Buscar

Unirio - Biblioteconomia -Cultura e Memória Social - Volume Único

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 93 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 93 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 93 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Cultura e Memória Social 
Volume Único 
Jurema Luzia de Freitas Sampaio 
Ilu
st
ra
çã
o 
ca
p
a:
 A
nd
ré
 A
m
ar
al
Curso de Bacharelado em 
Biblioteconomia na Modalidade 
a Distância
Jurema Luzia de Freitas Sampaio
Cultura e Memória Social
Semestre
1
2018
Brasília, DF Rio de Janeiro
Faculdade de Administração 
e Ciências Contábeis
Departamento 
de Biblioteconomia
Jurema Luzia de Freitas Sampaio
Semestre
Curso de Bacharelado em Biblioteconomia 
na Modalidade a Distância
1
Cultura e Memória Social
Permite que outros remixem, adaptem e criem a partir do seu trabalho para fins não 
comerciais, desde que atribuam o devido crédito ao autor e que licenciem as novas 
criações sob termos idênticos.
Presidência da República
Ministério da Educação
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível 
Superior (CAPES)
Diretoria de Educação a Distância (DED)
Sistema Universidade Aberta do Brasil (UAB)
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
Núcleo de Educação a Distância (NEAD)
Faculdade de Administração e Ciências Contábeis (FACC)
Departamento de Biblioteconomia
Leitor
Sidney de Moraes Sanches
Comissão Técnica
Célia Regina Simonetti Barbalho 
Helen Beatriz Frota Rozados
Henriette Ferreira Gomes
Marta Lígia Pomim Valentim
Comissão de Gerenciamento
Mariza Russo (in memoriam)
Ana Maria Ferreira de Carvalho 
Maria José Veloso da Costa Santos
Nadir Ferreira Alves
Nysia Oliveira de Sá
Equipe de apoio
Eliana Taborda Garcia Santos
José Antonio Gameiro Salles 
Maria Cristina Paiva
Miriam Ferreira Freire Dias
Rômulo Magnus de Melo
Solange de Souza Alves da Silva
Coordenação de 
Desenvolvimento Instrucional
Cristine Costa Barreto
Desenvolvimento instrucional
Flavia Busnardo
Diagramação
Patricia Seabra
Revisão da língua portuguesa
Patrícia Sotello
Projeto gráfico e capa
André Guimarães de Souza
Patricia Seabra
Normalização
Dox Gestão da Informação
S192c Sampaio, Jurema Luzia de Freitas.
Cultura e memória social / Jurema Luzia de Freitas Sampaio ; [leitor] Sidney de 
Moraes Sanches. – Brasília, DF : CAPES : UAB ; Rio de Janeiro, RJ : Departamento 
de Biblioteconomia, FACC/UFRJ, 2018.
82 p. : il. 
Inclui bibliografia.
ISBN 978-85-85229-52-8 (brochura) 
ISBN 978-85-85229-53-5 (e-book)
1. Cultura. 2. Inclusão social. I. Sanches, Sidney de Moraes. II. Título.
CDD 021.2
CDU 316.72(=11/=8)
Catalogação na publicação por: Miriam Dias CRB-7 / 6995
Caro Leitor,
A licença CC-BY-NC-AS, adotada pela UAB para os materiais didá-
ticos do Projeto BibEaD, permite que outros remixem, adaptem e criem 
a partir destes materiais para fins não comerciais, desde que atribuam o 
devido crédito e que licenciem as novas criações sob termos idênticos. No 
interesse da excelência dos materiais didáticos que compõe o Curso Na-
cional de Biblioteconomia na modalidade a distância, foram empreendi-
dos esforços de dezenas de autores de todas as regiões do Brasil, além de 
outros profissionais especialistas, no sentido de minimizar inconsistências 
e possíveis incorreções. Neste sentido asseguramos que serão bem recebi-
das sugestões de ajustes, de correções e de atualizações, caso seja identi-
ficada a necessidade destas pelos usuários do material hora apresentado. 
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Brasileiros do século XIX ......................................................... 24
Figura 2 – A atuação protagonista movimenta e transforma a cultura, 
promovendo sua expansão, como em uma espiral .................. 36
Figura 3 – Inclusão digital: solução para o acesso à informação 
ou um passo para a exclusão social? ....................................... 41
Figura 4 – A memória é o processo de adquirir, armazenar e recuperar 
informações que foram assimiladas pela mente. A memória 
social trata de reconstrução a cada vez que é contada ............ 45
Figura 5 – A feijoada é um prato típico brasileiro, 
mas no Rio de Janeiro, ela faz um grande sucesso! ................. 54
Figura 6 – O frevo pernambucano é um grande exemplo 
de Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil ............................... 56
Figura 7 – Escravos africanos no Brasil, oriundos de várias nações, 
como Benguela, Angola, Congo e Monjolo ............................ 69
Figura 8 – As baianas que vendem acarajé podem 
ser encontradas por muitas cidades da Bahia .......................... 73
Figura 9 – Representantes de tribos indígenas brasileiras: Assurini, 
Tapirajé, Kaiapó, Kapirapé, Rikbaktsa e Bororo-Boe................. 77
SUMÁRIO
 APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA ................................................................... 9
1 UNIDADE 1: VOCÊ SABIA QUE EXISTE 
 MAIS DE UM CONCEITO DE CULTURA? .................................................... 11
1.1 OBJETIVO GERAL ................................................................................................ 11
1.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ..................................................................................... 11
1.3 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 13
1.4 HISTÓRIA DA CULTURA ...................................................................................... 16
1.4.1 Indústria Cultural ................................................................................................ 18
1.4.2 Atividade ............................................................................................................. 18
1.5 DISPOSITIVOS CULTURAIS ................................................................................... 19
1.5.1 Atividade ............................................................................................................. 22
1.6 AH... A CULTURA BRASILEIRA! SERÁ QUE CONHECEMOS COMO NOSSA ...... 22
1.6.1 Atividade ............................................................................................................. 28
1.7 RESUMO .............................................................................................................. 31
2 UNIDADE 2: PROTAGONISMO E INCLUSÃO SOCIAL ................................ 33
2.1 OBJETIVO GERAL ................................................................................................ 33
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ..................................................................................... 33
2.3 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 34
2.4 O QUE SERÁ PROTAGONISMO? VOCÊ SABE? ................................................... 35
2.5 ESSE TÃO FALADO CONCEITO DE INCLUSÃO SOCIAL... .................................... 38
2.6 RESUMO .............................................................................................................. 42
3 UNIDADE 3: DOIS TEMAS INTERESSANTES 
 E INTERLIGADOS: MEMÓRIA SOCIAL E IDENTIDADE ............................ 43
3.1 OBJETIVO GERAL ................................................................................................ 43
3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ..................................................................................... 43
3.3 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 44
3.4 DIVERSIDADE E PATRIMÔNIO CULTURAL: O QUE É AFINAL?........................... 45
3.5 SABE O QUE É PATRIMÔNIO MATERIAL? .......................................................... 48
3.5.1 Atividade ............................................................................................................. 49
3.6 E PATRIMÔNIO IMATERIAL, SABE QUAL A DIFERENÇA PARA O MATERIAL? .. 50
3.6.1 Atividade ............................................................................................................. 57
3.6.2 Atividade ............................................................................................................. 59
3.7 RESUMO ..............................................................................................................60
4. UNIDADE 4: A LEI 10.639/03 – CULTURA AFRO-BRASILEIRA E 
 INDÍGENA NAS ESCOLAS ............................................................................... 61
4.1 OBJETIVO GERAL ................................................................................................ 61
4.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ..................................................................................... 61
4.3 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 63
4.4 A LEI 10.639/03: COMO SURGIU, PORQUE, COMO, ONDE... 
 TANTAS QUESTÕES! ............................................................................................ 64
4.4.1 Atividade ............................................................................................................. 66
4.5 O QUE SABEMOS SOBRE A CULTURA AFRO-BRASILEIRA? 
 PRINCIPAIS QUESTÕES NA ATUALIDADE ........................................................... 66
4.6 SERÁ QUE CONHECEMOS A CULTURA INDÍGENA COMO DEVERÍAMOS? ...... 76
4.6.1 Atividade ............................................................................................................. 75
4.7 RESUMO .............................................................................................................. 84
 SUGESTÃO DE LEITURA .................................................................................. 84
 REFERÊNCIAS .................................................................................................... 84
9Curso de Bacharelado em Biblioteconomia na Modalidade a Distância
APRESENTAÇÃO DA 
DISCIPLINA
A disciplina Cultura e Memória Social tem duração de 30 horas e é 
composta por quatro unidades temáticas. Dessa maneira, não pretende-
mos esgotar o assunto, mas fornecer um panorama de forma a esclarecer 
a ideia de que a cultura e a memória social são construções sociais dinâ-
micas, flexíveis, abertas ao novo e, principalmente, vivas.
Na primeira unidade conheceremos um pouco da história da cul-
tura e seus dispositivos. Vamos discutir os conceitos de cultura nas suas 
variadas formas, buscando construir uma base para os desdobramentos 
dos demais temas da disciplina.
Na segunda unidade trataremos de Protagonismo e Inclusão Social. 
buscando esclarecer seus conceitos e relacionando-os com a produção e 
organização de informação e conhecimento sob a visão da cultura.
Na terceira unidade, buscaremos criar bases para a compreensão 
dos principais conceitos (patrimônio cultural, material e imaterial) que 
sustentam as discussões sobre a construção da identidade e da memória 
social.
Por fim, a quarta e última unidade, trata da História e Cultura Afro-
-Brasileira e Indígena, em especial sobre a lei 10.639/03, com destaque 
para os principais motivos de sua existência, sua abrangência, sua aplica-
bilidade e impacto na área de ciência da informação.
UNIDADE 1
VOCÊ SABIA QUE EXISTE MAIS DE 
UM CONCEITO DE CULTURA? 
1.1 OBJETIVO GERAL
Apresentar os conceitos de cultura nas suas variadas formas e sua história, buscando construir uma 
base para os desdobramentos dos demais temas da disciplina.
1.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
a) identificar os autores, os princípios e as convenções das definições de Cultura ao longo da história, 
assim como a importância de cada abordagem, princípio ou convenção nas práticas culturais por 
meio da compreensão dos conceitos de História da Cultura e Indústria Cultural.
b) debater acerca dos dispositivos culturais e formação da cultura brasileira.
c) identificar os significados dos termos Multiculturalismo, Globalização e Hibridismo cultural.
