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1 Bianca Marinelli – Direito Constitucional I – 3º termo Poder Constituinte Poder de constituir, poder de criar as regras de estruturação do Estado, partindo-se da premissa de ser em prol do povo. Na monarquia ou monopólio de governo dominou o mundo em sua história. A ideia de que o povo deveria escolher o seu governante, portanto o fim do absolutismo, só se deu com a independência dos Estados Unidos da América (13 Colônias Americanas). Este país nunca foi governado por um imperador, causando o fim de uma Era ao influenciar a Europa. A Revolução Francesa ocorreu apenas em 1789. Emmanuel Joseph Saieyès (Abade Saieyès) entendia que o poder deveria ser do povo, sendo contrário ao absolutismo. Esse acabou sendo eleito deputado pelo terceiro Estado com a Queda da Bastilha e consequentemente a queda do império francês, passando a ser República. Na França haviam três Estados: Nobreza e alto clero (representando apenas 20% da população) e os plebeus. Estes pagavam impostos para manter a nobreza e alto clero, realizavam desde as atividades econômicas, exercidas nas indústrias, nos comércios, na agricultura, nas profissões científicas e liberais e até os serviços domésticos. Exerciam ainda quase a totalidade das funções públicas, excluídas apenas aquelas que eram injustamente reservadas aos privilegiados, ou seja, os lugares lucrativos e honoríficos. O poder constituinte é um poder do povo, para o povo, com o povo. Democracia é o governo do povo, para o povo, com o povo. Art. 1º parágrafo único da CF/88: Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição. Quem exerce o poder constituinte é o parlamento, por pessoas que são representantes do povo e que foram eleitos. No Brasil vigora o parlamento é bicameralista (duas Câmaras, uma dos deputados federais e o Senado Federal), e apenas os deputados federais, estaduais e vereadores quem representam o povo, sendo os senadores representantes dos Estados. A Câmara dos deputados possuem 513 deputados federais para 26 Estados e DF. A CF diz que nenhum Estado pode ter mais do que 70 ou menos do que 08 deputados federais. São Paulo é o único Estado que tem 70 deputados federais, seguido por Minas Gerais que tem 68, enquanto Roraima, Amapá e DF apenas 8. São Paulo tem 70 deputados federais para representar 40 milhões de paulistas, cada um representando 571000 paulistas. Roraima tem aproximadamente 450 mil habitantes, cada deputado representando 56250. Tratando-se de senadores, cada estado, independentemente da quantidade de habitantes, tem três e mais o DF, sendo, portanto, 81 senadores no total. Não há em nosso ordenamento jurídico nenhuma hipótese de um deputado federal, estadual ou vereador ocupar o cargo sem ter recebido voto, justamente por serem representantes do povo. Já senador tem essa possibilidade, sendo ele o suplente de senador. 2 Bianca Marinelli – Direito Constitucional I – 3º termo A doutrina diz que há dois tipos de poder constituinte: 1. Poder constituinte originário ou primário: É poder de criar uma nova CF. Hoje os deputados federais e senadores não podem criar uma nova CF, pois eles não foram eleitos para tal, podendo no máximo alterar a CF e criar leis. Para criar uma nova CF há a necessidade de uma ruptura da atual CF em relação ao período em que ela está em vigor, e haver autorização para se convocar uma Assembleia Constituinte. Par isso deve ser criado um dispositivo legal autorizando/prevendo a convocação da constituinte na CF através de emenda constitucional (PEC). Esse poder tem as seguintes características: a) Poder soberano: Está acima de todos os demais poderes e pode criar regras que bem entender. Não há divisão dos poderes, visto que ele é do Estado que representa o povo, logo o poder emana do povo. O poder do Estado é uno, logo o que há é a divisão das funções em função criadora (Poder Legislativo), administrativa (Poder Executivo) e função de aplicar a lei (Poder Judiciário). Como forma de evitar o abuso no exercício das funções, os poderes podem exercer, além de sua função básica, também a função dos demais poderes, o que se denomina "sistema de freios e contrapesos" (poder de fiscalizar o outro não somente nas suas funções típicas, mas também quando há o abuso na garantia). As garantias que são dadas aos seus membros diferenciam um poder de outro. Elas não são absolutas, pois podem ser revistas pelos poderes. São elas: imunidade parlamentar para o Poder Legislativo, trabalhar com o dinheiro público e ser monocrático (trabalhar sozinho) para o Poder Executivo e vitaliciedade e inamovibilidade para o Poder Judiciário. Caso algum dos ministros do STF tome alguma decisão que se entenda abusiva, deve ser apresentado ao Senado Federal para que ele responda pelo processo de impeachment. Caso o Presidente do Senado seja omisso a sua função, perderá seu cargo. O poder constituinte está à cima de todos os demais poderes, pois ele pode acabar com essas garantias e extinguir os próprios poderes, ou ainda dividir ainda mais estes poderes. A CF de 1891 acabou com o poder moderador, extinguiu este poder. Para uma melhor limitação dos poderes, o Presidente seria apenas chefe de Estado e o Primeiro Ministro chefe de Governo, haveria a criação do Tribunal Constitucional que ficaria com as questões de controle de constitucionalidade, acabaria com o bicameralismo formando uma única Casa como ocorre no Perú e no Equador (nos quais não existe a figura do Senado), a única Casa receberia o nome de Assembleia do povo. b) Poder inicial: Cria um novo Estado com novas regras. Não pode se alegar direito adquiridos com a antiga constituição após o surgimento de uma nova CF, pois esse direito acaba junto com ela. 3 Bianca Marinelli – Direito Constitucional I – 3º termo Exemplo: A CF/67 previa que os militares não pagavam imposto de renda, já a CF/88 prevê que "todos são iguais perante a lei" e que "homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações". O imposto de renda é para todos que ganham a partir de uma quantidade de reais, independentemente do que a antiga constituição previa. Quando entrar em vigor uma nova constituição ela pode inclusive mudar o nome do país. Exemplo: CF/67 o país de chamava "Estados Unidos do Brasil" e com a CF/88 passou a se chamar "República Federativa do Brasil". c) Poder ilimitado: Surgiram dois posicionamentos doutrinários. Para os positivistas o poder constituinte originário é um direito, não há limites para ele, podendo criar, mudar e até extinguir todo e qualquer direito ou regra (incluindo os direitos fundamentais). A mudança é absoluta, ilimitável. Pensadores: Carl