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03/05/2021 Livro Digital - O AMBIENTE E AS DOENÇAS DO TRABALHO https://livrodigital.uniasselvi.com.br/pos/o_ambiente_e_as_doencas_do_trabalho/conteudo.html?capitulo=2 1/33 DOENÇAS DO TRABALHO OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Conhecer os tipos de riscos de exposição do trabalhador. Entender o desenvolvimento das principais patologias laborais. Reconhecer os possíveis riscos em diferentes locais de trabalho e ambiente de trabalho. A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: CONTEXTUALIZAÇÃO Atualmente as exigências para com o cumprimento das atividades laborais têm sido cada vez mais imperiosas. Muitos trabalhos exigem jornadas maiores, troca de turnos, exposição frequente a riscos, en�m, vários são os fatores do ambiente do trabalho que podem comprometer a saúde do trabalhador. A construção de um edifício somente se torna possível devido à atividade humana de pessoas que possuem capacidade e, porque não dizer, coragem de �car horas nas alturas. As cirurgias somente são possíveis pela atuação médica, os produtos industrializados surgem devido à atuação humana. En�m, se analisarmos a fundo, não existe uma ocupação humana que não contenha um determinado risco iminente de sua atuação. O presente capítulo não tem a intenção de condenar as atividades laborais, mas sim, fazê-lo entender que embora não possamos excluir os riscos laborais de nossas vidas, podemos minimizá-los e contribuir para que o trabalhador desenvolva suas atividades em condições adequadas de saúde, tais como: boas Capítulo 2 03/05/2021 Livro Digital - O AMBIENTE E AS DOENÇAS DO TRABALHO https://livrodigital.uniasselvi.com.br/pos/o_ambiente_e_as_doencas_do_trabalho/conteudo.html?capitulo=2 2/33 horas de descanso, uso dos equipamentos de proteção, sabedoria frente aos riscos a que é exposto para assim preveni-los, manter um ambiente de trabalho sociável e com condições de boa convivência entre os trabalhadores, entre outros. Portanto, o presente capítulo permitirá a você compreender a classi�cação dos riscos ocupacionais, a constituição adequada do nosso organismo e como a exposição aos riscos dos mais diversos ambientes de trabalho, podem desencadear as doenças relacionadas ao trabalho. HISTÓRICO DO TRABALHO Prezado (a) pós-graduando (a), é notória, em nossa vida diária, a dedicação da maior parte do nosso tempo ao desenvolvimento de atividades laborais que contemplam não somente uma realização pessoal, como também a garantia do sustento �nanceiro individual ou familiar. É praticamente impossível separarmos o desenvolvimento social do trabalho humano. A construção de uma sociedade sustentável, em todos os aspectos, é baseada no incremento do trabalho. O trabalho acompanha o homem desde o início da civilização sendo assim, desvincular trabalho de sociedade é algo extremamente difícil, pois um leva a evolução do outro. Desde a sociedade mais primitiva até a contemporânea está implícita a atividade laboral que, entre outros objetivos, serve como alicerce para o crescimento humano e o progresso social. Mas a�nal, o que é trabalho? Se fossemos realizar uma pesquisa, nos mais diversos dicionários, livros-textos ou sites de busca, teríamos várias de�nições dessa palavra. Para auxiliá-lo nos estudos, mencionoamos aqui um resumo das várias fontes. Trabalho trata-se de uma determinada ocupação que exige uma aplicação coordenada de separarmos o desenvolvimento social do trabalho humano. A palavra trabalho advém do latim (TRIPALIUM) que fazia alusão a um instrumento de tortura formado por três estacas. Ou seja, o trabalho sempre foi visto como algo ruim, que demanda esforços para sua realização (BONZATTO, 2011). O desenvolvimento de toda e qualquer atividade laboral emana uma condição favorável de saúde, para que todo esforço exigido, seja ele físico ou mental (horas a frente do computador, carregamento de peso, �car muito tempo em uma mesma posição) possa ser correspondido. A preocupação com a saúde do trabalhador e a prevenção de acidentes é algo relatado inclusive em trechos bíblicos, mediante a indicação da construção de parapeitos no decorrer de algumas edi�cações (SANTANA, 2006). Prevenir o desenvolvimento de doenças e/ou auxiliar na recuperação do indivíduo frente a alguma patologia, torna-se Capítulo 2 03/05/2021 Livro Digital - O AMBIENTE E AS DOENÇAS DO TRABALHO https://livrodigital.uniasselvi.com.br/pos/o_ambiente_e_as_doencas_do_trabalho/conteudo.html?capitulo=2 3/33 algo de extrema valia para que este possa ter uma maior dedicação e consequentemente melhor rendimento em suas atividades. Ao descrever sobre saúde do trabalhador ou doenças ocupacionais, se faz importante mencionar o trabalho desenvolvido por Ramazzini, no século XVII, o qual foi um dos primeiros autores a descrever sobre questões importantes que deveriam ser obtidas junto ao trabalhador na tentativa de prevenir o desenvolvimento de doenças no trabalho (SANTANA, 2006). SANTANA, Vilma Souza. Saúde do trabalhador no Brasil: Pesquisa na pós- graduação. Rev. Saúde Pública, 2006; 40(N Esp):101-111 – a autora descreve em sua obra os pontos e sequências históricas mais importantes no que tange aos cuidados com a saúde do trabalhador. Segundo a autora correlação e a preocupação dos acidentes do trabalho e saúde do trabalhador somente começaram a de fato se desenvolver após o século XIX, inclusive no Brasil mediante os movimentos antiescravitas. O QUE É SAÚDE E DOENÇA? Antes de iniciarmos o texto, convido você a tentar de�nir o que é saúde e o que é doença. ATIVIDADES DE ESTUDOS: 1) Nesse momento, é interessante que você tente descrever o que sabe sem nenhum tipo de consulta. Capítulo 2 03/05/2021 Livro Digital - O AMBIENTE E AS DOENÇAS DO TRABALHO https://livrodigital.uniasselvi.com.br/pos/o_ambiente_e_as_doencas_do_trabalho/conteudo.html?capitulo=2 4/33 Responder Responder 2) Que tal agora realizar uma consulta no dicionário ou fontes literárias e comparar com o que descreveu? Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a saúde é de�nida como um completo bem-estar físico, psíquico e social do indivíduo, de maneira que este possa desfrutar e/ou usufruir de sua vida em boas condições. Ou seja, tudo aquilo que acomete o indivíduo de maneira que o impeça de gozar de um bem- estar pode ser considerado como doença. Temos que tomar cuidado para que não nos percamos do foco do estudo. Mediante a de�nição acima, podemos a�rmar que doença trata-se de um transtorno que compromete o bem-estar físico, psíquico, mental e social de um indivíduo podendo ou não afetar àqueles de sua convivência. Uma vez que conseguimos de�nir o conceito de saúde e doença, agora podemos seguir para o próximo passo: entender um pouco sobre a constituição do organismo humano e seu funcionamento, pois somente assim, teremos a capacidade assimilar e entender o agravo de cada doença frente ao desenvolvimento das atividades trabalhistas. Embora o curso não seja para que você se especialize no funcionamento do corpo humano, se faz importante entender tais processos. Que tal uma viagem na máquina mais perfeitamente projetada? O ORGANISMO HUMANO Capítulo 2 03/05/2021 Livro Digital - O AMBIENTE E AS DOENÇAS DO TRABALHO https://livrodigital.uniasselvi.com.br/pos/o_ambiente_e_as_doencas_do_trabalho/conteudo.html?capitulo=2 5/33 Toda essa estrutura que vemos com a capacidade de pensar, locomover, comer, beber, festejar e trabalhar, nada mais é do que um emaranhado de diferentes células (menor unidade formadora do organismo humano) que trabalham e se diferenciam de maneira ordenada. São praticamente 10 trilhões de células que se unem para fazer com que essa máquina funcione (ALBERTS, 2006). Mais fantástico do que isso é saber que todos nós surgimos de uma única célula advinda da união de um óvulo materno e um espermatozoide paterno, união essa que dá origem a uma célula pluripotente, também conhecida como célula-tronco e que terá a possibilidade de originar toda e qualquer célula do organismo humano, sendo,portanto responsável por toda sua constituição. A célula-tronco originada multiplica-se e desenvolve-se com objetivo de originar diversas células diferenciadas para realização de funções especí�cas. Algumas células são especializadas em se contrair (músculo), outras em nos defender (leucócitos), outras em transportar oxigênio (hemácias). Assim como a divisão de trabalhos de uma empresa onde cada setor é constituído de pessoas diferentes que realizam funções diferentes, nossas células se reúnem em vários grupos para divisão das atividades orgânicas. A célula recepcionista, a célula telefonista, a célula do almoxarifado, a célula diretora, de maneira que o sucesso dessa empresa depende da boa convivência entre as diferentes células e os