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[TCC] O MOTOR DOS CARROS ALEGÓRICOS: FORMAS DE SOBREVIVÊNCIA DO CARNAVAL DE AVENIDA DO RIO DE JANEIRO.

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CURSO DE PUBLICIDADE E PROPAGANDA 
 
 
 
 
 
 
MARIA LORRANA MARTINS DA COSTA 
 
 
 
 
 
 
 
O MOTOR DOS CARROS ALEGÓRICOS: 
FORMAS DE SOBREVIVÊNCIA DO CARNAVAL DE AVENIDA 
DO RIO DE JANEIRO. 
 
 
 
 
 
 
 
 
RIO DE JANEIRO 
2020 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
MARIA LORRANA MARTINS DA COSTA 
 
 
 
 
 
 
 
O MOTOR DOS CARROS ALEGÓRICOS: 
FORMAS DE SOBREVIVÊNCIA DO CARNAVAL DE AVENIDA 
DO RIO DE JANEIRO. 
 
 
 
 
Projeto de Pesquisa apresentado como exigência 
parcial para aprovação na disciplina TCC1 do curso de 
Publicidade e Propaganda da Facha. 
 
 
 
 
ORIENTAÇÃO: PROF. DRA. CAMILA AUGUSTA PEREIRA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Costa, Maria Lorrana Martins da. 
 O motor dos carros alegóricos: formas de sobrevivência do 
 carnaval de avenida do Rio de Janeiro / Maria Lorrana Martins da 
 Costa. – Rio de Janeiro: FACHA, 2020. 
 64 f. 
 
 Orientador: Camila Augusta Pereira. 
 
 Monografia (Publicidade e Propaganda) FACHA, 2020. 
 
Carnaval. 2. Avenida. 3. Rio de Janeiro. 4. Escolas de 
Samba. 
 5. Mídia. I. Pereira, Camila Augusta. II. FACHA. III. Título. 
 
 
 
 
 
 
 
O MOTOR DOS CARROS ALEGÓRICOS: 
FORMAS DE SOBREVIVÊNCIA DO CARNAVAL DE AVENIDA 
DO RIO DE JANEIRO. 
 
 
 
 
Maria Lorrana Martins da Costa 
 
Trabalho de Conclusão apresentado ao curso 
Comunicação Social – Publicidade e Propaganda das 
Faculdades Integradas Hélio Alonso, como requisito 
parcial para obtenção do título em bacharel sob 
orientação da Prof.ª. Dr.ª Camila Augusta Pereira. 
 
 
________________________________________ 
Orientador 
________________________________________ 
Membro da Banca 
________________________________________ 
Membro da Banca 
Data da Defesa: __________________________ 
Nota da Defesa: __________________________ 
 
 
 
 
 
 
RESUMO 
 
Este trabalho apresenta uma análise histórica da transformação do carnaval de avenida no 
Rio de Janeiro, que com o passar dos anos se tornou o desfile oficial das escolas de samba 
popularmente conhecidas, mas que enfrentam dificuldades financeiras para produção do 
carnaval. A partir disso a pesquisa tem como objetivo entender como que se dá essa 
transformação, como as escolas de samba conseguem se manter financeiramente e suas 
formas alternativas de financiamento. Para isso foi feita uma pesquisa documental por 
meio da análise de jornais, publicidades e revistas das décadas de 1880 até 1920, pesquisa 
de conteúdo e entrevistas com integrantes ativos das escolas de samba Mocidade 
Independente de Padre Miguel, Unidos do Porto da Pedra e Estação Primeira de 
Mangueira. Com isso, foi possível confirmar que as escolas precisam de formas 
alternativas de financiamento para se manter competitiva. Além disso, há também a 
necessidade de uma política pública de incentivo para garantir que todas as escolas de 
samba possam grandes desfiles e investimento em sua própria comunidade. 
 
Palavras-chave: Carnaval; Avenida; Rio de Janeiro; Escolas de Samba; Mídia. 
 
 
ABSTRACT 
 
This work presents a historical analysis of the transformation of Carnival parade in Rio 
de Janeiro, which over the years has become the popular samba schools parade, but which 
face financial difficulties for the production of Carnival. Based on this, the research aims 
to understand how this transformation takes place, how samba schools manage to 
maintain themselves financially and their alternative forms of financing. For this, a 
documentary research was carried out through the analysis of newspapers, advertisements 
and magazines from the 1880s to the 1920s, content research and interviews with active 
members of the samba schools: Mocidade Independente de Padre Miguel, Unidos do 
Porto da Pedra and Estação Primeira de Mangueira. With that, it was possible to confirm 
that schools need alternative forms of financing to remain competitive. In addition, there 
is also a need for a public policy of incentives to ensure that all samba schools will have 
their power enhanced not only in parades, but also for investment in their own 
community. 
 
Keywords: Carnival; Avenue; Rio de Janeiro; Samba schools; Media. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Antes de tudo, agradeço a minha família que sempre acreditou nos meus 
objetivos e me apoiaram em cada ciclo da minha vida. Agradeço meus pais, Vanusa e 
Raimundo, que sempre se dedicaram a me proporcionar um acesso à educação 
privilegiado e me ensinaram tudo que eu sei sobre a vida. E a minha irmã, Kauane, 
que cresceu ao meu lado me ensinando a arte da paciência e me permitiu ver de perto 
seu amadurecimento. 
Agradeço as minhas primas e amigas: Raiza, Dayane e Daissa, por cada 
momento e palavras que me ajudaram a amadurecer. Agradeço por acreditarem tanto 
em mim e por sempre estarem ao meu lado, apesar de tudo. 
Agradeço a Jéssica Andrade por ser uma amiga tão incrível que me serve como 
um exemplo de força e que esteve junto comigo em toda essa trajetória na FACHA e, 
mesmo com altos e baixos, nunca desistiu. 
Agradeço à minha orientadora e professora Camila Augusta Pereira que além de 
me acompanhar nessa jornada em um momento tão delicado e me ensinar a fazer 
ciência, também me serve de inspiração como uma mulher, professora, doutora, 
amante do carnaval e mãe. 
 Agradeço a Letícia Vianna e Lucas Fiori por estarem comigo durante todo o 
processo de criação desse trabalho e tornar isso mais fácil. Além disso, à Letícia 
Vianna, que me conectei no meu primeiro emprego e nunca mais soltei, agradeço por 
ter a oportunidade de viver na mesma casa e por sempre me incentivar nos meus 
projetos. A Lucas Fiori agradeço por cada aprendizado, mimo e abraço que me 
ajudaram a continuar quando pensei em desistir ou quando desacreditei de mim. 
 Por fim, agradeço aos entrevistados Rodrigo Coutinho, Guilherme Goulart, 
Miguel Sobrinho, Oscar Bessa, Moacyr Barreto por serem tão solícitos e aceitarem a 
responder as perguntas cruciais para a pesquisa. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Aos amantes do carnaval. 
 
O amante do carnaval sempre encontrará 
um pretexto para participar da folia, sempre 
achará nele alguma coisa apaixonante a 
comentar e a aproveitar. Amar o carnaval é 
dar a ele uma adesão irrestrita, 
incondicional e irracional. Quase sempre 
quem não consegue mais gostar dele nunca 
o amou de verdade. 
 
Rachel Valença 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE ILUSTRAÇÕES 
 
Figura 1 - Gazeta de Notícias, 7 de fevereiro de 1883. 14 
Figura 2 - Gazeta de Notícias, 13 de fevereiro de 1888. 15 
Figura 3 - Gazeta de Notícias, 16 de fevereiro de 1888. 16 
Figura 4 - O Malho, n° 24 - 28 de fevereiro de 1903. 17 
Figura 5 - Gazeta de Notícias, 13 de fevereiro de 1888. 18 
Figura 6 - Gazeta de Notícias, 03 de março de 1889. 19 
Figura 7 - Gazeta de Notícias, 18 de fevereiro de 1888. 20 
Figura 8 - Cordão Retiro da América - O Malho, 25 de fevereiro de 1911. 22 
Figura 9 - Diretores e Sócios do Rancho Ameno Resedá - O Malho, 18 
de fevereiro de 1911. 
23 
Figura 10 - O Globo, 1 de março de 1933. 25 
Figura 11 - Leandro Assis e Triscila Oliveira - Os Santos, uma tira de 
ódio. 
28 
Figura 12 - O Globo, 16 de fevereiro de 1994. 34 
Figura 13 - Foto da página oficinal do Facebook da Mocidade 
Independente de Padre Miguel. 
42 
Figura 14 - O Globo, 12 de abril de 1997 (um dia depois da morte do 
Castor de Andrade). 
 
43 
Figura 15 - O Globo, 21 de fevereiro de 1996. 47 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE GRÁFICOS 
 
Gráfico 1 - Meios de se explorar o potencial econômico do Carnaval ao 
longo do ano. 
31 
Gráfico 2 - Problemas na estrutura de financiamento do Carnaval carioca. 32 
Gráfico 3 - Índice de popularidade napesquisa do termo “Carnaval 2020”, 
no estado do Rio de Janeiro. 
37 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE ABREVIATURAS 
 
UES União das Escolas de Samba 
CGEE Centro de Gestão e Estudos Estratégicos 
LIESA Liga Independente das Escolas de Samba 
G.R.E.S. Grêmio Recreativo Escola de Samba 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 10 
2. DO ENTRUDO A SOCIEDADES CARNAVALESCAS ...................................... 13 
2.1 Entrudo: Uma festa de gente sem costumes .......................................................... 13 
2.2 Guerra ao Entrudo ................................................................................................. 14 
2.3 As grandes sociedades carnavalescas .................................................................... 19 
3. ESCOLAS DE SAMBA .......................................................................................... 22 
3.1 A inversão presente no Carnaval de Avenida ........................................................ 25 
3.2 A sobrevivência das escolas de samba .................................................................. 30 
3.3 Espetacularização das Escolas de Samba .............................................................. 35 
4. A REALIDADE DAS ESCOLAS DE SAMBA ..................................................... 37 
4.1 G.R.E.S. Mocidade Independente de Padre Miguel ............................................. 40 
4.2 G.R.E.S. Unidos do Porto da Pedra ....................................................................... 46 
4.3 G.R.E.S. Estação Primeira de Mangueira .............................................................. 51 
5. CONCLUSÃO ......................................................................................................... 57 
REFERÊNCIAS .............................................................................................................. 60 
APÊNDICE ..................................................................................................................... 62 
10 
 
 
 
