Buscar

SILVEIRA Jr., A. - Gramsci no Servico Social - 2021 (1)

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 152 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 152 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 152 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

GRAMSCI GRAMSCI GRAMSCI 
o debate do signicado
social da prossão
NO SERVIÇO SOCIAL
ADILSON AQUINO S ILVEIRA JÚNIOR
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Adilson Aquino Silveira Júnior 
 
 
 
 
 
GRAMSCI 
NO SERVIÇO SOCIAL: 
o debate do significado 
social da profissão 
 
 
 
 
 
 
 
Recife 
2021 
Este trabalho está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-
NãoComercial 4.0 Internacional. 
ISBN nº 978-65-00-20104-8 
Revisão: Adilson Aquino Silveira Júnior e Soraia de Carvalho. 
Projeto gráfico e diagramação: Adilson Aquino Silveira Júnior e Soraia de Carvalho 
1ª edição: abril de 2021 
Contatos: 
Adilson Aquino Silveira Júnior (autor) 
E-mail: j_r1987@hotmail.com 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
APRESENTAÇÃO 7 
PARA O ESTUDO DO PENSAMENTO DE GRAMSCI NO SERVIÇO 
SOCIAL 9 
GRAMSCI EM METODOLOGIA E IDEOLOGIA DO TRABALHO 
SOCIAL DE VICENTE DE PAULA FALEIROS 37 
A PRESENÇA DE GRAMSCI NA ANÁLISE DO SIGNIFICADO SOCIAL 
DO EXERCÍCIO PROFISSIONAL NA OBRA DE MARILDA 
IAMAMOTO 83 
GRAMSCI NO SERVIÇO SOCIAL 135 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Gramsci no Serviço Social I 7 
APRESENTAÇÃO 
 
Os textos reunidos nesta publicação foram originados de uma 
pesquisa projetada como parte de um Plano de Trabalho relativo ao 
desempenho de nossa atividade docente no Curso de Serviço Social 
da Universidade Federal de Pernambuco durante os anos de 2017-
2019. Associadas aos estudos e sistematizações que derivaram no 
material ora divulgado, foram realizadas, também como parte o Plano 
de Trabalho, duas edições do projeto de extensão Ciclos de estudos e 
formação política sobre os Cadernos de Cárcere de Antônio Gramsci 
(Ciclo Gramsci), com o objetivo de desenvolver o estudo e a iniciação 
aos conteúdos da obra carcerária entre estudantes, pesquisadores, 
profissionais e quadros de movimentos sociais e partidos políticos. A 
exploração das fontes bibliográficas e a construção de sínteses 
parciais do estudo contatam com o apoio e o estímulo de duas 
pesquisas de iniciação científica, cujos resultados foram divulgados 
através de artigos publicados em anais de eventos científicos e 
periódicos.1 
Aqui, encontram-se, na íntegra, todas as sistematizações 
decorrentes do estudo, forjadas como um conjunto de textos que – 
embora desdobrados na forma de partes independentes – expressam 
e concretizam a unidade do nosso movimento de aproximação ao 
objeto da pesquisa, qual seja: as tendências de circulação e 
 
1 As duas pesquisas referidas, vinculadas ao Programa Institucional de Bolsas de 
Iniciação Científica da Universidade Federal de Pernambuco, foram realizadas a partir 
dos projetos: O pensamento de Antônio Gramsci no Serviço Social nos anos 1970-1980, 
executado entre agosto de 2018 e julho de 2019, com a participação da discente 
Larissa Ranielly Lima Dias; e O pensamento de Antônio Gramsci no Serviço Social nos 
anos 1990-2000, executado entre agosto de 2019 e julho 2020, com a participação do 
discente Jefferson de Melo e Silva. Alguns resultados desses projetos foram divulgados 
no XVI Encontro Nacional de Pesquisadoras/es em Serviço Social – ENPESS (2018), no 
16º Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais (2019) e através de artigo publicado na 
revista Argumentum (Vitória) (V. 11, nº 3, set.-dez. 2019) com o título Gramsci em 
Metodologia e Ideologia do Trabalho Social, de Vicente Faleiros. 
 
 
Gramsci no Serviço Social I 8 
assimilação do pensamento de Antônio Gramsci no quadro teórico do 
Serviço Social brasileiro que se debruça sobre o significado social do 
exercício profissional em suas conexões com a produção-reprodução 
capitalista. 
A primeira parte explicita o movimento de construção e 
delimitação do problema de pesquisa, além das estratégias 
metodológicas adotadas para a apreensão do objeto. Na segunda 
parte, as aproximações aos primeiros (e mais primitivos) 
empreendimentos de circulação e interpretação do pensamento de 
Gramsci no Serviço Social – localizados entre finais de 1970 e início 
da década seguinte – são sistematizadas a partir da análise da obra 
de Vicente de Paula Faleiros, situada na sua relação com os demais 
estudos que, na época, também passavam a absorver formulações 
dos Cadernos do Cárcere. A terceira parte busca realizar o mesmo 
movimento analítico de aproximação ao objeto, agora gravitando em 
torno da obra de Marilda Iamamoto e comportando uma 
periodização, para o mapeamento do quadro teórico, que parte do 
início dos anos 1980, chegando à primeira década do século XXI – 
intervalo histórico no qual a assimilação de Gramsci se desenvolve no 
Serviço Social. A última parte consiste numa apreciação panorâmica 
dos principais resultados, construída a partir de um diálogo com 
outros estudos e fontes empíricas que colaboram para adensar a 
apreensão de Gramsci no Serviço Social, enriquecer o quadro de 
determinações desse objeto e projetar uma síntese abrangente sobre 
sua história. 
Encarado de modo amplo, nosso movimento de apropriação do 
objeto foi suscitado a partir de inquietações teóricas gestadas, há 
mais de uma década, na formação e atuação profissional; depois 
adensadas na trajetória da pós-graduação em Serviço Social. 
Esperamos, depois de todos os esforços empreendidos, ter agregado 
alguma contribuição ao debate sobre a presença de Gramsci nos 
fundamentos teórico-metodológicos do Serviço Social. 
 
 
Gramsci no Serviço Social I 9 
 
PARTE I 
PARA O ESTUDO DO PENSAMENTO DE GRAMSCI NO SERVIÇO 
SOCIAL 
 
 
1. A construção do problema de pesquisa 
 
1.1 Introdução 
 
Esta pesquisa buscou analisar as tendências de assimilação e 
circulação do pensamento do comunista italiano Antônio Gramsci no 
quadro teórico-crítico do Serviço Social brasileiro. De modo 
preliminar, pretendeu determinar a incidência das reflexões desse 
autor na construção teórica sobre o significado social do exercício 
profissional em suas conexões com a produção-reprodução 
capitalista. Através disso, almejou apreender o modo pelo qual as 
formulações gramscianas foram absorvidas por esse aparato teórico-
crítico e as implicações político-ideológicas daí decorrentes. Com 
caráter eminentemente bibliográfico, o estudo travou um diálogo 
crítico com os/as mais importantes representantes teóricos do Serviço 
Social, propondo uma análise de sua apropriação do pensamento de 
Gramsci para pensar a profissão. A proposta de estudo está 
enquadrada, portanto, no plano mais geral das pesquisas na área do 
Serviço Social que se dedicam a entender a construção e o caráter da 
cultura profissional. Nesse campo, o estudo sobre a dimensão 
ideológica, os conteúdos socioculturais ou as relações de hegemonia 
que subjazem a intervenção profissional, e/ou as práticas concretas 
 
 
Gramsci no Serviço Social I 10 
do Estado e das classes sociais no Brasil e no mundo, perpassa 
consideravelmente alguns dos mais importantes trabalhos existentes.2 
Nossa problemática relaciona-se a determinações e tendências 
da divulgação e circulação das ideias de Gramsci no Brasil. Nesse 
quadro, se desenvolvem e expressam a assimilação e circulação das 
mesmas em elaborações teóricas e políticas diversas, com pretensões 
analíticas variadas e condicionantes sociais e políticos particulares e 
concretos. Tais elaborações são constitutivas de um amplo leque de 
interpretações de Gramsci – frequentemente alimentadas também por 
outras fontes e/ou tradições teóricas – que, embora sustentando 
vínculos com seu universo teórico-metodológico, resultam em 
construções ideais particulares e originais. 
No ano de 2017, em que se completaram 80 anos da morte de 
Gramsci, confirmou-se a substancial difusão de pesquisas sobre os 
Cadernos do Cárcere no mundo. Noprefácio à edição brasileira do 
Dicionário Gramsciano (1926-1937), Álvaro Bianchi apresenta um 
levantamento realizado por iniciativa da seção brasileira da 
Internacional Gramsci Society. Esse levantamento identificou, apenas 
entre autores residentes em nosso país, a publicação de 1.214 obras 
sobre o pensamento de Antônio Gramsci ou nas quais ele aparecia 
como uma referência importante. Dessas obras, 706 eram livros, 
capítulos e artigos científicos e 508, teses e dissertações. Mais da 
metade destas últimas tendo sido produzidas em programas de pós-
graduação da área da Educação. Além disso, o Serviço Social, as 
Ciências Sociais e a Saúde também apareciam concentrando um 
volume importante de pesquisas (BIANCHI, 2017). Numa apreciação 
mais ampla, realizada em 2015, vimos que a pesquisa Bibliografia 
Gramsciana da Função Gramsci da Itália, registrava, à época, pouco 
 
2 Basta mencionarmos os textos mais conhecidos: Abreu (2008); Ammann (2003); 
Barroco (2007); Iamamoto e Carvalho (2005); Iamamoto (2004, 2006, 2010); Iamamoto e 
Carvalho (2005); Faleiros (1981, 1980); Guerra (1995); Martinelli (1989); Mota (2000; 
1998); Netto (2005, 2004); Simionatto (1999); Sposati et. al. (2014); Yazbek (1993). 
 