diferentes setores, se um falhar compromete o andamento de todo o processo. É exatamente isso que acontece quando sofremos algum tipo de doença ou dano, aquilo que enxergamos macroscopicamente (sintomas) é consequência de danos ocorridos em inúmeras células microscópicas (KUMAR; FAUSTO; ABBAS, 2005). Para formação do corpo humano é importante se ter em mente que várias células no organismo vão se unir para formar um determinado tecido (tecido muscular, ósseo, conjuntivo, epitelial e nervoso), vários tecidos se unem para constituir um determinado órgão (pulmão, coração, cérebro etc.), vários órgãos unem-se para constituir um sistema (muscular, cardíaco, urinários etc.) e, vários sistemas formam um organismo, no nosso caso, o corpo humano. Obviamente toda essa organização deve se comunicar para que cada compartimento desenvolva suas funções corretamente. Essa comunicação é feita mediante a produção de diversas substâncias que são conduzidas por nossa corrente sanguínea a toda e qualquer parte do organismo. Muito bem, uma vez de�nido o signi�cado de saúde, o signi�cado de doença e a constituição básica do organismo humano, podemos dar seguimento aos nossos estudos e realizar a classi�cação dos riscos presentes em nossas atividades diárias. Figura 7 - Células Plur ipotentes Capítulo 2 03/05/2021 Livro Digital - O AMBIENTE E AS DOENÇAS DO TRABALHO https://livrodigital.uniasselvi.com.br/pos/o_ambiente_e_as_doencas_do_trabalho/conteudo.html?capitulo=2 6/33 Fonte: Disponível em: <http://coisaspraver.blogspot.com.br/2013/02/celulas-tronco-o-que- sao-o-que-e-para.html>. Acesso em: 10 mar. 2013. CLASSIFICAÇÃO DOS RISCOS AMBIENTAIS E AS DOENÇAS RELACIONADAS AO TRABALHO Antes de iniciarmos a descrição dos riscos que todo e qualquer tipo de trabalho possa apresentar, se faz importante reconhecer que não existe trabalho 100% seguro, com ausência de riscos. Pensemos em um hospital, como trabalhar todos os dias sem se expor aos riscos de contaminação ali existentes? Como proceder a pintura de um edifício ignorando sua altura? O que buscamos é minimizar os perigos inerentes de cada exercício pro�ssional aplicando de maneira preventiva as ações que possam contribuir para o bem estar do trabalhador. Só há uma maneira de aplicarmos medidas preventivas: conhecendo como as doenças se desenvolvem. Obviamente são inúmeras as patologias que podem ocorrer em um dia a dia de trabalho e seria uma tarefa difícil descrevê-las todas aqui. Sendo assim, descreveremos algumas patologias correlacionadas com o ambiente de trabalho. Segundo Brasil (2011), que trata do PPRA (Programa de Prevenção de Riscos Ambientais), os riscos ocupacionais podem ser classi�cados de uma maneira geral em físicos, químicos, biológicos, ergonômicos e acidentes. Portanto, não somente a natureza do trabalho, mas o ambiente onde ele é desenvolvido contribui para que haja uma maior ou menor exposição aos riscos supracitados. Capítulo 2 03/05/2021 Livro Digital - O AMBIENTE E AS DOENÇAS DO TRABALHO https://livrodigital.uniasselvi.com.br/pos/o_ambiente_e_as_doencas_do_trabalho/conteudo.html?capitulo=2 7/33 Não precisamos so�sticar exemplos para entender e identi�car as possibilidades de acidentes que podem ocorrer em um determinado ambiente. Já parou para pensar quanta coisa você poderia fazer diferente para evitar acidentes dentro da própria casa? As legislações trabalhistas buscam estabelecer limites de intensidade ou tempo de exposição aos respectivos riscos, tais como: a quantidade de decibéis que um trabalhador pode ser exposto, exposição a produtos químicos, entre outros (BRASIL, 2011). Vale ressaltar que os limites retratam de uma maneira geral cada um dos indivíduos supostamente expostos aos riscos, esses índices de tolerância podem sofrer variações de indivíduo para indivíduo. Uns podem suportar mais o frio, os efeitos de radiações, as exposições ao calor, os esforços repetitivos do que outros. RISCOS FÍSICOS Segundo Hirata, Hirata e Mancini (2011), riscos físicos são aqueles que podem provocar algum tipo de dano mediante variação de energia. Os mais comuns riscos físicos aos quais somos submetidos são: Calor Nós, seres humanos, somos considerados animais homeotérmicos, ou seja, temos a capacidade de regular nossa temperatura mediante a temperatura a qual somos expostos (AIRES, 1998). Você certamente já frequentou a praia ou tomou um banho de piscina em dias de 40 C. Certamente um pintor, um metalúrgico já trabalhou por horas exposto a temperatura semelhante. Se nesse momento colocássemos um termômetro para medir sua temperatura você estaria com 36,5 C, ou seja, nossa temperatura �siológica (normal). A estrutura anatômica responsável por regular a temperatura corpórea é uma glândula localizada no diencéfalo (parte do cérebro) chamada de hipotálamo. Esse processo regulatório é de suma importância, pois todas as reações metabólicas e químicas que ocorrem no organismo são dependentes de funções enzimáticas do interior das células, as quais somente funcionarão em temperatura ótima (AIRES, 1998). Portanto, toda vez que formos expostos a altas temperaturas ou exigirmos muito de nossa máquina humana, tenderemos a uma sobrecarga desse sistema regulador. o o Quando a exposição ao calor torna-se demasiada, frequente e intensa, (caso de trabalhadores de fornalhas em fundições, por exemplo), nosso organismo tentará equilibrar o ambiente interno e externo impedindo que haja uma elevação da temperatura corpórea e seus eventuais prejuízos. Capítulo 2 03/05/2021 Livro Digital - O AMBIENTE E AS DOENÇAS DO TRABALHO https://livrodigital.uniasselvi.com.br/pos/o_ambiente_e_as_doencas_do_trabalho/conteudo.html?capitulo=2 8/33 A elevação da temperatura externa ocasiona um processo conhecido como vasodilatação (aumento do calibre dos vasos sanguíneos) que por consequência aumenta o �uxo sanguíneo e a concentração de células sanguíneas no local. Essa resposta do organismo à exposição a altas temperaturas provoca uma perda de calor para o meio e permite que seja mantida a temperatura interna do corpo em seus índices �siológicos. Embora esse mecanismo �siológico funcione muito bem, ele tem seu limite de ação que, quando ultrapassado, acaba por não dissipar o calor corpóreo de forma adequada eleva o indivíduo a uma perda de concentração, fadiga, sonolência, queda de pressão (principalmente devido à vasodilatação extrema) e desidratação ocasionada pelo aumento da sudorese (perda de água pelo suor). Há de se ter extremo cuidado para com estes sintomas, caso contrário pode-se passar do desconforto para o óbito devido a danos celulares irreversíveis. Frio Assim como a exposição ao calor extremo, a exposição ao frio também tem suas consequências. Como relatado, nosso organismo dispõe de mecanismos para manter a temperatura corpórea adequada. Toda vez que formos expostos ao frio, a sensação térmica será interpretada pelo nosso Sistema Nervoso que iniciará uma série de respostas frente ao estímulo. Um dos mais conhecidos é o tremor, que são contrações musculares que ocorrem involuntariamente para gerar calor, como se fosse uma atividade física forçada. O que acontece quando você faz uma caminhada? Exatamente, você sua! Isso ocorre devido à contração muscular e o ritmo cardíaco aumentado que gera calor (AIRES,1998). Outro fator visível mediante a exposição ao frio é o “roxear” das extremidades (principalmente dedos das mãos e pés), devido à vasoconstrição (diminuição do calibre dos vasos sanguíneos) desencadeada pelo frio. Se você lembrar, sempre que estamos em um período de frio nossos pés e nossas mãos são os locais mais gelados do corpo, isso se dá devido à vasoconstrição e menor irrigação sanguínea no local (AIRES, 1998). Os graus de lesões e sintomas vão variar de acordo com o tempo de exposição e a intensidade ao frio que foi exposto. Porém, independente do grau de sintomas, estes são inicialmente desencadeados pela alteração na circulação sanguínea local (vasoconstrição). Se não chega sangue em um determinado tecido do organismo, não chega oxigênio e, sem oxigênio, nossas células começam a morrer. Por isso, é muito comum pessoas que são expostas ao frio intenso terem o congelamento de membros inferiores seguido de gangrena (KUMAR; FAUSTO; ABBAS, 2005). Capítulo 2 03/05/2021 Livro Digital - O AMBIENTE E AS DOENÇAS DO TRABALHO https://livrodigital.uniasselvi.com.br/pos/o_ambiente_e_as_doencas_do_trabalho/conteudo.html?capitulo=2 9/33 Gangrena: é uma complicação de uma necrose isquêmica (falta de suprimento sanguíneo, e consequente falta de oxigênio) das extremidades (braço, mão, perna, pé), e seguida de invasão bacteriana e putrefação. Clostridium perfringens é a espécie bacteriana mais comum envolvida na gangrena, mas outros Clostrídios e várias outras bactérias também podem crescer