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Glenda Domingos – Biomedicina, UFRJ equilibrio áacido−base As soluções podem ser classificadas como ácidas ou básicas de acordo com a concentração de íons H+ presente. Segundo a Teoria de Brönsted- Lowry, a substância capaz de liberar H+ é chamada de ácido, enquanto que a substância capaz de captura-lo é uma base. Assim, as soluções apresentam concentração de H+ maiores que 1 × 10-7 M, são ácidas, à medida que soluções com concentrações menores que essa são básicas. A concentração de H+ em uma solução é expressa em termos de pH. Calcula-se: pH= - log [H+] pH = pKa + log [sal]/ [ácido] sendo, Ka= soluções tampão Nosso organismo apresenta uma faixa de pH – de 7,35 a 7,45 – que nos mantém em homeostase. Os tampões são soluções que tem por finalidade manter o pH estável, sem variações bruscas. Ele é constituído por um par ácido-base conjugada, que atuam neutralizando alterações na concentração de H+. Dessa forma, caso os níveis de H+ sejam aumentados, o tampão absorverá alguns deles elevando o pH, de mesmo modo, quando houver pouca concentração de H+ no meio, o tampão doará alguns de seus H+, visando atingir novamente um estado de equilíbrio. Em nosso organismo, existem o sistema bicarbonato – principal – e não bicarbonato, que é constituído pela hemoglobina, proteínas ácidas, fosfato, entre outros. A concentração dos 2 componentes do sistema bicarbonato pode ser regulada pelo sistema respiratório e pelos rins, respectivamente, através do CO2 e HCO3-. Assim, o pH sanguíneo pode ser alterado por meio da regulação do sistema respiratório e renal. Mediante essa fórmula, observamos, portanto, a relação inversa pH-PCO2. Ou seja, quanto maior a PCO2, menor o pH e vice-versa. distúrbios ácido-base As alterações do equilíbrio ácido-base podem ser de dois tipos: respiratória, quando há alterações na PCO2 ou metabólica, quando há alterações com relação a [HCO3-]. Além disso, em ambos os casos elas podem ser, ainda, classificadas como acidose ou alcalose. • Acidose respiratória: nesse caso, há um aumento na PCO2, e, dessa forma, o pH é reduzido. A retenção de CO2 – hipercapnia – decorre da 0,03 x PCO2 [H+] [A-] pH = 6,1 + log [HCO3-] [HA] CO2 + H2O ↔ H2CO3 ↔ H+ + HCO3- Glenda Domingos – Biomedicina, UFRJ hipoventilação alveolar ou da desigualdade na relação ventilação-perfusão. Assim, a compensação renal para tentar reverter essa alteração é o aumento da concentração de HCO3-, o que resulta em um aumento do pH. Essa alteração pode decorrer da obstrução das vios aéreas, fibrose pulmonar, fraqueza dos músculos e da utilização de drogas que deprimem o centro respiratório. • Alcalose respiratória: ao contrário do que ocorria anteriormente, agora, o indivíduo está hiperventilando, de forma que haja uma redução da PCO2, elevando a relação HCO3-/CO2, o que resulta em um aumento do pH. Nesse caso, a resposta compensatória renal consiste na reabsorção de ácidos e eliminação de mais HOC3-, o que faz o pH tender a cair. • Acidose metabólica: mediante alterações no metabolismo da glicose, causada pela Diabetes Mellitus ou de ácido lático secundário à hipóxia tecidual, por exemplo, há um aumento na produção de cetoácidos, o que faz cair a relação HCO3-/CO2, o que resulta na queda do pH (que pode estar normal no início do distúrbio). Assim, como resposta compensatória, realizada pelos pulmões, que hiperventilam, temos a queda da PCO2. • Alcalose metabólica: nesse caso, temos o aumento da concentração de HCO3-, o que leva a um aumento do pH. Como resposta compensatória, realizada pela ventilação alveolar, temos um aumento da PCO2. resumão do amor distúrbio características resposta secundária acidose respiratória ↑ PCO2 ↓ pH, hipoventilação Produção de HCO3- alcalose respiratória ↓ PCO2 ↑ pH, hiperventilação Consumo de HCO3- acidose metabólica ↓ HCO3- ↓ pH hiperventilação alcalose metabólica ↑ HCO3- ↑ pH hipoventilação Vale ressaltar que a resposta compensatória nunca leva a normalidade do pH. gasometria arterial A fim de diagnosticar o equilíbrio ácido-base no sangue arterial de um paciente, é necessário realizar 3 etapas: (1) a validade da gasometria arterial, por meio da fórmula de Henderson-Hasselbalch, (2) qual o distúrbio primário e (3) se existe distúrbio secundário. verificação da