 
1. INTRODUÇÃO 
Com o objetivo de organizar a festa do carnaval popular, as Grandes Sociedades 
Carnavalescas, agremiações formadas pela elite carioca para brincar o carnaval de 
forma parecida com os luxuosos carnavais de Veneza, contribuíram para a 
transformação da festa no Rio de Janeiro. Por onde passavam mobilizavam todos da 
cidade, principalmente as camadas populares, com os seus desfiles bem produzidos e 
políticos. 
 Porém, com o passar dos anos, a identificação popular com as grandes 
Sociedades Carnavalescas foi diminuindo, quando é possível enxergar um movimento 
inicial de surgimento de novas agremiações, que se localizavam fora do Centro do Rio 
de Janeiro. Por conta da segregação espacial que aconteceu com as reformas urbanas 
no início do século XX na cidade, uma nova territorialidade foi imposta às classes 
populares (AGOSTINHO, 2014, p. 94). 
Ao observar a história das escolas de samba é possível notar um grande contraste 
com as sociedades carnavalescas das décadas de 1870 a 1880. Enquanto as Grandes 
Sociedades eram frequentadas por bem-nascidos ou bem-falantes (CUNHA, 2001, p. 
111), as escolas de sambas surgiram com um grupo de jovens, em sua maioria pretos, 
residentes do bairro Estácio de Sá com o objetivo de adequar o samba para poder 
brincar o carnaval (AGOSTINHO, 2014, p, 104). Com isso, passaram a influenciar 
outros jovens nas favelas e nos subúrbios. 
 Deste modo, cada vez mais as escolas de samba ganharam notoriedade no Rio 
de Janeiro, com espaço mais significativo no carnaval, movimentando a economia, 
chamando atenção do setor turístico e da mídia. Embora as escolas movimentem até 
R$3,78 bilhões da economia da cidade1, ainda recebem pouco ou nada de investimento 
público durante o ano. Inclusive, o auxílio público é cada vez mais raro, visto que 2020 
foi o segundo ano em que houve um corte do subsídio da prefeitura para as escolas de 
samba2. 
 
1 Disponível em: https://exame.abril.com.br/economia/carnaval-movimentou-r-378-bilhoes-na-
economia-do-rio-de-janeiro/, último acesso em 11/06/2020. 
2 Disponível em: https://noticias.uol.com.br/carnaval/2019/colunas/anderson-baltar/2019/08/30/crivella-
corta-verbas-para-escolas-da-sapucai-e-atinge-em-cheio-a-serie-a.htm, último acesso em 11/06/2020. 
https://exame.abril.com.br/economia/carnaval-movimentou-r-378-bilhoes-na-economia-do-rio-de-janeiro/
https://exame.abril.com.br/economia/carnaval-movimentou-r-378-bilhoes-na-economia-do-rio-de-janeiro/
https://noticias.uol.com.br/carnaval/2019/colunas/anderson-baltar/2019/08/30/crivella-corta-verbas-para-escolas-da-sapucai-e-atinge-em-cheio-a-serie-a.htm
https://noticias.uol.com.br/carnaval/2019/colunas/anderson-baltar/2019/08/30/crivella-corta-verbas-para-escolas-da-sapucai-e-atinge-em-cheio-a-serie-a.htm
11 
 
 
 
Desta forma, a proposta da pesquisa é compreender como as escolas de samba, 
dentro do cenário carioca, são mantidas financeiramente e como isso impacta no seu 
dia-a-dia. O trabalho pretende responder às questões: Quais são as possíveis formas 
alternativas legais, ou não, de conseguir financiamento? Além disso, os enredos 
patrocinados são uma possível solução? 
 O corpus de pesquisa são as escolas de samba Mocidade Independente de Padre 
Miguel, Unidos do Porto da Pedra e Estação Primeira de Mangueira para compreender 
as dinâmicas que envolvem o carnaval e identificar quais são suas principais fontes de 
renda. Para tal, foi realizada pesquisa documental por meio da análise de jornais, 
publicidades e revistas das décadas de 1880 até 1920 com o objetivo de coletar 
insumos sobre a repercussão histórica do carnaval durante a época de recorte. 
Para todo o desenvolvimento da pesquisa teórica, foi utilizado o livro “Ecos da 
Folia: Uma história social do carnaval carioca entre 1880 e 1920”, da autora Maria 
Clementina Pereira Cunha (2001), a fim de uma análise histórica e social de toda 
evolução do carnaval carioca. Além disso também foi utilizado o livro “Carnavais, 
Malandros e Heróis”, do autor Roberto da Matta (1979), para uma análise sociológica 
da inversão presente no carnaval. O objetivo é entender de que forma que se dá a 
relação das classes dentro e fora da avenida. 
O capítulo inicial do trabalho, o dois, mostra como que se deu a tentativa de 
civilização do entrudo para tornar as Grandes Sociedades Carnavalescas a principal 
forma de brincar o carnaval carioca. É traçado um paralelo das brincadeiras do Entrudo 
e das Sociedades Carnavalescas com o objetivo de mostrar o posicionamento da 
imprensa e da elite. 
 O capítulo três expõe o surgimento das escolas de samba e como que se deu a 
relação das classes mais altas com o povo da classe mais baixa na avenida. O objetivo 
do capítulo é mostrar também as diferentes formas de sobrevivência das escolas de 
samba e como a mídia interfere em suas ações. Já o capítulo quatro, com as entrevistas, 
busca apresentar de forma prática, e de acordo com a realidade vivida pelas escolas, o 
que foi discutido no capítulo três a fim de entender posicionamentos, escolhas e 
dificuldades das escolas. 
 
 e https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/carnaval/2020/noticia/2019/08/30/crivella-bate-o-martelo-e-diz-
que-escolas-de-samba-nao-terao-subsidios-da-prefeitura-no-carnaval-de-2020.ghtml, último acesso em 
11/06/2020. 
https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/carnaval/2020/noticia/2019/08/30/crivella-bate-o-martelo-e-diz-que-escolas-de-samba-nao-terao-subsidios-da-prefeitura-no-carnaval-de-2020.ghtml
https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/carnaval/2020/noticia/2019/08/30/crivella-bate-o-martelo-e-diz-que-escolas-de-samba-nao-terao-subsidios-da-prefeitura-no-carnaval-de-2020.ghtml
12A principal motivação para sustentar a presente pesquisa reside na importância 
que o tema possui dentro do contexto da cultura do Rio de Janeiro, especificamente o 
carnaval carioca que, com o passar dos anos, se modificou e se ressignificou. Tendo 
em vista que a falta de renda das escolas de samba seria uma contradição diante do que 
o carnaval movimenta na economia carioca e da glamourização apresentada pela 
própria mídia, que instiga ainda mais toda a comercialização do carnaval durante o 
período da festa. 
Desta forma, a pesquisa tem a intenção de contribuir com o tema para mostrar a 
sobrevivência do carnaval fora dos holofotes da grande mídia. Além disso, a pesquisa 
pretende trazer uma contribuição socioeconômica e cultural, visto que o tema move a 
sociedade e tende a trazer um entendimento maior sobre a manifestação cultural que é 
o carnaval e a sua influência na economia e na comunidade ao seu redor. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
13 
 
 
 
2. DO ENTRUDO A SOCIEDADES CARNAVALESCAS 
 
O Entrudo é definido como: “Os três dias que precedem a quaresma ou 
quadragésima, de acordo com a Igreja Católica, durante os quais é uso em alguns 
países para divertir-se o povo banqueteando-se, molhando-se uns aos outros, 
empoando-se e fazendo outras peças jocosas; Carnaval.”. (NOVO DICIONÁRIO DA 
LÍNGUA PORTUGUESA, 1861 apud LEAL, 2008). 
E durante muito tempo teve o mesmo significado que o carnaval: brincadeiras e 
folias que aconteciam 40 dias antes da Páscoa, período da Quaresma de acordo com a 
Igreja Católica. 
Porém, no final do século XIX as brincadeiras do entrudo passaram a ser 
consideradas pela elite intelectual (políticos, jornalistas, literatos etc) o oposto do que 
significava o carnaval, ou seja, passaram a ser vistas como atitudes condenáveis e 
práticas rudes que não deveriam estar nas ruas (CUNHA, 2001, p. 25). Desta forma, a 
busca por uma festa mais organizada, como o carnaval de Veneza ou Paris, e pela 
morte do entrudo foi uma das primeiras grandes mudanças que o carnaval carioca 
sofreu e é a partir disso que passam a surgir as grandes sociedades carnavalescas. 
 
2.1 Entrudo: Uma festa de gente sem costumes 
Os dias de entrudo eram dias de guerras de balões d’água, também conhecido 
como molhadeiras, piadas e dias de mentira. Eram momentos de subversão de regras 
postas na sociedade, dias que os negros zombavam dos brancos enfarinhando seus rostos 
como uma forma de explicitar os conflitos diários e os brancos de “costumes livres” 
pintavam-se de preto, para assim “anular” a diferenciação racial que moldava a sociedade 
da época (CUNHA, 2001). 
Com isso, as principais brincadeiras durante os dias da festa do Rei Momo eram 
brincadeiras que ofendiam as pessoas de “bom tom” da sociedade e eram logo associadas 
aos negros. Como exemplo, as formas de brincar mais criticadas eram: Os mascarados, 
grupos de pessoas com máscaras que ofendiam e faziam exposições da vida alheia na rua; 
Os Zé Pereiras, um conjunto de bumbos criado pelo sapateiro português José Paredes 
(ALBIN, 2009); Os diabinhos, constantemente ligados aos capoeiras, faziam o que a 
imprensa chamava de “diabruras”, ou seja, roubos de miudezas e algumas violências 
(Figuras 1). 
14 
 
 
 
 
 
Figura 1: Gazeta de Notícias, 7 de fevereiro de 1883. 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: Biblioteca Nacional Digital Brasil 3 
 
Guerra às cartolas, que se tratava de impedir que homens com cartolas, objetos 
que deixavam claro uma distinção social, participassem do carnaval com o acessório, 
desta forma grupos de rapazes faziam questão de destruí-lo; E por último, a guerra de 
água, brincadeira fez com que o entrudo também fosse chamado de “molhaçada”, se 
tratava de guerras de bisnagas e limões de cheiro nas ruas do Rio de Janeiro durante os 
dias de entrudo. 
Além disso, a presença de Cucumbis também era comum na época, e se tratava 
de um desfile associado a tradições africanas na metade do século XIX, que em pleno 
 
3 Disponível em: http://memoria.bn.br/hdb/periodico.aspx, último acesso em: 17/04/2020. 
http://memoria.bn.br/hdb/periodico.aspx
15 
 
 
 
contexto da luta pela abolição trazia diversas reações: eram vistos como primitivos e 
pitorescos, mas não como uma ameaça, como os mascarados e os diabinhos (Figura 2). 
 