nos ferimentos ou em qualquer parte do corpo que tenha sua circulação interferida ou impedida (KUMAR; FAUSTO; ABBAS, 2005). A vasoconstrição desencadeada pela exposição frequente ao frio ocasiona a morte celular pela falta de suprimento sanguíneo (muito comum em alpinistas de geleiras). Alterações vasculares são responsáveis por cerca de 80% das amputações em membros inferiores, as quais, em sua grande maioria, são realizadas devido à morte do tecido local por falta de vascularização na tentativa de evitar a contaminação bacteriana (CARVALHO et al, 2005). Outra situação bastante difundida frente à exposição ao frio extremo é a hipotermia (queda da temperatura corpórea). Quando nossos mecanismos �siológicos não conseguem mais suprir a demanda de calor exigida pelo corpo, nossa temperatura começa a baixar. Considera-se estado de hipotermia quando a temperatura diminui em 1 a 2 C em relação a temperatura �siológica (36,5 C). Nesse momento inicia-se a sensação de dor e tremor intenso. Conforme, o tempo de exposição ao frio aumenta, a sensibilidade diminui e os tecidos podem começar a morrer devido à falta de irrigação sanguínea. Em graus extremos, ocorre a parada cardiorespiratória e morte. o o Radiação Assim como mencionado anteriormente, direcionaremos nossas explicações no que tange aos danos orgânicos causados pela exposição à radiação. Leitura do capítulo que relata sobre os riscos físicos do livro MASTROENI, Marco F. Biossegurança Aplicada a Laboratórios e Serviços de Saúde. 2. ed. São Paulo: Atheneu, 2005. Radiação, do ponto de vista físico, é considerada a propagação de energia em um determinado meio que possa produzir algum efeito sobre a matéria. Elas podem Capítulo 2 03/05/2021 Livro Digital - O AMBIENTE E AS DOENÇAS DO TRABALHO https://livrodigital.uniasselvi.com.br/pos/o_ambiente_e_as_doencas_do_trabalho/conteudo.html?capitulo=2 10/33 ser divididas em basicamente dois tipos: ionizante (raios alfa, beta, gamma e X) e não ionizante (ultravioleta e infravermelho) (HENEINE, 2007). Detectar a exposição à radiação e os limites de tolerância para tal é de suma importância, pois seus efeitos são acumulativos e podem se manifestar após longo tempo de exposição, sendo prejudicial à saúde humana. No início desse capítulo colocamos que não existem trabalhos 100% seguros. Talvez os pro�ssionais que exercem suas funções em ambientes radioativos sejam àqueles com maior propensão a nocividade. Atualmente a radiação é de suma importância para vários setores, principalmente no auxílio ao diagnóstico e tratamento médico (radiogra�as, medicina nuclear, radioterapia etc.) fato que coloca os trabalhadores em risco iminente e requer cuidados demasiados, não só individual como também coletivo. Diferente do paciente que recebe sua dose e radiação para �ns diagnósticos e, em seguida, sai do ambiente radioativo, os pro�ssionais desta área �cam diariamente expostos a inúmeras descargas de radiação, sendo assim, torna-se necessário o uso constante dos equipamentos de proteção individuais (coletes de chumbo) e coletivos (sala com parede baritada). Você deve se perguntar a razão dessa nocividade, correto? Para uma resposta coerente ao seu questionamento, se faz necessário esclarecermos alguns conceitos. Toda informação genética necessária para que nosso organismo trabalhe corretamente estão armazenadas em nosso DNA – ácido desoxirribonucléico. Esse material genético �ca armazenado na forma de cromossomos em estruturas localizadas no interior de nossas células denominadas de núcleo (ALBERTS, 2006). São esses elementos que garantem a hereditariedade de nossos pais para nós, de nós para nossos �lhos e assim sucessivamente. Basicamente e do ponto de vista genético, podemos dividir nossas células em dois tipos: as somáticas e as germinativas (gametas). Ambas são constituídas, dentre outros elementos, de DNA. Estruturalmente o DNA é constituído de uma sequência ordenada de moléculas denominadas de nucleotídeos (adenina, guanina, citosina e timina), sendo sua função altamente dependente de como este material esta sequenciado. Além de armazenar as características genéticas de cada ser vivo, o DNA tem como função promover a produção de proteínas em nosso organismo, ou seja, para cada proteína que nós produzimos há uma sequência especí�ca de DNA (gene). Mediante a produção de proteínas o DNA controla o potencial metabólico e de multiplicação celular de maneira que ocorra de forma ordenada e extremamente controlada (ALBERTS, 2006). Você deve estar se perguntando neste momento: Qual a relação do DNA com a exposição radioativa? Capítulo 2 03/05/2021 Livro Digital - O AMBIENTE E AS DOENÇAS DO TRABALHO https://livrodigital.uniasselvi.com.br/pos/o_ambiente_e_as_doencas_do_trabalho/conteudo.html?capitulo=2 11/33 Toda vez que somos colocados em contato com radiações, sejam elas ionizantes ou não ionizantes, podemos ter nossa sequência de nucleotídeos alterada mediante a quebra de ligações químicas (mutação). Portanto, se alteramos a sequência de nucleotídeos, começamos a produzir proteínas defeituosas e o controle metabólico e de multiplicação celular atua de forma desordenada. As células perdem sua função e se multiplicam de forma desregulada (ALBERTS, 2006). Lembrando do que comentamos no início do nosso capítulo, se alteramos células, alteramos tecidos, se alteramos tecidos, alteramos órgãos, se alteramos órgãos, alteramos sistemas que por consequência altera o funcionamento de um determinado organismo. Mediante a alteração da sequência de nucleotídeos denomina-se a ocorrência de uma mutação a qual pode desencadear o surgimento do câncer (KUMAR; FAUSTO; ABBAS, 2005). Nucleotídeo: é a menor molécula formadora do DNA. Uma molécula de DNA é constituída por inúmeros nucleotídeos, os quais devem obedecer a uma sequência dentro da molécula para sua correta função (ALBERTS, 2006). Não é possível prever como, quando, onde ou até mesmo se pessoas submetidas à radiação desenvolverão algum tipo de câncer. Quando a neoplasina se desenvolve anos mais tarde, �ca difícil até mesmo determinar se a exposição à radiação foi realmente o fator desencadeador da doença. Vale ressaltar que algumas células são mais susceptíveis a ação da radiação do que outras e que, não somente a área afetada diretamente pela radiação pode sofrer com o desenvolvimento de tumores, mas é fato que as áreas mais expostas diretamente aos efeitos radioativos detêm maior chance para o desenvolvimento tumoral. A exposição à radiação pode ter efeitos imediatosou cumulativos. Quando se tem uma exposição excessiva à radiação, ás células podem sofrer danos irreversíveis e levar o indivíduo à morte quase que instantaneamente. Lembremo-nos do famoso caso brasileiro que ocorreu no Estado de Goiás, onde crianças foram expostas a materiais radioativos (Césio 137) advindos de um aparelho de radioterapia (ALMEIDA, 2012). Quando se tem um efeito acumulativo, além da possibilidade de desenvolver o câncer pode ser que as células germinativas (que dão origem ao óvulo e espermatozoide) sejam afetadas e, se isso acontece, há Capítulo 2 03/05/2021 Livro Digital - O AMBIENTE E AS DOENÇAS DO TRABALHO https://livrodigital.uniasselvi.com.br/pos/o_ambiente_e_as_doencas_do_trabalho/conteudo.html?capitulo=2 12/33 possibilidade de os �lhos dessas pessoas que foram expostas sofrerem com algum tipo de mutação. Porém, certi�car a possibilidade de um indivíduo exposto à radiação transmitir os efeitos aos seus descendentes é algo impossível de mensurar. Pressão De forma simples, podemos dizer que pressão é a relação de força para com uma determinada área (HENEINE, 2007). Para que possamos entender o foco do nosso estudo, temos que levar em consideração a pressão atmosférica e uma relação muito simples: quanto mais longe do solo menor será a pressão e quanto mais perto, maior será a pressão. Mergulhadores são sempre expostos a pressões muito altas, enquanto alpinistas sofrem com pressões muito baixas. Você já deve ter subido ou descido as inúmeras serras que temos pelo Brasil e certamente sentiu seu ouvido “fechar”. O que ocorre nestes casos é uma diferença de pressão entre o ouvido interno e externo fazendo com que haja uma alteração da membrana timpânica e isso nos dá a sensação de que estamos surdos (HENEINE, 2007). A membrana timpânica é uma estrutura que ao entrar em contato com uma determinada frequência sonora, vibra e transmite esse som para o ouvido interno (DANGELO, 2005). Os maiores riscos frente à variação de pressão certamente envolve pessoas que trabalham sob alta pressão tais como: mergulhadores, tripulações de submarinos, operários de túbulos pneumáticos na construção civil etc. Você já tentou abrir uma garrafa de refrigerante de maneira abrupta? O que acontece? Exato! Formação de bolhas. Todas