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FORMAÇÃO SOCIOCULTURAL E ÉTICA I

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F O R M A Ç Ã O S O C I O C U L T U R A L E É T I C A I 
O L Á ! S E J A M U I T O B E M - V I N D O ( A ) 
I N T R O D U Ç Ã O 
Olá, estudante! 
Estamos aqui para apresentar a você o material da disciplina Formação 
Sociocultural e Ética I. Ao falar sobre este material, é preciso também falar sobre a 
disciplina. 
Talvez, alguns questionamentos passem por sua mente neste momento: que 
disciplina é essa? Por qual motivo ela está na matriz curricular do meu curso e preciso 
estudá-la? 
Pois bem, esclarecer essas questões e fazer com que você compreenda a 
importância da disciplina é um dos nossos principais objetivos. Assim, peço que 
continue sua leitura para que, juntos, cheguemos a conclusões importantes! 
De início, quero convidar você para uma breve experiência. Imagine a seguinte 
situação: você está em uma entrevista de trabalho e além de apresentar seu currículo, ela 
é fundamental para a vaga que você pretende. Nessa entrevista, a organização quer 
checar algumas competências comportamentais dos candidatos e, por esse motivo, você 
precisará apresentar sua habilidade de comunicação e conhecimentos gerais, 
apresentando um texto sobre política. E agora? Como você se comportará para 
desenvolver um texto e expor considerações e argumentos acerca da política? Como 
você se sairia nessa prova? 
Sobre tal experiência, é importante compreender que ela será cada vez mais 
comum no mercado de trabalho, e a chance de realmente vivenciar uma situação como 
essa é muito grande. Assim, é preciso que os estudantes estejam preparados não apenas 
para situações de aprendizagem de sua área de formação e para o exercício técnico dela, 
mas também precisam ir além disso. 
No decorrer do seu curso, você terá contato com Formação Sociocultural e Ética 
I (FSCE I) e Formação Sociocultural e Ética II (FSCE II). Elas são consideradas 
disciplinas de formação geral e, independentemente da área de formação, integram as 
matrizes dos cursos ofertados pela UniCesumar. 
Sobre isso, é preciso esclarecer que o Ensino Superior, no Brasil, tem finalidades 
bem delimitadas pela LDB – nossa lei de diretrizes e bases da educação brasileira. 
Nesse sentido, justifica-se a oferta das disciplinas considerando, especialmente, o artigo 
43, que trata a respeito da finalidade desse nível de ensino em nosso país: 
Art. 43. A educação superior tem por finalidade: I - estimular a criação cultural 
e o desenvolvimento do espírito científico e do pensamento reflexivo; II - formar 
diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores 
profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e 
colaborar na sua formação contínua; III - incentivar o trabalho de pesquisa e 
investigação científica, visando o desenvolvimento da ciência e da tecnologia e da 
criação e difusão da cultura, e, desse modo, desenvolver o entendimento do homem e do 
meio em que vive; IV - promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e 
técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do 
ensino, de publicações ou de outras formas de comunicação; V - suscitar o desejo 
permanente de aperfeiçoamento cultural e profissional e possibilitar a correspondente 
concretização, integrando os conhecimentos que vão sendo adquiridos numa estrutura 
intelectual sistematizadora do conhecimento de cada geração; VI - estimular o 
conhecimento dos problemas do mundo presente, em particular os nacionais e 
regionais, prestar serviços especializados à comunidade e estabelecer com esta uma 
relação de reciprocidade; VII - promover a extensão, aberta à participação da 
população, visando à difusão das conquistas e benefícios resultantes da criação 
cultural e da pesquisa científica e tecnológica geradas na instituição. 
Uma rápida análise de todos os itens que compõem tal artigo, faz-nos 
compreender a amplitude da formação no Ensino Superior e a relevância de disciplinas 
de formação geral, justificando, então, a oferta de disciplinas como FSCE I e FSCE II. 
Além da formação geral, essas disciplinas também estão relacionadas aos pilares 
institucionais, ou seja, ao pilar espiritual, ao pilar intelectual, ao pilar profissional e ao 
pilar emocional estabelecidos como bases para a missão da UniCesumar enquanto 
instituição de educação. 
Com a análise da figura que segue, é possível compreender a relação entre os 
pilares e o desenvolvimento que se almeja para os estudantes: 
 
Diante do exposto, a disciplina FSCE I visa apresentar conteúdos de formação 
geral, organizados a partir das seguintes temáticas: 
o Política; 
o Interesse social; 
o Linguagens, comunicação e interação. 
Assim, este material contará com conceitos basilares sobre os temas descritos, 
bem como com textos diversificados que tratam sobre suas respectivas temáticas de 
forma a fortalecer o conhecimento dos estudantes a respeito de conhecimentos gerais e, 
ainda, para que sua formação cidadã seja continuamente trabalhada do ponto de vista 
social e ético. Cabe esclarecer que não será estudada a ética propriamente dita, mas sim 
como considerar social e eticamente uma série de temas transversais da sociedade em 
que estamos inseridos. 
Diante do exposto, convidamos você para uma imersão em nosso material que 
aqui se apresenta! Vamos lá? 
POLÍTICA 
Unidade 1 - Dr. Tiago Valenciano Previatto Amaral 
 
 
I N T E R E S S E S O C I A L – É T I C A , D E M O C R A C I A E 
C I D A D A N I A 
Unidade 2 - Dr. Éder Rodrigo Gimenes 
 
 
 
 
https://conteudoava.unicesumar.edu.br/arquivos/material-digital/2bdffd753344f62d3bf169f1c8121b10df8697356bd3b78e657e0809ed3f93ebdbc309213e41888082720e4668d96777e8eb1bcff67a09a347dae0b91a3d0910/unidade2.html
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L I N G U A G E M , C O M U N I C A Ç Ã O E I N T E R A Ç Ã O 
Unidade 3 - Pós-Dr. Diego Luiz Miiller Fascina 
 
ATUALIDADES 
Unidade 4 - Me. Fabiane Carniel 
 
 
 
P R Á T I C A S E E X P E R I Ê N C I A S 
Unidade 5 - Me. Fabiane Carniel 
 
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P O L Í T I C A 
Unidade 1 
A P O L Í T I C A E S E U C A M P O P R Ó P R I O : C O M O 
E N T E N D Ê - L A ? 
É normal que as pessoas questionem como funciona a política e como fazer para 
entendê-la. Comumente, o cidadão tem dificuldade para compreender o cotidiano da 
política, isto é, quais são as ações rotineiras que vão influenciar a vida das pessoas, 
como o valor dos impostos, a contrapartida do Estado em realizar obras e 
aperfeiçoamentos na administração pública, o preço do combustível, do arroz, do feijão, 
da água, entre outros. Tudo isto fica ainda mais complicado quando falamos de 
corrupção, desvios de verbas públicas e a possível “mordomia” que os políticos 
brasileiros, em geral, têm. Contudo, de fato, o que eu, um simples cidadão brasileiro, 
tenho que fazer para conhecer a política? Existe algum curso específico para melhor 
entendê-la? Só de acompanhar o noticiário eu consigo captar as discussões que passam 
na política? São essas e outras perguntas que pretendemos responder neste tópico, a fim 
de facilitar a compreensão daquela que é uma arte, uma ciência e uma paixão. 
 
ARTE 
 
CIÊNCIA 
 
PAIXÃO 
Antes de continuarmos a falar sobre a política, advertimos a você, acadêmico, 
que é importante fazermos um exercício simples e didático para melhor entender o jogo 
de interesses e poder que se convencionou creditar a ela: afastar os preconceitos, isto é, 
esquecer tudo (ou quase tudo!) aquilo que você ouviu falar sobre o termo. Vemos em 
nossos dias que o próprio preconceito está na pauta política, e muita energia de nossos 
governantes e representantes é gasta em torno de uma sociedade menos preconceituosa. 
Se isto é exigido dos nossos governantes, também é exigido de qualquer um que queira 
ser uma pessoa letrada politicamente. Essa tática era empregada por Émile Durkheim 
(1858-1917), sempre argumentando que a boa sociologia era feita por aqueles que 
“puramente” pretendiam conhecer a sociedade, esquecendo os conceitos prévios sobre 
determinados assuntos e reaprendendo-os. É esta ideia que proponho aqui: vamos 
afastar os preconceitos e as prenoções e passar a conhecer a política por ela mesma, sem 
misturarmos conceitos já formados ou opiniões pessoais, da mídia, da família e de 
amigos de que “a política é sempre a mesma coisa” ou “os políticos são todos iguais”, 
por exemplo. Então, vamos lá? 
Contudo, como dissemos anteriormente: devemos esquecer quase tudo para 
iniciar nossa caminhada ao labirinto da política. Um dos textos mais evocados ao se 
tratar de política (e que busca chamar a atenção sobre a necessidade da política) é O 
analfabeto político, do teatrólogo alemão Bertolt Brecht (1898-1956). Brecht afirma 
que o pior analfabeto é o político, que é aquele que não ouve, não fala e não participa 
dos acontecimentos políticos. Podemos pensar que o analfabeto político é aquele que 
não participa da política, mas não! O analfabeto político já é, por si, um analfabeto 
(ainda que letrado)! Antes da participação política, há a necessidade do entendimento 
sobre ela. Uma ação autônoma, na qual o indivíduo seja um sujeito (e não se torne 
sujeito) demanda, necessariamente, do seu entendimento prévio, e no caso da política, 
esse entendimento deve ser absolutamente estratégico. Afinal, falamos, aqui, de poder e 
seus jogos. 
 