Figura 2: Gazeta de Notícias, 13 de fevereiro de 1888. 
Fonte: Biblioteca Nacional Digital Brasil 4 
Porém, com o passar do tempo os Cucumbis passaram a ser equiparados aos 
mascarados, diabinhos e todas as outras formas que desagradaram os defensores dos bons 
costumes (Gazeta de Notícias, 5 de março de 1889). 
Durante o período do entrudo, a imprensa e a elite intelectual deixavam bem claro 
seus posicionamentos diante das brincadeiras. Enquanto a imprensa aplaudia a polícia 
quando esta agia com fervor em cima dos “bárbaros” brincantes do entrudo, o imperador 
mostrava gosto pelas brincadeiras, para o desagrado da imprensa: 
Na bela cidade de Petrópolis, Sua Majestade vê-se apertado com as 
moças que lhe arremessam laranjinhas e limões, atiram-lhe a cartola 
ao chão e encapelam-na sob as mimosas plantas [...] acabou-se a 
galhofa; quem governa agora o mundo é o pífio, o pulha, o absoluto, 
anacrônico e estúpido entrudo. (O Monóculo, 1884 apud CUNHA, 
2001, p. 53). 
 
 
4 Disponível em: http://memoria.bn.br/hdb/periodico.aspx, último acesso em: 17/04/2020. 
http://memoria.bn.br/hdb/periodico.aspx
16 
 
 
 
 
 
Figura 3: Gazeta de Notícias, 16 de fevereiro de 1888. 
Fonte: Biblioteca Nacional Digital Brasil 5 
 
A imprensa teria papel fundamental na guerra ao entrudo, pois além de ajudar na 
popularização da ideia de sociedades carnavalescas como o carnaval “ideal”, 
constantemente traz em seus conteúdos ocorrências de brigas, violências e prisões 
durante o período do entrudo, causando um sentimento de ameaça na convivência com 
os mascarados. 
 
2.2 Guerra ao Entrudo 
Com o passar do tempo, a imprensa tratou a festa do entrudo como algo extinto, 
morto e sendo o grande inimigo do verdadeiro carnaval carioca: “De entrudo, em boa 
hora seja dito, não há nem sinal. Está morto e bem morto, o coitado” (Gazeta de 
notícias, 1888 In CUNHA, 2001, p. 67). Essa extinção do entrudo foi diversas vezes 
comemorada mesmo ressurgindo das cinzas todo ano, com as brincadeiras de limões 
de cheiro e causando a revolta naqueles que ansiavam por um carnaval civilizado 
(Figura 4): 
 
5 Disponível em: http://memoria.bn.br/hdb/periodico.aspx, último acesso em: 17/04/2020. 
http://memoria.bn.br/hdb/periodico.aspx
17 
 
 
 
 
 
 
Figura 4: O Malho, n° 24 - 28 de fevereiro de 1903. 
 
Fonte: Fundação Casa de Rui Barbosa 6 
 
 Com a popularidade do entrudo, ainda era necessário conscientizar a população 
de seus perigos, que iam além do perigo da violência física. A brincadeira também passou 
a ser associada ao perigo de desordem social e de costumes de uma população 
heterogênea e “colonial”, ou seja, o entrudo passa a ser um transmissor de doenças e um 
ameaçador para a saúde pública (CUNHA, 2001, p. 78). Desta forma, passam a ter mais 
um motivo para justificar a tentativa de proibição do entrudo e que continuam tendo 
resultados insignificantes. As estratégias para acabar com o entrudo passam desde 
tentar adiar a data do carnaval para meados do ano, em 1892, a fim de evitar que houvesse 
brincadeiras com águas até a criação de novos objetos para substituição dos limões de 
cera e bisnagas. Os novos “brinquedos” tiveram boa aceitação do público e passaram a 
ser uma nova forma de reproduzir o entrudo para uma parcela seletiva da população, 
tendo em vista que os mais pobres não conseguiam ter acesso a esses novos objetos. 
Com isso, a luta pelo carnaval civilizado tem um caráter cada vez mais social e 
elitizado contra as camadas mais pobres do Rio de Janeiro, que mantinham a sua tradição 
das brincadeiras condenáveis e rudes do entrudo. Porém,se engana quem pensa que a 
guerra ao entrudo é contra as tradições das máscaras, dos diabinhos e da guerra d’água, 
pois todas essas brincadeiras eram praticadas pelos frequentadores das Grandes 
Sociedades, apesar de manter sentidos diferentes para sujeitos sociais distintos (CUNHA, 
2001, p. 84). 
 
 
 
6 Disponível em: http://omalho.casaruibarbosa.gov.br, último acesso em: 17/04/2020. 
http://omalho.casaruibarbosa.gov.br/
18 
 
 
 
 
 
 
Figura 5: Gazeta de Notícias, 13 de fevereiro de 1888. 
 
 
 
 
Fonte: Biblioteca Nacional Digital Brasil 7 
 
De acordo com Cunha (2001), a verdadeira guerra ao entrudo é uma luta contra a 
heterogeneidade que a festa trazia, tendo em vista que os grandes defensores do carnaval 
de Veneza buscavam o contrário, uma festa de povo homogêneo e integrado. Buscavam 
em uma tradição europeia, a não repetição de um passado que tinha sido colonial e a 
civilização da plebe mal educada. 
Ainda assim, os desfiles dos carros alegóricos, conhecidos como grandes 
préstitos, das sociedades carnavalescas chamavam a atenção dos praticantes do entrudo, 
que nos dias do carnaval se dividiam entre as folias polidas dos préstitos e a festa bruta 
dos entrudos. E assim, os brincantes passaram a aprender diferentes formas de se 
organizar coletivamente para brincar o carnaval. Enquanto uma forma tem um desfile 
organizado, artístico e crítico aos olhos da elite intelectual, a outra, o entrudo, expõe os 
dias de carnaval como dias de exceção e de liberdade para que o povo pudesse brincar. 
 
 
 
7 Disponível em: http://memoria.bn.br/hdb/periodico.aspx, último acesso em: 17/04/2020. 
http://memoria.bn.br/hdb/periodico.aspx
19 
 
 
 
2.3 As grandes sociedades carnavalescas 
As sociedades carnavalescas surgem como a alternativa para um carnaval mais 
“civilizado” e, devido a sua imagem estar atrelada a uma origem social elitizada e pelo 
teor dos seus préstitos, já surgem com a sua imagem legitimada. Com isso, as grandes 
sociedades tinham como padrão ter pessoas da elite intelectual (estudantes, artistas, 
boêmios, jornalistas, literatos) associadas e participando ativamente das agremiações. 
E foram as três maiores sociedades da época - Democráticos, Fenianos e Tenentes do 
Diabo - que começaram um movimento de ampliação social em relação ao que era 
padrão no início das sociedades carnavalescas, passaram a aceitar comerciantes 
endinheirados e até “moços do comércio” e assim deixaram de ser um espaço apenas 
de pessoas bem-nascidas ou bem-falantes (CUNHA, 2001). 
A imprensa foi uma das principais propagadoras da boa imagem das grandes 
sociedades, quando eram citadas em seus jornais, seja para contar novas notícias ou 
em alguma crônica, vinham acompanhadas com adjetivos positivos. No mesmo jornal 
era possível encontrar elogios aos préstitos de sociedades carnavalescas e informações 
sobre o policiamento da cidade, a fim de evitar o jogo do entrudo (Figura 6). 
 
Figura 6: Gazeta de Notícias, 03 de março de 1889. 
Fonte: Biblioteca Nacional Digital Brasil 8 
 
8 Disponível em: http://memoria.bn.br/hdb/periodico.aspx, último acesso em: 17/04/2020. 
http://memoria.bn.br/hdb/periodico.aspx
20 
 
 
 
A presença de intelectuais fazia com que as grandes sociedades enxergassem a si 
mesmas como a real alternativa contra o bruto entrudo, como Club dos Democráticos 
expõe na sua própria imprensa, Folha Novinha: “[...] cabe-nos a glória de ter sido sempre 
os primeiros no torneio do espírito, mas do espírito fino, e não desse grosseiro e canalha 
que inebria as crioulas baianas e comove as pretas mina” (Folha Novinha, 1884 apud 
CUNHA, 2001, p. 115). 
 Os desfiles das sociedades carnavalescas traziam à tona críticas para a sociedade 
do período e defendiam causas políticas que consideravam importante, entre elas a 
abolição do trabalho escravo. E, como Cunha (2001) expõe, essa luta pela abolição era 
apenas uma forma de buscar uma liberdade, já tardia, para o povo e não de enxergá-los 
como iguais. Enquanto por um lado defendia essa possível “liberdade”, por outro 
tentavam, de forma pedagógica, tornar o povo mais civilizado e culto. 
 Desde sua origem associadas à propaganda abolicionista, as sociedades 
carnavalescas faziam dessa causa a principal a defender. Pelo menos um carro alegórico 
crítico das três grandes sociedades tinha esse tema (CUNHA, 2001). Como, por exemplo, 
o carro alegórico dos Club dos Democráticos no carnaval de 1888, que trouxe negros e 
fazendeiros de mãos entrelaçadas (Gazeta de Notícias, 1888). 
Além disso, tinham o costume de comprar cartas de alforrias para os escravos. 
Costume esse que ia desde grandes sociedades carnavalescas, até grupos menores, como 
o Club dos Políticos, em 1885: 
Figura 7: Gazeta de Notícias, 18 de fevereiro de 1888. 
 
 
 
 
Fonte: Biblioteca Nacional Digital Brasil 9 
 
9 Disponível em: http://memoria.bn.br/hdb/periodico.aspx, último acesso em: 17/04/2020. 
http://memoria.bn.br/hdb/periodico.aspx
21 
 
 
 
Com isso, as sociedades carnavalescas com seus carros políticos passam a se 
tornar cada vez mais populares chamando mais a atenção de figuras importantes da 
propaganda abolicionista e republicana. Então, as sociedades passam a criticar ainda 
mais a monarquia e vender os ideais republicanos (CUNHA, 2001). 
Em 1890, com a república instaurada, os préstitos passam a ter um tom mais de 
louvação do regime com algumas críticas pontuais. E com maior frequência os carros 
alegóricos passam a ser a favor das novas iniciativas governamentais, como, por 
exemplo, as reformas urbanas de Pereira Passos, que, segundo Silva (2018, p. 48): 
“Trata de uma “limpeza” étnica e racial, que estava subjetivo por detrás de ideais 
reformadores, tendo assim, o fim dos cortiços e empurrando a população mais pobre, 
principalmente os negros, para os morros e áreas mais afastadas e menos nobres”. 
Assim se tornou comum observar o apoio às políticas de exclusão e violência do 
regime republicano. Então, as grandes sociedades perderam as suas principais 
bandeiras que atraiam as classes populares e a multidão que as admiravam, passou a 
ser ridicularizada nos seus préstitos. Com isso, foram sendo cada vez mais esquecidos 
pelo povo (CUNHA, 2001). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
22 
 
 
 
3. ESCOLAS DE SAMBA 
 
 O carnaval das grandes sociedades não tinha desaparecido, mas já não tinha mais 
tanta influência em cima do povo. Além disso, outras formas de folia, novas e antigas, 
foram se manifestando ainda mais, como, por exemplo, os Cucumbis, Zé Pereiras, 
Cordões e Ranchos. 
Os Cordões e Ranchos eram compostos por pessoas de origem social diferentes 
das sociedades carnavalescas, a maioria vindo dos morros e subúrbios do Rio de Janeiro. 
E apesar de serem muito parecidos, possuíam formas diferentes de se manifestar nas ruas. 
Enquanto os Ranchos usavam alegorias sobre carroças, apresentavam uma percussão 
leve, com cordas e sopro, tinham, geralmente, um mestre de canto e harmonia e uma forte 
presença feminina. Os Cordões seguiam a pé, acompanhados de percussão com a cantoria 
e eram acompanhados por um “mestre-de-pancadaria”, quem afinava o ritmo da 
percussão (CUNHA, 2001). 
 
