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F O R M A Ç Ã O S O C I O C U L T U R A L E É T I C A I O L Á ! S E J A M U I T O B E M - V I N D O ( A ) I N T R O D U Ç Ã O Olá, estudante! Estamos aqui para apresentar a você o material da disciplina Formação Sociocultural e Ética I. Ao falar sobre este material, é preciso também falar sobre a disciplina. Talvez, alguns questionamentos passem por sua mente neste momento: que disciplina é essa? Por qual motivo ela está na matriz curricular do meu curso e preciso estudá-la? Pois bem, esclarecer essas questões e fazer com que você compreenda a importância da disciplina é um dos nossos principais objetivos. Assim, peço que continue sua leitura para que, juntos, cheguemos a conclusões importantes! De início, quero convidar você para uma breve experiência. Imagine a seguinte situação: você está em uma entrevista de trabalho e além de apresentar seu currículo, ela é fundamental para a vaga que você pretende. Nessa entrevista, a organização quer checar algumas competências comportamentais dos candidatos e, por esse motivo, você precisará apresentar sua habilidade de comunicação e conhecimentos gerais, apresentando um texto sobre política. E agora? Como você se comportará para desenvolver um texto e expor considerações e argumentos acerca da política? Como você se sairia nessa prova? Sobre tal experiência, é importante compreender que ela será cada vez mais comum no mercado de trabalho, e a chance de realmente vivenciar uma situação como essa é muito grande. Assim, é preciso que os estudantes estejam preparados não apenas para situações de aprendizagem de sua área de formação e para o exercício técnico dela, mas também precisam ir além disso. No decorrer do seu curso, você terá contato com Formação Sociocultural e Ética I (FSCE I) e Formação Sociocultural e Ética II (FSCE II). Elas são consideradas disciplinas de formação geral e, independentemente da área de formação, integram as matrizes dos cursos ofertados pela UniCesumar. Sobre isso, é preciso esclarecer que o Ensino Superior, no Brasil, tem finalidades bem delimitadas pela LDB – nossa lei de diretrizes e bases da educação brasileira. Nesse sentido, justifica-se a oferta das disciplinas considerando, especialmente, o artigo 43, que trata a respeito da finalidade desse nível de ensino em nosso país: Art. 43. A educação superior tem por finalidade: I - estimular a criação cultural e o desenvolvimento do espírito científico e do pensamento reflexivo; II - formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua; III - incentivar o trabalho de pesquisa e investigação científica, visando o desenvolvimento da ciência e da tecnologia e da criação e difusão da cultura, e, desse modo, desenvolver o entendimento do homem e do meio em que vive; IV - promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicações ou de outras formas de comunicação; V - suscitar o desejo permanente de aperfeiçoamento cultural e profissional e possibilitar a correspondente concretização, integrando os conhecimentos que vão sendo adquiridos numa estrutura intelectual sistematizadora do conhecimento de cada geração; VI - estimular o conhecimento dos problemas do mundo presente, em particular os nacionais e regionais, prestar serviços especializados à comunidade e estabelecer com esta uma relação de reciprocidade; VII - promover a extensão, aberta à participação da população, visando à difusão das conquistas e benefícios resultantes da criação cultural e da pesquisa científica e tecnológica geradas na instituição. Uma rápida análise de todos os itens que compõem tal artigo, faz-nos compreender a amplitude da formação no Ensino Superior e a relevância de disciplinas de formação geral, justificando, então, a oferta de disciplinas como FSCE I e FSCE II. Além da formação geral, essas disciplinas também estão relacionadas aos pilares institucionais, ou seja, ao pilar espiritual, ao pilar intelectual, ao pilar profissional e ao pilar emocional estabelecidos como bases para a missão da UniCesumar enquanto instituição de educação. Com a análise da figura que segue, é possível compreender a relação entre os pilares e o desenvolvimento que se almeja para os estudantes: Diante do exposto, a disciplina FSCE I visa apresentar conteúdos de formação geral, organizados a partir das seguintes temáticas: o Política; o Interesse social; o Linguagens, comunicação e interação. Assim, este material contará com conceitos basilares sobre os temas descritos, bem como com textos diversificados que tratam sobre suas respectivas temáticas de forma a fortalecer o conhecimento dos estudantes a respeito de conhecimentos gerais e, ainda, para que sua formação cidadã seja continuamente trabalhada do ponto de vista social e ético. Cabe esclarecer que não será estudada a ética propriamente dita, mas sim como considerar social e eticamente uma série de temas transversais da sociedade em que estamos inseridos. Diante do exposto, convidamos você para uma imersão em nosso material que aqui se apresenta! Vamos lá? POLÍTICA Unidade 1 - Dr. Tiago Valenciano Previatto Amaral I N T E R E S S E S O C I A L – É T I C A , D E M O C R A C I A E C I D A D A N I A Unidade 2 - Dr. Éder Rodrigo Gimenes https://conteudoava.unicesumar.edu.br/arquivos/material-digital/2bdffd753344f62d3bf169f1c8121b10df8697356bd3b78e657e0809ed3f93ebdbc309213e41888082720e4668d96777e8eb1bcff67a09a347dae0b91a3d0910/unidade2.html https://conteudoava.unicesumar.edu.br/arquivos/material-digital/2bdffd753344f62d3bf169f1c8121b10df8697356bd3b78e657e0809ed3f93ebdbc309213e41888082720e4668d96777e8eb1bcff67a09a347dae0b91a3d0910/unidade2.html https://conteudoava.unicesumar.edu.br/arquivos/material-digital/2bdffd753344f62d3bf169f1c8121b10df8697356bd3b78e657e0809ed3f93ebdbc309213e41888082720e4668d96777e8eb1bcff67a09a347dae0b91a3d0910/unidade2.html https://conteudoava.unicesumar.edu.br/arquivos/material-digital/2bdffd753344f62d3bf169f1c8121b10df8697356bd3b78e657e0809ed3f93ebdbc309213e41888082720e4668d96777e8eb1bcff67a09a347dae0b91a3d0910/unidade2.html https://conteudoava.unicesumar.edu.br/arquivos/material-digital/2bdffd753344f62d3bf169f1c8121b10df8697356bd3b78e657e0809ed3f93ebdbc309213e41888082720e4668d96777e8eb1bcff67a09a347dae0b91a3d0910/unidade1.html https://conteudoava.unicesumar.edu.br/arquivos/material-digital/2bdffd753344f62d3bf169f1c8121b10df8697356bd3b78e657e0809ed3f93ebdbc309213e41888082720e4668d96777e8eb1bcff67a09a347dae0b91a3d0910/unidade1.html https://conteudoava.unicesumar.edu.br/arquivos/material-digital/2bdffd753344f62d3bf169f1c8121b10df8697356bd3b78e657e0809ed3f93ebdbc309213e41888082720e4668d96777e8eb1bcff67a09a347dae0b91a3d0910/unidade3.html L I N G U A G E M , C O M U N I C A Ç Ã O E I N T E R A Ç Ã O Unidade 3 - Pós-Dr. Diego Luiz Miiller Fascina ATUALIDADES Unidade 4 - Me. Fabiane Carniel P R Á T I C A S E E X P E R I Ê N C I A S Unidade 5 - Me. Fabiane Carniel https://conteudoava.unicesumar.edu.br/arquivos/material-digital/2bdffd753344f62d3bf169f1c8121b10df8697356bd3b78e657e0809ed3f93ebdbc309213e41888082720e4668d96777e8eb1bcff67a09a347dae0b91a3d0910/unidade3.html https://conteudoava.unicesumar.edu.br/arquivos/material-digital/2bdffd753344f62d3bf169f1c8121b10df8697356bd3b78e657e0809ed3f93ebdbc309213e41888082720e4668d96777e8eb1bcff67a09a347dae0b91a3d0910/unidade3.html https://conteudoava.unicesumar.edu.br/arquivos/material-digital/2bdffd753344f62d3bf169f1c8121b10df8697356bd3b78e657e0809ed3f93ebdbc309213e41888082720e4668d96777e8eb1bcff67a09a347dae0b91a3d0910/unidade5.html https://conteudoava.unicesumar.edu.br/arquivos/material-digital/2bdffd753344f62d3bf169f1c8121b10df8697356bd3b78e657e0809ed3f93ebdbc309213e41888082720e4668d96777e8eb1bcff67a09a347dae0b91a3d0910/unidade5.htmlhttps://conteudoava.unicesumar.edu.br/arquivos/material-digital/2bdffd753344f62d3bf169f1c8121b10df8697356bd3b78e657e0809ed3f93ebdbc309213e41888082720e4668d96777e8eb1bcff67a09a347dae0b91a3d0910/unidade5.html https://conteudoava.unicesumar.edu.br/arquivos/material-digital/2bdffd753344f62d3bf169f1c8121b10df8697356bd3b78e657e0809ed3f93ebdbc309213e41888082720e4668d96777e8eb1bcff67a09a347dae0b91a3d0910/unidade5.html P O L Í T I C A Unidade 1 A P O L Í T I C A E S E U C A M P O P R Ó P R I O : C O M O E N T E N D Ê - L A ? É normal que as pessoas questionem como funciona a política e como fazer para entendê-la. Comumente, o cidadão tem dificuldade para compreender o cotidiano da política, isto é, quais são as ações rotineiras que vão influenciar a vida das pessoas, como o valor dos impostos, a contrapartida do Estado em realizar obras e aperfeiçoamentos na administração pública, o preço do combustível, do arroz, do feijão, da água, entre outros. Tudo isto fica ainda mais complicado quando falamos de corrupção, desvios de verbas públicas e a possível “mordomia” que os políticos brasileiros, em geral, têm. Contudo, de fato, o que eu, um simples cidadão brasileiro, tenho que fazer para conhecer a política? Existe algum curso específico para melhor entendê-la? Só de acompanhar o noticiário eu consigo captar as discussões que passam na política? São essas e outras perguntas que pretendemos responder neste tópico, a fim de facilitar a compreensão daquela que é uma arte, uma ciência e uma paixão. ARTE