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O Ragnarökr é uma cópia do Apocalipse 1

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O Ragnarökr é uma cópia do Apocalipse por Marcio Alessandro Moreira 
 
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 O Ragnarökr é uma cópia do Apocalipse? 
 
 Há tempos o Ragnarökr tem sido debatido por estudiosos do mundo a fora, porém, nem 
sempre chegam a um acordo. Muitos afirmam que tal acontecimento fazia parte do sistema 
de fé dos povos germânicos, enquanto muitos outros afirmam que tal fato é uma influência 
cristã que chegou aos escandinavos com a nova fé. Também é possível que esse relato seja 
uma invenção cristã criada pelos monges que registravam as coisas sob ordem da igreja, 
para poder desacreditar o paganismo nórdico e assim a conversão ser mais fácil. Os poemas 
Eddicos foram redigidos por pessoas cristãs, assim como a Edda em Prosa no século 13. 
Sabemos que no ano 1000 foi aceito, na Islândia, o advento do cristianismo. Assim já havia 
passado duzentos anos quando começaram a registrar as lendas nativas. Para dificultar os 
escandinavos não registravam seus mitos, exceto alguns monumentos rúnicos. As lendas 
eram passadas oralmente. O Ragnarökr é mencionado nos poemas Eddicos: Völuspá 
(versos 44 a 66), Vafþrúðnismál (versos 39, 44, 47, 50, 51, 52 e 53), Lokasenna (versos 58 
e 65), Hrafnagaldr Óðins (verso11), Grímnismál (verso 04), Baldrs Draumar (verso 14), 
Sigrdrífumál (verso 19), Helgakviða Hundingsbana II (verso 40), Völuspá Inni Skamma 
(verso 14 e 16) e no Gylfaginning (capítulos 26, 34, 51, 52 e 53). O Ragnarökr é associado 
ao poema Muspilli (séc. 9), que narra o dia do julgamento cristão, e com o poema Heliand 
(séc. 9) que conta a vida de cristo, porque a palavra Muspilli, que aparece de diversas 
formas nesses poemas, é relacionada com o fim do mundo através do fogo. O Bergbúa Þáttr 
(séc. 13) também descreve acontecimentos que se assemelham com o Ragnarökr e parecem 
ser a descrição de uma erupção vulcânica. Snorri em sua Edda em Prosa afirma que o 
Ragnarökr era na realidade eventos acontecidos em Tróia. 
 Alguns resultados da batalha dos Deuses com Jötnar são confusos e contraditórios. Os 
poemas Eddicos afirmam que Óðinn morrerá porque será devorado por Fenrir, mas a 
Ynglinga Saga (capítulo 10) relata que Óðinn viverá eternamente na companhia de seus 
eleitos. O Gylfaginning (capítulo 3) relata que Alföðr-Óðinn viverá através de todas as eras 
e eternamente no palácio Gimlé. O palácio Gimlé segundo as Eddas resistirá ao fogo de 
Surtr após o Ragnarökr. O poema Völuspá (verso 65) relata que um ser poderoso virá para 
julgar (ele não é nomeado) e talvez seja uma alusão ao deus cristão ou Óðinn. Um 
monumento na Suécia conhecida como runestone de Ledberg (séc.11) descreve a batalha de 
Víðarr e Óðinn contra Fenrir. Nela podemos notar que Víðarr está com os pés na boca de 
Fenrir enquanto Óðinn está abaixo. Vendo essa descrição podemos pensar que Óðinn não 
morreu engolido por Fenrir. 
