Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Indaial – 2020 Introdução às CIênCIas FarmaCêutICas Profª. Simona Renz Baldin 1a Edição Copyright © UNIASSELVI 2020 Elaboração: Profª. Simona Renz Baldin Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: B177i Baldin, Simona Renz Introdução às ciências farmacêuticas. / Simona Renz Baldin. – Indaial: UNIASSELVI, 2020. 190 p.; il. ISBN 978-65-5663-263-6 ISBN Digital 978-65-5663-258-2 1. Farmácia. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo da Vinci. CDD 615.4 apresentação Olá, acadêmico! Seja bem-vindo ao Livro Didático Introdução às Ciências Farmacêuticas, no qual você encontrará muito conhecimento sobre a área das Ciências Farmacêuticas com os objetivos de contribuir para os seus estudos e aprofundar os conhecimentos sobre a história da farmácia, as definições importantes na área farmacêutica e todos os aspectos importantes relacionados aos medicamentos. Por isso, este caderno de estudos está dividido em três unidades. Na Unidade 1, será apresentada toda a história da farmácia e do boticário até o farmacêutico, a fim de entendermos a evolução e compreendermos o cenário atual da nossa profissão. Também veremos como foram criados os Conselhos de Farmácia, as legislações específicas, as fiscalizações sanitárias e as fontes de informação em farmácia, pois, como profissionais da área de saúde, somos responsáveis por disseminar informações seguras. Por fim, vamos conferir a linha do tempo da profissão farmacêutica com os principais acontecimentos. Na Unidade 2, serão abordadas definições importantes na farmácia, demonstrando como ocorre o processo de desenvolvimento, pesquisa e produção dos medicamentos. Em seguida, veremos a classificação dos medicamentos existentes atualmente no Brasil e os tipos de receitas para dispensação de medicamentos controlados. Na Unidade 3, os principais temas discutidos serão a educação e a atuação do farmacêutico. A educação farmacêutica é de suma importância para todos os profissionais de saúde, por isso veremos o processo de educação em saúde e medicamentos. Também serão apresentadas todas as áreas em que o farmacêutico pode atuar e o código de ética que rege a profissão, assim como o perfil do profissional. Ao final deste livro, esperamos que o aluno tenha uma noção importante sobre todos os conceitos apresentados a respeito da profissão. Então, acadêmico, aproveite ao máximo todo o conteúdo e conhecimento adquirido! Bons estudos! Profª. Simona Renz Baldin Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novi- dades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagra- mação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilida- de de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assun- to em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento. Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complemen- tares, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada! LEMBRETE sumárIo UNIDADE 1 — HISTÓRIA DA FARMÁCIA ................................................................................... 1 TÓPICO 1 — A EVOLUÇÃO DA FARMÁCIA NO BRASIL E NO MUNDO ............................ 3 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 3 2 A HISTÓRIA DA FARMÁCIA .......................................................................................................... 4 3 A FARMÁCIA PRÉ-HISTÓRICA ..................................................................................................... 6 4 MESOPOTÂMIA ................................................................................................................................. 7 5 ANTIGO EGITO .................................................................................................................................. 8 6 CONTINENTE AMERICANO .......................................................................................................... 9 7 GRÉCIA ............................................................................................................................................... 10 8 A IDADE MÉDIA .............................................................................................................................. 13 9 O RENASCIMENTO E O INÍCIO DA EUROPA MODERNA ................................................. 14 10 ILUMINISMO .................................................................................................................................. 16 11 ROMANTISMO ............................................................................................................................... 17 12 POSITIVISMO ................................................................................................................................. 19 13 A FARMÁCIA CONTEMPORÂNEA ........................................................................................... 20 RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 22 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 23 TÓPICO 2 — DO BOTICÁRIO AO FARMACÊUTICO ............................................................... 25 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 25 2 AS BOTICAS ...................................................................................................................................... 25 3 OS ESTUDOS DE FARMÁCIA ....................................................................................................... 28 4 FARMACÊUTICOS E FARMÁCIAS .............................................................................................. 31 5 O PAPEL DO FARMACÊUTICO NA SOCIEDADE ATUAL .................................................... 32 5.1 PROBLEMAS QUE DEMONSTRAM A IMPORTÂNCIA DO FARMACÊUTICO ............. 32 6 O LUGAR DO FARMACÊUTICO É NA FARMÁCIA?.............................................................. 33 RESUMO DO TÓPICO 2.....................................................................................................................35 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 36 TÓPICO 3 — CRIAÇÃO DE CONSELHOS, LEGISLAÇÕES ESPECÍFICAS E FISCALIZAÇÕES SANITÁRIAS ............................................................................. 39 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 39 2 CONSELHO FEDERAL DE FARMÁCIA ...................................................................................... 39 3 CONSELHOS REGIONAIS DE FARMÁCIA .............................................................................. 40 4 DECRETOS QUE REGULAMENTAM O EXERCÍCIO DA PROFISSÃO FARMACÊUTICA .............................................................................................................................. 41 4.1 DECRETO Nº 20.377 .................................................................................................................... 41 4.2 DECRETO Nº 85.878 .................................................................................................................... 41 5 A VIGILÂNCIA SANITÁRIA ......................................................................................................... 42 RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 44 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 45 TÓPICO 4 — LINHA DO TEMPO .................................................................................................... 47 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 47 2 LINHA DO TEMPO – HISTÓRIA DA FARMÁCIA .................................................................. 47 2.1 SÉCULO XVI A.C. ......................................................................................................................... 47 2.2 SÉCULO IV A.C. ........................................................................................................................... 48 2.3 SÉCULO I ....................................................................................................................................... 49 2.4 SÉCULOS XII A XIII ..................................................................................................................... 50 2.5 SÉCULO XVI ................................................................................................................................. 50 2.6 SÉCULO XIX .................................................................................................................................. 51 2.7 SÉCULO XX ................................................................................................................................... 51 2.7.1 Década de 1930 ..................................................................................................................... 51 2.7.2 Década de 1950 ..................................................................................................................... 52 2.7.3 Década de 1960 ..................................................................................................................... 52 2.7.4 Década de 1970 ..................................................................................................................... 52 2.7.5 Década de 1980 ..................................................................................................................... 52 2.7.6 Década de 1990 ..................................................................................................................... 