essas bolhas estavam de certa forma dentro da garrafa, porém a pressão ali exercida fazia com que esses gases permanecessem em meio líquido, quando houve uma variação de pressão: Boom! Agora imagine o que aconteceria com nosso corpo frente a uma variação de pressão como essa? Voltemos para a mesma garrafa de refrigerante, porém agora, vamos abri-la bem lentamente. O que você notou? Exato! Não houve formação de bolhas. É justamente por isso que quando formos submetidos à variação de pressão esta deve acontecer lentamente tanto para pressurizar quanto para despressurizar. Toda essa preocupação está correlacionada a moléculas que em nosso organismo, devido à pressão, estão na forma líquida, mas que podem se Capítulo 2 03/05/2021 Livro Digital - O AMBIENTE E AS DOENÇAS DO TRABALHO https://livrodigital.uniasselvi.com.br/pos/o_ambiente_e_as_doencas_do_trabalho/conteudo.html?capitulo=2 13/33 transformar em compostos gasosos mediante uma variação abrupta, tais como o nitrogênio e oxigênio, causando o que é conhecido como embolia (KUMAR; FAUSTO; ABBAS, 2005). Embolia é uma massa sólida, líquida ou gasosa que é transportada pelo sangue e que pode obstruir os vasos sanguíneos, causando a falência de órgãos vitais (KUMAR; FAUSTO; ABBAS, 2005). Fisiologicamente o nitrogênio, que é uma substância tóxica para o organismo é eliminado principalmente na forma de ureia mediante o processo de metabolismo hepático e �ltração renal (HENRY, 2008). Como mencionado, isso somente é possível devido ao elemento de nitrogênio estar sob a forma líquida. Quando há uma alteração de pressão o nitrogênio passa para sua forma gasosa e o organismo perde sua capacidade de eliminá-lo na forma de ureia, fato que contribui para a ocorrência de embolia e risco de morte. As mudanças abruptas de pressão também podem ocasionar o rompimento da membrana timpânica e causar distúrbios na audição (ABC DA SAÚDE, 2013). Por �m, cavidades e órgãos do corpo também podem sofrer com essa alteração mediante dilatações ou rompimentos que impeçam seu funcionamento adequado. Um dos exemplos mais graves em relação a isso é quando o pulmão perde sua capacidade de in�ar e, consequentemente, realizar as trocas gasosas necessárias para nossa respiração (LAMBERT; HANSEN, 2007). Em nossa circulação existem células denominadas hemácias. As hemácias são constituídas de grande quantidade de hemoglobina que é uma molécula proteica com capacidade de ligação ao oxigênio e ao gás carbônico. Sendo assim, no momento que realizamos a respiração celular, as hemácias carregam oxigênio para os tecidos e trazem o gás carbônico dos tecidos para ser expelido para o meio externo. Quando indivíduos são submetidos a situações de baixa pressão atmosférica, o oxigênio tende a se dissipar no ambiente di�cultando sua obtenção pelo processo de respiração normal. Com uma disposição de oxigênio menor, o transporte deste gás para o interior das células �ca prejudicado e a oxigenação dos tecidos e principalmente do cérebro �ca depreciada. O estado de hipóxia (diminuição de oxigênio tecidual) estimula um maior ritmo cardíaco, debilidade motora e diminuição da capacidade responsiva, gerando inclusive desmaios. Dependendo do grau dehipóxia podem ser observadas lesões teciduais mais graves que levem a edemas cerebrais e consequente à morte (HENRY, 2008). Capítulo 2 03/05/2021 Livro Digital - O AMBIENTE E AS DOENÇAS DO TRABALHO https://livrodigital.uniasselvi.com.br/pos/o_ambiente_e_as_doencas_do_trabalho/conteudo.html?capitulo=2 14/33 Ruídos A surdez devido à exposição a ruídos é a doença ocupacional mais comum dentre as hoje conhecidas. O processo de audição basicamente ocorre em três estágios (AIRES, 1998): 1 - Captação das vibrações sonoras pelo ouvido externo, o qual ampli�ca os sinais sonoros. 2 - A membrana timpânica localizada no ouvido médio emite os sinais sonoros para os ossículos mediante sua vibração. Os ossículos facilitaram a transmissão dos sinais para o ouvido interno transformando energia sonora em hidráulica. 3 - O ouvido interno, através da cóclea, possui um conjunto de membranas sensíveis que captam a energia gerada e transmitem ao cérebro. A pessoa exposta a ruídos contínuos e intensos acaba por lesionar a região do ouvido interno que perde a capacidade de transmissão dos estímulos ao cérebro gerando sintomas de surdez. Praticamente 100% dos casos de surdez são �siologicamente irreversíveis (HENEINE, 2007). Figura 8 - Limi tes de tolerância a ruídos Fonte: Brasil (2011). Vibrações As vibrações estão presentes em várias atividades laborais. A exposição às vibrações pode ser localizada (principalmente em membros superiores e inferiores) ou corpórea (dano principal na coluna vertebral). Trabalhadores com Capítulo 2 03/05/2021 Livro Digital - O AMBIENTE E AS DOENÇAS DO TRABALHO https://livrodigital.uniasselvi.com.br/pos/o_ambiente_e_as_doencas_do_trabalho/conteudo.html?capitulo=2 15/33 esforços manuais constantes (madeireiros, pedreiros, operadores de retroescavadeiras etc.) estão submetidos a frequentes lesões por conta das vibrações excessivas. A patologia mais conhecida é denominada de Síndrome da Vibração de Mãos e Braços. A síndrome surge pela exposição constante à vibração, tendo como um dos primeiros sintomas o branqueamento dos membros, a diminuição da sensibilidade e a sensação de formigamento devido à queda do potencial de irrigação sanguínea. Mediante a manutenção do esforço por longos períodos de tempo há um maior comprometimento vascular e nervoso sendo que, em casos mais extremos, corre-se o risco de amputação de partes do membro pela morte do tecido, desenvolvimento de gangrena e risco de infarto, fatores que exigem o afastamento do trabalhador de suas funções (HAGBERG, 2004). Outraconseqüência da exposição às vibrações é a síndrome do carpo ou lesão por esforço repetitivo. A síndrome ocorre devido ao comprometimento do nervo radial que passa pelo antebraço e inerva as mãos. Essa patologia impede o desenvolvimento de tarefas simples e delicadas como passar a linha em uma agulha, pegar uma moeda do chão, abotoar o botão da camisa, além de gerar intensas dores. Indivíduos expostos frequentemente a ações repetidas em seu trabalho (digitadores, pedreiros, costureiras, domésticas entre outros) podem ser acometidos pela síndrome do carpo. Embora haja chance de tratamento, muitas vezes se faz necessário um processo cirúrgico (OLIVEIRA, 2000). Riscos Químicos O contaminante químico pode ser considerado como toda substância que uma vez manuseada seja no estado sólido, líquido ou gasoso poderá entrar em contato com o organismo humano e ser prejudicial (HIRATA, HIRATA e MANCINI 2011). Segundo Hirata, Hirata e Mancini (2011), as diversas substâncias químicas podem ser enquadradas nos seguintes grupos: tóxicas, irritantes, oxidantes, corrosivas, voláteis e in�amáveis, estando na forma gasosa, liquefeita ou sólida. De acordo com a natureza do composto, têm-se as exigências de biossegurança necessárias para boas condições de trabalho. Elementos que exibem toxicidades na forma de gás possuem maior periculosidade, pois se comportam como inimigos invisíveis. A potencialidade dos efeitos que uma substância química pode provocar é diretamente proporcional ao tempo de exposição e dose recebida (Da Fonseca, De Marchi, Da Fonseca, 2000), 2000). Para entender os efeitos posteriores da exposição aos agentes químicos é importante saber qual a via de entrada e qual o tipo de tecido mais afetado, podendo gerar efeitos locais ou sistêmicos. Os agentes químicos podem penetrar no organismo por diversas vias, tais quais: Capítulo 2 03/05/2021 Livro Digital - O AMBIENTE E AS DOENÇAS DO TRABALHO https://livrodigital.uniasselvi.com.br/pos/o_ambiente_e_as_doencas_do_trabalho/conteudo.html?capitulo=2 16/33 Oral: substâncias químicas que se encontram no estado sólido ou líquido. Os efeitos podem ser gastrointestinais ou sistêmicos quando absorvidos pela corrente sanguínea. Responder Tópica e Mucosas: geralmente o composto químico adentra pelas células da epiderme (pele) ou pelas mucosas (boca, laringe, faringe, traqueia, entre outras). ATIVIDADE DE ESTUDOS: 1) Procure alguma referência literária e liste ao menos cinco elementos químicos que poderiam ser ingeridos pela via oral e causar danos ao organismo. ATIVIDADE DE ESTUDOS: 1) Procure alguma referência literária e liste ao menos cinco elementos químicos que poderiam interagir com a pele e mucosas. Capítulo 2 03/05/2021 Livro Digital - O AMBIENTE E AS DOENÇAS DO TRABALHO https://livrodigital.uniasselvi.com.br/pos/o_ambiente_e_as_doencas_do_trabalho/conteudo.html?capitulo=2 17/33 Responder Aérea: nesse caso trata-se do contato com compostos químicos voláteis e que são inalados mediante o processo respiratório. A toxicidade do agente químico pelas