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A DIMENSÃO OBJETIVA DO DIREITO FUNDAMENTAL AO ACESSO À JUSTIÇA E A EFETIVIDADE DA NORMA CONSTITUCIONAL Revista de Direito Constitucional e Internacional | vol. 54/2006 | p. 276 - 292 | Jan - Mar / 2006 Doutrinas Essenciais de Direitos Humanos | vol. 5 | p. 1019 - 1038 | Ago / 2011 DTR\2006\56 Milene de Alcântara Martins Scheer Advogada. Mestre em Ciência Jurídica pela UNIVALI. Professora de Teoria Geral do Processo. Área do Direito: Constitucional Sumário: - 1. Introdução - 2. A interpretação da norma constitucional - 3. Dimensão objetiva do direito ao acesso à justiça - 4. Considerações finais - 5. Referências bibliográficas Revista de Direito Constitucional e Internacional • RDCI 54/276 • jan.-mar./2006 1. Introdução No panorama jurídico contemporâneo a justificativa para a existência do direito encontra-se na efetividade das normas jurídicas. A evolução da sociedade e do pensamento científico-jurídico demonstra a insuficiência da edição de normas jurídicas para o alcance da finalidade do direito. Evidencia-se a necessidade do reconhecimento e da recepção destas normas pelos seus destinatários para torná-las aplicáveis e efetivas. Como revela Clémerson Merlin Clève, “(…) ao jurista (enquanto tal) cabe, além de tudo, verificar quais direitos são protegidos (pela ordem jurídica), e de que maneira tal proteção se efetiva.”1 É incontestável que o direito processual surgiu para exercer a função precípua de dar efetivação aos direitos e garantias descritos pelo direito material. Todavia, o primeiro passo para a concretização de um direito é conhecer a norma jurídica que o prescreve. Conhecer a norma equivale a interpretá-la. 2. A interpretação da norma constitucional Para Luís Roberto Barroso a interpretação “(…) é a atividade prática de revelar o conteúdo, o significado e o alcance de uma norma, tendo por finalidade fazê-la incidir em um caso concreto.”2 É preciso lembrar-se, porém, de que é atividade exercida por todo aquele que aplica a norma. Para Tércio Sampaio Ferraz Júnior3 a interpretação sugere um processo de comunicação entre o emitente do comando abstrato (legislador) e o seu receptor (intérprete). Para afastar as falhas na transmissão da mensagem contida no texto normativo seria necessário estabelecer um controle do processo de comunicação, mediante a determinação de “códigos” de interpretação. Estes “códigos” identificar-se-iam com os métodos de interpretação. Entre outras atribuições, o estabelecimento destes métodos é tarefa da Hermenêutica Jurídica.4 A interpretação da norma de natureza constitucional, porém, demanda uma atividade maior do intérprete que transcende à compreensão de seus elementos intrínsecos. Para esclarecer A DIMENSÃO OBJETIVA DO DIREITO FUNDAMENTAL AO ACESSO À JUSTIÇA E A EFETIVIDADE DA NORMA CONSTITUCIONAL Página 1 e compreender o sentido da norma constitucional é imprescindível a consideração dos valores sobre os quais se pautou o Poder Constituinte5 para a instituição da nova ordem jurídica. Os fatores históricos e sociológicos também merecem consideração, pois determinam os anseios da sociedade relativamente ao novo diploma constitucional. Este processo de “(…) tirar conclusões a respeito de matérias que estão fora e além das expressões contidas no texto e dos fatores nele considerados (…)”6 é denominado por Luís Roberto Barroso de construção.7 A importância na consideração dos valores para a interpretação e aplicação do direito na atualidade é também levantada por Clémerson Merlin Cléve, ao abordar a temática da proteção internacional dos direitos humanos. Ressalta o constitucionalista o resgate dos critérios axiológicos pela ciência do direito ao afirmar expressamente: “(…) A ciência do direito reincorporou a esfera axiológica aos seus domínios, superando um cientificismo prisioneiro quer do formalismo neokantiano purificador, quer ainda do sociologismo em débito com as fórmulas epistemológicas das ciências naturais.”8 Verifica-se, portanto, que a relevância dos fatores extrínsecos na exegese é ainda maior quando a norma jurídica a ser interpretada é instituidora de um direito fundamental. Neste caso, segundo Perez Luño: “Los derechos fundamentales entrañan y presuponen, en suma, uma determinada filosofia jurídico-política que se refleja en su interpretación. De ahí que la labor hermeneutica tendente a concretar el alcance del sistema constitucional de los derechos fundamentales se halle condicionada por las preconcepciones que le sirven de base.”9 Retomando a questão hermenêutica, é importante frisar que, a despeito das peculiaridades atinentes às normas constitucionais10 instituidoras de direitos fundamentais, os métodos de interpretação a elas aplicáveis são, a priori, os mesmos aplicáveis às outras normas do ordenamento jurídico.11 A estrutura dos ordenamentos jurídicos contemporâneos, nos quais se verifica a existência de um diploma normativo irradiador das diretrizes para a interpretação e aplicação da ordem jurídica de forma coordenada ou subordinada,12 sugere a adoção do método sistemático13 como mais adequado à exegese das normas jurídicas. Ademais, firma-se na práxis uma tendência a adotar os métodos sistemáticos14 e teleológicos na interpretação dos dispositivos