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Comportamento de Lepidoptera em Ambiente Artificial

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*Graduando em Ciências Biológicas na Universidade Paulista - UNIP 
**Bióloga Mestre em Controle Biológico de Insetos e Docente na Universidade Paulista – UNIP 
Email: diego_luciano93@outlook.com 
Comportamento de Lepidoptera em Ambiente Artificial 
Lepidoptera Behavior in Artificial Environment 
Diego Luciano Camara* 
Mariana Garcia M. da Silva** 
 
 
RESUMO 
O habitat natural de muitas borboletas está sendo perdido pelas ações antrópicas e a 
conservação desses insetos vem sendo incorporada em diversos programas e projetos 
ambientais. Os borboletários são ainda um criadouro dinâmico e produtivo e ter um ambiente 
equilibrado dentro desses locais é importante para a sobrevivência das borboletas. Assim este 
trabalho analisou as condições em que as borboletas Ascia monuste (Pieridae), Caligo illioneus 
e Methona themiso (Nymphalidae), que são frequentemente encontradas em borboletários, são 
submetidas no local e os possíveis efeitos sobre seus ciclos de vida. O local de estudo foi o 
Jardim Botânico de Diadema onde se localiza o Borboletário Tropical Conservacionista Laertes 
Brites de Oliveira. Durante os 31 dias de observação, as três espécies tiveram a preferência 
alimentar e de repouso sem muito impacto sobre elas, sendo que o que mais influência é o 
local de ovoposição das espécies, pois as lagartas precisam da planta hospedeira para ter uma 
qualidade nutricional adequada. Contudo o manejo na casa de criação e o ambiente no viveiro 
precisam estar em condições ideais para o desenvolvimento das espécies senão o ciclo de 
vida pode sofrer grandes impactos e as populações podem diminuir drasticamente o número de 
indivíduos. 
PALAVRAS-CHAVE: Borboletário, Nymphalidae, Pieridae 
 
ABSTRACT 
The natural habitat of many butterflies is being lost by human activities and the conservation of 
these insects has been incorporated in several programs and environmental projects. The 
butterflies gardens are still a dynamic and productive breeding and have a balanced 
environment within these sites is important for the survival of butterflies. So this study examined 
the conditions under which the butterflies Ascia monuste (Pieridae), Caligo illioneus and 
Methona themiso (Nymphalidae), which are often found in butterflies gardens are submitted on 
the site and the possible effects on their life cycles. The study site was the Diadema Botanical 
Garden where is the Butterfly Garden Tropical Conservation Laertes Brittes de Oliveira. During 
the 31 days of observation, all three species had a feeding preference and rest without much 
impact on them, and the more influence is the site of oviposition species because the 
caterpillars have to host plant to have adequate nutritional quality. However the management at 
the home of creation and the environment in the nursery need to be in ideal conditions for the 
development of the species but the life cycle can suffer major impacts and populations can 
dramatically decrease the number of individuals. 
KEYWORDS: Butterfly Garden, Nymphalidae, Pieridae 
 