13Curso de Bacharelado em Biblioteconomia na Modalidade a Distância
 1.3 INTRODUÇÃO
Vamos começar com algumas perguntas: O que é ter cultura? É ter 
educação, bons modos? É ter diplomas, ser formado em nível superior, 
faculdade? Ou é ter, ou aparentar ter, dinheiro ou outra forma de de-
monstração de sucesso? Como saber se uma pessoa tem, ou não, cultu-
ra?
Muita gente considera que ter cultura signifi ca ter um ‘jeito educado’ 
para tratar as pessoas, ou seja, ter ou apresentar o que se convencionou 
chamar de ‘bons modos’. Outros consideram que ser culto é ser alguém 
formado e possuir diplomas. Outros, ainda, consideram que cultura está 
relacionada ao poder econômico, ou seja, ser rico ou, pelo menos, apa-
rentar riqueza. E há várias outras opiniões, bastante diversifi cadas.
Mas, como podemos perceber, quase todas essas afi rmações não con-
sideram a hipótese de o signifi cado real de cultura estar ligado à classe 
trabalhadora. Ou seja, já assumem que cultura seja algo pertencente aos 
que possuem bens, aos “bem nascidos”, ou outro termo qualquer que 
separe “povo” e elites. Essa visão não é somente um preconceito sócio 
econômico, mas está equivocada também em relação ao que realmente 
seja cultura.
Para a Antropologia, o sentido de cultura é muito diferente de tudo 
isso que foi dito, pois cultura é a capacidade de atribuir signifi cados às 
relações entre os seres humanos e não depende de questões econômicas 
para existir.
Explicativo
Cultura é “uma preocupação contem-
porânea, bem vinda nos tempos atuais. 
[...] O desenvolvimento da humanidade 
está marcado por contatos e conflitos 
entre modos diferentes de organizar a 
vida social, de se apropriar dos recursos 
naturais e transformá-los, de conceber a 
realidade e expressá-la. A história regis-
tra com abundância as transformações 
porque passam as culturas, seja movidas 
por suas próprias forças internas, seja 
em consequências desses contatos e 
conflitos, mais frequentemente por am-
bos os motivos.” (SANTOS, 2005, p. 7)1
1 SANTOS, J.L. O que é Cultura? São Paulo: Brasiliense, 2005. 11ª reimpressão da 16ª edição, de 
1996. Coleção Primeiros Passos.
14 Cultura e Memória Social
Sabemos que todas as palavras carregam uma importância cultural, um 
contexto histórico em que surgiram ou em que seu uso se tornou comum. 
Como as demais, a palavra cultura carrega uma história de origem e evolução 
até chegar ao que compreendemos como cultura hoje em dia. Assim, antes 
de discutir cultura, primeiro precisamos entender o que é cultura, e qual o 
signifi cado dessa palavra e desse conceito ao longo do tempo. Compreender 
o conceito de cultura em toda a sua profundidade é reconhecer que cada 
pessoa, possui uma cultura que é o refl exo de seu país, sua região, sua família, 
e, faz parte da sua maneira particular de existir e se colocar no mundo. 
Atenção
Compreender o que é cultura é de fundamental importância. Co-
nhecer a cultura do outro colabora para saber como esse ser humano 
pode complementar a nossa cultura. É um círculo virtuoso que vive 
de forma dinâmica, alimentando, mutuamente a evolução humana. 
O conceito de cultura, segundo Alfredo Bosi em Dialética da Coloniza-
ção (1987, p. 53), vem de colo (verbo). Colo, para os antigos romanos, 
signifi cava eu cultivo em particular, o solo. O sentido básico de colo é 
tomar conta de, cuidar. Cultus, particípio passado de colo, é aquilo que 
já foi trabalhado. De cultum deriva outro particípio o futuro culturus, 
cujo sentido é o que se vai trabalhar ou aquilo que se pretende cultivar. 
Definições de cultura foram realizadas por Ralph Lin-
ton, Leslie White, Clifford Geertz, Franz Boas, Ma-
linowski e outros cientistas sociais. Em um estudo 
aprofundado, Alfred Kroeber e Clyde Kluckhohn 
encontraram pelo menos 167 definições diferentes 
para o termo cultura. (MORAES, 2012, p. 4)
Inicialmente, a palavra cultura, por ser um derivado de colo, signifi ca-
va, rigorosamente, “aquilo que deve ser cultivado” (BOSI, 1987, p. 53). 
Ainda segundo Bosi, “esse signifi cado material da palavra, relacionado 
com a sociedade agrária, durou séculos” e, do ponto de vista histórico, a 
cultura se aproximou de colo e se distanciou de ‘cultus’. 
[...] o alimento, o vestuário, a relação homem-mulher, 
a habitação, os hábitos de limpeza, as práticas de 
cura, as relações de parentesco, a divisão das tarefas 
durantea jornada e, simultaneamente, as crenças, os 
cantos, as danças, os jogos, a caça, a pesca, o fumo, 
a bebida, os provérbios, os modos de cumprimentar, 
as palavras tabus, os eufemismos, o modo de olhar, o 
modo de sentar, o modo de andar, o modo de visitar 
e ser visitado, as romarias, as promessas, as festas de 
padroeiro, o modo de criar galinha e porco, os modos 
de plantar feijão, milho e mandioca, o conhecimento 
do tempo, o modo de rir e de chorar, de agredir e de 
consolar. (BOSI, 1987, p. 53)
15Curso de Bacharelado em Biblioteconomia na Modalidade a Distância
Curiosidade
Nós, brasileiros, acostumados ao calor dos trópicos, nos refe-
rimos à neve como neve, e ponto fi nal. Uma única palavra defi -
ne, para nós, o que é neve. Para os esquimós, povos indígenas 
que habitam tradicionalmente as regiões em torno do Círculo 
Polar Ártico, no extremo norte do planeta Terra, há uma varieda-
de maior de palavras, mais específi cas, para cada tipo de neve. 
Embora haja uma espécie de mito de que os esquimós têm ‘cen-
tenas’ de palavras para neve, Anna Berge e Luciana Whitaker 
(2014) esclarecem, que “a diversidade de dialetos entre as etnias 
ajudou a difundir o mito”, mas que “para cada povo, são entre 
cinco e sete palavras” (BERGE, 2014; WHITAKER, 2008). Embora 
desfazendo o mito das centenas de palavras, podemos perceber 
que as “cinco a sete” palavras para neve já são bem mais do que 
a única que usamos. 
Fonte: Disponível em: <https://pt.Wikipédia.org/wiki/Esquim%C3%B3s#/media/
File:Eskimo_Family_NGM-v31-p564-2.jpg>. Acesso em: 14 out. 20182
No vocabulário inuit, é assim:
TLAPA – Muito fi na, em pó
TLAMO – Cai em fl ocos grandes
TLATIM – Cai em fl ocos pequenos
KRIPYA – Neve que derreteu e recongelou
TLAYING – Misturada com barro
KRIPLYANA – Neve dura e azulada.
(BERGE, 2014; WHITAKER 2008, p.1) 
Por que isso acontece? Isso acontece porque, para os esquimós, 
a neve é uma realidade muito mais próxima de seu dia a dia e 
desconhecer suas variáveis pode interferir em sua segurança e co-
locar em risco sua vida. Para nós, que vemos neve eventualmente, 
em viagens, esse conhecimento não se mostra muito necessário. 
A cultura esquimó, embora pouco conhecida, não se resume a ter 
palavras a mais para diferenciar os tipos de neve. É considerada, 
2 KING, G. R. An eskimo family. National Geographic Magazine, v. 31, p. 564, 1917.
16 Cultura e Memória Social
pelos estudiosos, uma das mais amplas e homogêneas do planeta. 
Não temos, na nossa cultura, uma homogeneidade tão marcada 
como os esquimós. 
Fonte: BERGE, A. “Como vivem os esquimós?.” Revista Mundo Estranho. ed. 128. 
Disponível em: <http://mundoestranho.abril.com.br/materia/como-vivem-os-esquimos>. Acesso 
em out. 2014.
Agora que já conhecemos um pouco sobre a origem da palavra cultu-
ra e seu conceito, vamos conhecer mais sobre a História da Cultura? 
1.4 HISTÓRIA DA CULTURA
Nos dias de hoje é bem tranquilo para nós entendermos que a cultura 
tem uma história. Mas nem sempre foi assim, Peter Burke nos esclarece 
que: 
A história cultural não é uma descoberta ou inven-
ção nova. Já era praticada na Alemanha com esse 
nome (Kulturgeschichte) há mais de 200 anos. Antes 
disso havia histórias separadas da filosofia, pintura, 
literatura, química, linguagem e assim por diante. A 
partir de 1780, encontramos histórias da cultura hu-
mana ou de determinadas regiões ou nações. (BUR-
KE, 2008, p. 15)
O antropólogo inglês Edward Burnett Tylor (1832-1917), defensor do 
pensamento do evolucionismo social, acreditava que as teorias evolucio-
nistas do biólogo Charles Darwin poderiam ser aplicadas às sociedades, 
assim afi rmando que podem haver sociedades mais ou menos evoluídas. 
Tylor foi quem formulou a síntese do conceito, no sentido etnográfi co, 
contido na palavra culture, do inglês, que inclui conhecimentos, cren-
ças, arte, moral, leis, costumes e demais hábitos assumidos pelo homem 
como membro de uma sociedade. 
Na defi nição de Tylor, uma única palavra abrangia todas as possibi-
lidades das realizações humanas, com grande ênfase na ideia de que a 
aquisição de cultura é inata, e transmitida biologicamente.
Não é exatamente isso que a antropologia nos dias atuais acredita, 
mas o esclarecimento da história contextualiza o nosso modo de ver a 
cultura. Ou seja, a cultura, como a vemos hoje, tem uma história, e essa 
história é, muitas vezes, também um modo de ver a cultura. 
Se observarmos como os europeus olham para o ‘resto do mundo’, 
considerando que sua cultura é superior e “anterior” a do que chamam 
de “povos primitivos”, podemos perceber que há, claramente, uma visão 
evolucionista e eurocêntrica, que considera a Europa o centro da “civiliza-
ção”, que é o modo que os franceses se referem à cultura e sua história. 
