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Palatoplastia com retalho sobreposto em cão - Relato de caso

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Rev. Bras. Med. Vet., 37(3):179-185, jul/set 2015 179
RESUMO. As fendas palatinas são deformidades 
orais caracterizadas pelo rompimento da integrida-
de do osso e mucosa palatina, de extensões vari-
áveis e caráter etiológico multifatorial. Muitas ve-
zes, pode passar despercebida pelos proprietários 
e veterinários por ocasião do nascimento e serem 
diagnosticadas quando há o aparecimento dos si-
nais clínicos respiratórios. Os pacientes acometidos 
apresentam comunicação direta entre a cavidade 
oral e nasal, o que pode causar pneumonia aspira-
Palatoplastia com retalho sobreposto em cão - Relato de caso*
Luis Gustavo Gosuen Gonçalves Dias1+, Fernanda Gosuen Gonçalves Dias2, 
Fernanda Mayumi Ikenaga3, Cristiane dos Santos Honsho4, Fabiana Ferreira de 
Souza5, André Luis Selmi6 e Ewaldo de Mattos Junior7
ABSTRACT. Gonçalves Dias L.G.G., Gonçalves Dias F.G.G., Ikenaga F.M., 
Honsho C.S., Souza F.F., Selmi A.L. & Mattos Junior E. [Palatoplasty with flap 
superimposed in dog - Case report.] Palatoplastia com retalho sobreposto em 
cão - Relato de caso. Revista Brasileira de Medicina Veterinária, 37(3):179-185, 
2015. Curso de Graduação em Medicina Veterinária e Programa de Pós-Gradu-
ação Stricto Sensu em Medicina Veterinária de Pequenos Animais, Universida-
de de Franca, Av. Dr. Armando Salles de Oliveira, 201, Parque Universitário, 
Cx. Postal 82, Franca, SP 14404-600, Brasil. E-mail: luisgd@unifran.br
The oral cleft palate deformities are characterized by disruption in the in-
tegrity of the bone and palatal mucosa, having variable extensions and multi-
factorial etiologic character. Frequently are unnoticed by owners and veterina-
rians at birth and are diagnosed only when the animal begins to demonstrate 
clinical respiratory signs. Affected patients have direct communication betwe-
en the oral and nasal cavity, which can cause aspiration pneumonia and hinder 
the negative intraoral pressure necessary for the suction of milk, these being 
factors contributors to the deficit in body growth and death. This paper aimed 
to highlight important points about this rare oral disease in small animals, mo-
reover, report the case of a dog with cleft palate treated successfully with the 
technique of overlapping flap palatoplasty.
KEY WORDS. Oral deformity, palate, small animals.
* Recebido em 2 de abril de 2013.
Aceito para publicação em 14 de abril de 2014.
1 Médico-veterinário, Doutor em Cirurgia Veterinária, Docente do Departamento de Clínica e Cirurgia Veterinária, Universidade Estadual 
Paulista (Unesp), Via de acesso Prof. Paulo Donato Castellane s/n, Jaboticabal, SP 14884-900, Brasil. +Autor para correspondência, E-mail: gus-
tavogosuen@gmail.com
2 Médica-veterinária, Mestre em Cirurgia e Anestesiologia Veterinária, Responsável pelo setor de Odontologia, Universidade de Franca (UNI-
FRAN), Av. Dr. Armando Salles de Oliveira, 201, Parque Universitário, Cx. Postal 82, Franca, SP 14404-600, Brasil. E-mail: fernandagosuen@
yahoo.com.br
3 Médica-veterinária, Mestre em Medicina Veterinária de Pequenos Animais, UNIFRAN, Av. Dr. Armando Salles de Oliveira, 201, Parque Uni-
versitário, Cx. Postal 82, Franca, SP 14404-600. E-mail: mayu_vet@yahoo.com.br
4 Médica-veterinária, Doutora em Cirurgia Veterinária, Docente do Curso de Graduação em Medicina Veterinária e Programa de Pós-Gradua-
ção Stricto Sensu em Medicina Veterinária de Pequenos Animais, UNIFRAN, Av. Dr. Armando Salles de Oliveira, 201, Parque Universitário, Cx. 