Chegamos, então, a uma terceira lição: a desconfiança. Aprender política 
envolve muito mais que decifrar palavras, muito mais que recitar fatos históricos e suas 
datas. Falamos, aqui, da necessidade do homem refletir sobre os rumos de sua vida em 
sociedade, e não apenas confiar no que lhe é dito. Geralmente, deparamo-nos com 
algumas situações em nossa vida familiar que são mal resolvidas no passado e que 
surgem como fantasmas em nossas vidas atuais, não é mesmo? Na política, a situação é 
muito semelhante, com a diferença que ela é muito mais complexa e com potencial 
quase que infinito nos rumos de nossas vidas. Sem falar que a política não é apenas feita 
de homens, em carne e osso, desejos e necessidades, mas também de grupos que 
possuem maior ou menor força, em torno de interesses que nós, em nossa vida 
cotidiana, sequer temos possibilidade de conhecer. Dessa forma, desconfie de tudo que 
se refere à política. Comece por este livro e busque outras fontes. 
Vamos tentar demonstrar essa lição: palavras, história e desconfiança. 
 
Se olharmos para o radical da palavra política, verificamos que esse termo vem 
do grego politikos, que significa assuntos relacionados a polis, isto é, aos modelos de 
cidade-estado da Grécia Antiga. É claro que as cidades mudaram muito do período em 
que o termo foi criado até os dias de hoje; mas, tanto as cidades-estado da Grécia quanto 
as cidades brasileiras têm os mesmos ingredientes para definirmos o que é a política e 
seus efeitos: povo, governantes e disputas em torno do poder do governo que somente a 
política pode proporcionar. Assim, se olharmos para essa explicação clássica em torno 
do radical do termo, conseguimos ver a primeira definição sobre a política, com os 
assuntos relacionados às cidades, ou seja, a forma de governar uma cidade (e daí as 
subdivisões de quem governa e como governa, questões clássicas da ciência política) e 
os problemas que as cidades atravessam ao longo do período em que os políticos estão 
no poder. 
De fato, essa explicação tem sua razão de existir. Quando 
questionamos um leigo sobre o assunto (a nossa posição no momento), a primeira ideia 
que vem à cabeça sobre política são os políticos, os que exercem um poder conferido 
para tratar dos assuntos relacionados ao Estado. Veja que política dá a noção de 
governo, de alguém que lidera um grupo de pessoas que vive nas cidades. Aí alguém 
pode questionar: "mas não há política no campo?" Claro que sim! Aos poucos vamos 
enxergar que ela aparece constantemente em nossas vidas, pelo sim ou pelo não – 
independentemente da nossa vontade, ela vai existir. Retomando, a figura mental sobre 
a política é constantemente a mesma: um político governando seus governados e uma 
pilha de problemas amontoados, que normalmente são direcionados aos políticos para 
que sejam resolvidos, na tentativa de alcançar a satisfação da população em relação a 
determinados assuntos. 
Com seu livro O Príncipe, Maquiavel passou a analisar o Estado moderno de 
um modo diferente, talvez muito mais pelas práticas adotadas pela classe política do que 
pelos autores do período, em alguns casos preocupados em idealizar algo que, na 
prática, não acontecia. A contribuição sobre a nossa “nova” definição de política é 
oriunda do entendimento da obra dele uma vez que a política pode também ser 
conceituada como a “arte de conquistar, manter e exercer o poder e o governo”. 
Aí começamos a diferenciar um pouco como os estudiosos pensam sobre a 
política. O primeiro destes pensamentos é a política como arte, a qual somente os 
habilidosos prosperam. Como toda arte, é necessário um dom especial – às vezes até 
mesmo “sobrenatural” – para que ela se materialize. O que se passa na cabeça do artista 
só se transforma em arte a partir do momento em que este a coloca em prática. E esta 
arte, a “arte da política”, não é tão fácil assim de ser efetuada, pois depende do 
relacionamento interpessoal, da condução de problemas específicos do campo político 
até as disputas de vaidade, muito comuns no contexto da política. Assim, o “artista da 
política” é alguém que possui esta habilidade de conduzir situações e tê-las sempre a seu 
favor, angariandosimpatizantes e transformando ideias em ações concretas, que, de 
alguma forma devem mudar a vida das pessoas. 
O segundo pensamento é ver a política como ciência. E é isto que um cientista 
político faz, uma profissão contemporânea e muito diferente. Afinal, o que estes 
profissionais estudam? A política enquanto ciência surgiu depois do estabelecimento 
das ciências sociais no campo de pesquisa, marcada, basicamente, pela filosofia e pela 
história até o início do século XIX, quando houve a percepção de que uma nova área de 
pesquisa necessitava surgir. A partir do início do século XX, a ciência política passou a 
analisar a política após o nascimento da Idade Moderna e, com esta área de atuação, 
profissionais se graduam para analisar os processos e sistemas políticos em vigência, 
sobretudo em relação aos políticos, partidos e eleições como um todo. No Brasil, a 
ciência política é recente, com o estabelecimento da área da década de 70 em diante e, 
sobretudo, com a efetivação dos trabalhos da ABCP – Associação Brasileira de Ciência 
Política, no início da década de 90. 
Contudo, é preciso ser um cientista político para conhecer tudo o que se passa na 
política? Preciso fazer um “cursinho” básico sobre a área para, então, ser um “expert” 
na política? A resposta tende a ser não. Um dos objetivos deste livro é este: aproximar a 
política (seja ela arte, ciência ou paixão) um pouco mais das pessoas. Assim, somente 
aqueles que desejam ingressar na carreira acadêmica – lecionando ou pesquisando – 
devem procurar estudar mais sobre a teoria e a prática política no Brasil e no mundo. 
Portanto, a política enquanto ciência é específica, mas auxilia a compreensão dos 
processos políticos que acontecem no dia a dia, objeto desta publicação e 
particularmente da vida de todos, de um modo que atinge o campo individual e 
universal. 
Dessa forma, a política é tratada como ciência, isto é, um campo específico do 
conhecimento direcionado à pesquisa e ao ensino sobre as maneiras de como a política 
se consolidou ao longo dos anos. Segundo o epistemólogo (aquele que estuda como o 
conhecimento é produzido) Gilles Gaston Granger, a ciência é “uma fonte 
sistematicamente organizada do pensamento objetivo”. Se unirmos essa definição de 
ciência à política, chegamos à conclusão do que faz a ciência política: explicar, de 
maneira organizada e objetiva, o que é, quando e como a política acontece (ou se 
manifesta) nos mais diversos espaços da sociedade – desde a um pequeno município a 
uma grande nação. Granger também diz que a ciência é “método de pensamento e 
ação”, algo muito familiar com a política, não? Ora, para se fazer política, é necessário 
pensar e agir. Uma das regras de ouro da política – aquela de ocupar um espaço 
determinado antes que alguém o faça – pode ser explicada a partir do pensamento e da 
ação: sem pensamento, baseado na razão, é impossível agir calculadamente para, 
posteriormente, alcançar os resultados esperados. É neste sentido, portanto, que um 
cientista político age: pesquisa, por meio de diversos materiais, para consolidar seu 
pensamento e, posteriormente, agir, publicando materiais, lecionando, prestando 
consultoria, isto é, fazendo ciência política. 
Nossa última parte da trilogia diz que a política também é paixão. Não deixa de 
ser. A paixão é um sentimento muito forte em relação a outra pessoa ou a um tema, por 
exemplo. E assim dividimos a paixão em duas ocasiões: sobre a política e a paixão 
política. A primeira, normalmente, é ocasionada pela própria atividade política, muito 
envolvente e, de fato, apaixonante. A partir dela, pode-se conhecer muitas pessoas, 
participar das mais variadas formas possíveis (como candidato; militante partidário, de 
uma causa ou bandeira; como fiscalizador do governo; como cidadão comum; entre 
outras), além de cada situação ser diferente uma da outra, exigindo uma habilidade no 
relacionamento interpessoal específica. A segunda é a mais preocupante e a que 
“vivenciamos” nas redes sociais, por exemplo: a paixão acerca de determinadas causas 
ou pessoas, que, muitas vezes “cega” o horizonte em relação a temas passíveis de 
solução, mas que o viés apaixonado não faz com que as pessoas enxerguem a resolução 
dos problemas, muitas vezes em defesa do seu ponto de vista (sempre o correto). 
Por hora, incluímos o governo nesta explicação porque é a ocasião em que mais 
visualizamos a prática política, isto é, nas ações: 
1) para a conquista do governo, como explicitado anteriormente; 
2) para a manutenção do governo: os projetos, programas, as propostas 
veiculadas durante a campanha, os servidores trabalhando, o cidadão que paga os 
impostos, enfim, o funcionamento em si que manterá o governo em pé; 
3) o exercício do poder em relação ao governo, algo complexo e que 
analisaremos na próxima seção deste livro. 
O fato é a impossibilidade de definirmos a política em poucas linhas ou páginas: 
cada autor a caracterizará de um modo peculiar – ainda que, em geral, ela tenha um 
corpo específico, as peculiaridades deste corpo serão conferidas por cada pessoa que 
decide estudá-la. Da mesma forma, cada pessoa envolvida na política a praticará 
seguindo suas convicções, sua razão ou, até mesmo, sua paixão, orientando-se para os 
assuntos pertinentes conforme seus procedimentos. Nosso objetivo, nesta primeira parte 
é, em linhas gerais, explicar – ou apontar caminhos – para a compreensão da política 
acadêmica (aquela – dos cientistas políticos) e a política do dia a dia, efetuada desde o 
cidadão comum até o Presidente da República, por exemplo. Há, como demonstramos, 
uma relação entre as duas: ainda que pareçam distantes, a teoria e a prática são 
interdependentes entre si e, por fim, a sentença que aprendemos vale para várias 
ocasiões do relacionamento humano: é muito difícil se livrar da política, pois ela se 
manifestará constantemente em nossas vidas. 
VAMOS FALAR DE POLITICA - PODCAST 
 
