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A aplicação do princípio da verdade material nas decisões do tribunal de contas do estado de Minas Gerais

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A aplicação do princípio da verdade material 
nas decisões do Tribunal de Contas do 
Estado de Minas Gerais
Marina Martins da Costa Brina
Especialista em Direito Internacional pelas 
Faculdades Milton Campos. Graduada em Direito 
pela UFMG e em Relações Internacionais pela 
PUCMinas. Técnica do TCEMG
Resumo: É notável a importância dos princípios 
para reger a atuação da Administração Pública. A 
Constituição da República consagrou em seu texto 
diversos desses princípios, e outros podem ser 
extraídos implicitamente do ordenamento jurídico. 
Entre estes destaca-se o da verdade material como 
instrumento de busca de uma efetiva proteção do 
interesse público.
Palavras-chave: Administração Pública. Princípios. 
Verdade material.
Abstract: It is remarkable that the principles have a 
great importance to rule the acts of the Government. 
The Constitution has enshrined in its text many 
of these principles, and others can be implicitly 
extracted from the legal system. Among these we 
find the principle of the material truth as an effective 
tool to protect the public interest. 
Keywords: Public Administration. Principles. 
Material truth. 
A APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA VERDADE MATERIAL NAS DECISÕES 
DO TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DE MINAS GERAIS
230
1 INTRODUÇÃO
A administração pública, em sua atuação, rege-se por normas, aí incluídos regras e princípios. Com 
a Constituição da República de 1988 os princípios adquiriram maior importância, como se extrai 
da leitura do § 2º do art. 5º1 e também do art. 37, que traz explícitos alguns princípios a serem 
observados por toda a administração pública: legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade 
e eficiência.
É de se notar que no Direito Administrativo, ramo jurídico não codificado, os princípios ganham 
grande relevância auxiliando na compreensão e consolidação de seus institutos.
Os processos administrativos constituem um desses institutos do Direito Administrativo e, como 
tais, são regidos por princípios próprios. Alguns desses postulados encontram-se consagrados na 
Constituição da República, outros nas leis processuais e outros encontram-se implícitos no sistema 
normativo.
O presente trabalho tem por objetivo abordar especificamente um desses princípios: o da verdade 
material. Trata-se de princípio de suma importância para a consagração do interesse público e 
da justiça social na medida em que reflete o comprometimento da administração na busca da 
verdade irrefutável. O princípio da verdade material, ao ampliar a capacidade investigatória da 
administração, impede que ela tenha uma atitude de expectadora. Ao invés de apenas observar o 
que se encontra nos autos, ela pode determinar a produção das provas necessárias para esclarecer 
o que realmente ocorreu.
Especificamente no âmbito dos processos dos tribunais de contas, o princípio da verdade material 
adquire uma peculiar importância ao traduzir o dever das cortes de contas para com uma fiscalização 
efetiva e verdadeira. Elas podem e devem, por todos os meios legais, conhecer a gestão da coisa 
pública. Afinal, sendo a proteção do interesse público o objetivo do Tribunal e, sendo o interesse 
público indisponível, não se admite que o órgão fiscalizador contente-se com a verdade trazida nos 
autos.
No presente trabalho, inicialmente será abordado de forma generalizada o processo administrativo 
e, em seguida, será estudado o princípio da verdade material. Serão apresentadas decisões de 
diversos tribunais pátrios aplicando esse princípio e, por fim, decisões da Corte de Contas mineira 
em busca da verdade material.
2 O PROCESSO ADMINISTRATIVO
Conforme apregoa o art. 37 da Constituição Federal, a administração pública tem sua atuação 
pautada pelo princípio da legalidade. Para atuar nos termos da lei e assegurar o interesse público, 
regras e ritos predeterminados devem ser seguidos, o que ocorre mediante processo administrativo.2 
A ideia de processo administrativo é relativamente nova na doutrina e jurisprudência. Por muito 
tempo predominou a noção de que o processo era apenas o judicial, sendo posterior a inclusão do 
1 Art. 5º, § 2º, da CR/88: “Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos 
princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte.”
2 Nesse sentido, leciona Marcelo Harger (2008, p. 71): “Com a ampliação da área de atuação da Administração Pública, surgiu 
a necessidade de uma maior observância dos aspectos procedimentais para garantir o controle dos atos administrativos, e isso 
acabou por alçar o tema do processo administrativo a um novo patamar.” 
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processo administrativo na categoria geral de processo.3 Essa inclusão representou uma mudança 
de paradigma: perdeu importância o ato administrativo e ganhou espaço o processo administrativo 
para orientar o relacionamento da Administração com o particular. 