constitucionais. Este posicionamento, contudo, não afasta a possibilidade de evocação dos demais métodos na exegese da norma. A orientação mais adequada da hermenêutica jurídica reside no emprego da interpretação gramatical em um primeiro momento, agregando-se, a ela a interpretação histórica,15 se o caso demandar, e em um segundo momento, inevitavelmente, a interpretação teleológica e sistemática. Diante das delimitações teóricas até o momento realizadas extrai-se como resultado a relevância dos métodos teleológicos e sistemáticos na interpretação das normas constitucionais, associados à consideração dos valores estruturantes da ordem jurídica, quando se tratar especificamente de direitos fundamentais. Gomes Canotilho reúne, ainda, alguns princípios da hermenêutica constitucional no que denomina de catálogo-tópico nos quais deve pautar-se o intérprete. São eles os princípios: da unidade da constituição, do efeito integrador, da máxima efetividade, da justeza ou da conformidade funcional, da concordância prática ou da harmonização e da força normativa da constituição.16 A DIMENSÃO OBJETIVA DO DIREITO FUNDAMENTAL AO ACESSO À JUSTIÇA E A EFETIVIDADE DA NORMA CONSTITUCIONAL Página 2 É, portanto, a partir da hermenêutica que o intérprete, enquanto receptor da mensagem normativa, aplica o direito; o intérprete é o responsável por viabilizar a passagem das normas jurídicas dos limites da potencialidade para o da efetividade. Por esta razão revela-se a profunda relação entre interpretação e efetividade das normas constitucionais, como assevera Peter Häberle.17 Reforçando-se que, no quadro jurídico contemporâneo, o intérprete não é apenas o operador do direito (juízes,18 promotores, advogados, entre outros), mas todos os destinatários das normas jurídicas, inclusive o Estado. Como preleciona Luís Roberto Barroso, “(…) a interpretação constitucional é levada a efeito pela generalidade das pessoas no âmbito do Estado, que dela se servem para determinar a própria conduta e conhecer os seus direitos.”19 No tocante aos direitos fundamentais, evidencia-se a relação da sociedade com a interpretação do direito, pois a compreensão da dimensão de seus direitos e garantias fundamentais depende da interpretação dos respectivos dispositivos constitucionais. Da mesma forma o legislador ordinário e os agentes políticos devem proceder à exegese da norma para evitar a edição de leis ou atos administrativos inconstitucionais. Os estudos relativos aos direitos fundamentais,20 contudo, revelam outras dimensões de atuação (negativa ou positiva) do Estado com as quais identifica-se a temática da efetividade dos direitos fundamentais. À abordagem desta temática, contudo, deve anteceder uma delimitação das distinções teóricas entre validade, eficácia e efetividade das normas constitucionaisinstituidoras dos direitos fundamentais. 2.1 Validade, eficácia e efetividade das normas de direitos fundamentais A aplicação da norma jurídica principia pela verificação da sua validade formal e equivaleria à identificação da obediência pelo legislador das determinações contidas no próprio sistema jurídico para a edição da norma. As normas constitucionais serão formalmente válidas, portanto, quando elaboradas pelo Poder Constituinte Originário legitimamente constituído.21 Num segundo momento, o intérprete deverá avaliar a natureza da norma constitucional quanto a sua eficácia.22 Isto porque, por ser a atual, Constituição brasileira tipo analítica, dedicou-se ao tratamento de matérias com distintos graus de vinculação aos objetivos da Constituição, muitas vezes com grande especificidade e em outras deixou a cargo do legislador ordinário a complementação normativa ou ao Poder Político a instituição de medidas materiais para a concretização da norma constitucional. Diante das distinções entre as normas constitucionais, José Afonso da Silva propôs uma classificação destas normas segundo a sua eficácia, com o intuito de permitir a melhor aplicação da Constituição. O constitucionalista reforça posição consentânea na doutrina e na jurisprudência nacionais da inexistência de norma constitucional destituída de eficácia quando afirma: “Todas elas (normas constitucionais) irradiam efeitos jurídicos, importando sempre uma inovação da ordem jurídica preexistente à entrada em vigor da constituição a que aderem e a nova ordenação instaurada.”23 José Afonso da Silva na organização das normas constitucionais pelo critério da eficácia classifica-as em normas de eficácia plena,24normas de eficácia contida25 e normas de eficácia limitada ou reduzida.26 Por conseguinte, a aplicabilidade das normas da primeira A DIMENSÃO OBJETIVA DO DIREITO FUNDAMENTAL AO ACESSO À JUSTIÇA E A EFETIVIDADE DA NORMA CONSTITUCIONAL Página 3 categoria é direta, imediata, integral; o segundo grupo tem aplicabilidade direta, imediata, mas não integral, enquanto a terceira categoria de normas tem aplicabilidade indireta, mediata e reduzida. Vislumbra-se, portanto, que o grau de aplicabilidade da norma constitucional é determinado, em princípio, pelo legislador constituinte, em virtude da redação dada ao dispositivo normativo ou pela vinculação do conteúdo dos dispositivos aos fins essenciais da Constituição. A mera localização do dispositivo no corpo da Carta Magna não é fator suficiente para determinar o grau da aplicabilidade da norma constitucional.27 Terminado o trabalho de elaboração do novo texto constitucional, o Poder Constituinte Originário dissolve-se e a promulgação da Constituição impõe aos seus destinatários diretos a tarefa de torná-la efetiva. A delimitação do tema proposto para investigação exige um enfoque restritivo da questão da efetividade, recaindo especificamente sobre as normas constitucionais instituidoras dos direitos e garantias fundamentais, com especial atenção para o direito fundamental28 de acesso à justiça previsto no art. 5.