CIÊNCIA PAIXÃO Antes de continuarmos a falar sobre a política, advertimos a você, acadêmico, que é importante fazermos um exercício simples e didático para melhor entender o jogo de interesses e poder que se convencionou creditar a ela: afastar os preconceitos, isto é, esquecer tudo (ou quase tudo!) aquilo que você ouviu falar sobre o termo. Vemos em nossos dias que o próprio preconceito está na pauta política, e muita energia de nossos governantes e representantes é gasta em torno de uma sociedade menos preconceituosa. Se isto é exigido dos nossos governantes, também é exigido de qualquer um que queira ser uma pessoa letrada politicamente. Essa tática era empregada por Émile Durkheim (1858-1917), sempre argumentando que a boa sociologia era feita por aqueles que “puramente” pretendiam conhecer a sociedade, esquecendo os conceitos prévios sobre determinados assuntos e reaprendendo-os. É esta ideia que proponho aqui: vamos afastar os preconceitos e as prenoções e passar a conhecer a política por ela mesma, sem misturarmos conceitos já formados ou opiniões pessoais, da mídia, da família e de amigos de que “a política é sempre a mesma coisa” ou “os políticos são todos iguais”, por exemplo. Então, vamos lá? Contudo, como dissemos anteriormente: devemos esquecer quase tudo para iniciar nossa caminhada ao labirinto da política. Um dos textos mais evocados ao se tratar de política (e que busca chamar a atenção sobre a necessidade da política) é O analfabeto político, do teatrólogo alemão Bertolt Brecht (1898-1956). Brecht afirma que o pior analfabeto é o político, que é aquele que não ouve, não fala e não participa dos acontecimentos políticos. Podemos pensar que o analfabeto político é aquele que não participa da política, mas não! O analfabeto político já é, por si, um analfabeto (ainda que letrado)! Antes da participação política, há a necessidade do entendimento sobre ela. Uma ação autônoma, na qual o indivíduo seja um sujeito (e não se torne sujeito) demanda, necessariamente, do seu entendimento prévio, e no caso da política, esse entendimento deve ser absolutamente estratégico. Afinal, falamos, aqui, de poder e seus jogos. Chegamos, então, a uma terceira lição: a desconfiança. Aprender política envolve muito mais que decifrar palavras, muito mais que recitar fatos históricos e suas datas. Falamos, aqui, da necessidade do homem refletir sobre os rumos de sua vida em sociedade, e não apenas confiar no que lhe é dito. Geralmente, deparamo-nos com algumas situações em nossa vida familiar que são mal resolvidas no passado e que surgem como fantasmas em nossas vidas atuais, não é mesmo? Na política, a situação é muito semelhante, com a diferença que ela é muito mais complexa e com potencial quase que infinito nos rumos de nossas vidas. Sem falar que a política não é apenas feita de homens, em carne e osso, desejos e necessidades, mas também de grupos que possuem maior ou menor força, em torno de interesses que nós, em nossa vida cotidiana, sequer temos possibilidade de conhecer. Dessa forma, desconfie de tudo que se refere à política. Comece por este livro e busque outras fontes. Vamos tentar demonstrar essa lição: palavras, história e desconfiança. Se olharmos para o radical da palavra política, verificamos que esse termo vem do grego politikos, que significa assuntos relacionados a polis, isto é, aos modelos de cidade-estado da Grécia Antiga. É claro que as cidades mudaram muito do período em que o termo foi criado até os dias de hoje; mas, tanto as cidades-estado da Grécia quanto as cidades brasileiras têm os mesmos ingredientes para definirmos o que é a política e seus efeitos: povo, governantes e disputas em torno do poder do governo que somente a política pode proporcionar. Assim, se olharmos para essa explicação clássica em torno do radical do termo, conseguimos ver a primeira definição sobre a política, com os assuntos relacionados às cidades, ou seja, a forma de governar uma cidade (e daí as subdivisões de quem governa e como governa, questões clássicas da ciência política) e os problemas que as cidades atravessam ao longo do período em que os políticos estão no poder. De fato, essa explicação tem sua razão de existir. Quando questionamos um leigo sobre o assunto (a nossa posição no momento), a primeira ideia que vem à cabeça sobre política são os políticos, os que exercem um poder conferido para tratar dos assuntos relacionados ao Estado. Veja que política dá a noção de governo, de alguém que lidera um grupo de pessoas que vive nas cidades. Aí alguém pode questionar: "mas não há política no campo?" Claro que sim! Aos poucos vamos enxergar que ela aparece constantemente em nossas vidas, pelo sim ou pelo não – independentemente da nossa vontade, ela vai existir. Retomando, a figura mental sobre a política é constantemente a mesma: um político governando seus governados e uma pilha de problemas amontoados, que normalmente são direcionados aos políticos para que sejam resolvidos, na tentativa de alcançar a satisfação da população em relação a determinados assuntos. Com seu livro O Príncipe, Maquiavel passou a analisar o Estado moderno de um modo diferente, talvez muito mais pelas práticas adotadas pela classe política do que pelos autores do período, em alguns casos preocupados em idealizar algo que, na prática, não acontecia. A contribuição sobre a nossa “nova” definição de política é oriunda do entendimento da obra dele uma vez que a política pode também ser conceituada como a “arte de conquistar, manter e exercer o poder e o governo”. Aí começamos a diferenciar um pouco como os estudiosos pensam sobre a política. O primeiro destes pensamentos é a política como arte, a qual somente os habilidosos prosperam. Como toda arte, é necessário um dom especial – às vezes até mesmo “sobrenatural” – para que ela se materialize. O que se passa na cabeça do artista só se transforma em arte a partir do momento em que este a coloca em prática. E esta arte, a “arte da política”, não é tão fácil assim de ser efetuada, pois depende do relacionamento interpessoal, da condução de problemas específicos do campo político até as disputas de vaidade, muito comuns no contexto da política. Assim, o “artista da política” é alguém que possui esta habilidade de conduzir situações e tê-las sempre a seu favor, angariandosimpatizantes e transformando ideias em ações concretas, que, de alguma forma devem mudar a vida das pessoas. O segundo pensamento é ver a política como ciência. E é isto que um cientista político faz, uma profissão contemporânea e muito diferente. Afinal, o que estes profissionais estudam? A política enquanto ciência surgiu depois do estabelecimento das ciências sociais no campo de pesquisa, marcada, basicamente, pela filosofia e pela história até o início do século XIX, quando houve a percepção de que uma nova área de pesquisa necessitava surgir. A partir do início do século XX, a ciência política passou a analisar a política após o nascimento da Idade Moderna e, com esta área de atuação, profissionais se graduam para analisar os processos e sistemas políticos em vigência, sobretudo em relação aos políticos, partidos e eleições como um todo. No Brasil, a ciência política é recente, com o estabelecimento da área da década de 70 em diante e, sobretudo, com a efetivação dos trabalhos da ABCP – Associação Brasileira de Ciência Política, no início da década de 90. Contudo, é preciso ser um cientista político para conhecer tudo o que se passa na política? Preciso fazer um “cursinho” básico sobre a área para, então, ser um “expert” na política? A resposta tende a ser não. Um dos objetivos deste livro é este: aproximar a política (seja ela arte, ciência ou paixão) um pouco mais das pessoas. Assim, somente aqueles que desejam ingressar na carreira acadêmica – lecionando ou pesquisando – devem procurar estudar mais sobre a teoria e a prática política no Brasil e no mundo. Portanto, a política enquanto ciência é específica, mas auxilia a compreensão dos processos políticos que acontecem no dia a dia, objeto desta publicação e particularmente da vida de todos, de um modo que atinge o campo individual e universal. Dessa forma, a política é tratada como ciência, isto é, um campo específico do conhecimento direcionado à pesquisa e ao ensino sobre as maneiras de como a política se consolidou ao longo dos anos. Segundo o epistemólogo (aquele que estuda como o conhecimento é produzido) Gilles Gaston Granger, a ciência é “uma fonte sistematicamente organizada do pensamento objetivo”. Se unirmos essa definição de ciência à política, chegamos à conclusão do que faz a ciência política: explicar, de maneira organizada e objetiva, o que é, quando e como a política acontece (ou se manifesta) nos mais diversos espaços da sociedade – desde a um pequeno município a uma grande nação. Granger também diz que a ciência é “método de pensamento e ação”, algo muito familiar com a política, não? Ora, para se fazer política, é necessário pensar e agir. Uma das regras de ouro da política – aquela de ocupar um espaço determinado antes que alguém o faça – pode ser explicada a partir do pensamento e da ação: sem pensamento, baseado na razão, é impossível agir calculadamente para, posteriormente, alcançar os