vias aéreas é considerada a mais perigosa de todas, devido à rápida passagem para a circulação sanguínea. Responder ATIVIDADE DE ESTUDOS: 1) Procure em alguma referência literária e liste ao menos cinco elementos químicos que poderiam interagir com VIAS AÉREAS. Quando um determinado agente químico é absorvido e cai na corrente circulatória, ele precisa ligar-se a algum componente celular especí�co para que consiga gerar a toxicidade celular. O exemplo mais comum é a teoria chave- fechadura (ALBERTS, 2006). Um determinado cadeado somente consegue ser Capítulo 2 03/05/2021 Livro Digital - O AMBIENTE E AS DOENÇAS DO TRABALHO https://livrodigital.uniasselvi.com.br/pos/o_ambiente_e_as_doencas_do_trabalho/conteudo.html?capitulo=2 18/33 aberto quando em contato com sua chave especí�ca, correto? Esse é o mesmo princípio para os reagentes químicos, eles somente manifestarão efeitos no organismo quando ligarem-se a uma determinada região celular especí�ca (enzimas, receptores de membrana, etc.). Isso acarretará em distúrbios bioquímicos sérios e, muitas vezes, irreversíveis. Certos compostos químicos, quando na circulação sanguínea, serão metabolizados pelo fígado, nosso principal órgão metabólico. Devido a isso, muitas vezes, o fígado é um dos órgãos mais acometidos pelos processos de intoxicação (HENRY, 2008). Muito bem, uma vez realizada uma introdução frente aos compostos químicos, agora dividiremos os principais agentes químicos envolvidos com acidentes de trabalho. METAIS PESADOS Os metais pesados são substâncias químicas altamente reativas e com alto poder tóxico quando no organismo, pois tem pouco ou nenhum potencial de metabolização hepática. O fato de não sofrerem metabolização faz com que permaneçam circulantes ou acumulados nas células e tecidos por longos períodos de tempo. Vale ressaltar que alguns metais pesados como zinco e o cobre são bené�cos em pequenas quantidades, pois auxiliam no funcionamento de algumas enzimas (MOREAU; SIQUEIRA, 2008). a) Chumbo (Pb) Trata-se de um metal pesado muito utilizado em processos industriais, na construção civil, em baterias de automóveis e proteção contra raios-X. O chumbo é um elemento intolerável pelo organismo em quaisquer concentrações não sendo metabolizado. Quando inalado (principal forma de contato) alcança a corrente circulatória, �ca complexado a macromoléculas e deposita-se em órgãos moles (rins, fígado e cérebro). Sua presença no organismo humano é denominada de saturnismo (MINOZZO, 2008). Os trabalhadores que manipulam baterias são os mais acometidos, do ponto de vista ocupacional, pelo saturnismo. O chumbo tem um enorme potencial de dani�car o DNA celular e, consequentemente, contribuir para o desenvolvimento do câncer. Além disso, o chumbo pode desencadear falência renal, morte precoce de hemácias (potencial anêmico) e danos hepáticos. Mediante o grau de exposição à intoxicação pode ser irreversível e os graus de severidade diversos (MINOZZO, 2009). Por estar presente nas indústrias, existe uma enorme preocupação para com a poluição ambiental. O chumbo pode contaminar rios e solos e, por consequência, Capítulo 2 03/05/2021 Livro Digital - O AMBIENTE E AS DOENÇAS DO TRABALHO https://livrodigital.uniasselvi.com.br/pos/o_ambiente_e_as_doencas_do_trabalho/conteudo.html?capitulo=2 19/33 Aguda: Crônica: os animais que usufruem desses espaços, podendo chegar ao homem mediante o consumo de água e alimentos contaminados. b) Mercúrio Muito utilizado por mineradores em busca do ouro, ocasionou não somente a contaminação individual, como também a contaminação ambiental principalmente de rios e solo. O mercúrio é para produção de espelhos, instrumentos de medida e lâmpadas. Todo processo de contato e absorção se dá pela pele e via respiratória devido sua alta volatilidade. As intoxicações pelo mercúrio podem ser dividas em: Ocorre por inalação de grandes quantidades de mercúrio, sendo o pulmão o órgão mais afetado. O mercúrio inalado acumula-se nos alvéolos e di�culta o potencial de respiração apresentando sintomas semelhantes a uma pneumonia (MOREAU; SIQUEIRA, 2008). Ocorre por exposição prolongada ao mercúrio e tem como principal órgão acometido o cérebro. Devido a isso o paciente apresenta grandes alterações neurológicas, tais como: tremores (principalmente nos membros superiores), eretismo psíquico (irritabilidade, as alterações frequentes do humor, timidez excessiva, insegurança, desânimo, insônia, perda de memória recente, desatenção, di�culdade de concentração, melancolia e depressão), alterações vasculares. O mercúrio pode acumular-se em diversos órgãos causando-lhes danos e sintomatologias diversas (OGA, 2008). c) Cádmio Trata-se de um metal pesado muito utilizado na fabricação de pilhas e baterias. Quando no ambiente pode desencadear uma contaminação quase que permanente de elementos como a água e o solo, além dos animais que obtêm sua nutrição desses meios, fato que pode contribuir para uma espéciede “cadeia de intoxicação”, pois �ca retido nos tecidos dos animais, consumidores primários, sendo transmitido na cadeia alimentar, além de uma contaminação ambiental sistemática. Como explicado no início do nosso capítulo, nossas células possuem diversas enzimas que contribuem para seu funcionamento microscópico. Essas enzimas se concentram em determinadas vias metabólicas que garantem que compostos sejam produzidos ou degradados no interior das células. O que vai de�nir a produção ou degradação de algum tipo de substância em nosso corpo é a Capítulo 2 03/05/2021 Livro Digital - O AMBIENTE E AS DOENÇAS DO TRABALHO https://livrodigital.uniasselvi.com.br/pos/o_ambiente_e_as_doencas_do_trabalho/conteudo.html?capitulo=2 20/33 disponibilidade dela no organismo para que possamos desenvolver nossas funções (HENRY, 2008). Um exemplo prático: toda vez que nos alimentamos aumentamos os nossos níveis de glicose no sangue, sendo assim, a tendência é que ela seja consumida gerando energia (degradada) ou armazenada, produzindo glicogênio (molécula de reserva energética (CHAMPE, 2006). Quem determinará qual caminho seguir? A necessidade energética do momento! O cádmio acumula-se no organismo durante anos e os danos provenientes de seus acúmulos ocorrem devido ao bloqueio de várias atividades enzimáticas. O cádmio pode ser acumulado em diversos órgãos, tendo como alvos principais: os rins e pulmões. Portanto, os principais sintomas e consequências de sua intoxicação são: en�semas, �brose pulmonar, glomerulonefrites e, além disso, é um potencial elemento cancerígeno (OGA, 2008). IRRITANTE E ASFIXIANTE De acordo com os efeitos que causam no organismo, os gases podem ser divididos em irritantes e as�xiantes, sendo o trato respiratório e as mucosas (principalmente os olhos), os locais mais atingidos e que manifestam a maioria dos sinais e sintomas de um processo de irritação e as�xia. Vale ressaltar que a pele também pode manifestar sinais de irritação mediante a exposição a alguns tipos de gases. Os efeitos da ação dos gases no organismo são diretamente correlacionados com sua solubilidade em água. A água constitui aproximadamente 70% das nossas células, sendo assim, podemos dizer que 70% do nosso organismo é constituído por água. Quanto maior o potencial de solubilidade de um determinado gás, maior serão seus efeitos perante o organismo, pois seu processo de absorção será mais rápido. De uma maneira geral, os gases com maior solubilidade acabam por manifestar seus efeitos e sintomas nos olhos, pele e trato respiratório superior enquanto gases de solubilidade menor têm seus sinais e sintomas manifestados principalmente no trato respiratório inferior devido ao processo de absorção mais lento. A as�xia é de�nida pela supressão de pulso ou da respiração, portanto todo e qualquer mecanismo que impeça o adequado processo de inspiração de oxigênio e expiração do gás carbônico resultante da respiração é considerado as�xiante. Os gases exercem diferentes potenciais as�xiantes, os quais são diretamente correlacionados com a sua concentração e o tempo de exposição em um determinado ambiente (OGA, 2008). Antes de entender os efeitos as�xiantes, há necessidade de entender o processo �siológico da respiração. A hemoglobina é uma molécula proteica constituída de 4 cadeias proteicas, um anel de protopor�rina e vários átomos de ferro. Quando respiramos há um processo de oxidação do ferro presente na hemoglobina e, Capítulo 2 03/05/2021 Livro Digital - O AMBIENTE E AS DOENÇAS DO TRABALHO https://livrodigital.uniasselvi.com.br/pos/o_ambiente_e_as_doencas_do_trabalho/conteudo.html?capitulo=2 21/33 isso faz com que ele seja levado até os tecidos pela corrente circulatória (local onde encontram-se as hemácias). Ao chegar aos tecidos, encontra-se uma maior concentração de gás carbônico (CO ) do que de oxigênio, o que acarreta na troca gasosa. O oxigênio é deixado nos tecidos enquanto o gás carbônico é levado aos alvéolos pulmonares para posterior liberação para o meio extracelular. Esse processo de respiração faz com que o oxigênio seja disponibilizado e utilizado pelas células para produção de energia e consequente equilíbrio orgânico (HENRY, 2008). 