 
2 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
 
 Lepidoptera é uma das principais ordens de insetos com 
aproximadamente 146.000 espécies, sendo mais de 7.100 espécies de 
borboletas, em regiões Neotropicais e ocorrendo entre 3.100 e 3.280 espécies 
no Brasil1. Essa ordem tem esse nome devido que os indivíduos pertencentes 
a ela possuírem o corpo e, principalmente, as asas compostas por micro 
escamas (lepidos = escama, ptera = asa)2. 
 Dentre as famílias que constituem a ordem, a família Nymphalidae é 
uma das que possui maior riqueza de espécies, sendo 788 espécies 
encontradas no Brasil3. A principal característica que defini essa família é a 
redução do par de pernas anterior e o fato de não possuírem garras e 
utilizarem apenas os pares médios e posteriores para caminharem4. 
 A família Pieridae possui algumas borboletas que são muito comuns e 
abundantes de tamanho pequeno a médio de cor branca ou amarelada com 
manchas pretas na margem das asas e, ao contrário dos ninfalídeos, possuem 
o par anterior de pernas bem desenvolvido4. Os pierídeos constituem também 
uma família com grande diversidade de espécie, cerca de 1200, sendo que 65 
ocorrem no Brasil5. 
O habitat natural de muitas borboletas está sendo perdido pela 
urbanização e agricultura e em consequência, a conservação desses insetos 
vem sendo incorporada em diversos programas e projetos ambientais6. Uma 
alternativa são os borboletários que tratam de locais com o objetivo de 
apresentar para a população uma oportunidade de contato com estes animais7. 
As borboletas chamam atenção por serem coloridas e, como animais 
bandeiras, podem ser utilizadas para explicar a importância da conservação 
dos insetos. Os borboletários são ainda um criadouro dinâmico e produtivo; 
uma vez que, a passageira vida das borboletas, dura em média, um a quatro 
meses na fase adulta, de acordo com a espécie7. 
Ter um ambiente equilibrado dentro do borboletário é importante, já que 
as borboletas são bioindicadores, a variação e a proporção das espécies 
podem mostrar se a qualidade do habitat está melhorando ou piorando1. 
3 
 
 Dentre as espécies frequentemente encontradas em borboletários está a 
Caligo illioneus, pertencente à tribo Brassolini da família Nymphalidae, 
popularmente conhecida como “Borboleta Olho de Coruja”, “Borboleta Coruja” 
ou “Corujão”, por possuírem um desenho de olho na parte ventral do par de 
asas posterior (mecanismo de defesa contra predadores)4. Tendo como planta 
hospedeira monocotiledôneas das famílias Poaceae, Musaceae, Cyperaceae, 
Marantaceae e Heliconeaceae em toda a América Latina onde é encontrada 
essa espécie e sendo frequentemente vista no Brasil ovopositando e sendo 
considerada uma praga na agricultura em bananeiras e em plantas do gênero 
Helicônia8. 
 Outra espécie frequente é a Methona themisto, uma borboleta 
observada em áreas urbanas, um ninfalídeo da subfamília Ithomiinae9. Sua 
lagarta tem como alimento plantas da família Solanaceae, em específico a 
Brunfelsia uniflora, popularmente conhecida como “Manacá de Cheiro” ou 
“Manacá de Jardim”. Esta planta possui alcaloides em sua composição, assim 
quando a lagarta se alimenta, além dos nutrientes, ela acaba consumindo 
esses alcaloides e usando como mecanismo de defesa, sendo impalatável para 
seus predadores10. 
 A espécie Ascia monuste, também criada em muitos borboletários, é um 
pierídeo que mede em torno de 50mm de envergadura, tem asas de cor 
esbranquiçada com bordas escuras. É conhecida com “Borboleta da Couve” ou 
“Curuquerê-da-Couve”, é uma das principais pragas das brasicáceas, 
principalmente couve. Os ovos são postos geralmente na parte abaxial das 
folhas e possuem coloração amarelada11. 
Na fase larval, as borboletas possuem um aparelho mastigador, 
podendo ser monófagas (se alimentam de uma única espécie de planta) ou 
polífagas (se alimentam de várias famílias de plantas). Já na fase adulta elas 
possuem um aparelho sugador e se alimentam do néctar das flores, pólen, 
frutas em decomposição, porém há espécies que se alimentam de fezes e 
outros alimentos líquidos2. 
 Independente do comportamento, cada inseto possui semelhantes 
necessidades de uma dieta equilibrada, tratando exclusivamente dos nutrientes 
que cada um precisa e tendo como exigência nutricional básica aminoácidos, 
4 
 
