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AULA NÚMERO 10 – FORMAS E SISTEMAS DE GOVERNO 1. Formas de governo 1.1 – Classificação de Aristóteles: Inicia o desenho de uma Teoria de separação dos poderes, observando a existência de seis formas de governo. Essas formas de governo se dividem em formas retas (prevalência do bem comum) e corrompidas (prevalência de interesses particulares) RETAS CORROMPIDAS MONARQUIA TIRANIA POLITÉIA DEMAGOGIA/ REPÚBLICA ARISTOCRACIA OLIGARQUIA Aristóteles, assim como Platão, realizou duras críticas à democracia pela tendência a essa se transformar em uma demagogia e, futuramente, em uma tirania, a pior forma de governo possível. Aristóteles considera que a politéia seria a mais vulnerável a sofrer corrupção e que a aristocracia seria a forma de governo ideal, representando um meio-termo no qual os mais sábios exerceriam o poder por estarem mais aptos. 1.2 – Classificação de Savonarola: O Frei Savonarola, na sua obra Tratado sobre o governo civil de Florença, sintetizou uma concepção acerca das formas de governo, dividindo-as em: Governo do Rei, Governo dos Otimates e Governo Civil; Para Savonarola, o Governo do Rei seria caracterizado por um poder centralizado nas mãos de uma única pessoa; o Governo dos Otimates seria uma espécie de Aristocracia, na qual os mais aptos tendem a exercer o poder; e o Governo Civil seria aquele que garantiria a soberania nas mãos do povo; Para Savonarola, o governo do rei quando é bom, é ótimo; e quando este é ruim, é péssimo. Dessa forma, o pensador considera essa forma de governo mais sucessível a sofrer oscilações; Savonarola constata que a definição da qualidade do governo ocorre mediante a análise dos aspectos culturais inerentes a cada sociedade. Nesse sentido, não haveria um modelo geral; Caso se tratar de uma sociedade homogênea, o ideal seria o Governo do Rei. Entretanto, caso se tratar de uma sociedade heterogênea, como evidenciada em Florença, o mais adequado para dialogar com as divergências de opiniões seria o Governo Civil; Esse Governo Civil seria caracterizado pela garantia da participação popular no poder, além do equilíbrio e da separação dos poderes; Savonarola é considerado um simpatizante do Republicanismo; 1.3 – Classificação de Maquiavel: Defensor e simpatizante da República, assim como Savonarola; Autor de O príncipe – manual de ações políticas voltado para o exercício do poder por parte dos Médici na Itália; Responsável por sintetizar a mais conhecida divisão de formas de governo nos dias atuais – a dualidade entre Monarquia e República; A Monarquia é caracterizada por um poder mais concentrado nas mãos de um governante, enquanto a República (do latim respublica, isto é, coisa pública) vincula-se a um poder mais difuso; 1.4 – República e Monarquia nos tempos contemporâneos: MONARQUIA REPÚBLICA Há uma certa desigualdade política devido à concessão de privilégios provenientes do nascimento. Nem sempre vincula-se a um cunho autoritário, podendo existir monarquias de caráter democrático como a evidenciada na Inglaterra. Destarte, pode-se, fazer referência à existência Garante igualdade política entre os cidadãos; Nem sempre vincula-se a um caráter democrático, embora apresente essa tendência; de “monarquias republicanas”; Contudo, por mais democrática que seja, sempre será pautada em um pressuposto de desigualdade (súditos x majestades); 2. Sistemas de governo 2.1 - Conceito de sistemas de governo: De acordo com Dirley da Cunha Júnior, sistemas de governo “são fórmulas concebidas para identificar o grau de independência ou de dependência no relacionamento entre os poderes executivo e legislativo no exercício das funções governamentais”; O poder judiciário, pelo fato de atuar em inércia visando à pacificação das relações sociais, se distancia das orientações políticas e, por conseguinte, não foi retratado na definição anteriormente mencionada; 2.2 – Parlamentarismo: Característica principal – diluição do poder Executivo entre o Chefe de Estado e Chefe de Governo, sendo esses cargos ocupados por pessoas diferentes; O Chefe de Estado