S I S T E M A D E G O V E R N O 
 
 
A forma de governo praticada no Brasil é a República Federativa. Falta definir 
então o que é um sistema de governo. Se olhássemos um computador, por exemplo, a 
forma de governo seria seu layout externo: tamanho, cor, tela, componentes externos. O 
sistema de governo são os programas e as funcionalidades que fazem com que o usuário 
utilize este computador: editor de texto, de tabelas, navegador de internet, enfim, aquilo 
que é manuseado pelas pessoas após a ativação da máquina. 
A forma é a cara do governo, ou seja, como o moldamos externamente – no caso 
brasileiro, a República. O sistema de governo diz respeito ao andamento interno do 
governo, aquilo que a maioria das pessoas não enxerga ao passar em frente de uma 
Prefeitura, Palácio do Governo ou todos aqueles prédios do centro político do país, a 
capital Brasília. Uma das missões desta unidade é, também, fazer com que as pessoas 
passem a olhar “de dentro” o que acontece na política brasileira – inclusive os seus 
bastidores, operado, na maioria das vezes, por políticos profissionais ou experts da área. 
Neste sentido, convém destacar que as formas de governo são consideradas, 
atualmente, entre a República e a Monarquia, e os sistemas de governo são distribuídos 
em duas modalidades mais conhecidas: o presidencialismo e o parlamentarismo. Essa 
discussão é recente na memória dos brasileiros quando o assunto forma e sistema de 
governo é tratado. Em 1993, houve um plebiscito para saber se o país seria republicano 
ou monarquista, presidencialista ou parlamentarista. Vejamos que caso a Monarquia 
ganhasse, a opção presidencialista estaria, automaticamente, descartada e o país teria um 
governo parlamentarista (uma vez que uma Monarquia Presidencialista é uma 
impossibilidade lógica). Caso vencesse a República (e foi o caso), o Brasil poderia ser 
parlamentarista ou presidencialista. Venceu a opção presidencialista, fortemente 
marcada na cultura políticanacional. No entanto, repare que em momentos de crise 
política, o debate do presidencialismo versus parlamentarismo retorna (ainda que 
timidamente). 
P R E S I D E N C I A L I S M O E P A R L A M E N T A R I S M O 
O presidencialismo é mais comum no Brasil – seja no governo ou nas 
instituições, as pessoas procuram o presidente, no sentido de que ele resolva os 
problemas. É comum que a política nacional seja discutida em torno do Presidente da 
República. A mesma situação acontece nas instituições: o cargo de Presidente é o mais 
cobiçado e sob ele recai a representação do organismo. Contudo, no que consiste o 
presidencialismo? Ora, a resposta praticamente foi dada: é um sistema de governo em 
que há uma pessoa exercendo o poder, por tempo determinado, exercendo as funções de 
chefe de Estado e de governo. 
E qual a diferença entre chefe de Estado e de governo? Para facilitar, podemos 
dizer que o chefe do Estado representa o país diplomaticamente, enquanto o chefe de 
governo executa, administra as ações do país. Não há necessariamente a 
correspondência entre chefe de Estado e de governo, isto é, que uma só pessoa possa 
exercer as duas funções. No entanto, em um sistema presidencialista, as funções 
normalmente convergem em uma pessoa. É o que acontece no Brasil: o Presidente 
representa o país em relação às demais nações e, ao mesmo tempo, administra as 
questões inerentes à política nacional. 
O presidencialismo tem cinco principais características, a saber: 
 
Há a separação entre os poderes. No Brasil, são três: Legislativo, Executivo e Judiciário. 
Na teoria, um poder não se intromete nos trabalhos do outro. 
 
 
 
Como dito, o Presidente exerce tanto a função de chefe do governo quanto chefe de 
Estado, na maioria dos casos. 
 
 
 
O chefe do Poder Executivo também é quem tem a figura de maior líder do Estado. 
 
 
 
 
Na condição de chefe de Estado, o Presidente é quem escolhe seus ministros, 
compondo, assim, a equipe que irá executar os projetos e as políticas públicas. 
 
 
 
 
O Presidente – também chefe do Poder Executivo, do governo e do Estado, é eleito 
direta (eleições em que as pessoas votam nos candidatos) ou indiretamente (eleito pelo 
voto de deputados, por exemplo) pelo povo, com um mandato delimitado em período. 
 
No presidencialismo, há ainda um Congresso Nacional, isto é, a reunião de 
representantes do povo responsáveis por levar as demandas da população ao Presidente, 
além de elaborar leis (no caso do parlamento) em caráter nacional. Esse congresso pode 
ser unicameral ou bicameral (caso brasileiro), existindo duas “assembleias” 
direcionando o Poder Legislativo: o Senado da República e a Câmara dos Deputados. 
Por outro lado, há o parlamentarismo, um sistema de governo destinado 
nitidamente ao protagonismo do parlamento à frente do poder. Neste sistema não existe 
uma clara separação entre o Poder Executivo e o Poder Legislativo, uma vez que o 
executivo depende diretamente da articulação do parlamento para governar. O papel de 
chefe de Estado e de governo também não é exercido, necessariamente, por uma mesma 
pessoa: enquanto o chefe de Estado normalmente desempenha um papel cerimonial 
frente ao país, o chefe de governo administra as responsabilidades políticas da nação. 
É evidente que cada um destes sistemas tem seus pontos positivos e negativos, à 
guisa de observação de cada autor, analista ou cidadão. No Brasil, tradicionalmente, o 
presidencialismo se mantém e, como dissemos, as pessoas já buscam a figura do 
presidente em todos os casos em que há a necessidade de uma liderança representar um 
segmento ou representar um corpo político. Portanto, é difícil apontar se o 
parlamentarismo daria certo ou não no país ou se o presidencialismo é um sistema 
viciado: apenas o teste empírico poderá resolver esta dúvida. 
S O B R E A D I V I S Ã O D E P O D E R E S 
A divisão do poder é um conceito geral do Direito Constitucional, um campo do 
conhecimento destinado a estudar e desenvolver teorias voltadas às constituições dos 
países, aprimorando cada vez mais estas que são os princípios gerais de cada Estado. 
Como dito, os Estados são personalidades jurídicas e a lei que dá a “cara do Estado” é a 
constituição. No Brasil a última promulgada é de 1988, com diversas pequenas reformas 
ao longo dos anos, mas que não muda seu jeito de ser. 
Esta divisão do poder também é conhecida como sistema de freios e contrapesos 
(checks and balances system), que visa garantir que um poder não interfira nas ações do 
outro e que existam freios para segurar os avanços de um poder sobre o outro e 
contrapesos, para que possíveis avanços também não tirem a essência de cada poder do 
lugar. Pasme você: talvez seja essa a explicação mais simples que se pode encontrar por 
aí. O fato é que este sistema funciona como se fosse uma gangorra – aquelas que as 
crianças de outrora brincam nos parquinhos: o ideal para não passar sustos ou não cair é 
que a gangorra fique centralizada, em um ângulo de 180 graus. A partir do momento em 
que há alguém mais pesado em uma das pontas da gangorra, esa penderá para o lado de 
quem tem mais quilos. O sistema de freios e contrapesos existe justamente para que o 
efeito da gangorra não aconteça e que cada poder cumpra seu papel. 
Esta divisão “partida” do poder foi proposta por alguns autores, como 
Aristóteles, John Locke e Jacques Rousseau. Mas o consagrado com o conceito foi 
Montesquieu (1689-1755), que era defensor da ideia de separar as atribuições do poder 
em três funções: 
1 – Legislativa: destinada a elaborar as leis que vão regular a vida em sociedade, 
além de fiscalizar os atos praticados pelo Poder Executivo; 
2 – Executiva: atua nos fins diretos da administração pública, executando os 
projetos voltados para melhorar a vida das pessoas. Além disso, é responsável pela 
arrecadação de dinheiro a partir de impostos, intervenção nos assuntos do Estado e 
organização do serviço público; 
3 – Judiciária: aplica ou revisa as normas jurídicas, no sentido de garantir a 
justiça, analisando disputas entre as pessoas, por exemplo. 
 