O processo administrativo atua como meio de controle do autoritarismo e de uma maior legitimação 
do poder.4 Ao buscar uma maior participação do cidadão nas decisões públicas, o processo traduz 
uma atuação mais democrática e uma consolidação do Estado de Direito.5 
Na doutrina brasileira, os autores conceituam o processo administrativo enfatizando o fato de 
ele abranger uma série de atos. José dos Santos Carvalho Filho (2009, p. 24) define o processo 
administrativo como o “instrumento formal que, vinculando juridicamente os sujeitos que dele 
participam, através da sucessão ordenada de atos e atividades, tem por fim alcançar determinado 
objetivo, previamente identificado pela Administração Pública”. Celso Antônio Bandeira de 
Mello (2007, p. 472) afirma que “processo administrativo é uma sucessão itinerária e encadeada 
de atos administrativos que tendem, todos, a um resultado final e conclusivo”. 
A legislação pátria também consagra o processo administrativo. A Constituição de 1988 incluiu em 
seu texto os princípios processuais mais relevantes e definiu novos parâmetros a serem seguidos 
pela Administração Pública, principalmente com a inclusão, no rol de direitos fundamentais, da 
processualidade (CR/88, art 5º, incisos LIV e LV) (GUEDES, 2007, p. 45). 
No âmbito federal, a Lei n. 9.784/99 regulou o processo administrativo de forma sistemática, 
genérica e codificada. Seu art. 1º traz explícito como objetivo da lei a proteção aos direitos dos 
administrados. O art. 2º, por sua vez, elenca princípios informadores da conduta administrativa: 
legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa, 
contraditório, segurança jurídica, interesse público e eficiência. 
No Estado de Minas Gerais, a Lei n. 14.184/02 dispõe sobre o processo administrativo no âmbito da 
administração pública estadual. Em seu art. 2º elenca como princípios da administração: legalidade, 
impessoalidade, moralidade, publicidade, finalidade, motivação, razoabilidade, eficiência, ampla 
defesa, contraditório e transparência.
Vê-se que tanto a lei do processo administrativo federal como a do Estado de Minas Gerais 
elencam importantes princípios. Entretanto, além desses princípios expressos, outros podem ser 
identificados, implicitamente ou espalhados por outros dispositivos legais. Entre os princípios 
implícitos destaca-se o da verdade material, que assume maior importância na medida em que a 
administração amplia sua atuação em busca de uma efetiva proteção do interesse público.
3 “Durante muito tempo o termo ‘processo’ vinha associado à função jurisdicional. [...] A partir da década de 50, processualistas e 
administrativistas foram convergindo para a ideia de processo ligado ao exercício do poder estatal.” (MEDAUAR, 2007, p. 160).
4 A respeito da função do processoadministrativo, discorre Demian Guedes (2007, p. 48): “Após a extinção do contencioso 
administrativo no país, a doutrina brasileira passou a observar a dupla função do processo administrativo, apontando também 
a evolução do instituto: a princípio, verifica-se uma preocupação com a racionalização e a eficiência da atividade estatal para, 
gradativamente, observar-se um reconhecimento do papel democrático e participativo a ser desempenhado pelo processo 
administrativo, já visto como instrumento de controle da Administração”. 
5 É este o entendimento de Vitor Rhein Schirato (2010, p. 9): “Sobretudo a partir da consolidação da democracia como um dos 
vetores do Estado contemporâneo, o ato administrativo — dantes ocupante de lugar de honra na estruturação sistemática do 
estudo de direito administrativo — passa a perder espaço para o processo administrativo, do qual o ato administrativo é parte.” 
A APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA VERDADE MATERIAL NAS DECISÕES 
DO TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DE MINAS GERAIS
232
3 O PRINCÍPIO DA VERDADE MATERIAL
O princípio da verdade material traduz a ideia de que, na apuração dos fatos, deve ser sempre 
buscado o máximo de aproximação com a certeza. Sua aplicação ao processo administrativo 
justifica-se na medida em que a Administração, na busca constante pela satisfação do interesse 
público, não deve conformar-se com a verdade meramente processual. Pode e deve estender 
sua atividade investigatória, valendo-se de elementos diversos daqueles trazidos aos autos pelos 
interessados, desde que os julgue necessários para a solução do caso.
Celso Antônio Bandeira de Mello (2007, p. 489) compreende o princípio da seguinte forma: “a 
Administração, ao invés de ficar restrita ao que as partes demonstrem no procedimento, deve 
buscar aquilo que é realmente a verdade, com prescindência do que os interessados hajam alegado 
e provado [...]”. 
Odete Medauar (2007, p.170) afirma que o princípio da verdade material 
exprime que a Administração deve tomar decisões com base nos fatos tais como se 
apresentam na realidade, não se satisfazendo com a versão oferecida pelos sujeitos. Para 
tanto, tem o direito e o dever de carrear para o expediente todos os dados, informações, 
documentos a respeito da matéria tratada, sem estar jungida aos aspectos suscitados pelos 
sujeitos.
Hely Lopes Meireles (2011, p. 739-740) explica que “o princípio da verdade material, também 
denominado da liberdade na prova, autoriza a Administração a valer-se de qualquer prova lícita de 
que a autoridade processante ou julgadora tenha conhecimento, desde que a faça trasladar para o 
processo”.