vitaminas, sais minerais, carboidratos, lipídios e esteroides; o que difere entre 
eles é a quantidade que cada indivíduo precisa12. 
 Estudos mostram que carboidratos na dieta artificial é a principal fonte 
de energia para os insetos e quando oferecidos em excesso, são convertidos 
em lipídios que podem ser usados na síntese de aminoácidos2. 
As vitaminas são necessárias, mas geralmente não podem ser 
sintetizadas, sendo essenciais vitaminas hidrossolúveis e do complexo B, 
porém pelo avanço das técnicas de criação de insetos, foi possível observar 
quealguns grupos restritos exigem vitaminas lipossolúveis como A, E e K12. 
A escolha da planta hospedeira é muito importante, pois a lagarta não 
consegue identificar qual alimento é o mais nutritivo para ela, cabendo à 
borboleta escolher a melhor planta para a sua prole e consequente local de 
ovoposição. Algumas espécies dependem das plantas não só para 
alimentação, mas também para a sua proteção, como M. themisto8, além de 
ajudar na produção de feromônios na fase adulta13. 
Assim este trabalho analisou as condições em que as borboletas Ascia 
monuste, Caligo illioneus e Methona themisto são submetidas em um 
borboletário e os possíveis efeitos sobre seus ciclos de vida. 
 
 
2. METODOLOGIA 
 
2.1. LOCAL DE ESTUDO 
 
O estudo foi realizado no Jardim Botânico de Diadema, localizado sob as 
coordenadas geográficas: latitude 23° 43’ 10.4” S, longitude 46° 36’ 5” W, 
gerido pela Secretaria de Meio Ambiente (SEMA) do mesmo município. A 
altitude é em torno de 800 metros e a temperatura manteve-se em média 18ºC 
durante o período e com um índice pluviométrico anual de 1400 a 1500mm. 
A cobertura vegetal original de Diadema é a Mata Atlântica de Planície, o 
parque possui 26.312m2, onde possui a estrutura física do SEMA e trilhas por 
onde ocorrem passeios monitorados ao borboletário (Figura 1). Este último 
apresenta duas estruturas, o viveiro e a casa de criação totalizando 200m2, 
sendo 187,20m2 do primeiro e 10,80m2 do segundo local, neste estão 
5 
 
localizados os ovos, lagartas, crisálidas (pupas) e borboletas que se 
desenvolvem e, quando adultas, são transferidas para o viveiro, onde ocorre a 
visitação pública. 
 
2.2. LEVANTAMENTO DE REGISTROS 
 
Para o estudo foram utilizados os registros existentes da coleta de ovos 
da borboleta “Olho-de-Coruja” (Caligo illioneus) entre os anos de 2012 e 2014, 
pois é o único ovo entre as espécies criadas no local de fácil manipulação sem 
que este afete a saúde deles e estes registros auxiliaram na comparação com 
os resultados observados in loco. 
 
2.3. OBSERVAÇÃO IN LOCO 
 
As espécies estudadas foram Ascia monuste (Pieridae) (Figura 2), 
Caligo illioneus (Figura 3) e Methona themisto (Nymphalidae) (Figura 4). 
Buscou-se a observação de fatores que pudessem afetar o comportamento e o 
ciclo de vida das espécies. Os aspectos analisados no manejo das borboletas 
foram: 
 Alimentação das lagartas e borboletas, incluindo a 
complementação alimentar e as plantas de preferencia delas; 
 Coleta dos ovos, a quantidade e o local de ovoposição; 
 O manejo na casa de criação, a limpeza e climatização do recinto 
das lagartas e a posição das pupas; 
 Manutenção do viveiro; 
 O local que preferem estar em repouso. 
Figura 1: Borboletário Tropical Conservacionista Laertes Brittes de Oliveira. A - casa de 
criação; B - viveiro. 
A B 
6 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A observação durou 31 dias a partir da ultima reforma no borboletário – 
que aconteceu entre o mês de junho e julho; sendo feita a partir do dia 20 de 
julho até o dia 31 de agosto. A analise ocorreu em alguns dias das 9h as 
14:30h e em outros das 10h as 15:30h, com isso foi possível analisar a 
restauração do ambiente e das populações que ali vivem. 
Na casa de criação as lagartas foram alimentadas com folhas novas em 
ótimas condições, de bananeira e couve, para manter a qualidade dos 
nutrientes para o seu desenvolvimento. Somente as lagartas de M. themisto 
não foram alimentadas no local. 
A alimentação do adulto foi feita a base das flores que ficam no viveiro e 
de frutas em decomposição, geralmente utiliza-se frutas que não são ácidas, 
como banana, manga e mamão, junto com néctar artificial feito com mel ou 
melaço, groselha, néctar industrializado, vitaminas hidrossolúveis essenciais e 
água potável. 
Os potes das lagartas foram limpos três vezes por semana (segunda-
feira, quarta-feira e sexta-feira) para evitar ao máximo o contato delas com 
Figura 3: Caligo illioneus (Borboleta Olho 
de Coruja) 
Figura 2: Ascia monuste (Borboleta da Couve) 
Figura 4: Methona themisto (Borboleta do Manacá) 
7 
 
