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Código Logístico
59554
Fundação Biblioteca Nacional
ISBN 978-85-387-6678-0
9 7 8 8 5 3 8 7 6 6 7 8 0
Este livro tem como objetivo discutir os fundamen-
tos teórico-metodológicos do Serviço Social nos 
diferentes períodos de sua trajetória. Por meio das 
discussões apresentadas, são explicados os funda-
mentos históricos e epistemológicos do Serviço So-
cial, as metodologias aplicadas durante o percurso 
evolutivo da profissão, além de uma discussão mais 
aprofundada sobre o Movimento de Reconceituação 
no Brasil. Por fim, são problematizados os aspec-
tos que permeiam a atuação profissional no período 
histórico da contemporaneidade.
A
na P
aula Fliegner dos Santos | Taísa da M
otta O
liveira
FUNDAMENTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS DO SERVIÇO SOCIAL II
Fundamentos teóricos 
e metodológicos do 
Serviço Social II 
Ana Paula Fliegner dos Santos 
Taísa da Motta Oliveira
IESDE BRASIL
2020
Todos os direitos reservados.
IESDE BRASIL S/A. 
Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 
Batel – Curitiba – PR 
0800 708 88 88 – www.iesde.com.br
© 2020 – IESDE BRASIL S/A. 
É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito das autoras e do 
detentor dos direitos autorais.
Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A.
Imagem da capa: Texturas de tinta de mármore 7 Por M-e-f/ENVATO ELEMENTS
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO 
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
S233f
Santos, Ana Paula Fliegner dos
Fundamentos teóricos e metodológicos do serviço social II / Ana 
Paula Fliegner dos Santos, Taísa da Motta Oliveira. - 1. ed. - Curitiba [PR] : 
IESDE, 2020.
104 p. : il.
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-387-6678-0
1. Serviço social - Brasil - História . 2. Formação profissional - Brasil - 
História. 3. Ditadura - História. 4. Brasil - Política e governo, 1964- 1985. 5. 
Movimentos sociais. I. Oliveira, Taísa da Motta. II. Título.
20-66096 CDD: 361.981
CDU: 364.3(81)(09)
Ana Paula Fliegner 
dos Santos
Taísa da Motta 
Oliveira
Doutoranda e mestra em Educação pela Pontifícia 
Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). 
Especialista em Educação Especial Inclusiva pela 
Sociedade Educacional de Santa Catarina (Unisociesc). 
Graduada em Serviço Social pela Universidade Federal 
do Paraná (UFPR Litoral). Atuou como assistente 
social no Núcleo de Projeto Comunitário, como 
coordenadora dos cursos de Bacharelado em Serviço 
Social e Licenciatura em Pedagogia e como professora 
responsável pelo Projeto Comunitário do Centro 
Universitário – Católica de Santa Catarina. Atua como 
docente no ensino superior, pesquisadora e autora.
Doutora e mestra pelo Programa de Pós-Graduação 
em Ciência Política da Universidade Federal do Paraná 
(UFPR). Especialista em Questão Social e bacharel 
em Serviço Social pela UFPR Litoral. Coordenadora 
de Estágios em Serviço Social. Atua como docente no 
ensino superior, pesquisadora, servidora pública e 
assistente social na Defensoria Pública do Estado do 
Paraná.
Agora é possível acessar os vídeos do livro por 
meio de QR codes (códigos de barras) presentes 
no início de cada seção de capítulo.
Acesse os vídeos automaticamente, direcionando 
a câmera fotográ�ca de seu smartphone ou tablet 
para o QR code.
Em alguns dispositivos é necessário ter instalado 
um leitor de QR code, que pode ser adquirido 
gratuitamente em lojas de aplicativos.
Vídeos
em QR code!
SUMÁRIO
1 Projetos profissionais e intervenção conservadora no Serviço Social 9
1.1 O projeto tradicional 9
1.2 O projeto modernizador 11
1.3 O projeto de reatualização do conservadorismo 13
1.4 O projeto de ruptura com o conservadorismo 15
1.5 Objeto de intervenção: aproximação conceitual 18
2 Aspectos sócio-históricos do Serviço Social 38
2.1 Serviço Social e o desenvolvimentismo 38
2.2 Crise da autocracia burguesa brasileira 45
2.3 Autocracia burguesa e institucionalização do Serviço Social 50
2.4 Crise do Serviço Social tradicional 56
3 A influência da Teoria Social Crítica no Serviço Social 64
3.1 Fundamentos do projeto profissional de ruptura 64
3.2 Paradigmas conservadores de intervenção social 66
3.3 Projeto ético-político 70
3.4 Influência do marxismo no objeto de trabalho do 
 Serviço Social 77
4 Serviço Social na contemporaneidade: tendências e debates atuais 86
4.1 Serviço Social e a intensificação das desigualdades sociais 86
4.2 Contradição das questões sociais, expressões e desafios 92
4.3 Serviço Social na contemporaneidade 99
Este livro tem como objetivo discutir os fundamentos teórico-
metodológicos do Serviço Social nos diferentes períodos de 
sua trajetória. Por meio das discussões apresentadas, você 
conhecerá os fundamentos históricos e epistemológicos do 
Serviço Social, as metodologias aplicadas durante o percurso 
evolutivo da profissão, além de aprofundar seus conhecimentos 
sobre o Movimento de Reconceituação no Brasil. Por fim, 
são problematizados os aspectos que permeiam a atuação 
profissional no período histórico da contemporaneidade.
Assim, no primeiro capítulo, abordaremos os projetos 
profissionais conservadores da teoria e da prática profissional. 
Passaremos pelos aspectos introdutórios do projeto de ruptura 
com o conservadorismo, por meio da análise do movimento 
histórico da sociedade brasileira, percebendo as particularidades 
do desenvolvimento do Serviço Social, com forte influência 
americana e europeia.
No segundo capítulo, discutiremos a política econômica 
desenvolvimentista, a importância da crise da autocracia burguesa 
e a relação desses dois momentos para a institucionalização do 
Serviço Social brasileiro. Também conheceremos os principais 
motivos que contribuíram para a crise do Serviço Social 
tradicional.
No terceiro capítulo abordaremos os paradigmas conservadores 
de intervenção social e os fundamentos do projeto profissional de 
ruptura, além das transformações ocorridas no projeto ético-político, 
de acordo com o contexto histórico do país, e posicionamentos da 
categoria profissional. Nessa perspectiva trataremos da influência 
do marxismo no objeto de trabalho do Serviço Social, o qual se faz 
presente até os dias atuais. 
O último capítulo nos proporcionará reflexões sobre o 
Serviço Social na contemporaneidade. Para essa compreensão, 
situaremos o Serviço Social em sua trajetória histórica e em 
seus desdobramentos no contexto de intensificação das 
APRESENTAÇÃOVídeo
8 Fundamentos teóricos e metodológicos do Serviço Social II
desigualdades sociais. Seguiremos com a importância da teoria social crítica 
para a análise da questão social, o reconhecimento das contradições da 
questão social, suas expressões e os desafios que se impõem aos assistentes 
sociais na contemporaneidade, e finalizaremos com um debate sobre os 
fundamentos do Serviço Social na contemporaneidade.
Estimamos que esta obra possa auxiliar você nesse processo de construção 
do conhecimento e que, ao estudar os fundamentos teóricos e metodológicos 
da profissão, você possa compreender a importância de conhecer o percurso 
histórico da profissão em sua totalidade e a teoria marxista, tão essencial 
para a apreensão da realidade. Reconhecer o contexto econômico, social, 
político e cultural da sociedade brasileira é fundamental para compreender os 
caminhos e posicionamentos profissionais do Serviço Social. O projeto ético-
político atual da profissão é fruto de muita luta, resistência e militância da 
categoria profissional. 
Bons estudos!
Projetos profissionais e intervenção conservadora no Serviço Social 9
1
Projetos profissionais e 
intervenção conservadora 
no Serviço Social
A análise do posicionamento das correntes teóricas e das in-
fluências delas no Serviço Social é fundamental para a formação 
profissional do assistente social. Ao conhecer o processo histórico 
da formação de cada teoria, é possível compreender as escolhas 
teórico-metodológicas da profissão e a importância delas.
Neste capítulo,você estudará as vertentes teóricas que emer-
giram do Movimento de Reconceituação. Analisando um pouco o 
projeto tradicional e, em seguida, a perspectiva modernizadora, 
o processo de reatualização do conservadorismo e a perspectiva 
de intenção de ruptura com o conservadorismo, você verá que o 
Movimento de Reconceituação não foi um processo homogêneo, 
mas sim construído por meio de uma heterogeneidade que havia 
no interior da categoria profissional, composta por revolucionários 
e conservadores.
Para além da conceituação das vertentes teórico-metodológicas, 
você estudará as influências dessas vertentes no objeto de inter-
venção profissional. Para tanto, passaremos pelas influências: dos 
postulados tomistas; do positivismo; da fenomenologia; do funcio-
nalismo; e do estruturalismo.
1.1 O projeto tradicional 
Vídeo O projeto tradicional tinha suas práticas pautadas em ações mera-
mente caritativas, assistencialistas, e orientação de cunho confessio-
nal, devido a influência da Igreja católica. O Serviço Social tradicional 
foi marcado por uma postura subalterna, os profissionais da área eram 
10 Fundamentos teóricos e metodológicos do Serviço Social II
vistos apenas como executores de políticas sociais, mas não faziam par-
te dos processos de planejamento e elaboração dessas políticas. Des-
conheciam os processos de reconhecimento, avaliação e proposição 
de ações para as realidades e tinham seu fazer profissional focado na 
manutenção da ordem e no controle social dos indivíduos. A postura 
profissional era marcada pela neutralidade frente aos acontecimentos 
e ao contexto brasileiro, “[...] revelando a alienação diante do quadro 
político do país [...]” (ASSUMPÇÃO; CARRAPEIRO, 2014, p. 107).