 
 
 
Este quadro nos auxilia a compreender melhor cada uma destas funções que o 
poder exerce: 
 
Pelo exposto, esta discussão quanto à divisão dos poderes é algo ainda não 
superado. Independentemente dos autores ou da nomenclatura dada, o fato é que 
existem três poderes fundamentando o Brasil. A missão dos próximos capítulos é 
explicar o funcionamento de cada um destes poderes, ou seja, o papel desempenhado na 
política. 
Antes, vale lembrar que estes três poderes estão dispostos da seguinte forma no 
Brasil:
 
Essa divisão entre os poderes expõe uma espécie de radiografia da estrutura do 
sistema político brasileiro. São três níveis fundamentais: municipal, estadual e nacional. 
Essas três esferas do poder demonstram como o sistema político brasileiro está disposto, 
ao mesmo tempo verticalizado (damos maior importância aos assuntos federais, por 
exemplo, talvez pela relevância do tamanho do país quando comparado a um município) 
e horizontal, pois todas essas esferas dependem uma das outras para o pleno 
funcionamento. 
 
Você conhece a Câmara do Deputados? 
Explore aqui 
Se há ou não uma divisão do poder, devemos ponderar de acordo com a 
explicação de cada autor: ele pode ser tanto único, concentrado e compartilhado por 
quem detém o poder ou partilhado, múltiplo, ao passo que cada agente exerce o poder 
em seu âmbito ou competência administrativa, por exemplo. O importante para nós, 
neste momento, é o seu conhecimento sobre estas possibilidades e, a partir disso, 
demonstrar a complexidade que o jogo político nos proporciona. 
 
 
 
Você sabe o que faz um vereador, o que faz um prefeito? Abaixo, a matéria do 
site Politize! demonstra as principais atribuições do cargo de vereador, o mais 
importante no âmbito municipal. Afinal, é ele quem aprova as leis, avaliaas ações 
elaboradas pela prefeitura e, sobretudo, fiscaliza as ações do Poder Executivo. Conheça: 
"E qual a principal função de um vereador? 
Como integrante do Poder Legislativo municipal, o vereador tem como função 
primordial representar os interesses da população perante o poder público. Esse é (ou 
pelo menos deveria ser) o objetivo final de uma pessoa escolhida como representante do 
povo. 
E como um vereador pode representar, na prática, os eleitores? Pode-se dizer que a 
atividade mais importante do dia a dia de um vereador é legislar." 
Fonte: www.politize.com.br 
Além disso, convido-o a acompanhar a Web Série "A Razão do Voto", a qual apresento 
https://artsandculture.google.com/streetview/hgFiI1u706j8bg?sv_lng=-47.86448575900744&sv_lat=-15.80008542854583&sv_h=152.39281049227606&sv_p=-5.171277345347576&sv_pid=FNnxOLtXwcsRgkhIUzj5uw&sv_z=1
https://www.politize.com.br/papel-do-vereador/
os principais temas das eleições municipais e que afetam diretamente o nosso cotidiano: 
Fonte: www.youtube.com 
 
R E F E R Ê N C I A S 
AZAMBUJA, D. Introdução à Ciência Polít ica . São Paulo: Globo, 
1994. 
BRASIL. Constitu ição (1988) . Cons t itu ição da República Federat iva do 
Brasi l : promulgada em 5 de outubro de 1988. 
CERQUEIRA, T. Direito eleitoral esquematizado . 2. ed. rev. e atual. 
São Paulo: Saraiva, 2012. 
DE CICCO, C. Teoria geral do Estado e ciência polít ica . 6. ed. rev. e 
atual . São Paulo: Editora Revis ta dos Tr ibunais, 2015. 
KELLY, P . O livro da política . São Paulo: Globo, 2013. 
MARINO, R. Entenda a política e o mude o Bras il : aprenda a polí tica 
e suas estruturas de forma fáci l. O Bras i l é tão bom quanto o seu voto. 
Brasí l ia: LGE, 2010. 
MARTINS, J. A.Corrupção . São Paulo: Globo , 2008. 
MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe . São Paulo: Hedra, 2009. 
NICOLAU, J. Sistemas eleitorais . 5 . ed . rev. e atual. Rio de Janeiro: 
Editora FGV, 2004. 
NICOLAU, J. Eleições no Bras il : do impér io aos dias atuais. Rio de 
Janeiro: Zahar , 2012. 
TEMER, M. Elementos de Direito Const itucional . 15 ed. São Paulo: 
Malheiros Editores, 2000. 
VALENCIANO, T. LEAL E SILVA, R. E. Política Bras ileira : como 
entender o funcionamento do Bras il . As torga: Editora Sahar, 2015. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
https://youtube.com/playlist?list=PLmvScUJgLtjjgA14TjNoU_FEnNo7dgxNt
I N T E R E S S E S O C I A L – É T I C A , D E M O C R A C I A E 
C I D A D A N I A 
 Unidade 2 
A vida em sociedade é pautada por múltiplas perspectivas, a partir das quais nos 
colocamos em interação com os demais, pensamos a nós mesmos e nossas atitudes e 
também nos relacionamos com as instituições. Assim, cada um de nós age de diferentes 
maneiras, a depender da situação em que nos encontramos: em casa, no trabalho, entre 
amigos, com relação aos estudos, em nosso planejamento para o futuro etc. Contudo, 
ainda que possamos assumir diversos papéis sociais – como filho, cônjuge, empregado, 
colega de trabalho, usuário de política pública ou eleitor, por exemplo – é pertinente 
considerar que nossos valores e modo de lidarmos com a sociedade, em geral, não se 
alteram. 
Os pilares da discussão desta unidade de estudo sobre questões de interesse 
social dizem respeito a temas de nosso cotidiano: ética, democracia e cidadania. Se, por 
um lado, podem parecer temas amplos e desconexos com seu processo de formação 
superior, por outro lado, trata-se de três pilares fundamentais à sua conformação como 
indivíduo que se coloca como agente ativo de transformações sociais e pode contribuir 
com a melhoria da vida em coletividade. 
Você conhece as definições de ética, de democracia e de cidadania? Saberia 
responder o que constitui ou caracteriza cada um dos conceitos e sua relação? E mais: 
Saberia responder os motivos pelos quais esses conceitos são importantes para qualquer 
pessoa? 
 
Perceba que essas perguntas dizem respeito a temas que todos nós deveríamos 
conhecer, mesmo que minimamente, uma vez que se referem a elementos que 
vivenciamos e impactam nossas vidas. Entretanto, por outro lado, não raras vezes, 
temos dificuldade em conceituar, especialmente as noções de ética e de cidadania, ainda 
que estejam intimamente relacionadas com a experiência democrática que vivenciamos. 
Ao abordar esses temas em salas de aula de graduação e de pós-graduação, é 
recorrente entre os alunos associá-los com desigualdades e com corrupção. Ainda que 
não se trate de associações incorretas acerca de nuances dessas relações, dizem respeito 
a aspectos negativos, os quais podemos enfrentar, em alguma medida, com 
conhecimento sobre esses temas e como se relacionam. 
Assim, nos parágrafos que seguem, vamos falar um pouco sobre alguns desses 
temas e seus conceitos. 
O que é ética? O que é democracia? O que é cidadania? Três termos, três 
conceitos com significados distintos e com aplicações intimamente relacionadas! Tendo 
em vista que a discussão em torno da temática de interesse social se desenvolve a partir 
desses pilares, iniciemos nossa exposição pela abordagem sobre a ética. 
A ética é um dos ramos de estudos da Filosofia – que se constitui como forma de 
conhecimento pautada pela busca da compreensão da vida social por meio do 
estabelecimento de relações entre a reflexão e a ação para o estabelecimento de práticas 
sociais ideais. Nesse sentido, tendo em vista que a Filosofia busca ensinar os indivíduos 
a pensar criticamente, a ética se coloca como um modo de organização racional do 
pensamento humano com vistas à promoção da prática social mais adequada à vida em 
coletividade (TIBURI, 2014). 
Ainda que seja mais corriqueiro ouvirmos falar sobre ética no âmbito de 
atuações profissionais – como a ética médica, a ética empresarial, a ética pública, a ética 
profissional etc. -, é necessário destacar que a prática ética se coloca a todos que vivem 
numa determinada sociedade, independentemente de ocupação profissional ou outros 
marcadores sociais, uma vez que o termo ética é de origem grega e remete a caráter, já 
que ethos diz respeito ao modo de ser de um indivíduo. 
 