º, XXXV, da CF/198829, conforme passa-se a discorrer. 2.2 Obstáculos para a efetividade do direito fundamental ao acesso à justiça O acesso à justiça consubstancia-se na possibilidade concreta de provocação da função jurisdicional e na viabilização do seu resultado: a decisão justa e viável. Alargando o campo de projeção, segundo Luiz Guilherme Marinoni, a garantia do acesso à justiça impõe “(…) que todos (tenham) direito à adequada tutela jurisdicional ou à tutela efetiva, adequada e tempestiva.”30 Nalini demonstra a importância do posicionamento dos operadores do direito e, especialmente, dos magistrados, relativamente às definições práticas concretizadoras do acesso à justiça, com destaque para a imprescindível adequação do direito ao momento histórico de sua aplicação.31 O problema do acesso à justiça tem sido objeto de intensos debates entre os processualistas modernos posicionando-se como preocupação primordial da função jurisdicional estatal, pois se identifica com a própria garantia da prestação jurisdicional. Sobre o tema do acesso à justiça, dá-se destaque à obra de Cappelletti e Garth, os quais, sob a premissa de que a preservação do efetivo acesso à justiça constitui requisito fundamental dos sistemas jurídicos modernos, extraem da realidade jurídica os obstáculos diretos ou indiretos ao concreto e efetivo acesso à jurisdição.32 Cappelletti e Garth referem-se ao valor das custas judiciais e dos honorários advocatícios como especial fator restritivo do acesso à justiça.33 A ausência ou a reduzida condição financeira do interessado apresenta-se como fator decisivo para a iniciativa da provocação da jurisdição. O valor das custas judiciais, de regra extremamente oneroso para as partes, mesmo em Estados que adotam o sistema norte-americano (no qual não há obrigação sobre a sucumbência). Porém, o princípio da sucumbência é o mais adotado pelos sistemas modernos, encarecendo ainda mais o acesso à justiça, pois há de se ter a previsibilidade do valor das custas judiciais, às quais se agrega o invariavelmente elevado custo com honorários advocatícios do seu patrono e do advogado do vencedor. A disponibilidade financeira da parte em litígio serve também de importante diferencial. Aquele que possui melhores recursos financeiros tem maiores condições de suportar os custos da demanda e a demora na prestação jurisdicional.34 A DIMENSÃO OBJETIVA DO DIREITO FUNDAMENTAL AO ACESSO À JUSTIÇA E A EFETIVIDADE DA NORMA CONSTITUCIONAL Página 4 Contudo, a preocupação com a acessibilidade dos pobres à justiça constitui apenas uma das vertentes do movimento de acesso à justiça, solucionável com a extensão dos serviços de assistência judiciária e jurídica.35 Adotando tal direcionamento, Nelson Nery Junior defende a necessidade de uma assistência jurídica para a viável concretização do princípio da inafastabilidade da jurisdição.36 A democratização do acesso à justiça constitui um dos aspectos relevantes sobre o tema. Há, ainda, outras questões vivenciadas pelos sistemas jurídicos contemporâneos a demandar a reflexão dos entes envolvidos com a função jurisdicional. Assim, informam Cappelletti e Garth, há um segundo movimento, com fundamentos distintos, tomando força no tocante à viabilização do efetivo acesso à justiça: o dos interesses difusos. A busca de proteção desta espécie de direitos obriga a uma reflexão sobre os institutos tradicionais do processo civil, eminentemente individualista, formado pela noção de oposição entre partes singulares. Por conseguinte, exige-se uma reformulação e/ou reinterpretação das normas processuais, desde aquelas atinentes à legitimidade, englobando as normas procedimentais e as regulamentadoras da atuação dos juízes.37 Sob este espectro, a solução residiria na previsão pelos sistemas jurídicos de ações propriamente destinadas à proteção de interesses coletivos, tais como o Mandado de Segurança Coletivo,38 Ação Civil Pública39 e a Ação Popular.40 Cappelletti e Garth fazem alusão a estes instrumentos,41 atualmente inseridos no sistema constitucional brasileiro. Outra dificuldade com a qual se deparam os aplicadores do direito é o de dar efetividade ao acesso à justiça através destas ações constitucionais. Isto porque, embora o sistema constitucional os preveja, o sistema processual ainda não está totalmente adaptado à natureza especial destes institutos. Paulo de Tarso Brandão enfoca esta problemática e amplia o questionamento do acesso à justiça e do direito de ação, ao questionar sobre a real condição, no sistema processual vigente, de proteção dos novos direitos42 e do útil aproveitamento das ações constitucionais. Em resposta, defende inicialmente “(…) a criação de procedimentos e ritos processuais mais modernos e céleres (…).” 