Para o Serviço Social, o processo de reconceituação (Movimento de 
Reconceituação), iniciado na década de 1960, representa o início de 
uma reformulação global da profissão. Tal reformulação iniciou com a 
contestação das práticas tradicionais e conservadoras dos assistentes 
sociais, porém esse movimento acabou trazendo várias outras frentes 
de revisão e problemáticas da postura profissional, questionando: os 
fundamentos ideológicos, éticos e políticos da profissão, assim como 
fez o Serviço Social repensar e avaliar suas contribuições efetivas para 
o desenvolvimento social do Brasil. Para Netto (2010), o Movimento de 
Reconceituação é parte integrante do processo nacional e internacio-
nal de ruptura com o Serviço Social “tradicional”.
Assim, esse movimento se constituiu como marco para o processo 
de revisão crítica do Serviço Social. Iniciado nos países do Cone Sul da 
América Latina (Argentina, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai), o movi-
mento surgiu em 1965, no I Seminário Latino-Americano de Serviço 
Social, realizado em Porto Alegre (RS), e apresentou duas fases: a da 
modernização e da ruptura.
No Brasil do regime militar, o Serviço Social iniciou o processo de rom-
pimento com o tradicionalismo presente na profissão até então e come-
çou a apresentar críticas e heterogeneidades nas propostas interventivas 
que fundamentavam o fazer profissional. Assim, de 1964 até meados da 
década de 1980, o Serviço Social no país atravessou um processo de re-
novação que apresentou três direções: i. perspectiva modernizadora; ii. 
reatualização do conservadorismo (conhecido também como vertente fe-
nomenológica); e iii. intenção de ruptura.
Por meio dessas direções se desenvolveram as principais linhas de 
reflexão profissional no Brasil. Ao examinar as produções científicas 
da profissão difundidas nesse período, você verá que o processo de 
renovação se configurou como cumulativo, com distinto arcabouço 
teórico-cultural e ideológico-político. Esse processo cumulativo fez-se 
Os elementos que contribuíram 
para a degradação do Serviço 
Social tradicional foram:
⋅ não se adequar metodologi-
camente às necessidades e 
mudanças no contexto do país;
⋅ a prática empirista diante dos 
problemas sociais, exigindo 
uma análise e mudança 
conceitual do serviço social;
⋅ a ausência de uma metodologia 
da profissão, necessidade de 
funções para além de executo-
res de políticas sociais.
Importante
Projetos profissionais e intervenção conservadora no Serviço Social 11
presente em “três momentos privilegiados de condensação da refle-
xão: o primeiro cobre a segunda metade dos anos sessenta, o segundo 
é constatável um decênio depois e o terceiro se localiza na abertura 
dos anos oitenta”, conforme afirma Netto (2010, p. 152).
Essa separação cronológica está relacionada às direções profissio-
nais diferentes registradas nos três contextos históricos descritos por 
Netto (2010). Desse modo, resumindo o processo de renovação e os 
organismos profissionais que estimulam, alimentam e discutem a sua 
base, é possível afirmar que:
a renovação se inicia mediante a ação organizadora de uma enti-
dade que aglutina profissionais e docentes, em seguida tem seu 
centro de gravitação transferido para o interior das agências de 
formação e, enfim, espraia-se desses núcleos para organismos 
de clara funcionalidade na imediata representação da categoria 
profissional (NETTO, 2010, p. 153).
Assim, o processo de renovação deve ser visto como um plura-
lismo de profissionais e docentes no interior do Serviço Social. Ele é 
produto de um processo histórico que possibilitou enxergar critica-
mente a realidade. Além disso, por meio da diversidade nas dimensões 
teórico-metodológicas, ético-políticas e técnico-operativas, foi possível 
analisar, repensar e renovar o saber e o fazer dos assistentes sociais.
1.2 O projeto modernizador 
Vídeo Considerada a primeira expressão do processo de renovação, a 
perspectiva modernizadora surgiu com o objetivo de adequar o Serviço 
Social às demandas do contexto histórico brasileiro. Esse projeto se ca-
racterizou como uma linha de desenvolvimento profissional, cujo ápice 
foi na metade da década de 1960 (NETTO, 2010). Nessa perspectiva, a 
base é a tematização do Serviço Social. Ela ganha força nesse processo 
de crise do tradicionalismo, que marca e limita a profissão, e tem como 
objetivo principal adequar o Serviço Social às demandas do militarismo 
vigentes na época. Netto (2010, p. 154) ressalta:
uma perspectiva modernizadora para as concepções 
profissionais – um esforço no sentido de adequar o Serviço So-
cial, enquanto instrumento de intervenção inserida no arsenal 
de técnicas sociais a ser operacionalizado no marco de estraté-
gias de desenvolvimento capitalista, às exigências postas pelos 
processos sociopolíticos emergentes no pós-64.
12 Fundamentos teóricos e metodológicos do Serviço Social II
Marcada pelo discurso sobre o desenvolvimento social, a perspecti-
va modernizadora revela demasiado vínculo com a ordem sociopolítica 
proveniente do golpe militar de 1964, com um posicionamento tipica-
mente estrutural-funcionalista 1 , ou seja, um posicionamento que visa-
va à adequação dos indivíduos às normas sociais. Essa perspectiva foi a 
expressão da renovação profissional adequada às normas e exigências 
da autocracia burguesa (NETTO, 1976). No seu plano ideal, buscou-se 
certa tecnicidade, cuja base profissional consistia em conhecimentos 
técnicos que fossem capazes de interferir e modificar a realidade social.
Portanto, a perspectiva modernizadora foi uma tendência que 
objetivava incorporar bases teóricas e científicas ao saber e ao fazer 
dos profissionais. Ela revelou a necessidade de buscar um método 
científico, sem, no entanto, romper com as bases do tradicionalismo 
que marcaram o surgimento do Serviço Social.
Com posicionamentos estrutural-funcionalistas, essa perspecti-
va teve como pano de fundo o positivismo. Na direção positivista, o 
método científico visava analisar o contexto, a sociedade e as suas re-
lações de classe. Nesse sentido, por ter um forte traço conservador, de-
vemos considerar que o positivismo é incompatível com um segmento 
profissional crítico.
A materialização das ideias dessa perspectiva modernizadora teve 
seu augenos documentos fundamentais de teorização resultantes dos 
seminários de Serviço Social realizados em Araxá (MG), em 1967, e em 
Teresópolis (RJ), em 1970, organizados pelo Centro Brasileiro de Coope-
ração e Intercâmbio de Serviços Sociais (CBCISS). Nesses documentos, 
há uma preocupação dos profissionais de Serviço Social com o aperfei-
çoamento dos instrumentais técnico-operativos, com os procedimen-
tos teórico-metodológicos e com os padrões de eficiência.
A partir dos anos 1970, a perspectiva modernizadora foi ques-
tionada frente à dinâmica sociocultural e política do regime militar. 
No entanto, a perda da legitimidade da ditadura, em meados de 
1974, possibilitou o desenvolvimento do pensamento crítico dentro 
do Serviço Social e a criação dos cursos de pós-graduação na área. 
Além disso, as considerações sobre a reforma universitária, tema de 
debates nos anos anteriores (1968), contribuíram para que muitos 
assistentes sociais não se auto representassem mais, doravante a 
perspectiva modernizadora.
Integração dos indivíduos em 
uma estrutura/norma social.
1
Positivismo foi uma corrente 
filosófica que surgiu no século 
XIX, na França, idealizada por 
Auguste Comte e grande 
influenciadora dos trabalhos 
de John Stuart Mill, no âmbito 
político. A filosofia positivista 
defendia que o conhecimento 
científico era a única forma de 
compreender os fenômenos 
sociais e da natureza, e essa 
compreensão deveria se dar pela 
observação sensível dos fatos e 
fenômenos (empirismo).
Saiba mais
Projetos profissionais e intervenção conservadora no Serviço Social 13
1.3 O projeto de reatualização 
do conservadorismo Vídeo
A reatualização do conservadorismo é uma vertente que recupera 
os componentes originários da herança histórica e conservadora da 
gênese profissional. Ela recupera o vínculo tradicional com a doutrina 
da Igreja católica e foca sua intervenção na centralidade da pessoa, 
dos sujeitos. Conforme aponta Netto (2010, p. 157):
essencial e estruturalmente, esta perspectiva faz-se legatária 
das características que conferiam à profissão uma visão de 
mundo derivada do pensamento católico tradicional: mas o fez 
com um verniz de modernidade ausente no anterior tradicio-
nalismo profissional, à base das mais explícitas reservas aos li-
mites dos referenciais de extração positivista. Aí, exatamente, 
o seu caráter renovador em confronto com o passado: o que 
se opera é uma reatualização dele, com um consciente esforço 
para fundá-lo em matrizes intelectuais mais sofisticadas.
Considerada a perspectiva que se interpõe entre a perspectiva 
modernizadora e a perspectiva de ruptura, a reatualização do con-
servadorismo se apresenta como um terceiro caminho aos plura-
lismos teórico-metodológicos oriundos do processo de renovação 
do ser e do fazer dos profissionais de Serviço Social. Para Netto 
(2010), a complexa dialética de ruptura e a continuidade vinculada 
ao passado profissional encontram-se no interior da perspectiva 
de reatualização do conservadorismo, e isso não exerce desvalori-
zação ou prejuízos aos elementos renovadores que são apresenta-
dos nessa perspectiva.
Tendo como polo difusor de suas ideias as instituições de en-
sino superior do Rio de Janeiro e de São Paulo, a reatualização do 
conservadorismo expressa uma inspiração fe-
nomenológica (forma como o sujeito percebe 
a realidade na qual vive e convive) no interior 
do Serviço Social, relacionando o exercício pro-
fissional ao circuito da ajuda psicossocial 2 . 
