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78 Unidade II Unidade II 5 MECANISMOS NEURAIS DA PERCEPÇÃO SENSORIAL E DA INTEGRAÇÃO SENSÓRIO-MOTORA Como você está indo com os estudos? Agora adentraremos num assunto de extrema importância para o controle motor: a percepção sensorial. Não podemos nos esquecer de que o SN precisa ter acesso a informações do meio ambiente para que nossos movimentos sejam elaborados, planejados e executados de forma correta. Espero que esteja animado. Vamos estudar sobre os sistemas sensoriais. As modalidades sensoriais são constituídas de três etapas, a saber: • um estímulo físico; • um conjunto de eventos pelos quais o estímulo é transduzido em uma mensagem de impulsos nervosos; • uma resposta à mensagem, que pode ser em forma de percepção ou representação interna das sensações. De fato, os sistemas sensoriais recebem informações a partir do ambiente por meio de células especializadas na periferia do corpo e transmitem essas informações para o SNC, que se utiliza dessas informações para quatro funções principais: a percepção, o controle dos movimentos, a regulação das funções dos órgãos internos e a manutenção do estado de vigília. E essas funções nem sempre são conscientes. Essas diferentes formas de energia – que podem ser luminosa, mecânica, térmica e química – são transformadas pelo SN em diferentes qualidades de sensação ou modalidades sensoriais. Existem cinco modalidades sensoriais: visão, audição, tato, gustação e olfação. Em relação ao nosso sistema sensorial dito somático, temos: o tato, deflagrado pela estimulação mecânica da superfície do corpo; a propriocepção dos membros, deflagrada por deslocamentos mecânicos dos músculos e das articulações; a dor, provocada por estímulos nocivos químicos, mecânicos e térmicos; e as sensações térmicas, provocadas por estímulos frios ou quentes. Assim, as sensações sensoriais são caracterizadas por quatro propriedades: modalidade, intensidade, duração e localização no espaço. 79 CONTROLE MOTOR E NEUROCIÊNCIAS A modalidade é o tipo de sensação sinalizada; a intensidade é a quantidade da sensação, que depende da força do estímulo. Para o nível mais baixo de sensação para determinado estímulo, dá-se o nome de limiar sensorial. Já a duração de uma sensação é uma função tanto da duração quanto da força do estímulo. Atentem-se para o quão incríveis são nossos sistemas sensoriais: eles recebem estímulos de diferentes tipos e magnitudes e “transformam” essas energias na linguagem capaz de adentrar o SN: sinais elétricos. E como a energia do estímulo é traduzida para uma descarga neural? Esse processo é dividido em dois estágios, a saber: • Transdução do estímulo: conversão da energia do estímulo a um estímulo capaz de ativar a membrana celular do receptor. Assim, essa energia é convertida em sinais neurais eletroquímicos. • Codificação neural: o sinal neural local produzido pelo estímulo evoca uma descarga de potenciais de ação que representa a informação do estímulo, como, por exemplo, duração e intensidade, que são representados nos sinais do neurônio sensorial primário. E como esses sistemas recebem as informações externas? Na verdade, para cada sistema sensorial, o contato inicial com o mundo externo ocorre através de células especializadas denominadas receptores sensoriais, situados nas extremidades dos nervos periféricos. Os receptores sensoriais podem ser classificados em (figura 49): • Quimiorreceptores: sinalizam substâncias químicas liberadas pelas células, mesmo diante de lesões ou infecções. • Mecanorreceptores: sinalizam deformação mecânica por tato, pressão, vibração, distensão. • Termorreceptores: sinalizam aquecimento ou resfriamento. • Fotorreceptores: sinalizam estímulos luminosos. • Nociceptores: sinalizam danos, à pele, que causam dor. Os cinco sentidos clássicos e o sentido do equilíbrio são mediados por receptores em olhos, nariz, boca, pele e orelha. As demais modalidades somatossensoriais – sentido térmico, dor e propriocepção – são mediadas por receptores distribuídos e todo o corpo. 80 Unidade II Visão Tato Audição Olfato Sentidos térmicos Equilíbrio Gustação Dor Propriocepção Figura 49 – As principais modalidades sensoriais em seres humanos são mediadas por classes distintas de neurônios receptores localizados em órgãos específicos 5.1 Sistema somatossensorial Em relação aos receptores cutâneos, temos os mecanorreceptores: corpúsculos de Pacini, de Meissner, discos de Merkel, terminações Ruffini; e terminações ao redor de folículos pilosos, que detectam estímulos mecânicos. Os termorreceptores detectam alterações de temperatura e os nociceptores detectam potenciais danos à pele. Essas informações oriundas dos receptores cutâneos são processadas em vários níveis do SNC: seja em níveis mais inferiores, auxiliando na modulação reflexa, seja em áreas mais nobres do SN, por meio da informação em relação à posição do corpo dentro de ambientes diferenciados. O neurônio do gânglio da raiz dorsal é a célula receptora sensorial primária do sistema somatossensorial. Seu axônio tem duas ramificações: uma projeta-se para a periferia, onde seus terminais especializados contêm receptores para uma determinada forma de estímulo, e a outra projeta-se para ME ou TE, onde os sinais aferentes são processados (figura a seguir). 81 CONTROLE MOTOR E NEUROCIÊNCIAS Alvo periférico (pele) Célula do gânglio da raiz dorsal Figura 50 O número de receptores varia ao longo da pele. Nos dedos das mãos, por exemplo, tem-se cerca de 2.500 por cm2. Saiba mais Sobre os receptores, você pode ler um conteúdo mais completo em: KANDEL, S. et. al. Princípios de neurociências. 5. ed. Porto Alegre: AMGH Editora, 2014. O campo de inervação responsável por receptor é denominado campo receptivo. Exemplo de aplicação Imagine uma cena: você é um guardião de um campo de futebol e foi designado para tomar conta e informar ao técnico de seu time sobre qualquer fato que ocorra em determinada porção do campo. Em qual dessas situações você dará um relatório mais preciso ao técnico? Situação 1: se você for responsável por 1 m2 do campo; situação 2: se você for responsável por metade do campo de futebol. Se você escolheu “situação 1”, você acertou. Quanto menor sua área de responsabilidade, mais fácil será cuidar e relatar ao técnico os fatos ocorridos. Agora, vamos levar nossa analogia para os sistemas sensoriais: você é um receptor sensorial e a área do campo de futebol é o campo receptivo do receptor. De acordo com a analogia, quanto menor o campo receptivo, maior a precisão. Portanto os receptores mais precisos contemplam campos receptivos menores (figura a seguir). 82 Unidade II A) Mecanorreceptores de adaptação lenta Células de Merkel (AL1) Terminações de Ruffini (AL2) Camadas profundas Camadas superficiais B) Mecanorreceptores de adaptação rápida Corpúsculos de Meissner (AR1) Corpúsculos de Pacini (AR2) C) Sensibilidade do campo receptivo Figura 51 – Campos receptivos Observação Vale ressaltar que os campos receptivos não são imutáveis e fixos. Por exemplo, os campos receptivos dos neurônios do córtex somatossensorial podem sofrer alterações diante de lesões ou experiências. O tato na mão humana é mediado por quatro tipos de receptores. Esses receptores diferem-se na morfologia, no padrão de inervação, na localização da pele, no tamanho do campo receptivo e nas respostas fisiológicas ao tato. As camadas superficiais contêm células receptoras pequenas: os corpúsculos de Meissner e as células de Merkel. As camadas profundas da pele e do tecido subcutâneo contêm receptores grandes: os corpúsculos de Pacini e as terminações de Ruffini. O campo receptivo do mecanorreceptor reflete a localização e a distribuição de seus terminais na pele (figuras a seguir). 83 CONTROLE MOTOR E NEUROCIÊNCIAS Corpúsculo de Meissner (RA1) Receptores Campo receptivo Trem de disparos neurais Estímulos Células de Merkel (SA1) Corpúsculo de Pacini (RA2)Terminações de Ruffini (SA2) Figura 52 Corpúsculo de Meissner (AR1) Receptor em disco de Merkel (AL1) Feixe nervoso periférico Glândula sudorípara Corpúsculo de Pacini (AR2) Terminação Terminação de Ruffini de Ruffini (AL2)(AL2) Terminação Terminação nervosa livrenervosa livre Epiderme Derme Figura 53 E o que ocorre após essa recepção sensorial? As informações acerca do estímulo serão conduzidas. Na verdade, a maioria dos sistemas sensoriais é constituída por várias vias aferentes distintas para 84 Unidade II dentro do cérebro, cada uma delas conduzindo uma submodalidade em particular. Assim, temos uma organização hierárquica dos sistemas sensoriais, constituída de: • receptores sensoriais; • neurônios de primeira ordem no SNC; • neurônios de segunda ordem; • neurônio superior. Ademais, várias vias sensoriais também são organizadas em paralelo, as quais convergem ao córtex cerebral, em regiões corticais sensoriais de ordem superior, com passagem prévia a núcleos de transmissão talâmicos. Assim, após os receptores na periferia codificarem os estímulos, um potencial de ação é gerado em um axônio periférico. Esse potencial de ação é conduzido por um neurônio periférico até o corpo celular, em um gânglio da raiz dorsal, e então dirige-se até a ME por um axônio proximal. Da ME, sobe para TE e áreas sensoriais corticais. Além disso, precisamos adequar alguns conceitos: estímulo sensorial é diferente de percepção sensorial. Na verdade, o SN utiliza certas informações de determinado estímulo e não utiliza outras, para então interpretar essas informações dentro de um contexto de uma experiência já adquirida. Como assim? Vamos dar exemplos. Recebemos ondas de pressão, mas reconhecemos sons, palavras, músicas; recebemos ondas eletromagnéticas de diferentes frequências, mas percebemos cores diferentes; entramos em contato com compostos químicos dissolvidos na água ou no ar e sentimos cheiros e gostos diferentes. Esses sons, cores, cheiros, gostos são construções mentais criadas no encéfalo pelo processamento sensorial. Não existem como tais, fora do cérebro. Que bizarro, não acha? Portanto, para que possamos falar em percepção sensorial, deve-se haver um reconhecimento da sensação pelo córtex cerebral. Então, para haver percepção sensorial, é necessária a participação do cérebro. Exemplo de aplicação Veja que interessante: será que em uma ilha deserta, quando um coqueiro cai no chão, ele faz algum barulho? Você pode me dizer: “mas é claro que faz!”