José dos Santos Carvalho Filho (2005, p. 891) aduz que o princípio da verdade material “autoriza 
o administrador a perseguir a verdade real, ou seja, aquela que resulta efetivamente dos fatos que 
a constituíram”.
Em todos os conceitos apresentados é possível verificar um núcleo comum: a ampla capacidade 
investigatória da Administração.
Diferente da aplicação do princípio da verdade material aos processos administrativos é a sua 
aplicação aos processos judiciais. E, ainda, faz-se necessário distinguir os processos penais 
dos processos cíveis. Na seara processual penal, é pacífica a aplicação do princípio da verdade 
material. Tanto a doutrina como a jurisprudência o consagram. Diferentemente, no processo 
civil tradicionalmente imperava o princípio da verdade formal. Apenas recentemente tem-se 
admitido, excepcionalmente, a aplicação do princípio da verdade material quando a causa versar 
sobre relações jurídicas de interesse público (BRAGA, 2010, p. 210).
Voltando à aplicabilidade do princípio no âmbito do processo administrativo, faz-se necessário 
analisar o fundamento de sua aplicação. Não se tratando de princípio explícito em grande parte da 
legislação pátria, os diferentes autores buscam para ele fundamentos diversos.
Há quem afirme que seu fundamento é o princípio da oficialidade. Vejamos:
O fundamento constitucional desse princípio é o mesmo que o do princípio da oficialidade, 
ou seja, pode-se dizer que é decorrência do princípio da legalidade. É que o interesse 
público é indisponível, e isso implica que a Administração tenha o dever de verificar os 
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pressupostos de fato ensejadores do exercício de sua competência (HARGER, 2008, p. 
158).6
Há ainda quem afirme que o fundamento é o princípio da legitimidade: “[...], a verdade material 
atua na proteção do princípio da legitimidade, que implica, em matéria de controle do Poder 
Público, uma atuação mais ‘substancialista’ [...].” (GUEDES, 2007, p. 118).
A aplicação do princípio da verdade material nos processos administrativos encontra fundamento 
também quando se considera o controle como direito fundamental, conforme defende Jorge Ulisses 
Jacoby Fernandes (2003). 
Embora os diferentes autores apontem fundamentos diversos para o princípio da verdade material, 
a aplicação de seu conteúdo é pacífica. 
Cabe ainda lembrar que, apesar de não ter previsão expressa na Lei do Processo Administrativo 
Federal (Lei n. 9784/99), o princípio da verdade material pode ser extraído de alguns de seus 
artigos. É o que se verifica pela leitura dos arts. 29, 36-37, que atribuem à Administração a condução 
principal da instrução probatória. A Administração pode iniciar de ofício o processo e o impulsionar 
determinando diligências para esclarecer fatos duvidosos. Os interessados participam de forma 
complementar, apresentando documentos e requerendo diligências, depoimentos e perícias para 
subsidiar a decisão da autoridade.
Destaca-se que o art. 37 da Lei n. 9.784/99 determina que a Administração, de ofício, buscará 
documentos que registrem fatos e dados declarados pelo interessado. Trata-se de disposição que 
nitidamente reflete a busca da verdade material.7
Cumpre ainda lembrar que o princípio da verdade material não pode ser visto como um fim em 
si mesmo (BRAGA, 2010, p. 203). Sua aplicação deve levar em conta os demais princípios do 
ordenamento. Assim, não se pode admitir a obtenção de provas por meios ilícitos.8
4 APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA VERDADE MATERIAL EM TRIBUNAIS 
PáTRIOS
Em diversos tribunais pátrios, a jurisprudência é pacífica pela aplicação do princípio da verdade 
material nos processos administrativos.
4.1 Superior Tribunal de Justiça
O Superior Tribunal de Justiça admite a utilização de provas emprestadas nos processos 
administrativos, com base no princípio da verdade material. Vejamos:
É que “[...] no processo administrativo, que se orienta sobretudo no sentido da verdade 
material, não há razão para dificultar o uso de prova emprestada, desde que, de qualquer 
maneira, se abra possibilidade ao interessado para questioná-la, pois, em princípio, a parte 
tem o direito de acompanhar a produção da prova.” (Sérgio Ferraz e Adilson Abreu Dallari, 
6 Odete Medauar também fundamenta o princípio da verdade real no princípio da verdade material (2007, p. 170)
7 Nesse sentido: “O presente artigo [art. 37], [...], traduz o princípio da eficiência [...], além de refletir a busca da verdade material, 
uma vez que não consulta ao interesse público que o interessado deixe de ter provido seu pleito por ausência de documento que 
demonstre seu direito, documento esse que se encontra na posse da própria Administração” (FORTINI, 2008, p. 144).