 
Gramsci no Serviço Social I 11 
mais de 19.000 títulos sobre Gramsci no mundo, publicados em cerca 
de 40 idiomas. 
Concomitante a essa difusão, manifesta-se uma renovação do 
campo de investigações sobre a obra carcerária (e mesmo pré-
carcerária). Consolida-se a recorrência a novas ferramentas de estudo 
desses escritos: o chamado “método de restauração” (BIANCHI, 2008; 
GERRATANA, 1997), o estudo da evolução do pensamento do autor, a 
partir da cronologia das notas carcerárias (FRANCIONI, 1984), o 
mapeamento do “léxico gramsciano” (FROSINI; LIGUORI, 2004; 
LIGUORI; VOZA, 2017). Ademais, se encontram em progresso as 
edições relativas a Edizione nazionale degli scritti di Antonio Gramsci 
na Itália. Elaborada com base nas novas pesquisas filológicas, ela está 
publicando o conjunto dos textos gramscianos e os novos estudos 
biográficos que se seguiram aos avanços da pesquisa documental. 
Trata-se de um projeto editorial que pretende garantir a publicação 
(e/ou republicação mais aperfeiçoada) das obras completas desse 
autor – seu epistolário integral, escritos pré-carcerários e carcerários. 
Alia-se a esses novos instrumentos, a publicação do Dicionário 
gramsciano 1926-1937 – resultado dos estudos e debates sobre os 
Cadernos do Cárcere desenvolvidos pela Internacional Gramsci Society 
– Itália (IGS-IT) entre os anos de 2000 e 2006, sob o título de 
Seminario sul lessico dei “Quaderni del Carcere” (FROSINI; LIGUORI, 
2004). No Brasil, esse movimento também se expressa, implicando na 
criação da International Gramsci Society do Brasil (IGS/Brasil). Dentre 
outros tantos desdobramentos desses avanços nos estudos 
gramscianos, observa-se o crescimento de um diálogo crítico com 
renomados intérpretes (e interpretações) que protagonizaram as 
pesquisas sobre o pensamento desse autor no país – cujas linhas de 
apropriação não deixaram de manifestar limitações, hoje objeto de 
avaliação dos novos estudos. 
Essa conjuntura, relativamente recente, coloca também, para os 
pesquisadores influenciados pelo legado teórico de Gramsci no 
 
 
Gramsci no Serviço Social I 12 
Serviço Social, a necessidade de construir – agora de posse de novas 
ferramentas analíticas – uma revisão crítica da circulação das ideias 
desse autor na construção teórica que fundamenta a análise da 
natureza dessa profissão no curso (e evolução) da chamada “intenção 
de ruptura com o Serviço Social ‘tradicional’” (NETTO, 2004). Ou seja, 
implica pensar a apropriação (recepção, interpretação e circulação) de 
elementos conceituais e metodológicos de Gramsci na elaboração do 
quadro teórico que embasa o estudo do significado social da 
profissão na sociedade capitalista. Um quadro teórico que atualmente 
cauciona o chamado Projeto Ético-Político (NETTO, 1996, 2015; 
BONETTI et. al. 2001; IAMAMOTO, 2006, 2010). Essa revisão encontra-
se facilitada, nos últimos anos, devido ao avanço dos estudos 
gramscianos no bojo da nova fase de divulgação dos escritos do 
autor, com seu aparato crítico aperfeiçoado e aprofundado – tanto 
em termos das descobertas filológicas (mais ou menos recentes), 
quanto do refinamento dos métodos de estudos dos Cadernos do 
Cárcere delas decorrentes, quanto, inclusive, do acesso a textos então 
inéditos, mesmo na Itália, e ao mapeamento do léxico gramsciano. 
 
1.2 Pressupostos teóricos 
 
Nossa pesquisa se debruçou sobre a assimilação e circulação de 
Gramsci no quadro teórico do Serviço Social brasileiro legatário da 
“intenção de ruptura” (NETTO, 2004).3 Mas não se tratou de uma 
 
3 Assimilação que ganhou grande difusão inicial, por exemplo, através do importante 
texto de Marilda Iamamoto, Legitimidade e Crise no Serviço Social (IAMAMOTO, 2004; 
NETTO, 2004). Não sendo, nem o pioneiro, nem o mais sistemático, na recepção e 
“uso” de Gramsci no Serviço Social, esse texto certamente forneceu grande impulso 
para consolidar Gramsci como um interlocutor desse quadro teórico. Em sua 
importante pesquisa, Simionatto (1999, p. 184) diz que esse ensaio de Marilda 
Iamamoto “[...] centra-se nas fontes originais do pensamento de Marx, com algumas 
recorrências à Gramsci de ‘Americanismo e Fordismo’ e, mais especificamente, à 
questão dos intelectuais.” 
 
 
Gramsci no Serviço Social I 13 
análise extensiva da apropriação do pensamento de Gramsci em 
pesquisas do Serviço Social que necessariamente se assumem 
vinculadas aos aportes gramscianos, como o fez Simionatto (1999). 
Nem de um exame amplo da produção teórica recente do Serviço 
Social brasileiro que se fundamenta nesse pensador, como o fizeram 
Negri (2016) e Simionatto e Negri (2017). Diferentemente, estudamos 
a absorção das formulações teórico-metodológicas de Gramsci na 
elaboração teórica do Serviço Social que fundamentou a análise do 
significado social da profissão a partir da “intenção de ruptura”. A 
pretensão foi rastrear e analisar a contribuição de Gramsci para a 
construção do aparato teórico-crítico a partir do qual a renovação do 
Serviço Social brasileiro forjou sua interpretação da profissão na 
produção-reprodução das relações sociais. Buscamos identificar o 
papel que as ideias associadas à Gramsci possuíram (e possuem) para 
a construção de uma cultura profissional determinada no Serviço 
Social – especialmente na sua elaboração teórica sistemática, mas 
também com seus impactos no modo de pensar do corpo profissional 
em geral. Assim, nossa pesquisa centrou-se, não exclusivamente na 
interpretação (ou nas "leituras") de Gramsci na área de conhecimento 
do Serviço Social, mas na apreensão das modalidades de apropriação 
do seu pensamento pelos/as autores/as que colaboraram (e 
colaboram) na construção dos fundamentos da análise da profissão. 
O acúmulo teórico-crítico do Serviço Social brasileiro tem sua 
gênese no próprio processo renovação pelo qual passa a profissão no 
bojo do ciclo autocrático e sua crise. Netto (2004) delimita como 
“renovação do Serviço Social” o conjunto de características novas que 
a profissão articulou no marco das constrições da autocracia 
burguesa, a partir do rearranjo de suas tradições teóricas e da 
assunção do contributo de tendência do pensamento social 
contemporâneo. A articulação dessas novas características ocorreu na 
medida em que o Serviço Social procurou investir-se como instituição 
de natureza profissional dotada de dois vetores: de legitimação 
prática, através de respostas a demandas sociais e da sua 
 
 
Gramsci no Serviço Social I 14 
sistematização; e de validação teórica, mediante a remissão às teorias 
das disciplinas sociais.As tendências renovadoras que se 
desdobraram e manifestaram após 1960 já foram objeto de análise 
por parte de Netto (2004) – isso, fundamentalmente do ponto de 
vista da validação teórica.4 Em nosso caso, abordamos as 
características do quadro de validação teórica (com suas decorrentes 
implicações políticas) elaborado pela vertente renovadora identificada 
como de “intenção de ruptura com o Serviço Social tradicional” – da 
qual os atuais fundamentos teórico-metodológicos, ético-políticos e 
técnico-operativos da profissão são legatários. Em específico, tratamos 
de problematizar a recepção e assimilação do pensamento de 
Gramsci nessa vertente, na construção do quadro analítico e 
categorial que cauciona a análise macroscópica do significado social 
do Serviço Social. Quadro analítico e categorial que participa, por sua 
vez, da formação da cultura profissional hoje5 – influindo, assim, no 
modo como se configura esse campo da cultura. 
Um estudo exploratório da bibliografia do Serviço Social que 
forneceu insumos para o quadro teórico-crítico em tela nos leva a 
supor que a incorporação das ideias de Gramsci pelas mais 
importantes teorizações vinculadas à “intenção de ruptura” não 
passou sem certas vicissitudes, distorções e imprecisões – algo, 
 
4 Outros trabalhos também investiram em estudos (e avaliação) dessas tendências, 
como é o caso de Abreu (2008). 
5 Precisamos nuançar que esse quadro de elaboração teórica apenas participa, influi, 
disputa a direção de uma cultura profissional que é resultado complexo, contraditório e 
dinâmico de uma miríade de determinações socioeconômicas, políticas e ideológicas – 
portanto, qualquer estudo sobre essa parte da cultura profissional apenas torna-se 
viável e fecundo quando a apreende na dialética das “relações de forças” (GRAMSCI, 
2011) concretas e historicamente determinadas nas quais se inscreve. A própria cultura 
profissional, em si, não consiste num campo homogêneo; ela se constitui da síntese 
dinâmica de elaborações intelectuais sistemáticas; de sistematizações que traduzem 
essas elaborações para um público profissional mais amplo; da apropriação compósita 
e heteróclita dessa direção intelectual numa espécie de “senso comum” profissional, 
etc. – aqui, inspiramo-nos nas indicações de Gramsci (2011) para pensar a formação da 
cultura, com seus níveis de sistematicidade. 
 
 
Gramsci no Serviço Social I 15 
ademais, que não foi exclusivo da área do Serviço Social. 
Preliminarmente, isso nos foi indicado, de modo explícito, por essa 
mesma literatura, quando se põe a fazer o diálogo crítico interno. 
Pense-se, por exemplo, em como a pesquisa de Simionatto (1999) 
aponta para as primeiras problemáticas da recepção de Gramsci no 
Serviço Social, relacionadas a uma aproximação inicial sem estudos 
sistemáticos da obra, com a recorrência a fontes secundárias, e 
mesmo com certa instrumentalização das ideias do autor dos 
Cadernos do Cárcere.6 Ademais, o trabalho de Simionatto (1999) 
alerta para uma leitura de Gramsci marcada pela tematização bastante 
simplificada de suas categorias, segmentando-as e isolando-as em 
face das suas articulações necessárias – uma leitura, portanto, 
fragmentária. A autora critica, por exemplo, o caráter simplista e 
redutor adotado, segundo sua visão, nas reflexões sobre o papel do 
intelectual orgânico nos textos por ela analisados. 
Outro balanço crítico onde ficaram manifestas visões destoantes 
sobre a assimilação de Gramsci para iluminar questões teóricas 
relacionadas aos fundamentos do Serviço Social diz respeito ao 
trabalho de Iamamoto (2010). Em parte desse livro, a autora se 
propõe a travar um debate com as teses da produção teórica 
brasileira relativa aos fundamentos do trabalho do/a assistente social 
vinculada ao legado crítico da “intenção de ruptura”. Na apreciação 
da chamada “tese da função pedagógica do assistente social” – 
forjada por Marina Maciel Abreu, com explícita recorrência ao 
pensamento de Gramsci – as posições divergentes se mostram, por 
 
6 Veja-se, por exemplo, o depoimento que Simionatto (1999, p. 193) recolhe de Miriam 
Limoeiro Cardoso: “Não havia, portanto, nesses cursos [desenvolvidos nos primeiros 
mestrados em Serviço Social], um estudo específico nem sobre Marx nem mesmo sobre 
Gramsci. Certamente, ‘o conhecimento do pensamento gramsciano ocorreu, 
inicialmente, pelas indicações do próprio Althusser, que subsidiava, na época, as 
discussões oriundas do Movimento de Reconceituação. Não se verificou, neste período, 
um estudo da fonte marxiana para posteriormente chegar-se ao pensamento de 
Gramsci. A grande inquietação do movimento passava pela necessidade de buscar 
aportes teóricos para pensar a profissão’ (Cardoso, M. L., 1991)”. 
 