resultados esperados. É neste sentido, portanto, que um cientista político age: pesquisa, por meio de diversos materiais, para consolidar seu pensamento e, posteriormente, agir, publicando materiais, lecionando, prestando consultoria, isto é, fazendo ciência política. Nossa última parte da trilogia diz que a política também é paixão. Não deixa de ser. A paixão é um sentimento muito forte em relação a outra pessoa ou a um tema, por exemplo. E assim dividimos a paixão em duas ocasiões: sobre a política e a paixão política. A primeira, normalmente, é ocasionada pela própria atividade política, muito envolvente e, de fato, apaixonante. A partir dela, pode-se conhecer muitas pessoas, participar das mais variadas formas possíveis (como candidato; militante partidário, de uma causa ou bandeira; como fiscalizador do governo; como cidadão comum; entre outras), além de cada situação ser diferente uma da outra, exigindo uma habilidade no relacionamento interpessoal específica. A segunda é a mais preocupante e a que “vivenciamos” nas redes sociais, por exemplo: a paixão acerca de determinadas causas ou pessoas, que, muitas vezes “cega” o horizonte em relação a temas passíveis de solução, mas que o viés apaixonado não faz com que as pessoas enxerguem a resolução dos problemas, muitas vezes em defesa do seu ponto de vista (sempre o correto). Por hora, incluímos o governo nesta explicação porque é a ocasião em que mais visualizamos a prática política, isto é, nas ações: 1) para a conquista do governo, como explicitado anteriormente; 2) para a manutenção do governo: os projetos, programas, as propostas veiculadas durante a campanha, os servidores trabalhando, o cidadão que paga os impostos, enfim, o funcionamento em si que manterá o governo em pé; 3) o exercício do poder em relação ao governo, algo complexo e que analisaremos na próxima seção deste livro. O fato é a impossibilidade de definirmos a política em poucas linhas ou páginas: cada autor a caracterizará de um modo peculiar – ainda que, em geral, ela tenha um corpo específico, as peculiaridades deste corpo serão conferidas por cada pessoa que decide estudá-la. Da mesma forma, cada pessoa envolvida na política a praticará seguindo suas convicções, sua razão ou, até mesmo, sua paixão, orientando-se para os assuntos pertinentes conforme seus procedimentos. Nosso objetivo, nesta primeira parte é, em linhas gerais, explicar – ou apontar caminhos – para a compreensão da política acadêmica (aquela – dos cientistas políticos) e a política do dia a dia, efetuada desde o cidadão comum até o Presidente da República, por exemplo. Há, como demonstramos, uma relação entre as duas: ainda que pareçam distantes, a teoria e a prática são interdependentes entre si e, por fim, a sentença que aprendemos vale para várias ocasiões do relacionamento humano: é muito difícil se livrar da política, pois ela se manifestará constantemente em nossas vidas. VAMOS FALAR DE POLITICA - PODCAST S I S T E M A D E G O V E R N O A forma de governo praticada no Brasil é a República Federativa. Falta definir então o que é um sistema de governo. Se olhássemos um computador, por exemplo, a forma de governo seria seu layout externo: tamanho, cor, tela, componentes externos. O sistema de governo são os programas e as funcionalidades que fazem com que o usuário utilize este computador: editor de texto, de tabelas, navegador de internet, enfim, aquilo que é manuseado pelas pessoas após a ativação da máquina. A forma é a cara do governo, ou seja, como o moldamos externamente – no caso brasileiro, a República. O sistema de governo diz respeito ao andamento interno do governo, aquilo que a maioria das pessoas não enxerga ao passar em frente de uma Prefeitura, Palácio do Governo ou todos aqueles prédios do centro político do país, a capital Brasília. Uma das missões desta unidade é, também, fazer com que as pessoas passem a olhar “de dentro” o que acontece na política brasileira – inclusive os seus bastidores, operado, na maioria das vezes, por políticos profissionais ou experts da área. Neste sentido, convém destacar que as formas de governo são consideradas, atualmente, entre a República e a Monarquia, e os sistemas de governo são distribuídos em duas modalidades mais conhecidas: o presidencialismo e o parlamentarismo. Essa discussão é recente na memória dos brasileiros quando o assunto forma e sistema de governo é tratado. Em 1993, houve um plebiscito para saber se o país seria republicano ou monarquista, presidencialista ou parlamentarista. Vejamos que caso a Monarquia ganhasse, a opção presidencialista estaria, automaticamente, descartada e o país teria um governo parlamentarista (uma vez que uma Monarquia Presidencialista é uma impossibilidade lógica). Caso vencesse a República (e foi o caso), o Brasil poderia ser parlamentarista ou presidencialista. Venceu a opção presidencialista, fortemente marcada na cultura políticanacional. No entanto, repare que em momentos de crise política, o debate do presidencialismo versus parlamentarismo retorna (ainda que timidamente). P R E S I D E N C I A L I S M O E P A R L A M E N T A R I S M O O presidencialismo é mais comum no Brasil – seja no governo ou nas instituições, as pessoas procuram o presidente, no sentido de que ele resolva os problemas. É comum que a política nacional seja discutida em torno do Presidente da República. A mesma situação acontece nas instituições: o cargo de Presidente é o mais cobiçado e sob ele recai a representação do organismo. Contudo, no que consiste o presidencialismo? Ora, a resposta praticamente foi dada: é um sistema de governo em que há uma pessoa exercendo o poder, por tempo determinado, exercendo as funções de chefe de Estado e de governo. E qual a diferença entre chefe de Estado e de governo? Para facilitar, podemos dizer que o chefe do Estado representa o país diplomaticamente, enquanto o chefe de governo executa, administra as ações do país. Não há necessariamente a correspondência entre chefe de Estado e de governo, isto é, que uma só pessoa possa exercer as duas funções. No entanto, em um sistema presidencialista, as funções normalmente convergem em uma pessoa. É o que acontece no Brasil: o Presidente representa o país em relação às demais nações e, ao mesmo tempo, administra as questões inerentes à política nacional. O presidencialismo tem cinco principais características, a saber: Há a separação entre os poderes. No Brasil, são três: Legislativo, Executivo e Judiciário. Na teoria, um poder não se intromete nos trabalhos do outro. Como dito, o Presidente exerce tanto a função de chefe do governo quanto chefe de Estado, na maioria dos casos. O chefe do Poder Executivo também é quem tem a figura de maior líder do Estado. Na condição de chefe de Estado, o Presidente é quem escolhe seus ministros, compondo, assim, a equipe que irá executar os projetos e as políticas públicas. O Presidente – também chefe do Poder Executivo, do governo e do Estado, é eleito direta (eleições em que as pessoas votam nos candidatos) ou indiretamente (eleito pelo voto de deputados, por exemplo) pelo povo, com um mandato delimitado em período. No presidencialismo, há ainda um Congresso Nacional, isto é, a reunião de representantes do povo responsáveis por levar as demandas da população ao Presidente, além de elaborar leis (no caso do parlamento) em caráter nacional. Esse congresso pode ser unicameral ou bicameral (caso brasileiro), existindo duas “assembleias” direcionando o Poder Legislativo: o Senado da República e a Câmara dos Deputados. Por outro lado, há o parlamentarismo, um sistema de governo destinado nitidamente ao protagonismo do parlamento à frente do poder. Neste sistema não existe uma clara separação entre o Poder Executivo e o Poder Legislativo, uma vez que o executivo depende diretamente da articulação do parlamento para governar. O papel de chefe de Estado e de governo também não é exercido, necessariamente, por uma mesma pessoa: enquanto o chefe de Estado normalmente desempenha um papel cerimonial frente ao país, o chefe de governo administra as responsabilidades políticas da nação. É evidente que cada um destes sistemas tem seus pontos positivos e negativos, à guisa de observação de cada autor, analista ou cidadão. No Brasil, tradicionalmente, o presidencialismo se mantém e, como dissemos, as pessoas já buscam a figura do presidente em todos os casos em que há a necessidade de uma liderança representar um segmento ou representar um corpo político. Portanto, é difícil apontar se o parlamentarismo daria certo ou não no país ou se o presidencialismo é um sistema viciado: apenas o teste empírico poderá resolver esta dúvida. S O B R E A D I V I S Ã O D E P O D E R E S A divisão do poder é um conceito geral do Direito Constitucional, um campo do conhecimento destinado a estudar e desenvolver teorias voltadas às constituições dos países, aprimorando cada vez mais estas que são os princípios gerais de cada Estado. Como dito, os Estados são personalidades jurídicas e a lei que dá a “cara do Estado” é a constituição. No Brasil a última promulgada é de 1988, com diversas pequenas reformas ao longo dos anos, mas que não muda seu jeito de ser. Esta divisão do poder também é conhecida como sistema de freios