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Julia Paris Malaco – UCT14 SP4 – Hemocultura Bacteremia e sepse A existência de bactérias na corrente sanguínea caracteriza uma bacteremia, que pode ser consequente a uma infecção ou apenas representar a liberação transitória de bactérias no sangue. Septicemia ou sepsis indica a situação na qual as bactérias ou seus produtos (toxinas) estão causando danos no hospedeiro. Sinais e sintomas de septicemia devem incluir febre ou hipotermia, arrepios, hiperventilação e subsequente alcalose, lesão de pele, mudança no "status" mental e diarreia. Manifestações mais sérias incluem hipotensão e choque, coagulação intravascular disseminada e falência dos órgãos. Protocolo de sepse: A antibioticoterapia deve ser instituída de imediato antes da primeira hora após o atendimento ao paciente, preferencialmente após a coleta das culturas A cada hora de atraso no início na antibioticoterapia, a mortalidade aumenta cerca de 4% O choque é a mais grave complicação da septicemia. No choque séptico a presença de produtos bacterianos e outros componentes da resposta de defesa do hospedeiro atua diminuindo as funções dos órgãos vitais do hospedeiro. Manifestações incluem queda de pressão sanguínea, aumento na velocidade cardíaca, diminuição nas funções vitais de alguns órgãos (cérebro, pulmão, rins e fígado) e problemas no equilíbrio ácido-básico. A endotoxina, mais especificamente o dissacarídeo lipídico central do lipopolissacarídeo (LPS), o lipídio A, presente na parede celular de bactérias Gram negativas, parece mediar um número de reações sistêmicas, incluindo uma queda nos granulócitos circulantes, uma resposta febril e a ativação do complemento e certos fatores de coagulação sanguínea. A síndrome caracterizada por febre, stress respiratório agudo, choque, falência renal, coagulação intravascular e destruição tecidual, conhecida como choque séptico, pode ser iniciada por exotoxinas ou endotoxinas bacterianas, porém, ele é mediado pelo mesmo mecanismo, ou seja, células mononucleares ativadas que produzem citotoxinas tais como: fator de necrose tumoral e interleucina. Conceitualmente, ainda se classificam as bacteremias em transitórias, intermitentes ou contínuas. A do tipo transitória, que em geral é rápida, com duração de alguns minutos a poucas horas, é a mais comum e ocorre após manipulação de algum tecido infectado (abscessos e furúnculos), durante algum procedimento cirúrgico que envolve tecido contaminado ou colonizado (odontológico, cistoscopia, endoscopia), ou em algumas infecções agudas como pneumonia, meningite, atrite e osteomielite. Quando esta bacteremia desaparece e volta a ocorrer (com o mesmo micro-organismo), é denominada intermitente. Geralmente, esse tipo de bacteremia ocorre em processos infecciosos relacionados a abscessos intra- abdominais, pneumonias e outras. A bacteremia contínua é característica da endocardite infecciosa e de outras infecções intravasculares. As bacteremias, na grande Julia Paris Malaco – UCT14 maioria das vezes, são causadas por um único microorganismo, porém em raras situações são de etiologia polimicrobiana. Bacteremias primárias: não apresentam um foco de infecção identificável ou são devidas a endocardites ou a presença de acessos vasculares Bacteremias secundárias: decorrentes de um foco primário de infecção conhecido (foco urinário, pulmonar, ginecológico, abdominal, etc) Hemocultura Uma hemocultura é definida como sendo uma amostra de sangue obtida de uma punção venosa que é inoculada em um ou mais frascos de hemocultura Importante para auxiliar no diagnóstico de infecções da corrente sanguínea Recomenda-se colher duas a quatro amostras por episódio de bacteremia ou sepse, que permite o isolamento do agente bacteriano ou fúngico em 95% dos eventos. As amostras são coletadas por punção venosa, uma após a outra em locais diferentes, de preferência, antes do pico febril ou a bacteremia. 1 amostra corresponde a uma punção - Cada punção corresponde a dois frascos para adultos (geralmente um para aeróbicos e uma para anaeróbicos) e um frasco para pacientes pediátricos até 13 Kg. O meio básico para hemocultura deve conter nutrientes para o crescimento microbiano e um anticoagulante. As hemoculturas devem ser incubadas a 35-37ºC e inspecionados rotineiramente duas vezes por dia (pelo menos durante os primeiros 3 dias) para verificação de sinais de crescimento microbiano. A seguir encontra-se um fluxograma de realização de hemocultura: Nos exames de rotina, não é necessário incubar as culturas de sangue por mais de 7 dias. Em sistemas automatizados a incubação rotineira é feita por até 5 dias e o sistema emite um alerta quando identifica algum crescimento de micro- organismo. Bacteremias verdadeiras geralmente apresentam positividade com um tempo < 48h. Interpretação: O diagnóstico de bacteremia e a identificação dos micro-organismos causais são muitas vezes procedimentos de laboratório criticamente importantes. Infelizmente, culturas de sangue estão sujeitas a contaminação, particularmente com bactérias da pele, durante a colheita e ocasionalmente no processamento. Mesmo sob condições ótimas, uma taxa de 2 a 3% de contaminação deve ser esperada. Contudo, não se pode suspeitar de contaminação simplesmente porque S.epidermidis, difteróides ou propionibactérias foi isolada, porque todos estes micro-organismos podem causar endocardite bacteriana subaguda