 O resultado do confronto entre de Þórr e Jörmungandr também é contraditório. Segundo o 
prólogo da Edda em Prosa, Þórr matou um enorme dragão, que com certeza deve se tratar 
de Jörmungandr. O Gylfaginning (capítulo 48) relata que Þórr matou Jörmungandr com seu 
martelo e arrancou-lhe a cabeça, mas Snorri diz: “mas eu creio que a Serpente Miðgarðr 
ainda vive e permanece no fundo do mar circulando a terra.” Nota-se que essa é a opinião 
de Snorri. O poeta Úlfr (Skáldskaparmál capítulo11, verso 56) diz que Þórr arrancou a 
cabeça de Jörmungandr. No relato da Edda Poética, Þórr é acompanhado pelo jötunn Hymir 
que com medo corta linha em que Þórr puxava a serpente. Esse poema não esclarece se 
Þórr matou Jörmungandr. No relato da Edda em Prosa Þórr aparece sozinho. Nota-se que se 
Þórr estava sozinho ele possivelmente matou Jörmungandr porque não teve interferência de 
ninguém. Porém, os monumentos rúnicos que se referem a essa batalha aparecem 
representados nessas duas versões. 
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 Os outros confrontos entre os Deuses e monstros (Heimdallr contra Loki, Freyr contra 
Surtr e Týr e Garmr) parecem que foram todos ajuntados e colocados na Edda em Prosa 
com outros resultados. Sabe-se que Heimdallr e Loki já haviam se enfrentado por causa do 
colar de Freyja, onde Heimdallr vence Loki. 
 A luta entre Freyr e Surtr parece mais ser uma conseqüência pelo fato do Deus ter dado sua 
espada a Skirnir, assim seria o único modo do Deus morrer. 
 A batalha de Týr e Garmr também é confusa. O inimigo original de Týr é Fenrir, mas no 
Ragnarökr é Garmr. 
 O Skáldskaparmál 62 da Edda em Prosa relata que Heðinn e Högni lutariam sem descanso 
até o Ragnarökr graças aos encantamentos de Hildr. Porém, o Sörla Þáttr (capítulo 9, séc. 
14) relata que essa maldição foi desfeita quando o cristianismo se fortaleceu no norte. Será 
que o Ragnarökr era na verdade a chegada do cristianismo que veio para julgar os Deuses? 
É muito provável que sim. Como aceitar uma fé sem dar fim a anterior? O jeito era criar 
uma farsa usando os próprios relatos mitológicos para isso. Assim os Deuses antigos não 
teriam vez na nova era trazida pelo cristianismo e teriam que “morrer”. Nada melhor do que 
registrarem essas coisas junto com os mitos originais que estavam sendo registrados. 
 Vários personagens históricos (Ibn Fadlan, Tácito, Adam de Bremen, Saxo Grammaticus 
entre outros) que tiveram contato com o paganismo nórdico não registram nada sobre o 
Ragnarökr. Isso é estranho, por que um fato desses não seria recordado por nenhum deles, 
se fosse parte de sua fé? A resposta é simples: porque isso obviamente não fazia parte 
original da fé dos escandinavos. Mas ai vem a pergunta na cabeça, de onde vieram essas 
narrações sobre o fim do mundo encontradas nas Eddas? Olhem abaixo e comparem as 
semelhanças das narrações Eddicas com o Apocalipse da Bíblia. Sabemos que os relatos 
míticos foram registrados por monges cristãos e fica obvio que o Ragnarökr é uma farsa e 
cópia do Apocalipse. 
 