Schmitt e José Afonso da Silva. Já para os jusnaturalistas o poder constituinte originário não é um direito, mas um fato de tal modo que devem ser respeitados os direitos fundamentais (como os direitos humanos). A mudança não é absoluta, mas sim relativa, havendo limites para impedir o retrocesso. Os direitos fundamentais estão relacionados ao direito interno, descrito em regra na CF, enquanto os direitos humanos estão relacionados aos direitos descritos nos tratados e convenções internacionais. Esses tratados não podem ser rompidos de forma unilateral, pois há risco a segurança jurídica. Pensadores: Jorge Miranda, Manoel Gonçalves Ferreira Filho, Zulmar Fachin, Vladimir Brega Filho. Tanto para os jusnaturalistas quanto para os internacionalistas deve o poder constituinte originário respeitar os direitos fundamentais, direitos humanos e os tratados anteriormente criados, sob pena de colocar em riso a segurança jurídica. Quando surge uma nova constituição, podem ocorrer fenômenos que levam também a dúvidas: I. Recepção: Para que ocorra a recepção há a necessidade da entrada em vigor de uma nova constituição. Os dispositivos normativos infraconstitucionais que com a constituição nova estiveram compatíveis,no Pacta sunt servanda (os pactos devem ser cumpridos): Representa o princípio da força obrigatória dos contratos, que diz: se as partes estiverem de acordo e desejarem se submeter a regras estabelecidas por elas próprias, o contrato obriga seu cumprimento como se fosse lei. A cláusula rebus sic stantibus instrumentaliza a teoria da imprevisão, tendo o objetivo de ancorar a execução do contrato às condições existentes ao tempo em que as partes manifestaram suas vontades. Com a teoria da imprevisão, faz-se possível a resolução ou revisão do contrato quando da ocorrência de fatos novos e imprevisíveis às partes, sem que tenham contribuído para a ocorrência. 4 Bianca Marinelli – Direito Constitucional I – 3º termo ordenamento jurídico permanecerão, e aqueles que com o novo ordenamento jurídico constitucional contrariar não serão recepcionados e deixarão o ordenamento jurídico. Difere-se de revogação, na qual uma lei revoga a outra lei incompatível. Quando uma lei revoga outra, a lei anterior torna-se inaplicável (perde sua aplicabilidade) deixando o ordenamento jurídico. Uma CF não recepciona outras leis incompatíveis. Quando uma CF nova não recepciona um dispositivo normativo anterior a ela, o torna ineficaz (perde sua eficácia) deixando o ordenamento jurídico. A recepção ocorre sobre questões de ordem formal (formalismo) ou material (matéria)? Imaginemos que em 1969 (então em vigor a CF/67) entrou em vigor a lei X. Esta lei, seguindo o procedimento descrito na CF/67 continuou a ter aplicabilidade, até que a CF/88 para aquele tipo de assunto criou um novo rito. Se os ritos foram mudados de tal modo que o rito que criou a Lei X/69 está incompatível com a CF/88, esta lei X será mantida no ordenamento jurídico? O rito para se criar leis na atual CF está no artigo 61 e seguintes. Sim, será mantido. O STF pacificou o entendimento no sentido em que a recepção não recai sobre questões de ordem formal (formalismo). O formalismo de um dispositivo infraconstitucional deve ser avaliado no momento em que esta lei nasce e entra no ordenamento jurídico, de acordo com a constituição que rege aquele momento. Logo, a Lei X/69 deveria seguir o rito da CF/67. Se assim o fez, tudo está certo, mesmo que a CF/88 tenha mudado esta regra. Exemplo: O atual código comercial foi criado seguindo o rito determinado pela Constituição de 1824. Lei nº 556, de 25 de junho de 1850. Exemplo: A Lei Aurea quando foi elaborada e aprovada seguindo o rito da Constituição de 1824. Lei nº 3.353 de 13 de maio de 1888. Rito foi aquele observado para que ela seja aprovada como projeto de lei nas casas do Congresso Nacional e após venha a sofrer a sanção do chefe do Executivo. Se para a época em que ela foi criada estava correta mantenho aquele rito. Exemplo: O CP foi instituído pelo decreto-lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Quando o CP foi criado, estava em vigor a CF de 1937. Logo o CP teve que observar quanto ao seu rito, aquele determinado pala CF/37. A CF/88 não prevê a figura legislativa do "decreto-lei" (foi extinta). O CP, diante da atual situação da CF/88 que não prevê o decreto-lei, não extinguiu o seu rito. O CP pode ser alterado segundo a doutrina e a jurisprudência por lei ordinária. Logo apesar de ser um "decreto-lei" o atual CP tem "status" de lei ordinária. Exemplo: Quando o CTN foi criado estava em vigor a CF/46. Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966. Logo, os assuntos descritos no atual CTN criados em 1966 seguiu o rito de lei ordinária, conforme determinava a CF/46. Ocorre que na atual CF/88, o mesmo assunto previsto no atual CNT deve ser tratado por lei complementar conforme consta do art. 146. Pela CF/46 o assunto poderia ser aprovado por maioria simples, mas pela atual CF o mesmo assunto deve ser aprovado por maioria absoluta. Neste caso, apesar do CTN ser uma lei ordinária, com a entrada em vigor da CF ela 5 Bianca Marinelli – Direito Constitucional I – 3º termo passou a ter "status" de lei complementar, devendo ser recepcionada como tal. Segundo o STF, o controle de constitucionalidade sobre o rito (formalismo) utilizado na criação do dispositivo normativo deve ser feito levando em consideração a constituição que estava em vigor no momento em que ela foi aprovada, não pelo rito novo previsto na nova constituição. Logo o controle da recepção é feito apenas em relação à matéria (material), pois se uma lei criada em uma constituição anterior violar a matéria da atual CF, ela deverá deixar o ordenamento jurídico pela não recepção. Na recepção ela ocorre de modo tácito pela nova CF, ou seja, a nova CF não expressa qual ou quais dispositivos ela manterá no ordenamento jurídico. Ocorre que há casos em que pode haver divergência entre magistrados. Alguns entendem que uma determina lei anterior a CF está em vigor (recepcionada) e outros entendem que não foi recepcionada, fato que pode gerar insegurança jurídica. Neste caso o STF pode declarar expressamente ou não se houve a recepção. Exemplo: Lei n. 5250/67 (lei de imprensa), criada na ditadura militar. O STF quando do julgamento da ADPF n. 130 reconheceu que a Lei n. 5250/67 não foi recepcionada pela atual CF, pois viola o direito de informação. Supremo julgou a lei de imprensa incompatível com a CF. A mesma constituição que garante a liberdade de expressão frisou Celso de Mello, garante também outros direitos fundamentais, como os direitos à