53 2.7.7 SÉCULO XXI ........................................................................................................................ 53 RESUMO DO TÓPICO 4..................................................................................................................... 55 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 56 TÓPICO 5 — FONTES DE INFORMAÇÃO EM FARMÁCIA .................................................... 57 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 57 2 LITERATURA PRIMÁRIA ............................................................................................................... 57 3 LITERATURA SECUNDÁRIA ........................................................................................................ 58 4 LITERATURA TERCIÁRIA ............................................................................................................. 58 5 A RESPONSABILIDADE DE FONTES SEGURAS DE INFORMAÇÕES NA ÁREA DA FARMÁCIA ............................................................................................................................................ 59 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 60 RESUMO DO TÓPICO 5..................................................................................................................... 65 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 66 REFERÊNCIAS ...................................................................................................................................... 67 UNIDADE 2 — DEFINIÇÕES IMPORTANTES NA FARMÁCIA ............................................. 71 TÓPICO 1 — INTRODUÇÃO E DEFINIÇÕES .............................................................................. 73 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 73 2 PLANTAS MEDICINAIS E FITOTERAPIA ................................................................................. 75 2.1 DIFERENÇA ENTRE FITOTERÁPICO E PLANTAS MEDICINAIS .................................... 77 3 MEDICAMENTOS ............................................................................................................................ 78 3.1 FINALIDADE DOS MEDICAMENTOS .................................................................................... 78 4 DIFERENÇA ENTRE MEDICAMENTO E REMÉDIO .............................................................. 79 5 DESENVOLVIMENTO DE MEDICAMENTOS NOS DIAS ATUAIS ................................... 79 5.1 FASES DE ESTUDO PARA NOVOS MEDICAMENTOS ....................................................... 80 5.2 ESTUDO PRÉ-CLÍNICO .............................................................................................................. 81 5.3 ESTUDO CLÍNICO ....................................................................................................................... 81 5.3.1 Requisitos para que um medicamento possa ser usado ................................................ 83 5.4 QUALIDADE DOS MEDICAMENTOS .................................................................................... 84 5.5 FORMAS FARMACÊUTICAS..................................................................................................... 85 5.6 VIAS DE ADMINISTRAÇÃO ..................................................................................................... 87 5.6.1 Via oral .................................................................................................................................. 88 5.6.2 Via retal .................................................................................................................................90 5.6.3 Via parenteral ....................................................................................................................... 91 5.6.4 Via tópica/transdérmica ...................................................................................................... 92 5.6.5 Via respiratória ..................................................................................................................... 93 RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 94 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 95 TÓPICO 2 — TIPOS DE MEDICAMENTOS .................................................................................. 97 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 97 2 ALOPATIA .......................................................................................................................................... 97 3 HOMEOPATIA ................................................................................................................................... 97 3.1 MEDICAMENTO HOMEOPÁTICO X MEDICAMENTO ALOPÁTICO ............................ 99 4 ORIGEM DO PRINCÍPIO ATIVO ................................................................................................. 99 4.1 MEDICAMENTOS DE REFERÊNCIA E/OU INOVADORES ................................................ 99 4.1.1 Medicamentos genéricos .................................................................................................. 100 4.1.2 Vantagens dos medicamentos genéricos ........................................................................ 102 4.1.3 Medicamentos similares ................................................................................................... 102 4.1.4 Medicamentos manipulados ............................................................................................ 103 4.1.5 Intercambialidade de medicamentos .............................................................................. 103 5 ELEMENTOS DO MEDICAMENTO .......................................................................................... 107 5.1 EMBALAGEM ............................................................................................................................. 107 5.2 TARJA ........................................................................................................................................... 109 5.3 RÓTULO ...................................................................................................................................... 110 5.4 BULA ............................................................................................................................................ 111 RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 112 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 113 TÓPICO 3 — MEDICAMENTOS COM EXIGÊNCIA E ISENTOS DE PRESCRIÇÃO .......... 115 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 115 2 MEDICAMENTOS ISENTOS DE PRESCRIÇÃO .................................................................... 116 3 MEDICAMENTOS COM PRESCRIÇÃO ................................................................................... 117 3.1 TIPOS DE PRESCRIÇÃO ........................................................................................................... 117 LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 122 RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 124 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 125 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 126 UNIDADE 3 — EDUCAÇÃO E ATUAÇÃO DO FARMACÊUTICO ....................................... 131 TÓPICO 1 — EDUCAÇÃO FARMACÊUTICA ............................................................................ 133 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 133 2 EDUCAÇÃO EM SAÚDE............................................................................................................... 133 3 EDUCAÇÃO SOBRE MEDICAMENTOS – PRÁTICAS EDUCATIVAS EM SAÚDE ...... 134 3.1 ESPAÇOS DE ENCONTROS ..................................................................................................... 137 3.2 RECIPROCIDADE DIALÓGICA ............................................................................................. 138 3.3 EDUCADOR EM SAÚDE COMO MEDIADOR CULTURAL ............................................. 138 RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 140 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 141 TÓPICO 2 — ÁREAS DA PRÁTICA FARMACÊUTICA ............................................................ 143 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 143 2 ÁREAS DA FARMÁCIA................................................................................................................. 143 3 MANIPULAÇÃO ............................................................................................................................. 147 3.1 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS ............................................................................................ 148 4 HOMEOPATIA ................................................................................................................................. 148 5 HOSPITAL ........................................................................................................................................ 149 6 INDÚSTRIA FARMACÊUTICA ................................................................................................... 150 6.1 ATRIBUIÇÕES E RESPONSABILIDADES DO FARMACÊUTICO NA INDÚSTRIA ........ 