Postal 82, Franca, SP 14404-600. E-mail: cristiane.honsho@unifran.edu.br
5 Médica-veterinária, Doutora em Reprodução Animal, Docente do Departamento de Reprodução Animal, Unesp, Av. Prof. Montenegro, s/n, 
Distrito de Rubião Junior, s/n, Botucatu, SP 18618-970, Brasil. E-mail: fafesouza@hotmail.com
6 Médico-veterinário, Doutor em Cirurgia Veterinária, Docente do Curso de Graduação em Medicina Veterinária, Hospital Veterinário, Univer-
sidade Anhembi Mo rumbi, Rua Conselheiro Lafaiette, 64, Brás, São Paulo, SP 03164-110, Brasil. E-mail: andre_selmi@yahoo.com.br
 7 Médico-veterinário, Doutor em Medicina Veterinária, Docente do Curso de Graduação em Medicina Veterinária e Programa de Pós-Gradua-
ção Stricto Sensu em Medicina Veterinária de Pequenos Animais, UNIFRAN, Av. Dr. Armando Salles de Oliveira, 201, Parque Universitário, Cx. 
Postal 82, Franca, SP 14404-600. E-mail: ewaldo.junior@unifran.edu.br
Rev. Bras. Med. Vet., 37(3):179-185, jul/set 2015180
Luis Gustavo Gosuen Gonçalves Dias et al.
tiva e dificultar a pressão negativa intraoral neces-
sária para a sucção do leite, sendo esses fatores con-
tribuintes para o déficit no crescimento corpóreo e 
o óbito. O presente trabalho objetivou de ressaltar 
importantes pontos acerca dessa afecção oral rara 
em pequenos animais, não obstante, relatar o caso 
de um cão com fenda palatina tratado com sucesso 
com a técnica de palatoplastia com retalho sobre-
posto.
PALAVRAS-CHAVE. Deformidade oral, palato, peque-
nos animais.
INTRODUÇÃO
Os palatos duro e mole estão localizados na por-
ção dorsal da cavidade oral, separando-a da nasal 
e da orofaríngea (Silva et al. 2009). O palato duro é 
rostral ao mole, sendo formado pelo osso palatino 
e por um epitélio pigmentado, queratinizado e ru-
goso, além dos alvéolos que alojam os dentes supe-
riores (Dutra 2008). O palato mole, parte caudal da 
cavidade oral, tem início no último dente molar su-
perior e se estende até o óstio intrafaríngeo, sendo 
coberto por pregas longitudinais e transversas da 
mucosa respiratória e oral. Ambos os palatos são 
irrigados pelas artérias palatinas, drenados pelo 
linfonodo mandibular e inervados pelos nervos 
glossofaríngeo e vago. A musculatura é composta 
pelos músculos palatino, tensor e elevador do pala-
to (Dutra 2008, Silva et al. 2009).
Juntamente com a língua, lábios e dentes, o pa-
lato duro e o mole, desempenham importantes fun-
ções em relação ao sistema estomatognático como 
sucção, mastigação, deglutição, fonação e respira-
ção (Tobias 1996, Roza 2004, Coelho et al. 2006).
Nos pequenos animais, as alterações em pala-
to primário (composto pelos lábios, osso incisivo 
e pré-maxila) são clinicamente visualizadas como 
lábio leporino (Gioso 2007); enquanto que o fecha-
mento incompleto do palato secundário (palatos 
duro e mole) é caracterizado como fenda palatina 
(Berghe et al. 2010). Ambas as anomalias faciais, 
embora independente, podem comprometer o mes-
mo indivíduo concomitantemente (Lee et al. 2006).