e contrapesos (checks and balances system), que visa garantir que um poder não interfira nas ações do outro e que existam freios para segurar os avanços de um poder sobre o outro e contrapesos, para que possíveis avanços também não tirem a essência de cada poder do lugar. Pasme você: talvez seja essa a explicação mais simples que se pode encontrar por aí. O fato é que este sistema funciona como se fosse uma gangorra – aquelas que as crianças de outrora brincam nos parquinhos: o ideal para não passar sustos ou não cair é que a gangorra fique centralizada, em um ângulo de 180 graus. A partir do momento em que há alguém mais pesado em uma das pontas da gangorra, esa penderá para o lado de quem tem mais quilos. O sistema de freios e contrapesos existe justamente para que o efeito da gangorra não aconteça e que cada poder cumpra seu papel. Esta divisão “partida” do poder foi proposta por alguns autores, como Aristóteles, John Locke e Jacques Rousseau. Mas o consagrado com o conceito foi Montesquieu (1689-1755), que era defensor da ideia de separar as atribuições do poder em três funções: 1 – Legislativa: destinada a elaborar as leis que vão regular a vida em sociedade, além de fiscalizar os atos praticados pelo Poder Executivo; 2 – Executiva: atua nos fins diretos da administração pública, executando os projetos voltados para melhorar a vida das pessoas. Além disso, é responsável pela arrecadação de dinheiro a partir de impostos, intervenção nos assuntos do Estado e organização do serviço público; 3 – Judiciária: aplica ou revisa as normas jurídicas, no sentido de garantir a justiça, analisando disputas entre as pessoas, por exemplo. Este quadro nos auxilia a compreender melhor cada uma destas funções que o poder exerce: Pelo exposto, esta discussão quanto à divisão dos poderes é algo ainda não superado. Independentemente dos autores ou da nomenclatura dada, o fato é que existem três poderes fundamentando o Brasil. A missão dos próximos capítulos é explicar o funcionamento de cada um destes poderes, ou seja, o papel desempenhado na política. Antes, vale lembrar que estes três poderes estão dispostos da seguinte forma no Brasil: Essa divisão entre os poderes expõe uma espécie de radiografia da estrutura do sistema político brasileiro. São três níveis fundamentais: municipal, estadual e nacional. Essas três esferas do poder demonstram como o sistema político brasileiro está disposto, ao mesmo tempo verticalizado (damos maior importância aos assuntos federais, por exemplo, talvez pela relevância do tamanho do país quando comparado a um município) e horizontal, pois todas essas esferas dependem uma das outras para o pleno funcionamento. Você conhece a Câmara do Deputados? Explore aqui Se há ou não uma divisão do poder, devemos ponderar de acordo com a explicação de cada autor: ele pode ser tanto único, concentrado e compartilhado por quem detém o poder ou partilhado, múltiplo, ao passo que cada agente exerce o poder em seu âmbito ou competência administrativa, por exemplo. O importante para nós, neste momento, é o seu conhecimento sobre estas possibilidades e, a partir disso, demonstrar a complexidade que o jogo político nos proporciona. Você sabe o que faz um vereador, o que faz um prefeito? Abaixo, a matéria do site Politize! demonstra as principais atribuições do cargo de vereador, o mais importante no âmbito municipal. Afinal, é ele quem aprova as leis, avaliaas ações elaboradas pela prefeitura e, sobretudo, fiscaliza as ações do Poder Executivo. Conheça: "E qual a principal função de um vereador? Como integrante do Poder Legislativo municipal, o vereador tem como função primordial representar os interesses da população perante o poder público. Esse é (ou pelo menos deveria ser) o objetivo final de uma pessoa escolhida como representante do povo. E como um vereador pode representar, na prática, os eleitores? Pode-se dizer que a atividade mais importante do dia a dia de um vereador é legislar." Fonte: www.politize.com.br Além disso, convido-o a acompanhar a Web Série "A Razão do Voto", a qual apresento https://artsandculture.google.com/streetview/hgFiI1u706j8bg?sv_lng=-47.86448575900744&sv_lat=-15.80008542854583&sv_h=152.39281049227606&sv_p=-5.171277345347576&sv_pid=FNnxOLtXwcsRgkhIUzj5uw&sv_z=1 https://www.politize.com.br/papel-do-vereador/ os principais temas das eleições municipais e que afetam diretamente o nosso cotidiano: Fonte: www.youtube.com R E F E R Ê N C I A S AZAMBUJA, D. Introdução à Ciência Polít ica . São Paulo: Globo, 1994. BRASIL. Constitu ição (1988) . Cons t itu ição da República Federat iva do Brasi l : promulgada em 5 de outubro de 1988. CERQUEIRA, T. Direito eleitoral esquematizado . 2. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2012. DE CICCO, C. Teoria geral do Estado e ciência polít ica . 6. ed. rev. e atual . São Paulo: Editora Revis ta dos Tr ibunais, 2015. KELLY, P . O livro da política . São Paulo: Globo, 2013. MARINO, R. Entenda a política e o mude o Bras il : aprenda a polí tica e suas estruturas de forma fáci l. O Bras i l é tão bom quanto o seu voto. Brasí l ia: LGE, 2010. MARTINS, J. A.Corrupção . São Paulo: Globo , 2008. MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe . São Paulo: Hedra, 2009. NICOLAU, J. Sistemas eleitorais . 5 . ed . rev. e atual. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2004. NICOLAU, J. Eleições no Bras il : do impér io aos dias atuais. Rio de Janeiro: Zahar , 2012. TEMER, M. Elementos de Direito Const itucional . 15 ed. São Paulo: Malheiros Editores, 2000. VALENCIANO, T. LEAL E SILVA, R. E. Política Bras ileira : como entender o funcionamento do Bras il . As torga: Editora Sahar, 2015. https://youtube.com/playlist?list=PLmvScUJgLtjjgA14TjNoU_FEnNo7dgxNt I N T E R E S S E S O C I A L – É T I C A , D E M O C R A C I A E C I D A D A N I A Unidade 2 A vida em sociedade é pautada por múltiplas perspectivas, a partir das quais nos colocamos em interação com os demais, pensamos a nós mesmos e nossas atitudes e também nos relacionamos com as instituições. Assim, cada um de nós age de diferentes maneiras, a depender da situação em que nos encontramos: em casa, no trabalho, entre amigos, com relação aos estudos, em nosso planejamento para o futuro etc. Contudo, ainda que possamos assumir diversos papéis sociais – como filho, cônjuge, empregado, colega de trabalho, usuário de política pública ou eleitor, por exemplo – é pertinente considerar que nossos valores e modo de lidarmos com a sociedade, em geral, não se alteram. Os pilares da discussão desta unidade de estudo sobre questões de interesse social dizem respeito a temas de nosso cotidiano: ética, democracia e cidadania. Se, por um lado, podem parecer temas amplos e desconexos com seu processo de formação superior, por outro lado, trata-se de três pilares fundamentais à sua conformação como indivíduo que se coloca como agente ativo de transformações sociais e pode contribuir com a melhoria da vida em coletividade. Você conhece as definições de ética, de democracia e de cidadania? Saberia responder o que constitui ou caracteriza cada um dos conceitos e sua relação? E mais: Saberia responder os motivos pelos quais esses conceitos são importantes para qualquer pessoa? Perceba que essas perguntas dizem respeito a temas que todos nós deveríamos conhecer, mesmo que minimamente, uma vez que se referem a elementos que vivenciamos e impactam nossas vidas. Entretanto, por outro lado, não raras vezes, temos dificuldade em conceituar, especialmente as noções de ética e de cidadania, ainda que estejam intimamente relacionadas com a experiência democrática que vivenciamos. Ao abordar esses temas em salas de aula de graduação e de pós-graduação, é recorrente entre os alunos associá-los com desigualdades e com corrupção. Ainda que não se trate de associações incorretas acerca de nuances dessas relações, dizem respeito a aspectos negativos, os quais podemos enfrentar, em alguma medida, com conhecimento sobre esses temas e como se relacionam. Assim, nos parágrafos que seguem, vamos falar um pouco sobre alguns desses temas e seus conceitos. O que é ética? O que é democracia? O que é cidadania? Três termos, três conceitos com significados distintos e com aplicações intimamente relacionadas! Tendo em vista que a discussão em torno da temática de interesse social se desenvolve a partir desses pilares, iniciemos nossa exposição pela abordagem sobre a ética. A ética é um dos ramos de estudos da Filosofia – que se constitui como forma de conhecimento pautada pela busca da compreensão da vida social por meio do estabelecimento de relações entre a reflexão e a ação para o estabelecimento de práticas sociais ideais. Nesse sentido, tendo em vista que a Filosofia busca ensinar os indivíduos a pensar criticamente, a ética se coloca como um modo de organização racional do pensamento humano com vistas à promoção da prática social mais adequada à vida em coletividade (TIBURI, 2014). Ainda que seja mais corriqueiro ouvirmos falar sobre ética no âmbito de atuações profissionais – como a ética médica, a ética empresarial, a ética pública, a ética profissional etc. -, é necessário destacar que a prática ética se coloca a todos que vivem numa determinada sociedade, independentemente