dificuldade de compreender as 
variações linguísticas. 
A autora faz a distinção entre dois tipos de processos de padronização linguística, como podemos 
ver a seguir. 
Padronização imposta de “cima para baixo” 
Carrega a noção de intenção, intervenção deliberativa em uma língua, formando uma variante 
que incorpora as características de uma língua-padrão. Desse modo, uma língua-padrão não surgiria 
naturalmente, mas de forma intencional. 
Padronização natural 
Carrega a noção de processo espontâneo pelo fato de as línguas se transformarem naturalmente 
com o tempo. 
Pela ausência de um código escrito difundido, as línguas de sinais possuem uma grande variação, 
especialmente a lexical. Sendo assim, os processos de padronização são naturais e por vezes 
passíveis de intervenções. Quando feitos como intervenção, devem ser examinados com cuidado e 
procedidos com muito respeito aos direitos linguísticos e ao protagonismo dos surdos em relação à 
própria língua. 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
Nos três módulos aqui apresentados, compreendemos os conceitos relativos às comunidades 
surdas e às línguas de sinais. No caso dos surdos brasileiros, a língua utilizada é a Língua de Sinais 
Brasileira (Libras). Vimos que as línguas de sinais não são universais, mas línguas complexas que 
surgem naturalmente nas comunidades surdas. As línguas de sinais possuem gramática própria e 
todos os níveis linguísticos existentes nas línguas orais, ou seja, fonologia, morfologia, semântica, 
sintaxe e pragmática. Portanto, possuem o mesmo status das línguas orais e sua peculiaridade mais 
importante é o fato de serem línguas visoespaciais, isto é, expressas pelo corpo no espaço e 
compreendidas visualmente. Estudamos que é uma língua recombinativa e arbitrária, apesar de ter 
presente a iconicidade. 
Entramos em contato com o universo da cultura surda, com artefatos culturais riquíssimos como 
a literatura surda, o humor surdo e assim por diante. As identidades surdas são diversas e 
heterogêneas, atravessadas pela cultura ouvinte. Nesse sentido, temos uma percepção sociológica 
dos indivíduos surdos e não clínica e normatizadora, que se preocupa apenas com reabilitação e 
grau de perda auditiva. 
Por conta da enorme variabilidade das línguas de sinais, o que as torna complexas, vivas e 
orgânicas, estudamos também o desafio dos processos de padronização das línguas de sinais. 
Esperamos que a história da comunidade surda inspire você a lutar por uma sociedade mais 
acessível e inclusiva, e que o conteúdo aqui disponibilizado lhe seja útil caso receba um aluno surdo 
em sala de aula ou encontre uma pessoa surda na sua trajetória de vida. 
DEFINIÇÃO 
As políticas linguísticase inclusivas como parte das políticas públicas. Os efeitos sociais, 
educacionais, inclusivos, práticos e comportamentais dessas políticas na comunidade surda. 
PROPÓSITO 
Conceituar políticas linguísticas, planejamento linguístico, comunidade linguística e minoria 
linguística, além de conhecer as políticas inclusivas e sua relação com o preconceito, em especial o 
que se relaciona com a comunidade surda. 
OBJETIVOS 
Módulo 1 
Definir os conceitos gerais de políticas linguísticas voltadas para a comunidade surda, como 
conquistas e garantias de direitos linguísticos 
Módulo 2 
Reconhecer como as políticas inclusivas ou de inclusão, com foco nos sujeitos surdos, contribuem 
para mitigar os preconceitos sociolinguísticos e culturais 
INTRODUÇÃO 
Prepare-se para conhecer um assunto importante no âmbito da inclusão social: a relevância das 
políticas linguísticas e inclusivas como parte das ações do poder público para a elaboração e 
efetivação de políticas públicas sociais, objetivando a proteção, a preservação, a perpetuação, o uso, 
o ensino e a interpretação de línguas de minorias linguísticas. Para tanto, é válido o levantamento de 
algumas questões: 
• O que é política? 
• O que são políticas públicas? 
• As políticas linguísticas e inclusivas são políticas públicas sociais? 
Embora não seja o objetivo esgotar o conceito de “política” aqui, basta nos lembrarmos de que, 
basicamente, a política é um processo de tomada de decisões que norteia diretrizes, ações, 
programas, projetos por diversos âmbitos (sociais, econômicos, linguísticos, educacionais, políticos, 
dentre outros) e sua aplicação com efeitos e atribuições na sociedade que vigora. 