Nos animais, o lábio leporino, caracterizado 
pela existência de fissura anormal no lábio supe-
rior, e ausência de alterações funcionais relevantes, 
é tratado cirurgicamente somente com fins estéti-
cos (Berghe et al. 2010). A fenda palatina, rara em 
cães e gatos (Lee et al. 2006), pode ser classificada 
como parcial ou completa (Azevedo et al. 2011). A 
fenda parcial acomete o palato duro ou o mole e a 
completa ambos (Tobias 1996, Roza 2004). Contri-
buem com a etiologia fatores hereditários ou con-
gênitos, ambos resultando na falta de coalescência 
das placas ósseas palatinas durante o desenvolvi-
mento fetal, que em cães, ocorre entre o 25° e 28° 
dia de gestação, separando a cavidade oral da nasal 
(Roza 2004, Gioso 2007).
O fechamento palatino incompleto, quando atri-
buído a alterações congênitas, pode estar relacio-
nado a deficiências nutricionais como o excesso de 
vitaminas A e D, ou deficiência de vitaminas B2, 
B6 e de ácido fólico, ou traumatismos intrauteri-
nos (Dutra 2008), idade avançada dos padreadores, 
consanguinidade, exposição à radiação ionizante, 
uso de medicamentos teratogênicos como corticoi-
des, antifúngicos, antibióticos, anti-inflamatórios e 
anticonvulsivantes, contato com agentes químicos 
como resíduos de solventes, pesticidas, herbicidas 
e metais ou plantas tóxicas, alterações hormonais, 
infecções, estresse, hipertermia e toxoplasmose 
(Tobias 1996, Ribeiro & Moreira 2005, Berghe et al. 
2010). A combinação destes fatores ou a exacerba-
ção de um deles pode causar transformaçõesirre-
versíveis no mesênquima facial, resultando no nas-
cimento de um animal portador de fenda palatina 
(Coelho et al. 2006, Berghe et al. 2010).
Dentre as raças caninas predispostas, citam-se o 
boxer, pequinês, buldogue inglês, schnauzer, bea-
gle, cocker spaniel e teckel. Na espécie felina, o sia-
mês é o mais acometido. Em relação à predisposi-
ção do sexo, as fêmeas são mais afetadas (Contesini 
et al. 2003, Berghe et al. 2010).
Além dos fatores etiológicos hereditários e con-
gênitos envolvidos (Azevedo et al. 2011), as fendas 
palatinas também podem ser adquiridas (Silva et 
al. 2009) mediante traumatismos mecânicos, quei-
maduras com fios elétricos, feridas penetrantes, le-
sões por pressão, tratamento por radiação, armas 
de fogo, penetração de corpos estranhos, infecções 
crônicas, terapias cirúrgicas, neoplasias e perio-
dontite grave (Tobias 1996, Contesini et al. 2003, 
Pope 2006, Souza et al. 2007, Silva et al. 2009).
Com o fechamento alterado das placas ósseas 
palatinas e, consequentemente, da mucosa palati-
na, alguns neonatos tornam-se incapazes de criar 
pressão negativa intraoral para sucção do leite e 
morrem logo após o nascimento, ou são submeti-
dos à eutanásia quando a alteração é diagnosticada 
(Tobias 1996, Pope 2006, Souza et al. 2007, Berghe 
et al. 2010). Devido à comunicação direta entre as 
cavidades oral e nasal, os animais podem apresen-
tar extravasamento de leite pelas narinas, durante 
ou após a mamada, pneumonia aspirativa, secreção 
nasal, regurgitação, aerofagia, mímica de vômito 
(Contesini et al. 2003), engasgos, tosse, espirros, 
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Palatoplastia com retalho sobreposto em cão - Relato de caso
traqueíte, rinite, sinusite, dispneia, halitose, saliva-
ção e perda de peso (Hette & Rahal 2004, Souza et 
al. 2007). Outros sinais como anomalias dentárias 
quanto à forma, número, desenvolvimento, posi-
ção, tamanho e erupção, tanto na dentição decídua 
como permanente, podem ser observados nos ani-
mais acometidos (Ribeiro & Moreira 2005).
O diagnóstico de fenda palatina baseia-se na 
anamnese e inspeção direta e minuciosa da cavi-
dade oral, descartando-se a presença de lábio lepo-
rino ou outras anomalias congênitas concomitan-
tes. Não é necessário exame radiográfico do crânio 
para visualizar a separação completa dos ossos pa-
latinos, porém projeções torácicas podem ser úteis 
na avaliação de pneumonia aspirativa (Coelho et 
al. 2006, Gioso 2007). Deve-se realizar o diagnóstico 
diferencial para corpo estranho nasal e doenças do 
trato respiratório superior e inferior (Tobias 1996). 