de ocupação profissional ou outros marcadores sociais, uma vez que o termo ética é de origem grega e remete a caráter, já que ethos diz respeito ao modo de ser de um indivíduo. Nesse sentido, a ética diz respeito aos preceitos sociais gerais para a vida em sociedade, de modo que o caráter dos habitantes de determinada comunidade seja balizado coletivamente, ou seja, para que haja preceitos partilhados pelo grupo a reger o funcionamento daquela sociedade. Isto posto, é necessário destacar que a ética corresponde à materialização da moral, que consiste numa construção coletiva de regras e normas sociais, que são reconhecidas e partilhadas pelos indivíduos de uma comunidade e, portanto, consideradas legítimas. A moral é, inevitavelmente, uma conformação de valores humanos, culturais, temporais e societais, o que significa que a base da ética existe em decorrência da vida da organização dos homens e leva em conta a maneira como eles se relacionam entre si e com o ambiente, sendo passível de variações ou distintas configurações – até mesmo conflitantes – tanto ao compararmos diferentes grupos sociais num dado momento quanto ao compararmos um mesmo agrupamento (ou alguns) em momentos diversos da História. Como a moralidade implica em obrigações, a ética determina modos de agir em coletividade. Nesse sentido, é pertinente destacar que a própria noção de ética se alterou ao longo dos séculos: na clássica sociedade grega, ser ético significava respeitar as leis e valores da pólis, incluída a restrição em termos de cidadania; no período medieval, a ética foi pautada pela intrínseca relação entre poder político e religião, uma vez que os Reis e a Igreja Católica determinavam os modos de convivência dos indivíduos segundo a metafísica e a preocupação com o respeito às hierarquias; na modernidade, agir eticamente implica lançar umolhar racional à sociedade e considerar a fragmentação ou multiculturalismo como parâmetro ético. [...] a ética se preocupa em como os homens devem ser e não em como eles efetivamente são! E, invocando antigos manuais, eu poderia acrescentar que a ética é o fundamento da regra moral, esta última sim, dedicada a responder à pergunta: “Como devo agir?” (EVANGELISTA, 2016, p. 8). Isto posto, a ética se coloca, portanto, como um comprometimento de cada indivíduo com relação aos demais, permeando e delimitando a vida em sociedade por meio de nossas ações, comportamentos, falas, posicionamentos e julgamentos. Assim, a ética implica em nossa responsabilidade com relação à vida coletiva e cotidiana e deve se pautar pela preocupação com a maneira correta ou adequada de nos portarmos, no sentido de que a liberdade e os direitos de cada um têm, no seu semelhante, o seu limite. Esse é, inclusive, o princípio básico da pactuação social para a vida em sociedade, definido por autores clássicos da Filosofia Política como contrato social: a vida em sociedade demandaria um conjunto de normas sociais a serem respeitadas pelos indivíduos, a fim de que a convivência fosse possível (HOBBES, 2000; LOCKE, 2001; ROUSSEAU, 1999; 2002). Para avançarmos aos demais conceitos relacionados à temática do interesse social, cabe ressaltar que as implicações da ética estão no campo de nossa consciência acerca da maneira como agimos racionalmente e com relação aos nossos sentimentos, assim como nas interações que desenvolvemos com outros em nossos espaços pessoais (familiares, amigos e relações afetivas) e sociais (como espaços escolares, laborais e comunitários – igreja, clube ou grupo desportivo, voluntariado etc.). Se me fosse solicitado que buscasse um único termo para tratar de ética na contemporaneidade, eu escolheria a palavra alteridade, cuja perspectiva de respeito às diferenças e olhar empático aprofundaremos à frente. Antes, contudo, cabe tratar do regime político em que a alteridade deve ser respeitada de maneira ampla: a democracia. As primeiras reflexões sistematizadas sobre o conceito de “democracia” se encontram nas discussões da teoria política clássica sobre formas de governo. Apesar de não negar a existência de sociedades democráticas anteriores à Grécia Antiga, o primeiro governo denominado “democrático” de que se tem registro e que se tornou referencial para o pensamento contemporâneo corresponde ao governo de Atenas. A concepção grega de democracia repudiava a ideia de representação como método democrático. A eleição de representantes era considerada como um método aristocrático, pois se tratava de uma seleção na qual os indivíduos teriam diferentes probabilidades de vencer, uma vez que possuíam capacidades diferentes. Os princípios democráticos estavam relacionados à participação igualitária. O método associado à democracia era, portanto, o sorteio, utilizado em Atenas para preencher os cargos que não exigissem capacitação ou experiência específicas, e o governo do povo se materializava na noção de igualdade política, que se manifestava em métodos nos quais preponderavam oportunidades igualitárias de exercer o poder político (MANIN, 1997). Não por acaso, a democracia era o governo de muitos, em contraste ao governo de poucos, chamado de aristocracia (ou de oligarquia, em sua forma degenerada). Se por um lado pode-se argumentar que o escopo da cidadania ateniense era muito restrito devido à exclusão de mulheres, escravos e estrangeiros das decisões públicas, por outro, o regime democrático, ateniense outorgava mais poder político à classe trabalhadora e aos pobres em comparação à versão contemporânea. O regime ateniense propiciava mais controle por parte da classe produtiva, uma vez que os problemas eram levados à esfera pública. Discutir democracia no âmbito da prática e da teoria política contemporâneas implica lidar com um evidente paradoxo: ao passo que a democracia é uma forma de governo valorizada como “positiva”, ela se distancia de seu conceito original, relacionado a participação popular direta. Embora haja diferentes perspectivas sobre a democracia, uma delas se sobrepôs às demais a ponto de o Ocidente considerá-la como única forma possível (HEYWOOD, 2010), o liberal-pluralismo, projeto democrático baseado na existência de um conjunto de garantias legais, como as liberdades cidadãs, a competição eleitoral e a livre organização mediante grupos de pressão. Dentre os autores que defendem tal perspectiva democrática, há distinções expressivas: enquanto Schumpeter (1961) argumentava que a desigualdade política seria um aspecto natural da sociedade e que caberia aos indivíduos “comuns” limitarem sua atuação política ao momento de escolha de representantes (voto) porque as massas seriam incapazes de governar devido à sua irracionalidade inata, Dahl (1997) argumenta que uma poliarquia – regime real mais próximo de uma democracia – seria caracterizada pela fragmentação do poder político, o qual não está concentrado em apenas um grupo devido à dispersão dos variados recursos na sociedade, de modo que a igualdade política também se relaciona à distribuição do poder. Conforme pontuado por Albrecht (2019), dentre as demais vertentes da teoria democrática, a maioria consiste em alternativas a esse modelo. No geral, as teorias circundam, principalmente, três conceitos importantes no estudo da democracia: 1) Representação 2) Participação 3) Deliberação Tais eixos podem auxiliar a compreensão acerca das semelhanças e diferenças entre teorias que servem de base para a construção de modelos de democracia e suas respectivas variações. Os regimes contemporâneos são, na verdade, mesclas de elementos pertencentes aos três eixos. A representação se caracteriza por ser indireta, com alguém que fala “em nome dos interesses” de outrem (GURZA LAVALLE; ISUNZA VERA, 2010). Uma representação democrática implica vínculo entre representante e representados, de modo que aquele tenha certa margem de liberdade para atuar, mas sem estar alheio aos anseios destes. Quando o representante age exclusivamente voltado aos próprios interesses, trata-se de uma representação não democrática ou de uma mera transferência de poder. Dessa forma, uma democracia representativa é um regime democrático cujas decisões públicas são tomadas predominantemente mediante mecanismos de representação. As eleições fazem parte desses mecanismos, mas não são suficientes para promover uma representação democrática, que exige certo controle por parte dos representados. Os atuais sistemas de representação são imperfeitos porque carecem de instrumentos de controle mais efetivos dos representados em relação aos representantes (MANIN; PRZEWORSKI; STOKES, 1999). A representação não democrática acentua a distância entre representantes e representados. A democracia deliberativa se pauta pela ideia de que a discussão é um mecanismo para encontrar soluções coletivas e suspender a influência das diferenças de poder. Nesse sentido, a deliberação também contribui para que os indivíduos transcendam seus interesses privados (YOUNG, 2006). Por sua vez, a democracia participativa está centrada, de maneira geral, em mecanismos de participação direta, em que o engajamento do cidadão se dá de forma não mediada. A crítica da democracia participativa à deliberativa reside no fato de que alguns problemas não podem ser solucionados