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A representacao do sertao

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A representação do sertão
 na literatura brasileira
Sobre o sertão...
Não lhe definem...
As riquezas naturais; 
As construções ali edificadas; 
As características da paisagem geográfica que lhe é inerente...
Sobre o sertão...
As regiões sertanejas, frequentemente, são definidas:
Lugares de invisibilidade quanto à presença humana; 
“Vazios demográficos”
“Terras desocupadas”. 
Um lugar isolado e distante. 
Espaço para expansão. 
Um lugar ocupado por povos diferentes. 
Quem é o sertanejo?
O sertanejo tinha a seu favor vários elementos que o recomendavam para a função. Via de regra é um mestiço do branco com o índio (não com o negro, raro nas áreas mais pobres do sertão) [...] Metaforicamente poder-se-ia afirmar que o sertanejo é o descendente direto de Peri e Ceci, de Martim e Iracema. Vivendo em regiões isoladas, sem grande contato como os centros litorâneos tem a evolução cultural relativamente autônoma [...]
É o sertão um habitat, uma região, um território?
Na verdade, o sertão não é um lugar, mas uma condição atribuída a variados e diferenciados lugares. Trata-se de um símbolo imposto – em certos contextos históricos – a determinadas condiç­ões locacionais, que acaba por atuar como um qualificativo local básico no processo de sua valoração. Enfim, o sertão não é uma materialidade da superfície terrestre, mas uma realidade simbóli­ca: uma ideologia geográfica. Trata-se de um discurso valorativo referente ao espaço, que qualifica os lugares segundo a menta­lidade reinante e os interesses vigentes neste processo. O objeto empírico desta qualificação varia espacialmente, assim como variam as áreas sobre as quais incide tal denominação. Em todos os casos, trata-se da construção de uma imagem, à qual se asso­ciam valores culturais geralmente – mas não necessariamente – negativos, os quais introdu­zem objetivos práticos de ocupação ou reocupação dos espaços enfocados. Nesse sentido, a adjetivação sertaneja expres­sa uma forma preliminar de apropriação simbólica de um dado lugar (Moraes, 1988)
Fins do século XIX/XX
Obras com nítido tom ensaísta, que visam responder: 
“O que é o Brasil?”, “Qual a essência brasileira?”, “Como se estrutura o território e o povo brasileiros?”;
Cassiano Ricardo, Nelson Werneck Sodré, Capistrano de Abreu, Oliveira Vianna, Nestor Duarte, Raymundo Faoro, Elísio de Carvalho e Sérgio Buarque de Holanda 
Fins do século XIX/XX
Partição arquetípica do Brasil. 
Litoral x Sertão
(re)descoberta da Nação,
Brasil heterogêneo
Sertanejo:fronteira entre o civilizado/ moderno e o atrasado/arcaico.
1930: Romance de denúncia. 
Identificação da nação
 Paisagem,
Costumes,
 Linguagem, 
 Crenças, 
Tipos humanos,
Cultura.
Quebra da influência europeia na literatura brasileira; 
Ascensão de novos autores...Que tratavam até então de um Brasil desconhecido. 
Representantes
Guimarães Rosa; 
Rachel de Queiroz; 
Graciliano Ramos;
José Lins do Rego;
Jorge Amado; 
Érico Veríssimo
Dionélio Machado
Diversidade regional e cultural; 
Problemas semelhantes: seca, miséria, ignorância, opressão. 
Espaços, comportamentos e costumes, característicos de determinada região. 
Enredos dinâmicos; 
Linguagem regional; 
Ampliação dos grupos leitores. 
Rachel de Queiroz (O Quinze)
Depois de se benzer e de beijar duas vezes a medalhinha de São José, Dona Inácia concluiu: “Dignai-vos ouvir nossas súplicas, ó castíssimo esposo da Virgem Maria, e alcançai o que rogamos. Amém.”
Vendo a avó sair do quarto do santuário, Conceição, que fazia as tranças sentada numa rede ao canto da sala, interpelou-a:
- E isto chove, hein, Mãe Nácia? Já chegou o fim do mês... Nem por você fazer tanta novena...
Dona Inácia levantou para o telhado os olhos confiantes:
- Tenho fé em São José que ainda chove! Tem-se visto inverno começar até em abril.
Características gerais
Descrições rápidas; 
Menções à fé; 
Poucos adjetivos e advérbios; 
Retratos heterogêneos da vida dura de um sertanejo. 
Conotação política para identificar locais distanciados dos centros de poder. 
Espaço mítico, da interioridade...
“ O Sertão é do tamanho do mundo” (Guimarães Rosa). 
Textos-referência:
Vidas Secas e São Bernardo (Graciliano Ramos)
TEMÁTICAS GERAIS
Banditismo, 
Cangaço, 
Seca, 
Miséria, 
Beatismo, 
Migração.
. “Então, o Romantismo apareceu aos poucos como caminho favorável à expressão própria da nação recém-fundada, pois fornecia concepções e modelos que permitiam afirmar o particularismo, e portanto a identidade, em oposição à Metrópole” (CANDIDO, 2004, p. 19).
Ideologias: 
Humanismo: o homem como centro da abordagem regionalista, dentro da estrutura social, político e geográfica...Em que está inserido. 
Determinismo: Crítica do real, reflexão sobre o meio. 
Reformismo: Há um forte apelo revolucionário. As estruturas sócio-políticas que destroem o homem podem ser mudadas. 
Instrumentalismo: Escrever é sempre um ato político de militância. 
Trecho Vidas Secas
A caatinga estendia-se, de um vermelho indeciso salpicado de manchas brancas que eram ossadas. O vôo negro dos urubus fazia círculos altos em redor de bichos moribundos. 
– Anda, excomungado. 
O pirralho não se mexeu, e Fabiano desejou matá-lo. Tinha o coração grosso, queria responsabilizar alguém pela sua desgraça. A seca aparecia-lhe como um fato necessário – e a obstinação da criança irritava-o. Certamente esse obstáculo miúdo não era culpado, mas dificultava a marcha, e o vaqueiro precisava chegar, não sabia onde. [...] 
Sobre a literatura sertanista
traduz peculiaridades locais;
 apresenta a tensão entre idílio e realismo, entre nação e região, oralidade e letra, campo e cidade, entre a visão nostálgica do passado e a denúncia das misérias do presente. O descritivismo pictorial faz alusão a imagens através de sonoridade, ritmo e modo de falar dos personagens; aqui se encontra em prática “a capacidade de pôr em foco visões de olhos fechados, de fazer brotar cores e formas de um alinhamento de caracteres alfabéticos negros sobre uma página branca, de pensar por imagens” (Calvino, 1998).
Como o regionalismo é visto hoje?
 Com a modernização das técnicas agrícolas, o êxodo rural, o desenvolvimento das cidades e de uma literatura urbana, o regionalismo tem sido visto como ultrapassado, retrógrado, localismo estreito e reacionário tanto do ponto de vista estético quanto do ideológico. Essa crítica esquece, no entanto, que ele é um fenômeno eminentemente moderno e universal, contraponto necessário da urbanização e da modernização do campo e da cidade sob o capitalismo. Por isso, continua a existir e a dar frutos como uma corrente temático-formal contraditória onde têm lugar os reacionários e os progressistas; os nostálgicos, os xenófobos mas também os inconformados com a divisão injusta do mundo entre ricos e pobres. Uma corrente que deu origem a grandes obras, como as de Faulkner, Verga, Rulfo, Carpentier, Arguedas e Guimarães Rosa.

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