43 Embora assevere que estes se tornam ineficazes sem a mudança da mentalidade dos operadores do direito. Segundo afirma, na “(…) verdade a grande reforma que o direito está a exigir é a da atualização dosoperadores jurídicos e não a dos ritos processuais.”44 Destarte, uma terceira onda de reforma do sistema consistiria na reformulação do sistema jurídico processual, impondo novas regras procedimentais adequadas aos interesses difusos, alterações na estrutura dos órgãos judiciais, instituição de novos tribunais e de outros órgãos capazes de compor os conflitos ou evitar que se instalem. Institui-se, pois, de ora em diante, uma tendência à instituição dos juizados especiais, à adoção do juízo arbitral, bem como à utilização da mediação e à especialização dos tribunais, com vistas de tornar a justiça acessível e efetiva.45 Nesta mesma esteira Cappelletti e Garth propõem a adoção de procedimentos especiais pelos tribunais de pequenas causas e a criação de tribunais locais para a solução dos conflitos da comunidade.46 Em muitos estados brasileiros é perceptível a implementação desta realidade, mediante participação efetiva das instituições de ensino. Estas, enquadrando-se à exigência do Ministério da Educação – MEC e preocupadas em dar um embasamento prático a seus A DIMENSÃO OBJETIVA DO DIREITO FUNDAMENTAL AO ACESSO À JUSTIÇA E A EFETIVIDADE DA NORMA CONSTITUCIONAL Página 5 alunos, vêm instituindo centros de atendimento à comunidade e unidades jurisdicionais de exceção, inclusive com tribunais de pequenas causas locais, levando a justiça para mais perto da comunidade. Horácio Wanderlei Rodrigues ao trabalhar a temática do acesso à justiça dedicou capítulo próprio de sua obra à identificação destas e de outras estratégias aplicadas especificamente pela Administração Pública de Santa Catarina,47 especialmente pelo Poder Judiciário,48 no sentido de disponibilizar os meios adequados à situação das comunidades locais.49 A iniciativa contribui de duas maneiras para o acesso à justiça. Ao mesmo tempo em que supre parcialmente a falta de assistência jurídica pública, enquanto a sociedade catarinense não dispõe dos serviços da Defensoria Pública, proporciona a melhoria do ensino jurídico, preparando e oportunizando embasamento técnico e prático aos estudantes da graduação em direito. Os futuros operadores tomam consciência da realidade jurídica, conhecem a estrutura do Poder Judiciário, associam a técnica e a teoria absorvidas em sala de aula aos casos concretos e inevitavelmente tornam-se profissionais mais preparados e conscientes da sua função social. Dinamarco avalia os movimentos preocupados com a temática do acesso à justiça sob o prisma da universalização da jurisdição, consistente em “(…) endereçá-la à maior abrangência factível, reduzindo racionalmente os resíduos não jurisdicionalizáveis.”50 3. Dimensão objetiva do direito ao acesso à justiça Percebe-se, pois, que os movimentos preocupados com a universalização da jurisdição adotaram premissas e propuseram práticas distintas quanto à renovação do processo civil para o atendimento da garantia do acesso à justiça. Em linhas gerais, impõe-se a assistência jurídica integral aos necessitados (democratização do acesso à justiça), a adequação do sistema processual aos conflitos metaindividuais (coletivos, difusos e individuais homogêneos) e às demandas desta natureza (ações constitucionais). No que diz respeito à atividade jurisdicional, portanto, o constituinte traçou algumas promessas-instrumentais, como denomina Cândido Rangel Dinamarco, corporificadas pelas garantias processuais, “(…) todas destinadas a dar efetividade à promessa-síntese, que é o acesso à justiça.”51 A efetividade do direito ao acesso à justiça, como demonstram as correntes teóricas dedicadas ao tema, transcende à mera constatação do grau de aplicabilidade da norma constitucional. Impende sobre o intérprete o reconhecimento da dimensão objetiva dos direitos fundamentais, enquanto diretrizes para ação estatal. A efetividade ultrapassa a noção de produção de efeitos para atingir a de qualidade de resultados, de eficiência. A efetividade equivale à idéia de eficácia social proposta por Miguel Reale,52 pois diz respeito à correspondência alcançada pela norma entre o que prescreve e os valores nos quais se funda a ordem jurídica e social no momento de sua aplicação; estabelece a perspectiva tridimensional da relação entre o fato (situação regida pela norma), a norma (texto) e o valor (padrões éticos estabelecidos para a nova ordem jurídica). Luís Roberto Barroso fornece importantes argumentos para a distinção entre eficácia e efetividade, ao afirma que “(…) a eficácia refere-se à aptidão, à idoneidade do ato para a produção de seus efeitos. Não se insere no seu âmbito constatar se tais efeitos realmente se produzem.”53 E determina o significado da efetividade: A DIMENSÃO OBJETIVA DO DIREITO FUNDAMENTAL AO ACESSO À JUSTIÇA E A EFETIVIDADE DA NORMA CONSTITUCIONAL Página 6 “É nesse plano da realidade, esse quarto plano, situado fora da teoria convencional, que se vai encontrar a efetividade ou eficácia social da norma.”54 O questionamento que se pretende levantar, portanto, cinge-se à relação