. Aí eu te digo: mas não tem ninguém lá para ouvir, pois a ilha é deserta. E a percepção do som necessita de um cérebro para reconhecimento. Então, será que esse barulho da queda de fato existiu? Depois desse desafio filosófico, vamos adentrar a integração dos sistemas sensoriais no controle motor. Como os sistemas sensoriais estão diretamente relacionados à organização motora? De fato, a neurociência atual sugere que a informação sensorial exerce muitos papéis no controle do movimento. Esse controle ocorre nos mais diversos níveis de complexidade dentro do SN. Por exemplo, os inputs 85 CONTROLE MOTOR E NEUROCIÊNCIAS sensoriais agem como estímulos para deflagar movimentos reflexos organizados em nível da ME, bem como são importantes para modular a eferência de neurônios especializados na ME, como os geradores centrais de padrão. Primeiramente, precisamos considerar que a menor unidade funcional dos sistemas motores se chama unidade motora – constituída por um neurônio motor e por todas as fibras musculares inervadas por ele. As unidades motoras são atuantes no sentido de serem ativadas pelo SN gerando força muscular. De fato, o SN gerencia a graduação da força de uma contração muscular de duas formas: • O SN pode alternar o número de unidades motoras ativadas. Assim, quanto maior o número de unidades motoras ativadas, maior será a força muscular. A essa ativação de unidades motoras chamamos recrutamento. • O SN pode variar a frequência dos potenciais de ação de um neurônio motor – a isso chamamos de modulação da frequência. Assim, quanto maior for essa frequência, maior será a força gerada pela unidade motora. Na verdade, as informações processadas pelo encéfalo são utilizadas para controlar a força contrátil de nossos músculos esqueléticos. Essa força gerada pelo músculo em contração e a alteração resultante de seu comprimento são dependentes de três fatores: comprimento inicial, velocidade com que ocorre a alteração do comprimento e as cargas externas atuando em oposição ao movimento. Vale destacar que essas informações proprioceptivas são provenientes dos receptores musculares. Portanto nossos soldados receptores sinalizadores das alterações musculares são denominados proprioceptores musculares e são divididos em dois tipos: os fusos musculares e os órgãos tendinosos de Golgi. Vamos agora saber um pouco mais sobre cada um deles. Os fusos musculares são estruturas alongadas, encapsuladas, com centro dilatado e extremidades afiladas, com uma aparência fusiforme, medindo de 4 mm a 10 mm. Estão situados em paralelo com as fibras musculares esqueléticas e são constituídos por • fibras musculares denominadas fibras intrafusais; • neurônios sensoriais (ditos aferentes Ia e II) que se enrolam nas regiões centrais das fibras intrafusais; • motoneurônios denominados “gama”, que inervam as fibras intrafusais e as ativam para contração. Os fusos musculares detectam: • comprimento estático muscular; • variações dinâmicas do comprimento muscular. 86 Unidade II Assim, suas fibras são sensíveis à variação de comprimento das fibras musculares. De fato, quando as fibras intrafusais são estiradas, terminações sensoriais aumentam a frequência da descarga. Os fusos musculares são sensíveis também à velocidade com que ocorre a variação no comprimento muscular. Portanto, as informações dos fusos são utilizadas pelo encéfalo para determinação da posição relativa dos segmentos dos membros. As informações dos fusos musculares são utilizadas em vários níveis do SN. Os fusos musculares estão envolvidos tanto na ativação muscular reflexa medular quanto na percepção de nosso senso de esforço durante um movimento. Fibras musculares intrafusais Cápsula Terminações sensoriais Axônios aferentes Axônios eferentes Terminações do neurônio motor gama Figura 54 – Fuso muscular Observação Os músculos com maior densidade de fusos musculares são os extraoculares, das mãos e do pescoço. Esses são especialmente influentes na coordenação de olhos, bem como cabeça. Os fusos são participantes ativos do reflexo de estiramento, vamos relembrá-lo? Quando um músculo é estirado, ocorre estiramento do fuso muscular e consequente excitação dos aferentes Ia. O aferente Ia também ativa interneurônios inibitórios Ia, que por sua vez inibem motoneurônios alfa que inervam os músculos antagonistas. 87 CONTROLE MOTOR E NEUROCIÊNCIAS Lembrete O reflexo de estiramento é ativado por conexões excitatórias monossinápticas dos neurônios aferentes Ia para os motoneurônios alfa, que ativam as fibras musculares tanto agonistas como parte dos músculos sinergistas. E as funções dos motoneurônios gama? Eles participam em especial durante a contração muscular. Quando ocorre uma contração muscular voluntária, ocorre uma ativação concomitante do motoneurônio alfa e gama. Sem essa denominada “coativação”, os fusos musculares estariam silenciosos durante a contração muscular voluntária. Como os fusos são inervados em especial em suas regiões polares, durante a contração muscular, essas regiões também se contraem, contribuindo para que a região central do fuso sofra um estiramento, ativando as fibras aferentes, portanto, de forma compensatória (figura a seguir). A) Estiramento sustentado do músculo Fuso muscular Disparos da fibra Ia Tensão Estiramento Contração A resposta da fibra Ia é “preenchida” Contração Carga B) Estimulação somente dos neurônios motores alfaC) Estimulação dos neurônios motores alfa e gama Figura 55 – Coativação alfa-gama Por sua vez, os órgãos tendinosos de Golgi (OTG) são estruturas encapsuladas delgadas com comprimento de 1 mm e diâmetro de 0,1 mm, situados na junção entre fibras musculares e tendinosas 88 Unidade II e conectados em série a um grupo de fibras musculares esqueléticas. Cada OTG conecta cerca de 15 a 20 fibras musculares. Os OTG são inervados por um tipo de fibra aferente: Ib único, que perde sua mielinização após entrar na cápsula. Os OTG são muito sensíveis à variação de tensão do músculo, que é resultante tanto de alongamentos como de contrações musculares. Ocorre um estiramento do OTG, que estica os feixes de colágeno, promovendo compressão e alongamento das terminações sensoriais, o que gera ativação. Dessa forma, as informações sobre tensão muscular são utilizadas para diversas ações motoras, bem como para compensação dos efeitos da fadiga muscular (figura a seguir). Axônio aferente Ib Axônio Ib Fibra de colágeno Tendão 250 μm Cápsula Fibras musculares Figura 56 Observação As informações oriundas dos OTGs são conduzidas ao SN por fibras aferentes Ib. Diferentemente dos fusos musculares, os OTGs não possuem conexões eferentes, e, portanto, não estão sujeitos a modulação do SNC. Além dos receptores musculares, temos os receptores articulares. Existem diversos tipos de receptores dispostos ao longo da cápsula articular: terminações nervosas Ruffini“formes”, Pacini“formes”, terminações nervosas livres, receptores de ligamentos. As informações dos receptores articulares são utilizadas em vários níveis de processamento sensorial. Informações aferentes dos receptores articulares ascendem ao córtex cerebral contribuindo para a percepção da posição articular no espaço. O SNC determina a posição articular monitorando quais receptores articulares são ativados ao mesmo tempo, o que determina a posição exata da articulação. E para onde vão todas essas informações recebidas? Na verdade, as informações de tronco e membros são conduzidas para o córtex sensorial e cerebelo, por dois sistemas ascendentes: 89 CONTROLE MOTOR E NEUROCIÊNCIAS • coluna dorsal – lemnisco medial (DC-ML); • sistema anterolateral. Esses neurônios da coluna dorsal conduzem informações sensoriais cutâneas, musculares, tendinosas, articulares, de tato, pressão, para o córtex somatossensorial e outras áreas cerebrais. Como exceção, temos os proprioceptores dos membros inferiores, que têm uma rede própria – denominada coluna lateral –, e que se dirigem até o TE, onde se unem à coluna dorsal. Assim, os neurônios de primeira ordem sobem pela ME até os neurônios de segunda ordem – via lemnisco medial – e cruzam o tálamo, fazendo sinapses com neurônios de terceira ordem – que irão até o córtex somatossensorial. À medida que os neurônios atingem áreas do córtex cerebral, as informações sensoriais são utilizadas para aumentar o processamento da interpretação de um reconhecimento da informação, dita percepção (ver figura a seguir). Córtex somatossensorialPerna e pé Tronco Área do antebraço e da mão Face Córtex insular anterior dorsal Núcleos ventral posterior, lateral e medial Trato espinomesenfálico Lemnisco medial Trato espinotalâmico Núcleo trigeminal principal Lemnisco medial Trato espinorreticular Sistema anterolateral Núcleo grácil Núcleo cuneiforme Núcleo e trato trigeminal (V) espinal Decussação sensorial Fascículo grácil Fascículo cuneiforme Sistema coluna dorsal-lemnisco medial Tálamo Cápsula interna Sulco lateral Mesencéfalo Ponte Bulbo Bulbo Medula espinhal Tato Dor Células do gânglio da raiz dorsal Figura 57 – Vias ascendentes 90 Unidade II O córtex somatossensorial é a maior área de processamento das modalidades somatossensoriais e onde se inicia a consciência da percepção sensorial. É dividido em duas grandes áreas: córtex somatossensorial primário (SI: áreas 1, 2, 3a e 3b Brodmann) e córtex somatossensorial secundário (SII) (ver