Mas há outras formas de olhar a cultura e a história da cultura. Vamos 
conhecer?
17Curso de Bacharelado em Biblioteconomia na Modalidade a Distância
Segundo Santos (2005, p. 22-23), “há várias maneiras de enten-
der o que é cultura”, que geram “duas concepções básicas.” Uma 
que se preocupa com os aspectos de uma realidade social, ou seja, 
que entende cultura como “tudo que caracteriza a existência social 
de um povo ou nação” (SANTOS, p. 24) e outra que se refere “ao 
conhecimento, às ideias e crenças e como elas existem na vida social” 
(SANTOS, p. 25).
Alguns outros pesquisadores afi rmam que a divisão entre aspectos 
‘materiais’ e ‘espirituais’ da vida humana determinaria as diversas con-
cepções e o modo como se estuda a cultura. Esclarecendo que ‘espiritual’ 
não se relaciona à religião, mas sim à imaterialidade da cultura, como 
os aspectos das línguas, as relações sociais, as leis e costumes, como 
culinária, cantigas, festas etc. Segundo esses pesquisadores, os aspec-
tos espirituais, junto com os aspectos físicos, como artefatos, utensílios, 
construções e outros é que formam a cultura. Laraia (2003), tendo como 
base os estudos do antropólogo norte americano Alfred Froeber, afi rma 
que é graças à cultura que os seres humanos se distanciam dos aspectos 
animais, biológica e socialmente. 
O que se opõe a essa ideia são as afi rmações de Humberto Ma-
turana e Francisco Varela (2005), em seu A árvore do Conhecimento
(1984). Nessa obra os autores trazem informações de estudos sobre 
a capacidade comunicacional dos animais, em especial dos “prima-
tas superiores” (que se assemelham, geneticamente, aos humanos em 
98% do código genético), onde esses 2% que diferenciam o código 
genético entre homens e primatas seriam os responsáveis pela lingua-
gem e estilo de vida.
No entanto, se entendermos cultura como “um sistema de ideias, 
conhecimentos, técnicas e artefatos, de padrões de comportamento e 
atitudes que caracteriza uma determinada sociedade” (WILLEMS apud
PELLEGRINI; SANTOS, 1989, p. 21), e um “conjunto de modos de ser, 
viver, pensar e falar de uma dada formação social” (BOSI, 1992, p. 319), 
percebemos que a cultura é um elemento vivo e em constante modifi ca-
ção, ligado às situações de tempo e espaço e as vivências das pessoas. 
Para a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a 
Cultura (UNESCO):
A cultura tradicional e popular é um conjunto de 
criações que emanam de uma comunidade cultural 
fundada na tradição, expressas por um grupo ou por 
indivíduos e que reconhecidamente respondem às ex-
pectativas da comunidade enquanto expressão de sua 
identidade cultural e social; as normas e os valores 
se transmitem oralmente, por imitação ou de outras 
maneiras. Suas formas compreendem, entre outras, 
as línguas, a literatura, a música, a dança, os jogos, 
a mitologia, os rituais, o artesanato, a arquitetura e 
outras artes. (UNESCO, 1989)
Assim, ao nos aproximarmos dos aspectos mais populares da cultu-
ra podemos compreender melhor a nossa própria cultura, seja como 
grupo, seja como indivíduos. Não é fascinante esse processo contínuo 
de trocas?
18 Cultura e Memória Social
1 .4.1 Indústria Cultural
O termo indústria cultural (em alemão Kulturindustrie)foi criado pe-
los fi lósofos e sociólogos alemães Theodor Adorno (1903-1969) e Max 
Horkheimer (1895-1973) como forma de identifi car a posição da arte em 
relação à sociedade capitalista industrial (ADORNO, T.; HORKHEIMER, M., 
2002).
Diante disso, nós nos remetemos à Indústria Cultural que desenvolve 
produtos sem história, sem memória, sem processo, e, por isso, não sig-
nifi ca, não é signo. É a cultura de massa que, “entra na casa do caboclo 
e do trabalhador da periferia, ocupando-lhe as horas de lazer em que po-
deria desenvolver alguma forma criativa de auto expressão” (BOSI, 1978, 
p. 65). 
A indústria cultural massifica produtos, arte e bens culturais sem 
respeitar seus significados e signos originais, num processo de im-
posição que desvaloriza a cultura, ao invés de promovê-la, criando 
produções “fordistas” de bens de consumo, que estão longe de re-
presentarem a cultura. É certo que a possibilidade de alcançar muitas 
pessoas é boa, é a possibilidade de levar cultura para um maior nú-
mero de pessoas. No entanto, esse modo de fazer cultura, a partir da 
lógica da produção industrial, busca somente o lucro, e define qual 
tipo de objetos culturais podem ser consumidos, resultando em pro-
duções com qualidade inferior e impostas ao público, quase sempre 
com ‘gosto’ inferior. 
1.4.2 Atividade
Vamos verifi car o que aprendemos?
Sabemos que toda cultura carrega uma história e que cada re-
gião ou país acaba desenvolvendo sua cultura de acordo com sua 
história, assim como cada um de nós desenvolve a própria história 
a partir do contexto em que está inserido. Deste modo, podemos 
afi rmar que:
a) ( ) O comportamento e os costumes dos povos não são formas 
para garantir e eternizar a sua sobrevivência, o que nos leva 
a concluir que sua cultura irá desaparecer. 
b) ( ) Diferentes culturas podem produzir um mesmo objeto em 
momentos diferentes, de modos diferentes, porém esses ob-
jetos, mesmo que se assemelhem, guardam características 
únicas dessa cultura.
c) ( ) Os povos encontram soluções diferentes para resolver os 
problema e copiam as soluções de povos primitivos, assim, é 
possível encontrar um povo sem cultura própria.
d) ( ) Para entendermos o que é cultura, cultura brasileira e cultura 
popular, não precisamos compreender o sistema, a malha e 
as tramas em que está inserida a cultura, somente saber a 
história do Brasil é suficiente.
e) ( ) A televisão transforma tudo em produto, o que gera um es-
clarecimento maior do que é o verdadeiro fazer cultural de 
um povo, em especial no Brasil onde a TV é muito forte.
19Curso de Bacharelado em Biblioteconomia na Modalidade a Distância
Resposta comentada
A opção correta é a letra B. Cada povo desenvolve seus 
objetos e sua cultura dentro de contextos específicos que têm 
relação com as histórias individuais de vida dos componentes 
desses povos, e mesmo que haja semelhanças, esses objetos 
guardam características únicas dessa cultura.
a) Errada, pois o comportamento e os costumes foram manei-
ras encontradas para garantir e eternizar a sua sobrevivên-
cia, o que nos leva a concluir que a cultura sempre irá existir. 
c) Errada, pois não é possível encontrar um povo sem cultura, 
pois os povos encontram soluções diferentes para resolver os 
problemas. E isso é que faz as diferenças culturais entre os 
povos. Vamos rever a aula?
d) Errada. Para entendermos o que é cultura, cultura brasileira 
e arte popular, precisamos SIM compreender o sistema, a 
malha e as tramas em que está inserida a nossa cultura, além 
de conhecer a história do nosso país. Vamos rever a aula?
e) Não é bem assim... A televisão transforma tudo em produto, 
sim, mas isso é justamente o que gera grandes confusões 
entre o que está sendo veiculado e o verdadeiro fazer cultu-
ral. Vamos rever a aula?
1.5 DISPOSITIVOS 
CULTURAIS
V ocê sabe o que são dispositivos culturais?
Vários autores estudam e pesquisam sobre dispositivos culturais. A 
concepção do que seja um dispositivo cultural que vamos tomar como 
base nessa disciplina, foi desenvolvida por Ivete Pieruccini (2004, p. 44). 
Para a autora, dispositivos culturais são 
[...] todo e qualquer mecanismo (técnico e simbólico) 
capaz de promover a relação, organizar a realidade 
e fornecer um instrumento para o pensamento [...] 
(sendo) possível caracterizá-lo como um quadro se-
miótico que produz significados, no interior do qual 
o sujeito opera. [...] Os dispositivos, enfim, não ape-
nas expressam como também definem, por meio dos 
discursos implícitos em sua configuração, modos de 
relação entre os sujeitos e o universo simbólico [...]. 
(PIERUCCINI, 2004, p. 44)
Ou seja Pieruccini (2007) nos apresenta a concepção de dispositivo 
como “um local social de interação e de cooperação”, um local de 
relações e de ação, não algo estático e congelado. Ao contrário, para 
20 Cultura e Memória Social
a autora, os dispositivos “ordenam, organizam, dizem, narram, interfe-
rindo na apropriação da informação”, o que signifi ca que têm atuação 
constante ativa e direta na forma como nos relacionamos com as infor-
mações e com a construção de conceitos e conteúdos culturais. 
Junto com Perrotti, Pieruccini (2007, p. 73) desenvolve ainda a noção 
de apropriação cultural, que é o que transforma o indivíduo em “prota-
gonista cultural”, “produtor e criador de signifi cados e sentidos”, por 
“participação ativa e afi rmativa na vida cultural” (PERROTI; PIERUCCINI, 
2007, p. 57). Ou seja, quando se apropria da cultura é que o indivíduo 
(seja você ou eu) assume papel ativo na vida cultural. 
O que nos esclarece que, para haver protagonismo cultural, é neces-
sário haver envolvimento e apropriação da cultura; é necessário sentir-se 
membro, parte da cultura para, assim, transformá-la e produzir novos 
bens, objetos e dispositivos culturais.
E como nos sentimos parte da cultura? Vivenciando-a e percebendo-a 
nas suas mais simples manifestações, como por exemplo, nossos hábitos 
e costumes, nossa alimentação, o modo como nos vestimos e nos com-
portamos em sociedade.
Atenção
Os dispositivos culturais são um conjunto de práticas, propostas, 
políticas e ações que juntos aproximam os sujeitos das práticas cul-
turais. Diferenciam-se dos objetos culturais por não se restringirem 
somente à materialidade dos objetos, mas englobarem também as 
questões imateriais. 
Cretella Júnior nos esclarece que: 
[...] Objetos Culturais são aqueles aos quais o homem 
acrescentou a marca de sua individualidade, objetos 
que passaram da natureza para a sociedade, numa 
trajetória do dado ao construído, num trabalho de va-
loração evidente, numa transposição progressiva da 
categoria natural para a categoria cultural. (CRETELLA 
JÚNIOR, 1998, p. 57.).