É um processo de desenvolvimento dentro da própria sociedade e resulta da dinâmica de 
cooperação e competição entre os grupos que convivem no mesmo espaço, compartilhando 
ambientes, motivações, valores, aspirações sociais. 
As políticas públicas sociais são instrumentos ou mecanismos que institucionalizam a proteção e 
a promoção de todos os cidadãos integrantes de uma sociedade ou grupos sociais específicos, como 
uma comunidade etnolinguística. É o Estado quem exerce o papel de efetuar o desenvolvimento de 
políticas públicas para atender aos direitos, às garantias fundamentais e ao bem-estar de todos os 
cidadãos. 
As políticas linguísticas e inclusivas são direitos e garantias que se caracterizam como políticas 
públicas sociais para a equidade, o equilíbrio, a promoção do valor humano e a democratização de 
acesso aos serviços com qualidade, atendendo às peculiaridades individuais e coletivas. 
Mas não se preocupe: ao longo de nosso estudo, tudo isso ficará mais claro! 
MÓDULO 1 
Definir os conceitos gerais de políticas linguísticas voltadas para a comunidade surda, como 
conquistas e garantias de direitos linguísticos 
POR QUE AS POLÍTICAS LINGUÍSTICAS SÃO IMPORTANTES PARA A COMUNIDADE SURDA? 
Os surdos foram proibidos de falar as suas respectivas línguas de sinais (pois não há uma língua 
de sinais universal) a partir de 1880, após o Segundo Congresso Internacional de Educação de Surdos 
– também conhecido como Congresso de Milão ‒, onde se reuniram educadores de surdos, que 
decidiram pela remoção das línguas de sinais na educação de surdos. 
Os professores surdos, à época, foram afastados da docência e, assim, os alunos surdos passaram 
a ter aulas (das diversas disciplinas) somente com professores ouvintes, que, por sua vez, nem eram 
bilíngues, nem seriam modelos – ou pares linguísticos culturais – para esse alunado. 
Saiba mais 
As comunidades surdas, como espaços de partilha linguística e cultural presentes em milhares de 
cidades do mundo, reúnem surdos e ouvintes – em geral, usuários das línguas de sinais – com 
expectativas, histórias, olhares ou costumes comuns. A ideia de comunidade, aqui, apoia-se na 
presença de vínculos simbólicos que congregam sujeitos – concentrados no mesmo local ou 
dispersos territorialmente – com interesses convergentes e propostas coletivas. Entende-se 
comunidade surda, então, como um espaço de trocas simbólicas em que as línguas de sinais, a 
experiência visual e os artefatos culturais surdos são partilhados entre sujeitos surdos (e ouvintes) 
que congregam interesses comuns e projetos coletivos. 
Implantou-se, nesse cenário, uma filosofia educacional denominada oralismo. A educação oralista 
passou a seguir as 8 (oito) Resoluções aprovadas nessa conferência, funcionando como uma espécie 
de “declaração”, “orientação” que os governos e seus programas educacionais assumiram, 
começando a preferir a oralização à língua de sinais de seu país. 
Percebamos que tal decisão não partiu dos surdos adultos, dos surdos professores, mas de um 
grupo de profissionais da educação ouvintes, desfavorecendo um grupo social e linguístico de uma 
comunidade com língua e cultura próprias. Os efeitos negativos disso reverberam na história da 
educação de surdos e seus efeitos resultam no distanciamento social entre surdos e ouvintes. 
Obviamente, o Congresso de Milão vai na contramão dos avanços socioeducacionais 
conquistados pelos surdos nos dois séculos anteriores e introduz, na história da comunidade surda, 
um acontecimento obscuro e, consequentemente, prejudicial que serve não apenas como 
meramente informativo, mas também como pano de fundo para uma discussão de políticas 
linguísticas no cenário mundial e no contexto brasileiro. 
Eis um ponto que mostra como as políticas linguísticas importam: 
O conjunto de leis, decretos, portarias, tratados e declarações internacionais é ação de garantias 
de que as línguas minoritárias estão protegidas na forma legal, institucionalizadas nos países onde 
suas comunidades, também conhecidas como minoria linguística, estão presentes para que o Estado 
abranja os direitos linguísticos que tais grupos possuem. 
Isso reflete nas relações e práticas sociais no interior das minorias linguísticas, bem como nas 
inter-relações entre sujeitos de diversos grupos etnolinguísticos. A forma de sociabilidade pela 
língua e a mentalidade do uso, a tradução/interpretação, o ensino e a disseminação de línguas de 
comunidades minoritárias, por extensão, são modificados pelas forças legais. 
