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Vanessa Daltro Semiologia do Sistema Urinário, Infecção do Trato Urinário e Litíase Renal -Rins e vias urinárias: rins, ureter, bexiga e uretra. Anamnese A anamnese é de fundamental importância para diagnosticar questões urinarias do paciente. É preciso perguntar as perguntas corretas. Tem alguma dificuldade para urinar? - Dor ou ardor; A dificuldade ocorre para iniciar o jato? - Tem que fazer força; - Prostatismo (problemas de próstata) = hiperplasia prostática benigna, câncer de próstata ou prostatite causam dificuldade para iniciar o jato urinário. Com que frequência urina? - Pode ter aumento da frequência urinária, com um volume urinário. Assim como pode existir um aumento da frequência com um volume normal. Levanta a noite para urinar? - Isso pode ser algo normal, mas se isso ocorre toda a noite, já é relacionado com alguma patologia. O volume das micções está alterado? Alguma dor ou queimação? Algum tipo de incontinência? Está perdendo urina? O jato urinário tem a mesma força de sempre? Qual o aspecto da urina? - Falar que a urina está escura não é uma boa informação, pois pode ter vários significados como urina concentrada, hematúria, entre outras questões. Sinais e sintomas: Disúria = dor ou ardor ao urinar; Poliúria X Polaciúria - Poliúria = aumento do volume urinário. - Polaciúria = aumento da frequência urinária, sem o aumento correspondente do volume urinário (volume pequeno). Nictúria X Enurese noturna - Nictúria = estar acordando de noite para urinar. Alguma alteração, mas a continência ainda está funcionando. O corpo avisa que ela precisa urinar, então ela acorda. - Enurese noturna = urinar a cama. Ele não tem continência. Incontinência - De esforço, de urgência, por transbordamento, funcional - Incontinência de esforço = pessoa que quando tosse, espirra ou ri acaba urinando. Acontece, principalmente, com mulheres. Aumento da pressão abdominal causa a micção. - Incontinência urinária/Urgência urinária = consiste na vontade forte e repentina de urinar (“a pessoa tem que sair desesperada para o banheiro”). Geralmente, infecções urinárias podem causas esse sintoma, pois a bexiga se encontra inflamada e gera espasmos e contrações. Pode existir eventuais transbordamentos antes da pessoa chegar ao banheiro. -Incontinência por transbordamento = em pacientes, geralmente, com algum problema neurológico ou com diabetes. A bexiga não contrai no momento propício, por isso, enche até transbordar. Vanessa Daltro - Incontinência funcional = a incontinência funcional ocorre quando uma pessoa reconhece a necessidade de urinar, mas está impossibilitada de ir ao banheiro devido a alguma doença ou complicação que a impede de chegar ao banheiro por conta própria. Alterações no jato urinário - Força, tamanho, esforço necessário Gotejamento terminal - Infecção urinária e prostatismo. Dor - Renal X Ureteral - Dor lombar ou nos flancos – rins; - Dor suprapúbica – bexiga; - Dor perineal (mais baixa) – uretra; - A localização da dor no ureter varia, pois depende da localização da lesão. Essa dor pode irradiar dos flancos para a região suprapúbica, por exemplo. Hematúria = pigmento do tipo sangue na urina. Não necessariamente a urina estará vermelho vivo, pode estar acastanhada até vermelho escuro. - A hematúria pode ser macroscópica ou microscópica. - Hematúria macroscópica = Hematúria macroscópica é definida como qualquer grau de Hematúria que pode ser identificada a olho nu. A urina está com a cor alterada por conta de sangue na urina. - Hematúria microscópica = identificada no sumário de urina. - Há uma diferença entre ter hemácias na urina e ter hemoglobina na urina. Hemoglobina na urina = hemoglobinúria. - A hemoglobinúria significa que houve um aumento da liberação de hemoglobina em alguma parte do corpo e esta, está sendo filtrada. Não necessariamente algo sangrou para causar isso, como na hematúria. - Mioglobina (dos miócitos) na