entre a natureza compromissória do direito ao acesso à justiça no atual sistema jurídico pátrio, em face de sua dimensão objetiva,55 e a efetividade da norma constitucional. Para tanto é essencial definir a natureza deste direito fundamental. Robert Alexy e Ingo W. Sarlet fornecem os subsídios necessários para tanto. No estudo da teoria dos direito fundamentais Robert Alexy, sob o prisma do direito subjetivo, classifica-os em direitos a algo (direitos a ações negativas e positivas), liberdades (liberdades não protegidas e protegidas) e competências.56 A categoria dos direitos a algo subdividem-se em direitos a ações negativas (direitos de defesa) e direitos a ações positivas (direitos a prestações). O direito ao acesso à justiça insere-se na categoria de direitos a algo. Numa dimensão subjetiva institui o direito individual de provocar o Estado para a prestação jurisdicional, enquanto sua dimensão objetiva revela a exigência da ação negativa do Estado, para que não adote medidas judiciais, legislativas ou executivas tendentes a obstaculizar (estorbar)57 o direito do jurisdicionado. Todavia, o efetivo acesso à justiça impõe também ao Estado ações positivas de natureza fática (material)58 ou normativa59 (jurídica).60 Constata-se, portanto, a composição híbrida do direito ao acesso à justiça, posto constituir ao mesmo tempo direito de defesa e direito de natureza prestacional fática e normativa.61 Isto porque enquanto veda ao poder estatal qualquer ato tendente à obstrução da busca da prestação jurisdicional, também exige que esta seja concedida segundo determinados parâmetros mínimos de justiça, celeridade e razoabilidade. O problema apresenta-se da seguinte forma: o direito constitucional ao acesso à justiça depende, para sua efetividade (eficácia social plena), de medidas legislativas e políticas. Como expõe Paulo Gustavo Gonet Branco, “(…) a garantia do acesso ao Judiciário (art. 5.º, XXXV, da CF/1988) não faz sentido sem que a lei venha a dispor sobre o direito processual, que viabilize a atuação do Estado na solução de conflitos.”62 Esta preocupação fez do tema atinente ao acesso à justiça objeto do interesse dos pesquisadores, diante da observação da realidade vivenciada nos juízos e tribunais brasileiros. A experiência revela desde a insuficiência de vias adequadas ao atendimento efetivo da população menos favorecida econômica e culturalmente, passando pela ineficácia de regras do sistema processual civil, da incongruência do sistema normativo, até a ausência de sensibilização dos magistrados para os efeitos sociais gerados pelas decisões por eles proferidas. A despeito da importância do estudo sob o prisma eminentemente processual, acredita-se ser a perspectiva constitucional do acesso à justiça tema ainda não explorado adequadamente pelos pesquisadores. A publicização do direito e a constitucionalização das regras do processo civil verificadas a partir da promulgação da Constituição de 1988 exigiram uma adaptação dos operadores do direito. O texto constitucionalantes tomado em muitos de seus aspectos protetivos como letra morta assumiu a posição de diploma orientador da atividade hermenêutica, irradiando-se sobre todo o sistema jurídico vigente. Não foi sem razão, portanto, que o sistema processual brasileiro, seguindo prescrição determinada pelo direito e garantia de acesso à justiça, foi e vem sendo profundamente A DIMENSÃO OBJETIVA DO DIREITO FUNDAMENTAL AO ACESSO À JUSTIÇA E A EFETIVIDADE DA NORMA CONSTITUCIONAL Página 7 reformado. Um exemplo evidente da atividade legislativa voltada a tornar eficaz o dispositivo constitucional foi a inclusão, no ordenamento jurídico, do instituto da antecipação de tutela, acompanhado por toda a mini-reforma ao Código de Processo Civil (CPC) operada em 1994, cujo objetivo central foi a de dar maior celeridade ao processo. Passados quase dez anos dessa reforma, o sistema de prestação jurisdicional deu mostras da emergencial necessidade de reforma do sistema recursal vigente. Outras questões também vieram à tona como causadoras da morosidade do funcionamento do Poder Judiciário, em suas diferentes instâncias e, em 2002 operou-se nova reforma do Código de Processo Civil. Ao lado destas reformas legislativas, porém, surgem debates infindáveis sobre a reestruturação do Judiciário; a falta de funcionários públicos qualificados e de juízes preparados; as falhas nos processos de seleção dos magistrados; a impunidade; a corrupção; a excessiva politização do Supremo Tribunal Federal. Todas são questões vinculadas a um só conteúdo: a preocupação em tornar o acesso à justiça legitimamente igualitário e eficaz. 