Isso não engloba somente os objetos artísticos que, embora também te-
nham um signifi cado para alguma cultura, pois é na cultura que a arte se 
manifesta, contém uma intencionalidade artística que os diferencia dos demais 
tipos de objetos culturais. 
Objetos culturais são os objetos que representam um signifi cado, seja 
estético, utilitário ou qualquer outro que possa ser proposto pelo homem. 
Por exemplo, o Estádio do Maracanã é um objeto cultural que representa 
o futebol e é, ao mesmo tempo, um dispositivo cultural. 
21Curso de Bacharelado em Biblioteconomia na Modalidade a Distância
Os objetos culturais devem ser investigados em seus contextos de 
ação, de maneira que o espaço cultural e o tempo completem o seu sen-
tido: as formas de registro e a apropriação criativa.
Já sabemos que toda cultura carrega uma história e que diferentes 
culturas produziram objetos semelhantes, em momentos diferentes. O 
espanhol Fernando Hernandez (1998) chama de Objeto Cultural toda 
produção das Artes Visuais, seja ela bidimensional (altura e largura) ou 
tridimensional (altura, largura e profundidade). Mas não só a arte produz 
objetos culturais. Sabiam que também são objetos culturais coisas sim-
ples, do nosso dia a dia, como, por exemplo, os talheres? No ocidente 
usamos talherescomo garfos, colheres e facas. No oriente, os hashis são 
usados para se alimentar. Essas diferenças são fatos culturais interessan-
tes de se observar!
Curiosidade
Até o século XI, quase todo mundo comia com as mãos. Os 
mais educados eram aqueles que usavam apenas três dedos para 
levar o alimento à boca. Naquele século, Domenico Salvo, mem-
bro da corte de Veneza, casou-se com a princesa Teodora, de 
Bizâncio. Ela trouxe no enxoval um objeto pontudo, com dois 
dentes, que usava para espetar os alimentos. Esse primeiro garfo 
foi considerado uma heresia: o alimento, fornecido por Deus era 
sagrado e tinha de ser comido com as mãos. Mas, pouco a pou-
co, membros da nobreza e do clero foram adotando o talher. O 
hábito demorou a pegar entre a população: com mais dentes, o 
espeto só se tornou popular mesmo no século XIX. Já a faca é o 
mais antigo dos talheres: foi o Homo erectus, que surgiu na Terra 
há 1,5 milhão de anos, quem criou o primeiro objeto cortante, fei-
to de pedra, para caça e defesa. Desde então, o homem sempre 
carregou uma faca.
Na Idade do Bronze, que começou por volta de 3000 a.C., ela 
passou a ser feita com esse metal e a mesma faca que servia para 
matar era usada também para descascar frutas. O primeiro a su-
gerir que cada homem deveria ter um talher para ser usado ex-
clusivamente à mesa foi o cardeal francês Richelieu (1585-1642), 
um fervoroso defensor das boas maneiras, por volta de 1630. Ao 
contrário da faca, a colher já surgiu com o objetivo de ser usada à 
mesa. Há registros arqueológicos de artefatos parecidos com mais 
de 20.000 anos, feitos de madeira, pedra e marfi m. Mas, no início, 
a colher era de uso coletivo e parecia uma concha. “Quando surgiu 
o pão, há 12.000 anos, já se usava uma colher para jogar o caldo 
sobre ele”, afi rma o sociólogo Gabriel Bollaffi, da Universidade de 
São Paulo (USP).
Fonte: MUNDO ESTRANHO. Como surgiram os talheres? História. Disponível em: <http://
mundoestranho.abril.com.br/materia/como-surgiram-os-talheres>. Acesso em: dez. 2014.
22 Cultura e Memória Social
1.5.1 Atividade
Vamos exercitar nossa percepção? Vamos fazer uma lista em 
duas colunas. Na primeira coluna vamos listar os dispositivos cultu-
rais que conhecemos, e que existem na comunidade em que vive-
mos. Na segunda, vamos listar os objetos culturais que identifi ca-
mos no nosso dia a dia. 
Dispositivos Culturais Objetos Culturais
Resposta comentada
Não existe uma única e certa resposta. É importante que se 
perceba as diferenças, não que se acertem opções únicas de res-
posta. Podem ser listados, como dispositivos culturais, exposições 
em museus e galerias; políticas públicas, ações; danças, músicas, 
encenações em teatros, escolas, praças, coretos; receitas culinárias; 
brincadeiras, performances e concertos etc.; ou seja, lugares onde 
aconteçam manifestações culturais e as manifestações em si. Como 
objetos culturais devem ser relacionados coisas materiais, como os 
talheres do exemplo, panelas, potes e demais utensílios de alimen-
tação, assim como brinquedos, roupas, trajes típicos, armas etc. 
1.6 AH... A CULTURA 
BRASILEIRA! SERÁ QUE 
CONHECEMOS COMO 
NOSSA 
CULTURA É FORMADA?
 Sabe que o maior problema ao se tentar defi nir a cultura brasileira é 
que isso sempre nos leva ao encontro de um debate ainda não defi nido 
do que seja o próprio signifi cado da ideia de “cultura brasileira”? 
Pois bem, um breve estudo sobre a história do Brasil nos mostra que é 
só no período republicano, de 1889 em diante, que começa a haver uma 
refl exão mais aprofundada sobre o conceito de Cultura Brasileira. Isso 
porque, lá no período colonial (1500-1822) e no período imperial (1822-
1889), não se tem ainda uma Cultura Brasileira. Inicialmente por não ha-
ver exatamente um país a que se possa atribuir uma identidade cultural e, 
também, pelo motivo de haver uma inegável influência do eurocentrismo 
nos dispositivos culturais e cenários acadêmicos e artísticos brasileiros.
Já vimos que o eurocentrismo considera avaliativamente as demais 
culturas em relação à Europa ser o centro do evolucionismo cultural, ou 
seja, o que é mais, ou menos evoluído, em relação ao que se pratica na 
Europa. Assim, a “Cultura Brasileira” era, nesse período, uma tentativa 
de espelhar e imitar a cultura europeia vigente, buscando igualar ao que 
se considerava certo.
Hoje sabemos que a Cultura Brasileira sofre influência direta das diversas 
etnias e culturas, dos diversos povos e grupos étnicos que contribuíram e 
contribuem para a formação do povo brasileiro. Assim, as chamadas ‘matri-
zes da cultura brasileira’ (principalmente brancos, negros e índios e, poste-
riormente, imigrantes de diversas origens, inclusive orientais) que influenciam 
na composição da nossa identidade, trazem consigo hábitos e costumes que 
se originam de práticas culturais diversas e, cultura é, primordialmente, 
[...] o conjunto das práticas, das técnicas, dos símbo-
los e dos valores que se devem transmitir às novas 
gerações para garantir a reprodução de um estado 
de coexistência social. A educação é o momento ins-
titucional marcado do processo” (BOSI, 1992, p.10). 
O pesquisador Aldo Moraes (2012) nos diz que no Brasil 
[...] embora seja um país de colonização portugue-
sa, outros grupos étnicos deixaram influências pro-
fundas na cultura nacional, destacando-se os povos 
indígenas, os africanos, os italianos e os alemães. As 
influências indígenas e africanas deixaram marcas no 
âmbito da música, da culinária, do folclore, do arte-
sanato, dos caracteres emocionais e das festas popu-
lares do Brasil, assim como centenas de empréstimos 
à língua portuguesa. É evidente que algumas regiões 
receberam maior contribuição desses povos: os esta-
dos do Norte têm forte influência das culturas indíge-
nas, enquanto algumas regiões do Nordeste têm uma 
cultura bastante africanizada, sendo que, em outras, 
principalmente no sertão, há uma intensa e antiga 
mescla de caracteres lusitanos e indígenas, com me-
nor participação africana. (MORAES, 2012, p. 9)
A sociedade brasileira se formou a partir da miscigenação dessas et-
nias e culturas, e “abraça” todas as diferenças, resultando numa cultura 
híbrida, nem sempre harmônica, mas que procura equilibrar os traços 
positivos adequados à “brasilidade” e ao que é conhecido como demo-
cracia étnica racial. 
Atenção
Darcy Ribeiro procurou destacar que 
Nós, brasileiros, somos um povo em ser impedido de 
sê-lo. Um povo mestiço na carne e no espírito, já que 
Etnia – Grupo de pessoas que, 
embora possua a mesma origem 
ou história, tem diferenças 
de origem sociocultural, 
como: idioma, religião, 
hábitos ou comportamentos. 
Termo comumente usado 
para se referir à semelhança 
biológica, caracterizada pelo 
compartilhamento da mesma raça 
e/ou cultura. (Etm. etno + ia)
Fonte: Dicionário on-Line de português. 
Disponível em: <http://www.dicio.com.br/
etnia>. Acesso em: dez. 2014.
24 Cultura e Memória Social
aqui a mestiçagem jamais foi crime ou pecado. Nela 
fomos feitos e ainda continuamos nos fazendo. Essa 
massa de nativos oriundos da mestiçagem viveu por 
séculos sem consciência de si, afundada na ninguen-
dade. Assim foi até se definir como uma nova identi-
dade étnico-nacional de brasileiros. Um povo até hoje 
em ser na dura busca de seu destino. Olhando-os, ou-
vindo-os, é fácil perceber que são, de fato, uma nova 
romanidade, uma romanidade tardia, mas melhor, 
porque foi lavada em sangue índio e sangue negro. 
(RIBEIRO, 1995, p. 453)
É preciso destacar que conhecer e diferenciar os conceitos de cultura, 
além de Multiculturalismo, Globalização e Hibridismo Cultural é impor-
tante ao se estudar o tema. 
Isso porque essas expressões trazem, em si, conceitos e abordagens in-
teressantes e diversifi cados na busca da atualização constante do conceito 
de cultura e auxiliam aos estudos e propostas de valorização da e das cul-
turas que, como já vimos, são organismos vivos e em constante mudança.
Como vemos na imagem a seguir, a composiçãoétnica brasileira se faz 
pela miscigenação das matrizes brancas europeias, negras africanas e ama-
relas indígenas, resultando num pluralismo étnico e numa multiculturalida-
de como característica ‘natural’ de nossa composição como um povo.