urina = mioglobinúria. Proteinúria = proteína na urina. Ela ocorre quando a membrana de filtração glomerular teve algum problema e está deixando passar proteínas, como albumina. Exame Físico -Localização; -Ausculta: da artéria renal. Identificar sopros, o que pode ser causado por estenoses dessa artéria. -Palpação = é muito difícil palpar rins em adultos, mas em crianças, isso é essencial. Colocar a mão esquerda em baixo do dorso do paciente e empurra para a cima. Com a mão direita tentar identificar o rim. -Percussão = pesquisa de hipersensibilidade renal, punho-percussão ou sinal de Giordano. Colocar a mão não dominante na topografia renal e com a dominante dá um pequeno “soco”. *O sinal de Giordano positivo – o paciente dá um “pulo”, já que dói muito. Isso é comum em inflamação do rim ou inflamação da cápsula renal. Na pielonefrite, infecção renal, o sinal de Giordano está frequentemente presente. Vanessa Daltro Infecção do Trato Urinário (ITU) Infecção urinária é infecção de qualquer ponto das vias urinárias. Infecção urinária no rim (pielonefrite), infecção urinária na bexiga (cistite) e infecção urinária na uretra (uretrite). - Essa é uma condição muito prevalente; Nos EUA: -7 milhões de consultas/ano; -15% de todas as prescrições de antibióticos; -100.000 internações/ano; -40% das infecções hospitalares. - Na inserção do cateter é muito comum, que ocorra uma infecção, já que o ambiente hospitalar e a própria área genital do paciente possuem bactérias presentes. O evento começa com a colonização do meato uretral ou intróito pela bactéria do trato intestinal (a que se localiza nessa região). É mais fácil que a bactéria do ânus da mulher colonize a sua uretra, do que essa situação no homem. Quando a bactéria coloniza o introito, ela pode subir pela uretra e alcançar a bexiga fazendo um caso de cistite. Como a uretra da mulher é menor do que a do homem, esse processo ocorre mais facilmente. Portanto, mulheres são mais suscetíveis. A bactéria pode parar na bexiga, mas pode também subir pelo ureter e fazer um caso de pielonefrite. É possível que a bactéria venha de outro local do corpo pela via hematogênica ou linfática, como pulmões, mas isso é mais raro. Além disso, para ter pielonefrite não precisa ter clínica de cistite. Fatores de Risco – Mulheres Pré-menopausa - Relação sexual (micção pós-coito); - Uso de espermicida; - Novo parceiro; - História materna positiva; - ITU na infância; Pós-menopausa - ITU pré-menopausa; - Incontinência (local úmido); - Atrofia genital; - Cistocele (um deslocamento da bexiga fora de sua localização natural, bexiga baixa); - Perfomance status (redução da capacidade de higiene em idosas); Infecção do Trato Urinário Não complicada -ITU baixa (cistite) ou alta (pielonefrite) NA AUSÊNCIA de fatores de risco para falha terapêutica. Paciente que está bem clinicamente e só possui o quadro de ITU. Ou seja, não possui nenhum agravante. Colonização do intróito Cistite Pielonefrite Flora entérica Ascensão via uretra Ascensão via ureter Via hematogênica/linfática Vanessa Daltro -A ITU não complicada é comum é mulheres jovens, não gravida, sem nenhuma morbidade. Complicada -ITU + fatores de risco -Fatores de risco: DM não controlado, gravidez, infecção hospitalar, doença renal prévia, obstrução (por um cálculo), cateter, anormalidade anatômica, rim transplantada, imunodepressão, germe resistente. -Se ocorre em um homem já é uma ITU complicada, já que deve ter algum fator de risco que o colocou nesse quadro. Agentes mais comuns Escherichia Coli – 75-95%; Outras bactérias do sistema digestivo (Klebsiella pneumoniae); Manifestações Clínicas TIPO DE ITU SINTOMAS TÍPICOS Cistite (infecção restrita à bexiga) Polaciúria, disúria, dor supra púbica, hematúria e/ou urina turva Pielonefrite (infecção que chegou aos rins) Febre, calafrios, dor nos flancos/sinal deGiordano, sintomas de cistite (podem ser ausentes) Sepse urinária (infecção generalizada) Febre, calafrios