 
Gramsci no Serviço Social I 16 
exemplo, nos limites que Iamamoto (2010) encontra no estudo de 
Abreu (2008), quando esta levanta a tese de que o/a assistente social 
emerge na sociedade capitalista como um “intelectual profissional de 
tipo tradicional”. 
Para Iamamoto (2010), a leitura de Abreu (2008) apresenta 
fragilidades do ponto de vista da análise da particularidade histórica 
brasileira para sustentar seu argumento. Uma apreciação do/a 
assistente social como “intelectual profissional de tipo tradicional” 
demandaria, mostra Iamamoto (2010), acionar esses elementos 
históricos dos quais o texto de Abreu (2008) está carente, ou seja: “[...] 
requer uma análise histórica da formação social e econômica do país 
e dos interesses que movem o seu desenvolvimento, das relações 
entre Estado e sociedade e, em particular, das conexões entre Igreja e 
Estado [...]” (IAMAMOTO, 2010, p. 320). E uma análise que assim 
proceda – diz Iamamoto (2010, p. 321-322) – teria como derivação 
necessária o fato de que a institucionalização e desenvolvimento da 
profissão apontariam para a “[...] vinculação progressiva e orgânica 
desse intelectual aos interesses burgueses em seus distintos matizes, 
ainda que tensionada, a partir da década de 60, pelas refrações das 
lutas e interesses das classes subalternas nesse circuito profissional”. E 
isso levaria a recusar a identificação estrita do/a assistente social 
como “intelectual profissional de tipo tradicional”, como o faz Abreu 
(2008). 
Por outro lado, Iamamoto (2010) rejeita a derivação necessária 
do princípio educativo subjacente à “pedagogia emancipatória”, 
afiançada por Abreu (2008) como parâmetro para um projeto 
profissional de novo tipo. Isso porque, conforme Iamamoto (2010), a 
argumentação resvalaria para a defesa atual do/a assistente social 
como um/a “intelectual orgânico” vinculado a um projeto de classe 
revolucionário de vocação socialista. Arremata Iamamoto (2010, p. 
323): “Essa perspectiva re-atualiza o debate oriundo dos anos 80, que 
torna fluidos os limites entre profissão e militância política 
revolucionária na defesa da sociedade socialista, porque equaliza 
 
 
Gramsci no Serviço Social I 17 
inserções e dimensões diferenciadas vividas pelo assistente social, 
enquanto profissional assalariado e enquanto cidadão político”. Em 
suma, Iamamoto (2010) está alertando para a possível reatualização 
de uma visão politicista nos fundamentos do Serviço Social, 
decorrente de limitações na assimilação dos fundamentos 
gramscianos acerca dos intelectuais orgânicos e tradicionais.7 
Cabe acrescentar que essa crítica de Iamamoto (2010) pode ser 
aplicada, em parte, inclusive para seus próprios trabalhos anteriores, 
destacadamente para o livro Relações Sociais e Serviço Social no 
Brasil, elaborado em parceria com Raul de Carvalho. Nesse texto 
fundamental, os/as autores/as alegam que, no desempenho de sua 
função intelectual, o/a assistente social, dependendo da sua ação 
política, pode configurar-se como mediador/a dos interessesdo 
capital ou do trabalho, ambos presentes, em confronto, nas condições 
em que se efetiva a prática profissional. Acrescentam Iamamoto e 
Carvalho (2005, p. 95): “Pode tornar-se [o/a assistente social] 
intelectual orgânico a serviço da burguesia ou das forças populares 
emergentes; pode orientar a sua atuação reforçando a legitimação da 
situação vigente ou reforçando um projeto político alternativo [...]”. 
Aqui, Marilda Iamamoto parece incorrer numa tendência, na 
apropriação da noção de intelectual em Gramsci, que ela mesma 
censura, anos depois, na “tese da função pedagógica do assistente 
social” levantada por Abreu (2008). 
Soma-se a dificuldades como essas o fato de que o estudo dos 
escritos de Gramsci pelos/as mais importantes intelectuais que 
forjaram o quadro teórico-crítico do Serviço Social parece ter se dado 
(quando não contaram apenas com fontes secundárias, de 
intérpretes), não pelo acesso à “Edição crítica” de Valentino Gerratana 
(mais completa, publicada em 1975 na Itália), mas pelo uso das 
 
7 Do mesmo modo, Iamamoto (2010, p. 295) encontra problemas na utilização de 
Gramsci por parte de Vicente de Paula Faleiros, na polêmica com sua “tese das relações 
de forças”. A autora explicita uma incorporação seletiva do pensamento gramsciano em 
Faleiros, desarticulando construções categoriais profundamente imbricadas. 
 
 
Gramsci no Serviço Social I 18 
chamadas “Edições Temáticas” dos Cadernos do Cárcere, na tradução 
incompleta feita no Brasil nos anos 1960 (e reeditada nos anos 1970).8 
Ao longo dos anos, acumulou-se um conjunto de reservas críticas em 
torno da “Edição temática”, preparada por Palmiro Togliatti entre 
finais de 1940 e início de 1950. Estudiosos da obra carcerária alertam 
para algumas das suas principais vicissitudes: essa edição induzia o 
leitor a considerar o texto como um todo plenamente acabado e 
coerente – quando, efetivamente, caracteriza-se por sua natureza 
fragmentária e inconclusa; colaborava para uma imagem de Gramsci 
como um crítico da cultura e teórico das superestruturas, 
esmorecendo a sua incisiva crítica da política; impunha uma chave de 
leitura stalinizada e fortemente marcada pela então política do 
Partido Comunista Italiano (BIANCHI, 2008; COUTINHO, 1992; 
FRANCIONI, 1984; GERRATANA, 1981). 
É bastante comum a literatura que discute a difusão das ideias 
de Gramsci apontar para o reducionismo e simplificação pelos quais 
passaram seus conceitos nesse processo, denunciando um recorrente 
procedimento de deslocá-los do denso contexto categorial, do caráter 
fragmentário e inconcluso das reflexões em que se inserem (BIANCHI, 
2008; FRANCIONI, 1984; GERRATANA, 1981). Além da 
instrumentalização pelas quais comumente foram objeto seus 
conceitos, muitas vezes isolados em áreas estanques do circuito 
acadêmico, outras vezes utilizados para a sustentação de projetos 
políticos dos mais diferentes matizes – desde o reformismo 
socialdemocrata até a defesa do espontaneísmo. Algumas dessas 
“leituras” usualmente levaram a uma diluição da natureza política do 
seu pensamento – seja na interpretação que se fez de Gramsci 
 
8 Queremos registrar, nesse ponto, que essas limitações também são de ordem 
objetiva, não dependendo da vontade dos sujeitos que pesquisavam, nem de sua 
competência intelectual. A “Edição crítica” de Valentino Gerratana sai em 1975, na Itália, 
e o acesso e apropriação imediata dela não podem ser cobrados dos/as 
pesquisadores/as brasileiros/as do Serviço Social que, na mesma época, estavam 
formulando seus estudos e sistematizações – e contavam, para isso, quase que 
exclusivamente com as “Edições temáticas”. 
 
 
Gramsci no Serviço Social I 19 
enquanto um estrito “teórico das superestruturas”, ou um “crítico da 
cultura”, seja na hipostasiação das suas elaborações em face do 
movimento comunista revolucionário, ao qual esteve vinculado (DIAS, 
1996; PORTANTIERO, 1987). 
Na explicação desses vieses interpretativos, na análise dessa 
recepção da obra no mundo (e, em especial, na America Latina), se 
recorre a uma miríade de condicionantes, quase sempre de natureza 
política: a difusão seletiva e temática dos escritos de Gramsci 
conduzida pelos dirigentes do PCI (e de alguns outros PCs), na 
intenção de tornar público esses textos ao mesmo tempo em que se 
tentava equalizá-los com a visão teórico-política stalinista; com a crise 
dessa experiência de transição (e a reviravolta provocada na política 
do próprio PCI, por exemplo), também a instrumentalização do 
pensamento de Gramsci para o eurocomunismo, para a defesa das 
estratégias balizadas pela conquista gradual do consenso, da 
democratização e socialização da política; na realidade latino-
americana, onde o estudo de Gramsci adquire consistência justo nas 
crises das ditaduras, ganha ímpeto a sua absorção como um teórico 
da democratização da “sociedade civil”, em confronto com os Estados 
“autoritários”, etc. Esses são elementos de determinação que nosso 
quadro de análise histórico-política recorre para apreender as 
condicionantes mais significativas que informam as modalidades de 
interpretação de Gramsci no próprio Serviço Social. Campo 
profissional no qual concorrem, para uma determinada modalidade 
de assimilação e circulação de Gramsci, não apenas essas 
condicionantes amplas, mas algumas intrínsecas à trajetória política, 
teórica e ideológica do mesmo. 
 