Figura 1 – Brasileiros do século XIX
1ª linha: brasileiros brancos. 2ª linha: brasileiros pardos (da esquerda para a direita: duas 
mulheres mulatas, duas mulheres cafuzas e uma garota e um homem caboclo). 3ª linha: 
três brasileiros índios de diferentes tribos seguidos por afro-brasileiros de diversas etnias.
Fonte: Wikipédia (2003-2006)3
3 ERMAKOFF, G. Rio de Janeiro – 1840-1900: uma crônica fotográfica. Rio de Janeiro: G. 
Ermakoff Casa Editorial, 2006. 
 LAGO, B. C. do. Os fotógrafos do Império: a fotografi a brasileira no Século XIX. Rio de 
Janeiro: Capivara, 2005. 
 VASQUEZ, P. K. O Brasil na fotografia oitocentista. São Paulo: Metalivros, 2003.
 Disponível em: <https://pt.Wikipédia.org/wiki/Composi%C3%A7%C3%A3o_%C3%A9tnica_
do_Brasil#/media/File:Brasileiros_do_seculo_XIX.png>. Acesso em: 14 out. 2018.
Multiculturalismo (ou pluralismo 
cultural) é um termo que descreve 
a existência de muitas culturas 
numa região, cidade ou país, com 
no mínimo uma predominante. A 
globalização acentua ainda mais 
essa mistura cultural. O Brasil, 
por exemplo, traz em sua cultura 
traços de muitas outras. Em pontos 
específi cos do país isso é mais 
nítido.
Fonte: Banco de Conceitos. STOA USP. 
Disponível em: <http://disciplinas.
stoa.usp.br/mod/glossary/view.
php?id=62879&mode=author&hook= 
T&sortkey=FIRSTNAME&sortorder=asc>. 
Acesso em: dez. 2014.
Globalização – O termo 
globalização surgiu após a Guerra 
Fria tornando-se o assunto do 
momento, aparecendo nos círculos 
intelectuais e nos meios de 
comunicação, tornando possível 
a união de países e povos. 
Essa união nos dá a impressão 
de que o planeta está fi cando 
cada vez menor. Um dos mais 
importantes fatores que contribui 
para a união desses povos é, sem 
dúvida, a internet. É impossível 
falar de globalização sem falar 
da Internet, que a cada minuto 
nos proporciona uma viagem 
pelo mundo sem sair do lugar. 
Dentro da rede conhecemos novas 
culturas, podemos fazer amizades 
com pessoas que moram horas 
de distância, trabalhamos e ainda 
podemos nos aperfeiçoar cada vez 
mais nos assuntos ligados a nossa 
área de interesse. Através dela 
milhões de negócios são fechados 
por dia!
Fonte: GOMES, C. Globalização. InfoEscola. 
Disponível em: <http://www.infoescola.
com/geografi a/globalizacao/>. Acesso em: 
dez. 2014.
25Curso de Bacharelado em Biblioteconomia na Modalidade a Distância
Curiosidade
Há uma historinha, cuja origem não é 
conhecida, que no “mercado negro” inter-
nacional de documentos, um passaporte bra-
sileiro é bastante cobiçado por assaltantes e 
bandidos especializados em falsifi cações de 
documentos. Por isso, os turistas brasileiros 
seriam “alvos” principais desses bandidos, 
em viagens, porque nosso passaporte valeria 
muitos dólares, ou euros, para ser ‘revendi-
do’ em uma falsifi cação, para pessoas que 
desejem mudar de identidade de forma não 
lícita. Isso porque, em teoria, “qualquer um” pode ser brasileiro. 
Não teríamos um único padrão étnico, como outros povos, e, as-
sim, qualquer aparência pode ser a aparência de um brasileiro! 
Se é verdade, ou não, não sabemos. Mas é bom não arriscar 
e cuidar bem de seus documentos em uma viagem internacional, 
não acham? 
Fonte da imagem: WIKIMEDIA. Disponível em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/Fi-
le:Passaportebrasileironovo2006.jpg>. Acesso em: 14 out. 2018.4
Já vimos, na Seção 1 desta unidade, que cultura, culto e colonização 
são palavras que têm uma mesma origem. Mesmo assim, a característica 
de ser viva e em constante mudança, faz da cultura um organismo em 
eterna movimentação. Desse modo, difi cilmente poderia existir a chama-
da cultura ‘pura’, pois todas são exemplos de relações humanas. 
Por termos sido colonizados prioritariamente por portugueses, herda-
mos o idioma, e muitos dos hábitos, mas outros povos também sofreram 
infl uências dos portugueses e, mesmo assim, desenvolveram suas pró-
prias tradições e sua própria cultura. 
Multimídia
Vídeo Além Mar – Identidade
Duração: 00:51:17
Série: Além Mar
Nível de ensino: Geral
Sinopse: A vida de povos unidos pelo idioma Português mostra 
que aqueles colonizados por Portugal em suas grandes navegações 
souberam aproveitar de maneira positiva essa mistura cultural.
4 Autor: Polícia Federal do Brasil (2006).
26 Cultura e Memória Social
Link para assistir o vídeo: <https://www.youtube.com/watch?v=1ze8FN78glU>. 
José Teixeira Coelho Netto nos apresenta o conceito de ação cultural, 
esclarecendo que sua função é fornecer os meios para que “as pessoas 
inventem seus próprios fi ns no universo cultural” (TEIXEIRA COELHO 
NETTO, 1986). Ou seja, ação cultural é uma “intervenção sociocultural 
não continuada” (TEIXEIRA COELHO NETTO, 1986). Na sua defi nição, 
mediação cultural é:
Processos de diferente natureza cuja meta é promover 
a aproximação entre indivíduos ou coletividades e obras 
de cultura e arte. Esta aproximação é feita com o obje-
tivo de facilitar a compreensão da obra, seu reconheci-
mento sensível e intelectual – com o que se desenvolvem 
apreciadores ou espectadores, na busca de formação de 
públicos para a cultura ou de iniciar esses indivíduos e co-
letividades na prática efetiva de uma determinada ativi-
dade cultural. (TEIXEIRA COELHO NETTO, 1986, p. 248)
O que compreendemos é que para que a nossa cultura se mantenha 
viva a dinâmica, temos que nós mesmos atuarmos como mediadores da 
ação cultural, promovendo-a, vivenciando-a e reinventando-a de forma 
contínua, respeitando as variações e modifi cações que os demais agentes 
também realizam, intensifi cando as relações.
Curiosidade
Um dos campos onde percebemos claramente a maior diver-
sidade de infl uências e relações que compõem a cultura brasileira 
é a culinária. A culinária brasileira é tão rica e diversifi cada que 
infl uencia até a música! A pesquisadora Juliana Oliveira (2013) nos 
esclarece que:
Nas diferentes regiões do Brasil, apresentam-se cren-
ças e tabus, diferentes hábitos e costumes. Para 
exemplificarmos um pouco alguns deles começare-
mos pelo norte do país, onde predomina a influên-
27Curso de Bacharelado em Biblioteconomia na Modalidade a Distância
cia da culinária indígena, baseada na mandioca e 
em peixes. Outros alimentos típicos do povo nortista 
são: carne de sol, tucupi (caldo da mandioca cozida), 
jambu (um tipo de erva), camarão seco e pimenta-
-de-cheiro. Os pratos típicos da região Centro-oeste 
são compostos por arroz com pequi, sopa paraguaia, 
arroz carreteiro, arroz boliviano, empadão goiano, 
pamonha, angu, curau e os peixes do Pantanal, como 
o pintado, pacu, dourado, entre outros.
Na região Sudeste os alimentos consumidos são bem 
diversificados e apresentam forte influência do índio, 
do escravo e dos diversos imigrantes europeus e asiá-
ticos. Entre os pratos típicos se destacam a moqueca 
capixaba, o pão de queijo, o feijão tropeiro, a carne de 
porco, a feijoada, o aipim frito, o bolinho de bacalhau, 
o picadinho, o virado à paulista, o cuscuz paulista, a 
farofa, o angu e a pizza. No Sul do país, churrasco, 
chimarrão, camarão, pirão de peixe, marreco assado, 
barreado (cozido de carne em uma panela de barro) e 
vinho sofrem predominância de consumo. Já os pra-
tos típicos da região nordeste são: carne de sol, peixes, 
frutos do mar, buchada de bode, sarapatel, acarajé, 
vatapá, cururu, feijão verde, canjica, arroz doce, bolo 
de fubá cozido, bolo de massa de mandioca, broa de 
milho verde, pamonha, cocada, tapioca, pé de mole-
que, entre tantos outros. (OLIVEIRA, 2013, p. 1)
Se formos estudar a cultura brasileira somente pelo aspecto da 
culinária isso já demandaria um imenso tempo de dedicação, tama-
nha é a variedade e qualidade da culinária cultural brasileira.
Multimídia
Procure conhecer a música Vatapá,de Dorival Caymmi. Na letra dessa canção há a receita 
completa do vatapá baiano. 
Fonte: WIKIPÉDIA. Elingunnur. Disponível em: <https://pt.Wikipédia.
org/wiki/Vatap%C3%A1#/media/File:Vatap%C3%A1.jpg>. Acesso em: 14 out. 2018.
28 Cultura e Memória Social
“Quem quiser vatapá, ô que procure fazer.
Primeiro o fubá, depois o dendê.
Procure uma nêga baiana, ô
Que saiba mexer, que saiba mexer, que saiba mexer.
Bota castanha de caju, um bocadinho mais,
Pimenta malagueta, um bocadinho mais,
Bota castanha de caju, um bocadinho mais,
Pimenta malagueta, um bocadinho mais.
Amendoim, camarão, rala um coco,
Na hora de machucar,
Sal com gengibre e cebola, iaiá,
Na hora de temperar.” (...)
Fonte: YOUTUBE. <https://www.youtube.com/watch?v=RIiaHFxiAhA>. Acesso em: 14 out. 
2018.
Para conhecer mais músicas que falam sobre comidinhas e gos-
tosuras mais do que tradicionais!
• Gilberto Gil – Sítio do pica-pau amarelo
Fonte: <https://www.youtube.com/watch?v=hQ_YIbw-
q4O0>.
• Tim Maia – Chocolate
Fonte: <https://www.youtube.com/watch?v=1d3nDXe-
N8hA>.
• Silvio Brito – Farofa
Fonte: <https://www.youtube.com/watch?v=lP9kfoSscbI>.