150 7 PLANTAS E FITOTERAPIA .......................................................................................................... 151 8 TOXICOLOGIA ............................................................................................................................... 152 9 LABORATÓRIO E ANÁLISES CLÍNICAS ................................................................................ 153 10 ANÁLISES QUÍMICAS ................................................................................................................ 154 11 COSMÉTICOS E DERMOCOSMÉTICOS ............................................................................... 156 12 SAÚDE ESTÉTICA ........................................................................................................................ 156 13 ALIMENTOS .................................................................................................................................. 157 14 GENÉTICA ...................................................................................................................................... 159 15 BIOTECNOLOGIA ........................................................................................................................ 160 16 SAÚDE PÚBLICA ..........................................................................................................................161 17 SAÚDE AMBIENTAL ................................................................................................................... 162 18 FORÇAS ARMADAS .................................................................................................................... 163 19 POLÍCIA CIENTÍFICA ................................................................................................................. 164 20 PRÁTICAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES ......................................................... 166 21 PESQUISAS .................................................................................................................................... 167 22 DISPENSAÇÃO ............................................................................................................................. 168 23 FARMÁCIA CLÍNICA E CUIDADO FARMACÊUTICO ...................................................... 169 RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 172 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 173 TÓPICO 3 — ÉTICA FARMACÊUTICA ........................................................................................ 175 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 175 2 NOÇÃO BÁSICA SOBRE ÉTICA ................................................................................................ 175 3 CÓDIGO DE ÉTICA FARMACÊUTICO .................................................................................... 176 LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 181 RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 186 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 187 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 188 1 UNIDADE 1 — HISTÓRIA DA FARMÁCIA OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • identificar os fatos históricos que marcaram a evolução da profissão farmacêutica; • compreender a trajetória do profissional farmacêutico; • entender as funções dos conselhos de farmácia; • investigar as fontes confiáveis de informações; • traçar o perfil do profissional e do paciente. Esta unidade está dividida em cinco tópicos. No decorrer da unidade, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – A EVOLUÇÃO DA FARMÁCIA NO BRASIL E NO MUNDO TÓPICO 2 – DO BOTICÁRIO AO FARMACÊUTICO TÓPICO 3 – CRIAÇÃO DE CONSELHOS, LEGISLAÇÕES ESPECÍFICAS E FISCALIZAÇÕES SANITÁRIAS TÓPICO 4 – LINHA DO TEMPO TÓPICO 5 – FONTES DE INFORMAÇÃO EM FARMÁCIA Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 2 3 TÓPICO 1 — UNIDADE 1 A EVOLUÇÃO DA FARMÁCIA NO BRASIL E NO MUNDO 1 INTRODUÇÃO Você já imaginou como foi o início da profissão farmacêutica? Como as doenças eram curadas nos séculos passados? Vamos conhecer essa história para entender o momento atual e o futuro da nossa profissão. Você verá que alguns ensinamentos do passado são usados até os dias de hoje. Entre as várias características peculiares ao ser humano, está a sua propensão em tratar doenças físicas ou mentais com medicamentos. Evidências arqueológicas indicam que essa necessidade da humanidade em aliviar o peso causado pelas doenças é tão antiga quanto a procura por novas ferramentas. A farmácia é a arte (posteriormente a ciência) de criar uma das mais importantes ferramentas – o medicamento (ALLEN JR., 2016). Para o farmacêutico dos dias de hoje, é importante entender o papel dos medicamentos enraizado na história da humanidade. Como outras ferramentas, os medicamentos têm sido usados para obter o controle de nossas vidas, tornando- as melhores e mais longas. O entendimento de como os medicamentos agem tem evoluído grandemente, afetando, em parte, a forma como eles são usados (ou abusados). Como é comum em outras áreas, o conhecimento popular sobre o uso de remédios e medicamentos é uma mistura de mito e ciências, folclore e demonstração de fatos. Velhas ideias se fundem com novos conceitos, produzindo uma concepção errônea que pode colocar os pacientes em risco (ALLEN JR., 2016). Uma introdução geral sobre o desenvolvimento dos conceitos referentes aos medicamentos, bem como sobre a evolução da profissão aumenta a habilidade dos farmacêuticos em se adequar aos desafios impostos, à medida que o papel desse profissional se expande. Os farmacêuticos têm muito a ganhar com o entendimento do complexo papel que os remédios tiveram no passado, assim como da farmácia (ALLEN JR., 2016). Ao longo da história, os medicamentos têm gerado uma especial fascinação. Além das histórias sensacionais de como têm desempenhado um importante papel em exploração, comércio, política, descoberta científica e artes, eles afetam diretamente a vida de milhões de pessoas. Medicamentos como a insulina têm mantido milhões de pessoas vivas, assim como antibióticos e quimioterápicos ajudam outras milhões. O fato de terem se tornados úteis, por meio da farmácia, merece ser repetido, e a eficácia e a segurança de seu uso têm UNIDADE 1 — HISTÓRIA DA FARMÁCIA 4 se tornado a principal preocupação dessa profissão relativamente jovem. Embora a farmácia, como uma habilidade, seja tão antiga quanto as ferramentas de pedra, a prática por um especialista reconhecido ocorre há aproximadamente mil anos. Para o surgimento da especialidade, foi preciso que houvesse uma necessidade de uso de medicamentos, embora a profissão esteja tomando a frente da história (ALLEN JR., 2016). 2 A HISTÓRIA DA FARMÁCIA No Brasil, a história da farmácia encontra-se pouco desenvolvida, já que, em outros países, o estudo e o aprofundamento da farmácia é comum e muito valorizado (PITA, 2000). Assim, a história da farmácia se confunde com a da própria humanidade, já que a busca por remédios para combater as doenças é constante. Na antiguidade, não havia distinção entre médicos e farmacêuticos, cabendo a um mesmo profissional diagnosticar doenças e preparar os medicamentos necessários (CRF-SP, 2019). A história da farmácia e medicina por muito tempo caminharam juntas, sendo conhecidas como as ciências da saúde. Então, qual é o objetivo do estudo da história da farmácia? Segundo o historiador J. L. Valverde (1976, apud PITA, 2000), em um artigo intitulado La historia de la farmacia que se ha escrito, abordou insistentemente esse problema e indicou que a história da farmácia deve debruçar- se sobre: • a arte farmacêutica compreendendo, fundamentalmente, o estudo das formas farmacêuticas e dos medicamentos; • a história das ciências farmacêuticas; • a história das farmácias e dos farmacêuticos; • as relações entre a medicina e a farmácia; • a terapêutica medicamentosa e a articulação entre farmácia e as realidades sociais e culturais. Segundo Laín Entralgo (1978, apud PITA, 2000), as razões para se estudar a história é integrar o saber, a dignidade moral, a liberdade intelectual e a originalidade do pensar, salientando que existem pontos que podem consolidar a consciência da profissão farmacêutica como: • abertura de caminho até a integridade do saber; • sua história confere dignidade moral ao farmacêutico, pois legitima a ciência e a profissão através da história, sendo dotada de um passado rico e do qual o profissional pode se orgulhar e se servir para fundamentardeterminadas apostas no futuro; • contribui para um despertar intelectual com a resolução de determinados problemas científicos e profissionais, sendo que determinados saberes do passado, às vezes ditos como ultrapassados, podem ser abordados novamente em função da evolução de novas vertentes de pesquisas. TÓPICO 1 — A EVOLUÇÃO DA FARMÁCIA NO BRASIL E NO MUNDO 5 As práticas farmacêuticas existem na história desde 2500 a.C. a partir de produtos naturais (minerais, vegetais e animais), tendo sido iniciadas na China. Os gregos e os egípcios foram os primeiros a desenvolver métodos para a cura de doenças utilizando a botânica associada a elementos místicos e religiosos (PITA, 2000). A origem da profissão remonta à Grécia antiga e seus deuses: o símbolo da farmácia ilustra o poder (cobra) da cura (taça) e era utilizado pela deusa Hígia, responsável