consiste em uma figura mais diplomática, conciliadora, representativa da soberania nacional. Geralmente essa figura recai sobre o monarca ou o presidente; O Chefe de Governo é aquele responsável por exercer a administração estatal e por executar as políticas públicas. Geralmente essa figura consiste no primeiro ministro que governa até o momento em que apresenta apoio da maioria do parlamento (maior instabilidade no cargo em comparação ao presidencialismo); Maior proximidade entre o parlamento e o poder executivo; Origem: Inglaterra; 1689 – Concretização da Revolução Gloriosa através do Bill of Rights, responsável pelo término do absolutismo monárquico. Todavia, o rei continuava exercendo a função executiva apesar de limitado pelo Parlamento; 1714 – Ascensão de Jorge I (Hannover, Alemanha) ao trono inglês; O parlamentarismo na Inglaterra foi se consolidando paulatinamente a medida em que os monarcas abdicavam das suas funções executivas, transferindo-as ao parlamento; 1832 – Crise intensa entre parlamento e o rei, culminando na publicação do Reform Act, um ato do Parlamento que proibia a possibilidade de interferência nas questões parlamentares por parte do rei; Conforme retratado por Walter Bagehot, na França, devido à fragilidade dos partidos políticos, praticamente nenhum gabinete possuía estabilidade, o que contribuiu para o colapso do parlamentarismo durante a terceira república; O parlamentarismo no Brasil foi observado em dois momentos. Primeiramente, no Segundo Reinado (1840 – 1889), sendo denominado “Parlamento às avessas”. Entre 1961 e 1963, o presidente João Goulart teve o seu poder limitado pelo Parlamento devido ao receio existente de que Jango pudesse conduzir o país ao Comunismo; Em 1963, ocorreu um plebiscito e o povo votou pelo retorno do presidencialismo, sendo essa escolha reafirmada no plebiscito de 1993; 2.3 – Presidencialismo: O presidente é eleito diretamente ou indiretamente, sendo Chefe de Estado e Chefe de governo simultaneamente; O presidente possui maior autonomia perante o parlamento. Ademais, o presidente possui maior estabilidade no cargo em comparação ao primeiro ministro no parlamentarismo; O presidencialismo teve sua origem nos Estados Unidos e atualmente é adotado também, principalmente, na América Latina e em alguns países do continente africano; O presidencialismo somente é evidenciado em república; Apesar de previsto juridicamente em caso de crimes de responsabilidade, o impeachment, em países como o Brasil, vincula-se muito mais a um caráter político, isto é, se o presidente tem ou não o apoio do parlamento; 2.3.1 – Presidencialismo no Brasil 1889 – Deodoro da Fonseca assume o governo de forma provisória e, posteriormente, se consolida durante o início da República da Espada; Deodoro da Fonseca foi obrigado a renunciar devido às pressões coordenadas pelo seu vice Floriano Peixoto; O início do presidencialismo brasileiro após Deodoro e Floriano, foi caracterizada pela Política do Café com Leite, proporcionando a alternância entre pessoas a serviço de Minas Gerais ou de São Paulo no poder; Getúlio Vargas assume a presidência após um golpe coordenado pela Revolução de 30, rompendo com a República Velha do Café com Leite. Vargas governou, no seu primeiro mandato, durante quinze anos, destacando-se o caráter autoritário do Estado Novo; Em 1963 a população brasileira opta, através de um plebiscito, pela manutenção do presidencialismo, o que foi corroborado em 1993; Hoje, verifica-se um presidencialismo de coalizão no qual o presidente é eleito democraticamente e governa durante quatro anos com possibilidade de uma reeleição; Jair Messias Bolsonaro é o atual presidente do país; 2.4 – Semipresidencialismo: Maurice Duverger foi responsável pela criação desse termo, designando um sistema intermediário entre o parlamentarismo e o presidencialismo; Há controvérsias sobre a existência desse sistema de governo pois há quem afirme trata- se de somente um desdobramento do parlamentarismo; O presidente é Chefe de Estado e o primeiro-ministro é Chefe de Governo; Estabelecido pela Constituição de Weimar (Alemanha – 1919); Na França atual, há um semipresidencialismo. Nesse caso, o presidente da república é eleito por voto popular e este governa enquanto possui apoio do parlamento. O eixo do poder no caso francês encontra-se no presidente. Todavia, em caso de crises políticas, o presidente pode perder a condição de governabilidade – não é afastado do cargo mas algumas funções são transferidas ao primeiro-ministro; O modelo semipresidencialista adotado pela Islândia é caracterizado por duas cabeças (algo similar a uma diarquia) tendo em vista que os dois (presidente e primeiro-ministro) estão em igualdade nas ações do governo, isto é, dividem a quantidade de funções praticamente de forma precisa; O modelo russo se assemelha ao francês, contudo, na prática, tem sido um instrumento utilizado pelo presidente Vladmir Putin para se perpetuar no poder. Após reeleito e governar durante oito anos, Putin tornou-se primeiro-ministro russo, continuando a influenciar as decisões do presidente Dmitri Medvedev, seu antigo primeiro-ministro. Posteriormente, Putin retomou o poder como presidente; 2.5 – Diretorial: Origem: França – final do século XVIII; Destaca-se atualmente na Suíça; Uma equipe é responsável por exercer a chefia do governo. No caso suíço, esse colegiado é composto por sete membros, entre os quais um é, obrigatoriamente, o presidente da república; Em tese há um maior teor democrático por envolver mais pessoas nas decisões governamentais; Esse sistema de governo seria inviável em países como o Brasil devido a grande quantidade de ideologias existentes; 3. Elementos essenciais da democracia 3.1 - Sufrágio: poder inerente ao povo de participar da vida política do Estado, apresentando um caráter mais amplo que um voto. A CF/1988 brasileira estabelece o sufrágio universal como cláusula pétrea, sendo o voto obrigatório para pessoas entre 18 e 65 anos; Ao longo da história da humanidade, existiram vários exemplos de sufrágios restritos – sufrágio por gênero (as mulheres no Brasil só passaram a votar a partir de 1932), sufrágio racial (durante o Apartheid sul-africano os negros não tinham direito ao voto), sufrágio censitário (o início da República do Café com Leite no Brasil) e o sufrágio capacitário. O sufrágio capacitário, baseado no nível de instrução dos indivíduos é uma questão ainda polêmica e discutida nos dias atuais por alguns sustentarem a necessidade de um grau mínimo de conhecimento para o usufruto do sufrágio; Vale salientar que no Brasil, o voto para os analfabetos foi assegurado apenas nas constituições de 1824 e 1988; 3.2 - Mandato – instrumento de representação, também podendo ser compreendido como um instituto de direito público através do qual o povo delega poder aos seus representantes; O povo é o mandante e os representantes, os mandatários; No direito político existe limites ao mandato? Depende. Esse mandato pode ser representativo ou imperativo. O mandato é representativo quando em tese um mandatário representa toda a sociedade e, por conseguinte, não apenas de quem votou nele. Nesse sentido, o mandatário uma vez empossado atua de forma autônoma. O mandato imperativo é obrigado a seguir recomendações dos eleitores, tendo, portanto, a sua atuação limitada. Destarte, percebe-se um maior poder do eleitor de controlar o mandatário e interferir nas suas decisões. Além disso, o eleitor pode revogar o mandato do mandatário a partir do denominado recall; No Brasil, o mandato político é representativo, caracterizado por uma fidelidade partidária (o indivíduo possui um compromisso com o partido já que se sair do partido, por conseguinte, pode perder o mandato); OBS: Há uma diferença entre impeachment e recall. O impeachment somente acontece devido à ocorrência de crime de responsabilidade, enquanto o recall possui um caráter mais amplo, podendo acarretar na perda do mandato caso o mandatário esteja desagradando. Entretanto, devido à abrangência contida na expressão “crime de responsabilidade”, o impeachment, em países como Brasil, transformou-se em um recall.
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