Essa inspiração ajudou a reforçar as práticas tra-
dicionalistas e conservadoras, as quais a categoria 
profissional buscava superar.
O atendimento psicossocial 
destinado a jovens, adultos e 
famílias que se encontrem em 
situação de vulnerabilidade 
emocional e social é feito 
por uma equipe multidisci-
plinar de saúde (assistentes 
sociais, psicólogos, psiquiatras e 
psicopedagogos).
2
14 Fundamentos teóricos e metodológicos do Serviço Social II
Como atuaria um profissional fenomenológico?
Vamos imaginar uma situação hipotética: você está realizando uma pesquisa com usuários de drogas 
e sua crença pessoal é de que as drogas fazem mal e não devem ser consumidas, pois prejudicam a 
saúde e a vida. Para atuar a partir da fenomenologia, você deverá deixar suas concepções pessoais de 
lado e ouvir o usuário, deverá levar em consideração o que significa para o sujeito consumir drogas; 
deverá conhecer esse sujeito e compreender como ele construiu essa determinada opinião, a partir de 
sua consciência.
O que importa, nesse caso, não é sua intenção de resgate do sujeito, mas sim em compreender a con-
cepção de mundo desse sujeito e focar exclusivamente na experiência dele, pois essa é a sua realidade.
Para refletir
Essa inspiração ajudou a reforçar as práticas tradicionalistas e 
conservadoras, as quais a categoria profissional buscava superar. 
Considerada pioneira e um marco nas formulações dessa perspecti-
va, a autora Ana Augusta de Almeida (1978) traz em sua tese de livre-
-docência, um texto básico que surge como uma “nova proposta”: as 
ideias de cientificidade de cunho fenomenológico aliadas ao processo 
teórico-profissional. Nas palavras de Almeida (1978, p. 11 apud NETTO, 
2010, n.p): “nossas preocupações fundamentais estão apoiadas em 
critérios a partir da compreensão homem e mundo, orientada numa 
hermenêutica da realidade pela teoria personalista do conhecimento, 
por uma fenomenologia existencial e por uma ética cristã motivante”.
Em relação ao suporte metodológico da fenomenologia, o autor apon-
ta que é um traço relacionado à reatualização do conservadorismo.
Antes do seu surgimento, o pensamento fenomenológico era 
verdadeiramente desconhecido na elaboração profissional bra-
sileira. Aliás, entre nós a incidência desse pensamento sobre as 
ciências sociais não possui grande lastro, fato que por si só sina-
liza, além da recepção relativamente tardia da postura fenome-
nológica na cultura do nosso país, a relevância da reivindicação. 
(NETTO, 2010, p. 153)
Nas obras que apresentam esse pensamento fenomenológico 
não foram encontradas referências a um suposto projeto socie-
tário para o Serviço Social. Nessas reflexões o foco é sobre o en-
tendimento do fazer profissional como uma ajuda psicossocial aos 
seus usuários. Essa ajuda proposta pelo eixo psicossocial conside-
ra a transformação ou o ajustamento da subjetividade do sujeito a 
sociedade.
Projetos profissionais e intervenção conservadora no Serviço Social 15
Essa vertente de reatualização do conservadorismo, como menciona 
Netto (2010), não registra uma polêmica viva em torno das suas propo-
sições. Dessa forma, você pode considerar que ela não impôs mudanças 
relevantes ao fazer profissional, pois manteve em seu processo algumas 
práticas conservadoras. Além disso, não propôs um projeto societário para 
a pauta de debates que se operavam no seio do Serviço Social brasileiro.
São críticas à corrente filosófica da fenomenologia como método para o fazer profissional:
⋅ Não incluir/considerar os fenômenos estruturais da sociedade, como: os conflitos de classes, a discussão de 
dominação sobre os trabalhadores, as relações de poder e a correlação de forças.
⋅ Fragmentar a realidade social, não considerando os fatos e a realidade como um todo.
⋅ Não validar a historicidade dos fatos sociais, deixando de lado normas culturais e estruturais da sociedade que 
podem exercer influência e controle social.
Saiba mais
1.4 O projeto de ruptura com o conservadorismo 
Vídeo Com a crise final da ditadura (regime militar) e a emergência das 
demandas do operariado no cenário sociopolítico do país, na passa-
gem dos anos 1970 para os anos 1980, nasceu no Serviço Social a 
perspectiva de intenção de ruptura. Nesse período o Brasil viveu o 
crescimento e a massificação dos movimentos populares con-
trários ao regime militar. Além disso, o movimento estudantil e 
o sindicalismo, apoiados pelos estudantes e trabalhadores, ga-
nharam força. Nesse contexto, comprometida com umapro-
posta de criar um projeto societário alternativo ao domínio 
capitalista, a categoria profissional do Serviço Social assumiu um posi-
cionamento ligado à classe trabalhadora, inserindo-se e associando-se 
a grupos sociais e partidos políticos que fossem favoráveis à ideia de 
emancipação societária e humana.
A perspectiva da vertente de intenção de ruptura buscava o rom-
pimento total com o tradicionalismo histórico presente no Serviço 
Social. Ao contrário das duas vertentes anteriores, essa possui como 
base uma crítica sistemática ao desempenho e atuação “tradicional e 
aos seus aportes teóricos, metodológicos e ideológicos” (NETTO, 2010, 
p. 159). Um dos marcos dessa intenção de ruptura foi sua criticidade à 
ordem societária estabelecida e vigente no país. Essa vertente foi con-
siderada antagônica à autocracia burguesa, recorrendo aos ideais do 
operariado: segmento social 
constituído pelos operários.
Glossário
16 Fundamentos teóricos e metodológicos do Serviço Social II
pensamento marxista que eram percebidos como pensamentos pro-
gressistas pela sociedade.
Com relação à expressão da perspectiva da vertente de intenção de 
ruptura, veja o que afirma Netto (2010, p. 160):
na primeira metade dos anos oitenta, é esta perspectiva que dá 
o tom à polêmica profissional e fixa as características da retórica 
politizada (com nítidas tendências à partidarização) de vanguar-
das profissionais de maior incidência na categoria, permeando o 
que há de mais ressonante na relação entre esta e a sociedade 
– e de tal forma fornece a impressão de possuir uma inconteste 
hegemonia no universo profissional.
Essa vertente é marcada pela formação de uma massa crítica de 
assistentes sociais, e sua formulação inicial tem como cenário a Escola de 
Serviço Social da Universidade Católica de Minas Gerais (hoje, PUCMG). 
A intenção de ruptura surge da inquietude de jovens, recém-formados, 
assistentes sociais que “elaboraram [...] uma alternativa que procurava 
romper com o tradicionalismo no plano teórico-metodológico, no plano 
da intervenção profissional e no plano da formação” (NETTO, 2005, p. 263).
A participação dos trabalhadores como sujeitos políticos e de direi-
tos teve influência muito significativa e definitiva sobre as instituições 
de ensino superior, a partir de 1968. Por meio das reforma universitá-
ria, são criados os cursos de pós-graduação em Serviço Social e então 
começou a surgir um perfil de profissional acadêmico com dedicação 
exclusiva à pesquisa, ao trabalho científico. O pensamento crítico se 
desenvolveu no seio da universidade, muito atrelado à existência de 
um ambiente rico culturalmente e dotado de certa autonomia. Nesse 
contexto, é evidente a vinculação à universidade. Sobre essa caracterís-
tica, Netto (2010, p. 250) escreve que:
universidade enquadrada e amordaçada nunca foi um território 
livre; no entanto, pelas próprias peculiaridades do espaço aca-
dêmico, este se apresentava como menos adverso que os ou-
tros para apostas de rompimento; era, comparado aos demais, 
uma espécie de ponto fulcral na linha menor da resistência. 
Permitiria, se as condições fossem minimamente favoráveis, na 
conjunção da pesquisa e extensão, o atendimento de necessida-
des de elaboração e experimento – estas eram absolutamente 
imprescindíveis ao projeto de ruptura.
Por essa razão, a intenção de ruptura evidenciou-se primeiramen-
te como um produto do ambiente universitário. Os espaços acadê-
Projetos profissionais e intervenção conservadora no Serviço Social 17
micos permitiram uma interação intelectual entre os profissionais. 
Nesse espaço se pôde quebrar o isolamento intelectual do assistente 
social e viabilizar experiências de práticas autogeridas (NETTO, 2010). 
Ou seja, os profissionais passavam a trocar experiências e saberes, 
compartilhar suas práticas, antes solitárias, e, por meio dessa troca, 
estabelecer características de atuação profissional, estudar perfis e 
comunidades e propor melhorias às práticas, até então, geridas isola-
damente e individualmente.
A perspectiva dessa intenção de ruptura passou por diversos mo-
mentos constitutivos, eles incluem desde a sua emergência dentro dos 
espaços universitários até a construção dos seus produtos mais típicos 
e influentes. Em síntese, a perspectiva se divide em três fases diferen-
tes: i. emersão; ii. consolidação acadêmica; e iii. espraiamento sobre a 
categoria profissional.
O processo de emersão (primeira fase) está historicamente situa-
do na Escola de Serviço Social da Universidade Católica de Minas Ge-
rais, no qual se formulou o chamado método de BH (Belo Horizonte). 
Surgiu da inquietude de um grupo de jovens profissionais a intenção 
de ruptura com essas posturas conservadoras. Não se iniciou em Belo 
Horizonte acidentalmente.