Em humanos, o diagnóstico pode ser realizado pre-
cocemente, a partir de 14 semanas de gestação, pelo 
exame ultrassonográfico tridimensional. O objetivo 
do tratamento, que se inicia após o nascimento e 
se estende até a idade adulta, é buscar a reabilita-
ção estética e funcional da cavidade oral, visando 
à reintegração social e psicológica dos portadores 
(Ribeiro & Moreira 2005).
Em pequenos animais, a correção cirúrgica do 
palato objetiva reconstruir a anatomia funcional, 
separando totalmente a cavidade oral da nasal. A 
cirurgia reconstrutiva é indicada a partir dos três 
meses de idade, quando o paciente atinge condi-
ções orgânicas necessárias para ser submetido à 
anestesia geral e dispõe de tecido mucoperiosteal 
suficiente para recobrir a fenda (Roza 2004). Segun-
do Gioso (2007), até essa idade, o proprietário deve 
fornecer sucedâneos lácteos utilizando-se uma son-
da, para evitar o fluxo para a cavidade nasal, a fim 
de impedir a desnutrição que pode elevar o risco 
de infecções, as quais dificultariam a cicatrização 
pós-cirúrgica.
Existem inúmeras técnicas cirúrgicas reconstru-
tivas, mas as mais utilizadas são a de retalho pa-
latino sobreposto (dobradiça) e a de deslizamento 
bipediculado de retalho palatino. A desvantagem 
dessa última é que a sutura do retalho palatino fica 
diretamente sobre o defeito, não havendo susten-
tação óssea, o que favorece a deiscência (Contesini 
et al. 2003).
A escolha da técnica operatória e o número de 
intervenções necessárias para cada paciente são 
influenciados pela extensão e largura da fenda e 
pelo estado geral do animal, que associados, ditam 
a complexidade do caso. Durante as reparações ci-
rúrgicas convencionais utiliza-se a própria muco-
sa palatina e os tecidos moles adjacentes à fissura, 
como a mucosa gengival, jugal e alveolar (Hette & 
Rahal 2004, Silva et al. 2009). Independente da téc-
nica é aconselhável preservar as artérias palatinas 
para manter o suprimento sanguíneo (Contesini 
et al. 2003, Souza et al. 2007, Silva et al. 2009), ma-
nipular delicadamente as estruturas envolvidas e 
evitar tensões na linha de sutura, pois a deiscência 
é uma complicação comum (Roza 2004). A soltura 
dos pontos também pode ser decorrente da ação 
mecânica constante da língua sobre a sutura (Du-
tra 2008). Obstrução respiratória e edema de língua 
podem ser outras complicações do pós-operatório 
(Contesini et al. 2003).
O prognóstico da fenda palatina é desfavorável 
devido ao risco de pneumonia por aspiração e sua 
evolução para morte (Gioso 2007, Dutra 2008, Silva 
et al. 2009).
O propósito desse trabalho foi de relatar um 
caso de fenda palatina em cão, enfatizando as ca-
racterísticas clínicas, métodos de diagnóstico e de 
tratamento, assim como de salientar aos profissio-
nais veterinários a importância de inspecionar a 
cavidade oral dos animais, visto que a intervenção 
terapêutica precoce pode conferir melhor qualida-
de de vida e maior sobrevida ao paciente.
HISTÓRICO
O presente trabalho foi realizado sob a anuência e 
vigilância do Comitê de Ética no Uso de Animais, apro-
vado em 13 de outubro de 2012, sob protocolo 040/12.