2 Gases como cloro e seus derivados, ozônio, cianeto, amônia, dióxido de carbono, monóxido de carbono e derivados do nitrogênio exercem ação as�xiante. Dentre os citados, vale ressaltar a ação do monóxido de carbono que, embora conhecido até mesmo pela população leiga, é responsável por diversos casos de morte, inclusive em ambiente doméstico. Quantas vezes já acompanhamos em reportagens que o indivíduo deixou o carro ligado na garagem de casa, dormiu e foi encontrado morto? Automaticamente você deve perguntar: Por que ao sentir os sintomas de intoxicação o indivíduo não se afastou do local? O monóxido de carbono é um gás derivado da queima incompleta de combustíveis orgânicos, comumente encontrado em siderurgias, incêndios e motores automobilísticos. Tem uma a�nidade de ligação pela molécula de hemoglobina muito maior do que o oxigênio (cerca de 200 vezes), devido a isso tem um risco potencial de as�xia. Um ar contendo 0,1% de gás carbônico pode ocasionar um processo de intoxicação grave, levando inclusive o indivíduo a óbito por as�xia. Quando a exposição ao monóxido de carbono se dá em grandes concentrações, este acaba por saturar grande parte da hemoglobina e queda do potencial de oxigenação cerebral, fato que leva o indivíduo à inconsciência e posterior óbito. Por estar dormindo, não percebe os primeiros sintomas (náuseas, dores de cabeça, vômitos etc.) e entra em um estado inconsciente com contínua inalação do gás que acaba em óbito. Embora com potencial de gravidade, é importante ressaltar que a intoxicação pelo monóxido de carbono é reversível desde que haja socorro em tempo hábil. Como consequência da hipóxia queda do potencial de oxigenação tecidual, a ligação do monóxido de carbono, a hemoglobina pode desencadear uma alcalose sanguínea (aumento do pH sanguíneo) o que compromete o bom funcionamento enzimático. Subsequente à hipóxia tecidual, desenvolve-se uma hipotensão arterial que intensi�ca a di�culdade de oxigenação cerebral. Como mencionado anteriormente é possível a recuperação do indivíduo intoxicado pelo monóxido de carbono. Em alguns casos de recuperação dos sintomas agudos (imediatos), ocorre uma nova manifestação dos sintomas de intoxicação e as�xia. Essa reagudização ocorre porque o monóxido de carbono se liga a mioglobina (proteína muscular) que tem um potencial de dissociação mais lento do que a hemoglobina. Quando o monóxido de carbono se desprende da mioglobina, Capítulo 2 03/05/2021 Livro Digital - O AMBIENTE E AS DOENÇAS DO TRABALHO https://livrodigital.uniasselvi.com.br/pos/o_ambiente_e_as_doencas_do_trabalho/conteudo.html?capitulo=2 22/33 Responder ganha a circulação e liga-se novamente à molécula de hemoglobina manifestando os sintomas acima descritos. Os gases com potencial irritante manifestam seus efeitos principalmente na mucosa dos olhos, pele, mucosa nasal e pulmões. O processo de irritação é intimamente ligado ao desencadeamento de um processo in�amatório. É difícil encontrar entre os autores uma de�nição única de processo in�amatório, até porque há conceitos farmacológicos, imunológicos, patológicos, vasculares, celulares, em que cada especialidade foca em de�nir in�amação sobre sua ótica. De qualquer forma descrevemos aqui um conceito que abrange, mesmo que sucintamente, os vários aspectos. In�amação é toda e qualquer resposta do organismo a uma lesão tecidual na tentativa de recuperar o tecido lesado. Para que haja esse potencial de recuperação tecidual ocorrem alterações vasculares e celulares de forma localizada. Tente enumerar os sintomas de uma in�amação que você já teve. Importante: não confunda infecção com in�amação! ATIVIDADE DE ESTUDOS: 1) Relate os sintomas observados por você em um processo in�amatório que já sofreu: A in�amação recebeu esse nome por caracterizar algo in�amável e quente. Com opassar do tempo e realização de estudos, a in�amação é sustentada por quatro sinais cardinais: calor, edema, rubor e dor (BOGLIOLO, 2006). Não importa o processo in�amatório que esteja ocorrendo, todos manifestarão esses sintomas. Ao ocorrer um processo in�amatório, o local do organismo em que se manifesta a in�amação exibe uma alteração vascular e celular intensa. O estímulo in�amatório (elemento causador da in�amação) faz com que haja uma liberação Capítulo 2 03/05/2021 Livro Digital - O AMBIENTE E AS DOENÇAS DO TRABALHO https://livrodigital.uniasselvi.com.br/pos/o_ambiente_e_as_doencas_do_trabalho/conteudo.html?capitulo=2 23/33 de histamina por células locais denominadas de mastócitos. A histamina liberada atuará na microcirculação local e causará uma vasodilatação (aumento do calibre dos vasos), fato que contribuirá para um aumento do �uxo sanguíneo local e consequente rubor (vermelhidão ocasionado pelo acúmulo de hemácias) (BOGLIOLO, 2006). Por consequência da vasodilatação, há também aumento da permeabilidade vascular, que promove o extravasamento do líquido presente no interior dos vasos sanguíneos para os tecidos (edema tecidual). O aumento vascular e da permeabilidade facilita a passagem de células de defesa circulantes do interior do vaso sanguíneo para o tecido in�amado, fenômeno conhecido como diapedese. A presença e a ativação de células nos tecidos originarão o calor e a dor como consequência de sua ativação e do acúmulo no local, juntamente com o líquido extravasado. O contato com gases irritantes lesionará o tecido e isso será o desencadeador do processo in�amatório local dando sinais de irritação. Quando esse processo ocorre de forma descontrolada, principalmente nos alvéolos pulmonares, toda positividade do processo in�amatório agora transforma-se em malefício, principalmente pelo edema e pela produção de fármacos e demais proteínas que comprometem as vias respiratórias e consequentemente o potencial de respiração devido ao acúmulo de muco no local. Embora possa ser reversível, dependendo do tempo de exposição e da concentração do gás que entrou em contato, o indivíduo pode ir a óbito. Tabela 1- Relação dos principais gases e suas ações no organismo Nome do Gás Classi�cação Principais Sintomas Uso Comercial Amônia Irritante Edema agudo de Pulmão e parada respiratória Fertilizantes e indústria química Formaldeído Irritante In�amação da mucosa dos olhos Desinfetantes Dióxido de Enxofre Irritante Dores de cabeça, bronquioconstrição e cianose Re�narias de petróleo e fundições Capítulo 2 03/05/2021 Livro Digital - O AMBIENTE E AS DOENÇAS DO TRABALHO https://livrodigital.uniasselvi.com.br/pos/o_ambiente_e_as_doencas_do_trabalho/conteudo.html?capitulo=2 24/33 Cloro Irritante Edema agudo dos pulmões e parada cardiorrespiratória Indústria têxtil e corantes Monóxido de Carbono As�xiante Cefaléias, náuseas, vômitos e alterações neurológicas e coma Queima incompleta de combustíveis fósseis. Dióxido de Carbono As�xiante Cefaléias, náuseas, vômitos e alterações neurológicas e coma Queima de combustíveis fósseis Cianetos As�xiante Cefaléias, náuseas, vômitos e alterações neurológicas e coma Inseticidas Fonte: Os autores, 2013. NARCÓTICOS Gases e vapores narcóticos podem ser considerados como substâncias voláteis utilizadas como solventes e combustíveis. Quando essas substâncias entram em contato com o organismo, principalmente após inaladas, têm potencial efeito anestésico. Dentre as substâncias mais conhecidas temos o clorofórmio, o éter etílico, o benzeno, aldeídos e o próprio álcool etílico. Essas substâncias podem ser nocivas não somente quando inaladas, mas também quando em contato direto com a pele e/ou o trato digestório (MOREAU; SIQUEIRA, 2008). Embora os diferentes narcóticos possam manifestar alguns sintomas particulares quando em contato com o organismo, na grande maioria das vezes os sintomas são muito parecidos. Quando se tem uma baixa exposição aos narcóticos, observam-se cefaleias, náuseas, vômitos, tonturas e excitações. Mediante o aumento do tempo de exposição vários sistemas podem ser acometidos e os sintomas podem se manifestar das mais diversas formas, tais como: alterações no ritmo respiratório Capítulo 2 03/05/2021 Livro Digital - O AMBIENTE E AS DOENÇAS DO TRABALHO https://livrodigital.uniasselvi.com.br/pos/o_ambiente_e_as_doencas_do_trabalho/conteudo.html?capitulo=2 25/33 tendendo para depressão pulmonar, arritmias cardíacas e bradicardia, hepatotoxicidade, comprometimento do processo de �ltração renal (embora haja controvérsias na literatura quanto às formas de