Historicamente, Minas Gerais foi palco de diversas manifestações, 
em especial, a capital mineira foi um sítio de elites reacionárias e 
aguerridas que contribuíram para o golpe de 1964. No entanto, ali 
também estavam situados importantes movimentos sindicais (como o 
movimento metalúrgico) e movimentos populares. Além disso, na cida-
de existia uma forte tradição de movimento estudantil, não só demo-
crático, mas com impulsão de viés revolucionário e socialista (NETTO, 
2010). Essa conjuntura cultural e sociopolítica torna Belo Horizonte o 
berço adequado para o início do projeto profissional de ruptura.
Em um primeiro momento tinha-se a impressão de que a emergên-
cia da intenção de ruptura seria algo passageiro. No entanto, alguns 
trabalhos de conclusão de cursos de pós-graduação (TCC) dos assisten-
tes sociais no final dos anos 1970 revelam uma recuperação da catego-
ria pela intenção de ruptura, marcando a fase dois dessa perspectiva: 
a fase de consolidação. Percebe-se no interior da categoria profissio-
nal uma recuperação que colocava o projeto de rompimento com o 
conservadorismo sobre novas bases, estritamente acadêmicas, eviden-
ciando agora sua crise (NETTO, 2010).
espraiar: irradiar-se, lançar-se 
para todos os lados.
Glossário
reacionário: que se opõe às 
mudanças sociais e políticas; 
antidemocrático.
Glossário
aguerrido: que possui 
inclinação ao combate, à luta ou 
à violência.
Glossário
18 Fundamentos teóricos e metodológicos do Serviço Social II
Dessa maneira, a categoria e as produções acadêmicas se concen-
traram nos debates teórico-metodológico e teórico-práticos dos pro-
fissionais. Essa busca pelo rompimento e por uma identidade levou a 
intenção de ruptura ao seu terceiro momento: o espraiamento para 
o conjunto da categoria profissional, conduzindo os profissionais de 
Serviço Social à inserção em fóruns, encontros, seminários e debates, o 
que acarretou a propagação dessa perspectiva.
O fato é que a incidência do projeto de intenção de ruptura, a 
partir do segundo terço da década de oitenta, penetra e enforma 
os debates da categoria profissional, dá o tom da sua produção 
intelectual, rebate na formação de quadros operada nas agên-
cias acadêmicas de ponta e atinge as organizações representati-
vas dos assistentes sociais (NETTO, 2010, p. 267).
Esse breve resgate histórico das formulações constitutivas da pers-
pectiva de intenção de ruptura (emersão, consolidação acadêmica e 
espraiamento) revela que a tendência é uma condutora do processo 
de renovação do Serviço Social no Brasil. Essa renovação, por sua vez, 
continua até hoje e busca a transformação da sociedade e dos indiví-
duos. Atualmente, tudo isso é evidenciado pelo potencial crítico e con-
testador dos profissionais de Serviço Social, que está atento às relações 
de classe existentes no modo de produção capitalista.
1.5 Objeto de intervenção: 
aproximação conceitual 
O Serviço Social, enquanto profissão, passou por importantes 
transformações, influenciadas pela conjuntura sociopolítica em 
que estava inserido. Não há como dissociar o Serviço Social do seu 
contexto histórico. Para essa compreensão, é necessário estudar a 
influência dos tomistas, dos positivistas, dafenomenologia, do fun-
cionalismo e do estruturalismo.
1.5.1 Influência dos postulados tomistas
O Serviço Social é uma profissão historicamente determinada e 
construída no seio das relações sociais mais amplas, atuando, sobre-
tudo, com as expressões de questões sociais que surgiram do embate 
entre capital e trabalho. Nesse contexto, era possível ver motivações 
Como ficou conhecido o método 
desenvolvido na Universidade 
Católica de Minas Gerais (mé-
todo BH) vinculado à vertente 
do processo de renovação do 
Serviço Social Brasileiro?
Atividade 1
Vídeo
Projetos profissionais e intervenção conservadora no Serviço Social 19
éticas na atuação do serviço social, porém suas mediações ético-morais 
se pautavam no tratamento da questão social por esse viés, mas legi-
timando os interesses do Estado burguês e da Igreja em manter a tra-
dição (de exploração e opressão), seu status quo e o controle social dos 
trabalhadores, evitando greves ou manifestações.
O conservadorismo moral esteve presente no Serviço Social desde a 
sua formação até a atuação profissional por meio das ideias positivistas; 
havia um conformismo com o que era posto. As ideias contrárias à ordem 
estabelecida eram tratadas como desajustamentos, as quais deveriam se 
ajustar segundo a moral e costumes vigentes. Portanto, o assistente social 
trabalhava na criação/mediação de consensos, pois a sociedade precisava 
ser um corpo coeso. Já o discurso ético, com ênfase na moral, remetia à 
conservação dessa ordem, e qualquer manifestação era entendida como 
uma tentativa de ruptura com essa ordem estabelecida.
Em paralelo, o capital evidencia e aprofunda a contradição (capi-
tal x trabalho) no contexto dos monopólios, assim, as reivindicações e 
possíveis revoltas da classe trabalhadora deveriam ser contidas, a fim 
de garantir a reprodução da força de trabalho. A moral era usada como 
resposta para bloquear o potencial emancipador das lutas proletárias. 
Nesse contexto histórico, político, econômico e social, construiu-se a 
ética profissional do Serviço Social no Brasil, com a influência do neo-
tomismo. A ética presente na profissão é demarcada nas disciplinas de 
ética e filosofia, que reproduzem alguns princípios balizados no tomis-
mo, no positivismo e no conservadorismo.
Conforme aponta Barroco (2010, p. 91):
o neotomismo repõe, sob novas determinações históricas, a filo-
sofia tomista. Para esse pensamento filosófico de base teológica, 
o princípio da existência de Deus confere uma hierarquia aos va-
lores morais, tendo em vista sua subordinação às “leis naturais” 
decorrentes das “leis divinas”. A natureza humana é considerada 
a partir de uma “ordem universal imutável”, donde as funções 
inerentes a cada ser apresentarem-se como necessárias à “har-
monia” do conjunto social, cuja realização leva ao “bem comum” 
ou à “felicidade geral”.
No Brasil, o Serviço social surgiu nos anos 1930. Nesse período o 
neotomismo se difundiu nas escolas como uma matriz teórica para o 
desenvolvimento das ações profissionais, influenciando a profissão na 
Europa; já o pragmatismo e personalismo a influenciaram nos Estados 
Tomismo é uma filosofia do 
século XIII, ancorada nas ideias 
de Tomás de Aquino, que 
argumenta que a fé e a razão 
são diferentes, não podem ser 
confundidas, nem são contrárias, 
pois ambas vêm de Deus. 
Essa filosofia busca encontrar 
respostas para o raciocínio, 
conhecimento e realismo, 
unificando a verdade e a fé, da 
razão e do senso comum (aquele 
que nasce espontaneamente, 
sendo ele uma razão natural) 
(STRAUSS, 2014).
Saiba mais
20 Fundamentos teóricos e metodológicos do Serviço Social II
Unidos, voltando seu pensamento ao combate do materialismo, evolu-
cionismo e racionalismo. No Brasil, houve uma interação entre as duas 
vertentes, resultando no sincretismo cultural-ideológico, que foi inter-
nalizado pelo serviço social brasileiro.
O Neotomismo foi fundamentado em duas encíclicas papais: En-
cíclicas Rerum Novarum (1881) e Quadragésimo Ano (1921). Essas 
cartas orientavam que os católicos deveriam se envolver com os 
problemas sociais resultantes das desigualdades sociais, em particu-
lar com os problemas de exploração dos operários. Essas cartas tra-
ziam suas concepções de homem e de mundo inspiradas na filosofia 
neotomista. A partir dessa compreensão da Igreja, de sua sugestão 
doutrinária, os primeiros profissionais de serviço social, por esta-
rem vinculados e trabalharem para a Igreja traziam em suas práticas 
uma filiação ao neotomismo.
A partir dessa idealização de projeto societário, os primeiros 
assistentes sociais recusavam, como sugeria a Igreja Católica, o 
comunismo e o liberalismo. Interpretavam o comunismo como 
uma teoria social refutável porque postula um projeto societário 
erigido por uma compreensão materialista do homem. Refuta-
vam-no, ainda, porque o entendiam como uma “doutrina tota-
litária”, com princípios incongruentes com o conceito de pessoa 
humana. E é por esta mesma via, pela sua incompatibilidade com 
a natureza humana, que estes assistentes sociais interpretavam 
os princípios do liberalismo como uma “doutrina individualista”. 
(GUEDES, 2001, on-line)
A moralidade tratada no neotomismo visava a autorrealização da 
pessoa, objetivando valores universais que tinham como finalidade 
o aperfeiçoamento humano; já a obediência às leis morais era uma 
aproximação com Deus. A liberdade concedida ao ser humano se 
materializava no livre-arbítrio, porém o discurso enfatizava que nem 
sempre suas escolhas eram direcionadas para fazer o bem, logo este 
livre arbítrio levaria, naturalmente, o homem a seguir sua natureza 
humana, supostamente má. Assim, para se afastar do mal, ele deveria 
se habituar a realizar o bem. Segundo Barroco (2010, p. 92), “cabe, 
pois, às instituições responsáveis pela ordem moral e espiritual da so-
ciedade, família e Igreja desencadearem uma ação que busque atua-
lizar as potencialidades humanas, o que significa levar os homens a 
cumprir sua função”.
Projetos profissionais e intervenção conservadora no Serviço Social 21
Os valores universais do neotomismo eram reproduzidos a partir 
dos valores e princípios dados pela fé, os quais, traduzidos pela Igre-
ja católica, adquiriram uma direção político-ideológica determinada. 
Dessa maneira, o neotomismo se inseriu como uma matriz teórica 
da doutrina social e, ainda, no projeto político-ideológico de recris-
tianização da sociedade diante da questão social.