• Braguinha – Yes, nós temos bananas 
Fonte: <https://www.youtube.com/watch?v=Ld2o_
aP6xXY#t=17>. (com Ney Matogrosso)
• Chico Buarque – Feijoada completa
Fonte: <https://www.youtube.com/watch?v=-
W8nyY39Oo50>. 
1.6.1 Atividade
Já percebeu que os sotaques no Brasil variam muito, de acordo 
com as regiões? Além dos sotaques, também existem expressões, 
palavras e objetos que, regionalmente, adquirem signifi cados di-
ferentes. Por exemplo, o pãozinho francês de alguns lugares (em 
geral, na região sudeste), no Rio Grande do Sul se chama caceti-
nho. No mesmo estado, o docinho que a maioria do Brasil conhece 
como Brigadeiro, se chama negrinho.
29Curso de Bacharelado em Biblioteconomia na Modalidade a Distância
Pesquise entre seus amigos e familiares outros exemplos e crie 
uma lista, identifi cando o objeto com uma imagem, o nome dele, e 
a região onde é chamado dessa forma, de acordo com o exemplo 
a seguir.
Imagem 
do Objeto
Nome em sua 
localidade
Localidade
atiradeira Brasil – Rio de Janeiro
bodoque Brasil – São Paulo
estilingue
Brasil (zonas rurais em ge-
ral – derivado do inglês sling e 
slingshot)
fi sga Portugal
funga Angola
Fonte: FERREIRA, A.B.H. Dicionário da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Positivo, 2010.
Resposta comentada
Seguem alguns exemplos de expressões, mas se nas suas pes-
quisas surgiram outras, não deixe de registrar!5
Expressões típicas da Região Nordeste:
Expressões Significados
Baixa de égua Lugar onde ninguém quer ir, lugar muito longe.
Balaio de gato Desorganização, confusão.
Bater a caçuleta Morrer.
Cambito Perna fi na.
Cão chupando man-
ga
Pessoa muito feia.
Caxaprego Lugar muito distante.
Dar o prego Enguiçar.
Dar pitaco Dar opinião.
Encangado Em cima, montado.
Ensacar Pôr a blusa dentro da calça.
Fastiado Sem fome.
Fez mal Engravidou alguém.
Gaia Chifre.
Invocado Corajoso, ou “muito bom.”
continua
5 UOL. Os diversos falares regionais: um olhar curioso. UOL Português. Semântica. Disponível em: 
<http://www.portugues.com.br/gramatica/os-diversos-falares-regionais-um-olhar-curioso.html>. 
Acesso em: 14 out. 2018.
30 Cultura e Memória Social
continuação
Expressões Significados
Jerimum Abóbora.
Liso Sem dinheiro.
Mangar Ridicularizar.
Nome feio Palavrão.
Pastorar Vigiar.
Quenga Prostituta.
Racha Pelada, jogo de futebol ou disputas em geral.
Sustança Energia dos alimentos.
Triscar Tocar.
Varapau Homem alto.
Xanha Coceira na pele.
Zambeta De pernas tortas.
Fonte: <http://www.portugues.com.br/gramatica/os-diversos-
falares-regionais-um-olhar-curioso.html>.
Expressões oriundas da Região Sul:
Expressões Significados
Alçar a perna Montar a cavalo.
Campo santo Cemitério.
Embretar-se Meter-se em apuros.
Guacho
Animal ou pessoa criada sem a mãe, ou sem leite ma-
terno.
Lindeiro Ao lado de, vizinho.
Maleva Bandido, malfeitor, perverso.
Olada Ocasião, oportunidade.
Parada
Importância em dinheiro pela qual se contrata uma 
corrida de cavalos ou uma rinha de galos.
Relho Chicote pequeno com cabo de madeira, torcido.
Solito Isolado, sozinho, sem companhia.
Tirana
Cantiga e dança popular, acompanhada de viola. Va-
riedade do fandango.
Fonte: <http://www.portugues.com.br/gramatica/os-diversos-
falares-regionais-um-olhar-curioso.html>.
31Curso de Bacharelado em Biblioteconomia na Modalidade a Distância
Expressões oriundas da Região Norte:
Expressões Significados
De rocha Palavras ou assunto com convicção.
Égua de largura Muita sorte.
Essa é da grife do varal Roupa roubada.
Levou o farelo Morreu.
Miudinho Pequeno.
Paga uma ai? Paga uma bebida.
Vigia bem Preste muita atenção.
Umborimbora? Vamos embora?
Zé ruela Abestado, besta.
Fonte: <http://www.portugues.com.br/gramatica/os-diversos-
falares-regionais-um-olhar-curioso.html>.
1.7 RESUMO
Na unidade 1 conhecemos os diversos conceitos de cultura, de acordo 
com a História da Cultura; conhecemos como se construiu a História da 
Cultura, aprendemos sobre o que são e como são compostos os dispositi-
vos culturais, conhecemos o conceito de Indústria Cultural e começamos 
a conhecer um pouco da Cultura Brasileira e sua formação. 
Na próxima unidade vamos conhecer sobre protagonismo cultural e 
inclusão social e sua relação com a cultura. Diante de todas essas pers-
pectivas de cultura, esta unidade se constitui de modo a proporcionar 
o conhecimento e as oportunidades de contato e vivências em diversas 
ações culturais, muitas vezes vividas de forma desconectada dessa per-
cepção, de modo a promover refl exão e compartilhar saberes, valorizan-
do a cultura democrática para despertar a ampliação do aprendizado 
como instrumento de inserção social. 
33Curso de Bacharelado em Biblioteconomia na Modalidade a Distância
UNIDADE 2 
PROTAGONISMO 
E INCLUSÃO SOCIAL
2.1 OBJETIVO GERAL
Apresentar os conceitos de protagonismo e inclusão social, relacionando-os com a produção e orga-
nização de informação e conhecimento.
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
a) Identificar o conceito de protagonismo/protagonista cultural na perspectiva da apropriação 
cultural.
b) Reconhecer as abordagens da expressão “inclusão social.”
34 Cultura e Memória Social
2.3 INTRODUÇÃO
Você já parou para pensar qual papel exerce diante da cultura? 
Já se questionou se é alguém que “consome” a cultura ou alguém 
que age sobre ela? Como lida com as informações, de modo geral, 
costuma se apropriar delas?
Apropriar-se de informação e cultura é ato próprio de protagonis-
tas, categoria que no âmbito da educação e da cultura distingue-se 
das categorias de usuários e de consumidores culturais (PIERUCCINI, 
2004). Os protagonistas são agentes ativos, enquanto que os consu-
midores e usuários são passivos diante da cultura.
Protagonismo cultural “é ação afi rmativa nos processos simbólicos, 
exercida por sujeitos de diferentes meios e condições, consideradas as 
dimensões plurais e confl itantes da vida social e pública, no mundo con-
temporâneo” (PERROTTI, 2007). Cultura, como já vimos, é algo vivo e 
dinâmico, e a efetiva participação, como protagonistas, sugere uma ação 
de interferência direta nas modifi cações, mudanças e alterações culturais. 
A cultura não consiste mais na soma de o “melhor 
que foi pensado e dito”, considerado como ápice 
de uma civilização plenamente realizada – aquele 
ideal de perfeição para o qual, num sentido anti-
go, todos aspiravam. Mesmo a “arte” – designada 
anteriormente como uma posição de privilégio, 
uma pedra-de-toque dos mais altos valores da ci-
vilização – é agora redefinida como apenas uma 
forma especial de processo social geral. (HALL, 
2003, p. 135)
Isso acontece porque
Concentradas na palavra cultura, existem questões 
diretamente propostas pelas grandes mudanças 
históricas que as modificações na indústria, na de-
mocracia e nas classes sociais representam de ma-
neira própria e às quais a arte responde também, 
deforma semelhante. (HALL, 2003, p. 133)
O protagonismo cultural toma a forma de agente de transforma-
ções culturais consciente, e não somente o papel de consumidor pas-
sivo de cultura. Podendo exercer, dessa forma, direitos de cidadãos, 
influenciar políticas públicas, e contribuir para a inclusão cultural e 
desenvolvimento das tecnologias sociais.
Para melhor compreender esse processo, vamos conhecer primeiro o 
que é protagonismo e, em seguida, discutir o conceito de inclusão social 
que, na área de Ciências da Informação manifesta-se mais claramente 
nos programas de Inclusão Digital.
Apropriação. Ato de apropriar 
ou apropriar-se. Acomodação, 
adaptação.
Fonte: Dicionário on-line de português. 
Disponível em: <http://www.dicio.com.br/
apropriacao/>. Acesso em: nov. 2014.
35Curso de Bacharelado em Biblioteconomia na Modalidade a Distância
2.4 O QUE SERÁ 
PROTAGONISMO? 
VOCÊ SABE?
Vamos começar o estudo dessa unidade conhecendo alguns conceitos 
fundamentais, como o signifi cado do termo protagonismo.
A palavra protagonismo é formada por duas raízes gregas: proto, que 
signifi ca “o primeiro, o principal”; agon, que signifi ca “luta.” Agonistes, 
por sua vez, signifi ca “lutador.” Protagonista quer dizer, então, lutador 
principal, personagem principal, ator principal. Uma ação é dita protagô-
nica quando, na sua execução, o educando é o ator principal no processo 
de seu desenvolvimento. Por meio desse tipo de ação, o educando adqui-
re e amplia seu repertório interativo, aumentando assim sua capacidade 
de interferir de forma ativa e construtiva em seu contexto escolar e sócio 
comunitário (COSTA, 2007). 
