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Desenvolvimento moral

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Desenvolvimento moral
PiAGET 
E 
KOHLBERG
Moral e ética 
Moral e ética podem ser considerados sinônimos e dizem respeito à preocupação do ser humano com: os costumes sociais, como agir em sociedade, como conviver com as outras pessoas... Mas é possível aproveitar essas duas palavras e colocar duas definições, que são as seguintes: podemos chamar de moral a dimensão da obrigatoriedade (ex.: não matar). A pergunta da moral é: como devo agir? À ética pode ser reservada uma outra pergunta, que é: que vida eu quero viver?, o que é a felicidade?, o que é uma vida que vale a pena? Enquanto a moral manda, podemos dizer que a ética aconselha. A ética é da dimensão do desejável (Yves de La Taille).
Piaget
Desenvolvimento moral ocorre por etapas.
Segue a mesma lógica do desenvolvimento intelectual
Cada fase corresponde a um salto de qualidade em relação à anterior. 
São três fases: 
1- Anomia
Fase pré-moral.
Crianças pré-escolares, até 5 anos.
A criança segue regras, rotinas no dia-a-dia, mas ainda não está pensando ou não está mobilizada pela questão do bem e do mal, do certo e do errado. 
Pouca preocupação ou consciência das regras.
2- Heteronomia
Em média, entre 5 e 10 anos.
Heterônomo: sob a regra do outro.
A partir dos 4 ou 5 anos, a criança começa a perceber que coisas devem ser feitas. 
O hábito acaba dando lugar à dimensão do dever. 
A moral é pensada em referência à autoridade. 
Regras são vistas como sagradas e inalteráveis.
Julgamentos baseados mais nas consequências do que nas intenções.
Crença na justiça imanente: violações de regras são sempre punidas.
3- Autonomia
Por volta de 8 ou 9 anos (10 ou 11 anos).
A criança descarta a dimensão da autoridade para legitimar as regras e logo seguir, decidir suas condutas. Coloca-se como juiz competente para poder dizer “não eu acho isso certo, eu acho isso errado”. 
Pensa a moral pela reciprocidade, pela razão de ser profunda das regras. 
Compreende que regras são acordos arbitrários que podem ser alterados.
Os julgamentos dependem mais da intenção do ator.
Já não acredita na justiça imanente.
Estágios de Kohlberg do desenvolvimento moral
- Kohlberg revisou o trabalho de Piaget.
- Usou estórias com dilemas hipotéticos para avaliar o desenvolvimento do raciocínio moral de crianças e adolescentes.
- O que define o nível do julgamento moral não é a resposta em si, mas a forma de raciocínio utilizada.
- A ordem dos estágios é invariante, universal e hierarquicamente organizada.
NÍVEL I: MORALIDADE PRÉ-CONVENCIONAL
- Típico de crianças de 4 a 10 anos de idade. 
- Os julgamentos são baseados nas fontes de autoridade. Os padrões que a criança usa para fazer julgamentos são externos. As regras não estão internalizadas. As crianças agem sob controle externo.
- São os resultados ou consequências das ações que balizam o julgamento de certo e errado. 
- A criança obedece para evitar punição e para ser recompensada.
Estágio 1: Orientação por punição e obediência
- Julgamentos de certo e errado são baseados nas consequências. Quanto maior o dano ou mais severa foi a punição, pior foi a ação.
- Ex.: “Deveria roubar o remédio... não causaria nenhum dano”. “Roubar algo tão caro seria um grande crime”.
- A obediência aos adultos deve-se ao fato de estes serem mais fortes e poderosos.
Estágio 2: Individualismo, propósito instrumental e troca ou Hedonismo ingênuo
- Surge alguma preocupação com o outro, mas aliada à busca de benefício próprio.
- Julgamentos baseados em recompensas. O bom é o que traz resultados agradáveis, prazerosos.
- A obediência às regras depende da satisfação de objetivos pessoais.
- A criança começa a fazer coisas que são recompensadas e a evitar coisas que são punidas.
- Ex.: “Ele deve roubar o remédio porque, se ela morrer, ele terá de pagar um funeral caro”. 
	“Deve proteger a vida da mulher para não ficar sozinho”. 
	“Deveria roubar o remédio para um amigo, pois, quando estiver morrendo, seu amigo o ajudará”.
- Ainda é evidente em algumas pessoas no início da adolescência.
NÍVEL II: MORALIDADE CONVENCIONAL ou MORALIDADE DE CONFORMIDADE AO PAPEL CONVENCIONAL
- De 10 a 13 anos ou mais. 
- Permanece sendo a forma mais comum de raciocínio moral na idade adulta.
- Os julgamentos são baseados nas regras definidas por um grupo de referência. O que o grupo de referência define como certo ou bom é certo ou bom. 
- Normas são extensamente internalizadas, mas não são analisadas e questionadas.
- As pessoas preocupam-se em ser "boas", em agradar aos outros e em manter a ordem social. 
Estágio 3: Expectativas e relacionamentos interpessoais mútuos e conformidade
- Estágio do bom menino/boa menina. 
- O bom comportamento é aquele que agrada aos outros, é aprovado, oferece ajuda, mantém os relacionamentos mútuos.
- Ex.: “Eu tento fazer tudo que minha mãe manda”.
- A maioria dos adolescentes encontra-se neste estágio (cf. conformismo com o grupo de iguais).
- Começam os julgamentos baseados em intenções.
Estágio 4: Sistema e consciência sociais ou Moralidade da mainutenção da ordem social
A criança recorre a grupos sociais mais amplos. 
- A adesão aos regulamentos é mais importante do que agradar a uma pessoa. 
- Foco em cumprir o dever, respeitar a autoridade, manter as regras que sustentam a ordem social.
- Tal adesão se dá sem questionamento.
NIVEL III: MORALIDADE DE PRINCÍPIOS ou PÓS-CONVENCIONAL ou DOS PRINCÍPIOS MORAIS AUTÔNOMOS
- As pessoas geralmente só chegam a esse nível de julgamento moral pelo menos no início da adolescência ou mais comumente no início da idade adulta, podendo nunca atingi-lo.
- Os julgamentos são baseados em princípios escolhidos pela própria pessoa (mudança na fonte de autoridade).
- A pessoa reconhece possíveis conflitos entre padrões socialmente aceitos e tenta decidir entre eles. 
- O controle da conduta agora é interno.
Estágio 5: Orientação pelo contrato social
- Início dos princípios auto-escolhidos. 
- Regras são importantes e necessárias (para a justiça e convivência social), porém, em certos momentos (quando são impostas ou injustas, por exemplo), podem ser questionadas, ignoradas, modificadas.
Estágio 6: Princípios éticos universais
- Aprofundamento do estágio anterior.
- Busca-se adotar um modo de vida consistente com princípios morais profundos e universais (como a justiça, o respeito).
- Assume-se responsabilidade pelas próprias ações e dispõe-se a examinar as próprias ideias.
- O raciocínio de acordo com este estágio é raro mesmo entre adultos. Este estágio seria um construto hipotético?
Referência bibliográfica básica
 
BEE, Helen & BOYD, Denise. Pensando sobre relacionamentos: o desenvolvimento da cognição social. In: A criança em desenvolvimento. Porto Alegre: Artmed, 2011.

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