em instituições, uma vez que elas reproduzem as desigualdades. Dessa forma, a inclusão formal não é suficiente, pois o acesso se restringe a determinados grupos que possuem recursos, como habilidades e posses econômicas. Assim, o eixo da “participação” salienta a importância de entender a democracia para além de seu aspecto institucional. Diante das explanações acerca dos conceitos de ética e democracia, você deve ter notado que o terceirotema de nosso eixo de discussão sobre interesse social foi mencionado mais de uma vez: a cidadania. Assim, cabem, agora, considerações sobre seu conceito. Na teoria constitucional moderna, cidadão é o indivíduo que tem um vínculo jurídico com o Estado. É o portador de direitos e deveres fixados por uma determinada estrutura legal (Constituição, leis) que lhe confere, ainda, a nacionalidade. Cidadão são, em tese, livres e iguais perante a lei, porém súditos do Estado. Nos regimes democráticos, entende-se que os cidadãos participaram ou aceitaram o pacto fundante da nação ou de uma nova ordem jurídica (BENEVIDES, 1994, p. 7). De acordo com a interpretação clássica de Marshall (1967) a partir da perspectiva da sociedade inglesa, o princípio de igualdade presente no conceito de cidadania seria tensionado, inevitavelmente, pelas desigualdades sociais existentes nas sociedades de classes, relacionadas ao funcionamento do capitalista estruturante do funcionamento de relações econômicas e, em alguma medida, até mesmo dos governos. Contudo, nos cabe destacar, a princípio, o primeiro “lado” desse conflito destacado pelo autor clássico: as noções de cidadania e de cidadão implicam no estabelecimento de condições de igualdade ou de busca para sua efetivação. Seguindo o critério ético de caráter, uma sociedade moralmente estruturada deveria ser balizada pela possibilidade de acesso semelhante de seus indivíduos a todas as oportunidades, especialmente se pensarmos o contexto democrático e a preocupação com o governo voltado ao atendimento das necessidades sociais da população. Em segundo lugar, quando nos debruçamos sobre as tensões geradas pela desigualdade de classes, deparamo-nos com argumentos clássicos de diversos autores: Maquiavel (1976) afirmou que o Estado é sempre um espaço de luta pela conquista ou manutenção do poder e que o governante deve valer-se de estratégias para manter sua condição, ainda que não atenda aos anseios da população; Marx (1983) destacou a luta entre as classes sociais – burguesia e proletariado – como inevitável para a superação da condição de desigualdade de distribuição de recursos e exploração da mão-de-obra; os autores do elitismo clássico, Michels (1982), Pareto (1984) e Mosca (1992), afirmaram que sempre haveria uma minoria organizada, denominada elite, capaz de ocupar os postos de poder e manter sua condição dominante com relação à maioria desorganizada por conta de múltiplas vontades e poucos recursos, o povo. Assim, a preocupação com a questão da cidadania não é recente, o que reforça a necessidade de refletirmos sobre esse tema de interesse social, uma vez que a preocupação de debates sobre aspectos socioculturais e éticos é, em parte, proporcionar a formação cidadã a você, em diálogo e para além dos conteúdos específicos de sua formação profissional. Entender, portanto, que a maneira como as sociedades atuais estão organizadas limita o exercício da cidadania implica em reconhecer que o parâmetro ético que deveria balizar as relações entre os indivíduos e com os governos e demais instituições tem falhado, mas, por outro lado, permite pensarmos sobre caminhos possíveis à superação ou redução dessas desigualdades no contexto democrático, em que instrumentos de representação, participação e deliberação se colocam como caminhos possíveis ao exercício da cidadania. A I D E N T I D A D E S O B A P E R S P E C T I V A C O M B I N A D A D E É T I C A , D E M O C R A C I A E C I D A D A N I A ( P O D C A S T ) Diante das considerações sobre ética, democracia e cidadania e da reflexão proposta acerca de suas influências (na primeira parte de nossa discussão) sobre a conformação de nossas identidades (no podcast), cabe uma explanação sobre a maneira como esses distintos elementos se organizam para conformar a vida social a qual todos integramos e se justifica a compreensão de conceitos como os tratados neste material. Nesse sentido, como tratamos nesta unidade de estudos da temática do interesse social, cabe tratarmos da questão da alteridade, que remete à maneira como nos posicionamos socialmente a partir das noções e da diferenciação entre “eu” e o “outro”. A ideia de alteridade está intimamente relacionada não apenas ao olhar para o outro, mas também a reconhecer o outro e a respeitar as diferenças identificadas, o que exige de cada um considerar dois aspectos: a compreensão sobre o que o outro pensa que faz e entende com relação aos símbolos e como eu interpreto a cultura e a interpretação do outro acerca de sua sociedade e/ou de suas práticas (LAPLANTINE, 2003; RIFIOTIS, 2012; RECHENBERG, 2013; QUEIROZ; SOBREIRA, 2016). Esse modo de interpretação social, característico da Antropologia, é capaz de permitir, àqueles que conseguem se colocar em tal condição, a superação dos limites daquilo que, inicialmente, pressupõem que encontrarão ou terão que decodificar, pois as noções de “cotidiano” e “habitual” tendem a se reduzir conforme a percepção acerca do que é “normal” ou “natural” e se tornam questionamentos sobre como e/ou o quanto costumes, posturas, práticas e a formação intelectual do “outro” são tão pertinentes quanto a minha! Diante de tais inquietações, Rifiotis (2012) destaca que a experiência da alteridade, que aparentemente é fácil, revela-se complicada na prática, especialmente por conta de julgamentos e sensos que conformam nosso etnocentrismo, que remetem à avaliação de aspectos diversos a partir da cultura de quem julga, ou seja, minha percepção como métrica para balizar o quanto todas as demais são adequadas, corretas ou justificáveis. A necessidade de tomada de consciência por parte de cada um com relação ao etnocentrismo e à necessidade de estimular em si a prática da alteridade é salutar ao desenvolvimento das relações sociais, uma vez que a ética consiste no caráter coletivo e mutável de funcionamento mais adequado de uma sociedade; a democracia implica a conformação de arranjos sociais e políticos em que diferentes grupos sejam considerados para as tomadas de decisões e a cidadania só se efetiva plenamente quando os diferentes são tratados de maneira equânime ou se busca a redução de disparidades sociais. Refletindo acerca do funcionamento das sociedades na atualidade, Hall (2006) afirmou que as alterações nas estruturas e nos padrões culturais nos dias de hoje decorreriam de rupturas que gerariam fragmentações que permeiam as relações sociais como um todo. Se anteriormente as sociedades eram pensadas a partir de um centro de poder e que este perderia espaço apenas quando substituído por outro; na pós- modernidade, a substituição se daria por uma pluralidade de centros de poder, fragmentados sem, necessariamente, um princípio articulador ou organizador único, bem como sem obrigatoriedade de causalidade ou explicação única. As sociedades contemporâneas ou pós-modernas, portanto, não poderiam ser tratadas como unificadas, delimitadas ou totais, sendo que aquelas de modernização tardia – fora do eixo dos países que estiveram à frente da Revolução Industrial nos séculos XVIII e XIX e dos Estados Unidos - produziriam ampla variedade de identidades aos indivíduos, as quais não se desintegram, não por unificação (unidade), mas porque os diferentes elementos e identidades podem, em certas circunstâncias, articular-se conjuntamente, ainda que seja parcial. Tal perspectiva nos permite inferir que Hall (2006) apresenta a noção de identidade na pós-modernidade como permeada por uma estrutura aberta, o que devemos considerar como positiva, já que a desarticulação de identidades fixas e estáveis do passado abre possibilidades a novas articulações, novos sujeitos, novas identidades e recomposições das estruturas de articulações – conforme destacado em nosso podcast. Eis o princípio do multiculturalismo, uma corrente interpretativa que se pauta pela defesade grupos que têm acesso restrito a diversas esferas de reconhecimento, especialmente no que tange aos direitos sociais e, portanto, aos interesses sociais, uma vez que articula elementos de ética, democracia e cidadania em seu conteúdo, especialmente ao focar em discussões atreladas à inclusão de grupos cujos valores são inferiorizados pela sociedade em que vivem. Considerando que o debate acerca da garantia de direitos sociais a grupos que deles são privados está intimamente relacionado à própria democracia. Identificamos em Miguel (2005) e Albrecht (2019) as principais contribuições do multiculturalismo para a teoria e a prática democrática, ética e pautada pela cidadania. Em primeiro lugar, cabe destacar que a perspectiva multiculturalista é positiva no contexto democrático por conta da possibilidade de valorização de grupos como agentes políticos, tendo em vista que se pautam pela manifestação de que direitos sociais lhes são devidos e carecem de