Vamos ainda prestar atenção à afi rmação a seguir, que diz que
[...] quando o indivíduo se apropria da informação ele 
deixa de ser mero usuário ou consumidor, mas torna-
-se um “protagonista cultural”, “produtor e criador 
de significados e sentidos”, com domínio sobre pro-
cessos simbólicos e “participação ativa e afirmativa na 
vida cultural.” (PERROTI; PIERUCCINI, 2007, p. 57)
Ou seja, a apropriação acerca de informações culturais é que habilita 
o indivíduo a deixar de ser um simples consumidor de informação para se 
tornar um protagonista cultural, o que signifi ca que, somente quando o 
indivíduo ressignifi ca a informação e a transforma em ação é que ele tem 
participação ativa na vida cultural. 
creditando nessa afi rmação, derivamos a ideia de que a área de 
Ciência da Informação é essencial para a promoção do protagonismo 
cultural. Em especial, pela Infoeducação que, como o nome diz, é um 
campo de intersecção entre a Educação e a Ciência da Informação, se 
constituindo em 
[...] área de estudo, situada nos desvãos das Ciên-
cias da Informação e da Educação, voltada à com-
preensão das conexões existentes entre apropriação 
simbólica e dispositivos culturais, como condição à 
sistematização de referências teóricas e metodoló-
gicas necessárias ao desenvolvimento dinâmico e 
articulado de aprendizagens e de dispositivos infor-
macionais, compatíveis com demandas crescentes 
de protagonismo cultural, bem como de produção 
científica, constituída sob novas óticas, nas cha-
madas Sociedades do Conhecimento. (PERROTTI; 
PIERUCCINI, 2007, p. 92)
36 Cultura e Memória Social
Quando os indivíduos assumem a responsabilidade pelo seu próprio 
desenvolvimento, seja em que nível for, inclusive cultural, tornam-se 
protagonistas de seus percursos ao serem capazes de analisar, refl etir, 
propor mudanças e atualizações, sempre que se mostrar pertinente. A 
capacidade crítica proporcionada pelo protagonismo colabora no de-
senvolvimento social, e a inclusão social provoca a refl exão social e o 
protagonismo. Ou seja, é um movimento de espiral que se retroalimen-
ta, em movimento constante. A fi gura do espiral ilustra bem a propo-
sição, pois quando se tem a atuação protagonista em ação, jamais se 
volta a ser o que era, mesmo que se aproxime um pouco. O movimento 
de expansão da cultura, provocado pela ação protagonista a movimenta 
e a transforma.
Figura 2 – A atuação protagonista movimenta e transforma a cultura, 
promovendo sua expansão, como em uma espiral
Fonte: Pixabay (2016)6
Atenção
O protagonismo se mostra cada dia mais necessário para a cons-
trução do conhecimento individual e coletivo vindo ao encontro do 
conceito de Espiral de Conhecimento bastante útil para a Gestão 
do Conhecimento, área de conhecimento da Administração que se 
relaciona com as Ciências da Informação.
6 PIXABAY. Escada em espiral. Disponível em: <https://pixabay.com/pt/escada-em-espiral-
escadas-1826553/>. Acesso em: 14 out. 2018
37Curso de Bacharelado em Biblioteconomia na Modalidade a Distância
Curiosidade
A Gestão Eletrônica de Documentos (GED) é uma área do co-
nhecimento que está inserida no grande campo das Ciências da In-
formação e também da Tecnologia de Informação, sendo resultado 
dessa interdisciplinaridade.
Enquanto a Ciência da informação “considera a informação 
lato sensu como seu “objeto” e a Arquivologia tende a considerar 
“os arquivos” como seu único objeto (JARDIM, 1995 p. 48), per-
cebemos um forte vínculo entre essas áreas, já que a informação 
não existe sem um suporte, e que o suporte mais a informação ca-
racteriza um documento. Deste modo, sendo a Arquivologia uma 
ciência pertencente ao campo das Ciências da Informação, o GED 
tornou-se uma área de estudos tanto para os arquivistas quanto 
para os analistas de sistemas que o programam. 
Cabe ao arquivista procurar o melhor modo de realizar dentro 
deste sistema eletrônico a criação, controle (classifi cação, avalia-
ção), manipulação, armazenamento (conservação), acesso, difu-
são e recuperação da informação, evidenciando a importância do 
trabalho em conjunto destes profi ssionais no momento da im-
plantação de um sistema GED (HEDLUND, 2010).
Ciência da 
computação
Ciência da 
informação
Tecnologia da 
informação
GED
Fonte: HEDLUND, D.C. “Gestão Eletrônica de Documentos (GED).” Organização Eletrônica. 
Blog. 2010. Disponível em: <http://www.dhionhedlund.com.br/2010/06/gestao-
eletronica-de-documentos-ged.html>. Acesso em: dez. 2014.
38 Cultura e Memória Social
2.5 ESSE TÃO FALADO 
CONCEITO DE 
INCLUSÃO SOCIAL...
Gr amaticalmente falando, “incluir” é um verbo irregular, bitransitivo, 
pronominal. Ou seja, é tanto transitivo direto quanto indireto. Se ob-
servarmos os dicionários, o signifi cado é sempre o de “colocar dentro”, 
“fazer constar”, “introduzir”, “intercalar.” Como sinônimos de incluir 
temos enfi ar, incorporar, inserir, introduzir e meter. Tudo depende do uso 
na frase, período ou ideia em que ele é usado.
Logo de início podemos perceber as múltiplas possibilidades de enten-
dimento que a expressão “inclusão social” traz consigo. Por isso, é impor-
tante contextualizarmos a expressão quando a usamos, esclarecendo os 
conceitos que buscamos trabalhar ao referenciar o termo. 
Assim, o conceito de inclusão social é também um conceito construído 
culturalmente, ou seja, está relacionado aos modos e costumes de quem 
o referencia e à sua cultura. A percepção de inclusão, desse modo, varia, 
de acordo com o “lugar” e o “tempo” em que é referenciada.
Atenção
Na Lei nº 12.073 de 29 de outubro de 2009, a inclusão social é 
assim conceituada.
É padrão a definição de inclusão social como sen-
do o processo mais aperfeiçoado da convivência de 
alguém, tido como diferente, com os demais mem-
bros da sociedade, tidos como supostamente iguais. 
Neste caso, a sociedade se prepara e se modifica 
para receber a pessoa portadora de deficiência, em 
todas as áreas do processo social (educação, saúde, 
trabalho, assistência social, acessibilidade, lazer, es-
porte e cultura). (BRASIL, 2008, p. 2)
Romeu Kazumi Sassaki (1997) nos esclarece que inclusão social é “o 
processo pelo qual a sociedade se adapta para poder incluir [indivíduos], 
em seus sistemas sociais gerais.” Dessa forma, a inclusão social constitui, 
então, “um processo bilateral no qual as pessoas, ainda excluídas, e a 
sociedadebuscam, em parceria, equacionar problemas, decidir sobre so-
luções e efetivar a equiparação de oportunidades para todos” (SASSAKI, 
1997). 
Mas isso pode se relacionar à diversos contextos. Inclusão social de 
pessoas com defi ciências físicas (como trata Sassaki), inclusão social dos 
menos favorecidos economicamente etc.
39Curso de Bacharelado em Biblioteconomia na Modalidade a Distância
A prática da inclusão social repousa em princípios 
até então considerados incomuns, tais como: a 
aceitação das diferenças individuais, a valorização 
de cada pessoa, a convivência dentro da diversida-
de humana, a aprendizagem através da coopera-
ção. A diversidade humana é representada, prin-
cipalmente, por origem nacional, opção sexual, 
religião, gênero, cor, idade, raça e deficiência. A 
inclusão social, portanto, é um processo que contri-
bui para a construção de um novo tipo de socieda-
de através de transformações, pequenas e grandes, 
nos ambientes físicos (espaços internos e externos, 
equipamentos, aparelhos e utensílios, mobiliário e 
meios de transporte), nos procedimentos técnicos e 
na mentalidade de todas as pessoas, portanto tam-
bém do próprio portador de necessidades especiais. 
(SASSAKI, 1997, p. 3)
Para fi ns de dimensionamento de necessidades e coleta de dados para 
traçar políticas públicas de inclusão social, foi criado em 1995/96 o Mapa 
da Exclusão/Inclusão Social, metodologia que, “usando de linguagens 
quantitativas, qualitativas e de geoprocessamento produz dois índices 
territoriais que hierarquizam regiões de uma cidade quanto ao grau de 
exclusão/inclusão social [...]” (SPOSATI, 2002, p. 2)
A ideia de inclusão social vem sendo elaborada e reelaborada – no 
sentido de reconhecer as necessidades humanas fundamentais para 
poder garanti-las na elaboração de políticas públicas – desde os des-
dobramentos os estudos de Amartya Sen (Prêmio Nobel de Econo-
mia de 1998), e o Relatório de Desenvolvimento Humano, trabalho de 
Mahbub ul Haq (SPOSATI, 2002), até a criação do conceito de desen-
volvimento humano, do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), a 
criação do Relatório de Desenvolvimento Humano (RDH), pela UNES-
CO que abrange “três dimensões básicas do desenvolvimento huma-
no: renda, educação e saúde”,
Ao tratarmos do conceito de inclusão social relacionado à Ciência da 
Informação devemos procurar refl etir sobre a relação entre o direito à 
informação e o acesso a ela. Nesse sentido, 
[...] a informação e o conhecimento devem ser aces-
síveis a todos, independentemente de raça, nacionali-
dade, gênero, local, ocupação ou status social. As tec-
nologias de informação e comunicação devem estar 
voltadas para este fim e constituírem-se instrumentos 
para se alcançar um desenvolvimento verdadeiramen-
te centrado no ser humano. (UNESCO, 1996 apud 
TARAPANOFF; SUAIDEN; OLIVEIRA 2002)
Alex Serrano Almeida e Renata Braz Gonçalves (2013) acreditam que:
[...] estar atento às questões relacionadas à Inclusão 
Social é direito e dever de todos. Contudo, acredita-se 
que este assunto ainda é pouco explorado e discutido 
em algumas áreas, como, por exemplo, na Ciência da 
Informação. (SERRANO e GONÇALVES, 2013, p. 241).
40 Cultura e Memória Social
Por este motivo, são autores de um estudo, denominado “Inclusão social 
e suas abordagens na Ciência da Informação: análise da produção cientí-
fi ca em periódicos da área de Ciência da Informação no período de 2001 
a 2010”, em que declaram que esperam “provocar a refl exão e discussão 
sobre a temática e, assim, fomentar tomadas de decisões e mudanças de 
atitudes dos profi ssionais da informação, do poder público e da sociedade 
em geral” (SERRANO; GONÇALVES, 2013, p. 241).
Destacam ainda que “[...] a informação deveria ser considerada um bem 
social a ser compartilhado, assim como educação, saúde ou infraestrutura 
de transportes” (FREIRE, 2007, p. 143, apud, SERRANO; GONÇALVES, 2013, 
p. 244), pois, “esta é um insumo fundamental para a conquista de uma 
sociedade inclusiva e a sua falta causa um grande desfavorecimento social.” 