Figura 8: Cordão Retiro da América - O Malho, 25 de fevereiro de 1911. 
 
Fonte: Fundação Casa de Rui Barbosa 10 
 
 
 
10 Disponível em: http://omalho.casaruibarbosa.gov.br/index.asp?lk=15#, último acesso em: 21/04/2020. 
http://omalho.casaruibarbosa.gov.br/index.asp?lk=15
23 
 
 
 
 
 
 
Figura 9: Diretores e Sócios do Rancho Ameno Resedá - O Malho, 18 de fevereiro de 
1911 
 
Fonte: Fundação Casa de Rui Barbosa 11 
 
Com a popularidade das grandes sociedades diminuindo, o entrudo deixa de ser a 
grande ameaça ao carnaval civilizado e dá lugar para o novo inimigo: agremiações 
carnavalescas formadas pelos pobres de diferentes partes da cidade do Rio de Janeiro 
(CUNHA, 2001). Cunha afirma que essa proliferaçãode agremiações em partes mais 
pobres da cidade é uma consequência do efeito pedagógico dos préstitos das grandes 
sociedades, sendo assim, baseava suas ações em todas as lições aprendidas com elas, 
desde organização administrativa até na forma que as sedes se organizavam. 
Não tenho dúvida que, quanto à estrutura e origens sociais do 
desfile, as escolas beberiam muito mais da segunda novidade do 
carnaval carioca logo depois das grandes sociedades, nascidas a 
partir da classe média e dos intelectuais, e que foram os ranchos. 
Estes tiveram origens ainda mais populares, incorporando tradições 
típicas do dia de Reis e de procissões religiosas. [...] o Rancho já 
desfilava com muitas das estruturas que as Escolas agregariam, a 
começar pelo abre-alas (com a tradicional saudação à imprensa e 
 
11 Disponível em: http://omalho.casaruibarbosa.gov.br/index.asp?lk=15#, último acesso em: 21/04/2020. 
http://omalho.casaruibarbosa.gov.br/index.asp?lk=15
24 
 
 
 
portando o nome do rancho). A que se seguia a comissão de frente 
– formada pela diretoria, tal como nas Escolas de Samba ainda há 
duas dezenas de anos. Nos ranchos os desfilantes cantavam e 
dançavam sob um comando único, o mestre de manobra, que era, 
sem tirar nem pôr, o essencial diretor de harmonia das escolas.[...]A 
bandeira do Rancho era garbosamente conduzida pela porta-
estandarte, que se fazia acompanhar pelo baliza, encarregado de 
cortejá-la, girando em torno dela: são hoje a porta-bandeira e o 
mestre-sala das Escolas, possivelmente o mais belo, o mais criativo 
e mais emocionante fragmento do super desfile. (ALBIN, 2009, p. 
252). 
 
 Desta maneira, é possível perceber que as escolas de samba têm como suas origens 
tanto do entrudo como dos ranchos e sociedades carnavalescas. Do entrudo, traz as raízes 
da percussão dos Zé Pereiras para sua bateria percussiva, e dos ranchos e sociedades 
carnavalescas traz a organização de seus desfiles (enredos e carros alegóricos), junto com 
toda sua administração. 
 Sendo assim, as escolas de samba que conhecemos surgiu depois de muitas 
mudanças no carnaval e segundo Albin (2009), “Escola de Samba” se torna um nome 
porque os membros se reuniam próximo a uma escola e também como uma forma de se 
posicionar como uma “melhoria”/”ascendente” (tendo em vista que “ensinam” o samba) 
dos blocos carnavalescos e seus concorrentes. Em 1928, surge a primeira escola de samba, 
a “Deixa falar”, na Estácio. 
 Foi apenas em 1932 que aconteceu o primeiro patrocínio para o concurso do 
desfile das agremiações pelo jornal Mundo Esportivo. Já era comum disputas 
carnavalescas nos principais jornais do Rio de Janeiro e o Mundo Esportivo precisava 
preencher as páginas durante as pausas das competições esportiva e, então, surgiu o 
Campeonato de Samba. Foram 19 escolas desfilando na Praça Onze e seis jurados. 
Mangueira levou o primeiro lugar no concurso, seguida da “Vai Como Pode” (Portela). 
Depois disso, em 1933 o jornal O Globo organizou e patrocinou o desfile, seguido pelos 
jornais “O Paiz” e “A Hora” para a organização em 1934. 
 
25 
 
 
 
Figura 10: O Globo, 1 de março de 1933. 
 
Fonte: Acervo O Globo 12 
 
Com o objetivo de ser ainda mais independente, as escolas de samba decidiram 
criar a União das Escolas de Samba (UES) no dia 6 de setembro de 1934. UES tinha o 
propósito de organizar os desfiles e “entender-se diretamente com as autoridades federais 
e municipais para a obtenção de favores e outros interesses”. E logo em 1935 aconteceu 
o reconhecimento oficial das escolas de samba, com a liberação de subvenção para os 
desfiles pela Prefeitura do Distrito Federal.13 
 
3.1 A inversão presente no Carnaval de Avenida 
 Segundo Roberto Da Matta, o carnaval inverte papéis e posições sociais enquanto 
ocorre. Essa Inversão atinge desde o deslocamento de pessoas que naturalmente, durante 
um feriado, seria em direção às praias e no carnaval, se inverte fazendo com que o 
caminho natural seja em direção ao centro. Até os desfilantes das escolas de samba, 
pobres, geralmente com negros, que se vestem de reis, duques e nobres, ou seja, quem 
não tem poder representa quem possui. Inversão essa que expõe por meio da teatralização 
dos desfiles um caráter domesticado dessa “transformação” de pobre em nobre, 
 
12 Disponível em: https://acervo.oglobo.globo.com/em-destaque/em-1933-globo-organiza-desfile-das-
escolas-de-samba-com-40-mil-pessoas-22376823, último acesso em 21/04/2020. 
13 Idem. 
https://acervo.oglobo.globo.com/em-destaque/em-1933-globo-organiza-desfile-das-escolas-de-samba-com-40-mil-pessoas-22376823
https://acervo.oglobo.globo.com/em-destaque/em-1933-globo-organiza-desfile-das-escolas-de-samba-com-40-mil-pessoas-22376823
26 
 
 
 
mostrando que isso só é possível em momentos programados como no carnaval (DA 
MATTA, 1979). 
Por isso, o Carnaval serve a quem está em cima e a quem está 
embaixo, a quem está em casa e a quem está na rua. [...] Nele, vemos 
a realidade ordenada do dia-a-dia desfazer-se em múltiplos planos, 
num processo violento de individualização. (DA MATTA, 1979, p. 
117). 
 
Desta forma, os integrantes das agremiações carnavalescas sabem que são pretos 
e pobres, mas estão conscientes de que durante o carnaval e durante os ensaios eles que 
são os doutores, os professores. Invertendo, assim, sua posição social e conseguindo 
compensar a sua inferioridade social e econômica. Então, eles que, no cotidiano, ocupam 
empregos marginalizados, aparecem como professores na folia do carnaval (DA 
MATTA, 1979). 
 Porém, embora as agremiações sejam diretamente ligadas a favela e ao subúrbio, 
permitem uma certa junção de pessoas ricas com os pobres. Com isso, ainda que 
focalizem em uma só classe social também conseguem promover uma integração entre 
as duas classes nos seus desfiles. Mostrando para a elite e burguesia, por meio deles, que 
os pobres e favelados não são apenas dominados pelas classes mais altas, como costumam 
pré-determinar, mas que o seu grande poder está na criatividade, organização e 
mobilização social, e na capacidade de reinventar todos os anos sua própria estrutura 
social (DA MATTA, 1979). 
E, como diz Da Matta (1979), o grande paradoxo dessa questão é que a escola não 
é de justiça ou igualdade social, mas de samba. Sendo assim, as agremiações servem 
como uma arena de mediação entre diferentes segmentos sociais com interesses sociais e 
politicamente contrários e, por isso, é possível enxergar outro paradoxo no meio da 
inversão dessa festa: 
Assim, o Carnaval permite a transformação de empregadas 
domésticas [...] em sambistas experientes, podendo despertar a 
inveja de suas patroas. Não, evidentemente a inveja pequeno-
burguesa do dinheiro ou da inconsciência política [...], mas a inveja 
da alegria, da vontade de viver, de uma energia e generosidade 
inesgotáveis que nem o trabalho em condições miseráveis consegue 
liquidar. Esse é que é o paradoxo. Do mesmo modo, o mulato 
anônimo da fábrica revela-se como excelente passista ou músico. 
“Como é que pode?” perguntamos nós, bestificados na nossa 
pequenez diante dos mistérios da nossa própria sociedade. (DA 
MATTA, 1979, p. 136). 
 
27 
 
 
 
Fazer um paralelo do que o autor diz com o que se observa na nossa sociedade 
sobre o carnaval na virada do século XX para o XXI é fácil. O primeiro exemplo se refere 
a surpresa ao ver uma pessoa em uma posição marginalizada se destacando no samba é o 
do gari Renato Sorriso. Em 1997 enquanto trabalhava na limpeza da passarela do samba 
durante o desfile das escolas de samba, o gari começou a sambar com a sua vassoura e 
recebeu muitos aplausos do povo. Depois disso, a vida de Renato mudou. Foi chamado 
para entrevistas, programas de TV e até a oportunidade de conhecer oito países, sendo 
um dos destaques da comitiva brasileira no encerramento das Olimpíadas de Londres e 
segurar a Tocha Olímpica14. 
E o segundo exemplo é muitobem representado em uma tirinha, de Leandro Assis 
e Triscila Oliveira, onde conseguiram expor um acontecimento parecido com o que 
Roberto Da Matta conta no primeiro parágrafo acima: 
 
Figura 11: Leandro Assis e Triscila Oliveira - Os Santos, uma tira de ódio. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
14 Disponível em: https://ultimosegundo.ig.com.br/colunas/afro-igualdade/2018-02-09/renato-
sorriso.html, último acesso em 02/05/2020. 
https://ultimosegundo.ig.com.br/colunas/afro-igualdade/2018-02-09/renato-sorriso.html
https://ultimosegundo.ig.com.br/colunas/afro-igualdade/2018-02-09/renato-sorriso.html
28 
 
 
 
 
Fonte: Instagram: Leandro Assis 15 
 
15 Disponível em: https://www.instagram.com/leandro_assis_ilustra, último acesso em 02/05/2020. 
https://www.instagram.com/leandro_assis_ilustra
29 
 
 
 
Diante disso é importante reforçar que tal inversão não é uma forma de acabar 
com a desigualdade e hierarquia, é apenas uma experiência controlada, uma 
recombinação passageira para a manutenção do sistema comum de opressão de classes. 
 