Figura 6: A – Pupário de Caligo illioneus; B – Pupário de Caligo illioneus com a tela de proteção. 
suas próprias fezes. Nas segundas e nas sextas-feiras eles foram totalmente 
trocados sempre limpando com álcool e cloro para evitar a assepsia. 
A coleta de ovos da C. illioneus aconteceu duas vezes por semana e foi 
verificado o local onde eles estavam; já das outras espécies só foi coletado a 
lagarta pelo fato dos ovos serem facilmente parasitados e danificados. Após a 
coleta teve a divisão deles em lotes com no máximo 400 ovos em cada um e 
colocados na folha de Helicônia limpa que fica em um pote com terra 
umedecida para evitar a desidratação da folha e comprometer a saúde dos 
ovos (Figura 5). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
As lagartas de A. monuste foram coletadas ainda nos primeiros instares 
para evitar que comam ovos que estejam próximos a ela e ter a garantia de seu 
desenvolvimento e as de M. themisto só foram recolhidas no último instar10 
para que, ao empupar, não corressem o risco de parasitismo. 
O pupário de C. illioneus foi feito em um aquário comum com uma placa 
de isopor colada na lateral, com essa parte voltada para cima, e uma tela de 
proteção para evitar parasitismo por outros insetos (Figura 6). 
 
Figura 5: Ovos coletados sobre folha de Helicônia e 
mantidos na casa de criação. 
A B 
8 
 
Figura 7: Caligo illioneus se alimentando de 
frutas em decomposição e néctar artificial 
As pupas eram coladas em uma etiqueta e depois eram colocadas no 
pupário. As pupas de C. illioneus permaneciam com a região cefálica para 
baixo para que quando a borboleta for emergir a gravidade ajude a esticar as 
asas sem prejudicar o preenchimento das nervuras pela hemolinfa. As de 
A. monuste ficavam em um ângulo de 90°C para simular a posição em que 
ficam na natureza. 
A climatização na casa de criação é importante para manter as 
condições ideais para as lagartas, a temperatura ficou em torno de 26°C e a 
umidade variou entre 65% e 70%. Esses índices foram controlados com o 
auxilio de aquecedores e medidos por um termômetro eletrônico. 
 
3. RESULTADO 
 
Durante os 31 dias de observação, a alimentação foi feita com a 
preparação de frutas em decomposição para a C. illioneus (Figura 7) e para 
A. monuste e M. themisto (Figuras 8 e 9). Havia flores no viveiro como, Azaleia 
(Rhododendron simsii - Ericaceae), Calanchoê (Kalanchoe blossfeldina - 
Crassulacea), Camarão Amarelo (Pachystachys lutea - Acanthaceae), 
Camarão Azul (Eranthemum pulchellum - Acanthaceae), Estrela do Egito 
(Pentas lanceolata - Rubiaceae), Cambará (Lantana camara - Verbenaceae), 
Manacá de Jardim (Brunfelsia uniflora – Solanaceae) e Maria Sem Vergonha 
(Impatiens walleriana - Balsaminaceae). 
 
 
Figura 8: Ascia monuste se alimentando do 
néctar da Eranthemum pulchellum (Camarão 
Azul). 
9 
 
 
A. monuste se alimentou apenas de néctar das flores, C. illioneus 
apenas de frutas em decomposição com néctar artificial. Já M. themisto 
apresentou variações (Figura 9 e 10), se alimentou do néctar de flores e em 
quatro dias de frutas com o néctar artificial (Tabela 1). 
 