Nesse sentido, a ética diz respeito aos preceitos sociais gerais para a vida em 
sociedade, de modo que o caráter dos habitantes de determinada comunidade seja 
balizado coletivamente, ou seja, para que haja preceitos partilhados pelo grupo a reger o 
funcionamento daquela sociedade. 
Isto posto, é necessário destacar que a ética corresponde à materialização da 
moral, que consiste numa construção coletiva de regras e normas sociais, que são 
reconhecidas e partilhadas pelos indivíduos de uma comunidade e, portanto, 
consideradas legítimas. A moral é, inevitavelmente, uma conformação de valores 
humanos, culturais, temporais e societais, o que significa que a base da ética existe em 
decorrência da vida da organização dos homens e leva em conta a maneira como eles se 
relacionam entre si e com o ambiente, sendo passível de variações ou distintas 
configurações – até mesmo conflitantes – tanto ao compararmos diferentes grupos 
sociais num dado momento quanto ao compararmos um mesmo agrupamento (ou 
alguns) em momentos diversos da História. Como a moralidade implica em obrigações, 
a ética determina modos de agir em coletividade. 
Nesse sentido, é pertinente destacar que a própria noção de ética se alterou ao 
longo dos séculos: na clássica sociedade grega, ser ético significava respeitar as leis e 
valores da pólis, incluída a restrição em termos de cidadania; no período medieval, a 
ética foi pautada pela intrínseca relação entre poder político e religião, uma vez que os 
Reis e a Igreja Católica determinavam os modos de convivência dos indivíduos segundo 
a metafísica e a preocupação com o respeito às hierarquias; na modernidade, agir 
eticamente implica lançar umolhar racional à sociedade e considerar a fragmentação ou 
multiculturalismo como parâmetro ético. 
[...] a ética se preocupa em como os homens devem ser e não em como eles 
efetivamente são! E, invocando antigos manuais, eu poderia acrescentar que a ética é o 
fundamento da regra moral, esta última sim, dedicada a responder à pergunta: “Como 
devo agir?” (EVANGELISTA, 2016, p. 8). 
Isto posto, a ética se coloca, portanto, como um comprometimento de cada 
indivíduo com relação aos demais, permeando e delimitando a vida em sociedade por 
meio de nossas ações, comportamentos, falas, posicionamentos e julgamentos. Assim, a 
ética implica em nossa responsabilidade com relação à vida coletiva e cotidiana e deve 
se pautar pela preocupação com a maneira correta ou adequada de nos portarmos, no 
sentido de que a liberdade e os direitos de cada um têm, no seu semelhante, o seu limite. 
Esse é, inclusive, o princípio básico da pactuação social para a vida em 
sociedade, definido por autores clássicos da Filosofia Política como contrato social: a 
vida em sociedade demandaria um conjunto de normas sociais a serem respeitadas pelos 
indivíduos, a fim de que a convivência fosse possível (HOBBES, 2000; LOCKE, 2001; 
ROUSSEAU, 1999; 2002). 
Para avançarmos aos demais conceitos relacionados à temática do interesse 
social, cabe ressaltar que as implicações da ética estão no campo de nossa consciência 
acerca da maneira como agimos racionalmente e com relação aos nossos sentimentos, 
assim como nas interações que desenvolvemos com outros em nossos espaços pessoais 
(familiares, amigos e relações afetivas) e sociais (como espaços escolares, laborais e 
comunitários – igreja, clube ou grupo desportivo, voluntariado etc.). 
 
Se me fosse solicitado que buscasse um único termo para tratar de ética na 
contemporaneidade, eu escolheria a palavra alteridade, cuja perspectiva de respeito às 
diferenças e olhar empático aprofundaremos à frente. Antes, contudo, cabe tratar do 
regime político em que a alteridade deve ser respeitada de maneira ampla: a democracia. 
As primeiras reflexões sistematizadas sobre o conceito de “democracia” se 
encontram nas discussões da teoria política clássica sobre formas de governo. Apesar de 
não negar a existência de sociedades democráticas anteriores à Grécia Antiga, o 
primeiro governo denominado “democrático” de que se tem registro e que se tornou 
referencial para o pensamento contemporâneo corresponde ao governo de Atenas. 
A concepção grega de democracia repudiava a ideia de representação como 
método democrático. A eleição de representantes era considerada como um método 
aristocrático, pois se tratava de uma seleção na qual os indivíduos teriam diferentes 
probabilidades de vencer, uma vez que possuíam capacidades diferentes. Os princípios 
democráticos estavam relacionados à participação igualitária. O método associado à 
democracia era, portanto, o sorteio, utilizado em Atenas para preencher os cargos que 
não exigissem capacitação ou experiência específicas, e o governo do povo se 
materializava na noção de igualdade política, que se manifestava em métodos nos quais 
preponderavam oportunidades igualitárias de exercer o poder político (MANIN, 1997). 
Não por acaso, a democracia era o governo de muitos, em contraste ao governo de 
poucos, chamado de aristocracia (ou de oligarquia, em sua forma degenerada). 
 
Se por um lado pode-se argumentar que o escopo da cidadania ateniense era 
muito restrito devido à exclusão de mulheres, escravos e estrangeiros das decisões 
públicas, por outro, o regime democrático, ateniense outorgava mais poder político à 
classe trabalhadora e aos pobres em comparação à versão contemporânea. O regime 
ateniense propiciava mais controle por parte da classe produtiva, uma vez que os 
problemas eram levados à esfera pública. 
Discutir democracia no âmbito da prática e da teoria política contemporâneas 
implica lidar com um evidente paradoxo: ao passo que a democracia é uma forma de 
governo valorizada como “positiva”, ela se distancia de seu conceito original, 
relacionado a participação popular direta. 
Embora haja diferentes perspectivas sobre a democracia, uma delas se sobrepôs 
às demais a ponto de o Ocidente considerá-la como única forma possível (HEYWOOD, 
2010), o liberal-pluralismo, projeto democrático baseado na existência de um conjunto 
de garantias legais, como as liberdades cidadãs, a competição eleitoral e a livre 
organização mediante grupos de pressão. 
Dentre os autores que defendem tal perspectiva democrática, há distinções 
expressivas: enquanto Schumpeter (1961) argumentava que a desigualdade política seria 
um aspecto natural da sociedade e que caberia aos indivíduos “comuns” limitarem sua 
atuação política ao momento de escolha de representantes (voto) porque as massas 
seriam incapazes de governar devido à sua irracionalidade inata, Dahl (1997) argumenta 
que uma poliarquia – regime real mais próximo de uma democracia – seria 
caracterizada pela fragmentação do poder político, o qual não está concentrado em 
apenas um grupo devido à dispersão dos variados recursos na sociedade, de modo que a 
igualdade política também se relaciona à distribuição do poder. Conforme pontuado por 
Albrecht (2019), dentre as demais vertentes da teoria democrática, a maioria consiste 
em alternativas a esse modelo. 
No geral, as teorias circundam, principalmente, três conceitos importantes no 
estudo da democracia: 
1) Representação 
2) Participação 
3) Deliberação 
Tais eixos podem auxiliar a compreensão acerca das semelhanças e diferenças 
entre teorias que servem de base para a construção de modelos de democracia e suas 
respectivas variações. Os regimes contemporâneos são, na verdade, mesclas de 
elementos pertencentes aos três eixos. 
A representação se caracteriza por ser indireta, com alguém que fala “em nome 
dos interesses” de outrem (GURZA LAVALLE; ISUNZA VERA, 2010). Uma 
representação democrática implica vínculo entre representante e representados, de modo 
que aquele tenha certa margem de liberdade para atuar, mas sem estar alheio aos anseios 
destes. Quando o representante age exclusivamente voltado aos próprios interesses, 
trata-se de uma representação não democrática ou de uma mera transferência de poder. 
Dessa forma, uma democracia representativa é um regime democrático cujas decisões 
públicas são tomadas predominantemente mediante mecanismos de representação. As 
eleições fazem parte desses mecanismos, mas não são suficientes para promover uma 
representação democrática, que exige certo controle por parte dos representados. Os 
atuais sistemas de representação são imperfeitos porque carecem de instrumentos de 
controle mais efetivos dos representados em relação aos representantes (MANIN; 
PRZEWORSKI; STOKES, 1999). A representação não democrática acentua a distância 
entre representantes e representados. 
A democracia deliberativa se pauta pela ideia de que a discussão é um 
mecanismo para encontrar soluções coletivas e suspender a influência das diferenças de 
poder. Nesse sentido, a deliberação também contribui para que os indivíduos 
transcendam seus interesses privados (YOUNG, 2006). 
Por sua vez, a democracia participativa está centrada, de maneira geral, em 
mecanismos de participação direta, em que o engajamento do cidadão se dá de forma 
não mediada. A crítica da democracia participativa à deliberativa reside no fato de que 
alguns problemas não podem ser solucionados em instituições, uma vez que elas 
reproduzem as desigualdades. Dessa forma, a inclusão formal não é suficiente, pois o 
acesso se restringe a determinados grupos que possuem recursos, como habilidades e 
posses econômicas. Assim, o eixo da “participação” salienta a importância de entender a 
democracia para além de seu aspecto institucional. 
Diante das explanações acerca dos conceitos de ética e democracia, você deve 
ter notado que o terceirotema de nosso eixo de discussão sobre interesse social foi 
mencionado mais de uma vez: a cidadania. Assim, cabem, agora, considerações sobre 
seu conceito. 
Na teoria constitucional moderna, cidadão é o indivíduo que tem um vínculo 
jurídico com o Estado. É o portador de direitos e deveres fixados por uma determinada 
estrutura legal (Constituição, leis) que lhe confere, ainda, a nacionalidade. Cidadão 
são, em tese, livres e iguais perante a lei, porém súditos do Estado. Nos regimes 
democráticos, entende-se que os cidadãos participaram ou aceitaram o pacto fundante 
da nação ou de uma nova ordem jurídica (BENEVIDES, 1994, p. 7). 
De acordo com a interpretação clássica de Marshall (1967) a partir da 
perspectiva da sociedade inglesa, o princípio de igualdade presente no conceito de 
cidadania seria tensionado, inevitavelmente, pelas desigualdades sociais existentes nas 
sociedades de classes, relacionadas ao funcionamento do capitalista estruturante do 
funcionamento de relações econômicas e, em alguma medida, até mesmo dos governos. 
Contudo, nos cabe destacar, a princípio, o primeiro “lado” desse conflito 
destacado pelo autor clássico: as noções de cidadania e de cidadão implicam no 
estabelecimento de condições de igualdade ou de busca para sua efetivação. Seguindo o 
critério ético de caráter, uma sociedade moralmente estruturada deveria ser balizada 
pela possibilidade de acesso semelhante de seus indivíduos a todas as oportunidades, 
especialmente se pensarmos o contexto democrático e a preocupação com o governo 
voltado ao atendimento das necessidades sociais da população. 
Em segundo lugar, quando nos debruçamos sobre as tensões geradas pela 
desigualdade de classes, deparamo-nos com argumentos clássicos de diversos autores: 
Maquiavel (1976) afirmou que o Estado é sempre um espaço de luta pela conquista ou 
manutenção do poder e que o governante deve valer-se de estratégias para manter sua 
condição, ainda que não atenda aos anseios da população; Marx (1983) destacou a luta 
entre as classes sociais – burguesia e proletariado – como inevitável para a superação da 
condição de desigualdade de distribuição de recursos e exploração da mão-de-obra; os 
autores do elitismo clássico, Michels (1982), Pareto (1984) e Mosca (1992), afirmaram 
que sempre haveria uma minoria organizada, denominada elite, capaz de ocupar os 
postos de poder e manter sua condição dominante com relação à maioria desorganizada 
por conta de múltiplas vontades e poucos recursos, o povo. 
 