Sob tais condições, institui-se um dado ethos profissional 
que se desdobra nas várias dimensões que compõem a ética 
profissional do Serviço Social – sua prática moral, sua mora-
lidade sua sustentação filosófica e sua expressão formal: o 
Código de Ética. […] Esse ethos passa a compor sua imagem 
social historicamente legitimada: o assistente social deve ser 
um exemplo de “integridade” moral, o que, concebido a partir 
do conservadorismo ético, irá se expressar em normas de con-
duta que abrangem inclusive sua vida pessoal, impondo-lhe 
deveres e normas de comportamento. (BARROCO, 2010, p. 93)
Dessa maneira, a moral fazia parte das ações educativas e 
assistenciais. Esses programas eram organizados e pensados pelo 
Estado, juntamente com os empresários, e aplicados por assistentes 
sociais, pelo perfil moralizador da profissão naquela época. Os profis-
sionais tinham como objetivo eliminar os desajustes sociais e acredita-
vam que uma intervenção moralizadora, realizada de forma individual 
e psicologizante poderia ajudar os desajustados e manter o controle da 
sociedade. Já os problemas sociais eram encarados como um conjunto 
de disfunções sociais, julgadas pelo viés moral, de acordo com o que se 
considerava normal naquele contexto pelos valores cristãos.
Essa tendência de atuação profissional compreendia as deman-
das por direitos como patologias sociais, assim, o Serviço Social não 
viabilizava que seria de sua responsabilidade atender às necessida-
des dos cidadãos e promover objetivamente seus direitos. Portanto, 
aomoralizar as expressões da questão social, reproduzia-se uma 
ética profissional preconceituosa e conservadora.
A partir do momento em que as ações profissionais adquirem 
uma objetividade ético-política, que oculta os elementos da questão 
social e transfere a base material das desigualdades para a esfera 
moral, isso lhe confere um sentido negativo, uma vez que se torna 
um instrumento de alienação e negação da liberdade, favorecendo a 
sociabilidade reificada da burguesia.
ethos: conjunto de traços, cos-
tumes e comportamentos que 
caracterizam uma comunidade.
Glossário
22 Fundamentos teóricos e metodológicos do Serviço Social II
Considera-se que, na matriz neotomista, a concepção do ser hu-
mano como pessoa permitiu aos primeiros assistentes sociais com-
pactuar com as diretrizes doutrinárias da Igreja católica na década 
de 1930. Consequentemente os profissionais buscavam manter dis-
tância de ações de filantropia – assistencialistas –, pois a atuação 
dos profissionais, ancorada nos preceitos neotomistas, tinha um 
viés técnico que acreditava que os indivíduos tinham a possibilidade 
de mudar suas condições de vida, saindo da miséria, realizando-se e 
crescendo, apenas com esforço pessoal.
1.5.2 Influência do positivismo
A teoria positivista surgiu na França no início do século XIX, com 
base nos ensinamentos de Auguste Comte, e ganhou força na Eu-
ropa em meados do século XIX e início do século XX, quando tam-
bém chegou ao Brasil. Com as transformações no cenário político, 
econômico e social vivenciadas no Brasil nos anos 1940, também 
houve uma mudança considerável no Serviço Social brasileiro. Essa 
alteração se deu por meio da modificação da filosofia adotada na 
atuação profissional. Com a aproximação do Serviço Social america-
no, a partir da década de 1940, o Brasil teve contato com propostas 
de trabalho influenciadas pela teoria social positivista.
Assim, influenciado pela sua vertente norte-americana, o Serviço 
Social brasileiro e seu pensamento pautado na doutrina social da 
Igreja católica e no ideário franco-belga sofreram mudanças. Nos 
Estados Unidos, o Serviço Social era permeado pelo caráter também 
conservador da teoria social positivista-funcionalista.
A aproximação com o Serviço Social norte-americano, tanto no 
Brasil quanto na América Latina, ocorreu após a Segunda Guerra 
Mundial, pela incorporação das teorias estruturais-funcionalistas 3 
por meio da metodologia de intervenção de caso, grupo e comu-
nidade. “Da matriz positivista derivam as vertentes denominadas 
de funcionalismo, estruturalismo e estrutural-funcionalismo, assen-
tadas na abordagem instrumental e manipuladora da realidade” 
(SIMIONATTO, 2009, p. 104, grifos nossos).
Transformações no Brasil 
nos anos de 1940
Conhecido como Estado Novo 
(Governo de Getúlio Vargas), 
esse foi o período em que se 
estabeleceram as primeiras 
legislações sociais no Brasil. 
Getúlio Vargas se aproximou dos 
operários, escutou seus proble-
mas e sugestões, e então criou 
um projeto político conhecido 
como trabalhismo. Nesse projeto 
trazia benefícios para a classe 
trabalhadora como: salário 
mínimo e a CLT (Consolidação 
das Leis de Trabalho).
Saiba mais
É uma teoria que explica o 
funcionamento/organização de 
uma sociedade por meio de suas 
ações sociais, ou seja, de que 
forma as ações dos indivíduos 
influenciam no funcionamento 
da sociedade.
3
Projetos profissionais e intervenção conservadora no Serviço Social 23
No período influenciado pelo positivismo, algumas vertentes de trabalho se destacaram, como:
⋅ Serviço Social de caso: pautado nos estudos de Mary Richmond, Porter Lee e Gordon Hamilton, preocupa-
va-se com a personalidade do cliente (assim eram chamados os usuários do Serviço Social).
⋅ Serviço Social de grupo: autores de maior influência, como Gisela Konopka e Robert Vinter, buscavam 
auxiliar os sujeitos em seu autodesenvolvimento e no ajuste a valores e normas vigentes no ambiente em que 
vivem.
⋅ Serviço Social de comunidade: objetivava desenvolver os indivíduos socialmente e promover relações 
eficientes entre eles, para que haja um desenvolvimento equilibrado e harmonioso.
Saiba mais
A incorporação do Serviço Social norte-americano e da teoria posi-
tivista de Comte vem com a proposta de conter as demandas crescen-
tes apresentadas pela classe trabalhadora mais empobrecida, que não 
acessa bens e serviços. Além disso, a ideia era atender às demandas 
inerentes ao processo de reprodução das relações sociais já existentes.
O sistema comteano surge como sustentáculo da ordem bur-
guesa, uma vez que as estruturas econômicas, sociais e políticas 
estabelecidas pela burguesia precisavam, para sua perpetuação, 
de um ideário, um sistema explicativo capaz de afastar as amea-
ças das lutas sociais e políticas que emergiam nesse contexto. 
Ao estudar a sociedade segundo as leis da natureza, tendo como 
modelo a biologia, a filosofia positivista a concebe como uma 
ordem natural que não pode ser mudada e à qual os homens 
devem submeter-se. (SIMIONATTO, 2009, p. 103)
É a partir da aproximação com a teoria positivista que o Serviço So-
cial brasileiro teve um aporte teórico-metodológico que foi importante 
para a sua qualificação profissional e para a sua modernização teórica 
e prática.
Você deve notar que a matriz teórica positivista não rompe com o 
conservadorismo do Serviço Social. Afinal, a teoria social, estruturada 
nas ideias positivistas, trata as relações sociais, a partir da vivência ime-
diata dos indivíduos, como fatos que se expõem em suas objetividades 
e imediaticidades, restrigindo suas experiências à verificação, experi-
mentação e fragmentação. Nesse sentido, as mudanças levam a con-
servação e a preservação da ordem estabelecida, ou seja, a mudança 
culmina no ajuste social (SILVA, 2004).
Apesar de o positivismo defender que o conhecimento científi-
co deve ser reconhecido como o único conhecimento verdadeiro, 
É importante ressaltar que, nas 
décadas de 1940 e 1950, o Ser-
viço Social não rompe com sua 
matriz conservadora, contudo 
adota uma matriz teórica, sendo 
esse o primeiro momento em 
que se apoia realmente em uma 
teoria. No caso, a teoria de base 
positivista-funcionalista. Essa 
teoria está vinculada ao ajus-
tamento aos moldes pregados 
socialmente, assim como aos 
princípios da ajuda psicossocial, 
vinculados ao pensamento 
de Mary Richmond (1917), 
uma pioneira no serviço social 
americano. O que a norteia é 
a ideia de ajustar o indivíduo 
ao seu meio social por meio 
de um “tratamento” intensivo e 
individual.
Saiba mais
Você sabe o que é fenomeno-
logia? Ou por que assistentes 
sociais, às vezes, são confundidos 
com psicólogos? Isso pode ter 
relação com um período muito 
importante do Movimento 
de Reconceituação, em que 
os profissionais optaram por 
práticas centradas nas questões 
existenciais das pessoas. A teoria 
fenomenológica faz um convite 
para pensar nos fenômenos 
e nas essências, assim como 
a Nova Proposta, que se 
coloca como uma alterativa ao 
pensamento positivista, vigente 
no período.
Saiba mais
24 Fundamentos teóricos e metodológicos do Serviço Social II
divergindo fortemente da filosofia adotada até então pelo Serviço 
Social, isso não ocorre na sua totalidade. Embora se tenha adotado 
o Serviço Social de caso, grupo e comunidade com sua matriz teó-
rica funcionalista, o processo de manutenção do conservadorismo 
católico se manteve. Isso ocorreu, pois os bolsistas que acessavam 
bolsas de estudos concedidas pelo governo norte-americano ti-
nham como principal preocupação buscar nos Estados Unidos ins-
tituições de orientação católica (AGUIAR, 1995).
Apesar disso, você deve considerar que a utilização da matriz 
teórica positivista representou um processo importante para o 
avanço profissional, por dar ao Serviço Social caráter científico. Ela 
oportunizou pesquisas na área do Serviço Social, bem como era 
considerada um processo de modernização da profissão. Contudo, 
não rompeu com o aspecto assistencialista,vinculado à caridade e 
à ajuda aos pobres.