Relata-se o caso de um cão, fêmea, da raça labrador, 
não castrado, pelagem preta, pesando 0,2 kg e com 10 
dias de idade. O proprietário descreveu que desde o 
nascimento, o filhote apresentava dificuldade na suc-
ção do leite, drenagem de leite pelas narinas e ausên-
cia de ganho de peso, comparativamente aos demais da 
ninhada. Ao exame clínico foram detectados estertores 
pulmonares e secreção nasal purulenta bilateral. À ins-
peção da cavidade oral, realizada sem sedação e aneste-
sia, verificou-se fenda palatina completa (Figura 1A) e 
ausência de lábio leporino ou outra anomalia congênita 
associada.
O proprietário não autorizou a realização de exa-
mes complementares e ciente do prognóstico, optou 
por tratar o animal em casa até a idade recomendada 
para o procedimento cirúrgico. O tratamento instituído 
baseou-se na administração de amoxicilina com ácido 
clavulânico, na dose de 22 mg/kg, pela via oral, a cada 8 
horas, durante 10 dias consecutivos; aminofilina na dose 
de 10 mg/kg, pela via oral, a cada 8 horas, durante 10 
dias; bromexina na dose de 10 mg/animal, por via oral, 
a cada 24 horas, durante 10 dias; higienização oral com 
colutório à base de gluconato de clorexidina a 0,12%, a 
cada 12 horas, até a cirurgia, e alimentação com sucedâ-
Rev. Bras. Med. Vet., 37(3):179-185, jul/set 2015182
Luis Gustavo Gosuen Gonçalves Dias et al.
neo lácteo, oferecida com o auxílio de mamadeira, em 
pequenas quantidades, várias vezes ao dia.
A palatoplastia foi agendada quando o animal estava 
com quatro meses de idade (Figura 1B), apresentando 
estabilidade respiratória e exames sanguíneos dentro 
dos parâmetros de normalidade para a espécie. Após 
estabilização anestésica, o animal foi posicionado em 
decúbito dorsal e as cavidades oral e nasal higienizadas 
com solução fisiológica e posteriormente com solução 
de clorexidina colutório a 0,12%.
A técnica cirúrgica escolhida para a reparação do pa-
lato duro foi a de retalho (“flap”) sobreposto. Realizou-se 
uma incisão na margem do defeito esquerdo, separando 
as mucosas nasal e oral. Em seguida, utilizando-se ele-
vador de periósteo, iniciou-se divulsão mucoperiosteal 
desta margem do defeito palatino, ao longo de toda sua 
extensão, criando uma aba paralelamenteao defeito com 
aproximadamente 10 mm de largura (Figura 1C e 1D).
Ato contínuo foi realizada uma incisão próxima e pa-
ralela à arcada dentária direita, do incisivo central até 
o último molar, para criação do retalho mucoperiosteal 
direito (Figura 1E e 1F). Tal retalho foi confeccionado 
mediante cuidadosa manipulação com elevador de pe-
riósteo, a fim de se preservarem as artérias palatinas, lo-
calizadas próximas ao dente quarto pré-molar superior 
direito (Figura 2A e 2C).
A divulsão do retalho ocorreu no sentido da arcada 
dentária para o defeito palatino, sendo interrompida a 
10 mm do defeito ósseo, permitindo desta forma, que 
houvesse boa ancoragem deste (retalho ao osso palati-
no), possibilitando sua rotação no seu próprio eixo de 
180° (dobradiça). Desta forma, a extremidade livre do 
retalho mucoperiosteal direito foi evertida e alocada sob 
o retalho esquerdo, recobrindo o defeito palatino. Não 
obstante, as faces mucoperiosteais de ambos os retalhos 
ficaram em contato e foram suturadas com padrão Wolf 
separado utilizando fio absorvível, sintético, de poliga-
lactina 910, 2-0, sendo que a linha de sutura não ficou 
situada sobre o defeito palatino (fenda). Esta manobra 
permitiu a sustentação óssea (osso palatino esquerdo) 
Figura 1. Imagens fotográficas e desenhos esquemáticos de fenda palatina e da técnica de retalho sobreposto em cão. A. palato de 
neonato de cão (10 dias de idade) com fenda palatina completa (setas); B. palato de cão (4 meses de idade) com fenda palatina 
completa (setas), decúbito dorsal, boca aberta; C, D, E e F. desenhos esquemáticos de maxila de cão com fenda palatina (vista 
em decúbito dorsal – boca aberta); Nota-se defeito palatino (setas) em C; D, início da técnica de palatoplastia utilizando retalho 
sobreposto. Após incisão na margem do defeito esquerdo cria-se por meio de divulsão delicada um retalho mucoperiosteal com 
aproximadamente 10 mm de largura paralelamente ao defeito (setas); E. local (tracejado) no qual será realizada a segunda inci-
são, paralelamente a arcada dentária direita, do incisivo central até o último molar (setas); F. após incisão, o retalho mucoperios-
teal (setas) é confeccionado por meio de divulsão delicada com elevador periosteal no sentido da arcada dentária para o defeito.