Völuspá Apocalipse (Revelação) e Marcos 
 
39.1-6-"Ela viu um local para atravessar Rev. 21.8-"Mas, quanto aos 
através de rios selvagens, medrosos, e os incrédulos, e os 
homens mentirosos abomináveis, e aos homicidas, e 
e cães assassinos os adúlteros, e aos feiticeiros, 
e os que seduzem a consorte e aos idólatras, e a todos os 
de outros." mentirosos, a sua parte será no 
 lago ardente de fogo e 
 enxofre, que é a segunda morte." 
 
40.1-4-"No leste se senta a velha, Rev. 17.5-"e na sua fronte 
no Járnviði, estava escrito um nome 
que deu nascimento simbólico: A grande Babilônia, a 
a descendência de Fenrir." mãe das prostituições e das 
 abominações da terra." 
 
41.1-4-"Ele se alimenta Rev. 17.6-"E vi que a mulher 
da carne dos homens mortos, estava embriagada com o sangue 
a casa dos deuses se torna vermelho dos santos e com o sangue dos 
do sangue escarlate," mártires de Jesus." 
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45.1-10-"Irmãos se enfrentarão Marcos 13.12-"Um irmão 
e se matarão um ao outro, entregará á morte a seu irmão, e 
filhos de irmãs trarão um pai a seu filho; e filhos se 
ruína aos parentes. levantarão contra os pais e os 
O mundo será difícil com matarão. 
muita prostituição, Marcos 13.7-"Quando,porém, 
tempo do machado, tempo da espada, ouvirdes falar em guerras e 
escudos serão partidos, rumores de guerras, não vos 
tempo do vento, tempo do lobo, pertubeis; forçoso é que assim 
antes do mundo cair." aconteça: mas ainda não é o fim." 
 
46.1-6-"Os filhos de Mímir se agitam, Rev. 8.7-"O primeiro anjo tocou 
a árvore do destino se incendeia sua trombeta, e houve saraivada 
no sopro do e fogo misturado com sangue, que 
Gjallarhorn, foram lançados na terra; e foi 
Heimdallr soará altamente, queimada a terça parte da 
o chifre no ar." terra, a terça parte das 
 árvores, e toda a erva verde." 
 
47.3-8-"Yggdrasill treme, Rev. 20.7-"Ora, quando se 
o grande freixo, completarem os mil anos, Satanás 
a velha árvore geme, será solto da sua prisão, e 
e o Jötunn escapa, sairá a enganar as nações que 
todos se amedrontam estão nos quatro cantos da 
na estrada para Hel terra, Gogue e Magogue, cujo 
antes que o parente de Surtr número é como a areia do mar, a 
a devore." fim de juntá-las para a batalha." 
 
48.3-6-"Toda Jötunheimr treme, Rev. 6.16-"e diziam aos montes 
e os Æsir debatem. e aos rochedos: Caí sobre nós, e 
Os Dvergar ficam escondei-nos da face daquele 
em seus portões de pedra," que está assentado sobre o 
 trono, e da ira do Cordeiro;" 
 
51.5-8-"A monstruosa descendência Rev. 19.19-"E vi a besta, e os 
acompanhará Freki, reis da terra, e os seus 
com eles está o irmão exércitos reunidos para fazerem 
de Býleist viajando." guerra aquele que estava 
 montado no cavalo, e ao seu exército." 
 
52.5-8-"As rochas estrondeiam, Rev. 6.14-"E o céu recolheu-se 
e a velha cambaleia, como um livro que se enrola; e 
a multidão segue sobre a estrada do Hel todos os montes e ilhas foram 
e o céu se parte." removidos dos seus lugares." 
 
57.1-4-"A Sól se torna negro, Marcos. 13.24-25-"Mas naqueles 
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a terra afunda no mar, dias, depois daquela tribulação, 
do céu muda o sol escurecerá, e a lua não 
as estrelas brilhantes." dará a sua luz; as estrelas 
 cairão do céu, e os poderes que 
 estão no céu, serão abalados." 
 
59.1-4-"Ela vê emergindo Rev. 21.1-"E vi um novo céu e 
uma outra uma nova terra. Porque já se 
terra do mar foram o primeiro céu e a 
novamente verde." primeira terra, e o mar já não existe." 
 
62."O campo não semeado Rev. 21.3-4-"E ouvi uma grande 
crescerá; voz, vinda do trono, que dizia: 
todo o mal se transformará para melhor, Eis que o tabernáculo de Deus 
Baldr retornará, está com os homens, pois com 
Höðr e Baldr habitarão ele habitará, e eles serão o seu 
no salão de guerra de Hropt povo, e Deus mesmo estará com 
e os felizes Valtívar. eles. Ele enxugará de seus olhos 
Quem saberia ainda mais que isso?" toda lágrima; e não haverá mais 
 morte, nem haverá mais pranto, 
 nem lamento, nem dor; porque já 
 as primeiras coisas são passadas." 
 