figura 58). Em SI, as informações sensoriais e de tato do lado contralateral do corpo são organizadas em uma maneira somatotópica. Vamos apresentar aqui o homúnculo sensorial com seu mapa somatotópico. Observe atentamente as áreas de representação cortical em relação aos segmentos do corpo. Repare nas áreas da boca e das mãos – são maiores. Por que isso ocorre? Na verdade, são estruturas muito atuantes em nossa funcionalidade, manifestando comportamentos motores complexos e precisos, como o escrever e o falar. Assim, o encéfalo necessita de informações mais detalhadas para dar suporte aos movimentos que são executados por essas estruturas. Essa gama maior de representação cortical é muito importante para o processamento espacial e, consequentemente, para coordenação dos movimentos no espaço, considerando-se informações sobre a posição do corpo em relação ao ambiente e à posição de um segmento relacionado a outro. Córtex somatossensorial primário (SI) Córtex somatossensorial secundário (SII) Área 1 Tronco Pescoço Cabeça Ombro Braço Cotovelo Antebraço Mão Dígito 5 4 3 2 Polegar Olhos Nariz Face Lábio superior Lábio inferior Queixo Dentes, mandíbula, gengivas Língua Garganta Genitália Artelhos Pé Perna C)B) A) Área 2 Área 3a Área 3b Figura 58 – Córtices somatossensoriais 91 CONTROLE MOTOR E NEUROCIÊNCIAS Vamos aprofundar mais no assunto? Existem processamentos mais complexos muito importantes no controle do movimento em relação aos sistemas sensoriais. São processos envolvidos na chamada integração sensório-motora – que denota um íntimo relacionamento entre os processamentos sensorial e motor. De fato, para coordenar os processos perceptíveis de ordem superior, o encéfalo necessita correlacionar a entrada sensorial com a saída motora e promover com precisão a interação do corpo com o ambiente. Existem algumas regiões corticais responsáveis por modulações mais refinadas na integração sensório-motora. Essas regiões estão nos denominados córtices de associação. As áreas de associação são responsáveis pela transição da percepção para ação, agindo como uma interface entre cognição e processamento perceptual. Estão situadas nos lobos parietal, temporal e occipital como centros de processamento sensorial de alta ordem e processamento cognitivo abstrato. Existem também regiões importantes no lobo parietal, responsáveis por processamentos que envolvem atenção a posição e manipulação de objetos no espaço. Essa importância é facilmente detectada (ou a falta dela) em indivíduos com lesões no lobo parietal, que causam alterações do esquema corporal e percepção de relações espaciais – funções importantes para o controle postural e dos movimentos voluntários. Lesões, por exemplo, no giro angular direito do hemisfério não dominante, podem causar no paciente negligência completa do lado contralateral do corpo, relacionada a objetos e desenhos. Saiba mais Sobre o que chamamos de heminegligência, limitação na habilidade de direcionar, responder ou orientar-se frente a estímulos apresentados no lado oposto a uma lesão cerebral, pode ser lido no livro: SACKS, O. O homem que confundiu sua mulher com um chapéu. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. Percebe a importância dos sistemas sensoriais e em especial do sistema somatossensorial para o controle dos nossos movimentos? Vamos estudar agora um pouco mais detalhadamente outros dois sistemas sensoriais importantes e influentes no controle motor e postural: o sistema visual e o sistema vestibular. 5.2 Sistema visual A visão influencia o controle motor de diversas formas, pois permite que objetos sejam identificados no espaço, bem como seus movimentos possam ser determinados ou até previstos pelo SN. 92 Unidade II A visão também é influente na chamada propriocepção visual, caracterizada por fornecer informações sobre o corpo no espaço, a relação entre uma parte do corpo e outra, e movimento dos segmentos corporais.Na verdade, o SN recebe informações de cores, tamanhos, distâncias, orientações, organizando um mapa da imagem (TREISMAN, 1999). Os receptores sensoriais da visão são denominados células fotorreceptoras, situadas posteriormente aos olhos. A luz penetra no globo ocular pela córnea e posteriormente na retina por detrás dos olhos. São dois os fotorreceptores (ver figura 59): • Cones: responsáveis pela visão de cores e são funcionais para visão diurna. • Bastonetes: responsáveis pela visão noturna – quando a luz é muito baixa para ativar os cones. Em relação à quantidade, existem 20 vezes mais bastonetes do que cones na retina. Bastonete Cone Discos Cílio Mitocôndrias Núcleo Axônio e terminal sináptico Corpo celular Segmento interno Segmento externo Figura 59 – Morfologia dos fotorreceptores Observação Ponto cego é onde o nervo óptico deixa a retina – essa região não contém fotorreceptores. 93 CONTROLE MOTOR E NEUROCIÊNCIAS Os cones são mais importantes que os bastonetes em visão normal. A perda dos cones gera a cegueira, ao passo que a perda dos bastonetes causa a chamada cegueira noturna. A refração da luz na retina Célula ganglionar Fovéola Luz Célula bipolar Fotorreceptor Epitélio pigmentar Nervo ópticoDisco óptico Epitélio segmentar Luz Córnea Ponto de fixação Retina Retina Fóvea Foco da luz na fóvea Cristalino Figura 60 O trajeto das vias visuais ocorre da seguinte forma: os nervos ópticos dos olhos direito e esquerdo saem da retina no disco óptico e dirigem-se até o quiasma óptico – onde os nervos de cada olho se juntam –, e os axônios da porção nasal de cada olho cruzam, enquanto aqueles do lado temporal não cruzam. A essa altura, o nervo óptico torna-se trato óptico. O trato óptico esquerdo possui o mapa visual do campo visual direito, por exemplo. O trato óptico dirige-se ao núcleo geniculado lateral do tálamo, que é constituído por seis camadas celulares que mapeiam o campo visual contralateral. Axônios do trato óptico também se direcionam ao colículo superior, importantes no mapeamento do espaço visual por meio de informações visuais, auditivas e somatossensoriais. Após o núcleo geniculado lateral, os inputs sensoriais dirigem-se para áreas corticais. As principais áreas corticais importantes para o sistema visual são: o córtex visual primário (V1 – área 17 de Brodmann, situado no lobo occipital); área 18 de Brodmann (V2); córtex temporal medial (área 19); córtex inferotemporal (áreas 20 e 21); e córtex parietal posterior (área 7). O córtex visual primário contém um mapa topográfico da retina; já os córtices temporal e parietal são considerados como córtices visuais de alta ordem. Essas áreas são envolvidas na integração de informações somatossensoriais e visuais envolvidas na orientação espacial inerente às ações (figura a seguir). 94 Unidade II Processamento visual Córtex parietal Via dorsal Córtex visual primário Via ventral Córtex inferotemporal CS Núcleo geniculado lateral Pulvinar Núcleos talâmicos: Figura 61 – Áreas corticais visuais As aferências visuais são especialmente importantes também para o controle postural, assunto de outro capítulo deste livro-texto. 5.3 Sistema vestibular O sistema vestibular (figura 62) é responsável por fornecer ao SN dois perfis de informações: • a posição da cabeça no espaço; • alterações súbitas na direção do movimento da cabeça. Essas informações são importantes para a coordenação de respostas motoras, na estabilização dos olhos especialmente durante movimentos da cabeça e também na estabilização postural. O sistema vestibular é constituído por componentes ditos: • periféricos, que envolvem receptores sensoriais e o oitavo par craniano; • centrais, compostos de quatro núcleos vestibulares e tratos ascendentes e descendentes. Como componente periférico temos o labirinto membranoso da orelha interna. Outra porção do labirinto é chamada de cóclea e está relacionada à audição. O labirinto membranoso é constituído por tubos localizados no osso temporal, e é rodeado por um fluido denominado perilinfa. Em seu interior, esse fluido é chamado de endolinfa, com uma densidade maior que a da água. A porção vestibular do labirinto é constituída por cinco receptores: três canais semicirculares, um utrículo e um sáculo. 95 CONTROLE MOTOR E NEUROCIÊNCIAS Os canais semicirculares são nossos acelerômetros angulares naturais, pois sinalizam a aceleração da cabeça ou corpo. São em número de três, assim denominados: canais anterior, posterior e horizontal (ou lateral). Ducto endolinfático Ampolas Utrículo Gânglio vestibular (de Scarpa) Porção vestibular do VIII nervo craniano Nervo facial Porção auditiva do VIII nervo craniano CócleaDucto de união (reuniens) Sáculo Horizontal Posterior Superior Canais semicirculares: Figura 62 – Sistema vestibular Observação Os receptores dos canais semicirculares são muito sensíveis: respondem a acelerações angulares de 0,1 grau por segundo. As forças que atuam sobre a cabeça provocam o deslocamento da membrana otolítica da mácula do utrículo. Vale destacar que a inclinação da cabeça produz deslocamentos similares aos de determinadas acelerações (figura a seguir). Inclinação da cabeça: deslocamentos constantes Sem inclinação da cabeça: deslocamentos transitórios Aprumada Para trás Aceleração Para frente Desaceleração Figura 63 – Sinalização do sistema vestibular 96 Unidade II Por sua vez, o utrículo e o sáculo são responsáveis por fornecer informações sobre a posição do corpo com referência à força da gravidade e da aceleração linear ou movimento da cabeça em linha reta. Assim, os neurônios dos otólitos e dos canais semicirculares direcionam-se ao oitavo nervo com corpos celulares no gânglio vestibular. Os axônios adentram o cérebro pela ponte e a maioria direciona-se à medula, onde o núcleo vestibular está localizado. São quatro núcleos vestibulares, denominados lateral, medial, superior e inferior. Certa parte dos receptores sensoriais direcionam-se a cerebelo, formação reticular, tálamo e córtex cerebral para posterior processamento. Indivíduos com acometimentos dos sistemas vestibulares podem apresentar sinais e sintomas de tonturas, vertigens, alterações de equilíbrio manifestados por instabilidade postural, alterações no foco visual, entre outros. Percebe a íntima conexão entre os sistemas sensoriais e os sistemas motores? Esses processamentos são complexos e importantes para uma adequada integração sensório-motora. Essa é a razão pela qual as pessoas que apresentam acometimentos neurológicos podem expressar alterações nos sistemas sensoriais e, por consequência, dificuldades na organização dos movimentos. Saiba mais Alguns pacientes podem apresentar distúrbios de ordem sensorial ou perceptual, que influenciam na manifestação de comportamentos motores. Curiosamente, com esse livro você aprenderá sobre alguns casos verídicos de acometimentos de percepção sensorial relacionados à música e seus efeitos: SACKS, O. Alucinações musicais. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. Exemplo de aplicação Reflita na importância da avaliação das modalidades sensoriais e nas consequentes estratégias terapêuticas que contemplem a potencialização dos mecanismos de integração sensório-motora e sua influência no controle dos movimentos voluntários. 6 CONTROLE COGNITIVO DO MOVIMENTO VOLUNTÁRIO Como visto anteriormente, o controle dos nossos movimentos envolve uma ação integrativa harmônica entre vários sistemas, sob grande gerenciamento do SN. Entre estes, estão os sistemas sensoriais e perceptuais, os sistemas de ação motora, que englobam participações dos sistemas musculoesquelético e cardiopulmonar, além dos sistemas cognitivos. Os processamentos cognitivos influenciam os nossos movimentos? Mais do imaginamos. Sabem aqueles movimentos que são considerados como “automáticos”? Não é bem assim. Não é porque realizamos movimentos sem estar conscientesdeles ou sem prestar atenção que eles se tornam automáticos. O gerenciamento cognitivo permanece. Isso é bem 97 CONTROLE MOTOR E NEUROCIÊNCIAS evidente no esporte. Os atletas têm absoluto domínio de seus movimentos e das estratégias motoras treinadas exaustivamente. Porém, diante de uma competição em especial, são necessárias concentração, alerta e atenção para que se tenha o máximo desempenho. Então, o movimento não ocorre de forma “automática”. Será que basta estar consciente de determinado movimento que já estamos diante de um controle cognitivo? Não necessariamente. Observe a você mesmo agora. Como estão seus membros inferiores? Cruzados, esticados? Está com alguma caneta ou celular por perto? Em qual lugar você os deixou? Já parou para pensar como você tomou a decisão de realizar essas ações motoras? Para começar a entender esse processo, precisamos ter em mente que o ser humano manifesta comportamentos motores que são complexos, constituídos por ações motoras, que por sua vez são constituídas por movimentos. Se você estiver sentado em uma cadeira agora, você se levantará da cadeira de uma forma diferente de outra pessoa que também está em posição sentada. Leia-se: cada pessoa apresenta diferentes estratégias motoras para alcançar o mesmo objetivo, que é realizar a ação motora de levantar da cadeira, por exemplo. Essas estratégias motoras complexas, direcionadas a um objetivo e que são moduladas a cada segundo, são permeadas por um controle cognitivo muito preciso. A elaboração dos planos de ações motoras exige muitos desafios, em que experiências prévias e contexto do ambiente são levados em consideração pelo SN. Vale ressaltar que essas ações devem ser flexíveis e adaptativas, de forma a lidar com adaptações e eventos inesperados. Esse controle cognitivo é conduzido por funções de ordem superior que são cruciais para cognição, emoção e comportamento: as chamadas funções executivas (KOERTS et al., 2011). Funções executivas podem ser definidas como processos cognitivos que orquestram atividades direcionadas a um objetivo e alocam a atenção entre tarefas competitivas (SPRINGER et al., 2006). Essas funções executivas estão relacionadas a alguns processos muito importantes no controle do movimento, tais como: determinação de estratégias para se atingir objetivos direcionados; ajustes de planejamento; controle de processos de atenção; gerenciamento de tarefas; flexibilidade de pensamento; tomadas de decisão. Em suma, podemos associar essas funções executivas à habilidade em lidar adequadamente com a novidade e em gerenciar objetivos pessoais. O controle cognitivo envolve ainda: monitorar as ações de forma que se esteja de acordo com a meta e se atinja determinado objetivo; inibir desejos pessoais e seguir regras, de forma a se adequar a convenções sociais e inibir respostas habituais para se atingir o objetivo proposto. 6.1 Anatomia do controle cognitivo A grande área de gerenciamento do controle cognitivo sobre nossos movimentos é o córtex pré-frontal (figura 64), que é constituído por mais da metade do lobo frontal em humanos. Ademais, o controle cognitivo também é exercido em outras áreas tanto corticais (como o lobo parietal) como subcorticais, como os NB. 98 Unidade II Essencialmente, o córtex pré-frontal está envolvido no comportamento direcionado a um objetivo, recrutamento de informações relevantes a tarefa, planejamento motor, monitoramento do movimento, simulação de consequências, iniciação, inibição e alternância de comportamentos. DorsolateralDorsolateral DorsofrontalDorsofrontal Córtex pré-frontal Figura 64 – Córtex pré-frontal: principal região envolvida no controle cognitivo dos movimentos 6.2 Mecanismos envolvidos no controle cognitivo 6.2.1 Mecanismos de memória A memória está envolvida no processamento da aquisição de novas informações. O processamento de novas informações envolve os processos de aquisição da informação, consolidação, armazenamento e posterior recuperação da informação, que servirá de base para executar um comportamento motor aprendido. Existem diversos tipos de memória, que são mediados por diferentes mecanismos. Em relação ao controle cognitivo, a memória mais influente é a memória dita operacional ou memória de trabalho. O conceito de memória operacional foi desenvolvido na intenção de estender o conceito de memória de curto prazo e elaborar as formas de processamento da informação que são envolvidas quando ela é retida por um período de segundos ou minutos. A memória operacional representa um armazenamento de capacidade limitada para reter informações por um período curto (manutenção) e para a realização de operações mentais dentro do contexto desse armazenamento (manipulação). 99 CONTROLE MOTOR E NEUROCIÊNCIAS Assim, memória operacional pode ser definida como “um conceito hipotético que se refere ao arquivamento temporário da informação para o desempenho de uma diversidade de tarefas cognitivas”, sendo um sistema de capacidade limitada e com múltiplos componentes (HELENE; XAVIER, 2003, p. 13). De acordo com Baddeley e Hitch (2000), a memória operacional é gerenciada por um sistema regulador chamado “central executiva”, constituída por um sistema de controle de atenção, auxiliado por dois sistemas de suporte responsáveis pelo arquivamento temporário e manipulação de informações – um de natureza visuoespacial (memória declarativa visual) e outro de natureza fonológica (ligado à linguagem – retenção temporária da informação verbal e acústica), além de um quarto componente inserido posteriormente pelo mesmo autor, denominado retentor episódico, que teria como função resgatar informações evocadas na memória de longa duração para controle consciente. Assim, essa central executiva seria responsável por conectar os sistemas de suporte à memória de longa duração, além da seleção de estratégias e planos. Sabe aquela hora em que você tenta memorizar a vaga e o piso do shopping onde parou o carro? Ou memorizar um telefone para adicionar na pasta “contatos” do seu celular? Essa é a memória operacional. É essa memória que atua de forma importante no gerenciamento cognitivo do movimento voluntário, agindo como uma interface entre percepção, memória de curto prazo, ação, comportamento orientado a um objetivo, tomadas de decisão, entre outros processamentos. A memória operacional requer mecanismos para acessar a informação armazenada e formas de mantê-las “ativadas”. É necessária para manter informações relevantes à tarefa e manipular essas informações de forma a se atingir comportamentos direcionados a um objetivo. A memória operacional está envolvida também na habilidade em organizar e segregar o timing e a ordem dos eventos motores. O maior componente neural da memória operacional é a região lateral do córtex pré-frontal. 