 
Gramsci no Serviço Social I 20 
Um estudo exploratório das mais significativas construções 
teóricas do Serviço Social vinculadas à “intenção de ruptura”9 nos 
permitiu verificar que as elaborações de Gramsci foram apropriadas 
pelo quadro teórico-crítico profissional, formulado após finais de 
1970, em três dos seus eixos principais: 1) na análise da natureza do 
Estado e das políticas sociais (ou serviços sociais) – onde se recorre à 
Gramsci (ou à gramscianos) para pontuar a “natureza contraditória” 
da esfera estatal, então colocada numa concepção “ampliada”, e, 
portanto, passível de absorver as necessidades de reprodução da 
classe trabalhadora, através das políticas sociais; 2) na identificação do 
caráter desse agente profissional assalariado, ou seja, na 
determinação da sua inserção específica no circuito da produção-
reprodução social – eixo no qual recorrentemente afirma-se a 
validade da concepção gramsciana de “intelectual” (“orgânico” ou 
“tradicional”, dependendo do autor) para discernir a função do/a 
assistente social;10 e, por consequência, 3) na interpretação sobre o 
papel (ou funcionalidade) do Serviço Social na reprodução social, os 
resultados qualitativos de sua intervenção, os produtos de sua 
atuação profissional – nessa linha, a literatura tem associado os 
efeitos qualitativos dessa intervenção àqueles próprios dos 
“intelectuais” (“orgânicos” ou “tradicionais”, conforme o caso), isto é, 
 
9 De modo desigual, os três eixos apresentados nesse parágrafo aparecem nas 
publicações selecionadas para a análise, citadas no item das aproximações 
metodológicas. Advertimos para o fato de que se trata apenas de uma análise 
aproximativa, que foi concretizada (e mesmo corrigida) no curso da pesquisa. A 
indicação da literatura aí mencionada, de forma geral e homogênea, não ignora as suas 
diferenças internas, seus choques de posição e interpretação da obra de Gramsci (ou 
de problematizações que recolhem da tradição de intérpretes desse autor). 
10 Acerca desse ponto, já tivemos a oportunidade de indicar acima, ligeiramente, o que 
aparece em Abreu (2008) e Iamamoto (2010, 2005). Mas também é levantado, de modo 
tácito ou subjacente, em várias outras produções importantes do Serviço Social, das 
quais cabe fazer rápida menção, sem pretensão de um levantamento exaustivo e 
integral:Ammann (2003), Carvalho (1983), Mota (1998), Simionatto (1999). 
 
 
Gramsci no Serviço Social I 21 
através de suas consequências “diretivas”, “pedagógicas”, 
“hegemônicas”, “coesivas”, dentre outros.11 
A partir desse rastreamento inicial, colocamos como hipótese 
de trabalho (preliminar e aproximativa) que os vieses detectados 
nessa assimilação (e recepção) da obra de Gramsci – ligada à tradição 
socialista revolucionária – ajudaram a moldar idealmente uma cultura 
profissional crítica, amalgamada por vieses reformistas (possibilistas) e 
politicistas (messiânicos) no seu lastro teórico.12 Desse modo, nossa 
pesquisa visa contribuir também para analisar como as possíveis 
vicissitudes interpretativas da referida obra nessa construção teórica 
do Serviço Social podem ter confluído (ou estar confluindo) para o 
reforço de uma cultura profissional que se aspira crítica e 
anticapitalista, mas resulta amalgamada por traços militantistas e 
reformadores. Colocamos como problema de pesquisa essa 
apropriação de Gramsci no Serviço Social, seus impactos para a 
construção da cultura profissional. Em específico, nos perguntamos 
sobre a influência que essas interpretações de Gramsci no Serviço 
Social possuem para a conformação de traços reformistas e 
politicistas no quadro teórico-crítico profissional da “intenção de 
ruptura”. Assim como os determinantes sociais, políticos e 
profissionais que condicionaram (e condicionam) esse modo particular 
de apropriação do pensamento de Gramsci pelo Serviço Social. Em 
última instância, nos move o problema da formação da cultura 
profissional crítica; em específico, essa pesquisa deseja colaborar com 
os estudos sobre a composição teórico-intelectual dessa cultura 
profissional, que configura o quadro da validação teórica do Serviço 
Social na “intenção de ruptura”. 
 
 
11 Como esse terceiro eixo constitui um desdobramento lógico-categorial do segundo, 
podemos repetir aqui, como universo da elaboração teórica onde ele se manifesta, a 
mesma bibliografia citada na nota anterior. 
12 Em parte, a própria pesquisa de Simionatto (1999) chama atenção para isso. Assim 
como a crítica de Iamamoto (2010) a algumas ideias de Abreu (2008). 
 
 
Gramsci no Serviço Social I 22 
2. Aproximações metodológicas 
 
Colocamos como problema de pesquisa as tendências de 
assimilação e circulação do pensamento de Gramsci no quadro 
teórico que baliza a análise do significado social do exercício 
profissional em suas conexões com a produção-reprodução 
capitalista. Isso significa que a pesquisa não se restringe aos autores 
gramscianos do Serviço Social. O estudo se debruça sobre as 
produções que, direta ou indiretamente, absorvem as ideias de 
Gramsci para fundamentar a análise da inserção do Serviço Social na 
reprodução das relações sociais. Dessas produções disponíveis, 
selecionamos os/as autores/as e livros mais destacados e 
referenciados que contribuíram para a leitura dos fundamentos do 
Serviço Social no bojo da “intenção de ruptura”, abarcando, 
cronologicamente, os anos finais da década de 1970 até os anos 
2000. Dentre os/as principais autores/as estão: Vicente de Paula 
Faleiros, Alba Maria Pinho de Carvalho, Marina Maciel Abreu, Franci 
Gomes Cardoso, Marilda Iamamoto, Ana Elizabete Mota e José Paulo 
Netto. Antes de avançarmos nos balizamentos metodológicos da 
análise, apresentamos abaixo as publicações do Serviço Social 
selecionadas previamente para a pesquisa. Como será observado, essa 
seleção foi aperfeiçoada no avanço da investigação. Inicialmente, o 
material bibliográfico havia sido assim definido: 
1) Vicente de Paula Faleiros, Metodologia e Ideologia do Trabalho 
Social (1972).13 
2) Creusa Capalbo, Encontro de Sumaré (1978) – Conferência: 
Considerações sobre o pensamento dialético em nossos dias.14 
 
13 Faleiros (1981). Encontra-se uma análise dessa produção nos trabalhos de Lopes 
(1979) e Carvalho (1983). 
14 Capalbo (1984; 1991). 
 
 
Gramsci no Serviço Social I 23 
3) Safira Ammann, Ideologia do desenvolvimento de comunidade 
no Brasil (1979).15 
4) Alba Marial Pinho de Carvalho, A questão da transformação e o 
trabalho social. Uma análise gramsciana (1983).16 
5) Aldaíza Sposati et. al., A assistência na trajetória das políticas 
sociais brasileiras: uma questão em análise (1985).17 
6) Ana Elizabete Mota, O feitiço da ajuda: as determinações do 
serviço social na empresa (1985).18 
7) Marilda Iamamoto: Legitimidade e crise no Serviço Social (1982) 
e Relações Sociais e Serviço Social no Brasil: esboço de uma 
interpretação histórico-metodológica (1982), O Serviço Social na 
contemporaneidade: trabalho e formação profissional (1998) e 
Serviço Social em tempo de capital fetiche: capital financeiro, 
trabalho e questão social (2007).19 
8) Marina Maciel Abreu e Franci Lopes Cardoso, Metodologia do 
Serviço Social: a práxis como base conceitual (1989).20 
9) Vários autores: Serviço Social e ética: convite à nova práxis 
(1996).21 
A análise das produções bibliográficas acima relacionadas 
buscou selecionar, num primeiro recorte mais amplo, os extratos onde 
seus autores/as forneciam insumos para o quadro teórico-
metodológico que a “intenção de ruptura” construiu para apreender o 
significado social do Serviço Social na sociedade capitalista. Desses 
insumos mais gerais selecionados, foi identificado o tratamento 
 
15 Ammann (2003). 
16 Carvalho (1983). 
17 Sposati et. al. (2014). 
18 Mota (1998). 
19 Iamamoto (2004, 2006, 2010) e Iamamoto e Carvalho (2005). 
20 Abreu e Cardoso (1989). 
21 Bonetti et. al. (2001). 
 
 
Gramsci no Serviço Social I 24 
teórico fornecido aos três eixos principais nos quais supomos haver 
ampla influência do pensamento gramsciano: 1) na análise da 
natureza do Estado e das políticas sociais (ou serviços sociais); 2) na 
identificação do caráter desse agente profissional assalariado, ou seja, 
na determinação da sua inserção específica no circuito da produção-
reprodução social; 3) na interpretação sobre o papel (ou 
funcionalidade) do Serviço Social na reprodução social, os resultados 
qualitativos de sua intervenção, os produtos de sua atuação 
profissional. A partir das elaborações teórico-conceituais apresentadas 
no estudo desses eixos, foi verificada a incidência, apreensão e 
adaptação do pensamento de Gramsci, realizada pelos autores do 
Serviço Social. 
Nas primeiras aproximações à base bibliográfica previamente 
definida – articuladas ao estudo das pesquisas já realizadas sobre a 
circulação das ideias de Gramsci no Serviço Social – observamos que 
a produção teórica de determinados protagonistas assumiu 
centralidade para a apreensão do objeto. E o conjunto mais amplo da 
produção da área do Serviço Social, de certo modo gravitava da 
assimilação |de Gramsci desdobrada por esses protagonistas 
principais. Desse modo, embora a pesquisa tenha absorvido um 
amplo leque de produções bibliográficas na sua apreciação 
panorâmica sobre a presença de Gramsci no Serviço Social, uma 
seleção mais restrita de textos foi verificada como de maior peso para 
uma análise em profundidade, a partir da qual foram costuradas as 
informações sobre o quadro mais amplo da literatura profissional. 
Concretamente, foram as elaborações teóricas de Vicente de Paula 
Faleiros e Marilda Iamamoto que demonstraram essa posição 
estratégica na assimilação e circulação das ideias de Gramsci na 
apreensão do significado social do Serviço Social nas relações sociais 
– pelos motivos que serão apresentados nos resultados da pesquisa, 
onde igualmente informaremos as obras que foram objeto de análise 
mais detida. 
 