4. Considerações finais No Estado social democrático somente se pode falar em eficácia plena do dispositivo quando o sistema jurídico, político e social do Estado estiver adequado a este programa. Destarte, o acesso à justiça depende de políticas públicas concernentes à conscientização e educação da população relativamente a seus direitos; depende, ainda, de reais condições econômicas e técnicas para a busca da prestação jurisdicional.63 Destarte, para que a falta de recursos econômicos não configure um obstáculo à efetividade do acesso à justiça, torna-se essencial á concretização da gratuidade da justiça e da assistência judiciária. No tocante à gratuidade da justiça impõe-se delimitar quais os mecanismos para a comprovação de insuficiência de recursos,64 já a assistência jurídica gratuita exige a instituição de órgãos voltados ao atendimento jurídico gratuito às populações carentes de fácil acesso à comunidade. Assim, não basta que os Estados disponham de Defensorias Públicas com unidades nos grandes centros, pois nestas localidades aumenta a cada dia, a disponibilidade de serviços desta ordem prestados por instituições de ensino superior, conforme já antes mencionado. A instituição de unidades itinerantes já é realidade em alguns dos estados brasileiros,65 o objetivo é atender às comunidades interioranas e/ou situadas em locais nos quais a dificuldade de acesso aos grandes centros possibilitando-lhes o efetivo exercício do direito constitucional ao acesso à justiça. Antes, portanto, de se falar na Reforma do Poder Judiciário, é essencial a compreensão da dimensão objetiva do acesso à justiça e da irradiação da norma constitucional do art. 5.º, XXXV, da CF/1988 não apenas sobre o ordenamento jurídico e a atividade dos operadores do direito, mas especialmente sobre a atividade estatal. O Estado não pode mais se esquivar desta tarefa. Impõe-se que tome medidas emergenciais para a efetivação do acesso à justiça, proporcionando soluções práticas para as diferentes dificuldades enfrentadas pelos destinatários da norma constitucional, e, especialmente pelos operadores do direito, cujas ações são freqüentemente frustradas pela incongruência do sistema processual brasileiro. 5. Referências bibliográficas A DIMENSÃO OBJETIVA DO DIREITO FUNDAMENTAL AO ACESSO À JUSTIÇA E A EFETIVIDADE DA NORMA CONSTITUCIONAL Página 8 ALEXY, Robert. Teoria de los derechos fundamentales. Madrid: Centro de Estudios Constitucionales, 1997. p. 607. BARROSO, Luís Roberto. 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E acrescenta:“(…) a construção vai além e pode recorrer a considerações extrínsecas.” BARROSO, Luís Roberto. Interpretação e aplicação da Constituição, p. 104. 8. CLÈVE, Clémerson Merlin. Temas de direito constitucional, p. 130. 9. LUÑO, Antonio Enrique Perez. Derechos humanos, estado de derecho y constitución. 6. ed. Madrid: Tecnos, 1999. p. 296. 10. Luís Roberto Barroso revela como importantes para a interpretação constitucional, além da metodologia jurídica aplicada, “(…) (a) o contexto cultural, social e institucional, (b) a posição do intérprete (…).” BARROSO, Luís Roberto. Interpretação e aplicação da Constituição, p. 124. 11. Os teóricos apontam a existência dos seguintes métodos interpretativos: o gramatical, o histórico, o teleológico e o sistemático. 12. Segundo Luís Roberto Barroso, “(…) O direito objetivo não é um aglomerado de disposições legais, mas um organismo jurídico, um sistema de preceitos coordenados ou A DIMENSÃO OBJETIVA DO DIREITO FUNDAMENTAL AO ACESSO À JUSTIÇA E A EFETIVIDADE DA NORMA CONSTITUCIONAL Página 10 subordinados, que convivem harmonicamente.” BARROSO, Luís Roberto. Interpretação e aplicação da Constituição, p. 134. 13. O método sistemático propõe a necessidade da consideração das normas constitucionais como elementos inseridos em um sistema normativo, cujo sentido somente será apreendido se não for interpretado isoladamente. 14. No tocante ao método sistemático é preciso ressaltar que a visualização do direito como um sistema de normas jurídicas decorre da absorção pela ciência jurídica de orientação científica adotada pelas ciências biológicas e pelas ciências exatas (em especial a física), a partir do século XX, em razão da insuficiência científica do paradigma mecanicista para a compreensão dos problemas apresentados às ciências a partir da evolução humana. A utilidade do paradigma sistêmico às ciências jurídicas vem sendo demonstrada pelos jusfilósofos. A exemplo disto, Paulo Bonavides apresenta, sob orientação do paradigma sistêmico, a teoria dialógica de concepção do direito na qual vincula diretamente sua formação à política, concebendo o seu processo de produção de forma unitária ao da formação do próprio Estado. A respeito, ver BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. 11. ed. São Paulo: Malheiros, 2001. p. 107. 15. Embora as interpretações gramatical e histórica sejam menos indicadas para a generalidade das normas jurídicas, há casos em que a busca do sentido literal do termo utilizado pelo legislador e das circunstâncias históricas impulsionadoras da edição da norma jurídica auxiliam a revelar o sentido e o significado do direito por ela resguardado. 16. Com o objetivo de evitar o excessivo aprofundamento teórico sobre os princípios, opta-se por não discorrer sobre eles, reservando-se tal tarefa para o trabalho definitivo, no qual conceder-se-á espaço para uma abordagem detida do princípio da máxima efetividade, em razão da sua vinculação direta com o objeto de investigação. CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito constitucional e teoria da constituição. 4. ed. Coimbra: Almedina, 2001. p. 1186-1189. 