6.2.2 Mecanismos de atenção Segundo Mesulam (2000), atenção é um termo genérico que pode ser designado por uma família inteira de processos que medeiam a escolha entre vários eventos mentais ou externos que deverão ter acessos preferenciais aos portais estreitos de consciência e ação. Ainda de acordo com o autor, os processos relativos à atenção incluem o despertar (o nível mais geral de responsividade); a orientação (o realinhamento dos órgãos sensoriais); a atenção seletiva (a preferência por algum estímulo, entre outros); a atenção sustentada (vigilância) e a atenção dividida (prestar atenção simultaneamente em vários eventos) (MESULAM, 2000). Essa última é muito considerada do ponto de vista comportamental, já que em situações normais do dia a dia existem várias tarefas que devem ser desempenhadas ao mesmo tempo, e, portanto, os recursos atencionais deveriam ser gerenciados de modo a compensar a competição das várias demandas do ambiente. De acordo com Helene e Xavier (2003, p. 12), atenção é “um conjunto de processos que leva à seleção ou priorização no processamento de certas categorias de informação”, e os conceitos referentes aos mecanismosatencionais não devem estar distantes dos conceitos de memória. Os dois grandes modelos para controle atencional, os “de cima para baixo” (top-down), que oferecem uma ação de caráter antecipatório através de previsões sobre o ambiente, por meio de um controle voluntário atencional, e os “de baixo para cima” (bottom-up), adaptados de acordo com mecanismos de aprendizagem que 100 Unidade II levam a modificações no funcionamento (controle atencional estímulo-dependente), dependem dos mecanismos de memória sobre as experiências passadas e planos de ação. Isto é, cada conjunto de circuitaria é dependente do outro, com muitas vias em comum ou situadas em regiões cerebrais semelhantes e/ou adjacentes (regiões frontais, pré-frontais) – o que gera certa dificuldade em se nomear as habilidades de gerenciamento de engajamento atencional –, como atenção, memória operacional, entre outras (HELENE; XAVIER, 2003; BEDESCHI, 2008). Observação E os nossos pacientes? Eles podem apresentar alterações neuromotoras que se manifestam sem causa aparente, mas que na verdade são decorrentes de acometimentos cognitivos. Podem apresentar paralelamente aos distúrbios motores outros sinais, tais como: perseveração do comportamento, apatia, distração, impulsividade, dificuldades em tomar decisões, dificuldades em planejar ações, dificuldades em entender as consequências das ações, dificuldades em organizar os eventos na memória; dificuldades em recobrar eventos das memórias, em seguir regras. É por essa razão que o fisioterapeuta deve estar atento a esses sinais, de forma a saber avaliar e elaborar estratégias de tratamento que sejam específicos aos aspectos cognitivos em consonância aos aspectos motores, pois essa inter-relação é sutil e importante. Para entender um pouco mais sobre esse controle cognitivo dos nossos movimentos, vamos estudar um pouco mais a fundo dois dos comportamentos motores mais importantes do ser humano: a marcha e o controle postural. 6.2.3 Controle cognitivo da marcha É importante salientar que a marcha é um comportamento motor complexo, que está muito além de locomoção por “alternância de passos”. É preciso um controle integrado entre os sistemas nervoso e musculoesquelético, que manifestam os movimentos voluntários de segmentos específicos do corpo além dos ajustes posturais necessários, antes e durante a marcha. De acordo com Takakusaki (2013), a estrutura básica do controle locomotor da marcha é constituída por três processamentos: 101 CONTROLE MOTOR E NEUROCIÊNCIAS Processo volicional Córtex cerebral Núcleos da base Sistema límbico Tálamo Cerebelo Mesencéfalo Dopamina Processamento emocional Projeção sistema límbico-tronco encefálico Projeção córtex cerebral- tronco encefálico Trato corticoespinhal Projeção tronco encefálico- medula espinhal Trato espinocerebelar Trato olivocerebelarReferência emocional Informação por feed-forward Feedback sensorial Referência volicional cognitiva Sinais sensoriais dos ambientes externos e internos Medula espinhal Ponte Bulbo Processamento automático Figura 65 – Ilustração esquemática dos processos envolvidos no controle da marcha: o processo cognitivo requer um processamento de informações corticais; as regiões do tronco encefálico (ponte, bulbo e mesencéfalo) estão envolvidas no processo automático; os núcleos de base e cerebelo controlam e modulam ambos os processos • Volicional-cognitivo: por meio de comandos oriundos do córtex cerebral e com intensa participação da memória operacional para guiar os comportamentos futuros. • Emocional: com participação dos sinais oriundos do sistema límbico/hipotálamo. • Automático: caracterizado por ativações sequenciais de neurônios no TE e ME. Estão envolvidos na geração de movimentos rítmicos dos membros e regulação do tônus muscular postural. Notem que a marcha não é considerada um comportamento motor automático. Ela é planejada e executada sob intenso controle cognitivo e, também, emocional. É só reparar na marcha das pessoas, que varia de acordo com o humor delas. As pessoas felizes ou otimistas apresentam padrões de marcha diferentes das pessoas que estão tristes ou pessimistas. Além do processamento cognitivo e emocional, temos o processamento automático – esse sim ocorre de forma a regular os movimentos rítmicos de alternância dos membros, e é regulado pela atividade harmônica de neurônios especializados do mesencéfalo e, também, da ME – os chamados neurônios “geradores centrais de padrão” (GCP). 102 Unidade II O controle da marcha é adaptativo – há necessidade de constante recalibração dos padrões de marcha para se caminhar em diferentes terrenos e ambientes. Essa modulação neural da marcha é realizada pelo CB pelos tratos espinocerebelar (por meio de feedback) e trato olivocerebelar (feedforward do córtex cerebral). Outro sistema modulatório da marcha são os NB, influentes em controlar todos os processamentos citados. A relação entre os distúrbios da marcha e funções cognitivas de ordem superior tem recebido maior atenção nessa última década (AMBONI et al., 2012; MARTIN et al.; 2012), pois sabe-se que existem componentes cognitivos na generalização e manutenção de um padrão de marcha consistente e harmônico, mesmo em indivíduos saudáveis (SRYGLEY et al., 2009). Entretanto, sabe-se que a cognição exerce um papel dominante na preservação da marcha, em especial quando uma doença degenerativa ou a idade avançada alteram as capacidades de automaticidade (LORD; GALNA; ROCHESTER, 2013). Algumas deficiências em variáveis específicas da marcha são associadas a um aumento do declínio cognitivo e à incidência de doenças degenerativas, como a doença de Alzheimer, por exemplo (VERGHESE et al., 2007). Um estudo com 422 indivíduos idosos mostrou que deficiências nas funções cognitivas, atenção e velocidade de processamento estavam relacionadas a baixos desempenhos em medidas absolutas de marcha, como a velocidade (MARTIN et al., 2012). O declínio cognitivo associado à diminuição de atenção e alerta pode influenciar negativamente a marcha e o equilíbrio (EBERSBACH et al., 2013), e os principais fatores para a perda da independência são as deficiências na marcha e no declínio cognitivo. Estudos mostram que baixos desempenhos em três domínios cognitivos (atenção, funções executivas e memória operacional) estavam associados à lentidão de marcha, especialmente em condições de dupla-tarefa, o que sugere que esses domínios cognitivos específicos são relevantes na manutenção de um padrão normal de marcha na presença de uma demanda cognitiva (MONTERO-ODASSO et al., 2009); ou seja, quanto maior a demanda cognitiva para a estabilidade postural, maior a demanda de reservas atencionais para o controle postural. O interessante é considerar que essas inter-relações entre alterações cognitivas e instabilidade da marcha podem ser causais e, portanto, preditivas entre si. Um estudo mostrou lentidão na marcha com início em até 12 anos, previamente à apresentação de alterações cognitivas em idosos que tardiamente apresentariam declínios cognitivos moderados. É o que mostra a figura a seguir, retirada de Montero-Odasso (2012, p. 2.128). 103 CONTROLE MOTOR E NEUROCIÊNCIAS Instabilidade Alterações cognitivas Instabilidade Alterações cognitivas Funções executivas + memória operacional Quedas – Fraturas Demência Quedas – Fraturas Demência Declínio cognitivo leve (DCL) Declínio cognitivo leve (DCL) Lentificação da velocidade de marcha Lentificação da velocidade de marcha A) Visão tradicional B) Visão alternativa, emergente Figura 66 – Pela visão A, dita tradicional, a instabilidade de marcha leva a uma lentidão dela, e posterior tendência a quedas e fraturas; ao passo que os acometimentos cognitivos, primeiramente brandos (ou declínio cognitivo leve – MCI, em inglês), tornam-se mais acentuados e graves, estabelecendo a demência De acordo com a visão B, considerada alternativa, é que a cogniçãotambém é preditiva para o declínio de mobilidade e quedas, e o declínio da mobilidade e a lentidão da marcha também são preditivos para a deterioração cognitiva (MONTERO-ODASSO et al., 2012). De acordo com Yogev, Hausdorff e Giladi (2008), a associação entre cognição e marcha pode ser demonstrada pelos seguintes fatores: • pelo alerta do indivíduo a sua destinação; • pela habilidade em controlar adequadamente os movimentos dos membros para produzir a marcha; • pela habilidade em lidar com ambientes complexos: diretamente proporcional ao caráter desafiador da tarefa de locomoção (marcha com obstáculos, por exemplo) e à marcha já alterada devido à doença de base. 6.2.4 Controle cognitivo postural Outro comportamento motor que sofre alterações decorrentes das alterações cognitivas é o controle postural. As alterações cognitivas, principalmente os déficits de atenção, causam instabilidade postural e podem levar à ocorrência de quedas, em especial em condições de duas ou mais tarefas (SIU et al., 2008). 104 Unidade II As demandas atencionais requeridas variam dependendo da tarefa postural, da idade do indivíduo e das habilidades de equilíbrio dele. Essas demandas atencionais também variam em função do contexto sensorial. Lembrete Vale ressaltar que quanto maior a demanda cognitiva para a estabilidade postural, maior a demanda de reservas atencionais para o controle postural. A figura a seguir mostra a demanda atencional associada a três diferentes tarefas posturais (sedestação, bipedestação e bipedestação com os pés unidos) em indivíduos com acidente vascular encefálico (AVE) e controles pareados pela idade. O tempo de reação (RT) para uma tarefa secundária verbal é maior nos indivíduos com AVE, em todas as três condições. Ademais, o RT é menor em sedestação comparando-se com bipedestação nos indivíduos com AVE e não nos controles, o que sugere que o controle postural é mais dispendioso após AVE (BROWN; SLEIK; WINDER, 2002; SHUMWAY-COOK; WOOLLACOTT, 2017). Sentado 300 400 500 Indivíduos saudáveis Indivíduos pós-AVC RT (m se c) Em pé Um pé na frente do outro Figura 67 A figura a seguir mostra os efeitos de uma tarefa secundária na área do centro de pressão durante o equilíbrio em bipedestação em indivíduos com doença de Parkinson (DP) e indivíduos saudáveis (NC) sob três condições: tarefa única (single), tarefa dupla com cálculos (calc) e tarefa dupla com sequenciamento de oposição de dedos (seq). Nota-se que não há alteração no centro de pressão dos indivíduos saudáveis conforme as tarefas, mas os indivíduos com DP apresentam aumento da área do centro de pressão nas condições em dupla-tarefa, em especial a de cálculos. 