pela saúde (PITA, 2000). FIGURA 1 – SÍMBOLO DA FARMÁCIA FONTE: <https://symbolismofthings.com/significado-simbolo-farmacia-simbolismo/>. Acesso em: 28 maio 2020. Curiosidade do símbolo: sua origem remonta à antiguidade, sendo parte das histórias da mitologia grega. Tudo começou com um centauro, Chiron, que se dedicou ao conhecimento da cura e teve como um dos discípulos o deus Asclépio (também denomi- nado Esculápio), ao qual ensinou os segredos das ervas medicinais. Asclépio tornou-se o deus da saúde e tinha como símbolo um cetro com duas serpentes enroladas. Contudo, ele não utilizava seu conhecimento somente para salvar vidas, mas também para ressus- citar pessoas. Descontente com a quebra do ciclo natural da vida, Zeus interveio e matou Asclépio com um raio. Com sua morte, a saúde passou a ser responsabilidade de Hígia, filha de Asclépio, que se tornou a deusa da saúde. Hígia tinha como símbolo uma taça e a cobra como uma representação do legado do seu pai. Assim, o símbolo de Hígia passou a ser da farmácia (SILVA, 2003). NOTA UNIDADE 1 — HISTÓRIA DA FARMÁCIA 6 O site, a seguir, é um museu virtual da história da farmácia. Vale a pena aces- sar: https://museudouniversodafarmacia.com.br/. DICAS 3 A FARMÁCIA PRÉ-HISTÓRICA Um traço fundamental, nessa época, diz respeito à origem das doenças, que podiam ser naturais ou sobrenaturais. Nesse tempo, não existia diferença entre doença orgânica, funcional ou psicossomática, pois o conceito de doença era sobrenatural, mágico e misterioso, e o tratamento dessas doenças não tinha apenas como terapêutica exclusiva os rituais mágico-religiosos, mas também o uso de produtos de origem vegetal, mineral e animal (PITA, 2000). O uso de plantas revelou, mais tarde, grande valor terapêutico e, ainda hoje, é reconhecido como um elemento em tratamento de doenças (PITA, 2000). Desde o início da humanidade, a farmácia tem feito parte da vida diária. Escavações de alguns dos mais antigos assentamentos humanos suportam o argumento de que indivíduos pré-históricos coletavam plantas para fins medicinais. Por tentativa e erro, o conhecimento popular das propriedades curativas de certas substâncias naturais acabou crescendo. Embora curandeiros tribais ou xamãs guardassem o conhecimento para si, o uso de plantas medicinais, que algumas vezes era empregado como alimento, condimento ou amuleto, foi tão disseminado que impediu a necessidade de existir uma classe especial de pessoas que fossem responsáveis pela sua coleta e utilização (ALLEN JR., 2016). Quando curandeiros de Shanidar ou de outros assentamentos pré- históricos abordavam a doença, eles a colocavam dentro de um contexto que envolvia o reconhecimento do mundo ao redor deles, o qual era habitado por bons e maus espíritos. Os antigos explicavam a doença em termos sobrenaturais, como faziam para explicar outras mudanças ou desastres que ocorriam ao seu redor. Essa lógica também envolvia os tratamentos (ALLEN JR., 2016). As poções mágicas usadas na cura de doenças eram de responsabilidade dos xamãs. Geralmente, encarregados de todas ou da maioria das questões sobrenaturais na tribo, os xamãs diagnosticavam e tratavam a maioria das doenças crônicas ou severas, manipulando os remédios necessários para influenciar os espíritos maus. Assim, um duplo legado foi deixado: drogas como simples ferramentas e substâncias como poderes quase que sobrenaturais (ALLEN JR., 2016). TÓPICO 1 — A EVOLUÇÃO DA FARMÁCIA NO BRASIL E NO MUNDO 7 A descoberta de certas substâncias naturais, como ópio ou mirra, permitiu aliviar o sofrimento humano; entretanto, isso não deveria ser banalizado. Mesmo que os antigos tenham descoberto somente um pequeno número de substâncias ativas, o conceito de efeito sobre as funções biológicas deve ser considerado um dos maiores avanços da humanidade. O desenvolvimento desse conceito ocorreu com o avanço da civilização. Para prosperar, a terapia médica racional precisou das ferramentas fornecidas pelas culturas antigas – a escrita, o sistema de permuta e o sistema de pesos e medidas (ALLEN JR., 2016). 4 MESOPOTÂMIA Na Mesopotâmia, acreditava-se que o comportamento dos deuses era fundamental para o bem-estar dos homens. Eles poderiam originar o bem e o mal, consequentemente, a saúde e a doença. As doenças eram interpretadas como um castigo divino. Tornava-se necessário saber que tipo de pecado o doente havia cometido, para saber o prognóstico da doença, tendo como base os rituais mágicos para realizar o tratamento. Para as doenças de causas terrenas bem visíveis, havia o recurso do uso de medicamentos e da cirurgia. No entanto, a utilização de medicamentos, por si só, não causaria qualquer efeito se não houvesse o acompanhamento mágico-religioso (PITA, 2000). Hoje, a tábua de Nippur é tida como o mais antigo texto da medicina. Nela, havia receitas médicas do terceiro milênio a.C., relatando drogas de origem vegetal, mineral e animal e relatos de formas farmacêuticas de uso oral e uso tópico, como unguentos. Como veículo das preparações, usavam-se vinho, cerveja e óleos. Outras tábuas que contribuíram para a história da farmácia foram descobertas na Filadélfia e na Constantinopla (PITA, 2000). Na Mesopotâmia já era conhecida uma significativa variedade de drogas de origem vegetal, mineral e animal. Além disso, os habitantes daquela região recorriam ao banho, ao calor e às massagens como práticas terapêuticas e realizavam de intervenções cirúrgicas a abcessos, cataratas, extração de dentes, entre outros. Contudo, a terapêutica mais valorizada era a mágico-religiosa, sendo a terapêutica medicamentosa e o recurso à cirurgia, em alguns casos, usados como complementos (PITA, 2000). Ao que se sabe, os povos da Mesopotâmia deram especial atenção aos vegetais com propriedades medicamentosas e cultivo para uso em preparações de medicamentos de drogas vegetais. Entre esses vegetais, temos: cebolas, alhos, açafrão, chicória, cera, mel, uvas, figos, cevada, trigo, milho, vinho, cerveja, água, ópio, entre outros. Em relação a drogas de origem animal, eram usados vísceras e gorduras de animais. Já as de origem mineral eram arsênio, enxofre, cobre, sais de ferro, entre outros (PITA, 2000). Nessa época, algumas operações farmacêuticas descritas são a secagem, a pulverização, a extração de sucos, a filtração, a decantação, a maceração, a digestão, UNIDADE 1 — HISTÓRIA DA FARMÁCIA 8 a ebulição, entre outras. Essas operações eram realizadas para a obtenção de formas farmacêuticas, para preparar soluções, fumigações, pomadas, unguentos, emplastros e pílulas. Também já havia técnicas próprias para a introdução de medicamentos pelas vias retais e vaginais (PITA, 2000). O cultivo de plantas medicinais e o desenvolvimento de prática cosméticas foram atividades significativas nos povos da Mesopotâmia, que se dedicaram ao comércio de plantas medicinais e desenvolveram apuradas técnicas químicas para produção de corantes, sabão, pinturas e cosméticos (PITA, 2000). 5 ANTIGO EGITO O Egito persistia na crença da origem divina das doenças, realizando, com frequência, sacrifícios,preces e rituais mágicos para restabelecer a saúde do doente (PITA, 2000). As receitas sugeridas geralmente iniciavam com uma prece ou encantamento (ALLEN JR., 2016). Algumas definições, segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvi- sa; BRASIL, 2018), sobre métodos de extração em drogas vegetais: • Secagem: é o processo que consiste em manter a planta fresca ou droga vegetal, convenientemente rasuradas, trituradas ou pulverizadas, nas proporções indicadas em fórmula, em contato com líquido extrator apropriado, em contato com o líquido extrator, por tempo determinado para cada vegetal. • Pulverização: reduz a pó pequena quantidade de material, realizado normalmente por trituração. • Extração: é a retirada, de forma seletiva ou mais completa possível, das substâncias ou da fração ativa contida na droga vegetal, utilizando, para isso, um solvente apropriado e sem efeitos tóxicos. • Filtração: separação de partículas sólidas suspensa em líquido por efeito de pressão sobre superfície porosa (filtro). • Decantação: deixar uma mistura (sólido-líquido ou líquido-líquido) em repouso e o componente mais denso, sob ação da força de gravidade, formará a fase inferior e o menos denso ocupará a fase superior. • Maceração: é o processo que consiste em manter a planta fresca ou a droga vegetal, convenientemente rasurada, triturada ou pulverizada, nas proporções indicadas na fórmula em contato com o líquido extrator apropriado, por tempo determinado para cada vegetal. Deverá ser utilizado recipiente âmbar ou qualquer outro que elimina contato de luz. • Digestão: ferver a droga vegetal em um líquido extrator na temperatura de 40 a 50 °C. • Ebulição (decocção): é a preparação que consiste na ebulição da droga vegetal em água potável por tempo determinado. Método indicado para drogas vegetais com consistência rígida, como cascas, raízes e sementes. NOTA TÓPICO 1 — A EVOLUÇÃO DA FARMÁCIA NO BRASIL E NO MUNDO 9 De todos os papiros que contam a história, o de Ebers e o de Edwin Smith são tradicionalmente considerados os de maior interesse para o estudo da história da farmácia e da medicina, pois demonstram a relação entre a patologia e a terapêutica, relatando avanços consideráveis na farmacoterapia e 700 nomes de drogas de origem vegetal, mineral