O valor e o estatuto das minorias linguísticas, em todos os aspectos, também perpassam o valor e 
o status das suas respectivas línguas. Respeitar a língua é respeitar o sujeito da língua, sua 
identidade cultural, seu modo de enxergar a vida e de se relacionar com ela e com seus pares. A 
intervenção das políticas linguísticas, como modo de operacionalizar, identifica e promove esses 
elementos e mecanismos, estrategicamente. 
O QUE É POLÍTICA LINGUÍSTICA? 
Podemos entender políticas linguísticas por duas dimensões: 
Como um campo de estudo científico que liga a Política e a Linguística, tendo como objeto a 
construção de um planejamento linguístico que analisa a prática de caráter estatal-legislativo. 
Aqui, os objetivos são as oficializações e os reconhecimentos legais de uma língua vista como 
subalterna, ou sequer entendida como código ou sistema linguístico, de modo a promovê-la na 
hierarquia social, elevando-a, inclusive, ao patamar de língua oficial nos documentos e eventos 
público-estatais. Nesse caso, estamos falando de política linguística como uma área de 
conhecimento, saber e estudos acadêmicos. 
Como as decisões e ações sobre a língua, por meio de estratégias, programas e projetos de 
implementações de uso, ensino, tradução (interpretação) e disseminação. 
Ou seja, práticas de democratização da língua como, por exemplo, a inserção da Libras no 
currículo do ensino superior (a partir do Decreto 5.626/2005), ora obrigatória nos cursos de 
formações de professores, pedagogos e fonoaudiólogos, ora eletiva nas faculdades de bacharelado e 
tecnológicas. 
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São justamente essas políticas linguísticas – agora, sim, no plural, e é a forma nominal que 
manteremos em nosso estudo – que influenciam o comportamento dos sujeitos, dos cidadãos, quer 
sejammembros das comunidades de minorias linguísticas ou não. 
As políticas linguísticas (ou política de línguas, em alguns estudos) são bem complexas e plurais, 
partindo de diversos contextos locais e nacionais, inclusive internacionais, de prioridades e 
necessidades das comunidades linguísticas. Por outro lado, é possível, e até necessário, para que 
possamos estudá-las, encontrar elementos em comum. 
Vamos identificar os seguintes elementos: 
Políticas linguísticas declaradas 
Referem-se à gestão das línguas das comunidades linguísticas, tratam da política explícita e que 
oficializa o uso das línguas. Como exemplo, podemos citar a criação da Lei nº 10.436, de 24 de abril 
de 2002, conhecida como a Lei da Libras, sancionada pelo então presidente Fernando Henrique 
Cardoso, e a regulamentação desse instrumento, com a aprovação do Decreto nº 5.626, na gestão 
do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 22 de dezembro de 2005. Esses foram resultados 
de confluência e atitudes linguísticas dos movimentos dos surdos brasileiros. 
Políticas linguísticas percebidas 
Alusivas às crenças e às ideologias linguísticas, que afetam os usos linguísticos, sociais, no espaço 
público ou privado. 
Políticas linguísticas praticadas 
Cujas práticas linguísticas se vinculam, inclusive, aos padrões interacionais. 
Saiba mais 
Outro ponto relevante que merece destaque no contexto das políticas linguísticas, no âmbito da 
efetivação da legislação e visualização da Libras, foi a criação do cargo de intérprete de Libras-
Português na Presidência da República do Brasil, a partir de 2019, no governo do então presidente 
Jair Messias Bolsonaro, proporcionando a atuação de dois profissionais para realizar, 
simultaneamente, a interpretação dos pronunciamentos oficiais da Presidência da República, tanto 
no Palácio do Planalto quanto em localidades externas. 
A presença de intérpretes de Libras, pela primeira vez, nesses eventos oficiais, com transmissão 
ao vivo ou gravada, significa a ocupação de um espaço político que atribui, promove e eleva o status 
(ou estatuto) linguístico da Libras e o poder comunicacional, informacional dos sujeitos surdos. 
Afinal, agora ganham independência na compreensão e no entendimento dos fatos pela coexistência 
de duas línguas no mesmo ato público oficial, instituído com ineditismo e, consequentemente, 
nunca experimentado pela comunidade surda. 
Assim, essas medidas, especialmente as legislativas, e a visualização pública da Libras 
correspondem às perspectivas projetadas na Declaração Universal do Direitos Linguísticos (UNESCO, 
1996) para a preservação das línguas das comunidades linguísticas de minorias e a continuidade da 
diversidade linguística. 