105 CONTROLE MOTOR E NEUROCIÊNCIAS Base Calc Seq0 250 500 750 Ár ea d o CO P (m m 2 ) 100 Pessoas com doença de Parkinson Pessoas saudáveis Figura 68 Para finalizar, essa relação entre cognição e motricidade ocorre de forma muito intrínseca e é de extrema importância. Observação O fisioterapeuta deve estar comprometido e engajado em avaliar de forma geral as alterações cognitivas em diversas condições motoras e posturais, para que possa elaborar estratégias fisioterapêuticas de tratamento. Essas estratégias podem ser constituídas de abordagens cognitivo-motoras, para dessa forma potencializar o funcionamento do SN durante a geração e a realização do movimento voluntário, desde as fases prévias à execução propriamente dita. Estudos mostram que treinos cognitivo-motores que envolvam a estimulação de funções executivas juntamente à marcha podem promover melhora dos aspectos cognitivos e motores em pacientes com doença de Parkinson (BEDESCHI, 2013; BEDESCHI et al., 2017). E essa atuação não está intrínseca somente a quem trabalha com neurologia, e sim a todas as áreas da fisioterapia. 7 MECANISMOS DA PLASTICIDADE NEURAL Agora vamos adentrar em um dos assuntos mais legais deste livro! A causa de estarmos aqui. De estudarmos fisioterapia. A causa responsável pela melhora dos nossos pacientes: neuroplasticidade. A neuroplasticidade é a capacidade do SN de mudanças. De reorganizações. De readaptações diante de lesões. Essa reorganização pode ocorrer sob vários âmbitos, desde mudanças nas estruturas neuronais e celulares, até alterações neuroquímicas, sinápticas e corticais, refletindo a característica dinâmica e em contínua mudança do SN. 106 Unidade II Na verdade, a plasticidade cerebral foi mencionada pela primeira vez há mais de cem anos por William James e Ramon Y Cajal: “Todo homem pode, se ele desejar, tornar-se escultor de seu próprio cérebro.” Assim, neuroplasticidade pode ser definida como a modificação das redes neuronais existentes por adição ou modificação das sinapses em resposta a alterações ambientais ou comportamentais, o que pode ocorrer diante do exercício (PETZINGER, 2013). Você verá que a neuroplasticidade inclui mecanismos estruturais e fisiológicos, como formação de novas sinapses (sinaptogênese); formação de novos neurônios (neurogênese); aumento da força sináptica; aumento das ramificações dendríticas, entre outros mecanismos neurais. Observação Considera-se mecanismos neurais de neuroplasticidade tudo o que pode levar ao fortalecimento, reparo e formação da circuitaria neural. Assim, podemos classificar a neuroplasticidade em vários níveis: • cerebral: por meio do suporte glial e vascular; • de redes: alterações nos padrões de ativação neural e remapeamento cortical; • intercelular: alterações entre os neurônios em nível sináptico, funções de mitocôndrias e ribossomos; • bioquímico: mobilização de enzimas e proteínas; • genético: modificações de transcrição e translação. A neuroplasticidade é o grande pilar que sustenta vários eventos: • a emissão de comportamentos; • a aquisição de novas habilidades; • a recuperação de lesões; • aprendizagem; • memória. Vamos adentrar mais nesse assunto fascinante discorrendo sobre os mecanismos concernentes às modificações neurais, que perpassam três classificações: • habituação; • aprendizado e memória; • recuperação celular após lesões. 107 CONTROLE MOTOR E NEUROCIÊNCIAS Figura 69 7.1 Habituação A habituação é considerada uma das formas mais simples de plasticidade, caracterizada pela diminuição da resposta a um estímulo benigno repetido. Está relacionada à diminuição da atividade sináptica entre neurônios sensoriais e suas conexões com interneurônios e motoneurônios. Assim, diferentes sinapses têm diferentes níveis de adaptabilidade. O termo habituação é aplicado também a abordagens da fisioterapia e terapia ocupacional com o intuito de promover a diminuição da resposta neural a determinado estímulo. Na verdade, pode ocorrer uma diminuição na liberação de neurotransmissores excitatórios, por exemplo, o glutamato. A habituação pode ocorrer somente a curto prazo. Assim, após alguns segundos de repouso, os efeitos da habituação não estão mais presentes e pode-se evocar um reflexo em resposta a estímulos sensoriais. Outro evento é a sensitização: causada por um aumento da resposta a um estímulo que é precedido por um intenso estímulo nocivo. 7.2 Aprendizado e memória Envolvem processos caracterizados por alterações persistentes e duradouras na potência das conexões sinápticas. Isso acontece quando aprendemos uma tarefa motora nova, por exemplo. A prática da tarefa leva ao aprendizado motor, tornando-se uma habilidade motora. Assim, a síntese e a ativação de novas proteínas alteram a excitabilidade neuronal e promovem o estabelecimento de novas conexões sinápticas. Essas novas sinapses estão relacionadas a arquivos de programas que são armazenados como memórias motoras consolidadas a longo prazo. Para tal, alguns neurotransmissores, como glutamato, acetilcolina e receptores como AMPA (ácido amino-3-hidroxi-5-metil-isoxazol-4-propiônico) e NMDA (N-metil-D-aspartato), são parte integrante de inúmeros processos. 108 Unidade II Assim, existem formações de novas conexões relacionadasà memória, em especial no hipocampo, onde ocorre um efeito de potenciação prolongada e aumento da amplitude dos chamados potenciais excitatórios pós-sinápticos (PEPS). Dessa forma, alterações duradouras que promovem síntese de novas proteínas e o estabelecimento de novas conexões sinápticas acarretam respostas mantidas e memórias de estímulos específicos repetidos. Observação Não são somente os neurônios que sofrem plasticidade! Há evidências de que células não neuronais desempenham um papel crítico na plasticidade. Os astrócitos se modificam rapidamente, por exemplo. 7.3 Recuperação celular após lesões Muitos mecanismos neurais inerentes à recuperação neural ocorrem após lesões. De fato, as lesões neurológicas nem sempre causam a morte dos neurônios. Muitos neurônios podem inclusive regenerar seus axônios. Essa recuperação funcional após lesões neurais pode ser classificada em: • restaurativa: caracterizada por alterações e recuperações do tecido nervoso lesado; • compensatória: caracterizada por circuitos neurais completamente diferentes que permitem a reorganização da função perdida ou alterada. 7.3.1 Recuperação celular pós-lesão no SNP A recuperação neuronal no SNP é frequente e característica. Na verdade, os axônios são facilmente lesados, pois percorrem uma distância longa e não estão protegidos por coluna vertebral e crânio. Vamos ver o que ocorre após uma lesão neural periférica? Antes de tudo, precisamos nomear algumas regiões. Após a secção de um axônio, a porção ligada ao corpo celular é denominada segmento proximal; já a porção isolada do corpo celular é chamada segmento distal. Após a lesão, um segmento se retrai em relação ao outro e o segmento distal sofre um processo singular degenerativo denominado degeneração walleriana. A sequência da degeneração walleriana é a seguinte: o segmento distal degenera-se, a bainha de mielina retrai-se e começa a fragmentar-se. O axônio intumesce e rompe-se em pequenos segmentos. Os terminais axônicos degeneram-se rapidamente e sua perda é seguida da morte de todo o segmento distal. Em sequência, o sítio da lesão é invadido por células gliais com funções fagocíticas, que englobam os fragmentos do axônio em degeneração. Por sua vez, o corpo celular pode sofrer cromatólise, gerando morte celular: 109 CONTROLE MOTOR E NEUROCIÊNCIAS Célula glial A B Substância de NissI Mielina Oligodendrócito ou célula de Schwann Degeneração transneuronal (retrógrada) 7 Retração dos terminais sinápticos e invasão de células gliais 6 Cromatólise 5 Infiltração de macrófagos (micróglia) 4 Resíduos de mielina 3 Degeneração walleriana 2 Degeneração do terminal 1 Degeneração transneuronal (anterógrada) 8 Figura 70 – A: neurônio sem lesões; B: degeneração walleriana após lesão Na verdade, sabe-se que as lesões neuronais promovem efeitos em cascata, que justificam eventos posteriores à degeneração walleriana e que afetam outras células neurais. Assim, podemos ter lesões em neurônios adjacentes, caracterizadas pelo recuo de terminais pré-sinápticos que estão em contato com células lesionadas; pela invasão da fenda sináptica por células gliais; pela denominada degeneração retrógrada, em que os neurônios pré-sinápticos atrofiam e degeneram, e também pode ocorrer a denominada degeneração anterógrada, em que ocorre atrofia e degeneração também dos neurônios pós-sinápticos. Entretanto, precisamos considerar que diante de lesões neurais, nem tudo é degeneração. Há crescimento de regeneração axonal também. É isso que será visto agora: Tempo Porção proximal à lesão Porção distal à lesão Células de Schwann Sinais promotores do crescimento axonal Cone de crescimento Expressão de genes relacionados ao crescimento Macrófragos rapidamente removem mielina e restos celulares Lesão em um nervo periférico Células de Schwann em proliferação promovem a regeneração axonal Axônio em regeneração Figura 71 110 Unidade II Temos os denominados “brotamentos”, que define-se como o crescimento de novos axônios. Esse brotamento pode ser de duas formas (ver figura a seguir): • colateral: quando um sítio sináptico denervado é reinervado por ramos de axônios intactos da vizinhança; • regenerativa: quando o neurônio se regenera após sofrer lesão. Brotamento regenerativo Brotamento colateral Figura 72 Esse crescimento axonal é promovido pelas células de Schwann, que produzem fatores tróficos e proteínas adesivas. Essa taxa de crescimento é lenta: cerca de 1 mm de crescimento por dia, ou 2,5 cm de crescimento por mês. Os fatores de crescimento neurais (FCN) produzidos pelos neurônios periféricos contribuem para essa possiblidade de regeneração celular. 