validade da gasometria etapa cuja finalidade é assegurar a veracidade dos dados encontrados no exame de gasometria, por meio da seguinte expressão: Assim, supondo que um paciente esteja apresentando choque hipovolêmico, com os seguintes valores de gasometria arterial: • pH = 7,25; PaCO2 = 25 mmHg e HCO3- = 10,7 mEq/L Tendo em vista que o resultado encontrado é o mesmo da gasometria, podemos concluir que o aparelho está calibrado e funcionando adequadamente. pH = 6,1 + log [HCO3-] pH = 6,1 + log [10,7] pH = 7,254 PaCO2 PaCO2 Glenda Domingos – Biomedicina, UFRJ verificação do distúrbio primário Para avaliar a ocorrência do distúrbio primário, é necessário que conheçamos os valores de normalidade. A primeira pergunta que devemos fazer é: que componente explica a alteração do pH? Com o pH de 7,25 concluímos que o paciente apresenta uma acidose. Assim, basta, portanto, determinar qual componente está influenciando essa alteração no valor de pH. Sabemos que a PaCO2 reflete o componente respiratório e o HCO3-, o componente metabólico. Assim, tendo em vista que a relação entre PaCO2 é inversamente proporcional ao pH, se ambos os valores estão reduzidos, não é a PaCO2 que está promovendo essa alteração de pH. Diferentemente, a redução da concentração de HCO3- leva a redução do pH, o que está ocorrendo. Assim, temos uma acidose metabólica. E, portanto, os níveis reduzidos de PaCO2, podem estar relacionados a uma resposta compensatória. verificação do distúrbio secundário Para confirmar a ocorrência da resposta compensatória, utilizamos uma das fórmulas compensatórias. Acidose metabólica ΔPaCO2 = 1 a 1,4 × ΔHCO3- Alcalose metabólica ΔPaCO2 = 0,4 a 0,9 × ΔHCO3- Acidose respiratória aguda ΔHCO3- = 0,1 a 0,2 × ΔPaCO2 Acidose respiratória crônica ΔHCO3- = 0,25 a 0,55 × ΔPaCO2 Alcalose respiratória aguda ΔHCO3- = 0,2 a 0,25 × ΔPaCO2 Alcalose respiratória crônica ΔHCO3- = 0,4 a 0,5 × ΔPaCO2 No caso anterior, podemos utilizar a seguinte expressão: ΔPaCO2 = 1 a 1,4 × ΔHCO3- ΔPaCO2 = 1 a 1,4 x (24 – 10,7) = 13,3 a 18,6 ΔPaCO2 = [40 – (13,3 a 18,6)] = 21,4 a 26,7 mmHg Tendo em vista que o valor de PaCO2 encontrado na gasometria está dentro dessa variação, temos uma acidose metabólica simples. Isso porque verificamos que não há um distúrbio respiratório associado, o que nos garante que a redução da PaCO2, está ocorrendo como uma resposta compensatória ao distúrbio primário. Se, porventura, a PaCO2 estivesse superior a 26,7 mmHg, teríamos uma acidose mista. Exemplo 2 Imagine, agora, que um paciente, portador de uma doença respiratória obstrutiva crônica apresenta os seguintes valores na gasometria: • pH = 7,31; PaCO2 = 67,5 mmHg e HCO3- = 33 mEq/L Supondo que o valor de pH encontrado na gasometria seja de 7,31; podemos seguir para a próxima etapa. Como o pH está reduzido e o valor da PaCO2 está aumentado, temos uma acidose respiratória. Para avaliar se os níveis aumentados de HCO3- estão associados a resposta compensatória, utilizamos a fórmula: ΔHCO3- = 0,25 a 0,55 × ΔPaCO2 ΔHCO3- = 0,25 a 0,55 × (67,5 – 40) = 6,8 a 15,1 ΔHCO3- = (24 + 6,8 a 15,1) = 30,8 a 39,1 mEq/ℓ Tendo em vista que o valor da concentração de HCO3- está dentro do esperado, temos uma acidose respiratória crônica simples. Exemplo 3 Quando pH está normal e os valores de PaCO2 e/ ou HCO3- não, significa que o paciente apresenta um distúrbio misto Glenda Domingos – Biomedicina, UFRJSuponha que um paciente que sofreu de choque hipovolêmico foi entubado e colocado em ventilação mecânica, apresentando os seguintes valores na gasometria arterial: • pH = 7,35; PaCO2 = 20 mmHg e HCO3- = 10,7 mEq/L Supondo que o valor de pH encontrado na gasometria seja de 7,35; podemos seguir para a próxima etapa. Nesse caso, diferentemente dos anteriores, o pH está normal. Mas tendo em vista que apenas o HCO3-, nesse caso, pode estar influenciando o pH, consideramos que o paciente esteja com acidose metabólica. Utilizando a fórmula compensatória, temos que: ΔPaCO2 = 1 a 1,4 × ΔHCO3- ΔPaCO2 = 1 a 1,4 x (24 – 10,7) = 13,3 a 18,6 ΔPaCO2 = [40 – (13,3 a 18,6)] = 21,4 a 26,7 mmHg Tendo em vista que o valor encontrado para PaCO2 está inferior ao esperado, temos um distúrbio misto caracterizado por uma acidose metabólica e uma alcalose respiratória.
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