inviolabilidade, à privacidade, à honra e à dignidade humana. Para ele, esses direitos são limitações constitucionais à liberdade de imprensa e sempre que essas garantias, de mesma estatura, estiverem em conflito, o poder judiciário deverá definir qual dos direitos deverá prevalecer, em cada caso, com base no princípio da proporcionalidade. O instrumento que o STF se utiliza para fazer controle de recepção é a ADPF (Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental). Entrada em vigor com uma nova constituição. ⇨ Os dispositivos infraconstitucionais contrários a ela deixam o ordenamento jurídico sendo reconhecido as suas ineficácias. Ocorre apenas sobre a forma material (matéria da lei), pois o formalismo da lei foi avaliado no momento em que foi criada no ordenamento (como a lei áurea). ⇨ Se algumas leis no seu rito se tornarem incompatível, devem ser mantidas com rito novo (como o CP). ⇨ O STF deve ser provocado para dizer expressamente se determinado dispositivo foi ou não recepcionado. II. Desconstitucionalização: Rebaixamento de um ou mais dispositivos que se encontram dentro de uma constituição velha e que é mantido em vigor pela nova constituição com natureza infraconstitucional. Deve ocorrer de maneira expressa. Esse fenômeno é de origem do Direito Português (1975) desde a primeira constituição (1824) até a atual (1988). Não foi mantido de forma expressa dispositivo de uma constituição anterior, salvo no caso de a grande emenda 69 que alterou quase 80% da CF/67. 6 Bianca Marinelli – Direito Constitucional I – 3º termo Em 2019 houve nova reforma das regras da previdência social com a emenda constitucional nº 103, propondo ao parlamento para que as regras da previdência social fossem rebaixadas pra para nível de lei complementar. Como forma de uma eventual e futura mudança das regras da previdência sejam mais facilitadas. III. Repristinação: Lei A foi revogada pela Lei B. O que impede a existência e aplicabilidade da Lei A é a existência da Lei B. Posteriormente a Lei B é revogada pela Lei C. O motivo que impede a aplicabilidade da Lei A deixa de existir, fazendo-a voltar ao ordenamento jurídico pela repristinação. Entretanto isso não é possível no ordenamento jurídico, pois causaria insegurança jurídica. Exemplo: Lei A seria o Código Comercial de 1850 e a Lei B a nova Lei do Cheque, que entrou em vigor em 1950 e alterou as regras em relação ao Código Comercial revogando a A. A Lei C seria a nova Lei do Cheque de 2021 que, posteriormente, revogou a Lei B. Pela repristinação,se a Lei A voltasse a ter aplicabilidade causaria uma insegurança jurídica, já que são opostas. No Brasil a repristinação tem proibição expressa na lei. Decreto-lei n. 4657, de 4 de setembro de 1942, art. 2 § 3º “Salvo disposição em contrário, a lei revogada (a) não se restaura por ter a lei revogadora (b) perdido a vigência”. Os decretos-leis tem status de lei ordinária, sendo possível a revogação do decreto acima por projeto de lei. Este, a princípio, não seria caso de inconstitucionalidade, mas não seria capaz de autorizar a repristinação, pois se eventualmente haver a repristinação, haverá violação a segurança jurídica no ordenamento. O princípio da segurança é um direito fundamenta que está no "caput" do art. 5 da CF, portanto a proibição da repristinação está implicitamente na CF. Na CF a repristinação é uma norma plena, logo não precisa de um dispositivo infraconstitucional para regulamentá-la, mas pode ter para reforçar a regra. Sua regra material é mantida desde 1942 (vigor a CF/37) até hoje com a atual constituição. A revogação do decreto-lei n. 4657 por projeto de lei que autoriza a repristinação seria inconstitucional, pois violaria o princípio da segurança. O que é realmente proibido é o retorno da lei revogada de forma "tácita", mas não a proibição de for expressa. O conteúdo da Lei A pode voltar, mas votará em forma de Lei C. Este ato de uma terceira lei retornar a primeira de forma expressa não é incidência de repristinação. IV. Efeito repristinatório: É o ato jurídico pelo qual uma lei revogada (Lei A) por outra lei posterior (Lei B) retorna ao ordenamento jurídico pelo fato de a lei que a revogou (Lei B) ter sido declarada inconstitucional pelo STF e, dessa forma, perdido a sua eficácia. A Lei A é revogada pela Lei B, perdendo a sua vigência e devendo ser respeitados os atos praticados durante a sua vigência. Segurança jurídica. Art. 5 XXXVI da CF: A lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada. 7 Bianca Marinelli – Direito Constitucional I – 3º termo A Lei B é revogada pela Lei C, perdendo a sua vigência por ato do STF. Decreto-lei n. 4.657, de 4 de setembro de 1942, art. 2 § 3º: Salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei revogadora perdido a vigência. A partir do momento em que a Lei B é declarada inconstitucional pelo STF com o controle de constitucionalidade, essa perderá a sua eficácia e não apenas a vigência. Se ela é ineficaz, não produz efeito jurídicos, e logo não tinha força para revogar a Lei A. Esta não deveria ter deixado o ordenamento jurídico e retorna (efeito repristinatório). Na repristinação há uma Lei A revogada por Lei B que é revogada por Lei C. A Lei A voltaria para o ordenamento jurídico. Os atos anteriores perdem vigência, logo possuem eficácia quanto ao seu tempo de vigência (art. 5 XXXVI da CF) e perdem aplicabilidade a partir do momento que a lei nova entra no ordenamento. No efeito respristinatório há uma Lei A revogada por Lei B que é declarada inconstitucional por ato do STF (ADI C). O ultimo ato torna ineficaz a lei revogadora, portanto os atos praticados durante a vigência da B não tem validade e eficácia. 2. Poder constituinte derivado ou secundário: Poder constituinte derivado (secundário) é o poder de se alterar a constituição originária. Assim como ocorre com o poder constituinte originário, o poder constituinte derivado também possui suas características próprias, sendo elas: a) Subordinado: O motivo da existência do poder derivado é a expressa previsão pelo poder originário, e disto advém sua terceira característica. Exemplo: Art. 60 da CF prevê expressamente a possibilidade de alteração da CF original. b) Secundário: Está abaixo dos demais poderes. Um ato de modificação da CF pode ser declarado inconstitucional pelos poderes. c) Limitado: A violação a qualquer das limitações imposta na CF (material, formal, circunstancial ou temporal) terá como consequência, a inconstitucionalidade da lei ou ato normativo. Portanto, todas as leis inconstitucionais violaram uma das limitações. A doutrina divide esta limitação em quatro formas: Material: Relacionada à matéria, o que pode ou não ser objeto de deliberação ou emenda para alterar a CF. A doutrina divide a limitação material em explicita/expressa e implícita. Limitação material explicita ou expressa: Diz expressamente o que não poderá ser objeto de emenda em determinado assunto. O constituinte não deixou margem de dúvida sobre a sua intenção, ou seja, a lei diz Medida provisória não revoga lei, apenas a suspende. 