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Palatoplastia com retalho sobreposto em cão - Relato de caso
para o retalho direito rotacionado e para a sutura (Figu-
ra 2B). O osso palatino da região doadora (lado direito) 
ficou exposto (Figura 2D) e posteriormente ocorreu ree-
pitelização espontânea por tecido de granulação.
A reparação do palato mole foi feita suturando o 
músculo palatino com padrão de sutura simples contí-
nua e a mucosa oral com o mesmo tipo de sutura usada 
no plano anterior. Em ambas as camadas foi utilizado fio 
absorvível, sintético, de poligalactina 910, 2-0.
O animal foi mantido com colar protetor no pós-ope-
ratório por 30 dias. A alimentação (ração com consistên-
cia líquida) foi oferecida por sonda esofágica, a cada 6 
horas, durante 20 dias consecutivos. Prescreveu-se clin-
damicina (11mg/kg, por via oral, a cada 12 horas, du-
rante 10 dias), meloxicam (0,1 mg/kg, via oral, a cada 
24 horas, durante 7 dias), dipirona sódica na dose de 25 
mg/kg e cloridrato de tramadol na dose de 2 mg/kg, 
ambos por via oral, a cada 8 horas, durante 5 dias e lim-
peza oral com gluconato de clorexidina a 0,12%, a cada 
12 horas, durante 30 dias seguidos.
No 20° dia após a cirurgia, observou-se deiscência de 
dois pontos de sutura na região de palato mole. O colar 
protetor e a sonda esofágica foram removidos neste dia 
e a alimentação pastosa pôde ser introduzida.
Aos 60 dias de pós-cirúrgico notou-se completa re-
epitelização do osso palatino direito (Figura 2E) e cica-
trização do palato mole. O proprietário relatou que o 
animal estava se alimentando normalmente com ração 
Figura 2. Desenhos esquemáticos e imagens fotográficas de palatoplastia com retalho sobreposto em cão (vista em decúbito dorsal 
– boca aberta); A e B. eversão do retalho mucoperiosteal direito (2), recobrindo o defeito palatino sendo alocado sob o retalho 
esquerdo (1), deixando o periósteo direito descoberto (*); B. detalhe evidenciando o retalho direito (2) alocado sob o retalho 
esquerdo (1) e o padrão de sutura realizado (Wolf); nota-se a artéria palatina preservada (seta azul); C. trans-operatório de pa-
latoplastia do cão relatado evidenciando a eversão de parte do retalho direito sob o retalho esquerdo (setas amarelas), porção 
do defeito ainda não recoberto pelo retalho (setas brancas) e artéria palatina preservada (seta azul); D. trans-operatório de pa-
latoplastia do cão relatado evidenciando a eversão do retalho direito (2) sob o retalho esquerdo (1), defeito palatino totalmente 
recoberto e osso palatino direito exposto (*); E. 60 dias após a cirurgia, evidenciando total cicatrização da linha de sutura dos 
retalhos (setas amarelas) e reepitelização do osso palatino direito (*).
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Luis Gustavo Gosuen Gonçalves Dias et al.
pastosa e negou sinais clínicos respiratórios. A partir 
dessa data, a ração foi substituída pela seca e o paciente 
recebeu alta médica.
DISCUSSÃO
A fenda palatina é decorrente da ausência de fu-
são do palato na linha mediana, durante o período 
intrauterino (Roza 2004, Gioso 2007, Azevedo et al. 