17. “(…) El Estado constitucional que se concibe asimismo como Estado y Sociedad de los derechos fundamentales, que cumple o satisface tareas de hacer efetivos derechos fundamentales (por via de tareas estatales), concibe siempre unidas la efectividad y la interpretación de los derechos fundamentales.” Jurisprudencia constitucional. Pedro Häberle. In PINA, Antonio Lopez (Dir.) La garantia constitucional de los derechos fundamentales: Alemania, España, Francia e Italia. Madrid: Civitas, [s/d]. cap. 3. p. 260-278. 18. José Renato Nalini atribui importante função ao juiz no processo de aplicação do direito ao defini-lo como “(…) o concretizador das mensagens normativas do constituinte. (…).” NALINI, José Renato. O juiz e o acesso à justiça, p. 33. (grifo do autor). 19. BARROSO, Luís Roberto. Interpretação e aplicação da Constituição, p. 120. 20. Para a elaboração do presente projeto adotou-se como fonte primária de consulta sobre este tema as obras de Robert Alexy, Teoria de los derechos fundamentales, e de Ingo W. Sarlet, Eficácia dos direitos fundamentais. 21. Quando a norma constitucional decorre de emenda constitucional sua validade formal depende da observância do processo legislativo adequado a esta categoria normativa, pois esta norma será elaborada pelo Poder Constituinte Derivado. 22. A eficácia propriamente dita corresponde à eficácia jurídica conceituada por Ingo W. A DIMENSÃO OBJETIVA DO DIREITO FUNDAMENTAL AO ACESSO À JUSTIÇA E A EFETIVIDADE DA NORMA CONSTITUCIONAL Página 11 Sarlet como “(…) possibilidade (no sentido de aptidão) de a norma vigente (juridicamente existente) ser aplicada aos casos concretos e de – na medida de sua aplicabilidade – gerar efeitos jurídicos. (…).” SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais. 2. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2001. p. 215. 23. SILVA, José Afonso da. Aplicabilidade das normas constitucionais. 6. ed. São Paulo: Malheiros, 2002. p. 81. 24. Nesta categoria “(…) incluem-se todas as normas que, desde a entrada em vigor da constituição, produzem todos os seus efeitos essenciais (ou têm a possibilidade de produzi-los), todos os objetivos visados pelo constituinte (…).” SILVA, José Afonso da. Aplicabilidade das normas constitucionais. 6. ed. São Paulo: Malheiros, 2002. p. 82. 25. “(…) normas que incidem imediatamente e produzem (ou podem produzir) todos os efeitos queridos, mas prevêem meios ou conceitos que permitem manter sua eficácia contida em certos limites, dadas certas circunstâncias.” SILVA, José Afonso da. Aplicabilidade das normas constitucionais. 6 ed. São Paulo: Malheiros, 2002. p. 82. 26. “(…) todas as que não produzem, com a simples entrada em vigor, todos os seus efeitos essenciais, porque o legislador constituinte, por qualquer motivo, não estabeleceu, sobre a matéria, uma normatividade para isso bastante, deixando esta tarefa ao legislador ordinário ou a outro órgão do Estado.” SILVA, José Afonso da. Aplicabilidade das normas constitucionais. 6. ed. São Paulo: Malheiros, 2002. p. 82-83. 27. O disposto no art. 5.º, § 1.º da CF/1988 concede às normas relativas aos direitos e garantias fundamentais catalogados pelo art. 5.º, a priori, a condição de normas de aplicabilidade imediata. Todavia, outros dispositivos da Constituição também dispõe sobre direitos fundamentais (direitos fundamentais fora do catálogo), fato que não os desnatura, merecendo a mesma interpretação daqueles catalogados no art. 5.º. Mencione-se a título exemplificativo os arts. 6.º e 7.º (direitos sociais) e o art. 205 (direito à educação) da CF/1988. 28. Ressalta-se desde já que o dispositivo em comento ao mesmo tempo em que constitui um direito ao acesso à justiça estabelece um mecanismo de defesa de direito, configurando, portanto, concomitantemente uma garantia fundamental. Assim, a doutrina refere-se igualmente ao dispositivo como direito e garantia. Exemplificativamente, Aspectos de teoria geral dos direitos fundamentais. Paulo Gustavo Gonet Branco. In: MENDES, Gilmar et alli. Hermenêutica constitucional e direitos fundamentais. Brasília: Brasília Jurídica, 2000. cap. 2. p. 135 e 144. 29. “XXXV – a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito;” CF/1988. 30. MARINONI, Luiz Guilherme. Tutela antecipatória, julgamento antecipado e execução imediata da sentença. 4. ed. São Paulo: RT, 2000. p. 18. 31. NALINI, José Renato. O juiz e o acesso à justiça, p. 25. 32. CAPPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryant. Acesso à justiça. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris, 1998. 168 p. 33. Idem, p. 15-18. 34. Idem, p. 21. A DIMENSÃO OBJETIVA DO DIREITO FUNDAMENTAL AO ACESSO À JUSTIÇA E A EFETIVIDADE DA NORMA CONSTITUCIONAL Página 12 35. Distingue-se entre assistência judiciária, relacionada mais diretamente com as custas judiciais, da assistência jurídica, a qual se refere aos serviços do profissional advogado. 36. Alguns processualistas referem-se ao princípioda inafastabilidade da jurisdição como um dos princípios processuais de natureza constitucional formador da garantia do acesso à justiça. NERY JUNIOR, Nelson. Princípios do processo civil na Constituição Federal. 6. ed. São Paulo: RT, 2000. p. 99. 37. CAPPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryant. Acesso à justiça, p. 50. 38. Art. 5.º, LXX – “o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por: a) partido político de representação no Congresso Nacional; b) organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus membros ou associados;” CF/1988). 