8 No âmbito federal, a Lei n. 9.784 traz expressa em seu art. 30 a proibição da utilização de provas ilícitas.
A APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA VERDADE MATERIAL NAS DECISÕES 
DO TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DE MINAS GERAIS
234
in Processo Administrativo — 2ª edição — Editora Malheiros — página 172) Sob esse 
enfoque assentou o Tribunal a quo: “[...] Conquanto o sigilo externo, no procedimento 
para a decretação da perda do cargo de magistrado (art. 27, LC n. 35/79), seja resguardado 
— em atenção não somente à intimidade do agente político, mas também à credibilidade 
daInstituição (art. 40, LC n. 35/79) — releva considerar que tal aspecto não inviabiliza a 
utilização dos elementos cognitivos no mesmo produzidos, a título de prova emprestada, 
em processos administrativo-disciplinares outros, referentes ao exercício de quaisquer 
outras funções públicas, a exemplo do munus público da advocacia, a teor do art. 133 do 
Texto Básico, o que não impede a OAB, portanto, de se utilizar destas provas na aferição 
da idoneidade moral daquele que postula inscrição em seus quadros, desde que, por 
óbvio, colhida em observância ao contraditório. (Supremo Tribunal Federal. Recurso 
Extraordinário n. 328.138/MG. Relator: Min. Sepúlveda Pertence. DJ, de 17 out. 2003) 
(Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial n. 930.596/ES. Relator: Min. Luiz Fux. 
Data do Julgamento: 17 dez. 2009) (grifo nosso). 
4.2 Tribunal de Justiça de Minas Gerais
O Tribunal de Justiça de Minas Gerais possui decisões aplicando o princípio da verdade material 
em ação anulatória de processo administrativo.9
A presente ação anulatória do processo administrativo e da decisão nele proferida 
se encontra embasada em supostas ilegalidades que teriam lesado direitos do acusado 
ao devido processo legal, contraditório e ampla defesa, princípio da inocência, ampla 
instrução, legalidade, moralidade, razoabilidade, proporcionalidade e busca da verdade 
material. (TJMG. Processo n. 1.0151.07.022282-4/001(1). Relatora: Des. Heloisa Combat. 
Data do julgamento: 10 nov. 2009). (grifo nosso).
Verifica-se que a aplicação do princípio da verdade material em processos judiciais representa um 
posicionamento moderno. Da leitura da seguinte ementa percebe-se que o TJMG tem julgados 
adotando esse entendimento para ampliar a capacidade investigatória dos magistrados na busca da 
verdade real.
EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE COBRANÇA DE SEGURO. PROVA DA 
CAUSA MORTIS. ATESTADO DE ÓBITO. INSUFICIÊNCIA. NECESSIDADE DE 
PRODUÇÃO DE NOVAS PROVAS. BUSCA DA VERDADE REAL.- O processo 
moderno procura solucionar os litígios à luz da verdade real. E é na prova produzida 
nos autos que o Magistrado localiza esta verdade.- Não há como o Juiz formar sua 
convicção a respeito da causa da morte do segurado apenas com base no que consta no 
atestado de óbito, pois este é passível de erro. Para o Magistrado formar sua convicção, é 
essencial parecer de profissional especializado ou até de outras provas. (TJMG. Processo 
n. 1.0687.05.038000-9/001(1). Relator: Des. Pedro Bernardes. Data do julgamento: 19 fev. 
2008) (grifo nosso).
4.3 Tribunal de Contas da União
O Tribunal de Contas da União possui diversas decisões aplicando o princípio da verdade material 
na busca por uma justiça social eficaz.10 A justificativa apresentada para a aplicação do princípio é 
que, sendo o interesse maior do TCU conhecer a realidade sobre os atos de gestão da coisa pública, 
o Tribunal não pode contentar-se com a verdade formal. Alega-se que o ministro relator não precisa 
9 No mesmo sentido: Processo n. 1.0000.00.275006-5/000(1) (rel. Des. José Domingues Ferreira Esteves, data do julgamento: 
03/02/2003) e Processo n. 1.0596.07.042788-2/001(1) (rel. Des. Edilson Fernandes, 28/10/2008).
10 Nesse sentido: Acórdão n. 547/2006 do Plenário e Acórdãos n. 1.014/2003, 2.188/2006 e 1.838/2008, da Primeira Câmara.
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ater-se às provas apresentadas pelas partes, podendo produzir provas pertinentes e relevantes para 
formar sua convicção. Além disso, permite-se aos jurisdicionados a juntada de documentos em 
várias etapas da tramitação do processo, desde que deferida pelo ministro relator.
Destaca-se que, no Regimento Interno do TCU — Resolução TCU n. 246, de 30 de novembro de 
2011 —, há dispositivo consagrando expressamente o princípio da verdade material:
Art. 145. As partes podem praticar os atos processuais diretamente ou por intermédio de 
procurador regularmente constituído, ainda que não seja advogado.