111 CONTROLE MOTOR E NEUROCIÊNCIAS Entretanto, vale destacar que “nem tudo são flores”: o brotamento de axônios periféricos pode ocasionar alterações caso promovam inervação de um alvo inadequado. De fato, após lesões do SNP, os axônios motores podem inervar músculos diferentes dos anteriormente inervados, acarretando movimentos não esperados à descarga dos neurônios. Esses movimentos não esperados são chamados de “sincinesias” e geralmente são de curta duração. Ademais, a inervação de receptores sensoriais por axônios que inervavam anteriormente um outro tipo de receptor sensorial pode promover alterações nas diferentes modalidades sensoriais. 7.3.2 Recuperação celular pós-lesão no SNC A recuperação neuronal após lesões no SNC apresenta características diferentes da recuperação após lesão no SNP (figura a seguir). Existem algumas limitações ao crescimento neuronal devido à falta do FCN, à inibição do crescimento neural causada pelos próprios oligodendrócitos e à interferência nas atividades fagocíticas das células da micróglia. Sistema nervoso periférico Sistema nervoso central Mielina Célula Schwann Bainha perineural Oligodendrócito Mielina A bainha se reforma Células de Schwann promovem crescimento Infiltração de macrófagos Invasão de astrócitos reativos Cicatriz glial Figura 73 Na verdade, após lesões neurais do SNP, os astrócitos reativos à lesão e os macrófagos são atraídos ao sítio da lesão, formando uma cicatriz glial que inibe a regeneração axonal: 112 Unidade II Proximal à lesão Distal à lesão Oligodendrócitos Astrócitos ηpo Lesão de axônio no SNC Depuração prolongada de restos de mielina Fatores inibitórios interrompem a extensão do axônio Figura 74 Não obstante, diante de lesões centrais, o SN nos surpreende com diversos mecanismos neurais de neuroplasticidade, relacionados a processos de formação e regeneração sináptica e nascimento de novos neurônios. De fato, muitos eventos, como potenciação sináptica ou arborização dendrítica, ocorrem em mseg h horas após a lesão (ZUCKER; REGEHR, 2002). Vamos destrinchar alguns desses mecanismos? As lesões do SNC podem causar algumas alterações sinápticas, a saber: • Recuperação da eficácia sináptica: após lesões, o surgimento de edemas pode comprimir o corpo celular ou axônio de um neurônio pré-sináptico, gerando inativação de algumas sinapses. Entretanto, quando esse efeito secundário concernente ao edema é diminuído, ocorre um retorno da ativação sináptica. • Hipersensibilidade de denervação: ocorre quando são destruídos terminais axônicos pré- sinápticos. Assim, novos receptores formam-se na membrana pós-sináptica em resposta a transmissores liberados por axônios vizinhos. Assim, esse evento ocorre quando há perda de input de outra região cerebral, causando uma hiperativação da membrana pós-sináptica neuronal. • Hipereficácia sináptica: ocorre quando são destruídos alguns ramos de um axônio pré-sináptico. Os ramos axônicos remanescentes recebem todos os neurotransmissores que seriam compartilhados entre os terminais, gerando uma liberação nos receptores pós-sinápticos de maior quantidade do neurotransmissor. • Desmascaramento de sinapses silenciosas: na verdade, no SNC muitas sinapses parecem não serusadas, sendo ativadas somente após lesões. Os receptores NMDA, o cálcio e as neurotrofinas 113 CONTROLE MOTOR E NEUROCIÊNCIAS são agentes cruciais nesses mecanismos de ativação de sinapses antes ditas silenciosas. De fato, sabe-se que sinapses estruturais estão presentes em várias áreas do cérebro que não seriam funcionais por competição por outras vias neuronais. E agora, vamos para o assunto mais interessante do capítulo: nascimento de novos neurônios. Antigamente achava-se que não havia formação de novos neurônios no SNC, mas atualmente sabe-se que sim, novos neurônios são formados, com seus devidos axônios e dendritos, formando novas sinapses e tornando-se integrados em circuitos funcionais já existentes. Você sabe onde fica a “maternidade” dos neurônios? No hipocampo, que é constituinte do sistema límbico e está intimamente relacionado à formação de novas redes de memória. Outra região também importante no nascimento de novos neurônios é o bulbo olfatório. Estudos em roedores saudáveis demonstraram aumento dependente da experiência na densidade das espinhas dendríticas, incluindo hipocampo e cerebelo (PETZINGER, 2013). Esse nascimento neuronal pode ser estimulado por ambientes enriquecidos com demandas complexas em relação a nossa atividade neuromotora e, também, por aumento na realização da atividade física. Em contrapartida, pode ser inibido por depressão ou estresse. 7.4 Remapeamento do córtex cerebral Como já vimos anteriormente, os mecanismos neurais inerentes à neuroplasticidade estão envolvidos em potencialização na formação de novas proteínas do neurônio (neurotrofinas), organização e formação de novas sinapses, redes neurais e aumento das espículas dendríticas, por exemplo. Agora veremos que, por consequência, esses mecanismos levam a um remodelamento do córtex cerebral. De fato, essa reorganização do córtex é caracterizada por alterações em sinapses individuais, por reorganização do encéfalo e por consequências funcionais. Na verdade, os neurônios corticais ajustam rotineiramente a maneira pela qual processam informações e conservam a capacidade de desenvolver novas funções. Assim, sabe-se que os mapas corticais podem ser modificados por estímulos sensoriais, experiências prévias, aprendizado e após lesões cerebrais. Esses mapas de áreas funcionais do córtex cerebral são produzidos registrando-se a atividade de neurônios em resposta à estimulação sensorial ou durante contrações musculares ativas. De fato, uma representação cortical do corpo é continuamente modificada em adultos saudáveis em resposta a atividade, comportamento e aquisição de habilidades, podendo ocorrer também após lesões tanto periféricas (por exemplo: amputações) como centrais (por exemplo: AVE, TCE). Diante de lesões periféricas, por exemplo, ocorre um remapeamento cortical caracterizado pela expansão do campo receptivo de mapas vizinhos para cobrir a região denervada. Ainda assim, dependendo da extensão da lesão, áreas silenciosas podem permanecer. Um exemplo característico é a 114 Unidade II amputação. O que acontece na região cortical após um membro superior ter sido amputado, por exemplo? Sabe-se que como consequência ocorre um aumento da representação do membro superior no córtex após a amputação, o que reflete o crescimento de axônios em outras áreas. De fato, músculos proximais à amputação manifestam potenciais evocados maiores que os músculos equivalentes em lado oposto. Assim, diante de amputações, ocorre uma reorganização cortical principalmente após quatro semanas devido, em especial, ao desmascaramento de sinapses silenciosas. Ocorre alteração na correspondência entre pontos estimulados no queixo e as sensações referidas no membro afetado, por exemplo – caracterizando o fato de os comandos motores exercerem efeitos sobre a representação cortical. Assim, por conseguinte, a estimulação da face e dos membros superiores após amputação pode gerar a sensação de membro fantasma: a representação somatossensorial da face e do membro superior expande-se para ocupar as áreas da mão e do braço (CHEN; COHEN; HALLETT, 2002). Como exemplo desse remapeamento cortical, macacos foram treinados para procurar por comida utilizando-se de estratégias motoras envolvendo três dedos (2, 3 e 4). Na figura a seguir estão representados de forma esquemática o mapa cortical dos cinco dedos da mão, bem como os tamanhos dos campos receptivos dos receptores cutâneos dos dedos, antes do treino (acima) e após o treinamento (abaixo). Note o aumento da área cortical, bem como dos campos receptivos após o treinamento. Antes do treinamento Após o treinamento 1 1 2 2 3 3 4 4 5 5 Figura 75 115 CONTROLE MOTOR E NEUROCIÊNCIAS Observação Os indivíduos que sofreram amputação podem referir uma dor no membro que não mais existe, denominada “dor fantasma”. A organização cortical após lesões centrais é também de extrema importância e pode ser caracterizada por alterações nos mapas corticais e alterações nos padrões de ativação neural. As alterações corticais são dinâmicas e dependem da estimulação motora. Veremos mais detalhes sobre isso no decorrer do capítulo. Após um AVC, por exemplo, uma recuperação motora após dano ao córtex motor primário pode ser mediada por outras áreas corticais no hemisfério acometido, por meio do uso de vias já existentes ou novos circuitos que assumem as funções das áreas acometidas, potencializando uma possível reorganização do hemisfério prejudicado durante recuperação da função. Assim, esses acometimentos em áreas motoras primárias, por exemplo, resultam em reorganização da atividade neural durante recuperação da função. Sabe-se, também, que lesões no córtex motor primário resultam em ativação das áreas motoras secundárias, incluindo córtex motor suplementar, pré-motor e córtex cingulado. Vale destacar um ponto importante: as contribuições do lado ipsilateral na recuperação da função. Na verdade, existem fibras motoras que não cruzam a decussação das pirâmides e que também podem ser ativadas por estimulações neuromotoras realizadas na fisioterapia, por exemplo. Outra questão digna de nota é a importante participação do cerebelo na neuroplasticidade pós-lesão. 