1.5.3 Influência da fenomenologia
Fenomenologia vem da palavra fenômeno, que significa aquilo 
que se mostra pelos sentidos, e da palavra logia, que significa ex-
plicação, estudo ou reflexão. Portanto, a fenomenologia é um con-
junto de fenômenos que se manifestam por meio do tempo ou do 
espaço; é também compreendida como um movimento filosófico e 
método que estuda a essência das coisas e a forma como elas são 
percebidas no mundo.
No que se refere à fenomenologia, destaca-se o pensador ale-
mão Edmund Husserl, cujos principais conceitos e princípios exer-
cem, ainda, grande influência no meio acadêmico.
A vertente fenomenológica surge no Serviço Social como uma 
importante parte da história da profissão em um momento em que 
se instalava uma crise global e a profissão se via fragilizada. No 
Movimento de Ruptura com o Serviço Social tradicional, a fenome-
nologia foi proposta como uma corrente teórico-metodológica que 
embasaria a construção do arcabouço teórico da profissão.
Para contextualizar o aparecimento da vertente fenomenológica 
no Serviço Social, é necessário entender o que estava acontecendo 
Qual foi a influência do Positivis-
mo no Serviço Social?
Atividade 2
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Edmund Gustav Albrecht 
Husserl (1859 – 1938) foi 
um matemático e filósofo 
alemão que rompeu com 
o pensamento positivista, 
fundando a tradição da 
fenomenologia. Ele não 
foi o único autor que 
utilizou a fenomenologia, 
mas produziu conheci-
mento de forma diferente 
dos demais autores dessa 
corrente teórica. Husserl 
escreveu sua teoria de 
maneira rigorosa e radical 
ao pensar como as coisas 
no mundo se apresentam 
na mente humana, exer-
cendo grande influência 
no meio acadêmico. Por 
isso, a sua fenomenologia 
foi uma das principais 
correntes teóricas do 
século XX.
Quem?
Projetos profissionais e intervenção conservadora no Serviço Social 25
com a categoria profissional nesse período histórico de 1965 – com 
a realização do I Seminário Regional Latino-Americano de Serviço 
Social – até 1985, quando já ocorriam profundas transformações 
na sociedade brasileira e, consequentemente, no Serviço Social.
O Movimento de Reconceituação surge com a intenção de 
ruptura com o Serviço Social tradicional. O país estava em plena 
ditadura militar, que tinha força máxima após o golpe de 1964. O 
Serviço Social, com movimentos sociais e sindicais, além das forças 
conjuntas com as universidades e os movimentos estudantis, pro-
moveu e participou de importantes eventos e mobilizações pela 
redemocratização e, também, pela ruptura da profissão com o 
conservadorismo.
Os seminários e debates da categoria profissional tiveram como 
produto os documentos de Araxá, em 1967, de Teresópolis, em 
1970, e de Sumaré, no ano de 1980. Em cada um deles se vivia 
um momento histórico diferente, com suas particularidades. Em 
alguns desses momentos, a ditadura militar amorteceu as transfor-
mações sociais e profissionais e, em outros, foi possível a realiza-
ção dos debates necessários à reconceituação.
Aconteceu em 1967, sendo o primeiro seminário de 
teorização do Serviço Social. Trouxe destaque para a 
atuação macro (indivíduos) e microssocial (políticas sociais).
Documento de Araxá:
Aconteceu em 1970, no Rio de Janeiro, foi considera-
do o cristalizador da vertente modernizadora. Tinha 
como objetivo analisar a questão da metodologia de ação 
profissional do Serviço Social.
Documento de Teresópolis:
26 Fundamentos teóricos e metodológicos do Serviço Social II
Aconteceu em 1978, em São Paulo. Trazia como pro-
posta temática discutir o Serviço Social e a cientifici-
dade; o Serviço Social e a dialética; e o Serviço Social e a 
fenomenologia.
Documento de Sumaré: 
Com a efetivação do Movimento de Reconceituação, foi alcançada 
a articulação de uma nova concepção da unidade latino-americana; a 
explicação da dimensão política da ação profissional; a interlocução 
crítica com as ciências sociais; e a inauguração do pluralismo profis-
sional (NETTO, 2005).
Houve três vertentes principais que perpassaram o Movimento de 
Reconceituação: a modernizadora, a fenomenológica e a marxista. 
Essas correntes teóricas foram identificadas em 1970 e apresentavam 
características bem distintas.
Após o golpe de 1964, houve grande repressão, especialmente a partir do Ato Institucional Nº 5, no ano de 
1968, dificultando o avanço dos debates do Movimento de Reconceituação. Os Atos Institucionais, conhecidos 
como AI, foram instrumentos legislativos criados pelos militares para legalizar suas ações políticas, a maioria 
delas de repressão a críticas e a oposição, mesmo sendo contrárias à Constituição Federal. De 1964 a 1978 
foram decretados 16 Atos Institucionais e complementares que desfiguraram as Constituições de 1946, de 1964 
a 1978. Para você ter uma ideia, o AI-1, de abril de 1964, transferia o poder político e administrativo do país 
aos militares e suspendia, por dez anos, os direitos civis e políticos dos brasileiros. Mesmo assim, no bojo do 
Movimento, ocorre o rompimento da neutralidade, o rompimento com o Serviço Social positivista, neotomista 
e funcionalista. Além disso, pretendia-se efetivar a revisão ética, teórica, metodológica, prática e política do 
Serviço Social, com o comprometimento de um novo projeto profissional e político.
Importante
A primeira vertente, a conservação modernizadora, tinha matriz 
positivista, com características tecnicistas, funcionalistas, estruturalis-
tas e sistêmicas – essa vertente é sintetizada nos documentos de Ara-
xá (1967) e Teresópolis (1970). A segunda vertente, a fenomenologia, 
surge para o Serviço Social como uma metodologia dialógica, desen-
volvimentista e reformista. Por fim, a vertente de renovação da pro-
fissão, ou marxista, compreende a sociedade das divisões de classes.
Nesse contexto, Husserl fazia críticas à psicologia experimental, 
pois não aceitava o empirismo; afirmava que a empiria (baseada na 
experiência dos indivíduos exclusivamente) não produzia o rigor ne-
Projetos profissionais e intervenção conservadora no Serviço Social 27
cessário à sua pesquisa filosófica. A proposta de Husserl era a análise 
compreensiva da consciência, pois defendia a ideia de que todas as vi-
vências se dão pela mente; nascendo daí a frase ligada ao conceito de 
intencionalidade: “toda consciência é consciência de algo” (HUSSERL, 
2006). A partir disso, foi desenvolvido por Husserl o Método de Redu-
ção Fenomenológica, cujo objetivo era o de “vasculhar” o fenômeno 
da mente. Assim, utiliza-se da expressão grega epoché para designar a 
redução fenomenológica, colocando entre parênteses ou suspenden-
do o fenômeno para a sua compreensão (MARCUS JÚNIOR, 2018). É 
uma suspensão breve da atitude natural/comum, atitude que se tem 
com as coisas do mundo, na qual abdica-se de preconceitos, de teo-
rias e de definições preestabelecidas para dar sentido às coisas do 
mundo (SCHUTZ, 2012).
Desse modo, os objetos da fenomenologia são dados absolutos 
compreendidos por intuição pura, com o propósito de desvendar as 
estruturas essenciais dos atos, chamados de noesis (aspecto subjetivo 
da vivência – perceber, lembrar, imaginar), e as entidades objetivas 
que correspondem a essas estruturas, chamado de noema (aspecto 
objetivo da vivência) (MAQUES JÚNIOR, 2018. 
Portanto, para o Serviço Social, trata-se de uma corrente de pensa-
mento a-histórica, pois não se tem interesse em colocar a historicida-
de dos fenômenos; conservadora, por não introduzir transformações 
na realidade, estudando a realidade, somente com o objetivo de des-
crevê-la ou apresentá-la tal como é; e, ainda, não aborda os conflitos 
de classes, nem as mudanças estruturais e conjunturais da sociedade 
(LIMA; COSTA, 2016).
Durante o Movimento de Reconceituação do Serviço Social, em 
meados dos anos 1970, houve a aproximação de parte dos assisten-
tes sociais com a fenomenologia, que passou a influenciar
sobremaneira no Serviço Social Brasileiropor meio da Ponti-
fícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro, que trazia, 
com Ana Augusta Almeida, uma postura fenomenológica. No 
documento de Sumaré, resultado do III Seminário de Teoriza-
ção do Serviço Social Brasileiro, é explicitada pela primeira vez a 
presença da fenomenologia no Serviço Social brasileiro. (LIMA; 
COSTA, 2016, p. 6)
Os autores ainda afirmam que a crítica do Serviço Social em relação 
à fenomenologia é a tendência dessa corrente teórica à psicologiza-
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ik
im
ed
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David Émile Durkheim 
(1858-1917), sociólogo 
francês, pode ser reco-
nhecido, juntamente com 
Max Weber, como funda-
dor da sociologia como 
disciplina universitária. 
Durkheim estudou seu 
doutorado em filosofia 
na Escola Normale Supé-
rieure. Ocupou a primeira 
cátedra de sociologia 
criada na Universidade 
de Bórdeus (França), em 
1887, e depois foi convi-
dado a ser docente nos 
cursos de sociologia e 
pedagodia na Universida-
de de Sorbonne.
Quem?
28 Fundamentos teóricos e metodológicos do Serviço Social II
ção das intervenções sociais, pois aborda “a visão existencial no tra-
balho social” (PAVÃO, 1988, p. 35) e a teoria psicossocial. Empregar a 
fenomenologia no Serviço Social por meio da intervenção profissional 
ou do “tratamento social” é resgatar o processo de ajuda psicossocial.