ou infecções em certas próteses implantadas. Muitas espécies consideradas não patogênicas têm sido associadas às infecções em hospedeiro imunologicamente comprometido. A decisão quanto ao significado de tais achados deve levar em consideração as probabilidades clínicas e serão facilitadas pela informação se o micro- organismo foi isolado mais de uma vez numa série de culturas de sangue. Resultados: É muito importante que o clínico acompanhe a evolução da hemocultura no laboratório. Portanto, relatórios preliminares devem ser fornecidos tanto nas culturas positivas quanto nas negativas. No caso de culturas negativas, resultados tais como "as hemoculturas não apresentam crescimento após 3 dias de incubação: será feita uma leitura posterior", são apropriadas quando as primeiras subculturas cegas não apresentam crescimento após incubação de um dia para outro e não há evidência microscópica de crescimento no frasco de cultura de sangue. Quando há evidência de crescimento, e isto é confirmado pela coloração de Gram, deve ser fornecido um resultado preliminar por telefone; isto deve ser sempre seguido pelo resultado escrito especificando a natureza geral do micro-organismo observado, por exemplo, bacilos Gram negativos, e que um resultado posterior será encaminhado. Os resultados finais são fornecidos quando as subculturas de 7 dias apresentarem-se negativas após 48-72 horas de incubação. O resultado deverá ser fornecido da seguinte forma: Julia Paris Malaco – UCT14 Metodologia automatizada Cultura: Sem desenvolvimento de bactérias, após 5 dias de incubação, nas duas amostras coletadas. Metodologia convencional Cultura: Sem desenvolvimento de bactérias, após 7 dias de incubação, nas três amostras coletadas. Em culturas positivas o resultado deve ser: Cultura: Desenvolvimento de cocos Gram positivos (ou bacilos Gram negativos) com caracteres bioquímicos de .............., nas duas amostras coletadas. Por exemplo: Desenvolvimento de cocos Gram positivos com caracteres bioquímicos de Staphylococcus aureus, nas duas amostras coletadas. Infecção de corrente sanguíneaassociada a cateter venoso central (IPCS) As infecções primárias de corrente sanguínea (IPCS) estão entre as mais comumente relacionadas à assistência à saúde. Estima-se que cerca de 60% das bacteremias nosocomiais sejam associadas a algum dispositivo intravascular. Dentre os mais frequentes fatores de risco conhecidos para IPCS, podemos destacar o uso de cateteres vasculares centrais, principalmente os de curta permanência. A IPCS associa-se a importante excesso de mortalidade, a maior tempo de internação e a incrementos de custos relacionados à assistência. A mortalidade varia entre pacientes, conforme a existência ou não de outros fatores de risco associados (como, por exemplo, internação em terapia intensiva, onde a mortalidade por IPCS pode atingir até 69%). Nas duas primeiras semanas a colonização extraluminal predomina na gênese da IPCS. Isto é, as bactérias da pele ganham a corrente sanguínea após terem formado “biofilmes” na face externa do dispositivo. Após esse período, no entanto, e principalmente nos cateteres de longa permanência, prevalece a colonização da via intraluminal como fonte de bactérias para a ocorrência da IPCS. Isso ocorre porque estes cateteres possuem mecanismos que coíbem a colonização extraluminal. Outras vias menos comuns de IPCS são a colonização da ponta do dispositivo por disseminação hematogênica a partir de outro foco e a infusão de soluções contaminadas. Sendo assim, a taxa de incidência de infecção de corrente sanguínea (IPCS) em um Hospital é um importante e preciso marcador na qualidade de assistência ao paciente. Calculamos a taxa de acordo com a seguinte fórmula: nº de casos novos de IPCS no período/nº de CVCS-dia no período X 1000. É recomendado que as infecções sejam subdivididas entre as IPCS laboratoriais e as IPCS clínicas: IPCS laboratoriais: São IPCS com hemocultura positiva, as quais têm critério diagnóstico mais objetivo, e permitem comparações mais fidedignas entre hospitais. No entanto, a sensibilidade das hemoculturas é variável de acordo com práticas institucionais de hospitais e laboratórios, e é baixa em pacientes que já estão em uso de antimicrobianos. IPCS laboratorial é aquela que preenche um dos seguintes critérios o Critério 1 – Paciente com uma ou mais hemoculturas positivas coletadas preferencialmente de sangue periférico e o patógeno não está relacionado com infecção em outro sítio. o Critério 2 – Pelo menos um dos seguintes sinais ou sintomas: febre (>38°C), tremores, oligúria (volume urinário <20ml/h) hipotensão (pressão sistólica ≤ 90mmHg) e esses sintomas não estão relacionados com infecção em outro sítio. o Duas ou mais hemoculturas (em diferentes punções com intervalo máximo de 48h) com contaminante comum de pele IPCS clínicas: as infecções diagnosticadas clinicamente são de definição mais simples, mas apresentam grande teor de subjetividade. IPCS clínica é aquela que preenche os seguintes critérios o Pelo menos de um dos seguintes sinais ou sintomas: febre(>38°), tremores, oligúria (volume urinário <20ml/h) hipotensão (pressão sistólica ≤90mmHg) ou (não relacionados com infecção em outro sítio) o E todos os seguintes: Hemocultura negativa ou não realizada; Nenhuma infecção aparente em outro sítio; Médico institui terapia antimicrobiana para sepse
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