§ 1º Constatado vício na representação da parte, o relator fixará prazo de dez dias para 
que o responsável ou interessado promova a regularização, sob pena de serem tidos como 
inexistentes os atos praticados pelo procurador.
§ 2º Não se aplica o disposto no final do parágrafo anterior ao caso de juntada de 
documentos que efetivamente contribuam na busca da verdade material. (grifo nosso).
No seguinte trecho de decisão, percebe-se que o TCU relativiza a aplicação da coisa julgada em prol 
da verdade material.
[...] Outrossim, conforme estabelecido no Sumário do Acórdão n. 2.843/2008-Plenário, 
‘na busca da verdade material, julgamentos pretéritos não têm o condão de fazer coisa 
julgada e não impedem que diante de novas situações se apontem falhas anteriormente 
não identificadas por quaisquer motivos’. Ou seja, adaptando o raciocínio à pergunta ora 
analisada, a inclusão de itens não previstos no AC-325/2007-PL em contratos assinados 
anteriormente à sua prolação, embora se admita legítima, não impede que eventuais 
abusos de preços, por conta de um BDI acima dos valores de mercado, sejam coibidos e 
corrigidos, mesmo quando identificados em épocas posteriores. [...]. (TCU. Acórdão n. 
2.545/2011. Relator: Min. Marcos Bemquerer Costa. Data do julgamento: 21 set. 2011. 
(grifo nosso).
No seguinte acórdão, o TCU enfatiza que o tribunal não fica vinculado aos pedidos formulados por 
autores de representações, podendo e devendo apurar qualquer indício de irregularidade.
Por fim, cumpre refutar a afirmação da empresa de suposta atuação desta Unidade Técnica 
de forma incompatível com suas atribuições por ocasião da instrução inicial destes autos 
[...]. Nesse ponto, cabe destacar que o processo administrativo de controle, no âmbito 
dos Tribunais de Contas, possui liturgia peculiar, segundo a qual prevalecem os 
princípios da verdade material e do formalismo moderado. Difere-se, assim, do rito 
convencional estabelecido pelas leis processuais de âmbito civil ou mesmo penal, as quais 
aplicam-se apenas subsidiariamente aos processos autuados no TCU, conforme dispõe o 
art. 298 de seu Regimento Interno. 
Portanto, não há que se falar, nos processos que tramitam neste Tribunal, em 
vinculação de sua atuação aos pedidos formulados por autores de representações. No 
mister de zelar pela coisa pública, o TCU tem o dever de apurar todos os indícios de 
irregularidades envolvendo a aplicação de recursos da União de que tome conhecimento, 
estejam ou não tais indícios contemplados expressamente em eventuais provocações das 
pessoas legitimadas a representar junto ao Tribunal. 
Conforme se infere de diversas disposições normativas, a exemplo dos artigos 86, inciso 
II, da Lei n. 8.443/1992 e 237, incisos III e VI, do Regimento Interno/TCU, os próprios 
servidores e unidades técnicas do Tribunal podem e devem representar ao tomarem 
conhecimento de quaisquer irregularidades no trato da coisa coletiva. Não cabe, pois, o 
entendimento de que o corpo técnico, ao analisar representação formulada por terceiro 
estranho ao Tribunal, deva ater-se unicamente aos aspectos eventualmente levantados pelo 
representante (TCU. Acórdão n. 5.161/2011. Relator: Min. José Jorge. Data do julgamento: 
19 jul. 2011). (grifo nosso).
A APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA VERDADE MATERIAL NAS DECISÕES 
DO TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DE MINAS GERAIS
236
Do seguinte trecho é possível constatar que o TCU, na aplicação de pena ao gestor por irregularidade 
nas contas, privilegia a verdade material.
Por último, antes de adentrar na análise dos documentos obtidos na inspeção, vale 
mencionar que esse exame teve como escopo a verificação da participação efetiva dos 
candidatos contratados nos processos seletivos, e se a participação desses na seleção 
ocorreu de forma isonômica e de acordo com os normativos internos do Sebrae/DF. Cabe 
dizer, ainda, que, por ocasião da realização da inspeção, a equipe entendeu ser oportuno 
buscar mais informações acerca da questãoreferente às compras diretas de materiais 
de limpeza e de expediente realizadas no exercício de 2005. Assim, em homenagem ao 
princípio da verdade material, esta equipe de inspeção solicitou à Entidade documentos 
complementares, a fim de encorpar as informações a respeito dessas compras para fazer 
uma análise mais circunstanciada. Essa questão está detalhada no item 36 desta instrução.
[...]
No decorrer desta inspeção, esta equipe, ao tomar conhecimento da proposta de 
encaminhamento da instrução precedente, referente às compras, com possível 
fracionamento de despesa, entendeu que seria oportuno buscar mais informações acerca 
dessa questão. Sabe-se que em se tratando da atividade de controle externo, a incerteza 
advinda acerca de atos de gestão de administradores públicos pode vir a adquirir matéria 
de ordem pública, mesmo ausente o interesse de particulares, permanecendo assim a 
possibilidade de atuação desta Corte de Contas para buscar a verdade material dos fatos. 