É importante conhecê-las: 
 Perspectiva política 
Conceber uma organização da diversidade linguística que permita a participação efetiva das 
comunidades linguísticas neste novo modelo de crescimento. 
Perspectiva cultural 
Tornar o espaço de comunicação mundial plenamente compatível com a participação equitativa 
de todos os povos, de todas as comunidades linguísticas e de todas as pessoas no processo de 
desenvolvimento. 
Perspectiva econômica 
Promover um desenvolvimento duradouro baseado na participação de todos e no respeito pelo 
equilíbrio ecológico das sociedades e por relações equitativas entre todas as línguas e culturas. 
Mas para que haja efetivamente uma política de línguas ou de proteção às línguas reconhecida 
legalmente, são necessários uma planificação e um aparato jurídico que proponham, na prática, as 
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substituições de uma acepção monolíngue (referente a uma única língua) para uma concepção 
plurilíngue (referente a duas ou mais línguas). 
O Brasil é um país com abundante diversidade linguística e, sem sombra de dúvida, em termos 
de políticas, deve-se considerar o fato de a nação se configurar como essencialmente plurilíngue. 
Portanto, a construção de propostas que visem ao estabelecimento do equilíbrio entre as línguas 
deve partir da problematização dos efeitos que concepções monolíngues podem causar em 
questões relacionadas ao planejamento linguístico. 
(SOUZA, 2020) 
Os reflexos de políticas linguísticas e a gestão do planejamento linguístico influenciam as 
dimensões e perspectivas das relações e da consciência territorial, local e nacional entre os falantes 
das línguas majoritárias e os falantes das línguas de minorias. O modo de compreensão e aplicação 
das mesmas dimensões e perspectivas modificam as políticas linguísticas adotadas e exercidas; se 
bem empregadas, ampliam, inclusive, o acesso à educação e aos bens culturais, a inserção no 
mercado de trabalho, o orgulho e valor de si como sujeito de identidade linguística e a valorização 
da culturalidade da comunidade linguística. 
Até aqui estudamos o conceito básico de políticas linguísticas e sua relevância para as 
comunidades linguísticas e para as línguas de minorias. Porém, um questionamento poderia (ou 
deveria) nos alcançar: 
Quais são as ideias de comunidade linguística e língua de minorias? 
É exatamente o que veremos agora. 
COMUNIDADE LINGUÍSTICA 
De acordo com a Declaração Universal do Direitos Linguísticos, comunidade linguística é: 
Toda a sociedade humana que, radicada historicamente em determinado espaço territorial, 
reconhecido ou não, identifica-se como povo e desenvolveu uma língua comum como meio de 
comunicação natural e de coesão cultural entre os seus membros. A denominação língua própria 
de um território refere-se ao idioma da comunidade historicamente estabelecida neste espaço. 
(UNESCO, 1996) 
Essa definição poderia nos trazer algumas inquietações acerca da afirmação sobre território. Se 
pensarmos pelos limites geográficos, não haveria a clara compreensão dos surdos como uma 
comunidade linguística, mas apenas como pequenos grupos sociais sem uma macroestrutura que os 
enlace como sujeitos identitários, por uma identidade linguística e cultural. 
Para esclarecer esse ponto, também afirma que: 
No caso de uma comunidade linguística histórica no respectivo espaço territorial, entenda-se 
este não apenas como a área geográfica onde esta comunidade vive, mas também como um 
espaço social e funcional indispensável ao pleno desenvolvimento da língua. 
(UNESCO, 1996) 
Essa compreensão e esse alargamento do que é “territorial” ou “espaço de convivência” para as 
comunidades surdas brasileiras têm muita importância, pois os surdos estão separados por núcleos 
regionais, por fronteiras políticas e ideológicas; muitos habitam um espaço geográfico reduzido, 
cercados por integrantes de outras comunidades linguísticas, ou por família em que são os únicos 
membros surdos. 
Isso porque a comunidade linguística se articula não só pelos aspectos linguísticos, mas também 
pelos ângulos sociais, psicológicos, identitários, políticos, históricos, constituídos por 
compartilhamento dos mesmos valores e percepção dos fenômenos, normas e comportamentos 
diante do uso da língua. 
MINORIA LINGUÍSTICA 
Agora, responda: 
Podemos afirmar que minoria linguística significa que há menos falantes de uma língua? 