Assim, a preocupação com a questão da cidadania não é recente, o que reforça a 
necessidade de refletirmos sobre esse tema de interesse social, uma vez que a 
preocupação de debates sobre aspectos socioculturais e éticos é, em parte, proporcionar 
a formação cidadã a você, em diálogo e para além dos conteúdos específicos de sua 
formação profissional. 
Entender, portanto, que a maneira como as sociedades atuais estão organizadas 
limita o exercício da cidadania implica em reconhecer que o parâmetro ético que 
deveria balizar as relações entre os indivíduos e com os governos e demais instituições 
tem falhado, mas, por outro lado, permite pensarmos sobre caminhos possíveis à 
superação ou redução dessas desigualdades no contexto democrático, em que 
instrumentos de representação, participação e deliberação se colocam como caminhos 
possíveis ao exercício da cidadania. 
A I D E N T I D A D E S O B A P E R S P E C T I V A 
C O M B I N A D A D E É T I C A , D E M O C R A C I A E 
C I D A D A N I A ( P O D C A S T ) 
Diante das considerações sobre ética, democracia e cidadania e da reflexão 
proposta acerca de suas influências (na primeira parte de nossa discussão) sobre a 
conformação de nossas identidades (no podcast), cabe uma explanação sobre a maneira 
como esses distintos elementos se organizam para conformar a vida social a qual todos 
integramos e se justifica a compreensão de conceitos como os tratados neste material. 
Nesse sentido, como tratamos nesta unidade de estudos da temática do interesse 
social, cabe tratarmos da questão da alteridade, que remete à maneira como nos 
posicionamos socialmente a partir das noções e da diferenciação entre “eu” e o “outro”. 
A ideia de alteridade está intimamente relacionada não apenas ao olhar para o outro, 
mas também a reconhecer o outro e a respeitar as diferenças identificadas, o que exige 
de cada um considerar dois aspectos: a compreensão sobre o que o outro pensa que faz e 
entende com relação aos símbolos e como eu interpreto a cultura e a interpretação do 
outro acerca de sua sociedade e/ou de suas práticas (LAPLANTINE, 2003; RIFIOTIS, 
2012; RECHENBERG, 2013; QUEIROZ; SOBREIRA, 2016). 
Esse modo de interpretação social, característico da Antropologia, é capaz de 
permitir, àqueles que conseguem se colocar em tal condição, a superação dos limites 
daquilo que, inicialmente, pressupõem que encontrarão ou terão que decodificar, pois as 
noções de “cotidiano” e “habitual” tendem a se reduzir conforme a percepção acerca do 
que é “normal” ou “natural” e se tornam questionamentos sobre como e/ou o quanto 
costumes, posturas, práticas e a formação intelectual do “outro” são tão pertinentes 
quanto a minha! 
Diante de tais inquietações, Rifiotis (2012) destaca que a experiência da 
alteridade, que aparentemente é fácil, revela-se complicada na prática, especialmente 
por conta de julgamentos e sensos que conformam nosso etnocentrismo, que remetem à 
avaliação de aspectos diversos a partir da cultura de quem julga, ou seja, minha 
percepção como métrica para balizar o quanto todas as demais são adequadas, corretas 
ou justificáveis. 
A necessidade de tomada de consciência por parte de cada um com relação ao 
etnocentrismo e à necessidade de estimular em si a prática da alteridade é salutar ao 
desenvolvimento das relações sociais, uma vez que a ética consiste no caráter coletivo e 
mutável de funcionamento mais adequado de uma sociedade; a democracia implica a 
conformação de arranjos sociais e políticos em que diferentes grupos sejam 
considerados para as tomadas de decisões e a cidadania só se efetiva plenamente quando 
os diferentes são tratados de maneira equânime ou se busca a redução de disparidades 
sociais. 
Refletindo acerca do funcionamento das sociedades na atualidade, Hall (2006) 
afirmou que as alterações nas estruturas e nos padrões culturais nos dias de hoje 
decorreriam de rupturas que gerariam fragmentações que permeiam as relações sociais 
como um todo. Se anteriormente as sociedades eram pensadas a partir de um centro de 
poder e que este perderia espaço apenas quando substituído por outro; na pós-
modernidade, a substituição se daria por uma pluralidade de centros de poder, 
fragmentados sem, necessariamente, um princípio articulador ou organizador único, 
bem como sem obrigatoriedade de causalidade ou explicação única. 
As sociedades contemporâneas ou pós-modernas, portanto, não poderiam ser 
tratadas como unificadas, delimitadas ou totais, sendo que aquelas de modernização 
tardia – fora do eixo dos países que estiveram à frente da Revolução Industrial nos 
séculos XVIII e XIX e dos Estados Unidos - produziriam ampla variedade de 
identidades aos indivíduos, as quais não se desintegram, não por unificação (unidade), 
mas porque os diferentes elementos e identidades podem, em certas circunstâncias, 
articular-se conjuntamente, ainda que seja parcial. 
Tal perspectiva nos permite inferir que Hall (2006) apresenta a noção de 
identidade na pós-modernidade como permeada por uma estrutura aberta, o que 
devemos considerar como positiva, já que a desarticulação de identidades fixas e 
estáveis do passado abre possibilidades a novas articulações, novos sujeitos, novas 
identidades e recomposições das estruturas de articulações – conforme destacado em 
nosso podcast. 
Eis o princípio do multiculturalismo, uma corrente interpretativa que se pauta 
pela defesade grupos que têm acesso restrito a diversas esferas de reconhecimento, 
especialmente no que tange aos direitos sociais e, portanto, aos interesses sociais, uma 
vez que articula elementos de ética, democracia e cidadania em seu conteúdo, 
especialmente ao focar em discussões atreladas à inclusão de grupos cujos valores são 
inferiorizados pela sociedade em que vivem. 
 