 
30 
 
 
 
3.2 A sobrevivência das escolas de samba 
 
 Essa integração entre as classes aumentou na década de 1950 e foi importante para 
as escolas de samba, pois passaram a ser vistas de outra maneira. Tendo em vista que 
embora essa invasão da classe média tenha diminuído a pureza da tradição e autenticidade 
das agremiações, também trouxe um reconhecimento das escolas de samba perante a 
sociedade como uma manifestação importante culturalmente para o país (FERREIRA, 
2004 in TURETA; ARAÚJO, 2013). Além disso, foi na década de 1960 que aconteceu, 
de fato, o início da comercialização do desfile nas transmissões feitas pelas emissoras de 
televisão. 
A mercantilização do espetáculo e a incorporação de pessoas da 
classe artística e política tornaram-se também uma forma de 
sobrevivência do espetáculo, uma vez que os cariocas já haviam 
assistido à extinção de diferentes manifestações carnavalescas na 
cidade por falta de apoio financeiro. (MATOS E GUIMARÃES, 
2006, p. 289). 
 
Com isso, as escolas de samba passam a ter uma legitimidade maior na mídia e na 
sociedade, crescendo mais e mais a cada ano e criando fontes alternativas de renda para 
conseguirem se manter durante o ano. Então, passam a ser mais comuns outras formas de 
arrecadar dinheiro como, por exemplo: 
● Venda de ingressos e produtos: Inclui tanto a venda de ingressos e 
produtos nos dias dos desfiles quanto em dias comuns, incluindo as 
fantasias e produto com as marcas das agremiações. Como uma das peças 
principais para o desfile são as fantasias, seus preços variam de R$ 700 até 
R$300016 e mostra que são uma parte importante da receita da escola. 
Tendo em vista que em 2014 o Centro de Gestão e Estudos Estratégicos 
(CGEE) fez um relatório que mostrou que a receita com venda de fantasias 
variou entre R$ 500 mil e R$ 1 milhão, de acordo com a quantidade de 
alas comerciais da agremiação (CGEE, 2014). 
● Realização de eventos na quadra: As agremiações optam por fazer eventos 
pagos, relacionados ou não com o desfile, nas suas quadras para 
arrecadarem dinheiro e divulgar a escola. Muitos dos eventos são para uma 
 
16 Disponível em: https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/carnaval/2019/noticia/2019/01/24/fantasias-para-
desfilar-no-carnaval-do-rio-chegam-a-custar-r-3-mil-saiba-como-comprar.ghtml, último acesso em 
04/05/2020. 
https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/carnaval/2019/noticia/2019/01/24/fantasias-para-desfilar-no-carnaval-do-rio-chegam-a-custar-r-3-mil-saiba-como-comprar.ghtml
https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/carnaval/2019/noticia/2019/01/24/fantasias-para-desfilar-no-carnaval-do-rio-chegam-a-custar-r-3-mil-saiba-como-comprar.ghtml
31 
 
 
 
integração maior com a comunidade onde a escola está localizada, desta 
forma é comum ver: feijoadas, shows ou eventos sem relação direta com 
a escola de samba, em casos que a agremiação optou por alugar a quadra. 
Segundo CGEE (2014), é possível arrecadar entre R$ 1 milhão e R$ 2 
milhões com esses eventos nas quadras. 
 
Em uma pesquisa feita por Larissa de Souza Pereira (2018) com 11 agentes que 
atuam no carnaval carioca é possível enxergar que o principal potencial econômico das 
escolas de samba ao longo do ano citado entre os entrevistados foi a realização desses 
eventos nas quadras ou correlacionados com as agremiações (Gráfico 1). Nesta mesma 
pesquisa foram apontados diversos problemas da estrutura de financiamento do carnaval 
carioca contemporâneo (Gráfico 2) e é possível observar que essa estrutura não seria a 
ideal, tendo em vista que a maior parte das receitas obtidas pelo carnaval não é revertida 
para a viabilização da festa. Causando uma dependência dos entes carnavalescos com as 
subvenções públicas e até mesmo, em alguns casos, recorrendo ao patrocínio dos 
bicheiros, indivíduos que registram e recebem as apostas do jogo do bicho, também são 
conhecidos como banqueiros do jogo do bicho (PEREIRA, 2018). 
 
Gráfico 1: Meios de se explorar o potencial econômico do carnaval ao longo do ano. 
 
32 
 
 
 
Gráfico 2: Problemas na estrutura de financiamento do carnaval carioca. 
 
Fonte: Preservação e Inovação no Carnaval Carioca: Uma análise econômica dos 
mecanismos promoção, apropriação e financiamento 17 
 
 Desta forma, os bicheiros encontraram no carnaval uma maneira de manter sua 
influência pelo estado do Rio de Janeiro. Essa parceria passou a ter uma grande 
importância para a organização dos desfiles carnavalescos da cidade por conta das redes 
formadas. Foi na década de 1970 que um grupo de banqueiros repartiu o território do Rio 
de Janeiro em áreas de influência, estabelecendo o que ficou conhecido popularmente 
como a "cúpula do jogo do bicho" (JUPIARA; OTAVIO, 2015). 
Dessa forma, expandem seus tentáculos não só para territórios 
locais, mas também para as organizações ali localizadas: Castor de 
Andrade, por exemplo, assume as finanças do clube de futebol 
Bangu e da escola de samba Mocidade Independente de Padre 
Miguel; Anísio Abraão David torna-se figura conhecida no 
município de Nilópolis, Luizinho Drumond, na Imperatriz 
Leopoldinense, entre outros. Mesmo com uma experiência anterior 
de Natal no GRES Portela, é na década de 1970 que o jogo do bicho 
alcança um grau amplo de expansão nas escolas de samba, 
financiando desfiles cada vez mais custosos e luxuosos. (NATAL, 
2018, p. 4). 
 
 
17 Disponível em: 
https://www.researchgate.net/publication/327944174_Preservacao_e_Inovacao_no_Carnaval_Carioca_U
ma_analise_economica_dos_mecanismos_promocao_apropriacao_e_financiamento, último acesso em 
04/05/2020. 
https://www.researchgate.net/publication/327944174_Preservacao_e_Inovacao_no_Carnaval_Carioca_Uma_analise_economica_dos_mecanismos_promocao_apropriacao_e_financiamento
https://www.researchgate.net/publication/327944174_Preservacao_e_Inovacao_no_Carnaval_Carioca_Uma_analise_economica_dos_mecanismos_promocao_apropriacao_e_financiamento
33 
 
 
 
 Com o tempo pôde se perceber esse investimento dos bicheiros nas escolas de 
samba fazendo efeito, essas escolas passaram a fazer ainda mais sucesso e ter mais 
condição para vencer o concurso. Segundo Fernando Horta, presidente da Unidos da 
Tijuca, em entrevista para o jornal O Globo em 2012, o auxílio dos patronos foi 
fundamental para o carnaval ser o que é hoje: 
A gente não pode fugir de uma verdade: se não fossem esses 
patronos, o carnaval não teria chegado ao que chegou. Eles foram 
uma peça fundamental. Logicamente que tudo tem a sua época. 
Antigamente as escolas não tinham nada e hoje têm. De 2000 para 
cá, começou a haver uma receita que não existia. Começou a haver 
um reconhecimento do nosso trabalho. Os ingressos começaram a 
ter outro valor. As empresas começaram a ver o samba de outra 
maneira. As grandes empresas estão investindo no carnaval. 18 
 
A Liga Independente das Escolas de Samba (LIESA) foi fundadaem 1984 com o 
apoio dos bicheiros, que atuavam como patronos das escolas, e Castor de Andrade foi 
eleito presidente em um mandato provisório de 10 meses 19. Legitimando a participação 
da cúpula do jogo do bicho nas regras dos desfiles e com negociações com o Estado de 
forma legal. 
 Desta maneira, a relação dos bicheiros com os sambistas passou a ser uma troca 
de favores. Enquanto proporcionavam condições financeiras suficientes para as escolas e 
seus membros desfilarem, recebiam em troca os sentimentos de reciprocidade, gratidão e 
a defesa da sua imagem pública por parte dos membros das agremiações (NATAL, 2018). 
“Apesar da prisão, o jogo do bicho e as máquinas de caça-níquel não 
pararam. O jogo prosseguiria, administrado de dentro da cadeia 
pelos condenados, ou do lado de fora, por seus subordinados e 
herdeiros. A estrutura da contravenção era organizada, com uma 
hierarquia definida, uma linha de comando que a mantinha ativa 
mesmo que os cabeças estivessem atrás das grades.” (JUPIARA; 
OTAVIO, 2015, p. 166). 
 
 A cúpula do bicho foi presa em 21 de maio de 1993 (JUPIARA; OTAVIO, 2015) 
e as escolas de samba vêm buscando novas alternativas para manter a estabilidade 
financeira como, por exemplo, patrocínios, apoio de entidades privadas e por aí vai. 
 
 
 
18 Disponível em: https://oglobo.globo.com/rio/carnaval/nem-unidos-da-tijuca-esta-livre-da-influencia-
do-bicho-4053876, último acesso em 06/05/2020. 
19 Disponível em: http://liesa.globo.com/a-liesa/fundacao.html, último acesso em 04/05/2020. 
https://oglobo.globo.com/rio/carnaval/nem-unidos-da-tijuca-esta-livre-da-influencia-do-bicho-4053876
https://oglobo.globo.com/rio/carnaval/nem-unidos-da-tijuca-esta-livre-da-influencia-do-bicho-4053876
http://liesa.globo.com/a-liesa/fundacao.html
34 
 
 
 
Figura 12: O Globo, 16 de fevereiro de 1994. 
Fonte: Acervo O Globo 20 
 
Porém, essa busca por uma outra fonte de renda não significa a perda de prestígio 
dos patronos bicheiros e nem o poder da influência deles para com os membros da escola. 
Afinal, muitas famílias ainda se mantêm no poder com herdeiros, mas significa um 
enfraquecimento financeiro para as escolas de samba. 
Sem ajuda financeira dos patronos, as agremiações recorreriam aos enredos 
patrocinados por empresas. Enquanto alguns membros se posicionavam de forma 
contrária a essa “parceria”, com o argumento da perda de tradição das escolas, outros 
eram a favor. Porém, escolas sem o patrocínio acabavam prejudicadas na disputa, tendo 
em vista que escolas com o patrocínio conseguiam uma ajuda financeira de até 3 milhões 
de reais a mais que as não patrocinadas (SOUZA, 2004). Essa prática ainda é comum e 
também acontece nos desfiles contemporâneos. 
 