8 Bianca Marinelli – Direito Constitucional I – 3º termo textualmente que aquele dispositivo não pode sofrer alterações de um ou mais sentidos. Exemplo: Art. 60 da CF § 4º: Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir: IV - os direitos e garantias individuais. Pena de morte é vedada. Limitação material implícita: Ocorre quando a CF não trata da questão de forma explícita ou expressa, mas de forma implícita, de modo que haverá a necessidade de se efetuar uma interpretação da causa, do fato ou do ato. Esses meandros podem causar uma divergência das interpretações da norma. Exemplo: A possibilidade ou não de se autorizar o início do cumprimento de pena após o julgamento em 2ª instância devido ao julgamento das Ações Declaratórias de Constitucionalidade (ADC) 43, 44 e 54, onde por maioria de votos o STF entendeu haver violação ao princípio da presunção de inocência, descrito no artigo 5º, inciso LVII da CF. Art. 5 LVII da CF: Ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória. A propositura de um projeto de emenda para autorizar a prisão em segundo grau poderia ocorrer, visto que a CF não é expressa, pois não diz sobre prisão, mas sobre culpa em seu artigo 5º LVII. Caso dissesse “Ninguém será considerado culpado, e consequentemente não poderá ter início o cumprimento de pena, enquanto não houver o transito em julgado da sentença penal condenatória”. Se a prisão de segundo grau fosse uma limitação material explicita não caberia a ela emenda constitucional. Exemplo: Art. 228 da CF: São penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às normas da legislação especial. Pode ser considerada uma limitação material implícita (tornando possível a limitação da maioridade) ou explícita (tornando impossível a limitação da maioridade). Menores de 18 anos podem ser sentenciados pela prática de ato infracional, e na Fundação Casa pode haver maiores de 18 anos, caso estes tenham cometido a infração aos 17 anos e seu cumprimento de pena é de tempo máximo (três anos), ficando, portanto até os 21 anos. Formal: É formalística e ritualística, e se divide em subjetiva e objetiva. Limitação formal subjetiva: Quem pode apresentar o projeto. Art. 60 da CF: A Constituição poderá ser emendada mediante proposta: I - de um terço, no mínimo, dos membros da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal; II - do Presidente da República; III - de mais da metade das Assembleias Legislativas das unidades da Federação, manifestando-se, cada uma delas, pela maioria relativa de seus membros. Uma proposta de emenda deve ser assinada por 171 membros (1/3 da câmara dos deputados), ou 27 senadores (1/3 da câmara do Senado Federal), ou o Presidente da República, ou ainda 14 Assembleias 9 Bianca Marinelli – Direito Constitucional I – 3º termo Legislativas das unidades da Federação (mais da metade das 27 Assembleias Legislativas), manifestando-se, cada uma delas, no mínimo 25% dos membros (maioria relativa de seus membros). É possível, por exemplo, apresentar proposta de emenda para alterar a redação do paragrafo único do artigo 1º da CF para passar a dizer que todo poder emana de Deus, entretanto deve-se respeitar o que foi dito anteriormente. Exemplo: A Assembleia Legislativa de São Paulopossui 94 membros (deputados estaduais). Portanto, para uma emenda ser apresentada deverá ser assinada por 24 membros (25% dos 94 são 47 membros e 50% dos 47 são 24). Leis no Brasil são criadas pelo Poder Legislativo. Entretanto, o Presidente da República é quem tem a maior capacidade de apresentação de projetos, inclusive existindo projetos que somente ele pode apresentar, como o Plano Plurianual (PPA), Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), Lei Orçamentária Anual (LOA), concessão de aumento salarial aos funcionários públicos federais, criação de cargos públicos e escolha daqueles que mexem no orçamento. Se o Chefe do Poder Executivo sancionar projeto de lei que deveria ser de sua autoria exclusiva, mas que foi apresentado por membro do legislativo, este vício de iniciativa nunca se convalidará, permanecerá ad eternum, ou seja, a qualquer momento pode alguém pode promover uma ação direta de inconstitucionalidade. Nasceu com vício, com vício permanecerá. A Assembleia Legislativa de um Estado pode conceder projetos de lei que envolvam finanças. O que não pode é haver intervenção no orçamento Executivo. O Projeto de Lei nº 476/94, de autoria do então Prefeito Paulo Maluf da cidade de São Paulo, foi aprovado pela Câmara Municipal Paulistana, transformando-se na Lei nº 11.659/94, que dispunha sobre a obrigatoriedade do uso de cinto de segurança pelos ocupantes dos bancos dianteiros dos automóveis que circulassem pelo município de São Paulo. Art. 22 XI da CF: Compete privativamente a União legislar sobre trânsito e transporte. Referida Lei foi declarada inconstitucional pelo Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. Contra a decisão da Corte Paulista houve recurso ao Supremo Tribunal Federal que no julgamento do Recurso Extraordinário nº 227.384-8, tendo como Relator o Ministro Moreira Alves, o STF manteve a decisão do TJSP, conforme consta do Informativo 273 daquela Suprema Corte. Foi declarada inconstitucional por ilegitimidade, violação formal subjetiva, a matéria pode ser discutida, mas apenas em âmbito federal, e não municipal. Limitação formal objetiva: Procedimento propriamente dito, ritualístico. Todo projeto legislativo deve seguir um rito, sendo a primeira etapa a apresentação ou legitimidade. 