Tabela 1: Preferência Alimentar (%) 
Espécie Fruta com Néctar Flor 
A. monuste 0% 100% 
C. illioneus 100% 0% 
M. themisto 13% 87% 
 
Após a reforma do viveiro a quantidade de ovos de C. illioneus teve um 
aumento significativo, pois é o viveiro quem mantém a casa de criação (Tabela 
2). 
 
Tabela 2: Quantidade de ovos de Caligo illioneus por semana. 
Semana Quantidade 
1ª Semana 402 
2ª Semana 441 
3ª Semana 824 
4ª Semana 1353 
5ª Semana 1942 
6ª Semana 1284 
 
Os ovos de A. monuste e de M. themisto não foram coletados por serem 
frágeis, por isso só foi observado o local de ovoposição das espécies junto com 
a C. illioneus (Tabela 3). 
 
 
Figura 9: Methona themistose alimentando 
de Pentas lanceolata (Estrela do Egito) 
Figura 10: Methona themisto se alimentando 
no pote de frutas. 
10 
 
Tabela 3: Quantidade de Ovos por Local de Ovoposição 
Espécie Local Quantidade 
Média por 
dia 
A. monuste 
Capuchinha 
Trpaeolum majus 
(Tropaeolaceae) 
485 16 ovos 
 
 
Couve 
Brassica oleracea 
(Brassicaceae) 
811 26 ovos 
 
Helicônia Heliconia 
rostrata 
(Heliconiaceae) 
14 0,45 ovos 
C. illioneus 
Couve 
Brassica oleracea 
(Brassicaceae) 
14 0,45 ovos 
 
Estrelítzia Strelitzia 
reginae 
(Strelitziaceae) 
1864 60 ovos 
 
Helicônia 
H. rostrata 
(Heliconiaceae) 
4349 140 ovos 
 
Íris 
Iris germanica 
(Iridaceae) 
1 0,03 ovos 
 
Maranta Ctenanthe 
oppenheimiana 
(Marantaceae) 
5 0,16 ovos 
 
Orquídea-Bambu 
Arundina graminifolia 
(Orquidaceae) 
6 0,19 ovos 
 
Estrutura Borboletário 7 0,22 ovos 
M. themisto 
Manacá de Jardim 
B. uniflora 
(Solanaceae) 
31 1 ovo 
 
Em comparação com os anos de 2012 e 2014, já que documentos de 
2013 não foram encontrados para uma melhor analise, a quantidade de ovos 
de duas espécies teve uma variação significativa nos períodos de julho e 
agosto (Tabela 4). 
 
Tabela 4: Comparação de quantidade de ovos de Ascia monuste e Caligo illioneus 
dos anos de 2012,2014 e 2015 
Ano A. monuste C. illioneus 
2012 11577 ovos 5738 ovos 
2014 199 ovos 12793 ovos 
2015 1296 ovos 6246 ovos 
 
 
Durante a reforma, só foi visto população da C. illioneus, porém com um 
numero reduzido de indivíduos, chegando a ter, aproximadamente, 150 
exemplares. Como consequência não houve ovoposição de nenhuma das 
espécies durante esse período, somente quando terminou a mudança da 
estrutura e da vegetação. 
11 
 
Figura 11: Caligo illioneus em repouso na 
Tibouchina heteromalia (Orelha de Onça). 
Figura 12: Ascia monuste em repouso 
no substrato. 
Ao decorrer da analise, percebeu-se que houve perda de ovos de 
A. monuste, já que as borboletas colocavam vários ovos em uma única folha, 
em dias diferentes, com isso, as lagartas que nasciam primeiro acabam 
comendo os ovos que estavam junto a folha que se alimentavam, diminuindo 
significativamente o numero de lagartas e borboletas. 
Também ocorreram perdas de ovos de M. themisto já que até a 
observação só havia três pés de Manacá de Jardim (B. uniflora – Solanaceae) 
com tamanho entre 1 a 1,5 metros de altura e como consequência, as lagartas 
se alimentarem de ovos, para terem mais alimento. 
Além disso, elas possuem comportamento canibalista, com a falta de 
alimento, as lagartas competem entre si, resultando na redução do numero de 
ovos e de lagartas. Por ela ter esse comportamento, a lagarta é isolada quando 
é retirada do ambiente para empupar. 
Na preferência de pouso não houve muita variação, o viveiro tem, 
aproximadamente, 200m2 e os locais de descanso se dividiram em três 
elementos, a vegetação (Figura 11), o substrato (Figura 12) e a estrutura do 
borboletário. Entre as plantas que compõe o paisagismo do viveiro, as mais 
utilizadas para repouso foram Azaleias (R. simsii - Ericaceae), Camarões 
Azuis (E. pulchellum - Acanthaceae), Dracenas Vermelhas (Cordyline 
terminalis – Laxmanniaceae), Helicônias (H. rostrata - Heliconiaceae) e Orelhas 
de Onça (Tibouchina heteromalia - Melastomataceae). 
 