 
Gramsci no Serviço Social I 25 
Esse estudo sobre a incidência e assimilação das ideias de 
Gramscino Serviço Social se debruçou – utilizando como matéria-
prima as elaborações teórico-conceituais provenientes do estudo 
daqueles três eixos – sobre uma tripla dimensão dessas interpretações 
de Gramsci: 1°) um aspecto mais estritamente formal, ou seja, o 
método de estudo do pensamento gramsciano subjacente à 
pesquisa/interpretação que os autores do Serviço Social desenvolvem 
na sua recorrência ao mesmo – aqui, além do critério sobre o uso de 
fontes indiretas ou originais, coube perquirir sobre a remissão a 
edições específicas da obra (mais ou menos problemáticas), a adoção 
(ou não) da noção acerca do caráter fragmentário e inconcluso da 
reflexão gramsciana, a utilização (ou não) do método de restauração 
do léxico gramsciano, dentre outros; 2) um aspecto relacionado às 
balizas metodológicas, isto é, a apropriação (ou não) dos 
fundamentos teórico-metodológicos com os quais Gramsci labora – 
aqui, trata-se da perspectiva de totalidade para a determinação do 
conteúdo teórico e histórico das suas categorias, comumente fixada 
pela noção de bloco-histórico nos Cadernos do Cárcere; e 3) um 
aspecto mais teórico-conceitual, a interpretação fornecida às 
categorias gramscianas que foram absorvidas nas análises dos três 
eixos antes referidos – aqui, além do mapeamento das categorias de 
Gramsci mais utilizadas, avaliamos sua interpretação e apropriação no 
quadro teórico sobre o significado social da profissão na sociedade 
capitalista. 
O caráter das fontes de dados aos quais recorremos – diga-se, 
a busca quase exclusiva por sistematizações publicadas em livros, em 
sua maioria já consolidados no mercado editorial da área do Serviço 
Social – remeteu o estudo às estratégias e técnicas próprias das 
 
 
Gramsci no Serviço Social I 26 
pesquisas com delineamento bibliográfico.22 É conhecido que esse 
tipo de delineamento permite a cobertura de (e acesso à) uma gama 
de fenômenos muito mais ampla do que aquela que o pesquisador 
poderia captar diretamente (GIL, 1987). Essa característica oportuniza 
que o raio da problemática ganhe maior abrangência – em nossa 
pesquisa, isso se expressa no fato de que ela examina problemáticas 
ideoteóricas que afetam o Serviço Social nacionalmente, e desde as 
últimas décadas. Por outro lado, o delineamento bibliográfico 
apresenta a desvantagem de que o trabalho com dados secundários 
poderia distorcer o resultado final do estudo – tendo em vista o risco 
de que os critérios das investigações que primariamente coletaram e 
sistematizaram esses dados tenham sido comprometidos de alguma 
forma. Em nosso caso, essa desvantagem é contornada, na medida 
em que são as próprias sistematizações teóricas que compõem a 
matéria-prima da análise, e não as possíveis instâncias de realidade 
que elas apreenderam. O que nos interessou, a priori, foram as 
teorizações, as construções teóricas, que são diretamente acessadas 
nos livros alvos da pesquisa. Ademais, sabe-se que a pesquisa com 
fontes bibliográficas tem fornecido grande auxílio aos estudos 
históricos, posto que as possibilidades de conhecimento de fatos 
passados, em variadas circunstâncias, não podem ser alcançadas, 
senão através de fontes secundárias. 
Nossa experiência precedente com estudos bibliográficos (e 
pesquisas documentais) alertou para a necessidade de programarmos 
previamente a realização de algumas tarefas, visando à coleta, 
organização e análise dos dados. Prevemos um roteiro que se 
 
22 Gil (1987, p. 70) afirma que, na atividade de pesquisa, o delineamento se refere ao 
“[...] planejamento da pesquisa em sua dimensão mais ampla, envolvendo tanto a sua 
diagramação quanto a previsão de análise e interpretação dos dados. Entre outros 
aspectos, o delineamento considera o ambiente em que são coletados os dados, bem 
como as formas de controle das variáveis envolvidas”. 
 
 
Gramsci no Serviço Social I 27 
aproximou daquele esboçado em Gil (1987, p. 72-73):23 1) exploração 
das fontes bibliográficas, que permitiu obter importantes informações 
sobre os livros estudados, seus conteúdos gerais, contextos históricos 
e políticos, etc.; 2) leitura e estudo do material, trabalhando com o 
enfoque nos eixos de análise selecionados e balizando-se pelas 
hipóteses diretrizes24 construídas (e reconstruídas) a partir de 
aproximações sucessivas à realidade pesquisada; 3) elaboração de 
fichamento, catalogando aspectos decisivos das sistematizações 
teóricas recolhidas, que interessavam à resolução do problema de 
pesquisa; 4) análise teórica e histórica dos dados coletados, conforme 
a problemática e os objetivos da pesquisa. 
Assumimos a perspectiva teórico-metodológica estratégica da 
crítica ontológica das construções teórico-ideológicas. A perspectiva 
que orientou a abordagem desse estudo referencia-se na concepção 
de “crítica ontológica” identificada por Lukács (1979) como o 
procedimento fundamental desenvolvido por Marx. O que significa 
tratar as sistematizações teóricas (e suas correspondentes dimensões 
político-ideológicas) não apenas na sua historicidade, mas buscar suas 
vinculações orgânicas e nexos constitutivos com a totalidade social 
em causa. Tal abordagem parte da totalidade do ser social 
historicamente constituído e busca apreender o objeto determinado 
em todas as suas intricadas e múltiplas relações com essa totalidade, 
no grau de máxima aproximação possível. Tratou-se de uma 
 
23 Veja-se também as indicações de Lakatos e Marconi (2002), informando que a 
pesquisa com publicações (livros, teses, monografias, etc.) envolve, normalmente, 
quatro fases distintas: identificação, localização, compilação e fichamento. Essa última 
fase compreenderia as subfases de redação da ficha, classificação das fichas e crítica 
documental/bibliográfica. 
24 Para Fernandes (1976) apud Iamamoto e Carvalho (2005, pp. 71-72, notas), as 
hipóteses diretrizes “[...] constituem ‘a base estratégica para a investigação do 
fenômeno...’; não são concebidas ‘como hipóteses para verificação, inferidas 
empiricamente por meio da pesquisa anterior; mas hipóteses de trabalho baseadas nos 
quadros reais da pesquisa e formuladas com o fim de orientar teoricamente a 
pesquisa’”. 
 
 
Gramsci no Serviço Social I 28 
abordagem que “[...] no processo de generalização, nunca abandona 
esse nível, mas que, apesar disso, em toda verificação de fatos 
singulares, em toda reprodução ideal de uma conexão concreta, tem 
sempre em vista a totalidade do ser social e utiliza essa como metro 
para avaliar a realidade e o significado de cada fenômeno singular” 
(LUKÁCS, 1979, p. 27). Consistiu, portanto, em tentar não coagular os 
fenômenos estudados em abstrações, pondo-as acima dos mesmos, 
mas de, ao contrário, captá-los em plena concreticidade da forma de 
ser que lhe é própria. Nesse percurso, embora tenha sido 
indispensável o recurso às abstrações e generalizações, foi igualmente 
fundamental a especificação dos complexos e das conexões concretas. 
Ou seja, foi necessário examinar a incidência de determinadas leis, de 
sua concretização, modificação, tendencialidade, de sua atuação 
concreta em situações concretas determinadas (LUKÁCS, 1979). 
Isso nos remete à reflexão de como, precisamente, a questão 
do método esboçada por Marx (2013) foi útil na análise da nossa 
problemática particular. Em um dos poucos momentos nos quais esse 
autor enveredou em formulações de ordem estritamente 
metodológica25, tentou advertir os leitores sobre a differentia specifica 
do seu empreendimento, frente aos campos habituais de produção 
do conhecimento: “[...] na análise das formas econômicas não 
podemos nos servir de microscópio nem de reagentes químicos. A 
força da abstração [Abstraktionskraft] deve substituir-se a ambos” 
(MARX, 2013, p. 78). O ato da “abstração” constitui um meiopelo 
qual a “representação caótica do todo” tem seus elementos 
constitutivos separados analiticamente, para que possam ser 
apropriados no plano do pensamento em todos os seus pormenores. 
Segundo Dussel (2012, p. 52): “O ato da abstração é analítico no 
sentido de separar da ‘representação plena’ um a um os seus 
múltiplos conteúdos neoéticos (momentos da realidade da própria 
 
25 Para um debate mais detido acerca da reflexão metodológica da obra marxiana, ver 
Netto (2011). Desenvolvemos, também, algumas considerações a respeito da relação 
entre método e história em Marx no artigo Silveira Jr. (2012). 
 
 
Gramsci no Serviço Social I 29 
coisa); separa uma parte do todo e o considera como todo”. 
Apropriadas, de modo adequado, as “determinações abstratas” que 
compõem o objeto em questão, pode-se iniciar a “viagem de retorno” 
no sentido de reproduzir o objeto enquanto síntese dialética de 
múltiplas determinações, enquanto “totalidade concreta” (MARX, 2011, 
p. 54). 
A análise da apropriação da reflexão de Gramsci no quadro 
teórico-crítico do Serviço Social supôs um procedimento semelhante. 
Sem pretensão de saturar as definições metodológicas necessárias ao 
desenvolvimento da investigação, coube-nos partir de alguns 
daqueles movimentos de “abstração” (enquanto ato analítico) que 
antevemos, dadas as determinações concretas desse objeto, já 
preliminar e aproximativamente delineadas através do nosso contato 
com a literatura do Serviço Social, os intérpretes de Gramsci e os 
escritos carcerários.26 De posse dos dados coletados na literatura 
estudada, resultante do estudo que se debruçou sobre aqueles três 
eixos da assimilação de Gramsci no Serviço Social, buscamos alcançar: 
1) Os condicionantes históricos e políticos da difusão (e recepção) 
dos primeiros estudos gramscianos, da própria obra desse autor 
e de suas vicissitudes editoriais e interpretativas no mundo e, 
particularmente, no Brasil. Com isso, visamos apreender as 
determinações políticas que conformaram a modalidade de 
apropriação específica dessa obra pelo Serviço Social na 
conjuntura brasileira dos anos 1970-1990. Aqui, tomamos como 
pressuposto uma forte ponderação dos fatores político-sociais 
(com ênfase na particularidade da chamada “transição 
democrática” aberta com a crise do ciclo ditatorial) na 
determinação do tipo de interpretação que essa obra sofreu 
pelo Serviço Social no país (assim como por outras áreas das 
ciências sociais e humanas, e por movimentos políticos e 
 
26
 As principais sínteses de nossas aproximações à obra carcerária encontram-se em 
Silveira Jr. (2014a, 2014b, 2014c, 2015, 2016). 
 