atenção e atendimento. Segundo, a manifestação de insatisfação de grupos faz emergir a consideração em torno da necessidade de incluir políticas direcionadas a minorias, de caráter redistributivo e voltado àqueles que necessitam, especificamente, de determinado serviço ou recurso, reforçando o caráter ético coletivo de busca pelo atendimento de necessidades de distintos grupos e expande a noção de cidadãos à totalidade da população, independentemente de características sociais específicas. O terceiro ponto diz respeito à crítica ao ideal de imparcialidade que, muitas vezes, vigora, em que a elite política e econômica ocupa os postos de mando e trabalha para a manutenção de seu status quo, de modo que grupos menos favorecidos sequer tenham voz, não raras vezes, e que toda oportunidade de vocalizar demandas e necessidades deve ser aproveitada! Diante do exposto, é importante reafirmar que o multiculturalismo inclui os grupos como agentes na reflexão política, já que tais coletividades são entendidas não como mera agregação de indivíduos, mas como conjuntos de pessoas que compartilham uma identidade e lutam pela garantia de direitos sociais pertinentes a essa identidade. Aqui, cabe reforçar que essa identidade pode ser de diferentes naturezas, inclusive profissional! Nesse contexto, a representação específica de grupos estimularia a participação e o engajamento e revelaria a parcialidade das perspectivas politicamente predominantes ao trazer à deliberação compreensões diferentes. Conforme destaca Young (2006), no âmbito do poder político instituído, não se trataria de ter um parlamento totalmente “igual” à sociedade em termos numéricos, mas de conferir oportunidade para diferentes grupos se expressarem e terem suas perspectivas consideradas. Essa noção de vocalização de perspectivas, inclusive, é um dos principais aspectos democráticos do multiculturalismo, para além da esfera político-partidária relacionada aos cargos eletivos. O multiculturalismo traz, assim, uma reflexão sobre o próprio significado de democracia: constantemente associada à maioria, a democracia, em defesa do multiculturalismo, passa a ser vista como um regime protetor de minorias, constituída, não pelo aspecto numérico, mas pela posição que ocupa na sociedade em uma perspectiva relacional com relação à sua cidadania e aos direitos sociais. Assim, o multiculturalismo se opõe à ideia de que democracia é meramente um governo “do maior número”. Em se tratando dos principais marcadores sociais que marcam o contexto multiculturalista de enfrentamentos por direitos de minorias, Rifiotis (2012) – destaca quatro aspectos ou temáticas, quais sejam: O sexo se apresenta como um vetor biológico definidor, ainda que parcialmente, de modos de pensar, agir e sentir dentro da maioria das sociedades contemporâneas, as quais, em alguma medida, refletem a diferenciação entre homens e mulheres e suas ocupações e limites nos âmbitos público e privado (RIFIOTIS, 2012). Nesse sentido, uma desconstrução latente a ser enfrentada pela noção de alteridade é a determinação dos papéis sociais atribuídos a homens e mulheres no cuidado com o lar e a família (no âmbito privado), e sua capacidade de atuação no mercado de trabalho em geral, em cargos e funções hierarquicamente elevados e nos espaços da política (no âmbito público). O segundo marcador social relevante no contexto multicultural atual é a questão de classe social, critério que assume características econômicas e culturais, de maneira simultânea. Por um lado, remete à manutenção do domínio e da diferenciação social que perpetua uma elite política e econômica como ocupantes do poder, ao mesmo tempo que, por outro lado, dialoga com um discurso de meritocracia, pautado pelo argumento de que o esforço é a condição necessária para que todos alcancem seus objetivos. Considerando o impacto da qualidade do ensino sobre a possibilidade de alteração de classe social dos indivíduos, é pertinente considerar que uma sociedade mais ética e com valores de cidadania seria aquela em que a democracia defende a melhoria da educação pública e do acesso a essa educação. Com relação ao terceiro marcador social, a relação entre idade e geração, cabe destacar que enquanto idade remete à mera contagem de anos de vida, o conceito de geração remete às experiências e perspectivas que cada período da vida pode reservar aos indivíduos. Da mesma maneira, trata das necessidades individuais com as quais o Estado deve arcar para com o indivíduo. Isso significa que os jovens, por exemplo, fazem maior uso de equipamentos públicos de educação e esportes, bem como carecem de políticas de inserção no mercado de trabalho e de acesso ao ensino superior ou cursos técnicos para profissionalização. Por outro lado, àqueles em idade “produtiva” cabe a preocupação com a Previdência Social; e aos idosos cabe a maior utilização do Sistema Único de Saúde. Essa noção de geração, portanto, remete às experiências vivenciadas, de modo que as experiências que conformam as identidades dos indivíduos e sua relação com o caráter ético da vida em sociedade e sua cidadania diferem. Por fim, o quarto marcador social destacado por Rifiotis (2012) é a questão da etnia, indicador voltado à interpretação das relações existentes entre distintos grupos étnico-raciais, referentes aos quais é conhecida a diferenciação em termos de acesso a oportunidades e preconceitos, especialmente ao nos depararmos com a história do Brasil após a abolição da escravatura (1888) e a proclamação da república (1889). Sobre tal marcador, o autor chama atenção com a seguinte exposição: A desigualdade social no Brasil passa com certeza pelo marcador étnico. Porém, a questão atual está em compreender como se dá o “preconceito à brasileira” e como ele opera no nosso cotidiano. Neste campo entre desigualdade social e preconceito, há muito para fazer e muitos aspectos para analisar. E não se iluda, porque o mais difícil de ver é o óbvio. De fato, a questão envolve múltiplos aspectos da vida social (RIFIOTIS, 2012, p. 99). Contudo, para além da consideração sobre cada marcador em separado, é preciso ter em mente que se tratam de categorias analíticas, as quais podem apresentar-se isoladas ou de maneira conjunta na prática, uma vez que o multiculturalismo nos coloca o desafio de considerar a multiplicidade de aspectos conformadores das identidades individuais e pensarmos, de modo coletivo, sobre a prática ética e os direitos de cidadania. Para concluirmos nossa reflexão, cabem duas considerações acerca desses temas de interesse social. A primeira diz respeito à materialização da questão ética no contexto democrático por meio da cidadania em nível global: trata-se dos direitos humanos, que constituem as liberdades civis e políticas dos indivíduos ao redor de todo o mundo, conforme determina a ONU desde a Declaração Universal dos DireitosHumanos, assinada em 1948, por um conjunto de países que aceitaram princípios como: todos nascem livres e iguais em dignidade e direitos e devem permanecer iguais perante a lei; todos têm direito à vida e não devem ser submetidos à escravidão; todos devem ter direito à educação; devem ser respeitadas liberdades de opinião, de expressão e de manifestação de religião etc. Esses princípios devem nortear a formulação de leis em cada país. A segunda consideração, relacionada à primeira e específica para o caso brasileiro, diz respeito à Constituição Federal de 1988, vigente no país até o momento e internacionalmente conhecida como “Constituição cidadã”, por conta dos avanços em termos de determinação de igualdade de direitos a toda a população, garantia de direitos sociais por meio de políticas públicas e de liberdades de expressão, organização e manifestação, inclusive por meio de manifestações contestatórias ao funcionamento das instituições políticas que regem o governo e pela participação ampla dos cidadãos na formulação de políticas públicas, por meio de instituições participativas. A Organização das Nações Unidas definiu um conjunto de parâmetros para a melhor adequação do funcionamento das sociedades atuais por meio do estabelecimento da Agenda 2030, na qual foram firmados os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), relacionados a três eixos práticos: a biosfera, a sociedade e a economia, conforme exposto na representação a seguir, extraída da página oficial do documento. www.agenda2030.com.br Conforme evidenciado na imagem, a maioria dos objetivos se encontra vinculada à sociedade, tratando-se, portanto, de aspectos relacionados ao interesse social e, nesse sentido, permeando as temáticas da ética, da democracia e da cidadania no contexto de vivência com alteridade e em respeito ao multiculturalismo. Seguem breves descrições dos ODS de interesse social também extraídas da página oficial da Agenda 2030. • Erradicação da pobreza: Acabar com a pobreza em todas as suas formas, em todos os lugares. http://www.agenda2030.com.br/os_ods/ • Fome zero e agricultura sustentável: Acabar com a fome, alcançar a segurança al imentar e melhor ia da nutr ição e promover a agr icul tura sus tentável . • Saúde e bem-estar: Assegurar uma vida saudável e promover o bem - es tar para todos, em todas as idades . • Educação de qualidade: Assegurar a educação inclus iva e equitativa de qualidade, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos. • Igualdade de gênero: Alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas . • Energia acessível e limpa: Assegurar o acesso conf iável , sustentável, moderno e a preço acess ível à energia para todos. • Cidades e comunidades sustentáveis: Tornar as cidades e os assentamentos humanos inclus ivos , seguros, res i l ientes e sustentáveis. • Paz, just iça e inst ituições ef icazes: Promover sociedades pacíf icas e inclusivas para o desenvolvimento sus tentável , proporcionar o acesso à jus t i ça para todos e cons truir ins ti tu ições ef icazes, responsáveis e inclus ivas em todos os níveis . 