8 A NEUROPLASTICIDADE INSERIDA NA PRÁTICA CLÍNICA DA FISIOTERAPIA 8.1 Estratégias para aumentar a neuroplasticidade e a reorganização cortical Agora vamos fazer uma pausa para pensar um pouco. O SN manifesta alterações de alguns mecanismos neurais de neuroplasticidade diante de estimulações neuromotoras, estimulações sensoriais, motoras e cognitivas, certo? Certo. Então podemos potencializar esses efeitos benéficos da neuroplasticidade dentro da fisioterapia, correto? Corretíssimo. Exemplo de aplicação Portanto, chegou a hora de entender como otimizar a neuroplasticidade em nossos pacientes. Reflita sobre treinos que contemplem essa tarefa. 116 Unidade II 8.1.1 Dez princípios que podem potencializar a neuroplasticidade e podem ser colocados em prática em neurorreabilitação (KLEIM; JONES, 2008) Foram apresentados alguns princípios que podem otimizar a neuroplasticidade dentro de um programa de reabilitação. Assim, os princípios oriundos das pesquisas sobre plasticidade neural podem guiar a aplicação de intervenções terapêuticas em prol da facilitação da adaptação neural e a promoção da recuperação da função em indivíduos com acometimentos no controle motor. Vamos aprender mais sobre esses princípios? • Use ou perca (use it or lose it): circuitos neurais que não estão engajados no desempenho da tarefa tendem a degenerar. • Use e melhore (use it and improve it): um treinamento que contemple uma determinada função cerebral específica pode levar à melhora dessa função. • Especificidade (specificity): a natureza da experiência do treinamento rege a natureza da plasticidade; assim, formas especificas de neuroplasticidade são dependentes de tipos específicos de experiência. • Repetição importa (repetition matters): a repetição de um comportamentorecentemente aprendido ou reaprendido é requerido para induzir alterações neurais. Assim, a repetição de um movimento aprendido é necessária para se obter um nível de reorganização cerebral suficiente que possa promover ao paciente a realização continuada de suas funções, além da terapia, e manter seus ganhos funcionais. • Intensidade (intensity): o treino deve ser suficientemente intenso para estimular plasticidade neural dependente da experiência. Na verdade, quando não há intensidade do treino, sugere-se que ele deva ser progressivamente modificado para que possa acompanhar a dinâmica, e dessa forma manter um nível de intensidade de treino que permita a continuação da adaptação neural por meio da recuperação. • Tempo importa (time matters): diferentes formas de plasticidade ocorrem em diferentes momentos durante o treino. Ademais, existem processos tardios de plasticidade que são dependentes de plasticidade que ocorrem previamente ao mesmo processo. • Saliência importa (salience matters): em prol da maximização da plasticidade neural dependente da atividade, o treinamento deve ser funcionalmente relevante e significante para o indivíduo. Assim, são especialmente relevantes o engajamento, a intenção e a motivação. • Idade importa (age matters): quanto mais jovem, maiores as possibilidades de potenciação sináptica dependente da experiência, sinaptogênese e reorganização do mapa cortical. Não obstante os mecanismos de neuroplasticidade serem reduzidos com a idade, está presente também nos idosos. 117 CONTROLE MOTOR E NEUROCIÊNCIAS • Transferência (transference): caracterizada pela habilidade da plasticidade em um grupo de circuitos neurais promover plasticidade subsequente em outros circuitos. Assim, um treinamento relacionado a determinada experiência pode aumentar a aquisição de comportamentos similares. • Interferência (interference): a plasticidade em resposta a uma experiência pode interferir com a aquisição de outros comportamentos. Na verdade, devemos considerar, por exemplo, que a plasticidade em um determinado circuito neural pode impedir a indução de expressão de novas ou existentes plasticidades (também em outros circuitos), o que poderia prejudicar o aprendizado. Exemplo de aplicação Então pupilos, como podemos aplicar esses princípios de neuroplasticidade em nossa prática clínica? Treinos realizados o quanto antes, intensos, desafiadores e focados na aquisição de habilidades. 8.2 Neuroplasticidade em indivíduos com doenças degenerativas Lembrete Os mapas de nossos cérebros são únicos e alteram-se constantemente em resultado da realização das mais variadas experiências motoras, sensoriais, cognitivas, emocionais e psicológicas. Considerando-se que estamos em diferentes ambientes e temos praticado tipos diferentes de atividades motoras, as respostas adaptativas, por consequência, também são dinâmicas, singulares e inúmeras. E, diante do exposto, podemos inferir que os indivíduos com lesões neurológicas também podem se beneficiar de estimulações direcionadas em prol de uma reorganização neural que possa promover melhora do quadro neuromotor, minimização de sequelas e potencialização das capacidades funcionais. Como visto anteriormente, é possível haver remapeamentos corticais mesmo após lesões, e que são potencializados pelo treinamento específico de tarefas, como em indivíduos que sofreram AVE, por exemplo. Entretanto, e no caso de indivíduos com doenças degenerativas? Será que atividade física e exercícios físicos influenciam as alterações comportamentais e promovem impactos nos processos neurodegenerativos? Sim. E o melhor de tudo: esses impactos são extremamente benéficos. É o que será visto agora, nesta última porção do livro. De fato, sabe-se que os exercícios físicos podem ativar circuitos neurais específicos para modificar a forma na qual a informação é transmitida entre as células através das sinapses; além de promover elevação de fatores neurotróficos em regiões seletivas do cérebro de adultos. 118 Unidade II Observação Componentes importantes para neuroplasticidade dependente da experiência: exercícios direcionados a um objetivo; intensidade; repetição; especificidade; dificuldade; complexidade da prática; engajamento cognitivo e variação das modalidades de treino (PETZINGER et al., 2013). Os exercícios aeróbios são importantes para promoverem neuroplasticidade em idosos saudáveis e favorecer a automatização em pacientes com doença de Parkinson. De fato, treinos que se utilizam de desafios e exercícios orientados a um objetivo e exercícios aeróbicos podem restaurar em algum grau a neuroplasticidade dos circuitos estriatal-tálamo-cortical-motor responsáveis pela automaticidade. Em conjunto com exercícios direcionados a um objetivo, os exercícios podem favorecer efeitos sinérgicos mais efetivos em comparação com qualquer tipo de exercício em sua forma isolada. Ademais, foi demonstrado que exercícios aeróbicos podem aumentar as funções executivas em idosos, em indivíduos com DP e com doença de Alzheimer. Existem algumas explicações para essa transferência dos benefícios dos exercícios, tanto para o sistema motor quanto para o cognitivo, como, por exemplo, os efeitos neuroprotetivos nos neurônios dopaminérgicos e também efeitos mais globais, como a recuperação ou o fortalecimento dos circuitos motores que se sobrepõem envolvidos nos componentes, tanto cognitivos quanto motores dos movimentos. Sabe-se que exercícios físicos aumentam o fluxo sanguíneo no encéfalo e podem promover neuroplasticidade por duas formas: • afetar e estimular a angiogênese (formação de novos vasos sanguíneos); • alterar a permeabilidade da barreira hematoencefálica. Existem efeitos induzidos pelo exercício no sistema imune do SNC em adultos saudáveis e em atletas. Estudos com roedores saudáveis demonstraram que exercícios associados ao ambiente enriquecido promovem aumento da taxa de células recém-nascidas e sua sobrevivência; afetam a proporção de diferenciação celular para neurônios; afetam a proporção de incorporação dos neurônios em circuitos neurais. Foi demonstrado também que os exercícios físicos aumentam a neurogênese no hipocampo. Ainda em relação aos pacientes com doença de Parkinson, sabe-se que formas intensivas de exercícios podem ser neuroprotetivos na DP. Estudos epidemiológicos mostram que o risco de se desenvolver DP é reduzido em pessoas com história de atividade física moderada a intensa (THACKER et al., 2008). 119 CONTROLE MOTOR E NEUROCIÊNCIAS O combo “exercícios aeróbios mais exercícios direcionados a um objetivo” promove efeitos restaurativos nos receptores D2 de dopamina e um aumento da liberação desse mesmo neurotransmissor, fato essencial na DP, onde ocorre uma depleção importante de dopamina devido à morte dos neurônios dopaminérgicos, em especial da substância negra dos NB (figura a seguir). Exercícios Exercícios direcionados a um objetivo Exercícios aeróbicos Melhora da saúde cerebral ↑ Fatores tróficos ↑ Fluxo sanguíneo ↑ Sistema imune ↑ Neurogênese ↑ Metabolismo Aumento do fortalecimento sináptico ↑ Neurotransmissores ↑ Densidade de receptores ↑ Formação de espinhas dendríticas Fortalecimento dos circuitos motores Núcleos da base Córtex cerebral Tálamo Cerebelo Tronco encefálico Melhora do comportamento Motor (consciente ou automático) Cognição (funções executivas) Humor e motivação Figura 76 – Efeitos da neuroplasticidade em pacientes com doença de Parkinson Percebeu como a fisioterapia de qualidade, adequadamente estruturada e direcionada ao paciente faz-se de extrema necessidade para promoção de neuroplasticidade diante de lesões? Espero que você tenha gostado desse universo fascinante que é o controle do movimento e alguns aspectos de neurociências. Certamente este livro fará toda a diferença em sua formação acadêmica. Bons estudos! E que você tenha sabedoria para iluminar seus caminhos fisioterapêuticos. 120 Unidade II Resumo Nesta
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