 
Gramsci no Serviço Social I 30 
sociais). No caso do estágio do desenvolvimento profissional, 
isso significa nuançar as mudanças no lastro ideal e político que 
o Serviço Social operou internamente, em interação com essa 
conjuntura específica, e que impulsionaram, com intensidade 
especial, a absorção de algumas problematizações e ideias 
gramscianas. Ressaltamos, de outro lado, que a ponderação 
desses fatores político-sociais, no caso do Serviço Social, 
apenas ganha relevo e densidade considerando-se a própria 
base da profissionalidade desse tipo de trabalho assalariado, 
inscrito da divisão social (e técnica) do trabalho. Apontamos, 
assim, para a hipótese de Netto (2005) acerca de como o 
sincretismo inscrito na base da profissionalidade do Serviço 
Social tende a implicar na construção de lastros ideais, e de 
validação teórica, marcados pelo ecletismo, o que demonstrou 
ter ocorrido, inclusive, com a recepção do pensamento 
gramsciano. 
2) As principais problematizações e elementos categorias 
gramscianos absorvidos no quadro teórico-crítico do Serviço 
Social brasileiro no estágio da “intenção de ruptura”, analisando 
as modalidades dessa interpretação e como ela operou 
articulações (sincréticas ou não) com problemas e fundamentos 
conceituais de outros interlocutores da tradição marxista, das 
correntes socialdemocratas e mesmo liberais. Esse momento 
analítico é mais propriamente teórico-metodológico, 
dedicando-se às questões de filtragem, adaptação e 
transplantação de formulações conceituais para a elaboração 
ideal do Serviço Social. Aproveita, portanto, o acúmulo teórico 
disponível dos estudos gramscianos sobre as categorias dos 
Cadernos do Cárcere, além de contar com o nosso esforço 
próprio de interpretação dessa obra, para poder estabelecer 
uma base madura para a avaliação da recepção e assimilação 
de Gramsci no Serviço Social. 
 
 
Gramsci no Serviço Social I 31 
3) As implicações ideológicas (e políticas) para a cultura 
profissional das interpretações (específicas e socialmente 
determinadas) de Gramsci que o quadro teórico-crítico do 
Serviço Social brasileiro realizou entre 1970-2000. Esse estágio 
analítico fornece insumos para o estudo da formação da cultura 
profissional crítica, em específico sua dimensão político-
pedagógica (portanto, como parte das relações de hegemonia 
entre as classes). Aqui, foi nossa tarefa perquirir sobre 
determinadas articulações teóricas, filtradas e absorvidas para o 
quadro teórico do Serviço Social brasileiro, que se constituem 
ideologias orgânicas refratadas nesse circuito profissional 
específico, ou seja, cooperam para dirigir o horizonte intelectual 
e moral do corpo profissional de acordo com os interesses de 
supremacia das classes em luta na sociedade. Nesse ponto, 
apresenta-se a fronteira (linha de transição e, portanto, o limite) 
da pesquisa ora proposta, posto que seu aprofundamento 
requer uma pesquisa que translade o campo da validação 
teórica e aborde os outros planos da cultura profissional. 
Os resultados gerais do estudo foram sistematizados na forma 
das duas sínteses apresentadas na sequência, construídas como textos 
independentes, a partir da análise sobre a presença de Gramsci nas 
elaborações de Vicente de Paula Faleiros e Marilda Iamamoto. 
 
Referências 
 
ABREU, Marina Maciel. Serviço Social e a Organização da Cultura: 
Perfis Pedagógicos da Prática Profissional. 2ª ed. São Paulo: Cortez, 
2008. 
MACIEL, Marina e CARDOSO, Franci Gomes. Metodologia do Serviço 
Social: a práxis como base conceitual. Cadernos ABESS (Cortez 
Editora), n. 3, p. 162-1881, 1989. 
 
 
Gramsci no Serviço Social I 32 
AMMANN, Safira Bezerra. Ideologia do Desenvolvimento de 
Comunidade no Brasil. 10ª ed. São Paulo: Cortez, 2003. 
BARROCO, Maria Lúcia S. Ética e Serviço Social: fundamentos 
ontológicos. São Paulo: Cortez, 2007. 
BIANCHI, Álvaro. O laboratório de Gramsci: filosofia, história, política. 
São Paulo: Alameda, 2008. 
BIANCHI, Álvaro. Prefácio. In: LIGUORI, Guido e VOZA, Pasquale. 
Dicionário gramsciano (1926-1937). São Paulo: Boitempo, 2017. p. 
5-7. 
BONETTI. Dilséa Aldeodata et. al. (Org.). Serviço Social e ética: 
convite a uma nova práxis. 4ª ed. São Paulo: Cortez, 2001. 
CAPALBO, Creusa. Fenomenologia e serviço social. Debates Sociais, 
Rio de Janeiro, ano XX, n. 38, 1984. 
CAPALBO, Creusa. Correntes filosóficas contemporâneas e suas 
implicações no trabalho do serviço social. CBCISS, Rio de Janeiro, v. 
12, n. 147, 1991. 
CARVALHO, Alba Pinho. A questão da transformação e o trabalho 
social. São Paulo: Cortez, 1983. 
COUTINHO, Carlos Nelson. Gramsci: um estudo sobre seu 
pensamento político. Rio de Janeiro: Campus, 1992. 
DIAS, Edmundo Fernandes et. al. O outro Gramsci. São Paulo: Xamã, 
1996. 
DUSSEL, Enrique Domingo. A produção teórica de Marx: um 
comentário aos Grundrisse. Trad. de José Paulo Netto. São Paulo: 
Expressão Popular, 2012. 
FALEIROS, Vicente de Paula. A Política Social do Estado Capitalista. 
São Paulo: Cortez, 1980. 
 
 
Gramsci no Serviço Social I 33 
FALEIROS, Vicente de Paula. Metodologia e Ideologia do trabalho 
Social.2ª ed. São Paulo: Cortez, 1981. 
FRANCIONI, Gianni. L’Officina gramsciana: ipottesi sulla struttura dei 
“Quaderni del cárcere”. Nápoles: Bibliopolis, 1984. 
FROSINI, Fabio; LIGUORI, Guido. Le parole di Gramsci: per un lessico 
dei Quaderni del cárcere. Carocci: Roma, 2004. 
GERRATANA, Valentino. Introdução. In: GRAMSCI, Antônio. Cuadernos 
de la cárcel. Edición crítica del Instituto Gramsci a cargo de Valentino 
Gerratana. Puebla: Ediciones Era, 1981. (TOMO I). p. 11-36. 
GERRATANA, Valentino. Introdução. Gramsci: problemi di método. 
Roma: Riuniti, 1997. 
GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. São 
Paulo: Atlas, 1987. 
GRAMSCI, Antônio. Cadernos do cárcere: introdução ao estudo da 
filosofia e a filosofia de Benedetto Croce. 5. ed. Trad. Carlos Nelson 
Coutinho com a colaboração de Luiz Sergio Henriques e Marco 
Aurélio Nogueira. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 2011, v. 
1. 
GUERRA, Yolanda. A Instrumentalidade do Serviço Social. São Paulo, 
Cortez, 1995. 
IAMAMOTO, Marilda Villela. Renovação e conservadorismo no 
Serviço Social. São Paulo: Cortez, 2004. 
IAMAMOTO, Marilda Villela. O Serviço Social na 
contemporaneidade: trabalho e formação profissional. São Paulo: 
Cortez, 2006. 
IAMAMOTO, Marilda Villela. Serviço Social em tempo de capital 
fetiche: capital financeiro, trabalho e questão social. 4ª ed. São Paulo: 
Cortez, 2010. 
 
 
Gramsci no Serviço Social I 34 
IAMAMOTO, Marilda Villela e CARVALHO, Raúl de. Relações sociais e 
Serviço Social no Brasil: esboço de uma interpretação histórico-
metodológica. 18ª ed. São Paulo: Cortez, 2005. 
MARCONI, Marina de Andrade e LAKATOS, Eva Maria Técnicas de 
pesquisa: planejamento e execução de pesquisa, amostragens e 
técnicas de pesquisas, elaboração, análise e interpretação de dados. 
5ª ed. São Paulo: Atlas, 2002. 
LIGUORI, Guido e VOZA, Pasquale. Dicionário gramsciano (1926-
1937). São Paulo: Boitempo, 2017. 
LOPES, Josefa Baptista. Objeto e especificidade do serviço social: o 
pensamento latino-americano. São Paulo: Cortez, 1979. 
LUKÁCS, Georg. Os princípios ontológicos fundamentais de Marx. 
Trad. de Carlos Nelson Coutinho. São Paulo: Livraria Ciências 
Humanas, 1979. 
MARTINELLI, Maria Lúcia. Serviço Social: identidade e alienação. São 
Paulo: Cortez, 1989. 
MARX, Karl. Grundrisse: manuscritos econômicos de 1857-1858: 
esboços da crítica da economia política. Trad. Mario Duayer e Nélio 
Schneider. São Paulo: Boitempo; Rio de Janeiro: Ed. UFRJ, 2011. 
MARX, Karl. O capital: crítica da economia política. Livro I: o processo 
de produção do capital. Trad. Rubens Enderle. São Paulo: Boitempo, 
2013. 
MOTA, Ana Elizabete. (Org.). A nova fábrica de consensos. São 
Paulo: Cortez, 1998. 
MOTA, Ana Elizabete. Cultura da crise e seguridade social. 2ª ed. 
São Paulo: Cortez, 2000. 
NEGRI. Fabiana Luiza. O pensamento de Antônio Gramsci na 
produção teórica do Serviço Social brasileiro. Florianópolis, 2016. 
 
 
Gramsci no Serviço Social I 35 
245 f. Tese (Doutorado em Serviço Social) – Universidade Federal de 
Santa Catarina, Florianópolis, 2016. 
NETTO, José Paulo. Transformações societárias e Serviço Social: notas 
para uma análise prospectiva da profissão no Brasil. Serviço Social & 
Sociedade, São Paulo, n. 50, abr., p. 87-132, 1996. 
NETTO, José Paulo. Ditadura e Serviço Social. 7ª ed. São Paulo: 
Cortez, 2004. 
NETTO, José Paulo. Capitalismo monopolista e serviço social. 4ª ed. 
São Paulo: Cortez, 2005. 
NETTO, José Paulo. Introdução ao estudo do método de Marx. São 
Paulo: Expressão Popular, 2011. 
NETTO, José Paulo. O projeto ético-político profissional do Serviço 
Social brasileiro. Intervenção Social, Lisboa, n.º 42/45, p. 299-242, 2º 
semestre de 2013 a 1º semestre de 2015, 2015. 
PORTANTIERO, Juan Carlos. Los usos de Gramsci. México: Plaza y 
Valdés, 1987. 
SILVA, Lídia Maria Monteiro Rodrigues da. Aproximação do Serviço 
Social tradição marxista: caminhos de descaminhos. São Paulo: 
PUC. 2 v. Digit., 1991. 
SILVEIRA Jr., Adilson Aquino. Pesquisa em Serviço Social e 
fundamentos da perspectiva teórico-metodológica marxiana. 
Katályzis, v. 15, n. 2, p. 221-2219, jul./dez., 2012. 
SILVEIRA Jr., Adilson Aquino. O nexo necessário e vital: ideologia e 
histórica em Karl Marx. Temporalis, v. 26, p. 37-54, 2014a. 
SILVEIRA Jr., Adilson Aquino. Ideologia, consciência social e 
hegemonia na obra de Antônio Gramsci. Emancipação (UEPG. 
Impresso), v. 13, p. 23-37, 2014b. 
 