Nesse sentido, apesar dessa questão não ser objeto desta inspeção, entendeu-se razoável 
solicitar à Entidade a disponibilização de alguns processos de compras (fls. 356-457, anexo 
4) do exercício de 2005 para a realização de uma análise pormenorizada. 
[...]
47. Assim, considerando que esta Corte de Contas privilegia a aplicação da verdade 
material em suas decisões, especialmente quando se trata da aplicação de pena ao 
gestor por irregularidade nas contas; e considerando, também, que os valores envolvidos 
no fracionamento de despesa são de baixa materialidade; compreende-se que, diante da 
análise dos fatos novos trazidos aos autos, seria rigoroso rejeitar as razões de justificativas 
apresentadas pelos responsáveis e julgar irregulares as contas, com a consequente 
aplicação de multa. (TCU, Acórdão n. 5.341/2011. Relator: Min. Ubiratan Aguiar. Data de 
julgamento: 05 jul. 2011).11
4.4 Outros tribunais de contas estaduais
Também é possível encontrar decisões de outros tribunais de contas pátrios aplicando o princípio 
da verdade material.
Vejamos o seguinte trecho de decisão do Tribunal de Contas do Estado do Mato Grosso:
Com fundamento no art. 140, § 1º, da Resolução n. 14/2007, em considerar revel o Sr. 
Geraldo Martins da Silva, Prefeito Municipal de Vale de São Domingos, no exercício de 
2010.
Após, considerando que o trâmite do feito deve ter o seu prosseguimento normal, 
determino que os autos sejam encaminhados à Secex para, em sintonia com o Princípio 
da Verdade Material, verificar o mérito da representação que está pendente de apreciação 
com base nos documentos que instruem os autos (TCEMT. Processo n. 22.508-8/2010. 
Data do julgamento: 4 mar. 2011).
11 Também aplicando o princípio em tela: Acórdão n. 2.099/2011 (rel. Min. Marcos Bemquerer Costa, data do julgamento: 
10/08/2011) e Acórdão n. 1.455/2011 (rel. Min. Raimundo Carreiro, data de julgamento: 01/06/2011).
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Destaca-se a seguinte notícia encontrada também no site do TCEMT, sobre decisão proferida pelo 
Conselheiro Alencar Soares, durante Sessão do dia 19/08/08:
O denunciante, em sua peça exordial, delatou sobre eventual impertinência do critério de 
julgamento “técnica e preço” para licitação de contratação de serviços na área de limpeza 
pública, bem como supostas imprecisões e contradições presentes no Edital. Ao analisar 
o edital de Concorrência n. 02/2008, bem como a minuta do contrato, a equipe técnica 
constatou que os fatos delatados não possuem procedência.
Contudo, em consonância às atribuições constitucionais de fiscalização conferidas aos 
Tribunais de Contas, o exercício do controle externo não deve se restringir somente aos 
fatos denunciados, mas também ser desempenhado em toda a sua amplitude apurando 
outras possíveis irregularidades, sob o aspecto da legalidade, legitimidade, economicidade, 
moralidade, eficácia, eficiência e efetividade.
A atividade processual do denunciante é meramente subsidiária em virtude dos direitos 
envolvidos no processo administrativo ser matéria de ordem pública. Na busca da verdade 
material, o Tribunal de Contas promove a produção de outras provas por impulso 
oficial, respeitando sempre o direito ao contraditório e à ampla defesa do denunciado.
Nesse diapasão, a equipe técnica deste Tribunal concluiu, após a análise da defesa, 
pela existência de fatos comprobatórios de duas irregularidades no procedimento da 
Concorrência Pública n. 02/2008, [...].12 
O Tribunal de Contas do Estado de São Paulo também aplica o princípio:
A Egrégia Câmara conheceu do recurso ordinário, bem como das razões complementares 
juntadas aos autos, por terem ingressado dentro do prazo regimental e tendo em vista 
a prevalência do interesse publico na satisfação da justiça administrativa e, ainda, os 
princípios da verdade material e do formalismo moderado que regem os processos 
administrativos (Processo n. 380/009/97. DOE, 17 mar. 1999).
No mesmo sentido encontra-se a seguinte decisão do Tribunal de Contas do Estado de Pernambuco:
EMENTA: Recurso acolhido por ter sido interposto em tempo hábil. No mérito, não 
provido. Anuladas as Decisões T.C. n.s 0512/98 e 0019/00.
[...] ACORDAM, à unanimidade, os Conselheiros do Tribunal de Contas do Estado, nos 
termos do voto do Relator, que integra a presente decisão,
[...]
CONSIDERANDO que o controle externo autônomo, exercido pelos Tribunais de Contas, 
exige a busca da verdade material, forcejando-se, inclusive, reabertura de procedimentos 
quando alguns aspectos escapam de seus controles; 
[...]