 
 
 Entre esses elementos, a vegetação, teve maior preferência entre as 
espécies, como demonstrados na Tabela 4. 
 
12 
 
Tabela 4: Preferência de pouso ao longo de 31 das espécies (%). 
Espécies 
Local 
Vegetação Substrato Estrutura 
A. monuste 100% 96% 87% 
C. illioneus 100% 97% 100% 
M. themisto 100% 0% 100% 
 
A temperatura teve uma importante influência no período de maior 
atividade das borboletas, como demonstra a Tabela 5 e o Gráfico 1. 
 
Tabela 5: Relação da Temperatura com o Início de Voo da 
Ascia monuste e Methona themisto 
 
Dia 
 
Temperatura 
Ascia monuste 
Methona 
themisto 
 Horário 
1 17°C Não Observado Não Observado 
2 14°C Não Observado Não Observado 
3 14°C Não Observado Não Observado 
4 15°C Não Observado Não Observado 
5 16°C 10:30 10:50 
6 16°C 11:00 11:15 
7 18°C 10:30 10:45 
8 19°C 10:00 10:20 
9 18,5 °C 10:00 10:15 
10 20°C 10:40 11:00 
11 20,5 °C 9:30 9:50 
12 21,5 °C 9:30 9:45 
13 21,5 °C 9:30 9:30 
14 22,5 °C 9:30 9:35 
15 24°C 9:30 9:30 
16 23°C 9:20 9:20 
17 23,5 °C 9:30 9:55 
18 23°C 10:00 10:20 
19 23°C 10:00 10:00 
20 21°C 9:30 9:35 
21 23,5 °C 10:00 10:05 
22 18°C 10:30 10:30 
23 15°C Não Observado Não Observado 
24 15,5 °C Não Observado Não Observado 
25 19°C 11:00 11:00 
26 17°C 11:00 11:15 
27 19,5 °C 10:40 10:50 
28 20°C 10:30 10:30 
29 17°C Não Observado Não Observado 
30 17°C Não Observado Não Observado 
31 24ºC 11:00 10:30 
 
13 
 
 
Em clima relativamente quente e ensolarado, A. monuste e M. themisto 
foram vistas com frequência no período da manhã, sendo que houve 
predominância da A. monuste em dias que houve muita luminosidade, já a 
C. illioneus não foi vista em grande atividade, durante o horário observado. 
Outro fator que interferiu na geração de A. monuste foi a posição das 
pupas no pupário, elas eram colocadas em um ângulo de 90° e algumas 
acabaram descolando da etiqueta e caindo, resultando em pupas 
contaminadas e inviáveis. Os números são demonstrados abaixo: 
 
Tabela 6: Geração de A. monuste do período do dia 19 ao 31 de agosto. 
Pupas Inviáveis Parasitadas Nascidas 
Não 
Nascidas 
77 19 11 19 28 
100% 25% 14% 25% 36% 
 