 
20 Disponível em: https://acervo.oglobo.globo.com/em-destaque/carnaval-poder-do-nacionalismo-na-era-
vargas-ate-imperio-dos-bicheiros-20972662, último acesso em 04/05/2020. 
https://acervo.oglobo.globo.com/em-destaque/carnaval-poder-do-nacionalismo-na-era-vargas-ate-imperio-dos-bicheiros-20972662
https://acervo.oglobo.globo.com/em-destaque/carnaval-poder-do-nacionalismo-na-era-vargas-ate-imperio-dos-bicheiros-20972662
35 
 
 
 
3.3 Espetacularização das Escolas de Samba 
 
 Em 1984, ano da fundação da Liga Independente das Escolas de Samba (LIESA), 
aconteceu também a construção do sambódromo, um marco para o carnaval de 
avenida. Tanto pela forma de organização mais empresarial e profissional, trazida pela 
Liga, como pelo marco da relação do carnaval com a mídia, trazida pela inauguração 
do sambódromo, que segundo Cavalcanti, nasceu já com o objetivo de atender a mídia: 
A organização do espaço no sambódromo é uma hierarquia de 
visibilidade, os melhores lugares, que permitem a visão da evolução 
de toda a escola na pista são os mais caros. O televisionamento (...) 
foi previsto em sua arquitetura: a imagem frontal que se tem do 
desfile é única. (CAVALCANTI 2008, p.57 apud SOUZA, 2004, 
p.4). 
 
 Isso é um grande passo que marca a concepção do carnaval carioca como 
espetáculo (PEREIRA, 2018). Como algumas emissoras de TV possuem contrato de 
exclusividade para transmissão do desfile, o espectador fica à mercê do que a mídia 
quer apresentar como espetáculo, onde não conseguem diferenciar o que realmente faz 
parte do evento cultural e o que é artificial. 
 Toda essa espetacularização dos desfiles movimenta as agremiações para que 
busquem inovações todo momento e se ajustem às mudanças da mídia. Desta forma, 
os carnavalescos, sem ter muito para onde fugir, passaram a buscar um desfile ainda 
mais grandioso e que saísse melhor na tela da televisão, então alguns modificaram a 
tonalidade das cores, profissionalizaram seus integrantes (funcionários), inseriram 
personalidades famosas (conhecidas pelo público espectador), que a televisão se 
preocupa em focalizar durante as transmissões (SOUZA, 2004). Todas essas 
mudanças, para alcançar um espetáculo, com a duração de um pouco mais de uma 
hora, ainda mais bonito para o público, passou a atrair o interesse de pessoas do mundo 
inteiro cada vez mais e, também, aumentar a audiência das emissoras. 
Com essas transformações e grandes inovações estruturais, os desfiles se tornam 
ainda mais caros e muitas agremiações acabam se submetendo a interesses das 
emissoras ou de patrocinadores chegando até mesmo a descaracterizar o estilo de 
carnaval das escolas, transformando os desfiles em mais um produto cultural. Ou seja, 
muitas empresas que financiam o desfile não estão preocupadas em manter, ou não, a 
essência da escola patrocinada, elas buscam apenas uma promoção em um espaço 
midiático (CAMPOS; JÚNIOR, 2015). 
36 
 
 
 
Um paradoxo em questão surge, pois nem sempre é possível manter 
os valores e a essência das escolas de samba quando elas se rendem 
aos financiadores, no entanto esse patrocínio a deixa mais forte e 
competitiva. (CAMPOS; JÚNIOR, 2015, p. 4). 
 
Desta maneira, é importante que esse produto seja luxuoso porque quanto mais 
luxo, mais audiência. Todo esse luxo é exposto para o espectador em um final de 
semana com o intuito de mostrar uma perfeição que, quando enxergamos por trás dos 
bastidores e ao longo do ano, não existe. 
Ainda que o carnaval tenha uma previsão de movimentar mais de R$ 4 bilhões na 
economia carioca ao longo do ano21, é possível afirmar que a maioria das escolas não 
recebem auxílio financeiro suficiente para manter toda a manutenção da agremiação, 
devido à falta de distribuição igualitária de renda, conforme visto no Gráfico 2. 
Sendo assim, as escolas trabalham ao longo de todo ano buscando diferentes 
formas para obter recursos e financiamento, por vezes via a contravenção, para 
conseguir alcançar o que é necessário para a produção do grande espetáculo televisivo, 
que só recebe atenção da mídia em uma pequena parte do ano, e conseguir se manter 
na disputa, mesmo que para isso seja necessário renunciar a algumas tradições. 
 
 
 
21 Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2020-02/escolas-de-samba-movimentam-
economia-durante-todo-ano-no-rio, último acesso em 06/05/2020. 
https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2020-02/escolas-de-samba-movimentam-economia-durante-todo-ano-no-rio
https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2020-02/escolas-de-samba-movimentam-economia-durante-todo-ano-no-rio
37 
 
 
 
4. A REALIDADE DAS ESCOLAS DE SAMBA 
 
Por meio do Google Trends, uma ferramenta do próprio Google que mostra os 
mais populares termos buscados em um determinado momento, é possível perceber que 
há um padrão quando o assunto pesquisado é carnaval: Quanto mais próximo da data da 
festa, mais pesquisas acontecem. 
Ao verificar o termo de pesquisa “Carnaval 2020”, filtrando pela localidade do 
estado do Rio de Janeiro com a data de 01 de Junho de 2019 até 09 de Março de 2020 é 
possível verificar que ao longo da segunda metade do ano de 2019 há pouca busca pelo 
termo ea incidência aumenta conforme chega mais próximo do mês da festa, que no caso 
do ano de 2020 foi em Fevereiro. No mês em que o carnaval acontece há o maior índice 
de popularidade e logo depois a popularidade volta a cair. 
 
Gráfico 3: Índice de popularidade na pesquisa do termo “Carnaval 2020”, no estado do 
Rio de Janeiro. 
Fonte: Google Trends 22 
 
 
22 Disponível em: https://trends.google.com.br/trends/explore?q=carnaval%202020&geo=BR-
RJ&date=2019-06-01%202020-03-09#TIMESERIES, último acesso em 26/05/2020. 
https://trends.google.com.br/trends/explore?q=carnaval%202020&geo=BR-RJ&date=2019-06-01%202020-03-09#TIMESERIES
https://trends.google.com.br/trends/explore?q=carnaval%202020&geo=BR-RJ&date=2019-06-01%202020-03-09#TIMESERIES
38 
 
 
 
Com isso fica claro que há, naturalmente, um aumento significativo no interesse 
pela festa conforme vai ficando cada vez mais próximo da data e, como consequência, a 
aparição do tema carnaval nas mídias de notícias segue o mesmo padrão. Esse interesse 
pode estar associado ao início dos eventos de ensaio das escolas que costumam acontecer 
partir de novembro, que é quando se nota um aumento de popularidade no Gráfico 3. Por 
exemplo, a Estação Primeira de Mangueira no ano de 2019 produziu, em média, um a 
dois eventos por mês, de março a setembro. A partir do mês de outubro a escola fez, em 
média, seis eventos por mês até o mês de fevereiro de 2020.23 
Ainda assim, a imprensa é uma fiel aliada das escolas de samba, assim como era 
das grandes sociedades carnavalescas. É por conta da grande mídia televisiva que muitas 
escolas de samba garantem uma renda para o desfile por conta dos direitos de transmissão 
e, consequentemente, possível exposição de marcas e patrocínio. Segundo Jorge 
Castanheira, presidente da LIESA, esse investimento que as escolas de samba recebem 
pelo direito de transmissão “tem sido fundamental para manter viva uma das maiores 
expressões da cultura brasileira. [...] É com este investimento dos direitos de transmissão 
que as Escolas de Samba começam a estruturar todo o seu desfile”.24 
Com isso, foi feita a escolha das três escolas de sambas do estado do Rio de 
Janeiro: Mocidade Independente de Padre Miguel, Estação Primeiro de Mangueira e 
Unidos do Porto da Pedra para estudar as visões sob as formas alternativas das 
agremiações se manterem. O objetivo é de compreender, dentro das experiências de cada 
uma, como se dá esse processo. 
A pesquisa foi baseada nas diferentes vivências que cada uma dessas escolas já 
teve em suas formas para obter financiamento, levando em conta também a localização 
descentralizada das três selecionadas (Zona Oeste, Zona Norte e Região Metropolitana), 
bem como seus posicionamentos políticos sobre a organização do carnaval e 
desenvolvimento de cada uma na competição. 
O Grêmio Recreativo Escola de Samba (G.R.E.S.) Mocidade Independente de 
Padre Miguel é localizado na Zona Oeste do Rio de Janeiro, no bairro de Padre Miguel e 
 
23 Disponível em: https://www.facebook.com/pg/GRESEPMangueira/events/?ref=page_internal, último 
acesso em 04/06/2020. 
24 Disponível em: https://imprensa.globo.com/programas/carnaval-2020/textos/globo-investe-no-
carnaval-do-rio-de-janeiro-e-renova-compra-de-direitos-para-a-transmissao-dos-desfiles-das-escolas-de-
samba-do-grupo-especial/, último acesso em 26/05/2020. 
https://www.facebook.com/pg/GRESEPMangueira/events/?ref=page_internal
https://imprensa.globo.com/programas/carnaval-2020/textos/globo-investe-no-carnaval-do-rio-de-janeiro-e-renova-compra-de-direitos-para-a-transmissao-dos-desfiles-das-escolas-de-samba-do-grupo-especial/
https://imprensa.globo.com/programas/carnaval-2020/textos/globo-investe-no-carnaval-do-rio-de-janeiro-e-renova-compra-de-direitos-para-a-transmissao-dos-desfiles-das-escolas-de-samba-do-grupo-especial/
https://imprensa.globo.com/programas/carnaval-2020/textos/globo-investe-no-carnaval-do-rio-de-janeiro-e-renova-compra-de-direitos-para-a-transmissao-dos-desfiles-das-escolas-de-samba-do-grupo-especial/
39 
 