e animal (PITA, 2000). Os registros sobre as práticas médicas egípcias demonstram um alto nível de sofisticação farmacêutica, com preparações manipuladas a partir de receitas detalhadas (ALLEN JR., 2016). Os egípcios trabalharam com um rol de matérias- primas de origem vegetal (drogas frescas e secas), como anis, sene, tamarindos, pepino, melão, artemísia, açafrão, cebola, alho, trigo, lírio, dormideira, cólquico, mandrágora, figos, cevada, entre outros; de origem animal, como gorduras diversas, leite, fígado de boi, carnes variadas, bile, sangue, cérebro e urina de animais; e de origem mineral, como amoníaco, enxofre, ouro, prata, chumbo, ferro, cobre e mercúrio, dos quais era possível obter diversos sais, como sulfuretos de chumbo, carbonato e acetato de cálcio, nitratos de sódio e de potássio (PITA, 2000). As formas farmacêuticas usadas pelos egípcios eram pastilhas, pílulas, supositórios, clisteres, inalações, pomadas, unguentos e colírios (PITA, 2000). Destaca-se, nessa época, a atenção aos cosméticos, com o desenvolvimento de técnicas para a fabricação de esmaltes e a obtenção de pigmentos destinados a colorações, bem como a atenção à prática de higiene pessoal, como a lavagem das mãos, as depilações, tanto no homem como na mulher, a utilização de perucas e perfumes, tanto corporais como de ambiente, e o banho. Assim, os primeiros testemunhos encontrados sobre a produção e a utilização de cosméticos ocorreram no Egito (PITA, 2000). 6 CONTINENTE AMERICANO Quando os europeus chegaram à América, encontraram povos em diferentes estados de evolução cultural; enquanto a civilização maia, asteca e inca conseguiu alcançar um expressivo grau de desenvolvimento, outras civilizações encontravam-se em uma condição oposta, conforme relatado por Francisco Guerra (1988, apud PITA, 2000). A cultura inca acreditava que a doença era o resultado de um pecado cometido pelo doente e uma forma de castigo dos deuses, tendo como tratamento a reconstituição da falta cometida de acordo com um ritual religioso adequado. Esse tratamento era associado a uma terapêutica farmacológica, uma vez que os incas conheciam um número expressivo de drogas com ações terapêuticas (PITA, 2000). As drogas mais utilizadas eram de origem vegetal, sendo a folha de coca muito utilizada contra a fadiga, a fome e a sede. Os maias também acreditavam UNIDADE 1 — HISTÓRIA DA FARMÁCIA 10 que a doença era o resultado de um pecado ou uma falta cometida e, para restabelecer a saúde, era fundamental o arrependimento do ato cometido, com adequados rituais mágico-religiosos (PITA, 2000). Em relação à terapêutica medicamentosa, os maias usavam mistura e extração como técnicas para o preparo, resultando em unguentos e unções. Eles também deram atenção aos cuidados de embelezamento do corpo (PITA, 2000). Na cultura asteca, a doença também era o resultado de uma falta cometida ou de um pecado. Para o médico asteca era fundamental o conhecimento dos astros pois mostrava-se da maior importância a influência deles sobre o corpo humano, e a interpretação dos sonhos (PITA, 2000). No que diz respeito às técnicas terapêuticas, os astecas utilizavam da cirurgia e da terapêutica com drogas vegetais, animais e minerais, sempre em associação com rituais mágico-religiosos considerados fundamentais nas doenças mais graves (PITA, 2000). 7 GRÉCIA As raízes da profissão médica moderna surgiram com o florescimento da civilização grega, na bacia do mar Egeu. Nos registros da Grécia antiga, é encontrado um conceito de fármaco – ou pharmakon, uma palavra que significa ao mesmo tempo feitiço, remédio ou veneno (ALLEN JR., 2016). A deusa da magia chamada Hecate, também conhecida como Pharmakis, era detentora do saber terapêutico das plantas medicinais e, nos templos que lhe estavam consagrados, as sacerdotisas eram apelidadas de pharmakides (PITA, 2000). Houve uma divisão rudimentar de trabalho entre os que lidavam com medicamentos, com várias denominações utilizadas para esses profissionais, para além dos médicos (iatroi), sendo os mais comuns os pharmakopoloi (singular pharmakopolos), ou vendedores de medicamentos, que teriam igualmente outras funções no campo sanitário e cujo estatuto social e cultural não seriam elevados (DIAS, 2005). Os gregos utilizavam preparação de medicamentos proveniente dos três reinos da natureza, sendo as formas farmacêuticas produzidas: pílulas, bolos, electuários, pastilhas, unguentos, pomadas, ceratos, pomadas oftálmicas, colírios, supositórios e clisteres. Também existia uma forma farmacêutica denominada rypos, composta por uma mistura de azeite com suor dos praticantes de ginástica dos ginásios gregos. Os gregos dedicaram atenção especial aos ginásios, à perfumaria e à cosmética (PITA, 2000). Em Roma, à semelhança do que havia acontecido na Grécia, não existia separação entre a atividade médica e a arte farmacêutica. Os médicos romanos prestavam cuidados médicos à população e faziam a preparação dos medicamentos ao público. Essas fórmulas eram exclusivas e mantidas em segredo (PITA, 2000). TÓPICO 1 — A EVOLUÇÃO DA FARMÁCIA NO BRASIL E NO MUNDO 11 Onde eram realizadas as técnicas, encontravam-se diversos utensílios utilizados na transformação das matérias-primas em medicamentos, assim como recipientes destinados a sua conservação e armazenamento. Entre os diversos utensílios, encontramos alfomarizes, piluladores, tamises, cápsulas, bancas de mármore para a preparação de pomadas, copos, vasilhas, balanças de braços iguais, balanças romanas. O sistema de pesos romano foi utilizado na farmácia até o século XIX, justamente quando foi implantado o sistema métrico decimal (PITA, 2000). FIGURA2 – BALANÇA ANTIGA FONTE: <https://shutr.bz/3mI6geN>. Acesso em: 29 jun. 2020. FIGURA 3 – FAMACÊUTICA PREPARANDO UM MEDICAMENTO FONTE: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Farmac%C3%AAutico>. Acesso em: 29 jun. 2020. Para a conservação e o armazenamento dos medicamentos, os romanos utilizaram materiais diversos e formas variadas. Eram vulgares as caixas de madeira e de metal para o acondicionamento de matérias-primas vegetais. Para os medicamentos líquidos, pastosos e perfumes, eram utilizados recipientes de vidro, de barro cozido, de osso, de prata, de bronze e de estanho (PITA, 2000). UNIDADE 1 — HISTÓRIA DA FARMÁCIA 12 À semelhança do que acontecia na Grécia, Roma também mostra a diversidade de profissionais que trabalhavam com o vasto campo da comercialização das drogas e dos perfumes: • os farmacopolas eram comerciantes de drogas e venenos; • os cellulari vendiam as drogas nas suas próprias tendas; • os seplasiari eram profissionais que vendiam drogas nos seus estabelecimentos (seplasias); • os herbari dedicavam-se à colheita e à conservação das drogas; • os unghentarii eram especializados na obtenção de perfumes; • os circunforaneos eram vendedores de substâncias medicinais que promoviam os seus produtos de cidade em cidade (PITA, 2000). Os romanos, assim como os gregos, também davam especial atenção à perfumaria e à cosmética, utilizando várias matérias-primas provenientes dos três reinos da natureza com diversas aplicações, sendo que muitas formulações apresentavam finalidade cosmética e terapêutica (PITA, 2000). A maioria dos medicamentos gregos era preparada a partir de plantas, e o primeiro grande estudo das plantas no Ocidente foi realizado por Teofrasto (370-285 a.C.), um estudante de Aristóteles. Seu feito de combinar informações de acadêmicos, parteiras, coletores de raízes e médicos itinerantes foi copiado 300 anos mais tarde por Dioscórides (65 d.C.). A última compilação de um médico grego sobre uso de plantas do seu tempo, a Materia medica, tornou-se, nas suas várias formas, a obra de referência sobre plantas medicinais centenas de anos depois (ALLEN JR., 2016). Por meio dos ensinamentos e das escrituras de Galeno, um médico grego que atuava em Roma no século II d.C., o sistema humoral da medicina ganhou ascendência para os próximos 1.500 anos, criando um sistema elaborado que tentava equilibrar os humores de um indivíduo doente pelo emprego de drogas de uma natureza supostamente contrária (ALLEN JR., 2016). Galeno (200-131 a.C.), o pai da farmácia, combatia as doenças por meio de substâncias ou compostos que se opunham diretamente aos sinais e sintomas das enfermidades, tendo sido o precursor da alopatia (CRF-SP, 2019). Ele descreveu farmácia e medicamentos, e, em suas obras, havia centenas de referências a fármacos, além de ter elaborado uma lista de remédios vegetais, conhecidos como “galênicos”, a maioria dos quais era composta por vinho. Estudioso, observador e metódico, Galeno classificou e usou magistralmente as ervas, fazendo preparações denominadas “teriagas” com vinho e ervas. Ele foi a figura mais marcante na história da medicina romana e da farmácia. No campo da farmacoterapia, definiu o alimento como o que atua originando um incremento do corpo e o medicamento como aquele que produz no organismo uma alteração que, em casos extremos, pode se transformar em veneno (PITA, 2000). TÓPICO 1 — A EVOLUÇÃO DA FARMÁCIA NO BRASIL E NO MUNDO 13 Desse modo, Galeno é considerado o pai da farmácia, pois conseguiu instituir uma construção de medicamento, até então, nunca vista e organizou uma terapêutica medicamentosa nunca antes obtida. Ele preconizou uma farmacologia própria, à luz da qual pretendia explicar a ação dos medicamentos, organizou e classificou racionalmente os fármacos (PITA, 2000). O conceito de medicamento de Galeno é o que temos até hoje. No medicamento, coexistem três constituintes fundamentais: as substâncias, que conferem as propriedades terapêuticas ao medicamento; os produtos, que exercem uma ação corretiva de determinada característica organoléptica; e os excipientes, que são incorporados para facilitar a administração das substâncias ativas (PITA, 2000). A medicina da antiguidade alcançou o seu auge com Galeno, cuja influ- ência foi tão persuasiva entre os práticos que exerciam a medicina que a base de sua abordagem de cura – o equilíbrio dos quatro humores do corpo com o uso de drogas – se misturava com folclore e sua superstição para guiar pessoas comuns no tratamento de suas doenças. Na metade ocidental do Império Romano, tal conhecimento tornou-se especialmente valioso nos 400 anos seguintes, à medida que civilizações entravam em decadência (ALLEN JR., 2016). FIGURA 4 – CLAUDIO GALENO FONTE: <https://bit.ly/3lBZYMA>. Acesso em: 23 set. 2020. 