 
Porém houve casos de perdas de pupas por serem contaminadas por 
bactérias e fungos, e tendo a Drosófilas sp. como parasitoide. Essas ao 
apresentarem uma aparência escura ou avermelhada e um odor forte são 
retiradas rapidamente para que as pupas saudáveis não sejam contaminadas. 
A inviabilidade das borboletas ocorreu por não conseguirem sair 
totalmente da pupa, pois como demoravam a sair, as asas secaram e elas 
ficaram presas ou acabavam caindo quando saíam das pupas. 
Houve um período que os aquecedores da casa de criação estavam 
danificados, resultando no desequilíbrio da temperatura e da umidade, tendo 
como consequência lotes de ovos inviáveis, pois foram contaminados por 
fungos (Figura 13). 
0:00
1:12
2:24
3:36
4:48
6:00
7:12
8:24
9:36
10:48
12:00
1
6
°C
1
6
°C
1
8
°C
1
9
°C
1
8
,5
°C
2
0
°C
2
0
,5
°C
2
1
,5
°C
2
1
,5
°C
2
2
,5
°C
2
4
°C
2
3
°C
2
3
,5
°C
2
3
°C
2
3
°C
2
1
°C
2
3
,5
°C
1
8
°C
1
9
°C
1
7
°C
1
9
,5
°C
2
0
°C
2
4
°C
5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 25 26 27 28 31
Ascia monuste Methona themisto
Temp. 
Dia 
H
o
rá
ri
o
 
Gráfico 1: Relação de temperatura com o início de Voo da Ascia monuste e Methona themisto 
14 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Durante a soltura das borboletas foi identificado um macho adulto de 
C. illioneus que possuía características diferentes de um adulto normal da 
mesma espécie. O macho adulto dessa espécie é identificado por uma placa 
seminal localizada na lateral do abdômen. 
Conforme comparação com outro macho nascido no borboletário, foi 
observado diferença de tamanho entre os dois indivíduos, o indivíduo com 
anomalia tem em torno de 95mm de envergadura enquanto o indivíduo sem 
anomalia me 120mm (Figura 14). 
 
 
Outra característica que difere na comparação com outros indivíduos é o 
desenho do ocelo no par de asas posterior. O macho com anomalia possui 
uma deformação, no ocelo, dando a impressão de uma lágrima (figura 15). 
 
 
Figura 14: A - adulto de Caligo illioneus com anomalia; B - adulto de Caligo illioneus sem 
anomalia. 
Figura 13: Lote de ovos de Caligo illioneus parasitados por 
fungos. 
A B 
15 
 
Figura 16: A - ovos de Ascia monuste encontrados na helicônia; B - ovos 
Ascia monuste parasitados após seis dias que foram encontrados. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4. DISCUSSÃO 
 
 As borboletasescolhem a planta adequada para a alimentação das 
lagartas13, as de A. monuste tem registrado a preferência alimentar nas 
brasicáceas14, como por exemplo, a couve comum; no viveiro além da couve 
elas também colocaram os ovos nas capuchinhas que pertencem à família 
Tropaeolaceae, além do local que estavam as lagartas recém-eclodidas se 
alimentaram dessa planta sem alterar seu ciclo, já que na casa de criação as 
lagartas foram alimentadas com couve. 
 Durante a coleta foi encontrado ovos de A. monuste em uma folha de 
helicônia, após seis dias foi possível ver que eles foram parasitados com 
alguma espécie de inseto (Figura 16). 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 15: A - adulto de Caligo illioneus com anomalia; B - adulto de Caligo 
illioneus sem anomalia. 
A B 
A B 
16 
 
Figura 18: Ovos de Caligo illioneus na 
estrutura de bambu. 
 
A espécie C. illioneus tem registrado ovoposição em plantas das famílias 
Poaceae, Musaceae, Cyperaceae, Marantaceae e Heliconeaceae8, já com o 
tempo que elas estão no borboletário, além das marantas e helicônias, que 
compõe a vegetação paisagística do viveiro, foram encontrados ovos nas 
couves (Brassicaceae), estrelítzias (Strelitziaceae), íris (Iridaceae) e em 
orquídeas-bambu (Orquidaceae) (Figura 17). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Em alguns dias os ovos não foram encontrados em plantas, mas sim na 
estrutura do borboletário, como em vasos, na fonte que se localiza no centro do 
viveiro e em suportes de bambu; mesmo que o bambu pertença à família 
Poaceae, o local que foi encontrado os ovos não esta em condições 
adequadas, já que o bambu estava sem as folhas e envernizado (Figura 18). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 No caso da M. themisto os ovos não foram coletados, mas foi observado 
que a espécie colocou um ovo por folha, no entanto foi encontrado em algumas 
folhas, mais de um ovo, algo que é raro de acontecer
10
, devido a poucas 
quantidades da planta hospedeira para a ovoposição (Figura 19). 
Figura 17: A - ovos de Caligo illioneus na orquídea-bambu (Arundina 
graminifolia); B – ovos de Caligo illioneus na couve (Brassica oleracea). 
A B 
17 
 