10 Bianca Marinelli – Direito Constitucional I – 3º termo Art. 60 da CF: A constituição poderá ser emendada mediante proposta: I - de um terço, no mínimo, dos membros da câmara dos deputados ou do senado federal; II - do presidente da república; III - de mais da metade das assembleias legislativas das unidades da federação, manifestando-se, cada uma delas, pela maioria relativa de seus membros. Quanto aos legitimados, esse rol é taxativo. Não cabe a PEC por iniciativa popular. Se houver uma proposta de emenda (PEC) via inciativa popular e for dado o encaminhamento, será ele inconstitucional. Entretanto, se a iniciativa popular for assinada posteriormente pelo Presidente da república, ou por ao menos 1/3 da Câmara ou do Senado é possível. Art. 61 § 2º da CF: A iniciativa popular pode ser exercida pela apresentação à câmara dos deputados de projeto de lei subscrito por, no mínimo, um por cento do eleitorado nacional, distribuído pelo menos por cinco estados, com não menos de três décimos por cento dos eleitores de cada um deles. Toda PEC deverá começar sua tramitação pela Câmara dos deputados, ressalvado o caso de PEC de iniciativa do senado, onde, neste caso a tramitação começará no próprio Senado. A regra é o que a Câmara dos deputados funciona como Casa "iniciadora" e o Senado como Casa "revisora". A única hipótese em que o Senado será Casa iniciadora ocorrerá nos projetos de sua própria iniciativa. A PEC uma vez protocolada na secretaria da Casa iniciadora deverá ser lida em plenário. A leitura serve para levar ao conhecimento dos demais parlamentares da existência de uma nova PEC na Casa. A secretaria envia pelo e-mail institucional de cada deputado o projeto. Em seguida a PEC é encaminhada para a CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) que irá emitir um parecer sobre a constitucionalidade da questão ou não. Seus membros são eleitos para um mandato de dois anos. Nem todo deputado é membro da CCJ, mas todo membro da CCJ é membro do parlamento. Uma vez analisada na CCJ, a PEC poderá: - Ser rejeitada (não irá para o Plenário), se a comissão entender pela presença de inconstitucionalidade. Se não preencher os requisitos exigidos pela constituição, a comissão decidiu pela sua inadmissibilidade. Quando isso ocorre, a carreira da PEC na câmara acabou. Ela irá para o arquivo. Nesse caso, diz-se que a decisão da CCJ tem caráter terminativo, é uma proposta inconstitucional que não irá a plenário. A PEC em questão, por sua vez, deixa de ser examinada, a não ser em um único caso, quando o autor da proposta pede sua apreciação preliminar pelo plenário. Nesse caso, ele precisará do apoio de um terço do total dos deputados que vão decidir apenas se a proposta pode ou não ser admitida. Sendo rejeitada a PEC somente poderá ser reapresentada no ano seguinte (isso não significa que é um ano depois). Um ano seguinte é considerado 2 de fevereiro do ano que vem, após o ano que foi apresentada. A não apresentação da PEC rejeitada no mesmo ano é em a limitação temporal. 11 Bianca Marinelli – Direito Constitucional I – 3º termo - Ser aprovada no plenário da câmara dos deputados, sendo necessários no mínimo 308 votos (3/5 da Câmara, 513 dividido por 5 e o resultado multiplicado por 3 arredondado). Se aprovada, a PEC deverá sofrer uma segunda votação, e nesta deverá no mesmo modo atingir no mínimo 308 votos (3/5), e caso contrário será rejeitada e vai ao arquivo. A PEC aprovada na cada iniciadora vai para a Casa revisora e nela passará pela mesma ritualística da casa iniciadora. Ao chegar à secretaria determina a leitura no plenário do Sedado e é em seguida encaminhada para a CCJ do Senado. Esta pode reconhecer a inconstitucionalidade da PEC e determinar seu arquivamento e se for aprovada na CCJ, irá ao plenário do Senado. Na primeira votação do plenário precisa obter maioria de 3/5 (49 votos), caso não obtenha é arquivada. No segundo turno de votação precisa novamente obter maioria de 3/5 (49 votos), caso não obtenha é arquivada. Ao ser aprovada na Casa revisora, questiona-se: O projeto foi aprovado com emendas ou não? PEC aprovada na Casa revisora sem que esta tenha apresentado qualquer alteração ao projeto original é transformada em emenda constitucional, encaminhada para promulgação (será dada ciência as Casas de que existe uma nova emenda). Se a proposta de emeda for aprovada na casa revisora com alteração do projeto original, deverá a Casa revisora devolver a PEC para a Casa iniciadora. A votação da Casa iniciadora sobre as alterações feitas pela Casa revisora será em votação única e poderá ser derrubada por maioria absoluta. Se a Casa iniciadora não concorda com a alteração feita pela Casa revisora, essa retirará a alteração feita pela Casa Revisora e encaminhará para promulgação, valendo desta forma a sua vontade. Princípio da primazia da Casa iniciadora. Art. 60 § 3º da CF: A emenda à Constituição será promulgada pelas Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, com o respectivo número de ordem. Não existe na PEC, quando aprovada nas duas Casas, a figura da sanção e veto, ou seja, o Presidente só participa de uma PEC se ele for o autor, caso o contrário não existe sua presença. Após a publicação deve levar ao conhecimento da população a existência de uma nova Emenda Constitucional através de publicação no D.O.U. Somente a partir da publicação é que poderá ser atacada por Controle de Constitucionalidade. Decreto-lei nº 4.657, de 4 de setembro de 1942 art. 3º: Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece. Não confunda proposta de emenda com emenda parlamentar. A primeira é a proposta em si, já a segunda são alteraçõespropostas de alterações do projeto original. 12 Bianca Marinelli – Direito Constitucional I – 3º termo Uma PEC pode ser rejeitada e consequentemente arquivada: 1. Se rejeitada pela CCJ da câmara dos deputados; 2. Quando rejeitada em votação no plenário da câmara já no 1º turno (- 3/5); 3. Quando rejeitada em votação no plenário da câmara já no 2º turno (- 3/5); 4. Se rejeitada pela CCJ do senado; 5. Quando rejeitada em votação no plenário do senado já no 1º turno (- 3/5); 6. Quando rejeitada em votação no plenário do senado já no 2º turno (- 3/5). Em qualquer destas situações a PEC não poderá ser reapresentada no mesmo ano, sob pena de violar a limitação temporal. Quando ela vai para promulgação: 1. Quando aprovada na casa revisora sem qualquer alteração em relação ao projeto que veio da casa iniciadora; 2. Quando aprovada na casa revisora com qualquer alteração em relação ao projeto que veio da casa iniciadora e a casa iniciadora concordar com esta alteração; 3. Quando aprovada na casa revisora com qualquer alteração em relação ao projeto que veio da casa iniciadora e a casa iniciadora "não" concordar com esta alteração, retirando a mudança. Nestes casos a PEC se converteu em emenda constitucional. O Projeto de Lei Ordinária pode ser proposto por qualquer deputado Federal, senador; Presidente da República, tribunais e iniciativa popular, entretanto há projetos de lei ordinária que são exclusivos do executivo. Todo Projeto de Lei Ordinária deverá iniciar seus trabalhos na Câmara dos deputados, ressalvo o Projeto de Autoridade de senador. Art. 64. A discussão e votação dos projetos de lei de iniciativa do presidente da república, do supremo tribunal federal e dos