ingestão/contato), atuação no sistema nervoso central e consequente efeito narcótico. Devido aos efeitos narcóticos e anestésicos, o éter e o clorofórmio foram utilizados em processos cirúrgicos para obtenção da anestesia do paciente. Vale ressaltar o potencial cancerígeno já comprovado para os elementos voláteis, os quais estão diretamente ou indiretamente ligados ao desenvolvimento de cânceres nos mais diversos órgãos. Para �ndar este tópico frente aos possíveis danos ocasionados pelos mais diversos elementos químicos, comentaremos sobre patologias pulmonares devido à exposição ao carvão e a sílica. A silicose é uma doença pulmonar causada pela inalação de poeiras com sílica que desenvolve danos pulmonares, reação in�amatória e consequente �brose tecidual, o que acarreta na perda de função do órgão acometido com o passar do tempo, podendo inclusive levar o indivíduo à morte (SMELTZER, 2011). A debilidade pulmonar ocasionada pela exposição à sílica pode contribuir para a ocorrência de outras patologias pulmonares, tais como: a tuberculose e até mesmo contribuir para o desenvolvimento de neoplasias. Os trabalhados que são mais expostos ao contato com a sílica são: mineradores, trabalhadores das indústrias de cerâmicas e metalúrgicas, cavadores de poços, jateadores da indústria de construção naval. Outra patologia desenvolvida após a exposição à partícula de poeira é a Pneumoconiose dos Trabalhadores de Carvão. A inalação de partículas de carvão faz com que elas �quem alojadas nos pulmões e desencadeie um processo in�amatório local, semelhante ao que ocorre com a sílica. RISCOS BIOLÓGICOS Na tentativa de fazer com que você leitor entenda o quanto é importante enumerar e esclarecer os riscos biológicos faz-se o questionamento abaixo: Como você se defenderia daquilo que não vê? Como você se defenderia daquilo que não sente? Capítulo 2 03/05/2021 Livro Digital - O AMBIENTE E AS DOENÇAS DO TRABALHO https://livrodigital.uniasselvi.com.br/pos/o_ambiente_e_as_doencas_do_trabalho/conteudo.html?capitulo=2 26/33 Quando relatamos sobre agentes físicos e químicos, descrevemos uma série de exemplos e situações que agora certamente você tem conhecimento para perceber a nocividade de elementos físicos e químicos. A exposição ao frio, ao ruído, ao calor, aos gases, aos metais pesados etc, são todas situações que você conseguiria caracterizar a exposição. Agora, como saber se ao visitar um amigo internado no ambiente hospitalar você sairia de lá contaminado ou não? Como saber se ao se perfurar com uma agulha você seria contaminado? Descrever e exempli�car os riscos biológicos é tratar sobre vírus, bactérias, protozoários, fungos e bacilos que podem ser extremamente nocivos à saúde humana. Embora encontremos os microrganismos em vários tipos de ambiente, é evidente que pro�ssionais da saúde estejam expostos a um nível de periculosidade muito maior quando comparados a trabalhadores que não sejam da área da saúde. Isso faz com que medidas preventivas frente aos riscos biológicos sejam aplicadas aos setores hospitalares humanos e veterinários, clínicas, ambulatórios, laboratórios e empresas coletoras de resíduos infectantes com muito mais vigor. Agentes biológicos recebem essa denominação por abrangerem partículas ou seres vivos capazes de transmitir doenças. Considera-se risco biológico microrganismos modi�cados ou não geneticamente, vírus, culturas de células,parasitas, toxinas e príons. O SUS (Sistema Único de Saúde), mediante Lei 8080 de 19 de setembro de 1990, contempla não somente um conjunto de medidas para prevenção da saúde do trabalhador, como também prevê ações que auxiliem no tratamento e na recuperação do indivíduo. É importante deixar claro que o acidente de trabalho é proveniente de todo e qualquer acidente ocorrido mediante o exercício de uma determinada função, o qual pode acarretar na perda momentânea ou permanente da capacidade de desenvolver suas atividades laborais, ou até mesmo a morte do indivíduo. Segundo o Centers for disease control and prevention (CDC), estima-se que ocorram mais de 300 mil acidentes por ano com materiais perfurocortantes nos hospitais americanos, os quais podem promover a transmissão de patologias sérias, como a transmissão do HIV. O Brasil ainda carece de dados que permitam análises semelhantes com veracidade. (Valim, 2011). Dentre as transmissões biológicas mais sérias destacam-se as hepatites B e C, sendo a do tipo B com maior probabilidade de transmissão após um acidente perfurocortante (6%), seguido da hepatite C (2%) e HIV (0,3%) (MARZIALE; E RODRIGUES, 2002). A atenção frente à saúde do trabalhador, no que tange aos riscos biológicos de exposição, deve compreender ações conjuntas entre vigilância sanitária e epidemiológica de forma que possam se transformar em ações com maior efetividade na redução dos riscos e exposições ocupacionais. Capítulo 2 03/05/2021 Livro Digital - O AMBIENTE E AS DOENÇAS DO TRABALHO https://livrodigital.uniasselvi.com.br/pos/o_ambiente_e_as_doencas_do_trabalho/conteudo.html?capitulo=2 27/33 Para classi�cação dos níveis de risco biológico dos agentes transmissores são levados em consideração os seguintes aspectos: virulência, modo de transmissão, estabilidade, concentração e volume, origem do agente biológico potencialmente patogênico, disponibilidade de medidas profiláticas eficazes, disponibilidade de tratamento eficaz, dose infectante, tipo de ensaio e os fatores referentes ao trabalhador. Para o Ministério do Trabalho, riscos biológicos compreendem exposições a riscos biológicos: microrganismos geneticamente modi�cados ou não, cultura de células, parasitas, toxinas e príons (BRASIL, 2008). Sendo assim, os agentes biológicos que causam algum risco à saúde humana são classi�cados da seguinte maneira: Classe de risco 1: Abrangem microrganismo com baixo risco individual e coletivo com pouca ou nenhuma chance de causar danos à saúde humana ou animal. Exemplos: Lactobacillossp. Classe de risco 2: Abrangem microrganismos com moderado risco individual e baixo risco coletivo com chances de causar danos à saúde humana ou animal, porém com medidas pro�láticas e terapêuticas e�cazes. Exemplos: Escherichia coli, Shistossoma mansoni, Leptospirainterrogans, Staphylococcus aureus, entre outros. Classe de risco 3: Abrangem microrganismos com alto risco individual e moderado risco coletivo com chances de causar danos à saúde humana ou animal que podem ser letais. Exemplos: Bacillusanthracis, Clostridium botulinum, M. tuberculosis, vírus HIV entre outros. Classe de risco 4: Abrangem microrganismos com alto risco individual e coletivo com chances de causar danos à saúde humana ou animal que podem ser letais e que não tenham medidas pro�láticas e terapêuticas e�cientes. Exemplos: vírus Ebola. SINTOMATOLOGIA E PATOGENIA DO HIV ATIVIDADE DE ESTUDOS: 1) Antes de comentar sobre o HIV propriamente dito é de suma importância que façamos uma breve de�nição do que é um vírus. Você conseguiria descrever? Capítulo 2 03/05/2021 Livro Digital - O AMBIENTE E AS DOENÇAS DO TRABALHO https://livrodigital.uniasselvi.com.br/pos/o_ambiente_e_as_doencas_do_trabalho/conteudo.html?capitulo=2 28/33 Responder Basicamente os seres vivos podem ser classi�cados em procariotos (não possuem um ambiente celular organizado) e eucariotos (possuem ambiente celular organizado). Os vírus não se encaixam nessas de�nições, pois se trata de uma estrutura sem metabolismo próprio, ou seja, ele precisa penetrar em uma célula e utilizar de sua maquinaria metabólica (enzimas) para conseguir se desenvolver e multiplicar. Por isso, os vírus são caracterizados como patógenos intracelulares obrigatórios (ALBERTS, 2006). Devido a toda essa necessidade de um ambiente celular para se desenvolver, a grande maioria dos vírus não sobrevive por muito tempo no ambiente e necessitam de uma rápida transmissão para que consigam sua sobrevida e multiplicação (ALBERTS, 2006). Quando retornamos aos registros históricos, podemos dizer que a AIDS surgiu devido a acidentes de trabalho. No início de século XX africanos com o hábito de caçar macaco para sua alimentação entravam em contato com um vírus denominado SIV (Vírus da Imunode�ciência Símia). Esse contato se dava principalmente no momento da limpeza desses animais pelo contato direto com o sangue da presa. Mediante inúmeros contatos com o organismo humano esse vírus sofreu algumas pequenas mutações e deu origem ao HIV (Vírus da Imunode�ciência Humana). O homem passa a apresentar sintomas de imunode�ciências e muitas mortes ocorreram sem ao menos ter alguma descon�ança do mal que sofriam. ATIVIDADE DE ESTUDOS: 1) Que tal uma pesquisa para diferenciarmos epidemia de pandemia? Capítulo 2 03/05/2021 Livro Digital - O AMBIENTE E AS DOENÇAS DO TRABALHO