 
Gramsci no Serviço Social I 36 
SILVEIRA Jr., Adilson Aquino. A filosofia como historicidade: a 
ideologia no estudo filosófico dos Cadernos do cárcere. Serviço 
Social & Sociedade, São Paulo, n. 119, p. 560-581, Set. 2014c. 
SILVEIRA Jr., Adilson Aquino. Gramsci e o “problema da 
tradutibilidade” na filosofia da práxis. Crítica Marxista, São Paulo, n° 
40, p. 63-82, 2015. 
SILVEIRA Jr., Adilson Aquino. A Assistência Social e as Ideologias do 
Social-liberalismo –Tendências Político-pedagógicas para a formação 
dos Trabalhadores do SUAS. Recife, 2016. 359 f. Tese (Doutorado em 
Serviço Social) – Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2016. 
SIMIONATO, Ivete. Gramsci: sua teoria, incidência no Brasil, influência 
no Serviço Social. 2ª ed. Florianópolis: Ed. Da UFSC; São Paulo: Cortez, 
1999. 
SIMIONATO, Ivete; NEGRI, Fabiana. Gramsci e a produção do 
conhecimento no Serviço Social brasileiro. Katálysis, Florianópolis, v. 
20, n. 1, p. 13-21, Abr., 2017. 
SPOSATI, Aldaíza; BONETTI, Dilsea Adeodata; YAZBEK, Maria Carmelita; 
CARVALHO, Maria do Carmo Brant. Assistência na trajetória das 
políticas sociais brasileiras: uma questão em análise. 12ª ed. São 
Paulo: Cortez, 2014. 
YAZBEK, Maria Carmelita. Classes subalternas e assistência social. 
São Paulo, Cortez, 1993. 
 
 
 
Gramsci no Serviço Social I 37 
 
PARTE II 
GRAMSCI EM METODOLOGIA E IDEOLOGIA DO TRABALHO 
SOCIAL DE VICENTE DE PAULA FALEIROS 
 
 
1. Introdução 
 
Este texto aborda as tendências da circulação e assimilação do 
pensamento de Antônio Gramsci no quadro teórico do Serviço Social 
brasileiro. Em especial, objetiva analisar tais processos na produção de 
Vicente de Paula Faleiros, assistente social com conhecida influência 
teórica e profissional nos quadros acadêmicos e corporativos do 
Serviço Social que se engajaram, após finais de 1970, na afirmação de 
um projeto crítico de ruptura com o tradicionalismo. O estudo 
pretende contribuir com as pesquisas sobre a influência de Gramsci 
na construção teórica sobre o significado social do exercício 
profissional em suas conexões com a produção-reprodução 
capitalista. Através disso, almeja apreender o modo pelo qual as 
formulações gramscianas foram absorvidas por esse aparato teórico-
crítico, e as implicações político-ideológicas decorrentes dessas 
tendências de interpretação. 
De modo mais preciso, o estudo se debruça sobre recepção e 
assimilação de Gramsci no quadro teórico do Serviço Social brasileiro 
legatário da “intenção de ruptura” (NETTO, 2004). Mas não se trata de 
uma análise extensiva da interpretação do pensamento de Gramsci 
em pesquisas do Serviço Social que necessariamente se assumem 
vinculadas aos aportes gramscianos, como o fez Simionatto (1999). 
Nem de examinar amplamente a produção teórica recente do Serviço 
Social brasileiro que se fundamenta nesse pensador, como o fizeram 
 
 
Gramsci no Serviço Social I 38 
Negri (2016) e Simionatto e Negri (2017). Diferentemente, 
delimitamos a absorção das formulações teórico-metodológicas de 
Gramsci na elaboração teórica do Serviço Social que fundamentou a 
análise do significado social da profissão a partir da “intenção de 
ruptura”. A intenção é rastrear e analisar a contribuição de Gramsci 
para a construção do aparato teórico-crítico a partir do qual esse veio 
da renovação do Serviço Social brasileiro forjou sua interpretação da 
profissão na produção-reproduçãodas relações sociais. Com isso, 
desejamos apreender o papel que as ideias associadas a Gramsci 
possuíram (e possuem) para a construção de uma cultura profissional 
determinada no Serviço Social – especialmente na sua elaboração 
teórica sistemática, mas também com seus impactos no modo de 
pensar do corpo profissional em geral. Assim, a pesquisa centra-se, 
não exclusivamente na interpretação (ou nas leituras) de Gramsci na 
área de conhecimento do Serviço Social, mas em identificar as 
modalidades de apropriação do seu pensamento pelos/as autores/as 
que colaboraram (e colaboram) na construção dos fundamentos da 
análise da profissão. 
Nossa problemática envolve as determinações e tendências da 
divulgação e circulação das ideias de Gramsci no Brasil. Nesse quadro, 
se desenvolvem e expressam a assimilação e interpretação das 
mesmas em elaborações teóricas e políticas diversas, com pretensões 
analíticas variadas. Tais elaborações são constitutivas de um amplo 
leque de interpretações de Gramsci – frequentemente alimentadas 
também por outras fontes e/ou tradições teóricas – que, embora 
sustentando vínculos com seu universo teórico-metodológico, 
resultam em construções ideais particulares e originais. 
Com caráter bibliográfico, o estudo possuiu como fonte 
principal a produção teórica do Faleiros, da qual foram cotejados os 
livros das décadas de 1980 e 1990 que possuíam como problemática 
central o Serviço Social, seus fundamentos históricos e bases 
ocupacionais, em especial: Trabajo social - ideología y método, de 
1972 (FALEIROS, 1976); A política social do Estado capitalista, de 1980 
 
 
Gramsci no Serviço Social I 39 
(FALEIROS, 1980a); Metodologia e Ideologia do Trabalho Social: crítica 
ao funcionalismo, de 1981 (FALEIROS, 2011); Saber Profissional e 
Poder Institucional, de 1985 (FALEIROS, 1997); O Que é Política 
Social? de 1985 (FALEIROS, 2004); Estratégias em Serviço Social, de 
1997 (FALEIROS, 1999). De tal universo, nosso estudo se deteve nas 
obras em que a reflexão de Gramsci se expressa de modo pioneiro, 
com desenvolvimentos mais substanciais e balizadores, para reflexão 
sobre o significado social do Serviço Social: o já citado Metodologia e 
Ideologia... (FALEIROS, 2011) e sua primeira edição em espanhol.27 
Para conhecer a trajetória pessoal, profissional e acadêmica de 
Faleiros, tomamos como subsídio os depoimentos e entrevistas 
fornecidos pelo autor em Faleiros (1980b, 2007), Silva (1991) e 
Simionatto (1999). Ademais, as análises se fundamentam na leitura da 
história da profissão já consolidada por importantes pesquisadores/as 
(IAMAMOTO e CARVALHO, 2005; IAMAMOTO, 2010; CARVALHO, 
1986; NETTO, 2004; SIMIONATO, 1999). Inicialmente, o texto busca 
fixar o lugar e a contribuição de Faleiros para a circulação e 
interpretação do pensamento de Gramsci no Serviço Social brasileiro, 
quando das primeiras aproximações ao autor dos Cadernos do 
Cárcere na área. Em seguida, é analisado o livro Metodologia e 
Ideologia do Trabalho Social: crítica ao funcionalismo (FALEIROS, 
2011), considerando a apropriação que opera de Gramsci para pensar 
o Serviço Social nas relações sociais, e as perspectivas profissionais 
decorrentes. 
 
 
 
 
27 As demais obras e artigos cotejados expressaram, no geral, sínteses parciais e 
passageiras, das questões levantadas em Metodologia e Ideologia... Além disso, em tal 
literatura, as referências a Gramsci, quando não desvanecem completamente, são 
bastante episódicas. 
 
 
Gramsci no Serviço Social I 40 
1.1 O lugar de Faleiros na recepção de Gramsci no Serviço Social 
brasileiro 
 
No precursor estudo sobre a influência de Gramsci no Serviço 
Social brasileiro, Simionatto (1999, p. 188, nota) apresenta o seguinte 
apontamento histórico: “Vicente de Paula Faleiros é o primeiro 
profissional, no Brasil e provavelmente na América Latina, a utilizar o 
pensamento gramsciano nas reflexões sobre o Serviço Social”. Tal 
argumento apenas teria validade considerando-se a referência à 
Gramsci no livro Trabajo social - ideología y método, publicado por 
Faleiros em 1972, através da Libreria ECRO de Buenos Aires. Após 
esses anos, já não se conseguiria apontar um sujeito isolado; Gramsci 
passava a penetrar o Serviço Social brasileiro por diversos poros. Em 
todo caso, com efeito, parece justo reconhecer tal pioneirismo. 
Contudo ele se reduz, basicamente, a uma remissão pontual, alusiva e 
imprecisa que o autor do livro de 1972 faz a Gramsci.28 Remissão cujo 
significado é muito menos teórico-analítico do que simbólico. Isso 
posto, nosso estudo sinaliza para outras duas reservas que podem ser 
dirigidas àquela formulação de Simionatto (1999), visando precisá-la. 
Primeiro, inobstante Faleiros29 seja originário do Brasil, e tenha 
constituído, no país, sua formação em Serviço Social, além de parte 
inaugural significativa da vida militante e profissional, as elaborações 
reunidas no livro Trabajo Social: ideología y método (assim como sua 
publicação mesma) se desdobram das experiências e articulações 
 
28 Em todo o livro, apenas nesse isolado extrato, no debate sobre o conceito de 
ideologia, Gramsci aparece, sem qualquer indicação de fonte bibliográfica: “La ideologia 
asegura la cohesión social, una hegemonización de la sociedad. Según Gramsci es el 
cemento de la estructura social y está presente em toda vivencia humana.” (FALEIROS, 
1976, p 33). É curioso como algumas passagens dos estudos de Simionatto (1999, p. 
188) e de Carvalho (1986, p. 170) acabam por sugerir que a incorporação de Gramsci 
na obra de 1972 foi maior do que efetivamente se observa - também Iamamoto (2010, 
p. 294) esboça uma opinião correlata. 
29 Conferir Apêndice n° 1 – Nota Biográfica de Vicente de Paula Faleiros. 
 