Em CONHECER o presente recurso, e, no mérito, negar-lhe provimento por não encontrar 
sustentáculo na legislação vigente. E, desde que fato novo ocorreu não contemplado em 
julgamento por este Tribunal, não se permitindo a Reformatio in Pejus, e, também, na busca 
da verdade material, bem como visando ao cumprimento do princípio do contraditório e 
da ampla defesa, a decisão vergastada deve ser anulada em toda sua extensão, [...] (Acórdão 
TC n. 1799/01. Relator: Cons. Roldão Joaquim. Sessão de 24/10/01). (grifo nosso).
12 Disponível em: <http://www.tce.mt.gov.br/conteudo/show/sid/73/cid/5037/t/Den%FAncia+contra+Prefeitura+de+Cuiab%E1+
%E9+julgada+improcedente>. Acesso em 25 jan. 12.
A APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA VERDADE MATERIAL NAS DECISÕES 
DO TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DE MINAS GERAIS
238
5 APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA VERDADE MATERIAL NOS PROCESSOS DO 
TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Antes de analisar decisões do TCEMG, faz-se importante mencionar que o princípio da verdade 
material é mais do que uma norma implícita. O Regimento Interno do Tribunal (Resolução n. 
12/2008) possui disposição expressa sobre a aplicação do princípio em estudo: “Art. 104. No âmbito 
do Tribunal, além dos princípios gerais que regem o processo civil e administrativo, deverão ser 
observados os princípios da oficialidade e da verdade material.”
Em consonância com o dispositivo acima, as decisões proferidas pela Corte de Contas mineira 
refletem a busca pela verdade material.
Na sessão da Segunda Câmara do dia 11/02/10, o Auditor Hamilton Coelho, relator do Processo 
Administrativo n. 675.983, aplicou o princípio da verdade material para conhecer de razões de 
defesa e asseverar que a emissão de parecer prévio não impede que o Tribunal continue com sua 
capacidade investigatória. Vejamos um trecho da proposta de voto:
Finalmente, convém não olvidar que o estudo das contas ofertadas compreende a gestão 
como um todo, e não o exame individual de cada ato praticado pelo administrador 
no período. Dessa forma, a emissão de parecer prévio nestes autos não impede que 
se proceda a nova análise, em razão de irregularidades verificadas em inspeção ou 
denunciadas, tendo em vista os princípios da verdade material e da prevalência e 
indisponibilidade do interesse público, e diante da indeclinável competência da Corte 
de Contas na busca da máxima efetividadeno cumprimento das normas constitucionais 
aplicáveis à espécie (Segunda Câmara. Prestação de Contas Municipal n. 749.536. Relator: 
Auditor Hamilton Coelho. Sessão de 10/06/10). (grifo nosso).
Mais uma decisão da Segunda Câmara que tem como relator o Auditor Hamilton Coelho e aplica 
o princípio da verdade material é a da Prestação de Contas Municipal n. 781.887. Essa decisão foi 
publicada no Informativo de Jurisprudência do TCEMG n. 29 (26 jul./8 ago./2010) e na Revista do 
TCE.13
No mesmo sentido, encontra-se a decisão proferida no Processo Administrativo n. 675.166 
(relator Auditor Hamilton Coelho, Sessão da Segunda Câmara de 27/05/2010). O Conselheiro 
Eduardo Carone Costa possui decisão que transcreve trecho desse processo administrativo 
mencionado, trecho este que traz explícita a aplicação do princípio da verdade material 
(Tribunal Pleno. Recurso de Revisão n. 684.782. Relator: Cons. Eduardo Carone Costa. Sessão 
de 29/09/10).
A Primeira Câmara do TCEMG possui decisão em que o Tribunal lida com direitos indisponíveis e 
se pauta pelo princípio da verdade material, como exposto pelo Auditor Licurgo Mourão:
[...] O processo de contas, entretanto, tem compleição muito diversa da lide entre dois 
ou mais particulares levada à apreciação do juízo civil ou trabalhista. Aqui, não há “parte 
interessada” ou Parquet a quem caiba promover o andamento do processo, e a atividade de 
controle externo não constitui direito, mas poder-dever, de fundo constitucional, atribuído 
às Cortes de Contas. Da já mencionada compilação de estudos do TCU, extrai-se, muito 
a propósito, ponderação acerca do formalismo moderado que deve guiar o processo de 
13 Minas Gerais. Tribunal de Contas do Estado. Segunda Câmara. Prestação de Contas Municipal n. 781.887. Rel. Auditor Hamilton 
Coelho, sessão de 05/08/2010. Aplicação do princípio da verdade material possibilita emissão de parecer pela aprovação das contas 
do município — Prestação de contas municipal n. 781.887. Rel. Auditor Hamilton Coelho. Belo Horizonte, voto de 05/08/10. 