tribunais superiores terão início na câmara dos deputados. Uma iniciativa popular é resultante de um abaixo assinado, no qual só admite a participação de eleitores no exercício, devendo apresentar o nº do seu título de eleitor. Logo, não pode participar de inciativa popular: os menores de 16 anos, estrangeiros (salvo o português equiparado e que solicitou a equiparação), o condenado em crime por sentença transitado em julgado e esteja cumprindo a pena mesmo que em liberdade e o condenado por trânsito em julgado por improbidade administrativa. Hoje se aceita a assinatura digital. Na iniciativa o que se apresenta até a Câmara é uma ideia de assunto. Com a chegada das assinaturas na Câmara dos deputados e estando em ordem, o presidente da Câmara nomeará um deputado Federal que elaborará o Projeto de Lei de iniciativa popular. Este deverá ser lido em plenário, e em seguida encaminhado para as comissões temáticas. A câmara possui 25 comissões temáticas diferentes. Na PEC após a leitura no plenário ele vai para a CCJ, enquanto na PLO vai para as comissões temáticas, que não tem poder de arquivamento, mas emitirá um parecer opinativo, e em seguida para a CCJ. Na CCJ a 13 Bianca Marinelli – Direito Constitucional I – 3º termo PLO será avaliada segundo a sua constitucionalidade e, neste caso, poderá ser arquivada se a CCJ entender pela inconstitucionalidade. Uma PEC arquivada somente poderá ser representada no ano seguinte, enquanto que uma PLO arquivada poderá ser reapresentada no mesmo ano, desde que tenha a assinatura de maioria absoluta dos membros da Câmara dos deputados e do Senado Federal. Se for reapresentada na CD necessita de 257 assinaturas e no SF de 41 assinaturas. Uma PEC não pode em hipótese alguma ser reapresentada no mesmo ano em que foi arquivada. Uma PLO até poderá ser reapresentada no mesmo ano em que foi arquivada, desde que tenha a assinatura de pelo menos maioria absoluta dos membros da Câmara ou do Senado. Não há exceção a limitação temporal. Art. 67. A matéria constante de projeto de lei rejeitado somente poderá constituir objeto de novo projeto, na mesma sessão legislativa, mediante proposta da maioria absoluta dos membros de qualquer das casas do congresso nacional. Na CCJ a PLO poderá: Ser arquivada por inconstitucionalidade. Ser aprovada pela constitucionalidade (ser encaminhada ao plenário da casa iniciadora). Ao ser votado no plenário da casa iniciadora, a PLO poderá: Não atingir a votação necesária, qual seja, maioria simples ou relativa (ser arquivada). Uma PLO arquiva, poderá ser reapresentada no mesmo ano, desde que tenha a assinatura de maioria absoluta dos membros da CD ou SF. Ser aprovada por maioria simples ou relativa e encaminhada para a casa revisora. Maioria simples = Maioria relativa. Maioria dos presentes na sessão do plenário (50% + o primeiro número inteiro) desde que presente na sessão a maioria absoluta (art. 47 da CF). Art. 47. Salvo disposição constitucional em contrário, as deliberações de cada casa e de suas comissões serão tomadas por maioria dos votos, presente a maioria absoluta de seus membros. Quórum de instalação de sessão (abertura de uma sessão) exige a presença de maioria absoluta, sendo no mínimo 257 deputados (CD) ou 41 senadores (SF). Entretanto para aprovar, uma PEC, por exemplo, é necessário 3/5, ou seja, 513/5 vezes 3 resulta 308 votos. Ou seja, se só há 257 pessoas no plenário, não há quórum necessário para aprovar, só para iniciar a seção. Salvo a maioria simples, em que a votação é feita pelos presentes, o restante é contado pelo todo. É comum o jogo político para não ocorrer devidas votações. 14 Bianca Marinelli – Direito Constitucional I – 3º termo Ao chegar na casa revisora, a PLO é: Lida no plenário. Encaminhada para as comissões temáticas. Encaminhada para a CCJ. A CCJ poderá: Reconhcer a inconstitucionalidade e arquivar. Uma PLO arquivada poderá ser reapresentada no mesmo ano, desde que tenha a assinatura de maioria absoluta dos membros da CD e SF. Reconhcer a constitucionalidade e encaminhar para votação de plenário. A PLO que será votada no plenário da casa revisora poderá: Ser rejeitada (arquivada). Uma PLO arquiva poderá ser reapresentada no mesmo ano, desde que tenha a assinatura de maioria absoluta dos membros da CD ou SF. Ser aprovada na casa revisora. A PLO tem apenas uma única votação em cada uma das casas do CN, uma votação na CD e mais uma votação no SF. Ela pode ser aprovada: Sem emendas parlamentares, ou seja, sem sofrer qualquer alteração na casa revisora. PLO será encaminhada para sanção e veto do Presidente da República (não existe na PEC). Com emendas parlamentares, ou seja, sofreu alteração na casa revisora. Retorno da PLO para a casa iniciadora. A casa iniciadora decidirá se concorda ou não com a alteração da porcentagem em "metade" e poderá: Concordar com a emenda parlamentar da casa revisora e manter sem alteração. PLO será encaminhada para sanção e veto do Presidente da República. Discordar com a emenda parlamentar da casa revisora. Vai prevalecer a vontade da casa iniciadora (primazia da casa iniciadora) e retirar a emenda da casa revisora. PLO será encaminhada para sanção e veto do presidente da república. Portanto, a PLO vai à sanção ou veto do Presidente da República: Quando aprovada sem emendas na casa revisora. Quando aprovada com emendas na casa revisora estas emendas são mantidas pela casa iniciadora. Quando aprovada com emendas na casa revisora estas emendas são retiradas pela casa iniciadora, prevalecendo a vontade desta. Em qualquer situação de rejeição e consequente arquivamento da PLO ela poderá ser reapresentada no mesmo ano por maioria absoluta de qualquer das casas (CD e SF). Art. 66. A casa na qual tenha sido concluída a votação enviará o projeto de lei ao presidente da república, que, aquiescendo, o sancionará. Sanção e veto são atos exclusivos do Presidente da República ou quem estiver exercendo o cargo. A sanção é o ato de aquiescência, concordância do presidente com o projeto de lei, e com ela o projeto se converte em lei. Tanto a sançãoquanto o veto são atos irretratáveis, não há como o presidente voltar atrás. 