Considerando que o debate acerca da garantia de direitos sociais a grupos que 
deles são privados está intimamente relacionado à própria democracia. Identificamos 
em Miguel (2005) e Albrecht (2019) as principais contribuições do multiculturalismo 
para a teoria e a prática democrática, ética e pautada pela cidadania. 
Em primeiro lugar, cabe destacar que a perspectiva multiculturalista é positiva 
no contexto democrático por conta da possibilidade de valorização de grupos como 
agentes políticos, tendo em vista que se pautam pela manifestação de que direitos 
sociais lhes são devidos e carecem de atenção e atendimento. 
Segundo, a manifestação de insatisfação de grupos faz emergir a consideração 
em torno da necessidade de incluir políticas direcionadas a minorias, de caráter 
redistributivo e voltado àqueles que necessitam, especificamente, de determinado 
serviço ou recurso, reforçando o caráter ético coletivo de busca pelo atendimento de 
necessidades de distintos grupos e expande a noção de cidadãos à totalidade da 
população, independentemente de características sociais específicas. 
O terceiro ponto diz respeito à crítica ao ideal de imparcialidade que, muitas 
vezes, vigora, em que a elite política e econômica ocupa os postos de mando e trabalha 
para a manutenção de seu status quo, de modo que grupos menos favorecidos sequer 
tenham voz, não raras vezes, e que toda oportunidade de vocalizar demandas e 
necessidades deve ser aproveitada! 
Diante do exposto, é importante reafirmar que o multiculturalismo inclui os 
grupos como agentes na reflexão política, já que tais coletividades são entendidas não 
como mera agregação de indivíduos, mas como conjuntos de pessoas que compartilham 
uma identidade e lutam pela garantia de direitos sociais pertinentes a essa identidade. 
Aqui, cabe reforçar que essa identidade pode ser de diferentes naturezas, inclusive 
profissional! 
Nesse contexto, a representação específica de grupos estimularia a participação e 
o engajamento e revelaria a parcialidade das perspectivas politicamente predominantes 
ao trazer à deliberação compreensões diferentes. Conforme destaca Young (2006), no 
âmbito do poder político instituído, não se trataria de ter um parlamento totalmente 
“igual” à sociedade em termos numéricos, mas de conferir oportunidade para diferentes 
grupos se expressarem e terem suas perspectivas consideradas. Essa noção de 
vocalização de perspectivas, inclusive, é um dos principais aspectos democráticos do 
multiculturalismo, para além da esfera político-partidária relacionada aos cargos 
eletivos. 
O multiculturalismo traz, assim, uma reflexão sobre o próprio significado de 
democracia: constantemente associada à maioria, a democracia, em defesa do 
multiculturalismo, passa a ser vista como um regime protetor de minorias, constituída, 
não pelo aspecto numérico, mas pela posição que ocupa na sociedade em uma 
perspectiva relacional com relação à sua cidadania e aos direitos sociais. Assim, o 
multiculturalismo se opõe à ideia de que democracia é meramente um governo “do 
maior número”. 
Em se tratando dos principais marcadores sociais que marcam o contexto 
multiculturalista de enfrentamentos por direitos de minorias, Rifiotis (2012) – destaca 
quatro aspectos ou temáticas, quais sejam: 
 
O sexo se apresenta como um vetor biológico definidor, ainda que parcialmente, 
de modos de pensar, agir e sentir dentro da maioria das sociedades contemporâneas, as 
quais, em alguma medida, refletem a diferenciação entre homens e mulheres e suas 
ocupações e limites nos âmbitos público e privado (RIFIOTIS, 2012). Nesse sentido, 
uma desconstrução latente a ser enfrentada pela noção de alteridade é a determinação 
dos papéis sociais atribuídos a homens e mulheres no cuidado com o lar e a família (no 
âmbito privado), e sua capacidade de atuação no mercado de trabalho em geral, em 
cargos e funções hierarquicamente elevados e nos espaços da política (no âmbito 
público). 
O segundo marcador social relevante no contexto multicultural atual é a questão 
de classe social, critério que assume características econômicas e culturais, de maneira 
simultânea. Por um lado, remete à manutenção do domínio e da diferenciação social que 
perpetua uma elite política e econômica como ocupantes do poder, ao mesmo tempo 
que, por outro lado, dialoga com um discurso de meritocracia, pautado pelo argumento 
de que o esforço é a condição necessária para que todos alcancem seus objetivos. 
Considerando o impacto da qualidade do ensino sobre a possibilidade de alteração de 
classe social dos indivíduos, é pertinente considerar que uma sociedade mais ética e 
com valores de cidadania seria aquela em que a democracia defende a melhoria da 
educação pública e do acesso a essa educação. 
Com relação ao terceiro marcador social, a relação entre idade e geração, cabe 
destacar que enquanto idade remete à mera contagem de anos de vida, o conceito de 
geração remete às experiências e perspectivas que cada período da vida pode reservar 
aos indivíduos. Da mesma maneira, trata das necessidades individuais com as quais o 
Estado deve arcar para com o indivíduo. Isso significa que os jovens, por exemplo, 
fazem maior uso de equipamentos públicos de educação e esportes, bem como carecem 
de políticas de inserção no mercado de trabalho e de acesso ao ensino superior ou cursos 
técnicos para profissionalização. Por outro lado, àqueles em idade “produtiva” cabe a 
preocupação com a Previdência Social; e aos idosos cabe a maior utilização do Sistema 
Único de Saúde. Essa noção de geração, portanto, remete às experiências vivenciadas, 
de modo que as experiências que conformam as identidades dos indivíduos e sua 
relação com o caráter ético da vida em sociedade e sua cidadania diferem. 
 
Por fim, o quarto marcador social destacado por Rifiotis (2012) é a questão da 
etnia, indicador voltado à interpretação das relações existentes entre distintos grupos 
étnico-raciais, referentes aos quais é conhecida a diferenciação em termos de acesso a 
oportunidades e preconceitos, especialmente ao nos depararmos com a história do Brasil 
após a abolição da escravatura (1888) e a proclamação da república (1889). 
Sobre tal marcador, o autor chama atenção com a seguinte exposição: 
A desigualdade social no Brasil passa com certeza pelo marcador étnico. 
Porém, a questão atual está em compreender como se dá o “preconceito à brasileira” e 
como ele opera no nosso cotidiano. Neste campo entre desigualdade social e 
preconceito, há muito para fazer e muitos aspectos para analisar. E não se iluda, 
porque o mais difícil de ver é o óbvio. De fato, a questão envolve múltiplos aspectos da 
vida social (RIFIOTIS, 2012, p. 99). 
Contudo, para além da consideração sobre cada marcador em separado, é preciso 
ter em mente que se tratam de categorias analíticas, as quais podem apresentar-se 
isoladas ou de maneira conjunta na prática, uma vez que o multiculturalismo nos coloca 
o desafio de considerar a multiplicidade de aspectos conformadores das identidades 
individuais e pensarmos, de modo coletivo, sobre a prática ética e os direitos de 
cidadania. 
Para concluirmos nossa reflexão, cabem duas considerações acerca desses temas 
de interesse social. A primeira diz respeito à materialização da questão ética no contexto 
democrático por meio da cidadania em nível global: trata-se dos direitos humanos, que 
constituem as liberdades civis e políticas dos indivíduos ao redor de todo o mundo, 
conforme determina a ONU desde a Declaração Universal dos DireitosHumanos, 
assinada em 1948, por um conjunto de países que aceitaram princípios como: todos 
nascem livres e iguais em dignidade e direitos e devem permanecer iguais perante a lei; 
todos têm direito à vida e não devem ser submetidos à escravidão; todos devem ter 
direito à educação; devem ser respeitadas liberdades de opinião, de expressão e de 
manifestação de religião etc. Esses princípios devem nortear a formulação de leis em 
cada país. 
A segunda consideração, relacionada à primeira e específica para o caso 
brasileiro, diz respeito à Constituição Federal de 1988, vigente no país até o momento e 
internacionalmente conhecida como “Constituição cidadã”, por conta dos avanços em 
termos de determinação de igualdade de direitos a toda a população, garantia de direitos 
sociais por meio de políticas públicas e de liberdades de expressão, organização e 
manifestação, inclusive por meio de manifestações contestatórias ao funcionamento das 
instituições políticas que regem o governo e pela participação ampla dos cidadãos na 
formulação de políticas públicas, por meio de instituições participativas. 
A Organização das Nações Unidas definiu um conjunto de parâmetros para a 
melhor adequação do funcionamento das sociedades atuais por meio do estabelecimento 
da Agenda 2030, na qual foram firmados os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável 
(ODS), relacionados a três eixos práticos: a biosfera, a sociedade e a economia, 
conforme exposto na representação a seguir, extraída da página oficial do documento. 
 
www.agenda2030.com.br 
Conforme evidenciado na imagem, a maioria dos objetivos se encontra vinculada à 
sociedade, tratando-se, portanto, de aspectos relacionados ao interesse social e, nesse 
sentido, permeando as temáticas da ética, da democracia e da cidadania no contexto de 
vivência com alteridade e em respeito ao multiculturalismo. 
Seguem breves descrições dos ODS de interesse social também extraídas da página 
oficial da Agenda 2030. 
• Erradicação da pobreza: Acabar com a pobreza em todas as suas 
formas, em todos os lugares. 
http://www.agenda2030.com.br/os_ods/
• Fome zero e agricultura sustentável: Acabar com a fome, alcançar a 
segurança al imentar e melhor ia da nutr ição e promover a 
agr icul tura sus tentável . 
• Saúde e bem-estar: Assegurar uma vida saudável e promover o bem -
es tar para todos, em todas as idades . 
• Educação de qualidade: Assegurar a educação inclus iva e equitativa 
de qualidade, e promover oportunidades de aprendizagem ao 
longo da vida para todos. 
• Igualdade de gênero: Alcançar a igualdade de gênero e empoderar 
todas as mulheres e meninas . 
• Energia acessível e limpa: Assegurar o acesso conf iável , sustentável, 
moderno e a preço acess ível à energia para todos. 
• Cidades e comunidades sustentáveis: Tornar as cidades e os 
assentamentos humanos inclus ivos , seguros, res i l ientes e 
sustentáveis. 
• Paz, just iça e inst ituições ef icazes: Promover sociedades 
pacíf icas e inclusivas para o desenvolvimento sus tentável , 
proporcionar o acesso à jus t i ça para todos e cons truir ins ti tu ições 
ef icazes, responsáveis e inclus ivas em todos os níveis . 
 