 
 
possui uma forte relação com a favela de Vila Vintém, homenageada no samba “Vira, 
virou” de 1990. A Mocidade, como também é conhecida, se destaca na temática da 
pesquisa porque é a quinta escola com mais pontuação no ranking da LIESA25 e foi uma 
das escolas que teve como patrono o Castor de Andrade, bicheiro que fez parte da cúpula 
do bicho. Além disso, em 2013, a escola teve enredo patrocinado pelo festival de música 
Rock In Rio, que não resultou em uma boa posição na competição daquele ano.26 
O Grêmio Recreativo Escola de Samba (G.R.E.S.) Unidos do Porto da Pedra leva 
o nome do bairro onde nasceu (Porto da Pedra), localizado em São Gonçalo, na Região 
Metropolitana do Rio de Janeiro. Foi escolhido, assim como a Mocidade, porque teve um 
desempenho ruim com um enredo patrocinado. Em 2012, a escola desfilou com patrocínio 
da Danone e teve uma colocação ruim na classificação final dos desfiles27, que a levou 
para o Grupo de Acesso, o grupo das divisões inferiores do concurso das escolas de 
samba, onde está desde então. Porém, ao contrário da Mocidade, a Porto da Pedra, como 
também é conhecida, enfrenta os desafios de ser uma escola do Grupo de Acesso, que 
recebe pouco ou nada de visibilidade pela mídia. 
Por fim, a escolha do Grêmio Recreativo Escola de Samba (G.R.E.S.) Estação 
Primeira de Mangueira se dá pela sua localização na favela da Mangueira, próximo ao 
bairro Maracanã no Rio de Janeiro, e suas vinte conquistas na competição ao longo de 
seus 92 anos. Entendendo que além das diversas contribuições para o carnaval, a escola 
também contribui ativamente na sua comunidade, criando diversos projetos sociais de 
grande impacto. Além disso, o posicionamento do seu atual presidente, Elias Riche, 
referente ao financiamento do carnaval carioca também foi avaliado para a escolha da 
escola. Tendo em vista que o presidente acredita que as escolas não podem esperar o 
dinheiro da prefeitura, por ser um dinheiro incerto e garantiu que, para ele, se o enredo 
for cultural e fizer sentido para o que a agremiação acredita não haver problema em ser 
patrocinado.28 
 
25 Disponível em: https://liesa.globo.com/downloads/carnaval/ranking-geral.pdf, último acesso em 
26/05/2020. 
26 Disponível em: https://oglobo.globo.com/rio/carnaval/dez-das-doze-escolas-do-grupo-especial-
desfilarao-com-enredos-patrocinados-em-2013-6963875, último acesso em 21/05/2020. 
27 Disponível em: https://exame.abril.com.br/marketing/os-sucessos-e-fracassos-dos-sambas-enredos-
patrocinados/, último acesso em 21/05/2020. 
28 Disponível em: https://noticias.uol.com.br/carnaval/2019/colunas/anderson-baltar/2019/05/10/novo-
presidente-da-mangueira-nao-abro-mao-de-um-enredo-cultural.htm, último acesso em 21/05/2020. 
https://liesa.globo.com/downloads/carnaval/ranking-geral.pdf
https://oglobo.globo.com/rio/carnaval/dez-das-doze-escolas-do-grupo-especial-desfilarao-com-enredos-patrocinados-em-2013-6963875
https://oglobo.globo.com/rio/carnaval/dez-das-doze-escolas-do-grupo-especial-desfilarao-com-enredos-patrocinados-em-2013-6963875
https://exame.abril.com.br/marketing/os-sucessos-e-fracassos-dos-sambas-enredos-patrocinados/
https://exame.abril.com.br/marketing/os-sucessos-e-fracassos-dos-sambas-enredos-patrocinados/
https://noticias.uol.com.br/carnaval/2019/colunas/anderson-baltar/2019/05/10/novo-presidente-da-mangueira-nao-abro-mao-de-um-enredo-cultural.htm
https://noticias.uol.com.br/carnaval/2019/colunas/anderson-baltar/2019/05/10/novo-presidente-da-mangueira-nao-abro-mao-de-um-enredo-cultural.htm
40 
 
 
 
Com isso, busca-se entender nesta pesquisa como os integrantes ativos nas 
atividades das escolas de samba enxergam a participação da mídia, as possíveis 
consequências dos enredos patrocinados e os desafios particulares que suas agremiações 
enfrentam. 
 
4.1 G.R.E.S. Mocidade Independente de Padre Miguel 
A Mocidade Independente de Padre Miguel possui 64 anos de jornada,na qual 
conquistou seis títulos de campeã na competição das escolas de samba. A agremiação 
teve como origem um time de futebol de Padre Miguel, o Independente Futebol Clube, 
que depois das partidas seus jogadores, e também excelentes percussionistas, formavam 
uma roda de samba que, segundo a página da rede social Facebook da escola de samba, 
“acabavam se transformando em um verdadeiro bloco carnavalesco. [...] E sob as 
bênçãos de uma estrela, encarnando as cores verde e branco do uniforme esportivo, 
nasceu a Escola de Samba Mocidade do Independente.”. 29 
Em sua estreia em 1959, já desfilando com as grandes escolas, inovou ao criar a 
famosa “Paradinha” da bateria. Tem muitas versões sobre como aconteceu seu 
surgimento, mas a escolhida para ser contada na página oficial da escola no Facebook é 
a que o mestre André escorregou e os ritmistas pararam de tocar. Logo depois o mestre 
levantou, apontou para o repique, que entrou no tempo, e os instrumentos voltaram a 
tocar. Dando a impressão de que a “Paradinha” tinha sido combinada. Assim, teve início 
a fama de uma bateria nota 10.30 
Mesmo com dificuldades financeiras, a Mocidade nunca foi rebaixada para o 
Grupo de Acesso e manteve a sua posição de destaque entre as cincos com mais 
conquistas do Grupo Especial de acordo com a LIESA31. 
Para a análise da escola de samba Mocidade foi realizada entrevista sobre o tema 
com Rodrigo Coutinho, assessor de imprensa, e Guilherme Goulart, membro da bateria 
 
29 Disponível em: https://www.facebook.com/pg/MocidadeOficial/about/?ref=page_internal, último 
acesso em 27/05/2020. 
30 Idem. 
31 Disponível em: https://liesa.globo.com/downloads/carnaval/ranking-geral.pdf, último acesso em 
26/05/2020. 
https://www.facebook.com/pg/MocidadeOficial/about/?ref=page_internal
https://liesa.globo.com/downloads/carnaval/ranking-geral.pdf
41 
 
 
 
da escola. As entrevistas foram feitas a partir do aplicativo de troca de mensagens, 
WhatsApp, no dia 13 e 18 de maio de 2020, a partir de áudios e mensagens de texto. 
O amor e lealdade dos membros e torcedores, mesmo quando passava por 
momentos difíceis, somado a todos os profissionais que contribuíram com a escola é, para 
Rodrigo Coutinho, a principal razão para a entrada da Mocidade na história do carnaval 
de avenida. Pontua como exemplo os nomes de Fernando Pinto, carnavalesco da escola 
desde 1983 até 1988; Castor de Andrade, patrono da escola até 1997 (o ano da sua morte); 
Arlindo Rodrigues, carnavalesco da escola desde 1974 até 1976 e entre outros 
importantes na história da mocidade. 
A menção ao Castor de Andrade pelo assessor mostra que o prestígio pelos 
patronos bicheiros continua mesmo sem a cúpula do jogo do bicho (Rever página 33). 
Não se sabe ao certo como se deu a chegada de Castor de Andrade, um dos bicheiros mais 
poderosos do Rio de Janeiro, à Mocidade. Algumas histórias contam sobre um convite do 
ex-presidente, Olímpio Correia, outras contam que foi por meio de Ivanoy Ferreira e seu 
salão de cabeleireiro que recebia a Vilma, mulher do bicheiro. Nesse caso, realmente 
importa é que a Mocidade foi vista por Castor como mais uma maneira de aumentar a 
influência no território que ele possuía bancas de bicho e aumentar seu reconhecimento 
para além do jogo (JUPIARA; OTAVIO, 2015). 
Ainda assim, o bicheiro contribuiu muito para o crescimento e transformação da 
Mocidade, para Rodrigo, foi ele o grande responsável por mudar a Mocidade de patamar: 
Mocidade era uma escola pequena até a década de 1970, que foi 
quando ele chegou na escola em 74/73 [...]. Todo investimento alto 
que foi feito na Mocidade, tudo aquilo que a mocidade conseguiu 
alcançar [...] ele capitaneou tudo, ele que investiu na escola. Os 
componentes da Mocidade reconhecem isso pelo que ele fez com as 
pessoas da região. Quem mora em Padre Miguel, Realengo e Bangu 
sabe o que ele fez pelo bairro, às vezes fez até o papel que o governo 
público não faz nas regiões mais periféricas da cidade. 
(COUTINHO, 2020) 
 
 
A escolha de um castor para ser a mascote da escola de samba foi citada pelos 
dois integrantes entrevistados como uma forma de deixar visível e evidente a importância 
que o contraventor teve para escola e sua influência: 
 
42 
 
 
 
Figura 13: Foto da página oficinal do Facebook da Mocidade Independente de Padre 
Miguel. 
 
Fonte: Facebook - Mocidade Independente de Padre Miguel 32 
 
Castor de Andrade morreu em 1997 e, durante a sua presença como patrono, a 
Mocidade Independente de Padre Miguel recebeu quatro dos seus seis títulos de campeã. 
Guilherme Goulart enfatiza que a figura do ex-patrono na região não mudou e continua 
sendo muito amada pelos torcedores e moradores da comunidade e, além disso, reforça 
que sua morte impactou diretamente nos desfiles: 
Depois da morte do castor a mocidade passou por anos muito ruins 
financeiramente que deram a ela posições de quase rebaixamento 
nos desfiles. Depois com a volta do sobrinho do castor (Rogério 
Andrade) a presidência da mocidade em 2014, a escola voltou a ter 
bons resultados e inclusive ganhar um título em 2017. (GOULART, 
2020) 
 
 
 
32 Disponível em: https://www.facebook.com/MocidadeOficial/, último acesso em 21/05/2020. 
https://www.facebook.com/MocidadeOficial/
43 
 
 
 
Figura 14: O Globo, 12 de Abril de 1997 (um dia depois da morte do Castor de Andrade). 
 
Fonte: Acervo O Globo. 33 
 
Desta maneira, a principal fonte de renda da escola passou a ser o aporte público, 
segundo o assessor, embora essa forma de financiamento venha sendo cada vez mais 
difícil de conseguir. 
Nos últimos anos a gente teve um problema com a prefeitura do rio, 
ela não reconhece a importância das escolas de samba. Vetou o 
apoio. Mas a dois anos o governo do estado vem correndo atrás de 
um patrocínio de empresa privada para aportar para escolas. Em 
2019, o patrocínio foi da Light de 1 milhão de reais e em 2020 foi 
da Refit, refinaria, de 1 milhão e meio. (COUTINHO, 2020.) 
 