Revista do Tribunal de Contas de Minas Gerais. Belo Horizonte, v. 77, n. 4, p. 246-250, out./dez. 2010.
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contas, visto que lida com direitos indisponíveis e se pauta pelo princípio da verdade 
material: [...]. (Primeira Câmara. Processo Administrativo n. 603.450. Relator: Auditor 
Licurgo Mourão. Sessão de 01/06/10).
O Conselheiro substituto Gilberto Diniz aplica expressamente o princípio para determinar a 
remessa ao Tribunal de determinados documentos:
Preliminarmente, considerando que as divergências entre os sistemas SIACE/PCA 
x SIACE/LRF permanecem, que a teor do despacho a fls. 24 o pedido de substituição 
de dados formulado pelo Sr. Aécio Silva Jardim, atual Prefeito Municipal de Araçuaí, 
visando sanar tais divergências seria analisado depois de transcorrido o prazo de vista ao 
prestador, juntamente com as razões de defesa, que ainda não houve retorno desta Casa ao 
pedido de substituição e que a mídia (CD a fls. 121) encaminhada pelo prestador quando 
do atendimento à abertura de vista não continha dados, embora não altere o exame da 
prestação de contas, pois se trata de diferenças de R$8,88 no Total da Receita Arrecadada 
e da Receita Corrente Líquida, de R$328,89 nas Operações de Crédito e de R$0,05 e 
R$145,33 nas contas Caixa e Bancos Conta Movimento/Aplicação Financeira, determino, 
em homenagem ao princípio da verdade material, cuja observância está insculpida no 
art. 103 da Resolução TC 12/08 (RITCEMG), deve o atual gestor encaminhar a esta 
Corte de Contas mídia contendo a PCA substituta para atualização do banco de dados 
do Tribunal e saneamento das sobreditas divergências. (Primeira Câmara, Prestação de 
Contas Municipal n. 782.511. Relator: Conselheiro em exercício Gilberto Diniz. Sessão de 
18/05/10). (grifo nosso).
Em processo administrativo, o Conselheiro Antônio Carlos Andrada posicionou-se pela análise da 
defesa apresentada tendo em vista a busca da verdade material:
Pela análise dos autos, restaram configurados os seguintes apontamentos, os quais passo 
a examinar:
[...]
2) Contratações realizadas mediante procedimentos licitatórios irregularmente praticados. 
Apontamentos em desacordo com a Lei n. 8.666/93: 
a) Não consta do processo a minuta do contrato, art. 40, § 2º, III; 
b) Ausência de parecer jurídico aprovando as minutas, art. 38, parágrafo único; 
c) Ausência de parecer jurídico sobre o certame, art. 38, VI. 
Defesa: O Sr. Ariosvaldo Figueiredo Santos Filho apresentou documentos e alegações 
quanto aos apontamentos apurados. Desse modo visando à verdade material, passo a 
análise da defesa apresentada. 
O Sr. Ariosvaldo Figueiredo Santos Filho alegou, quanto ao item “a”, que o pregão é regido 
pela Lei n. 10.520/02, sendo a Lei n. 8.666/93 subsidiária. Sustenta que é ato discricionário 
da Administração fazer constar ou não a minuta contratual, ponderando que o responsável 
pelo setor assinou o contrato, proporcionando tutela jurídica ao processo.
Quanto ao item “b”, disse não haver necessidade do parecer jurídico, já que o processo foi 
acompanhado por um advogado responsável. 
Quanto ao item “c”, alegou que o responsável jurídico homologou o certame. 
Análise: Não procedem as alegações. (Primeira Câmara. Processo Administrativo n. 
743.539. Relator: Cons. Antônio Carlos Andrada. Sessão de 24/08/10). (grifo nosso).
A APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA VERDADE MATERIAL NAS DECISÕES 
DO TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DE MINAS GERAIS
240
Percebe-se que, em consonância com o art. 104 do RITCEMG, é amplamente aplicado o princípio 
da verdade material nos processos da Corte de Contas. 
Afinal, se o Tribunal de Contas tem por finalidade alcançar verdadeiramente o interesse público 
fixado na lei, ele somente poderá fazê-lo buscando a verdade incontestável, sem se satisfazer com a 
verdade formal. Apenas por meio da verdade material as cortes de contas podem atingir o interesse 
público substantivo. 
6 CONCLUSÃO 
O presente estudo demonstrou que o princípio da verdade material encontra ampla aplicação 
na doutrina e na jurisprudência pátria. Em especial, as decisões proferidas pela Corte de 
Contas mineira refletem a utilização do princípio da verdade material na busca da efetiva 
fiscalização da gestão da verba pública. O TCEMG, tendo em vista a indisponibilidade do 
interesse público, tem ampliado a sua competência investigatória. Trata-se de uma atuação 
que, longe de violar a segurança jurídica, assegura que suas decisões reflitam uma maior 
aproximação com a realidade.
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