15 Bianca Marinelli – Direito Constitucional I – 3º termo ADPF 714, 715 e 716: Não se admite “novo veto” em lei já promulgada e publicada. Manifestada a aquiescência do poder executivo com projeto de lei, pela aposição de sanção, evidencia-se a ocorrência de preclusão entre as etapas do processo legislativo, sendo incabível eventual retratação. STF representação nº 432/PE, rel. Min. Ary Franco: “O poder do veto, se usado pelo executor, não poder ser retratado”. A sanção pode ser total (sobre a íntegra do projeto) ou parcial (sobre parte do projeto). Se há uma sanção parcial é porque há veto parcial. A sanção não precisa ser justificada, ou seja, basta assinatura. Porém em se tratando de sanção parcial, aquela parte que foi vetada deverá sofrer justificativa. Ela ainda pode ser expressa (com a inclusão da assinatura) ou tácita (sem dizer nada, sem mesmo com a assinatura). Esta ocorre após o 15º dia do recebimento do projeto sem manifestação, no 16º dia a sanção é automática (tácita). Ocorrendo a sanção e sendo publicada, o único meio de ataque será via controle de constitucionalidade. Art. 66 § 3º: Decorrido o prazo de quinze dias, o silêncio do Presidente da República importará sanção. O veto é a não aquiescência ou discordância do presidente em relação ao projeto de lei. Ele sempre deverá ser justificado, não existindo veto tácito. Ele pode ser total (sobre todo o projeto) ou parcial (sobre parte do projeto). Se for em parte do projeto, logo parte foi sancionada. Não pode haver veto de palavras, ele se ampliará a toda a frase (efeito extensivo). Art. 66 § 2º: o veto parcial somente abrangerá texto integral de artigo, de parágrafo, de inciso ou de alínea. A justificativa do veto pode ser inconstitucionalidade (contrariar a CF) devendo dizer qual artigo da CF está sendo violado, inclusive em se tratando de princípio, ou político (contrário ao interesse público). Art. 66 § 1º: Se o Presidente da República considerar o projeto, no todo ou em parte, inconstitucional ou contrário ao interesse público, vetá-lo-á total ou parcialmente, no prazo de quinze dias úteis, contados da data do recebimento. Se o Presidente da República considerar o projeto, no todo ou em parte, inconstitucional ou contrário ao interesse público, vetá-lo-á total ou parcialmente, no prazo de quinze dias úteis, contados da data do recebimento, e comunicará, dentro de quarenta e oito horas, ao Presidente do Senado Federal os motivos do veto. A concretização do veto decorre de dois atos: que seja expresso dentro do prazo de 15 (quinze) dias, sob pena da sanção tácita e que seja comunicado em 48 horas ao Congresso. A manifestação de vontade negativa – a discordância – e a comunicação fundamentada. Assim, aquela, dentro da quinzena, impede a sanção tácita do projeto, mas, somente conjugada com esta, aperfeiçoa o veto, o que deve ocorrer nas 48 horas seguintes à quinzena. Desse modo, se não houver 16 Bianca Marinelli – Direito Constitucional I – 3º termo tempestivamente essa comunicação, o veto não se aperfeiçoou e sancionado estará o projeto. A justificativa escrita decorre de imposição legal, sem a qual as Câmaras devem desconhecer o ato do Presidente. Para a doutrina a consequência para a falta de comunicação a casa legislativa dos motivos do veto nas 48 horas seguintes a sua concorrência, levará a sanção tácita. O veto não coloca fim ao projeto de lei, pois, o veto será apreciado em sessão conjunta, dentro de trinta dias a contar de seu recebimento. A apreciação do veto deve ser realizada em sessão unicameral, ou seja, CD e SF. Os trabalhos das casas do CN (CD e SF) são realizados de forma separada (bicameral) de modo que uma agirá como casa iniciadora e outra revisora. O CN é formado pelo CD e SF, com 513 e 81 membros, respectivamente, resultando 594 membros. Para o veto ser rejeitado pelo voto da maioria absoluta dos deputados e senadores, ou seja, a soma de 50% de cada Casa (297). Sempre que as casas de reunirem de forma unicameral para decidir algo, a contagem de votos deverá ser feita de forma individualizada, ou seja, separada. Após as votações para a aprovação nas casas iniciadora, e revisora, e serem revisadas, se for provado que são constitucionais, ela é sancionada. Com a derrubada do veto o projeto se converte em lei. Um projeto de lei se converte em lei pela não comunicação dos motivos do veto nas 48 horas seguintes à casa legislativa, conforme entendimento firmado pela doutrina. Uma vez ocorrendo a transformação do projeto em lei, a lei será encaminhada para promulgação. No caso de PEC, ela é promulgada pelas mesas (art. 66 § 3º), já de PLO, ela é promulgada pelo Presidente (art. 66 § 5º e 7º). § 5º Se o veto não for mantido, será o projeto enviado, para promulgação, ao presidente da república. § 7º Se a lei não for promulgada dentro de quarenta e oito horas pelo presidente da república, o Presidente do Senado a promulgará, e, se este não o fizer em igual prazo, caberá ao Vice-Presidente do Senado fazê-lo. O vice-presidente do senado está obrigado a promulgar, sob pena de perder o cargo de vice-presidente do senado. O senado possui dois vice-presidentes, devendo o primeiro promulgar. Deverá promulgar Presidente da república, Presidente do senado; ou o 1º vice-presidente do senado, respectivamente. Quem mandar promulgar deverá encaminhar para publicação. Publicação no D.O.U (federais); D.O.E (estaduais) e D.O.M (municipais). A lei complementar tem o mesmo rito da lei ordinária, com as seguintes diferenças: - Quórum de aprovação: A lei complementar exige maioria absoluta, conforme o artigo 69 da Constituição Federal. Na lei ordinária há a necessidade de quórum diferente para instalação e aprovação, sendo ela de maioria absoluta e maioria simples/relativa, respectivamente. Já na lei complementar o quórum para instalação e aprovação são os mesmos, de maioria absoluta. 17 Bianca Marinelli – Direito Constitucional I – 3º termo Art. 69. As leis complementares serão aprovadas por maioria absoluta. Art. 47. Salvo disposição constitucional em contrário, as deliberações de cada casa e de suas comissões serão tomadas por maioria dos votos, presente a maioria absoluta de seus membros. Há hierarquia entre uma lei ordinária e uma lei complementar? Para a lei complementar deve ser observado o princípio da reserva especial da lei complementar. Ou seja, um assunto somente será de lei complementar quando a Constituição Federal disser expressamente desta forma. Todas as vezes que a palavra “lei” vier descrita de forma isolada, estar-se-á tranado de lei ordinária. No julgamento nº 419.629-8/DF, o min. Sepúlveda disse ao deferir liminar na AC 346 que o conflito entre lei complementar e lei ordinária não há de solver-se pelo princípio da hierarquia, mas sim em função de a matéria estar ou não reservada ao processo de legislação complementar. Art. 146 CF: Cabe à lei complementar: I - dispor sobre conflitos de competência, em matéria tributária, entre a união, os estados, o distrito federal e os municípios; II - regular as limitações constitucionais ao poder de tributar; III - estabelecer normas gerais em matéria de legislação