e choque séptico Cistite -Início rápido, sintomas em menos de 24 horas; -Febre é incomum, assim como queda do estado geral, vômitos e mialgia (isso já é uma evidência que a infecção urinária passou da bexiga); -3-5 dias de duração; -ATB (antibiótico) não diminui a duração, mas deve ser utilizado; Pielonefrite -Com ou sem sintomas prévios de cistite (a bactéria pode ter subido diretamente para os rins); -Dor lombar e febre; -Infecção sistêmica; -A dor nos flancos é a característica mais comum de pielonefrite; -O sinal de Giordano positivo contribui para o diagnóstico, mas o sinal de Giordano negativo não afasta o diagnóstico; *Se o paciente aparecer com um caso de febre a 3 semanas, já não é pielonefrite. A pielonefrite é de rápida evolução. Diagnóstico Se chega uma mulher jovem, não grávida, sem comorbidades com clínica de ITU = não precisa de exame nenhum, pode se iniciar o tratamento. Cistite/pielonefrite não complicadas -Manifestações clínicas -Evidência de piúria (leucócitos na urina) e/ou bacteriúria Sumário de urina (analisar as substâncias da urina) Urocultura (analisar as bactérias da urina), nos seguintes casos: -Pielonefrite -Ausência de melhora/recorrência em 2-4 semanas -Sintomas atípicos -Gestantes -Homens ITU não complicada geralmente não necessita de outros exames laboratoriais, no entanto, na sepse é necessário. Exames de imagem não são de rotina Vanessa Daltro Tratamento Antibioticoterapia para todos os casos sintomáticos Tratamento inicial geralmente é empírico -Conhecer perfil de sensibilidade Pielonefrite -Ambulatorial X Internamento Medidas Gerais e Prevenção -Higiene adequada, micção pós-coito, cuidados com cateteres, analgesia – disúria intensa: fenazopiridina. *Vitamina C? Não. *Cranberry? Sim. Nefrolitíase Definição: Massa cristalina que se forma nos rins e tem tamanho suficiente para ser clinicamente identificável -Por sintomas ou por imagem -Um cristal muito pequeno, que sai na própria urina, o diagnóstico é de cristais na urina – cristalúria (não é nefrolitíase) Desequilíbrio na concentração de certas substâncias na urina -Supersaturação e cristalúria -Se a substância está em excesso na urina, ela precipita e forma o cristal. O cristal pode crescer e formar um cálculo. -Prevenção da nefrolitíase: beber água (para diminuir a saturação das substâncias na urina)! Epidemiologia: Fatores Intrínsecos (mais comuns) - Sexo masculino Brancos Alterações anatômicas 3ª a 4ª década de vida Genética Distúrbios metabólicos e endócrinos pH urinário (alguns cálculos se formam em um pH mais ácido, em quantos outros se formam em pH mais alcalino). Fatores extrínsecos - Ingesta hídrica (menos água, maior propensão de formar cálculo) Dieta Ocupação Sedentarismo Clima quente Uso de drogas litogênicas Prevalência -Varia de acordo com a população: 1-20% -30% dos portadores da doença necessitam de hospitalização -15% são submetidos a algum procedimento -20 a 40 anos de idade Recorrência -50% dos portadores terão novo episódio em algum momento da vida -30% das vezes esse novo episódio acontece em 3 anos Formação do cálculo Supersaturação = a substância atingiu o limite de saturação na urina, ela não vai diluir mais, ocorre precipitação Nucleação = a primeira molécula do cristal é formada Crescimento do cristal = ela cresce Vanessa Daltro Agregação = se agrega até formar uma pedra Hipercalciúria = aumento do cálcio na urina – pode ser genético ou distúrbio metabólico. Hiperoxalúria = Junto com o oxalato forma o oxalato de cálcio (no pH ácido); Hiperuricosúria = muito ácido úrico na urina Cistinúria Diferentes componentes - Diferentes fatores de risco -Métodos diagnósticos -Implicações clínicas Tipos de Cálculo Oxalato de cálcio -Mais comum; -Supersaturação/desidratação; -O ácido úrico auxilia a formação do cálculo de oxalato de cálcio também.; -pH ácido; -Hipercalciúria; -Hiperoxalúria; -Hipernatriúria – aumenta eliminação de cálcio; -Hiperuricossúria – diminui o