https://livrodigital.uniasselvi.com.br/pos/o_ambiente_e_as_doencas_do_trabalho/conteudo.html?capitulo=2 29/33 Responder No início dos anos 1980 os sintomas causados pelo HIV ultrapassam várias barreiras continentais e se alastraram pelo mundo. Por volta de 1983 o HIV foi caracterizado como o vírus responsável por aquela sintomatologia apresentada por várias pessoas. No início ele foi caracterizado com um câncer homossexual, pois as pessoas que adquiriam os sintomas da doença pertenciam a esse grupo de pessoas. Tudo isso porque ainda não se sabia do seu potencial de transmissão via sexual, situação comprovada poucos anos mais tarde. Sendo assim, a AIDS (Síndrome da Imunode�ciência Humana) corresponde a sintomatologias diversas que são ocasionadas pelo vírus HIV podendo ser transmitida via sexual ou pelo contato com �uídos corpóreos (KUMAR; FAUSTO; ABBAS, 2005). Quando analisamos o desenvolvimento viral conseguimos estabelecer que para cada tipo de vírus há uma área especí�ca do organismo que será acometida. O vírus da Caxumba infecta as células da glândula parótida, o vírus da hepatite infecta o fígado, o vírus da gripe atacam as vias respiratórias e o vírus HIV infecta e destrói os linfócitos T. Os linfócitos T são um tipo de glóbulo branco que possuem a capacidade de organizar e coordenar as respostas imunológicas. Sendo assim, quando há uma infecção pelo HIV nossas defesas �cam comprometidas e acabamos por desenvolver infecções recorrentes para outros tipos de patógenos (BOGLIOLO, 2006). O vírus HIV tem como principais vias de infecção a exposição percutânea, as mucosas e a transmissão congênita. Do ponto de vista ocupacional, a exposição percutânea apresenta um risco e uma possibilidade de infecção maior do que a via mucosa. Segundo pesquisas realizadas nos Estados Unidos estima-se que ocorra mais de 300.000 casos de acidentes com perfucortantes por ano. Dentre as ocupações estudadas, os pro�ssionais de enfermagem apresentaram o grupo de maior risco (VALIM, 2011). Capítulo 2 03/05/2021 Livro Digital - O AMBIENTE E AS DOENÇAS DO TRABALHO https://livrodigital.uniasselvi.com.br/pos/o_ambiente_e_as_doencas_do_trabalho/conteudo.html?capitulo=2 30/33 Vale ressaltar que o potencial de infecção do HIV frente a um acidente de trabalho irá ser diretamente proporcional a carga viral do sangue contaminante e a condição imunológica do indivíduo que sofreu o acidente. Após um acidente com material perfucortante, se faz necessário o uso de medicação pro�lática (coquetel anti-HIV) horas depois do acidente ocorrido. Pesquisas demonstram que a chance de transmissão do HIV após acidente ocupacional varia entre 01 e 0,5%(VALIM, 2011). SINTOMATOLOGIA E PATOGENIA DAS HEPATITES VIRAIS Atualmente são conhecidos e descritos sete tipos diferentes de vírus causadores de hepatites os quais são denominados A, B, C, D, E, F e G. Embora todos tenham como característica a infecção e destruição dos hepatócitos (células do fígado), a agressividade e o potencial de ataque variam de acordo com o tipo viral. Dentre os citados, as hepatites A e E não podem ser creditados como riscos ocupacionais, uma vez que são transmitidos pela ingestão de água e alimentos contaminados. Os vírus B, C e D são transmitidos via líquidos corpóreos (principalmente o sangue) e representam um risco ocupacional eminentes aos pro�ssionais de saúde (KUMAR; FAUSTO; ABBAS, 2005. Os vírus F e G ainda estão no início dos estudos e processos de identi�cação. Sendo assim, não serão abordados neste capítulo, embora haja evidência do seu potencial de transmissão semelhante aos vírus B, C e D. ATIVIDADE DE ESTUDOS: 1) Caso você fosse instigado a dizer qual o principal órgão do sistema cardiovascular, você certamente diria coração. Se perguntássemos sobre o principal órgão do sistema nervoso, você sem pensar responderia que é o cérebro. Quando questionado sobre o principal órgão do sistema respiratório de imediato responderia pulmão. Agora se questionássemos qual a principal função do fígado, o que você responderia? Comente: Capítulo 2 03/05/2021 Livro Digital - O AMBIENTE E AS DOENÇAS DO TRABALHO https://livrodigital.uniasselvi.com.br/pos/o_ambiente_e_as_doencas_do_trabalho/conteudo.html?capitulo=2 31/33 Responder O fígado é o nosso principal órgão metabólico. Tudo aquilo que ingerimos precisa ser metabolizado, transformado para posterior utilização pelo organismo ou para permitir sua excreção caso não necessitemos mais. Um antibiótico que tomamos, um alimento que ingerimos, uma intoxicação que sofremos, todas essas substâncias são metabolizadas no fígado na tentativa de permitir uma melhor absorção ou uma melhor capacidade de excreção e não toxicidade ao organismo. Portanto, se o fígado sofre algum dano, teremos nosso sistema metabólico prejudicado. Dentre todos os processos citados acima, certamente a produção e degradação de proteínas é uma das principais funções realizadas pelo fígado. Os hepatócitos são células que possuem uma grande quantidade e diversidade de enzimas responsáveis por garantir o funcionamento de várias vias metabólicas (CHAMPE, 2006). Além do potencial de atuação frente ao metabolismo das proteínas, o fígado é o órgão responsável pela produção da bile. A produção de bile é uma das formas que possuímos de excretar derivados de nitrogênio, os quais são tóxicos para o organismo, por exemplo, a amônia. A bile é formada mediante a atuação de enzimas hepáticas para transformação de bilirrubina (composto produzido mediante a destruição de hemácias velhas) e tem uma importante função digestiva, principalmente quando ingerimos alimentos ricos em gordura. Sabendo que o fígado tem uma importante função na produção de proteínas (principalmente albumina plasmática), excreção de nitrogênio e produção de bile, quando temos uma infecção e destruição das células hepáticas os principais sintomas são: queda das proteínas plasmáticas e consequente acúmulo de líquidos nos tecidos (casos mais graves), intoxicação e distúrbios neurológicos (casos extremos), pele amarelada e desconfortos digestivos (sintomas iniciais) (HENRY, 2008). Capítulo 2 03/05/2021 Livro Digital - O AMBIENTE E AS DOENÇAS DO TRABALHO https://livrodigital.uniasselvi.com.br/pos/o_ambiente_e_as_doencas_do_trabalho/conteudo.html?capitulo=2 32/33 Capítulo 1 Capítulo 3 Além do contato direto com �uidos corpóreos, os vírus das hepatites B, C e D podem ser transmitidos via sexual, quando sem o uso do preservativo e acarreta os mesmos danos de quando transmitido por via sanguínea. Portanto, não somente a exposição ao sangue tem potencial de transmissão, mas a exposição a outros tipos de materiais biológicos como o sêmen podem propiciar a transmissão (BOGLIOLO, 2006). Os acidentes de trabalho, principalmente com perfurocortantes ou contato direto com mucosas (principalmente região ocular e bucal) fazem com que as partículas virais alcancem nossa corrente sanguínea e consequentemente atinjam o fígado. Como dito anteriormente, os vírus são patógenos intracelulares obrigatórios e terão a necessidade de penetrar nas células hepáticas para seu desenvolvimento. Sempre que houver multiplicação viral, haverá destruição de células hepáticas e por consequência extravasamento da bile (pele amarelada) e diminuição da produção de proteínas plasmáticas (BOGLIOLO, 2006). Quando falamos nos aspectos preventivos das hepatites, a Hepatite do tipo B é a única que possui vacinação, portanto essa deve estar em dia para todos os trabalhadores da área da saúde. As hepatites C e D não possuem vacina e o seu tratamento ainda carece de melhorias. Por não ter um tratamento e�caz, uma vez infectado por uma hepatite C, o indivíduo permanece com o vírus por toda vida, tendo períodos de melhorias e recaídas. Para alguns casos é indicado o transplante de fígado, porém esse nem sempre tem o potencial de resolução. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES Neste capítulo procuramos classi�car os riscos pertinentes a um ambiente de trabalho, assim como descrever as patologias humanas decorrentes da exposição a estes riscos. Vimos que, independente do trabalho desenvolvido, estamos sempre expostos a riscos provenientes de nossas atividades diárias os quais são variáveis de acordo com o tipo de função que exercemos. É praticamente impossível trabalharmos sem algum tipo de exposição, sendo assim, reconhecer os riscos e aplicar as medidas preventivas, tornam-se procedimentos importantes para manter a saúde individual e coletiva do ambiente de trabalho em que se insere. Capítulo 2 03/05/2021 Livro Digital - O AMBIENTE E AS DOENÇAS DO TRABALHO https://livrodigital.uniasselvi.com.br/pos/o_ambiente_e_as_doencas_do_trabalho/conteudo.html?capitulo=2 33/33 Conteúdo escrito por: Todos os direitos reservados © Antonio Roberto Rodrigues Abatepaulo Sabino Scipiecz Capítulo 2