8 A IDADE MÉDIA Tradicionalmente, a Idade Média é definida como o período que se ini- cia com a queda do Império Romano no Ocidente (400 d.C.) e vai até a queda de Constantinopla (1543), sendo considerada, por historiadores, a “Idade das Trevas”, embora tenha sido um período com acontecimentos relevantes, como o surgimento da civilização islâmica e uma nova e independente área – a farmácia (ALLEN JR., 2016). UNIDADE 1 — HISTÓRIA DA FARMÁCIA 14 O uso de drogas, para tratar doenças, sofreu mudanças devido ao fechamento de alguns templos pagãos. A terapia medicamentosa racional declinou no Ocidente, sendo substituída pelos ensinamentos da Igreja de que o pecado e a doença estavam intimamente relacionados (ALLEN JR., 2016). Os árabes aceitaram a notoriedade das escrituras médicas gregas, especialmente de Galeno e Dioscórides. Contudo, à medida que seu nível de sofisticação crescia, médicos islâmicos, como Rhazes (860-932) e Avicena (980- 1063), adicionavam informações aos escritos gregos. Os postos de comércio distantes das conquistas árabes também trouxeram novas drogas e condimentos aos centros de ensino. Além disso, os médicos árabes rejeitavam a ideia de que remédios com sabor desagradável funcionavam melhor; em vez disso, eles se dedicavam a tornar suas formas de dosagem elegantes e palatáveis, cobrindo pílulas com folhas de ouro ou prata e usando veículos adoçados (ALLEN JR., 2016). Os medicamentos novos e mais sofisticados exigiam técnicas de preparação elaboradas. Na cidade cosmopolita de Bagdá no século IX, essa atividade era realizada por especialistas, os antecessores dos farmacêuticos atuais. Em lugares como Espanha e sul da Itália, onde o mundo islâmico interagia com a Europa Ocidental, várias instituições e progressos da cultura árabe, como a separação da farmácia e da medicina, alcançavam o Ocidente (ALLEN JR., 2016). Na metade do século XIII, quando Frederico II, o governante do Reino das Duas Sicílias, sistematizou a prática da farmácia separada da medicina pela primeira vez na Europa, farmácias públicas tornaram-se relativamente comuns no sul da Europa. Profissionais da farmácia reuniam-se em associações, as quais, algumas vezes, incluíam comerciantes de especiarias e médicos. Esses pró- farmacêuticos geralmente se autodenominavam “apotecários” (ou boticários), um termo oriundo do termo grego latinizado apotheca, que significa depósito ou armazém. Semelhantemente aos padeiros (padarias) ou merceeiros (mercearias), os apotecários eram identificados pelo seu tipo de comércio (ALLEN JR., 2016). A cultura árabe trouxe, novamente, o conhecimento médico e científico clássico à Europa. No entanto, para que ocorressem mudanças significativas no uso de drogas, a abordagem escolástica deveria ser colocada de lado e uma metodologia observacional mais cética precisava ser adotada. Essa nova era experimental é conhecida como renascimento (ALLEN JR., 2016). 9 O RENASCIMENTO E O INÍCIO DA EUROPA MODERNA O renascimento, de modo simples, foi o início da Idade Moderna. Em 1453, Constantinopla (atual Istambul) caiu pela conquista dos turcos, e os indiví- duos remanescentes da comunidade acadêmica grega fugirampara o Ocidente, carregando seus livros e conhecimentos. Em meio século, Colombo descobriu o Novo Mundo e Vasco da Gama encontrou o caminho marítimo para a Índia, que TÓPICO 1 — A EVOLUÇÃO DA FARMÁCIA NO BRASIL E NO MUNDO 15 tinha sido antecipado por Colombo; o comércio, com base em moedas e transa- ções bancárias, foi estabelecido e a sífilis disseminou-se pela Europa. Foi a época da prática de novas ideias por meio da reinterpretação dos temas clássicos anti- gos, da exploração dos mares e da investigação em laboratório (ALLEN JR. 2016). Foi o momento ideal para se libertar dos velhos conceitos sobre doenças e drogas de Galeno. As novas drogas chegaram a terras distantes desconhecidas pelos anciões. Impressores, após terem cumprido a demanda de impressões de livros religiosos, voltaram-se a obras farmacêuticas e médicas, especialmente àquelas que poderiam ser beneficiadas com a impressão de ilustrações detalhadas. Essa tendência pode ser exemplificada com a obra-prima da anatomia de Andreas Vesalius (1514-1534), conforme mostra a Figura 5 (PITA, 2000). FIGURA 5 – OBRA-PRIMA DA ANATOMIA, DE ANDREAS VESALIUS Para a farmácia, a impressão teve um profundo efeito no estudo das plantas medicinais, visto que a ilustração de plantas podia ser facilmente reproduzida. Médicos botânicos, como Otto Brunfels (1500-1534), Leonhart Fuchs (1501-1566) e John Gerard (1545-1612), ilustravam suas obras com figuras de plantas, permitindo que os leitores fizessem um sério trabalho de campo ou encontrassem as drogas FONTE: <https://bit.ly/341iOXJ>. Acesso em: 25 jun. 2020. Andreas Vesalius publicou, em 1543, o maior livro médico, De humani cor- poris fabrica, mais conhecido como Fabrica, impressionando a comunidade por sua im- ponência e conteúdo. Foi perseguido pela inquisição e sua obra chegou a ser proibida na época. INTERESSA NTE UNIDADE 1 — HISTÓRIA DA FARMÁCIA 16 necessárias para seus pacientes. Entre os mais talentosos investigadores, estava Valerius Cordus (1515-1544), que escreveu uma obra de outro gênero popular – o livro de fórmulas (PITA, 2000). FIGURA 6 – OBRA HERBARIUM VIVAE EICONES, DE OTTO BRUNFELS FONTE: <https://bit.ly/3qvlshF>. Acesso em: 30 jun. 2020. 10 ILUMINISMO As alterações políticas, sociais e econômicas, verificadas no final do século XVIII, incorporaram disciplinas médicas sociais, como a higiene. Com isso, surgiu a preocupação com as condições sanitárias da população e, sobretudo, as classes da população como crianças, idosos, operários, entre outros (PITA, 2000). Um dos aspectos clínicos mais evidentes e visíveis dessa dinâmica preventiva foi a vacinação contra a varíola; a vacinação, por si só, foi uma descoberta científica de grande impacto não só na comunidade científica, mas também na população em geral. Foi ainda na segunda metade do século XVIII que surgiu a homeopatia, um sistema terapêutico que ainda existe nos dias atuais, sendo o seu fundador Samuel Hahnemann (1755-1843; PITA, 2000). O avanço verificado na farmácia no final do século XVIII seguiu uma linha orientadora já traçada no século precedente, podendo-se classificá-lo como gradual e lento. Foi um período em que coexistiram partidários do galenismo e das modernas correntes químico-farmacêuticas, além da própria literatura farmacêutica – a farmacopeia –, que agrega conhecimento antigo com novas orientações científicas (PITA, 2000). TÓPICO 1 — A EVOLUÇÃO DA FARMÁCIA NO BRASIL E NO MUNDO 17 FIGURA 7 – FARMACOPEIA BRASILEIRA FONTE: <https://bit.ly/2JSlKyj>. Acesso em: 30 jun. 2020. 11 ROMANTISMO Os avanços da química, na primeira metade do século XIX, foram decisivos para as modificações na área da farmácia. O aparecimento de uma farmacologia científica, o surgimento de medicamentos novos e da terapêutica experimental, bem como a emergência de novas formas farmacêuticas foram alguns dos aspectos que influenciaram a revolução na farmácia e na farmacoterapia (PITA, 2000). Uma descoberta científica marcou definitivamente a história da farmácia: a síntese em laboratório da ureia, por Friedrich Wöhler, em 1828, que abriu as portas da síntese laboratorial de substâncias orgânicas (PITA, 2000). Farmacopeia Brasileira é o nome dado ao livro farmacêutico oficial do país, no qual se estabelece identificação e padrões de qualidade das substâncias empregadas em farmacologia, descrevendo os requisitos mínimos de qualidade de fármacos, insumos, drogas vegetais, produtos para saúde e medicamentos. A última edição da obra foi publicada em 2019. Acesse o link para esse material em: ht- tps://www.gov.br/anvisa/pt-br/assuntos/farmacopeia/farmacopeia-brasileira/arquivos/ 7985json-file-1. NOTA UNIDADE 1 — HISTÓRIA DA FARMÁCIA 18 FIGURA 8 – A SÍNTESE DA UREIA POR FRIEDRICH WÖHLE FONTE: <https://brasilescola.uol.com.br/quimica/sintese-ureia.htm>. Acesso em: 30 jun. 2020. O desenvolvimento químico e a inovação laboratorial proporcionaram o surgimento da autêntica revolução farmacológica nos princípios do século XIX. Até esse momento, a preparação dos medicamentos era feita com o uso de matéria-prima de origem animal, vegetal ou mineral e, a partir de então, começou a descoberta e a síntese de produtos semelhantes a alguns existentes na natureza, isolando-se suas substâncias ativas. O início do isolamento foi com alcaloides e o pontapé inicial foi dado pelo farmacêutico francês Derosne, em 1803, que isolou a nicotina (PITA, 2000). Depois foram isoladas: • a morfina, por Serturner, em 1805; • a cinchonina, por Bernardino António Gomes, em 1810; • a veratrina, por Meisner, em 1818; • a estricnina, por Pelletier e Caventou, em 1818; • a cafeína, por Runge, em 1820, • a quinina, por Pelletier e Caventou, em 1820; • a atropina, por Mein, em 1831; • a digitalina, por Quevenne e Homolle, em 1854; • a cocaína, por Niemann, em 1858, e Koller, em 1884; • a estrofantina, por Fraser, em 1870, Arnaud, em 1888, e Fränkel, em 1905; • o bicarbonato de sódio, por Rose; • a medicação iodada, por Coindet, Lugol e Lawrence; • o brometo de potássio e o brometo de sódio, por Thielmann, Lemier e Pagano; • os derivados de bismuto (antidiarreicos), por Monneret, em 1849. NOTA TÓPICO 1 — A EVOLUÇÃO DA FARMÁCIA NO BRASIL E NO MUNDO 19 Em relação à técnica farmacêutica, a primeira metade do século XIX trouxe algumas inovações, com destaque para os primeiros sinais de industrialização dos medicamentos e, em decorrência, as especialidades farmacêuticas surgiram para participar desse processo (PITA, 2000). 