pH; -Hipocitratúria – inibidor (citrato) = Frutas cítricas (com citrato) auxiliam a dissolução do cálculo de oxalato de cálcio; Ácido úrico -Produto do metabolismo das purinas, proteínas (ingestão de carne vermelha); -Fatores de risco: pH ácido, desidratação, acidose tubular renal, gota e quimioterapia – tumores hematológicos; Estruvita (cálculo fosfato amoníaco magnesiano) – cálculo infeccioso -Bactérias sobem o pH da urina (alcalinizam), essas são produtoras de uréase -pH > 7, leva a formação do cálculo. O cálculo continua crescendo, pois, a bactéria está presente, o estimulando. O cálculo pode crescer até tomar toda a pelve renal do paciente (cálculo coraliforme). -Crescimento – alta morbidade – coraliformes -Esses cálculos são enormes! Manifestações Clínicas Assintomática – maior parte do tempo Cólica renal – dor abrupta, lancinante (muito forte), ondulante, irradiação -Para existir a dor, o cálculo precisa se prender; a urina parada é propícia para infecções por bactérias Relacionada com: -obstrução – insuficiência renal pós-renal -infecção – pielonefrite Cólica Renal Pródromos frequentes: -náuseas e vômitos -hipotensão -hipersudorese -sialorreia Características típicas: -caráter ondulante -sem posição de alívio -localização mal definida, visceral -piora com a ingesta hídrica (aumenta a pressão) -irradiação inguinal ou genital homolateral Vanessa Daltro Os sintomas dependem da localização: No rim -Cólica renal – nem sempre (>10 mm, na pelve renal) – a pedra está tentando descer -Hematúria (a pedra machuca as estruturas) -Infecção urinária (pielonefrite) -Dor lombar e em flanco No ureter -Cólica renal -Hematúria macro ou microscópica -Dor irradiada para região inguinal/testículos -Cistite -Reflexo vaso vagal -Dor lombar e fossa ilíaca Na bexiga -Dor ao urinar -Sintomas de obstrução -Hematúria -ITU *A pedra fica presa em locais que há estreitamento = pelve renal (JUP), vasos ilíacos e JUV. JUP – dor lombar Vasos ilíacos – dor lombar + fossa ilíaca JUV – dor em fossa ilíaca + sintomas de cistite Cólica renal – Diagnóstico Diferencial Lombalgia osteomuscular Hidronefrose de outras causas Pielonefrite aguda Abdome agudo (colecistite, pancreatite, apendicite) Doenças ginecológicas Dor nevrálgica (herpes zoster, lombociatalgia) Dor reflexa (orquiepididimite - testículo) Exame Físico Estado geral, dados vitais Posição antálgica (inclinação para o lado afetado) Sinal de Giordano (pielonefrite) Exames Laboratoriais Sumário de urina/urocultura Função renal e eletrólitos Hemograma VHS/PCR (substâncias que aumentam no sangue quando há inflamação) Radiografia simples de abdome (não é específico para esse diagnóstico – alguns cálculos não aparecem no RX) Incluir sempre toda a bacia Método mais simples para avaliar: -a natureza química da litíase (presumível) -corretamente a massa litiásica radiopaca -a progressão dos cálculos -a eficácia das terapêuticas Vanessa Daltro Ecografia (USG) Melhor método para identificar: -presença de litíase -repercussão mecânica aguda Pode mostrar: -repercussão crônica -ureter dilatado -existência de infecção do parênquima ou perirenal -presença de fatores predisponentes devido a mudança anatômica *Não é padrão-ouro! Tomografia Computadorizada (padrão-ouro) Normalmente não é necessária a administração de contraste Melhor exame para diagnosticar nefrolitíase! Permite a visualização de cálculos “radiotransparentes”, como os de ácido úrico, e a localização de cálculos em todo o trajeto do ureter CólicaRenal Tratamento: -da dor -da obstrução -da insuficiência renal -da infecção -do cálculo (normalmente expelido, mas pode se necessitar ser resolvido na urgência em algumas situações); Tratamento Terapêutica médica/prevenção Terapêutica minimamente invasiva Terapêutica cirúrgica: -Endoscópica -“Aberta” *Litotripsia extracorpórea por ondas de choque (LECO), uretroscopia, nefrolitotomia percutânea, cirurgia aberta.
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