tributária. Art. 146-a. Lei complementar poderá estabelecer critérios especiais de tributação, com o objetivo de prevenir desequilíbrios da concorrência, sem prejuízo da competência de a união. Art. 18 § 4º da CF: A criação, a incorporação, a fusão e o desmembramento de municípios, far-se-ão por lei estadual, dentro do período determinado por lei complementar federal, e dependerão de consulta prévia, mediante plebiscito, às populações dos municípios envolvidos, após divulgação dos estudos de viabilidade municipal, apresentados e publicados na forma da lei. Art. 169. A despesa com pessoal ativo e inativo e pensionistas da união, dos estados, do distrito federal e dos municípios nãopode exceder os limites estabelecidos em lei complementar. Pode uma lei ordinária tratar ou revogar matéria de lei complementar? Não, pois estaria sendo aprovado o assunto com um quórum menor ao que é exigido pela CF. Logo caso isto ocorra, haverá inconstitucionalidade da lei. Pode uma lei complementar tratar e revogar matéria de lei ordinária? Sim, pois o quórum foi mais elevado. Se uma lei complementar tratar de um assunto de lei ordinária, ele será realmente uma lei complementar? Para uma lei ser puramente complementar ela deve ser formalmente complementar (ter seguido o rito de provação por maioria absoluta) e ser materialmente complementar (quando a CF disser que ela deve ser por lei complementar). Exemplo: Lei nº 13.104, de 9 de março de 2015. Segundo a doutrina e a jurisprudência do STF, podem existir leis complementares que são: formalmente complementar (seguiu o rito de aprovação por maioria absoluta) ou não materialmente constitucional (porque a matéria era de lei ordinária). Neste caso não haverá inconstitucionalidade, a lei deveria ser criada por lei ordinária, mas foi 18 Bianca Marinelli – Direito Constitucional I – 3º termo criada por lei complementar, ou seja, precisaria de um quórum menor e foi aprovada com quórum maior. Não poderia apenas o inverso. Lei complementar nº 70/91 criou o Cofins, contribuição do artigo 195 da CF (tudo o que há nele leva para a criação de lei ordinária). Essa lei complementar é um exemplo típico de lei complementar que é apenas formalmente complementar, mas materialmente ordinária. Art. 195 da CF: A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da união, dos estados, do distrito federal e dos municípios, e das seguintes contribuições sociais: I - do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na forma da lei, incidentes sobre: § 4º a lei poderá instituir outras fontes destinadas a garantir a manutenção ou expansão da seguridade social. Lei n. 10.865/2004 alterou a lei complementar n. 70/91. De acordo com as regras, a lei complementar pode alterar lei complementar e lei ordinária, e a lei ordinária pode alterar apenas lei ordinária e lei complementar, desde que esta lei complementar seja apenas formalmente, mas não materialmente complementar. Caso for uma lei complementar apenas formalmente complementar, mas não materialmente, poderá desta forma ocorrer a alteração por outra lei ordinária. A circunstância de ter sido instituída por lei formalmente complementar (rito aprovado por maioria absoluta da lei complementar nº 70/91) não lhe dá, evidentemente, a natureza de contribuição social nova, a que se aplicaria o disposto no § 4º do artigo 195 da constituição, porquanto essa lei, com relação aos dispositivos concernentes à contribuição social por ela instituída é materialmente ordinária, por não tratar, nesse particular, de matéria reservada, por texto expresso da constituição, à lei complementar. Ou seja, uma matéria poderá ser aprovada por lei complementar quando a CF disser expressamente. Regra: Existem leis complementares formalmente e materialmente ou não materialmente, neste ultimo caso poderão ser alteradas por lei ordinária. Quando se diz que uma lei ordinária não pode revogar, alterar, modificar uma lei complementar estar-se-á referindo a lei complementar propriamente dita, aquela que nasceu formalmente e materialmente complementar, seguindo ao princípio da especialidade da lei complementar. - A lei ordinária pode excepcionalmente ser aprovada sem a necessidade de passar pelo plenário da casa, conforma autoriza o art. 58, §2º, inciso I da CF: Art. 58 § 2º: Às comissões, em razão da matéria de sua competência, cabe: I - discutir e votar projeto de lei que dispensar, na forma do regimento, a competência do plenário, salvo se houver recurso de um décimo dos membros da casa. 19 Bianca Marinelli – Direito Constitucional I – 3º termo As comissões temáticas podem discutir e votar projeto de lei que dispensar, na forma do regimento, a competência do plenário. No voto de bancada as lideranças partidárias podem decidir não encaminhar o projeto de lei ordinária para votação no plenário, mas apenas na própria comissão temática. “Projeto de lei que dispensar” se refere à PLO, pois a palavra lei aparece isoladamente. O quórum para aprovação de um projeto de lei ordinária pelo voto de bancada nas comissões é de maioria absoluta. Se a PLO for para votação no plenário, o quórum para aprovação será de maioria simples ou relativa. Mas se houver decisão das bancadas dos partidos para que a votação ocorra apenas nas comissões, neste caso haverá a necessidade de maioria absoluta. No voto de bancada só votam os mesmos dos partidos que estão nas comissões, salvo se houver recurso de um décimo dos membros da casa. Se uma lei complementar que for aprovada pelas comissões, ela receberá um número de uma lei ordinária. Se uma lei ordinária for aprovada como lei complementar no plenário das casas, recebe o nome de lei complementar, e poderá ser posteriormente ser alterada por outra lei ordinária ou complementar, pois, neste caso, ela tem formalmente característica de lei complementar, mas é ordinária. Aqueles parlamentares que forem contrários ao voto de bancada podem apresentar recurso à mesa da casa, com a assinatura de apenas 10% de todos os membros da casa. Desta forma o recurso faz com que a votação vá ao plenário, observado a regra. A votação no plenário é a regra, na bancada é exceção, ocorrendo somente se houver interesse das bancadas. Caso ocorra uma votação de bancada contrariando a minoria, esta pode se juntar e conseguir 10% das assinaturas. Na Câmara no Senado, por exemplo, com 513 membros, necessitaria a assinatura de 52 (10%) para ser enviado ao plenário, no Senado com 81 membros necessitaria de 9 (8,1, 10%). O voto de bancada pode ser derrubado pelo recurso de apenas 10% dos membros da casa. Ele não é permitido na lei complementar.
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