Portanto, a categoria profissional compreende que a fenomenolo-
gia tem um viés conservador e psicologizante da profissão, não sen-
do esse o objetivo do Movimento de Reconceituação. Buscava-se, na 
época, romper com a visão tradicional, positivista e conservadora do 
Serviço Social, e conclui-se que a fenomenologia não proporcionava 
essa ruptura.
1.5.4 Influência do funcionalismo
A teoria funcionalista teve como influenciador os estudos de Émile 
Durkheim, sobretudo em relação ao conceito de fato social. Durkheim 
é considerado o fundador da sociologia como ciência independente.
Considerado um holista metodológico, distinguindo entre cau-
sas, funções e estruturas, Durkheim enriqueceu o pensamento 
de seus antecessores e forneceu uma sólida base para o desen-
volvimento do paradigma funcionalista. Quanto à sua teoriza-
ção, Durkheim se situa no contexto da sociologia da regulação. 
Sua sociologia reflete uma preferência pela ordem como força 
principal nas questões sociais, como ressaltam Burrell e Mor-
gan (1994). Sua preocupação com o status quo, a ordem social, 
o consenso, a integração e coesão social, e a solidariedade o 
caracterizam como um legítimo sociólogo da ordem e da regu-
lação. (CABRAL, 2004, p. 6)
Na visão de Durkheim, fatos sociais podem ser definidos como 
todo o modo de agir que possa exercer alguma forma de coerção 
externa aos indivíduos, independente das manifestações individuais 
que possam determinar como as pessoas devam agir diante de restri-
ções e oportunidades manifestas na vida social.
Para o criador da escola sociológica francesa, a sociedade 
caracterizar-se-ia como fato sui generis, irredutível a qualquer 
outra instância explicativa que não aquela radicada no conjun-
to desses mesmos fatos – por ele conceituados fatos sociais. 
Em seu conjunto, fatos sociais seriam sinônimos do que o 
autor também denominou consciência coletiva ou mentalida-
de coletiva, instância difusa pelo grupamento social e radicada 
Projetos profissionais e intervenção conservadora no Serviço Social 29
no inconsciente dos agentes sociais. Com efeito, essa instân-
cia de caráter representacional apresentaria traços específicos 
que dela fariam uma realidade singular independente dos ele-
mentos pessoais, agentes ou indivíduos. (SABINO; CARVALHO, 
2013, p. 216)
Leia o artigo A teoria do fato social em Durkheim e os elementos de conexão 
para uma análise sociológica do tributo, publicado pela Revista de Informação 
Legislativa, que aborda o tributo como fato social e se constitui em um traço 
importante para entender a evolução dos povos, das instituições políticas e 
de suas transformações.
Acesso em: 25 ago. 2020. 
http://www2.senado.leg.br/bdsf/handle/id/496614
Artigo
A compreensão dos fatos sociais, foco do livro As regras do méto-
do sociológico, de Durkheim (publicado pela primeira vez em 1895), 
deve ser diferente dos fatos biológicos ou psicológicos. Sua leitura 
possibilita o delineamento e a delimitação do território e dos limi-
tes de estudo da sociologia. Considerando-se fato social como um 
conjunto de regras tácitas capaz de exercer algum tipo de coerção 
sobre o indivíduo, sendo essas regras independentes e exteriores ao 
individuo (completamente alheias às escolhas dos indivíduos) e são 
estabelecidas em toda a sociedade. Para o autor, qualquer modo 
de agir, permanente ou não, que possa exercer alguma forma de 
coesão (imposição) externa ao indivíduo é denominado fato social.
A primeira característica dos fatos sociais é seu caráter exter-
no. Trata-se de fenômenos que extrapolam o âmbito dos in-
divíduos e de suas consciências particulares. Sua existência é 
um dos indícios da prevalência da sociedade sobre os indiví-
duos. Sua anterioridade deve ser entendida tanto no sentido 
histórico como conceitualmente. Nascemos no interior de um 
mundo já constituído, bem definido, com uma estrutura pró-
pria. Além disso, o indivíduo não é mais que um elemento de 
um nexo de múltiplas interações que constitui a sociedade. Os 
exemplos apresentados por Durkheim destacam a regularida-
de, o caráter impessoal, a objetividade dos fenômenos sociais, 
mas também antecipam a lista dos assuntos que serão os 
alvos prioritários da investigação sociológica: a família, a polí-
tica e o Estado, a educação, o direito, a religião, as formas de 
conhecimento, a economia, as profissões. (MUSSE, 2011, p. 11)
http://www2.senado.leg.br/bdsf/handle/id/496614
30 Fundamentos teóricos e metodológicos do Serviço Social II
A base do pensamento de Émile Durkheim pode ser encontrada em seus livros:
Livro
As formas elementares da vida 
religiosa (1912). Nesse livro, 
realiza uma análise sobre 
a religiosidade (rituais e 
crenças).
Da divisão do trabalho social (1893). 
Tese de doutorado do autor, trata-se 
de estudo sobre as relações entre os 
indivíduos e a coletividade; analisa as 
funções sociais do trabalho, fonte de 
coesão social.
As regras do método sociológico 
(1895). Nessa obra Durkheim 
estuda o fato social e suas 
regras.
O suicídio (1897). Um estudo de caso 
sobre o suicídio em que o autor apresenta 
uma divisão sobre os quatro tipos de 
suicídios existentes em sua visão (egoísta, 
altruísta, anônimo e fatalista).
Como uma profissão interventiva na realidade, o Serviço Social 
carrega traços da história da sociedade. Com relação à pesquisa, em 
1980 a profissão impulsionou-se por meio de diversos encontros (entre 
1983 a 1990) realizados por pesquisadores com foco no Serviço Social, 
os temas de pesquisa eram focados: nas políticas sociais, nos movi-
mentos sociais, na formação histórico-teórica e metodológica dos pro-
fissionais (IAMAMOTO, 2000).
Já nos anos 1990, no 8º CBAS (Congresso Brasileiro de Assistentes 
Sociais) registrou-se uma diversificação nas temáticas de pesquisa 
dos profissionais, como: seguridade social (pública e privada), educa-
ção, crianças, adolescentes e jovens, relações de trabalho, formação 
profissional, ética na prática profissional, o Serviço Social mediante 
Projetos profissionais e intervenção conservadora no Serviço Social 31
as políticas de habitação e saneamento, movimentos sociais (rurais 
e urbanos), Serviço Social mediante as relações de gênero e etnia 
(IAMAMOTO, 2000, p. 274).
Nesse processo evolutivo no campo da pesquisa, diferentes concep-
ções teóricas e filosóficas permearam o processo de formação profissio-
nal no Brasil. No funcionalismo, a interpretação da sociedade está ligada 
ao fato social, que segundo Émile Durkheim, apresenta características 
como coercitividade, exterioridade e generalidade. Para essa perspectiva, 
o consenso é um aspecto fundamental para a harmonia e funcionamen-
to social, e os conflitossão vistos como tensões ou disfunções.
Os impactos da teoria funcionalista refletiram no debate sobre o 
Serviço Social de grupos e de comunidade, sob interferências das ex-
periências do desenvolvimento de comunidade, adaptadas da versão 
americana e inglesa de organização de comunidade (PEREIRA, 2016), 
repercutindo na discussão a respeito do desenvolvimento de comuni-
dade nos anos de 1940 e 1950, oferecendo os aportes técnicos que os 
assistentes sociais necessitavam.
Segundo Faleiros (1996), do ponto de vista funcionalista, no Ser-
viço Social a integração social significava ajustamento, treinamento, 
adaptação, submissão, e não integração politicamente construída nas 
relações sociais, não revelando as contradições presentes e camuflan-
do a realidade.
A predisposição à apreensão moralizante por meio de categorias 
abstratas e subjetivas dos problemas sociais, e o capitalismo visto 
como uma ordem natural, as situações conflitivas e a luta de classes 
apareceram como desvios. Desvios que têm seu aprofundamento na 
secularização da sociedade, no paganismo, no laicismo das institui-
ções, no socialismo. A miséria, o pauperismo do proletariado urbano, 
aparecerá como situação patológica, como uma anomia, cuja origem 
é encontrada na crise de formação moral desse mesmo proletariado 
(IAMAMOTO; CARVALHO, 2008).
Nesse sentido, o funcionalismo, influenciando o Serviço Social, bus-
ca a integração do homem ao meio em que vive; ao ajustamento no 
sistema social.
As práticas dos profissionais de Serviço Social baseadas nessa 
corrente teórica traziam como objetivo a adequação dos indivíduos 
considerados desajustados socialmente. Na sociologia (um dos alicer-
O funcionalismo é uma das 
concepções teóricas influentes 
no serviço social brasileiro. No 
que se refere às concepções 
funcionalistas no interior da 
profissão, podemos afirmar 
que seus impactos rebatiam no 
debate do serviço social sobre 
que aspecto?
Atividade 3
32 Fundamentos teóricos e metodológicos do Serviço Social II
ces teóricos da profissão) encontra-se a explicação para a desigualdade 
social, vinculada à estratificação social (classificação social). Distantes de 
correlacionar as desigualdades e problemas sociais ao sistema capita-
lista e suas contradições, a sociologia explica essa desigualdade a partir 
dos indivíduos, grupos ou instituições desajustadas (ANDRADE, 2008).
Dessa maneira, não trazia nenhum questionamento relacionado a 
organização da estrutura social. A leitura da desigualdade e diferença 
de classe existia pelo fato de o indivíduo exercer uma posição diferen-
ciada na sociedade, sendo esse discurso influenciado pela sociologia, 
que difundia a ideia de adequação dos indivíduos, grupos e instituições 
em harmonioso funcionamento.