Figura 19: Quatro ovos de Methona themisto 
em uma única folha. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Já as lagartas foi preciso capturá-las no quinto instar, pois nesse estágio 
elas saíam da planta hospedeira e se deslocavam para algum local perto para 
empuparem10, e como consequências elas poderiam ser parasitadas (Figuras 
20 e 21). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Das três espécies que se encontra no borboletário, apenas A. monuste 
predominou em dias de muita luminosidade, devido à coloração branca e a 
Figura 20: A - lagarta de Methona themisto em posição para empupar; 
B - lagarta de Methona themisto encontrada na tela do borboletário. 
Figura 21: Pupa de Methona 
themisto encontrada no suporte 
da tela do borboletário. 
A B 
18 
 
posição das asas que facilita a capitação de luz solar, como resultado os 
músculos aquecem mais rápido que de outras espécies15 (Figura 22). É 
possível ver a C. illioneus também com as asas abertas enquanto esta em 
repouso, porém a energia armazenada só é utilizada nos períodos 
crepusculares, momento de maior atividade da espécie8 (Figura 23). 
 
A endogamia pode reduzir a variabilidade genética em uma população e 
apresentar certas características nos indivíduos. Como já observado em um 
indivíduo adulto de C. illioneus teve seu tamanho e o desenho do ocelo do par 
de asas inferior alterado16. Além disso, esse indivíduo não chegou a alcançar a 
expectativa de vida da espécie, só vivendo quatro dias no viveiro. 
 
 
5. CONCLUSÃO 
A partir dos resultados obtidos, a alimentação parece não ter influência no 
ciclo de vida das espécies, já a preferência demonstrou variação. A preparação 
das frutas e a quantidade de flores no viveiro mostraram-se suficientes para a 
nutrição das borboletas e não impactaram na quantidade ovos. 
A reforma da estrutura do borboletário gerou impactos sobre as três 
espécies, reduzindo algumas populações mais sensíveis e acarretando em 
perdas nos períodos de ovoposição. No entanto com a estabilidade do 
ambiente, as populações tiveram aumentando de uma forma gradativa como 
em ovos de C. illioneus. 
Figura 22: Ascia monuste em repouso sob a 
luz do sol. 
Figura 23: Caligo illioneus em repouso de 
asas abertas. 
19 
 
 O desenvolvimento das espécies pode ser influenciado por fatores 
ambientais e de manejo, como temperatura e umidade, ou até mesmo os 
materiais usados no manuseio dos indivíduos. 
De acordo com o Gráfico 1, em dias em que houve temperatura acima 
de 20°C as borboletas começam suas atividades mais cedo, em torno de umas 
9:30h da manhã, ao contrário de dias que houve temperatura abaixo de 19°C, 
aonde os indivíduos começam suas atividades perto das 11h da manhã. 
 A disponibilidade de planta hospedeira e alimento são fundamentais 
para que se tenha uma população sem que se comprometimento dos ovos e 
das lagartas, sobretudo para as espécies que têm seu desenvolvimento no 
viveiro, necessitando de um ambiente equilibrado. 
 A interação entre a casa de criação e o viveiro, bem como o cuidado 
com ambas, podem ser considerados fatores principais no ciclo de vida das 
espécies encontradas no borboletário. Ambas devem ser controladas juntas 
para manter as populações em níveis toleráveis e não ultrapassar a 
capacidade do ambiente das espécies locais. 
 
 
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
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15 – Shanks K, Senthilarasu S, ffrench-Constant RH e Mallick TK. White 
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