 
 
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L I N G U A G E M , 
C O M U N I C A Ç Ã O E I N T E R A Ç Ã O 
Unidade 3 
O intuito da unidade 3, caro(a) estudante, é trazer algumas reflexões básicas a 
respeito de um assunto que se relaciona a todos nós, sujeitos humanos: a comunicação. 
Trata-se de um assunto que deveria ser acessível a todos, mas – sabe-se que, por 
inúmeras questões, isso não é possível. 
Assim, para iniciar a discussão aqui proposta, seguem alguns questionamentos: 
você sabia que a língua vai muito além das regras gramaticais? Sabia que ela é um 
organismo vivo e interfere muito em nossa vida? 
A falta de conhecimento entre linguagem e poder, os problemas no processo de 
comunicação e o desconhecimento da língua como organismo vivo acarretam inúmeros 
problemas em nossas práticas, desde as mais banais até as mais sofisticadas. 
Partindo dessa premissa, vamos pensar, mesmo que rapidamente, acerca dos 
conceitos de língua e linguagem, nos elementos que compõem os atos comunicativos, 
nas funções da linguagem e nas diferenças básicas existentes entre o texto literário e o 
texto não literário. 
L Í N G U A & L I N G U A G E M 
A língua é o meio de comunicação utilizado por todos os falantesde qualquer 
região do mundo. Muito mais do que isso, ela é, também, um objeto de poder. A 
Linguística – ciência que estuda as línguas – propõe inúmeras maneiras de se conceituar 
e compreender esse complexo tema. 
Exemplo de tipo de linguagem: 
 
 
 
Um conceito de cunho estruturalista vem de Ferdinand de Saussure (1970), 
considerado o pai da Linguística moderna. Para ele, a língua é um sistema de signos, 
isto é, um conjunto de unidades que relaciona um significante (imagem acústica) com 
um significado (conceito). A língua está na coletividade e se manifesta de duas formas: 
fala e escrita. Com base nessas duas manifestações é possível pensar na dimensão 
histórica da língua levando em consideração suas questões sociais. Fato é que a língua 
existe desde o começo do mundo, e quando nascemos já somos impostos a ela que, por 
sua vez, já está definida por seus usuários. De acordo com Saussure (1970, p. 34): 
Língua e escrita são dois sistemas distintos de signos; a única razão de ser do 
segundo é representar o primeiro; o objetivo linguístico não se define pela combinação 
da palavra escrita e da palavra falada; essa última, por si só, constitui tal objeto. Mas 
a palavra escrita se mistura tão intimamente com a palavra falada, da qual é a imagem, 
que acaba por usurpar-lhe o papel principal; terminamos por dar importância à 
representação do signo vocal do que ao próprio signo. É como se acreditássemos que, 
para conhecer uma pessoa, melhor fosse contemplar-lhe a fotografia do que o rosto. 
Saussure (1970, p. 24) complementa – afirmando que “a língua é um sistema de 
signos que exprimem ideias, e é comparável, por isso, à escrita, ao alfabeto dos surdos-
mudos, aos ritos simbólicos, às formas de polidez, aos sinais militares etc., etc. ela é 
apenas o principal desses sistemas”. É importante que fique claro que o interesse de 
Saussure estava focado no sistema e na forma da língua e não nos aspectos de sua 
realização na fala ou nos textos. Em outras palavras, em seus estudos, ele não se 
preocupava em analisar o uso da língua, embora ele nunca tenha “fechado as portas” 
para esse tipo de análise. 
 
Para Saussure, a linguagem, ao contrário da língua, sofre alterações: modificam-
se as palavras, novas expressões vão surgindo, o uso constante da língua permite 
comunicações distintas em diversas épocas e/ou situações. Para encerrarmos essa noção 
básica acerca da concepção estruturalista, entende-se que a linguagem advém da língua 
e não podemos confundir: a linguagem tem caráter individual e social e a língua possui 
caráter adquirido e convencional. 
Já uma concepção histórica, social e interativa põe em relevo a evolução da 
língua. Depois de muitos estudos e de revisões do pensamento saussureano, fica 
explícito que não é possível afirmar que a língua permanece a mesma, homogênea e 
intacta, depois de tantas evoluções históricas e sociais que ocorreram em todo o mundo 
desde os primórdios. 
Irandé Antunes (2009) – afirma que não é possível pensar em língua como 
objeto isolado, ao contrário: é preciso observar suas condições de uso. Assim sendo, 
essa concepção de língua pensa no fenômeno linguístico a partir de suas intenções 
sociocomunicativas, observando as interações existentes entre seus interlocutores, além 
dos efeitos de sentido, seus contextos de uso, deixando, dessa maneira, de ser um signo 
contido de significado e significante e um amontoado de regras normativas. A partir da 
quebra dessa visão estrutural, é possível entender toda a mobilidade da língua. Antunes 
(2009. p. 23) complementa: 
A língua é, assim, um grande ponto de encontro; de cada um de nós, com os 
nossos antepassados, com aqueles que, de qualquer forma, fizeram e fazem a nossa 
história. Nossa língua está embutida na trajetória de nossa memória coletiva. Daí o 
apego que sentimos à nossa língua, ao jeito de falar e nosso grupo. Esse apego é uma 
forma de selarmos nossa adesão a esse grupo. 
Na esteira dessas discussões, Marcos Bagno (2002) contribui para a presente 
discussão ao trazer, de modo clarificado, algumas definições da língua, conforme 
seguem: 
a) A língua apresenta uma organização interna sistemática que pode ser 
estudada cientificamente, mas ela não se reduz a um conjunto de regras de boa-
formação que podem ser determinadas de uma vez por todas como se fosse possível 
fazer cálculos de previsão infalível. As línguas naturais são dificilmente formalizáveis; 
b) A língua tem aspectos estáveis e instáveis, ou seja, ela é um sistema variável, 
indeterminado e não fixo. Portanto, a língua a apresenta sistematicidade e variação a 
um só tempo; 
c) A língua se determina por valores imanentes e transcendentes de modo que 
não pode ser estudada de forma autônoma, mas deve-se recorrer ao entorno e à 
situação nos mais variados contextos de uso. A língua é, pois, situada; 
d) A língua constrói-se com símbolos convencionais, parcialmente motivados, 
não aleatórios, mas arbitrários. A língua não é um fenômeno natural nem pode ser 
reduzida à realidade neurofisiológica; 
e) A língua não pode ser tida como um simples instrumento de representação do 
mundo como se dele fosse um espelho, pois ela é constitutiva da realidade. É muito 
mais um guia do que um espelho da realidade; 
f) A língua é uma atividade de natureza sócio-cognitiva, histórica e 
situacionalmente desenvolvida para promover a interação humana; 
g) A língua se dá e se manifesta em textos orais e escritos ordenados e 
estabilizados em gêneros textuais para uso das situações concretas; 
h) A língua não é transparente, mas opaca, o que permite a variabilidade de 
interpretação nos textos e faz da compreensão um fenômeno especial na relação entre 
os seres humanos; 
i) Linguagem, cultura, sociedade e experiência interagem de maneira intensa e 
variada não se podendo postular uma visão universal para as línguas particulares. 
As reflexões de Bagno fortalecem a compreensão da versatilidade da língua e a 
impossibilidade de estudá-la isoladamente, uma vez que ela é ferramenta de 
comunicação e de interação social entre os sujeitos falantes. Antunes (2009) afirma que 
língua e linguagem caminham e evoluem juntas, portanto, “linguagem, língua e cultura 
são, reiteramos, realidades indissociáveis”. 
Nessa mesma perspectiva, Celestina Sitya (1995) afirma que a linguagem possui 
várias funções, no entanto, destaca a importância da interação social, da comunicação 
entre os sujeitos. Ela afirma que sendo a linguagem uma forma de ação, ela “adentra-se 
nos campos da persuasão e do convencimento, porque a linguagem como meio de 
interação social é dotada de intencionalidade: seu fundamento está, pois, na 
argumentação que procura persuadir e convencer” (SITYA, 1995, p. 12). Isto quer dizer 
que a função primordial da linguagem é a argumentação, pois quem enuncia algo 
sempre tem em vista persuadir seu interlocutor. 
Ingedore Koch (1996, p. 17) propõe que a linguagem deve ser compreendida 
como forma de ação, isto é, “ação sobre o mundo dotada de intencionalidade, 
veiculadora de ideologia, caracterizando-se, portanto, pela argumentatividade”. Com 
base nessa afirmação, todas as relações, opiniões, interações que são construídas via 
linguagem são feitas não apenas para expressar algo, mas também para provocar alguma 
reação no outro. Dessa forma, fica explícito que tudo é intencional, mesmo que não 
tenhamos consciência disso. 
E L E M E N T O S D O A T O C O M U N I C A T I V O E F U N Ç Õ E S 
D A L I N G U A G E M 
Pensemos, a partir de agora, mais detalhadamente nas funções da linguagem. 
Para tal, acionaremos o modelo proposto por Roman Jakobson (2010), relido aqui por 
Mário Eduardo Martelotta (2008). 
Para Jakobson (2010), a linguagem possui várias funções, mas para que 
possamos apreendê-las, é preciso compreender os elementos que constituem o ato de 
comunicação. Observe o esquema a seguir: 
 
O esquema nos mostra que, para existir

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