O assistente social tinha como atribuição adequar os indivíduos 
ao sistema, sendo essa adequação por meio da afirmação dos 
valores morais e éticos, ajustamento de personalidade etc. Ape-
sar do caráter “ajustador” foi de grande importância a contribui-
ção da Sociologia Norte Americana para o exercício profissional 
tendo por estima que essa deu à profissão um aspecto mais 
técnico, legitimidade, laicizando-a da Doutrina Social da Igreja 
Católica. (SANTOS; WEISHEIMER, 2013, p. 3)
Para o Serviço Social, a concepção funcionalista constitui um dos 
marcos teóricos-metodológicos na história da profissão, influen-
ciando as pesquisas no desenvolvimento de comunidade e a prática 
profissional, sendo relevante até a contemporaneidade, afinal o Estado 
é funcional e é uma das instituições que mais emprega essa categoria. 
No entanto, como pontua Mendes (2004 apud SANTOS; WEISHEIMER, 
2013, p. 05), “o exercício profissional deve ser exercido de forma críti-
ca e o funcionalismo não propicia essa dimensão, tendo em vista que 
possui um caráter de enquadramento”. É importante compreender a 
lógica do pensamento funcionalista, pois trabalhamos em estruturas 
fundamentadas nessa teoria, logo compreendê-la criticamente é fun-
damental para sua superação.
1.5.5 Influência do estruturalismo
O estrutural-funcionalismo se consolidou enquanto corrente teó-
rica da antropologia e da sociologia, no início do século XX, durante 
o período da II Guerra Mundial e da Guerra do Vietnã. Da mesma 
maneira que o funcionalismo, compreende a sociedade particionada 
Na contemporaneidade vemos 
a prática profissional à luz do 
funcionalismo público em que 
se firma a lógica burocrática do 
Estado, a qual o Serviço Social 
imbrica-se de modo a “tentar” 
desburocratizar. Entretanto, no 
que se refere a essa burocracia 
institucionalizada, o Serviço 
Social tem por finalidade supe-
rá-la, mas há resistências, pois a 
tecnoburocracia reina no plano 
societário vigente (SANTOS; 
WEISHEIMER, 2013).
Importante
O filme O quarto poder vai 
ajudá-lo a compreender 
um pouco mais sobre o 
funcionalismo.
Direção: Costa-Gavras. Estados 
Unidos, 1997. 
Filme
Projetos profissionais e intervenção conservadora no Serviço Social 33
em áreas e funções específicas, que devem funcionar em seu con-
junto para gerar o equilíbrio social.
Essa teoria, cujo principal autor foi Alfred R. Radcliffe-Brown, foi 
formulada a partir da discordância com o evolucionismo e seus mo-
delos teóricos e analíticos. Segundo Oliveira, Santana e Alves (2014), 
o estrutural-funcionalismo se diferencia do funcionalismo em rela-
ção à sua abordagem teórica e ao seu modo de perceber e com-
preender as sociedades. O estrutural-funcionalismo apresenta um 
modelo teórico e analítico a partir da análise da estrutura social, 
compreendendo
a estrutura como sendo as relações sociais estabelecidas na 
sociedade, onde cada unidade funcional serve como uma es-
pécie de sustentáculo social: a sociedade concebida como um 
todo orgânico no qual as partes se interligam para manuten-
ção do sistema e da estrutura, esta se relacionando direta-
mente com aquela. (OLIVEIRA; SANTANA; ALVES, 2014, p. 236)
Assim sendo, o estrutural-funcionalismo abarca as partes de 
forma interligada, com o objetivo de manter estrutura e sistema. 
Entretanto, apesar dessa diferença, mantém a concepção orgânica 
de sociedade, valoriza a pesquisa de campo empirista e, do mesmo 
modo que o funcionalismo, considera os conceitos da adaptação, da 
integração e da organização social.
Diante disso, podemos atestar que o estrutural-funcionalis-
mo e o funcionalismo estudam a organização social interna de 
cada sociedade, e explicam a realidade social das sociedades 
como esse todo orgânico onde as partes do sistema social se 
interligam para sustentar e garantir a sobrevivência ou conti-
nuidade do sistema. (OLIVEIRA; SANTANA; ALVES, 2014, p. 238)
O processo de formação profissional no Brasil foi permeado por 
diferentes concepções teóricas. O estruturalismo se distinguiu das 
demais correntes por tratar os objetos como “posições em sistemas 
estruturados” e não como “objetos existentes independentemente 
de uma estrutura”. Esses termos, sistema e estrutura, podem muitas 
vezes serem confundidos, mas, para compreender o estruturalismo, 
faz-se necessário entendê-los separadamente. Sistema “é um con-
junto de entidades mutuamente inter-relacionadas e interdepen-
dentes, operando juntas em um nível determinado de organização” 
(CAWS, 1974, p. 3). Utilizado para indicar um conjunto concreto de 
W
ik
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ed
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Alfred Reginald 
Radcliffe-Brown (1881 – 
1955) foi um antropólogo 
e etnógrafo britânico, 
responsável por difundir 
a escola antropológica 
estrutural-funcionalista, 
que se opunha à visão 
funcionalista de estudio-
sos anteriores a ele.
Quem?
34 Fundamentos teóricos e metodológicos do Serviço Social II
elementos harmonicamente funcionais. Estrutura trata-se de um 
conjunto de relações, sem uma propriedade de funcionalidade.
No campo do Serviço Social essa teoria é marcada pelos anos 
do desenvolvimento, que representam a influência das ideais 
norte-americanas no Brasil. Nos anos de 1960 foi posto no interior 
da sociedade modelos americanizados de políticaspúblicas estru-
turalistas, trazendo para a categoria profissional o debate sobre a 
divisão do Serviço Social: caso, grupo e comunidade.
A preocupação central do que deveria ser caracterizado como 
projeto desenvolvimentista janista estaria na formação de 
uma nação forte, com um povo forte e uma economia global-
mente forte. Desse eixo central decorre uma atenção especial 
ao social; meta prioritária é o homem e não o crescimento eco-
nômico em si mesmo. [...] O projeto janista propõe um desen-
volvimento harmonioso e humano. (IAMAMOTO; CARVALHO, 
2008, p. 346)
Para a categoria profissional esse era o tom dado a essa conjun-
tura marcada por influências das ideias funcionalista e estrutura-
lista, que trouxeram para a prática profissional ações higienistas e 
de ajustamento social. Os profissionais se propõem a aceitar esse 
desafio, participando do novo projeto desenvolvimentista; exigem 
posições e funções; e avaliam as formas para desempenharem suas 
funções e posições a contento do governo (IAMAMOTO; CARVALHO, 
2008). Propuseram-se a participar das mudanças estruturais que 
objetivavam integrar parcelas da população que estavam marginali-
zadas no projeto de progresso.
Não havia questionamentos nessa concepção. A estrutura so-
cial, as compreensões das desigualdades e das diferenças de classe 
existiam pelo simples fato de que cada indivíduo exercia uma de-
terminada posição na sociedade, sendo esse o discurso usado para 
justificar a adequação dos indivíduos, grupos e instituições e manter 
tudo em um harmonioso funcionamento.
Os agentes do Serviço Social são mais que professores, porque 
não se fecham nas salas para ensinar, não submetem os alunos a 
disciplina das salas de aula e precisam muitas vezes submeter-se 
à disciplina dos alunos. Sei o que é necessidade de compreensão, 
de formação técnica, de aprimoramento de uma equipe toda 
Projetos profissionais e intervenção conservadora no Serviço Social 35
sobre a qual repousará uma longa parte desta tarefa de recons-
trução por todo um território nacional, mas sei também que é 
absolutamente essencial, é a condição sem a qual não existe o 
assistente social, que ele tenha o coração voltado para o que faz, 
que tenha o seu carinho, a sua afeição devotadas à sua tarefa 
(IAMAMOTO; CARVALHO, 2008, p. 358).
Para a categoria profissional do Serviço Social, essa concepção 
estruturalista constituiu marcos na dimensão teórico-metodológica 
na história da profissão, pois influenciou pesquisas que visavam de-
senvolver a comunidade e a prática. 
Analisando a trajetória histórica da profissão, encontramos nos 
discursos e na prática profissional uma valorização das estruturas, 
que acabam camuflando as relações de poder e conflitos existentes 
na luta de classes, desvelando os limites institucionais e as posturas 
profissionais de ajustamento e conservadorismo. Assim, compreen-
der essa corrente é importante para entender as estruturas sociais 
ancoradas nessa teoria. Da mesma maneira que ao compreendê-la, 
deve-se a analisar de forma crítica, buscando sua superação e iden-
tificando suas contradições intrínsecas a uma sociedade capitalista.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Movimento de Reconceituação do Serviço Social foi determinado 
por três vertentes que revelaram o pluralismo de ideias e a heterogenei-
dade desses processos no seio profissional brasileiro: a modernizadora, 
a reatualização do conservadorismo e a intenção de ruptura.
O processo de reconceituação foi um marco imprescindível para o 
perfil profissional contemporâneo. Essa ruptura com as bases tradicio-
nais e conservadoras possibilitou à categoria um perfil crítico e reflexivo 
e garantiu uma atuação concreta na sociedade.
A teorização do Serviço Social define a base para prática interventiva 
do profissional, sendo um elemento fundante da  intervenção. No Mo-
vimento de Reconceituação, o Serviço Social atravessa um processo de 
teorização que faz surgir as bases para o profissional contemporâneo, 
que possui uma visão crítica, e a concepção dos seus usuários como su-
jeitos históricos e de direito. No trabalho com os usuários, a prática pro-
fissional deve ser respaldada em uma base teórica que fundamente o 
instrumento da sua ação.
36 Fundamentos teóricos e metodológicos do Serviço Social II
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