12 POSITIVISMO Marcado pelo ano de 1848 (ano das explosões revolucionárias por toda a Europa) e o início da Primeira Grande Guerra Mundial, em 1914. Houve um acentuado crescimento da população por diminuição da taxa de mortalidade (PITA, 2000). No campo da biologia, também ocorreram avanços, com destaque a Charles Darwin (1809-1882), que publicou, em 1859, uma obra sobre a origem das espécies, levando a reflexões em torno da vida e do homem (PITA, 2000). Já na área da microbiologia, Louis Pasteur (1822-1895) e Robert Koch (1843-1910) desenvolveram metodologias laboratoriais fundamentais para o progresso da microbiologia, possibilitando a identificação de agentes causais de determinadas doenças contagiosas. A partir dessas descobertas e das infecções cirúrgicas, abriu-se um novo campo nas ciências da saúde. A antissepsia, pesquisada por Lister (1827-1912), investigou um modo de evitar as infecções decorrentes de procedimentos cirúrgicos, com a desinfecção das mãos (PITA, 2000). FIGURA 9 – LOUIS PASTEUR FONTE: <https://brasilescola.uol.com.br/biologia/louis-pasteur.htm>. Acesso em: 30 jun. 2020. UNIDADE 1 — HISTÓRIA DA FARMÁCIA 20 Tão importante quanto a antissepsia foi a descoberta de anestésicos. O desenvolvimento da química proporcionou novos produtos, até então desconhecidos. Em 1842, Crawford Long (1815-1878) utilizou o éter; em 1844, foi empregado óxido nitroso como anestésico; em 1846, o éter sulfúrico; e, em 1847, o clorofórmio (PITA, 2000).A principal inovação, no que diz respeito à produção medicamentosa, foi o desenvolvimento da indústria farmacêutica, que retirou o lugar dos medicamentos manipulados. Surgiram, então, novas formas farmacêuticas, frutos do avanço tecnológico e científico, como os medicamentos injetáveis, devido às condições de assepsia para a fabricação (PITA, 2000). As patologias que caracterizavam, na sua globalidade, o século XIX são divididas em três grandes grupos: as doenças provenientes das novas situações históricas e sociais; as doenças tradicionais, já conhecidas dos clínicos; e as doenças epidêmicas. Em geral, essas doenças podem ser resumidas em tifo, difteria, pneumonia, malária, sífilis e diversas doenças circulatórias, digestivas e metabólicas, com ênfase à tuberculose, que atacava todas as classes econômicas na época (PITA, 2000). 13 A FARMÁCIA CONTEMPORÂNEA Após a Primeira Guerra Mundial, houve a continuação do processo de industrialização do medicamento. As farmácias produziam medicamentos magistrais, mas a indústria tinha intenção de abandoná-las. Do século XIX para o XX, a promoção de medicamentos se deu por publicidade, não só em revistas de especialidades, mas também em periódicos, usando meios de comunicação social para a difusão do produto (PITA, 2000). Os antibióticos deram o primeiro passo com a descoberta da penicilina, em 1928, pelo médico britânico Alexander Fleming (1881-1955). Essa descoberta deve ser considerada a mais importante da história da farmacologia e terapêutica. Fleming, ao observar a contaminação por um fungo de uma das suas culturas, verificou que o fungo havia destruído as culturas microbianas (PITA, 2000). O desenvolvimento da penicilina só ocorreu uma década mais tarde, quando o tratado de Guerra na Europa levou uma equipe britânica a se interessar pela produção da droga em grande escala (ALLEN JR., 2016). TÓPICO 1 — A EVOLUÇÃO DA FARMÁCIA NO BRASIL E NO MUNDO 21 FIGURA 10 – ALEXANDER FLEMING E A DESCOBERTA DA PENICILINA FONTE: <http://blogvermais2.blogspot.com/2014/02/a-descoberta-da-penicilina.html>. Acesso em: 30 jun. 2020. Outros antibióticos e várias classes novas de medicamentos apareceram rapidamente e a farmácia, que antes era um local para tratamento de distúrbios menores, passou a exercer um papel de prevenção e cura de doenças graves (ALLEN JR., 2016). Após a Segunda Guerra Mundial, as empresas começaram a aplicar alta tecnologia para a produção de medicamentos, o que rapidamente tornou a indústria farmacêutica em uma das mais avançadas do mundo. Em consequência, isso diminuiu a tendência de prescrições médicas individualizadas com medicamentos manipulados, passando para a prescrição dos medicamentos industrializados (ALLEN JR., 2016). Com todo esse movimento, os farmacêuticos não perderam o mercado de trabalho. O número de prescrições cresceu rapidamente com o lançamento de vários medicamentos novos e mais efetivos nos anos de 1950, 1960 e 1970 (ALLEN JR., 2016). Com o processo da industrialização, o farmacêutico não dominava mais o processo de produção dos medicamentos em sua totalidade e a farmácia passou a abrigar, além da prática da manipulação de produtos magistrais, a venda das especialidades farmacêuticas. Isso gerou um afastamento do farmacêutico de seu lugar original de trabalho (a farmácia), já que a indústria passou a ser a principal área de interesse, e seu afastamento criou espaço para que leigos e comerciantes, sem qualquer conhecimento técnico, assumissem o seu “lugar”. Por isso, a profissão farmacêutica luta na busca de que o reconhecimento do passado retorne, sendo necessário que os farmacêuticos atuem com a população de diversas maneiras, como orientar preventivamente o paciente e estabelecer vínculos de confiança, além de estar sempre atualizado técnica e cientificamente. 22 Neste tópico, você aprendeu que: • A farmácia e a medicina, por muito tempo, caminharam juntas, comparti- lhando os conhecimentos sobre doenças e medicamentos. • No início, a origem das doenças era tida como sobrenatural, com tratamentos incluindo rituais mágico-religiosos e drogas de origem animal, vegetal e mineral, sendo que tais crenças perduraram por longo tempo. • Com o passar dos anos, aumentou o arsenal de produtos conhecidos para as terapias, principalmente de plantas. • A criação e o desenvolvimento de métodos para a produção de medicamentos, com formas farmacêuticas, eram desenvolvidos para o período. • Com a descoberta de novas terras, esses conhecimentos foram incorporados às novas culturas, surgindo, então, a necessidade de um profissional para o medicamento. • Várias pessoas foram importantes para a história e que, ainda hoje, são referências em algumas descobertas da época. • Houve relatos documentados mostrando o conhecimento adquirido ao longo dos anos, e o desenvolvimento de materiais específicos e livros para o estudo da farmácia, como a Farmacopeia. • Os primeiros medicamentos descobertos e sintetizados foram feitos a partir de plantas, ocorrendo a produção em grande escala com a expansão da indústria farmacêutica. • A história e a evolução da farmácia e da profissão, como o desenvolvimento de métodos antigos para a produção de medicamentos, conhecimento das plantas e seus usos, geraram muitos dos conhecimentos que temos hoje. RESUMO DO TÓPICO 1 23 1 Leia a afirmação a seguir: “Conseguiu instituir a construção do medicamento e organizou uma terapêutica medicamentosa nunca antes obtida. Ele preconizou uma farmacologia própria e explicou a ação dos medicamentos, sendo considerado o ‘Pai da Farmácia’”. Quem foi esse personagem marcante na história da farmácia? a) b) c) d) ( ) Hipócrates. ( ) Galeno. ( ) Fleming. ( ) Otto Brunfles. 2 A descoberta científica que marcou definitivamente a história da farmácia foi o primeiro composto sintetizado artificialmente. Após a síntese desse composto, o desenvolvimento químico e a inovação laboratorial proporcionaram o surgimento da autêntica revolução farmacológica. Qual foi o primeiro composto sintetizado artificialmente? a) b) c) d) ( ) Mirra. ( ) Ópio. ( ) Ureia. ( ) Cevada. 