 
Gramsci no Serviço Social I 41 
político-profissionais durante seu exílio. Embora fosse um profissional 
do Brasil (e capitalizasse a experiência ali acumulada para suas 
subsequentes elaborações), são circunstâncias e dinâmicas alheias a 
sua realidade nacional que precipitam os textos daquele livro. Trata-se 
de uma produção organicamente vinculada à luta política e 
profissional no Chile; cujo significado teórico ultrapassava, 
obviamente, essas fronteiras. Mesmo durante seu posterior exílio no 
Canadá, os intercâmbios travados por Faleiros passavam ao largo do 
debate brasileiro30 – malgrado se sua produção influenciasse ou não 
no debate do Serviço Social brasileiro.31 Grosso modo: embora um 
profissional brasileiro, não é no Brasil – nem direta e precisamente a 
partir de e para o que ocorria aí em termos de Serviço Social – que 
Faleiros escreve aquele texto de 1972 em que Gramsci aparece 
pioneira e simbolicamente. 
Segundo, pode-se dizer que apenas no início dos anos 1980 
ganham um estatuto qualitativamente novo essas características da 
contribuição de Faleiros para o Serviço Social brasileiro. A partir desse 
marco, o centro de gravidade de suas problematizações e elaborações 
(ou reelaborações) é deslocado para o processo renovador da 
profissão no país. E nesse curso, a recepção de Gramsci em suas 
publicações perde aquele caráter meramente simbólico para adquirir 
alguma importância efetivamente teórico-analítica. Em primeiro lugar, 
 
30 Assim recorda suas ligações com o Serviço Social de outros países no período que 
esteve no Canadá: “[No exílio] eu recebi alguns textos do CELATS – porque, do Canadá 
eu fui ao Mestrado Latino Americano, duas vezes: fui ao Peru e fui ao México. Então, eu 
tive mais contato com o México e o Peru, e o Mestrado em Honduras, que com o 
Brasil. Eu recebia um ou outro texto. Por exemplo: me mandaram o texto de Anna 
Augusta, ‘Possibilidades e Limites”... Que mais chegou para mim, lá? É... acho que umarevista ou outra do Debates Sociais...[...]” (FALEIROS apud SILVA, 1991, p. 428). 
31 Sobre essa influência, observa Netto (2005, p. 272-273): “Exilado desde 1970, este 
profissional incide fortemente sobre as vanguardas progressistas [do Serviço Social 
brasileiro] a partir da publicação, em Buenos Aires, do seu primeiro trabalho 
significativo – que, circulando muito discretamente no Brasil, em função das condições 
sócio-políticas da época, constituiu obra basilar como insumo para a emergência e 
desenvolvimento da intenção de ruptura”. 
 
 
Gramsci no Serviço Social I 42 
tal marco é definido pelo seu retorno ao país em junho de 1979, no 
contexto da luta pela anistia. É sintomático que o regresso seja 
marcado pela sua participação no III Congresso Brasileiro de 
Assistentes Sociais (o chamado “Congresso da Virada”), ocorrido em 
setembro do mesmo ano na cidade de São Paulo. Ademais, em 1981 
o livro Trabajo Social: ideología y método32 ganha uma edição 
brasileira em português, revisada e ampliada pelo autor, com o título 
Metodologia e Ideologia do Trabalho Social (FALEIROS, 2011). O 
detalhado estudo de Carvalho (1986, p. 165) sinaliza para a relevância 
das alterações feitas: “[...] apesar de ser definida como uma edição 
revisada e ampliada do original em espanhol, apresenta efetivamente 
uma mudança qualitativa em termos de proposta de Trabalho Social”. 
Dentre as notáveis alterações – elucidadas por Carvalho (1986) – 
figura uma incorporação mais consistente de Gramsci no texto; o que 
não significa uma apropriação que passa sem problemas. Todavia, 
nessa altura, a recorrência aos Cadernos do Cárcere na literatura 
especializada que começava a germinar na área do Serviço Social já 
não consistia propriamente num ineditismo. 
Daí se desdobram algumas implicações para avançarmos na 
questão das vias de recepção de Gramsci no Serviço Social; 
implicações cujo significado histórico não foi suficientemente 
enfatizado e explorado. Do ponto de vista dos empreendimentos 
iniciais, essa incorporação deslancha com caráter policêntrico (ou 
multicêntrico) – parece forçado sugerir a existência de um 
personagem pioneiro que haveria encarnado isoladamente esse feito. 
Ademais, não necessariamente os diversos condutos por onde ela 
 
32 Nesse momento, o livro em espanhol já ia na sua terceira edição; depois da primeira, 
lançada em maio de 1972, uma segunda saiu em abril de 1974, e uma terceira em 
outubro de 1976. Cabe salientar, ademais, que em seu artigo de 1979, Espaço 
institucional e espaço profissional na revista Serviço Social & Sociedade (ano 1, nº 1, p. 
137-153), Faleiros já sinaliza para a leitura das instituições, com clara marcas 
gramscianas, como aparelhos para o desenvolvimento e consolidação do consenso 
social necessários à hegemonia e direção das classes dominantes, identificadas no 
plano da sociedade civil (FALEIROS, 1979, p. 139-140). 
 
 
Gramsci no Serviço Social I 43 
passou a existir influenciavam-se reciprocamente. Tudo sugere que 
algumas iniciativas ocorriam sem contato mútuo, marcando-se por 
um certo paralelismo – algo, em alguma medida, explicado pela 
pulverização mesma que a ditadura promoveu nas forças teórico-
políticas tendentes àquela assimilação. O caráter policêntrico não se 
reduz a multiplicidade objetiva de sujeitos que protagonizaram a 
circulação e assimilação de Gramsci. Ele também assinala a 
diversidade teórico-política dos polos por onde desaguou inicialmente 
a elaboração gramsciana. 
Não é nossa pretensão esquadrinhar o arco de protagonistas 
desse processo; algo já fornecido por Simionatto (1999, p. 177-212) 
de modo bastante aproximativo. Interessa apenas sinalizar para os 
três polos mais representativos – donde se esboçam, após a segunda 
metade de 1970, os iniciais estudos e remissões a Gramsci no Serviço 
Social: (I) no âmbito da teorização empreendida pela “vertente 
modernizadora” (NETTO, 2004) em seu estágio de deslocamento e 
crise – especificamente no III Seminário de Teorização do Serviço 
Social, ocorrido em Sumaré, no final de novembro de 1978, a partir 
da intervenção de Creusa Capalbo (CAPALBO, 1986, 1979); (II) nos 
trabalhos de articulação latino-americana do Serviço Social com 
incidência no desenvolvimento da “intenção de ruptura” (NETTO, 
2004) – com destaque para as pesquisas, eventos e periódicos 
organizados pela Associação Latino-Americana de Escolas de Trabalho 
Social (ALAETS) e o Centro Latino-Americano de Trabajo Social 
 
 
Gramsci no Serviço Social I 44 
(CELATS), também após finais da década;33 e (III) nos estudos e 
pesquisas, em âmbito universitário, principalmente nas pós-
graduações na área do Serviço Social (ou afins) localizadas no 
sudeste, centro-oeste e norte no país34 – este, notadamente, foi o de 
maior importância, inclusive porque colaborava para a formação de 
alguns protagonistas que intervinham nos polos anteriores. 
 
33 Pense-se em dois eventos onde se observam debates com filiação gramsciana: o 
Simpósio de Playas, promovido pelo CELATS, em Guayaquil (Equador), em outubro de 
1978; e o Encontro Nacional de Capacitação Continuada, promovido pelo CELATS no 
Rio de Janeiro, em agosto de 1979. Ademais, observe-se algumas remissões a Gramsci 
na Revista Acción Crítica (nº 5, abr., 1979; nº 6, set. 1979), onde se registram os debates 
dos eventos citados. No plano da pesquisa, basta mencionar a grande investigação, 
patrocinada pelo CELATS, sobre a História do Trabalho Social na América Latina, 
durante 1978-1979, que, no desdobramento relativo ao Serviço Social no Brasil, 
resultou no trabalho de Iamamoto e Carvalho (2005), com evidentes referências a 
Gramsci (CARDOSO e CESAR, 2015). 
34 Nomeadamente, as primeiras aproximações a Gramsci, nesse âmbito, remetem aos 
esforços dos seguintes protagonistas: (1) Safira Bezerra Ammann, após 1975, no 
contexto do seu mestrado em Sociologia (entre 1973-1976, Universidade de Brasília) e 
do seu doutorado em Serviço Social (entre 1977-1979, na Universidade Federal 
Fluminense); (2) o grupo de alunas orientadas por Miriam Limoeiro Cardoso, durante o 
mestrado em Serviço Social da PUC-RJ, entre 1975 e início de 1980 – especificamente, 
Josefa Batista Lopes, Maria de Guadalupe Silva, Gelba Cavalcanti Cerqueira, Zulma 
Maria Lima de Souza, Alba Maria Pinho de Carvalho, além de duas não orientadas por 
Míriam, mas com eixo de reflexão comum, Maria Helena de Almeida Lima e Rose Mary 
Serra; (3) o grupo do Curso de Serviço Social da UFMA que – articulando a participação 
de Miriam Limoeiro Cardoso, a partir de vínculos estabelecidos no Mestrado da PUC-RJ 
– desenvolvia uma reflexão sobre a questão metodológica da prática profissional, 
subsidiada pela experiência com pescadores artesanais no bairro do Boqueirão – aqui 
se destacam Franci Gomes Cardoso, Marina Maciel Abreu, Josefa Batista Lopes, Maria 
Aparecida Fernandes, Edna Brito Ribeiro e, posteriormente, Alba Maria Pinho de 
Carvalho; (4) entre alunos do Curso de Pós-graduação em Serviço Social da PUC-SP, 
onde as primeiras discussões emergem a partir de disciplinas ministradas por Demerval 
Saviani, Evaldo Vieira, Octavio Ianni e Nobuco Kameyama – aqui destaca-se a 
dissertação de Maria da Conceição Vasconcelos Gonçalves, de 1977 (SIMIONATTO, 
1999). A pesquisa de mestrado de Marilda Villela Iamamoto é um caso especial, nesse 
contexto: realizada entre 1976-1982 no Mestrado em Sociologia Rural da Universidade 
de São Paulo, assumiu um redirecionamento do objeto para o plano nos fundamentos 
do Serviço Social que derivou numa das mais importantes pesquisas desse período. 
 
 
Gramsci no Serviço Social I 45 
Esse quadro policêntrico da divulgação e assimilação de 
Gramsci no Serviço Social brasileiro possui, por sua vez, uma 
implicação direta para a análise da edição

Continue navegando