64."Ela vê um salão se levantar Rev. 21.10-11-"E levou-me em 
mais belo que a Sól, espírito a um grande e alto 
de telhados de ouro, monte, e mostrou-me a santa 
no Gimlé. cidade de Jerusalém, que descia 
Lá deverão os íntegros do céu da parte de Deus, tendo a 
governantes viver, glória de Deus; e o seu brilho 
e eternamente era semelhante a uma pedra 
desfrutando sua alegria." preciosíssima, como se fosse 
 jaspe cristalino." 
 
65.["Então vem o poderoso Marcos 13.26-"Então virão vir o 
para julgar, Filho do homem nas nuvens, com 
de cima, o poderoso, grande poder e glória." 
que a tudo governa."] 
 
 O poema Muspilli do século 9 é um poema cristão que narra o destino da alma após a 
morte onde anjos e demônios batalham para possui-la. Outra parte importante nesse poema 
é a batalha entre Elias e o Anticristo. Os eventos que se seguem depois é o último 
julgamento. 
 Nesse poema o Demônio é recolocado no lugar de Loki e o Anticristo no lugar da Serpente 
Miðgarðr, mas seus papéis são semelhantes. Þórr é identificado com o profeta Elias. Nota-
se que a batalha de Elias com o Anticristo e de Þórr com a Serpente Miðgarðr são 
incrivelmente similares. Elias e Þórr vencem seus inimigos e ficam feridos após o combate 
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e caem na terra. No poema Völuspá logo que termina o combate de Þórr e a Serpente 
Miðgarðr a terra começa a se auto destruir e isso também acontece no poema Muspilli. 
 Lembrando que os nomes míticos escandinavos foram usados no lugar dos nomes míticos 
cristãos quando esses escritos mitológicos foram redigidos dando um tom para que 
parecesse real e verdadeiro. Compare abaixo a narração da Völuspá entre a batalha de Þórr 
e Jörmungandr e a batalha entre Elias e o Anticristo. 
 
56."Então vem a poderosa Musp.44-54-"O Anticristo está com o velho 
criança de Hlóðyn, demônio, com o Satã, que o arruinará: 
avança o filho de Óðinn no campo de batalha, ele cairá ferido 
para encontrar a Serpente. e no campo de batalha sem vitória, 
Quando em fúria, mas muitos homens de Deus acreditam 
o guardião de Miðgarðr for mata-la, que Elias será ferido nessa batalha, 
todas as pessoas quando o sangue de Elias cair no solo 
deixaram seus lares. as montanhas queimarão, nenhuma árvore 
Andará nove passos resistirá, ninguém sobre a terra, a água secará, 
o filho de Fjörgyn,o mar será engolido, chamas queimarão os céus, 
limitado contra a Serpente, a lua cairá, Miðgarðr queimará." 
não preocupado com a hostilidade." 
 
57.5-8-"Vapores se elevam 
com flamas ardentes, 
se jogando no alto 
do próprio céu." 
 
 O poema Eddico Helgakviða Hundingsbana II (verso 40) relata que os mortos se 
levantarão com a chegada do fim dos Deuses, porém, essa descrição é semelhante ao que 
aparece no poema Muspilli onde os mortos também se levantarão. O Apocalipse (20.12-14) 
também narra que os mortos se levantarão para serem julgados. 
 Com todas essas provas fica claro a farsa do Ragnarökr. É provável que os antigos 
germânicos acreditassem numa batalha eterna entre os Deuses Æsir e Jötnar e dai pode ter 
vindo á idéia dos monges cristãos de criar uma batalha final que serviria a seus propósitos. 
Olaus Magnus parece confirmar tal idéia porque em seu livro Historia de Gentibus 
Septentrionalibus ele relata que os suecos acreditavam que os Deuses entravam em guerra 
toda vez que se ouvia os trovões. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Essa tese foi feita por Marcio Alessandro Moreira (Vitki Þórsgoði). Tentei manter-me fiel 
na tradução e em preservar os nomes originais contidos nas fontes originais. ® 2009, 2013 
 E-mail: asatruar42@hotmail.com

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