3 A descoberta do primeiro antibiótico foi considerada a mais importante da história da farmacologia. O pesquisador, ao observar a contaminação por fungo de uma das suas culturas, verificou que esse fungo havia destruído as culturas microbianas. Qual foi o primeiro antibiótico descoberto e qual foi esse pesquisador? a) b) c) d) ( ) Penicilina, por Alexandre Fleming. ( ) Bicarbonato de sódio, por Louis Pasteur. ( ) Ureia, por Wöhler. ( ) Éter, por Crawford Long. AUTOATIVIDADE 24 25 TÓPICO 2 — UNIDADE 1 DO BOTICÁRIO AO FARMACÊUTICO 1 INTRODUÇÃO No início da sociedade, já existia a cultura da utilização de produtos da natureza para o próprio cuidado. Com o boticário, a pessoa que exercia domínio sobre o conhecimento da origem do produto e da extração de sua matéria-prima, do modo de preparo e de sua comercialização. A utilização da expressão “botica” para farmácia e “boticário” para farmacêutico vem desde o descobrimento do Brasil, perdurando até a terceira década do século XIX; nessa época, o profissional manipulava e produzia os medicamentos, de acordo com as prescrições médicas. Com a evolução e os cursos de Farmácia no país, a profissão de boticário foi extinguida e os farmacêuticos assumiram o seu papel. 2 AS BOTICAS Segundo Pourchet-Campos (1966 apud CORRAL; SOUZA; NEGRÃO, 2009), a palavra boticário foi reportada pela primeira vez pelo Papa Pelágio II, em referência a monges do século VI e, só por volta do século XIII, ela foi utilizada por leigos (CORRAL; SOUZA; NEGRÃO, 2009). Com o passar do tempo, os boticários tornaram-se artesãos do medica- mento, deixando de ser exclusivamente comerciantes de matérias-primas para se envolverem também com o preparo deles (CORRAL; SOUZA; NEGRÃO, 2009). A corporação de boticários era representada por indivíduos que comer- cializavamdrogas, na maioria de origem vegetal. Muitos tinham pequenos jar- dins onde cultivavam as plantas medicinais, e as transformavam em pó, extra- tos e infusos, destinados à preparação, conforme as receitas médicas (CORRAL; SOUZA; NEGRÃO, 2009). Os boticários eram responsáveis pelas boticas. A palavra botica tem ori- gem do grego apotheke, cujo significado etimológico é depósito, armazém; as- sim, um estabelecimento fixo para a venda de medicamentos. Fontes históricas afirmam que os primeiros boticários portugueses surgiram no século XIII e um dado singular é a referência a uma mulher boticária, em 1326 (CORRAL; SOUZA; NEGRÃO, 2009). 26 UNIDADE 1 — HISTÓRIA DA FARMÁCIA FIGURA 11 – EXEMPLO DE UMA BOTICA FONTE: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Farmac%C3%AAutico>. Acesso em: 29 jun. 2020. O primeiro boticário, no Brasil, foi Diogo de Castro, trazido de Portugal por Thomé de Souza. Sua vinda se deu pela observação da coroa portuguesa de que as pessoas do país tinham acesso ao medicamento apenas quando expedições portuguesas, francesas ou espanholas apareciam, trazendo uma botica portátil cheia de drogas e medicamentos (CORRAL; SOUZA; NEGRÃO, 2009). FIGURA 12 – BOTICA PORTÁTIL FONTE: <https://bit.ly/2IbEpET>. Acesso em: 30 jun. 2020. Os portugueses encontraram, no Brasil, uma comunidade representada por pajés e curandeiros, que já usavam raízes, folhas e sementes para resolver os problemas de saúde (CORRAL; SOUZA; NEGRÃO, 2009). Os jesuítas criaram colégios e conventos para realizar missões com os índios e, com isso, aprenderam a manipular matérias-primas nativas para a TÓPICO 2 — DO BOTICÁRIO AO FARMACÊUTICO 27 obtenção de remédios. Os medicamentos, inicialmente, vinham da metrópole, porém chegavam irregulares e, muitas vezes, estragados devido à demora, por isso os jesuítas aprenderam a transformar os medicamentos mesclando o conhecimento com os médicos europeus e o conhecimento indígena (CORRAL; SOUZA; NEGRÃO, 2009). No Brasil, as boticas só foram autorizadas como comércio em 1640 e, a partir desse ano, elas se multiplicaram de norte a sul. Consistiam em casas comerciais ou lojas, onde o público se abastecia de remédios. Eram dirigidas por boticários, que eram profissionais empíricos, e com a facilidade de aprovação, muitas vezes de nível intelectual baixo, tinham conhecimento de alguns medicamentos e uma carta de aprovação do físico-mor de Coimbra, ou seu delegado, na então capital Salvador. Também recebia o nome de botica os compartimentos existentes em hospitais, onde eram realizados o preparo e a administração de medicamentos em doentes internados (GOMES-JÚNIOR, 1988). FIGURA 13 – BOTICA REAL MILITAR EM 1808 FONTE: <https://bit.ly/37Avwxh>. Acesso em: 29 jun. 2020. Em 1744, o exercício da profissão passou a ser fiscalizado severamente, em função da reforma feita por Dom Manuel. Eram proibidas ilegalidades no comércio de drogas e medicamentos (PITA, 2000). A passagem de nome de comércio de botica para farmácia surgiu com o Decreto nº 2.055, de 1857, quando foram estabelecidas as condições para que os farmacêuticos e os não habilitados tivessem licença para continuarem a ter suas boticas no país (PITA, 2000). 28 UNIDADE 1 — HISTÓRIA DA FARMÁCIA Os farmacêuticos e os boticários tinham pouca diferença para a maioria da população e para os legisladores, e o farmacêutico só tomou seu espaço exclusivo na produção de medicamentos por volta de 1886 (PEREIRA; NASCIMENTO, 2011). 3 OS ESTUDOS DE FARMÁCIA A permissão para instalações de Escolas Superiores no país somente foi possível após a vinda da Família Real para o país, em 1806. A partir de então, houve inúmeras mudanças de caráter político, econômico, social, cultural e, consequentemente, educacional no Brasil colônia (CRF-SP, 2008-2009). No âmbito da saúde, Oliveira (1978) afirma que o estudo da farmácia científica, ainda que de maneira rudimentar, decorreu quando o Príncipe Regente Dom João XI determinou a criação da cadeira da matéria Médica e Farmacêutica no Hospital Militar (CRF-SP, 2008-2009). O ensino farmacêutico foi institucionalizado oficialmente no período do Império pela Lei de 3 de outubro de 1832, que reformulava os currículos, dando nova organização às academias médicas cirúrgicas do Rio de Janeiro e da Bahia (CRF-SP, 2008-2009). Somente em 1837, foram diplomados os seis primeiros farmacêuticos do país pelo curso de Farmácia da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, sendo que dois deles, Manuel José Cabral e Calixto José Arieira, fundaram a Escola de Farmácia de Ouro Preto em 1839 (CRF-SP, 2008-2009). O vídeo, a seguir, conta a história da farmácia e o surgimento das boticas: https://www.youtube.com/watch?v=5dxsF0sRxqs. DICAS TÓPICO 2 — DO BOTICÁRIO AO FARMACÊUTICO 29 FIGURA 14 – ESCOLA DE FARMÁCIA DE OURO PRETO FONTE: <https://bit.ly/36FyEZy>. Acesso em: 30 jun. 2020. Após a Proclamação da República, em 1889, houve o início e o incentivo para a criação da indústria farmacêutica nacional e, em consequência, de novos cursos de farmácia no país, para atender ao novo mercado (CRF-SP, 2008-2009). Em 1901, com o Decreto nº 3.092, denominado Decreto Epitácio Pessoa, o currículo de Farmácia passou pela sua primeira reforma no século XX, reduzindo o currículo em duas séries e sendo realizado em dois anos. Esse currículo delimitou as atribuições e o âmbito do profissional, e direcionou o farmacêutico para a área de manipulação e produção de medicamentos (CRF-SP, 2008-2009). Devido à ampliação do campo profissional do farmacêutico, com a incorporação das análises clínicas, toxicológicas e bromatológicas em suas atribuições profissionais, em 5 de abril de 1911, foram introduzidos os ensinos de física, química, análises toxicológicas, química industrial, bromatologia e higiene no currículo de Farmácia, estendendo o curso para 3 anos (CRF-SP, 2008-2009). Outra mudança no currículo ocorreu em 1925, pela necessidade de o mercado oferecer especialização aos farmacêuticos que atuavam em laboratórios de produção de medicamentos e análises clínicas, pois era fato que, após a Primeira Guerra Mundial, havia ocorrido uma grande evolução tecnológica na produção de medicamentos (CRF-SP, 2008-2009). Desde a criação dos cursos de Farmácia no Brasil, a educação farmacêutica cuidou da formação sem qualquer adjetivo, habilitando o profissional da área para o exercício das Ciências Farmacêuticas em sua plenitude (CRF-SP, 2008- 2009). A partir da Reforma Universitária de 1968, que reformulou a estrutura do ensino universitário no país, foram fixados o eixo mínimo do conteúdo e a duração 30 UNIDADE 1 — HISTÓRIA DA FARMÁCIA dos cursos de Farmácia no Brasil, criando as modalidades de farmacêutico e farmacêutico bioquímico, obrigando a realização de estágios supervisionados (CRF-SP, 2008-2009). As Diretrizes Curriculares Nacionais definem princípios, fundamentos, condições e procedimentos para a formação de farmacêuticos. Essas diretrizes mostram como perfil do formando, egresso/profissional farmacêutico, uma formação generalista, humanista, crítica e reflexiva, para atuar em todos os níveis de atenção à saúde, com base no rigor científico e intelectual. O profissional da área deve ser capacitado para o exercício de atividades referentes aos fármacos e aos medicamentos, às análises clínicas e toxicológicas, e ao controle, à produção e às análises de alimentos, pautados em princípios éticos e na compreensão da realidade social, cultural e econômica do seu meio, dirigindo sua atuação para a transformação da realidade em benefício da sociedade (CRF-SP, 2008-2009). Segundo o Ministério da Educação, o perfil do farmacêutico será generalista, humanista, crítico e reflexivo, tendo como atribuições essenciais a prevenção, a promoção, a proteção e a recuperação da saúde humana, desenvolvendo atividades associadas ao fármaco e ao medicamento, às análises clínicas e toxicológicas e ao controle, à produção e à análise de alimentos. O farmacêutico deverá
Compartilhar