39. “Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público: (…) III – promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos; (…).” CF/1988). 40. Art. 5.º, LXXIII – “qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus de sucumbência;” CF/1988). 41. CAPPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryant. Acesso à justiça, p. 55. 42. Para a categoria de novos direitos adota-se o seguinte conceito operacional: “Assim, a compreensão dos novos direitos tem necessariamente que considerar tanto aqueles que nasceram e nascem constantemente dos conflitos típicos da Sociedade Contemporânea, como a gama de direitos que são efetivamente novos na sua configuração e não no momento de seu enunciado, quando já não mais guardam qualquer correspondência com sua origem.” BRANDÃO, Paulo de Tarso. Ações constitucionais: novos direitos e acesso à justiça. Florianópolis: Habitus, 2001. p. 129. 43. BRANDÃO, Paulo de Tarso. Ações constitucionais, p. 192. 44. Idem, p. 192. 45. CAPPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryant. Acesso à justiça, p. 71-72. 46. Idem, p. 90-94. 47. Outros estados como o Estado do Paraná também adotam práticas assemelhadas e, em certa medida, dispõe de melhor estrutura para o atendimento da comunidade, em razão da manutenção da Defensoria Pública, órgão vinculado ao Estado do Paraná. Seu funcionamento conta com a colaboração das instituições de ensino, através da formalização de convênios de estágio supervisionado. 48. Além dos convênios institucionais mencionados, o Tribunal de Justiça lançou o programa “Casa da Cidadania”, viabilizando o convênio com os municípios para a instituição de espaços destinados a congregar órgãos competentes para a emissão de documentos básicos do cidadão, prestar informações e orientar a população sobre seus direitos. A DIMENSÃO OBJETIVA DO DIREITO FUNDAMENTAL AO ACESSO À JUSTIÇA E A EFETIVIDADE DA NORMA CONSTITUCIONAL Página 13 49. RODRIGUES, Horácio Wanderlei. Acesso à justiça no direito processual brasileiro. São Paulo: Acadêmica, 1994, p. 110. 50. DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de direito processual civil. 2. ed. São Paulo: Malheiros, 2000. v. 1, p. 107. 51. idem, p. 109. 52. REALE, Miguel. Filosofia do direito. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2000. p. 598. 53. BARROSO, Luís Roberto. Interpretação e aplicação da constituição. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 1999. p. 236. 54. idem, ibidem. 55. Paulo Gustavo Gonet Branco possibilita o entendimento desta dimensão objetiva quando afirma: “(…) são da essência do Estado de direito democrático, operando como limite do poder e como diretriz para a sua ação. As constituições democráticas assumem um sistema de valores que os direitos fundamentais revelam e positivam. Esse fenômeno faz com que os direitos fundamentais influam sobre todo o ordenamento jurídico, servindo de norte para a ação de todos os poderes constituídos.” Paulo Gustavo Gonet Branco. In: MENDES, Gilmar et alii. Hermenêutica constitucional e direitos fundamentais. Brasília: Brasília Jurídica, 2000. cap. 2. p. 153. 56. ALEXY, Robert. Teoria de los derechos fundamentales. Madrid: Centro de Estúdios Constitucionales, 1997. p. 186. 57. Alexy prefere o uso do termo estorbar (estorvar) ao de obstaculizar. Afirma a necessidade de “(…) concepto superior que abarque los diferentes tipos del impedir y el obstaculizar.” ALEXY, Robert. Teoria de los derechos fundamentales, p. 190. 58. “Os direitos a prestação material, como visto, conectam-se ao propósito de atenuar desigualdades fáticas de oportunidades. (…) São direitos dependentes da existência de uma dada situação econômica favorável a sua efetivação.”; Paulo Gustavo Gonet Branco. In: MENDES, Gilmar et alii. Hermenêutica constitucional e direitos fundamentais. Brasília: Brasília Jurídica, 2000. cap. 2. p. 146. 59. “(…) O objeto do direito será a normação pelo Estado do bem jurídico protegido como direito fundamental.”; Idem, p. 143. 60. ALEXY, Robert. Teoria de los derechos fundamentales, p. 194-195. 61. SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais, p. 260-276. 62. Paulo Gustavo Gonet Branco. In: MENDES, Gilmar et alii. Hermenêutica constitucional e direitos fundamentais. Brasília: Brasília Jurídica, 2000. cap. 2. p. 135-136. 63. A este respeito Mauro Cappelletti e Bryant Garth expõe de forma bastante elucidativa o tema. CAPPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryant. Acesso à justiça. Trad. Ellen Gracie Northfleet. Porto Alegre: Sérgio Antonio Fabris, 1988. 168 p. 64. A experiência jurídica de nossos tribunais indica a dificuldade de delimitação do conteúdo do disposto no art 5.º, LXXIV, da CF/1988. A DIMENSÃO OBJETIVA DO DIREITO FUNDAMENTAL AO ACESSO À JUSTIÇA E A EFETIVIDADE DA NORMA CONSTITUCIONAL Página 14 65. Os Tribunais de Justiça dos Estados do Amazonas, Acre, Amapá, Paraíba, Rio Grande do Norte, Bahia. Mato Grosso do Sul já instituíram programas de Justiça Itinerante. A população de alguns estados também já contam unidades móveis da Justiça do Trabalho. A DIMENSÃO OBJETIVA DO DIREITO FUNDAMENTAL AO ACESSO À JUSTIÇA E A EFETIVIDADE DA NORMA CONSTITUCIONAL Página 15
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