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A falta de conhecimento entre linguagem e poder, os problemas no processo de comunicação e o desconhecimento da língua como organismo vivo acarretam inúmeros problemas em nossas práticas, desde as mais banais até as mais sofisticadas. Partindo dessa premissa, vamos pensar, mesmo que rapidamente, acerca dos conceitos de língua e linguagem, nos elementos que compõem os atos comunicativos, nas funções da linguagem e nas diferenças básicas existentes entre o texto literário e o texto não literário. L Í N G U A & L I N G U A G E M A língua é o meio de comunicação utilizado por todos os falantesde qualquer região do mundo. Muito mais do que isso, ela é, também, um objeto de poder. A Linguística – ciência que estuda as línguas – propõe inúmeras maneiras de se conceituar e compreender esse complexo tema. Exemplo de tipo de linguagem: Um conceito de cunho estruturalista vem de Ferdinand de Saussure (1970), considerado o pai da Linguística moderna. Para ele, a língua é um sistema de signos, isto é, um conjunto de unidades que relaciona um significante (imagem acústica) com um significado (conceito). A língua está na coletividade e se manifesta de duas formas: fala e escrita. Com base nessas duas manifestações é possível pensar na dimensão histórica da língua levando em consideração suas questões sociais. Fato é que a língua existe desde o começo do mundo, e quando nascemos já somos impostos a ela que, por sua vez, já está definida por seus usuários. De acordo com Saussure (1970, p. 34): Língua e escrita são dois sistemas distintos de signos; a única razão de ser do segundo é representar o primeiro; o objetivo linguístico não se define pela combinação da palavra escrita e da palavra falada; essa última, por si só, constitui tal objeto. Mas a palavra escrita se mistura tão intimamente com a palavra falada, da qual é a imagem, que acaba por usurpar-lhe o papel principal; terminamos por dar importância à representação do signo vocal do que ao próprio signo. É como se acreditássemos que, para conhecer uma pessoa, melhor fosse contemplar-lhe a fotografia do que o rosto. Saussure (1970, p. 24) complementa – afirmando que “a língua é um sistema de signos que exprimem ideias, e é comparável, por isso, à escrita, ao alfabeto dos surdos- mudos, aos ritos simbólicos, às formas de polidez, aos sinais militares etc., etc. ela é apenas o principal desses sistemas”. É importante que fique claro que o interesse de Saussure estava focado no sistema e na forma da língua e não nos aspectos de sua realização na fala ou nos textos. Em outras palavras, em seus estudos, ele não se preocupava em analisar o uso da língua, embora ele nunca tenha “fechado as portas” para esse tipo de análise. Para Saussure, a linguagem, ao contrário da língua, sofre alterações: modificam- se as palavras, novas expressões vão surgindo, o uso constante da língua permite comunicações distintas em diversas épocas e/ou situações. Para encerrarmos essa noção básica acerca da concepção estruturalista, entende-se que a linguagem advém da língua e não podemos confundir: a linguagem tem caráter individual e social e a língua possui caráter adquirido e convencional. Já uma concepção histórica, social e interativa põe em relevo a evolução da língua. Depois de muitos estudos e de revisões do pensamento saussureano, fica explícito que não é possível afirmar que a língua permanece a mesma, homogênea e intacta, depois de tantas evoluções históricas e sociais que ocorreram em todo o mundo desde os primórdios. Irandé Antunes (2009) – afirma que não é possível pensar em língua como objeto isolado, ao contrário: é preciso observar suas condições de uso. Assim sendo, essa concepção de língua pensa no fenômeno linguístico a partir de suas intenções sociocomunicativas, observando as interações existentes entre seus interlocutores, além dos efeitos de sentido, seus contextos de uso, deixando, dessa maneira, de ser um signo contido de significado e significante e um amontoado de regras normativas. A partir da quebra dessa visão estrutural, é possível entender toda a mobilidade da língua. Antunes (2009. p. 23) complementa: A língua é, assim, um grande ponto de encontro; de cada um de nós, com os nossos antepassados, com aqueles que, de qualquer forma, fizeram e fazem a nossa história. Nossa língua está embutida na trajetória de nossa memória coletiva. Daí o apego que sentimos à nossa língua, ao jeito de falar e nosso grupo. Esse apego é uma forma de selarmos nossa adesão a esse grupo. Na esteira dessas discussões, Marcos Bagno (2002) contribui para a presente discussão ao trazer, de modo clarificado, algumas definições da língua, conforme seguem: a) A língua apresenta uma organização interna sistemática que pode ser estudada cientificamente, mas ela não se reduz a um conjunto de regras de boa- formação que podem ser determinadas de uma vez por todas como se fosse possível fazer cálculos de previsão infalível. As línguas naturais são dificilmente formalizáveis; b) A língua tem aspectos estáveis e instáveis, ou seja, ela é um sistema variável, indeterminado e não fixo. Portanto, a língua a apresenta sistematicidade e variação a um só tempo; c) A língua se determina por valores imanentes e transcendentes de modo que não pode ser estudada de forma autônoma, mas deve-se recorrer ao entorno e à situação nos mais variados contextos de uso. A língua é, pois, situada; d) A língua constrói-se com símbolos convencionais, parcialmente motivados, não aleatórios, mas arbitrários. A língua não é um fenômeno natural nem pode ser reduzida à realidade neurofisiológica; e) A língua não pode ser tida como um simples instrumento de representação do mundo como se dele fosse um espelho, pois ela é constitutiva da realidade. É muito mais um guia do que um espelho da realidade; f) A língua é uma atividade de natureza sócio-cognitiva, histórica e situacionalmente desenvolvida para promover a interação humana; g) A língua se dá e se manifesta em textos orais e escritos ordenados e estabilizados em gêneros textuais para uso das situações concretas; h) A língua não é transparente, mas opaca, o que permite a variabilidade de interpretação nos textos e faz da compreensão um fenômeno especial na relação entre os seres humanos; i) Linguagem, cultura, sociedade e experiência interagem de maneira intensa e variada não se podendo postular uma visão universal para as línguas particulares. As reflexões de Bagno fortalecem a compreensão da versatilidade da língua e a impossibilidade de estudá-la isoladamente, uma vez que ela é ferramenta de comunicação e de interação social entre os sujeitos falantes. Antunes (2009) afirma que língua e linguagem caminham e evoluem juntas, portanto, “linguagem, língua e cultura são, reiteramos, realidades indissociáveis”. Nessa mesma perspectiva, Celestina Sitya (1995) afirma que a linguagem possui várias funções, no entanto, destaca a importância da interação social, da comunicação entre os sujeitos. Ela afirma que sendo a linguagem uma forma de ação, ela “adentra-se nos campos da persuasão e do convencimento, porque a linguagem como meio de interação social é dotada de intencionalidade: seu fundamento está, pois, na argumentação que procura persuadir e convencer” (SITYA, 1995, p. 12). Isto quer dizer que a função primordial da linguagem é a argumentação, pois quem enuncia algo sempre tem em vista persuadir seu interlocutor. Ingedore Koch (1996, p. 17) propõe que a linguagem deve ser compreendida como forma de ação, isto é, “ação sobre o mundo dotada de intencionalidade, veiculadora de ideologia, caracterizando-se, portanto, pela argumentatividade”. Com base nessa afirmação, todas as relações, opiniões, interações que são construídas via linguagem são feitas não apenas para expressar algo, mas também para provocar alguma reação no outro. Dessa forma, fica explícito que tudo é intencional, mesmo que não tenhamos consciência disso. E L E M E N T O S D O A T O C O M U N I C A T I V O E F U N Ç Õ E S D A L I N G U A G E M Pensemos, a partir de agora, mais detalhadamente nas funções da linguagem. Para tal, acionaremos o modelo proposto por Roman Jakobson (2010), relido aqui por Mário Eduardo Martelotta (2008). Para Jakobson (2010), a linguagem possui várias funções, mas para que possamos apreendê-las, é preciso compreender os elementos que constituem o ato de comunicação. Observe o esquema a seguir: O esquema nos mostra que, para existir
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