2011). Possui como sinonímias palato fendido, fen-
da secundária, fissura palatina e palatosquise (Gio-
so 2007). É incomum em pequenos animais (Lee et 
al. 2006) e, apesar de alguns autores citarem a pre-
disposição em determinadas raças caninas (Berghe 
et al. 2010), a labrador não se encontra relacionada. 
Por outro lado, o sexo do paciente coincidiu com as 
afirmações de alguns estudos (Contesini et al. 2003, 
Berghe et al. 2010).
A literatura é ampla quando se analisa a etiolo-
gia multifatorial das fendas palatinas (Roza 2004) e 
diante do fator hereditário, o proprietário foi cons-
cientizado de que o animal não deveria ser utiliza-
do para fins reprodutivos (Gioso 2007, Silva et al. 
2009).
Os sinais clínicos encontrados no recém-nascido 
corroboraram com os relatos de Contesini et al. 
(2003) e Azevedo et al. (2011), ao passo que a den-
tição não demonstrou anomalias, conforme descri-
ções de Ribeiro & Moreira (2005).
Independente do tipo de fenda palatina, parcial 
ou completa (Tobias 1996, Hette & Raha 2004, Roza 
2004), a identificação precoce da lesão favoreceu a 
instituição de suporte nutricional e medidas tera-
pêuticas como indicado por Coelho et al. (2006) e 
Gioso (2007), proporcionando melhor qualidade e 
sobrevida aos animais acometidos. Tal preocupa-
ção é eminente, já que o número de cães e gatos 
vem crescendo significativamente e, com isso, há 
demanda por serviços de qualidade.
O tratamento cirúrgico foi indicado para esse 
animal, pois os defeitos palatinos raramente ci-
catrizam espontaneamente (Dutra 2008). A idade 
ideal para o paciente ser submetido ao tratamento 
cirúrgico foi seguida conforme orientações de Roza 
(2004). Apesar das inúmeras formas de tratamento 
disponíveis para as fendas palatinas (Hette & Rahal 
2004), a técnica de retalho sobreposto foi escolhida, 
por apresentar a vantagem de não posicionar o teci-
do doador sobre o defeito palatino, obtendo assim 
sustentação óssea e bom suprimento sanguíneo, o 
que minimiza a ocorrência de deiscência de sutura 
e insucesso do procedimento cirúrgico (Contesini 
et al. 2003). A deiscência de sutura em apenas uma 
região do palato foi considerada um ponto favorá-
vel, uma vez que estudo recente (Souza et al. 2007) 
apresentou altos índices dessa complicação (60%) 
no pós-operatório, independente da técnica cirúr-
gica utilizada.
No caso relatado, mesmo com a deiscência de 
sutura no palato mole, optou-se por não reoperar 
essa região devido à ausência de sinais clínicos e 
ao bom estado geral do paciente. Nos casos em que 
haja necessidade, recomenda-se que seja feitacom 
pelo menos três meses de intervalo, proporcionan-
do à máxima revascularização possível (Silva et al. 
2009).
Próteses confeccionadas com resina acrílica au-
topolimerizável, metal ou silicone (Lee et al. 2006) 
e implantes com cartilagem auricular xenógena 
são outras opções terapêuticas (Souza et al. 2007), 
que segundo alguns autores (Contesini et al. 2003) 
apresentaram resultados satisfatórios. No caso re-
latado, essas alternativas não foram utilizadas, pois 
a primeira cirurgia com retalho mucoperiosteal foi 
eficiente para corrigir a fenda.
CONCLUSÃO
O rápido diagnóstico e o tratamento suporte, 
tanto alimentar quanto medicamentoso, até o mo-
mento da cirurgia foram decisivos para a recupe-
ração clínica do paciente, que conjuntamente com 
a técnica de palatoplastia com retalho sobreposto 
proporcionaram cicatrização total da fenda palati-
na e recuperação do paciente, resultando em vida 
normal, com alimentação seca sem alterações res-
piratórias.
Agradecimentos: Ao Prof. Me. Daniel Kan Honsho 
pela contribuição nas ilustrações.
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