 As escolas também contam com o valor dos ingressos que, para Rodrigo, não é 
muito significativo; como também os recursos financeiros referentes aos direitos de arena, 
que são pagos pela execução do samba-enredo, e ao valor do direito de transmissão que 
é dado pela Rede Globo. Quando questionado sobre a relação da emissora de TV e a 
divulgação das escolas, Rodrigo acredita que a Rede Globo faz o suficiente: 
 
33 Disponível em: 
https://acervo.oglobo.globo.com/busca/?busca=castor+de+andradehttps://acervo.oglobo.globo.com/busca/
?busca=castor+de+andrade, último acesso em 28/05/2020. 
https://acervo.oglobo.globo.com/busca/?busca=castor+de+andradehttps://acervo.oglobo.globo.com/busca/?busca=castor+de+andrade
https://acervo.oglobo.globo.com/busca/?busca=castor+de+andradehttps://acervo.oglobo.globo.com/busca/?busca=castor+de+andrade
44 
 
 
 
Ela começa a falar de carnaval em setembro, no finalzinho de 
setembro. Quando começa o núcleo de carnaval dela funcionar e aí 
começa a fazer matérias sobre o enredo e final de samba, dá um 
espaço bem legal na agenda do final de semana e, quase sempre, 
colocam os eventos da escola lá. (COUTINHO, 2020.) 
 
Sendo assim, para o assessor, os grandes sites e as outras emissoras de TV não se 
interessam em dar espaço para o carnaval. No caso das emissoras, para Rodrigo, é ainda 
pior, pois elas só se interessam por pautas com temas policiais: 
Se eu tentar vender uma pauta de alguém da Mocidade que venceu 
um problema depressivo, ou que arrumou emprego, ou aprendeu 
algum ofício e ganha a vida assim as [emissoras de] TV’s não 
vendem. Mas quando morre alguém, é assassinado, e era integrante 
da escola de samba, ou as vezes não tem nada a ver com a escola de 
samba, aí se interessam na hora para procurar informação. Isso é 
uma coisa que realmente é chato porque percebe-se ali um claro 
preconceito e um interesse muito voltado pra parte dramática da 
situação. (COUTINHO, 2020.)A Mocidade Independente de Padre Miguel tem um patrocínio cultural, que 
acontece independente de enredo, com a empresa Azeite Royal, cujo proprietário é amigo 
pessoal do presidente da escola e vem sendo investigado pelo Ministério Público Federal 
por fraude e associação criminosa34. 
Os eventos que a escola faz na quadra também são uma grande fonte de renda, 
devido a movimentação no bar e também a venda de produtos. Nesses eventos buscam 
fazer parcerias para evitar mais custos, por exemplo: Parceria com supermercado 
Guanabara para ganharem os mantimentos para uma feijoada em contrapartida divulgam 
o supermercado no evento. 
Desta forma, a Mocidade tem sua agenda de eventos de 2020 impactada 
diretamente com a pandemia do novo Coronavírus (COVID-19), doença infecciosa 
descoberta em 2019 que é facilmente transmitida, necessitando o isolamento social e a 
adoção da quarentena para evitar aglomeração de pessoas. Todo mês acontece pelo menos 
um evento e a escola não tem esse lucro, sendo assim, Rodrigo Coutinho conta que 
durante a quarentena a escola se mantém com ajuda de amigos para poder garantir os 
salários dos funcionários em dia. Garantiu que tudo estava sendo pago de forma certa e 
até com a data antecipada. 
 
34 Disponível em: https://oglobo.globo.com/esportes/patrocinador-dos-quatro-grandes-clubes-do-rio-
acusado-de-fraude-associacao-criminosa-24189132, último acesso em 27/05/2020. 
https://oglobo.globo.com/esportes/patrocinador-dos-quatro-grandes-clubes-do-rio-acusado-de-fraude-associacao-criminosa-24189132
https://oglobo.globo.com/esportes/patrocinador-dos-quatro-grandes-clubes-do-rio-acusado-de-fraude-associacao-criminosa-24189132
45 
 
 
 
 Outra forma que a Mocidade Independente de Padre Miguel adotou foram os 
enredos patrocinados que, para o assessor, depende de uma boa vontade de quem quer 
patrocinar e da relevância cultural do enredo para a escola de samba. Com isso, a 
agremiação não abre mão de ter um desenvolvimento adequado para o enredo, acredita 
que o dinheiro para fazer um carnaval mais competitivo é importante tão quanto um 
enredo com um samba forte e que os componentes acreditem. “Você pode tá banhado de 
ouro, que você vai passar na avenida frio, com um samba ruim e com uma coisa que não 
caracteriza a escola. Tem que equilibrar.” (COUTINHO, 2020). 
 Quando questionado sobre o enredo patrocinado pelo Rock In Rio em 2013, que 
resultou em uma das poucas colocações muito baixas da escola, Rodrigo afirmou que o 
resultado não foi ruim por conta do enredo patrocinado em si, e sim pela falta de 
organização da administração. O acordo em 2013 entre o Rock In Rio e a Mocidade era, 
na verdade, com o objetivo de o Rock In Rio tentar captar outros patrocínios para a escola 
e que, no fim, não conseguiu. 
A escola foi para avenida com um enredo que não tinha muito a ver 
com a história da mocidade, um samba que não era legal e aconteceu 
o que aconteceu. Foi uma sucessão de erros, mais administrativo do 
que de escolha do enredo. Só para você ter ideia, em 2008 a 
Mocidade também teve um enredo patrocinado e fez um bom 
desfile, ficou em 7° lugar, mas muita gente acha que poderia ficar 
no 3° ou 4°, [O enredo] O Quinto Império. Em 2014, também foi 
patrocinado: Pernambucópolis, governo de Pernambuco patrocinou. 
Mas houve desvio de verba na escola, dinheiro não foi aplicado no 
carnaval. O enredo patrocinado em si não vai te garantir nem um 
bom, nem um mau carnaval. É só um ponto de partida, a partir 
daquilo ali é que vai definir se a abordagem do enredo vai ser algo 
carnavalizável, relevante culturalmente e se vai se alinhar com a 
história da escola, se vai proporcionar que os compositores façam 
bom sambas, que os componentes se sintam empolgados para 
representar aquilo na avenida. E se a diretoria vai pegar o dinheiro 
do patrocínio e aplicar da forma devida... (COUTINHO, 2020) 
 
 Ainda que a escola tenha passado por diversas dificuldades financeiras, para os 
dois membros da Mocidade entrevistados um dos maiores desafios é a participação 
cultural na comunidade. Para Guilherme, o desafio é manter o patrimônio da escola vivo 
e já para Rodrigo, é ser um polo cultural para uma região marginalizada da cidade, onde 
a escola de samba é a única opção de lazer e cultura, uma forma da comunidade se sentir 
representada no mundo. 
O principal papel da escola de samba pra mim é esse: oferecer lazer, 
cultura, opção da pessoa se profissionalizar de alguma forma, né? 
[...] Sei de muita gente que não tinha nenhuma ideia do que ia fazer 
da vida e a partir do momento que entrou no carnaval, a mente 
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clareou. Pra mim esse é o principal desafio da escola de samba, 
conseguir oferecer isso. O resto é muito mais pro público externo. 
[...] Todo mundo quer ganhar, a gente vai pra avenida pra ganhar. 
Não tem essa de entrar com pézinho mole não, a gente entra pra 
quebrar, mas a gente tem a noção também que carnaval é muito mais 
do que isso. Escola de samba é muito mais do que aquele desfile ali, 
não se restringe 70 minutos. É uma agenda, um ano inteiro de 
cultura, de lazer, de oportunidade, de convívio social[...]. 
(COUTINHO, 2020.) 
 
O assessor acredita que deveria existir uma secretaria voltada para o carnaval, 
tanto para fiscalização mais profissional da prestação de contas das escolas como também 
para oferecer uma estrutura melhor para o trabalho de seus funcionários. Rodrigo 
acrescenta que uma política pública para as escolas de samba seria um investimento que 
poderia resultar em uma melhoria na qualidade de vida dos moradores e com uma 
condição financeira melhor as escolas poderiam transformar a produção do carnaval em 
escolas técnicas ou projetos sociais mais estruturados para a comunidade. Assim, geraria 
mais emprego, mais opção de entretenimento, cultura, educação e uma possível 
diminuição na criminalidade (COUTINHO, 2020). 
 
 
4.2 G.R.E.S. Unidos do Porto da Pedra 
 
Bem como a Mocidade, a Unidos do Porto da Pedra surgiu a partir de um clube 
de futebol que reunia os moradores do bairro Porto da Pedra, em São Gonçalo. Os 
integrantes decidiram formar um bloco de rua chamado Bloco Carnavalesco Porto da 
Pedra que foi oficialmente registrado no dia 8 de março de 1978, dia que é comemorado 
a fundação da escola. Foi apenas três anos depois que o bloco alcançou o título de escola 
de samba, desfilando no Grupo B de São Gonçalo. 
A escola optou por ficar alguns anos inativa nas competições e foi apenas em 
1993, 15 anos depois de sua fundação, que recebeu um convite para participar do Grupo 
de Acesso do carnaval carioca. No seu primeiro desfile no Rio de Janeiro, em 1994, a 
escola obteve um bom resultado, o que que resultou em um vice-campeonato. E em 
apenas dois anos desfilando no carnaval carioca a escola conseguiu alcançar o grupo 
especial, no qual fez um desfile de estreia elogiado pela imprensa e, mesmo ficando na 
nona classificação, recebeu o Estandarte de Ouro de escola revelação (Figura 15). 
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Figura 15: O Globo, 21 de fevereiro de 1996. 
Fonte: Acervo O Globo 35 
 
Porém, em 1998 a escola teve um resultado que a levou para o Grupo de Acesso 
novamente. Depois disso, a Porto da Pedra viveu momentos de instabilidade na sua 
permanência no Grupo Especial. Foi apenas em 2002 que a escola voltou a ficar estável 
no grupo, no qual desfilou até 2012. 
Em busca de entender um pouco mais a realidade vivida pela Unidos do Porto da 
Pedra, foram realizadas entrevistas com Miguel Sobrinho, diretor social da escola, e 
Oscar Bessa, um dos seus compositores. A entrevista foi realizada a partir de áudios e 
mensagens de texto por meio do aplicativo de troca de mensagens, WhatsApp, nos dias 
15 e 25 de maio de 2020. 
Miguelzinho, como é popularmente conhecido, defende a importância dos 
enredos patrocinados para as escolas de samba, principalmente do Grupo de Acesso, 
ainda que um dos seus piores desfiles

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