Não! Nada tem a ver com a quantidade de falantes de um sistema linguístico, ou seja, de uma 
língua ou um idioma. 
A definição está atrelada a um processo de minorização. É um construto de marginalização, 
discriminação e preconceitos sociopolíticos, socioeconômicos, de hierarquização entre os extremos 
hegemônicos e subalternos das línguas e culturas dos diversos grupos de línguas em contato, com 
implicações desastrosas aos direitos sociais e básicos. 
Há, por vezes, de maneira oculta e subjetiva, uma política de apagamento dos grupos 
etnolinguísticos, que interfere negativamente na vida de seus falantes, em sua autoestima, em seus 
direitos básicos à cidadania. A discriminação e o preconceito linguístico são constantes contra as 
minorias linguísticas e ocorrem por meio de práticas de desprestígio social por falantes das línguas 
majoritárias. 
Noentanto, as línguas minoritárias são sistemas simbólicos e estruturantes, com as mesmas 
funcionalidades e potencialidades das línguas majoritárias, e podem ter o mesmo papel 
preponderante. Assim, entende-se que a questão é focalmente social, pois, no que tange às 
condições linguísticas e à estruturação gramatical do sistema, as línguas minoritárias, a exemplo da 
Libras, em nada são inferiores às demais. 
O Brasil é um exemplo típico. Apesar de haver inúmeras línguas indígenas, línguas estrangeiras, a 
língua brasileira de sinais e a língua de sinais da tribo indígena Urubu-Kaapor, apenas a língua 
portuguesa é o idioma oficial. Ou seja, há uma pluralidade linguística, mas o português brasileiro é 
hegemônico e possui privilégios que as outras línguas brasileiras não alcançam. Observa-se, então, 
uma desigualdade absoluta que gera graves impedimentos. 
Atenção 
A Libras ainda não é a língua oficial do país, mas sim uma língua com o estatuto de língua 
reconhecida legalmente, por meio da Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002. Mesmo com o avanço 
legal, permanecem restrições para outras conquistas e aplicação de políticas públicas. 
Nesse ponto, vale até mesmo o questionamento: por que a Libras seria uma língua minoritária se, 
em seu contexto e uso pleno e de rede de interação, comunicação, ensino e interpretação, abarca 
todo o território nacional para e por aqueles que são, territorialmente e culturalmente, cidadãos 
brasileiros, em um número expressivo próximo a 10 milhões de surdos e deficientes auditivos? 
Ou seria o caso de refazermos a pergunta sobre a classificação prescrita? Seria a Libras uma 
língua minoritária ou uma língua que sofre um processo de minorização linguística por causa da 
língua de prestígio – a língua portuguesa? 
LIBRAS A PARTIR DAS POLÍTICAS LINGUÍSTICAS 
Os direitos linguísticos são direcionados tanto ao sujeito, membro de dada comunidade 
linguística ou de fala, bem como à comunidade, que se caracteriza como um coletivo onde a língua 
falada é seu veículo de interação, comunicação, ensino, uso e socialização, em diferentes contextos 
e para um número sem fim de funções e papéis. 
Os dispositivos jurídicos, documentos e tratados de recomendação ou acordos internacionais são 
os pontos-chave para iniciar um planejamento linguístico de oficialização, reconhecimento e 
aplicação das políticas linguísticas. No contexto brasileiro, as determinações de aparatos jurídicos e 
de orientação favoreceram, em certo grau, o uso da Libras como língua reconhecida legalmente. 
No entanto, há distorção de apenas “reconhecê-la como língua de comunicação e expressão das 
comunidades surdas brasileiras”, conforme se lê no art. 1º da Lei de Libras, nº 10.436/2002, 
perpetuando uma condição hierárquica desigual entre o português brasileiro e a língua brasileira de 
sinais. 
Enquanto a língua portuguesa possui o status de língua oficial, a Libras teve o alcance somente de 
língua reconhecida, e o documento jurídico não explicita que o sistema linguístico dos surdos 
brasileiros é também língua de instrução e de interação. O art. 1º da Lei de Libras, nº 10.436/2002, 
afirma apenas: 
É reconhecida como meio legal de comunicação e expressão a Língua Brasileira de Sinais – 
Libras e outros recursos de expressão a ela associados. 
(LEI 10.436/2002, art. 1º) 
A ausência de descrição da Libras na qualidade de língua de instrução afeta diretamente toda a 
política linguística educacional e, inclusive, impacta o planejamento linguístico na educação de 
surdos. Assim, eles ainda permanecem educados na língua de prestígio social e de privilégios 
jurídicos. A língua instrucional para surdos brasileiros falantes de Libras é o português. 
Obviamente, há alcances e reparos de direitos fundamentais presentes e praticados com a Lei de 
Libras. O próprio fato de ser juridicamente reconhecida já garante aos surdos a acessibilidade 
linguística e o poder de ter a Libras como primeira língua, e a ocupação de espaços por meio da 
interpretação entre os códigos linguísticos em contato (ou seja, quando há duas ou mais línguas 
sendo faladas no mesmo ambiente). 
Percebe-se claramente a mudança do estatuto da Libras no contexto brasileiro, especialmente na 
Educação e nos espaços políticos. Antes da criação da lei, a Libras era uma língua de total 
desprestígio social, entendida como linguagem, sem estruturação gramatical. No parágrafo único do 
art. 1º., a Lei de Libras apresenta duas conceituações essenciais para abranger o entendimento da 
Libras como língua e não como qualquer maneira de comunicação agramatical. 
1 É um sistema linguístico. 
2 Possui estrutura gramatical própria. 
A afirmação desses conceitos desmitifica a equivocada percepção de que a Libras seria uma 
linguagem, uma comunicação por gestos e que haveria um sistema de linguagem universal e 
unificado entre os surdos em todo o mundo. São intervenções legais e jurídicas relevantes, pois 
alteram a visão social sobre a Libras e, subjacentemente, acerca dos surdos. 
Outro direito linguístico, visto em um documento jurídico em defesa da Libras, encontra-se no 
parágrafo único do art. 1º da Lei de Libras, que explica ser a Libras um importante instrumento para 
transmissão de ideias e fatos, oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil. 
Como sistema linguístico, essa assertiva é conceitual, positiva e modifica a visão errônea de que a 
Libras seria um modo de comunicação apenas para coisas concretas. Ao afirmar a condição de 
transmissão de ideias e fatos, faz entender que a realização de falas abstratas é usualmente 
construída pelos surdos falantes de Libras, na mesma proporção de outros falantes de línguas orais 
(línguas vozeadas). 
Comentário 
Veja que o posicionamento legal transforma o comportamento linguístico dos falantes de Libras 
e dos não falantes, em especial de quem fala o português brasileiro. Muito provavelmente é o seu 
caso! E você pode ter o comportamento linguístico modificado a partir do estudo deste tema. 
Certamente, as explicações dadas até aqui o fazem entender a importância da disciplina de Libras 
na sua formação e, mais à frente, no próximo módulo, compreenderemos o motivo de a Educação 
ser a instância necessária para a implementação de políticas inclusivas visando a novas práticas 
sociais entre diferentes no plano plurilinguístico. 
O direito de ter sua língua respeitada é inegociável. Mas também é de extrema conquista que 
seja entendida tal como é: língua. O Decreto de Libras nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005, 
descreve indiretamente como a Libras é constituída de ordem visual, fomentando a compreensão e 
a interação com o mundo por meio de experiências visuais. Ou seja, a Libras forma sujeitos 
identitários, molda o pensamento e as maneiras de interpretar os eventos e de agir neles. Está 
profundamente relacionada com a existência do indivíduo. 
O Decreto de Libras regulamenta a Lei de Libras e a Lei nº 10.098, de 19 de dezembro de 2002, 
que trata do direito à acessibilidade e, em seu art. 18, explicita a formação do profissional intérprete 
de Libras-Português. Nesse aspecto, existe um planejamento linguístico para a 
tradução/interpretação a fim de proporcionar aos surdos a eliminação de barreiras comunicacionais. 
No entanto, o mesmo artigo, que traz à comunidade surda o direito de ter intérprete para o 
acesso à informação e à intercomunicação, deturpa a Libras, nomeando-a como linguagem de sinais 
e fortalecendo a inverdade de que Libras não é língua. 
O Decreto nº 6.949, de 25 de agosto de 2009, estabelece a promoção dos seguintes direitos 
legais: 
1 A identidade linguística da comunidade surda. 
2 A língua de sinais como língua de instrução no processo educacional dos surdos. 
3 A aquisição e o aprendizado da língua de sinais. 
Com isso, podemos considerar a possibilidade de ações e avanços fundamentais. Entre eles, o 
pleno desenvolvimento da criança surda, por exemplo. 
A Lei nº 12.319, de 12 de setembro de 2010, aponta as competências e as atribuições na

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