(SERRANO; GONÇALVES, 2013, p. 244)
Os pesquisadores verifi caram entre 2001 e 2010, como o título do tra-
balho destaca, “a existência de 80 trabalhos que tratam da referida temá-
tica” (SERRANO; GONÇALVES, 2013, p. 242), porém ressaltam que nos 
periódicos selecionados para o estudo, a amostra se restringe a “30 artigos 
que tratam da temática inclusão social” (SERRANO; GONÇALVES, 2013, p. 
248). Os autores ainda acreditam que 
No que tange à disponibilização e ao acesso à infor-
mação, é imprescindível citar o profissional da infor-
mação, tendo este um papel de destaque no que 
concerne a uma sociedade inclusiva. O profissional 
da informação, especificamente o bibliotecário, deve 
estar atento à realidade e, acima de tudo, capacitado 
para atender as necessidades de seus usuários, pois 
“Uma sociedade baseada no uso intensivo de infor-
mação, na qual o indivíduo interage com pessoas e 
máquinas em um constante intercâmbio de dados 
e informação, produz simultaneamente fenômenos 
de maior inclusão e exclusão social” (TARAPANOFF; 
SUAIDEN; OLIVEIRA, 2002). [...] A Ciência da Infor-
mação é uma área que deve atender as necessidades 
sociais de informação, sendo assim, esta deve servir 
como alicerce para o desenvolvimento de políticas 
de inclusão social. (SERRANO; GONÇALVES, 2013, p. 
245-246)
Inclusão digital é, para os autores, o caminho da Inclusão Social pelo viés 
da Ciência da Informação, mas consideram que é necessário haver muita 
atenção e critérios claros para a efetivação da inclusão digital. Isso pois, 
“inclusão digital mal realizada pode-se tornar mais um componente a ser 
considerado no que diz respeito à exclusão social” (SERRANO; GONÇAL-
VES, 2013, p. 257) destacando que 
[...] é de suma importância um planejamento bem 
estruturado quando se trata de inclusão digital, pois 
um frágil projeto e, em consequência, uma precária 
execução tornarão a inclusão digital uma prerrogativa 
a mais a ser analisada em relação à exclusão social, 
assim como já ocorre com: a economia, o desempre-
go, a fome, o analfabetismo, a educação, o Sistema 
Único de Saúde, os transportes públicos, a distribui-
ção agrária, dentre vários outros. (SERRANO; GON-
ÇALVES, 2013, p. 257)
41Curso de Bacharelado em Biblioteconomia na Modalidade a Distância
E que 
a simples disponibilização de recursos infraestruturais 
aos indivíduos excluídos digitalmente não os tornam 
incluídos digitais, tampouco na sociedade, podendo 
até mesmo ter um efeito contrário, tornando estes 
sujeitos ainda mais excluídos socialmente [...] Pensar 
na inclusão digital como principal alicerce para outras 
discussões, torna-se um equívoco, visto que progra-
mas que visam à inclusão digital, certamente, não 
contemplaram todos os aspectos sociais que podem 
contribuir para a exclusão de um indivíduo. (SERRA-
NO; GONÇALVES, 2013, p. 258-259)
Figura 3 – Inclusão digital: solução para o acesso à informação 
ou um passo para a exclusão social?
Fonte: Flickr (2009)7
O que é, então, necessário ser feito efetivamente para realizarmos a 
inclusão social pela ciência da informação? O simples acesso à informa-
ção já proporciona inclusão? Se sim, como e porquê? 
Não creio que tenhamos uma única resposta para essas questões, mas 
é fato que sem conhecer recursos é impossível usá-los e apropriar-se de-
les, não é verdade? Assim, a disseminação de informação de qualidade, 
embora não seja a única responsável pela inclusão social, colabora de 
forma signifi cativa na diminuição das diversas formas de exclusão.
Multimídia
O periódico Inclusão Social, que tem como in-
teresse central a publicação de “trabalhos inéditos 
no âmbito da inclusão social, com temas ligados 
a ações, programas, projetos, estudos e pesquisas 
7 FLICKR. Leonardo Augusto Matsuda. Disponível em: <https://www.fl ickr.com/photos/
poperotico/3921069882>. Acesso em: 14 out. 2018.
42 Cultura e Memória Social
voltados a problemas relacionados à inclusão dos 
cidadãos nasociedade da informação” (INCLUSÃO 
SOCIAL, 2011, apud SERRANO, A.; GONÇALVES, R. 
B., 2013), concentra uma coleção de trabalhos de 
pesquisa sobre o tema e deve ser consultado para 
maiores esclarecimentos.
Fonte: IBICT. Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnolo-
gia. Inclusão Social, 
Rio de Janeiro, v. 8, n. 1., jul./dez., 2014.
Disponível em: <http://revista.ibict.br/inclusao>. Acesso em: dez. 2014. 
2.6 RESUMO
Nesta unidade, conhecemos os conceitos de protagonismo e inclusão 
social e aprendemos como a Ciência da Informação se relaciona entre es-
ses dois conceitos e as práticas de cultura. Vimos também como a ciência 
da Informação pode ser agente de promoção da inclusão, por meio da 
disseminação de facilitação de acesso à informação. 
Na próxima unidade trataremos de Memória Social e Identidade, co-
nhecendo os conceitos de patrimônio cultural, material e imaterial.
UNIDADE 3
DOIS TEMAS INTERESSANTES 
E INTERLIGADOS: MEMÓRIA 
SOCIAL E IDENTIDADE
3.1 OBJETIVO GERAL
Criar bases teórico/conceituais para compreender os principais conceitos que sustentam as discus-
sões sobre as temáticas da construção da identidade e da memória social. Apresentar as definições de 
patrimônio cultural material e imaterial, com ênfase na cultura Brasileira.
3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
a) reconhecer o que é Patrimônio Cultural, Memória Social e Identidade Cultural.
b) identificar e diferenciar patrimônios culturais materiais e imateriais.
3.3 INTRODUÇÃO 
Vamos começar esta unidade conhecendo ou recuperando alguns 
conceitos fundamentais. Memória é o processo de adquirir, armazenar 
e recuperar informações que foram assimiladas pela mente. A Memória 
Social é a coletivização desse processo.
O conceito de Memória Social tem origem no pen-
samento de Maurice Halbwachs vindo da Sociologia 
de Durkheim e trata de uma abordagem da memória 
como um substrato de conhecimento coletivo e cultu-
ralmente conhecido por determinado grupo em certo 
contexto social. Difere da forma cognitiva de estudo 
da memória como associada à atenção e a percepção. 
(HALBWACHS, 1990)
A memória social é uma área que engloba, de forma multidisciplinar, 
várias outras e estuda o modo como as sociedades lembram ou esque-
cem os acontecimentos e as ideologias por detrás desse movimento. 
[...] como objeto de pesquisa passível de ser concei-
tuado, não pertence a nenhuma disciplina tradicional-
mente existente, e nenhuma delas goza do privilégio 
de produzir o seu conceito. Esse conceito se encon-
tra em construção a partir de novos problemas que 
resultam do atravessamento de disciplinas diversas. 
(GONDAR, 2005)
Gondar afirma que a memória é uma construção e, nessa linha de 
pensamento, condena termos como “reconstituição” e “resgate” quan-
do associados à memória. Defende que a memória:
[...] não nos conduz a reconstituir o passado, mas 
sim a reconstruí-lo com base nas questões que nós 
fazemos, que fazemos a ele, questões que dizem 
mais de nós mesmos, de nossa perspectiva presente, 
que do frescor dos acontecimentos passados. (GON-
DAR, 2005).
O que explicita como a memória é construída e reconstruída por cada 
vez que é contada. Assim, o fenômeno da memória social permite a com-
preensão e desdobramentos dos conceitos de diversidade cultural, patri-
mônio cultural material e imaterial e faz com que seja possível a aproxi-
mação com o pensamento de identidade, como afirma Le Goff (1997): “a 
memória é um elemento essencial do que se costuma chamar identidade, 
individual ou coletiva, cuja busca é uma das atividades fundamentais dos 
indivíduos e das sociedades de hoje.”
45Curso de Bacharelado em Biblioteconomia na Modalidade a Distância
Figura 4 – A memória é o processo de adquirir, armazenar e recuperar informações que foram 
assimiladas pela mente. A memória social trata de reconstrução a cada vez que é contada
Fonte: Pixabay (2014)8
3.4 DIVERSIDADE 
E PATRIMÔNIO 
CULTURAL: O QUE É 
AFINAL?
O pesquisador Elder Alves (2010), em trabalho intitulado Diversidade 
Cultural, Patrimônio Cultural Material e Cultura Popular: a Unesco e a 
Construção de um Universalismo Global nos conta sobre a posição go-
vernamental no Brasil em relação à proteção e promoção da diversidade 
cultural.
O envolvimento decisivo do governo brasileiro, atra-
vés do Ministério da Cultura, no processo de aprova-
ção da convenção sobre a diversidade se dá a partir 
de três interesses convergentes: a necessidade pe-
remptória de incorporar, na estrutura da administra-
ção cultural, o valor universalista e universalizante da 
diversidade cultural; o interesse de inserir o tema da 
diversidade no espectro maior das políticas culturais 
para as culturas populares; e, por fim, o desejo de 
liderar um processo de formação discursiva que pas-
sa pela formação e consolidação de novas categorias 
nativas, como indústrias da criatividade, diversidade 
cultural, patrimônio imaterial, entre outras. (ALVES, 
2010, p. 547)
8 PIXABAY. Disponível em: <https://pixabay.com/pt/pensamentos-acho-que-psique-551263/>. 
Acesso em: 14 out. 2018.
46 Cultura e Memória Social
Vamos começar a falar de Patrimônio Cultural pelo aspecto legal. A 
Constituição Brasileira de 1988 que rege a nossa nação estabelece, no 
Artº 216 que: 
Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de 
natureza material e imaterial, tomados individualmen-
te ou em conjunto, portadores de referência à iden-
tidade, à ação, à memória dos diferentes grupos for-
madores da sociedade brasileira, nos quais se incluem: 
I – as formas de expressão; II – os modos de criar, fazer 
e viver; III – as criações científicas, artísticas e tecnoló-
gicas; IV – as obras, objetos, documentos, edificações 
e demais espaços destinados às manifestações artísti-
co-culturais; V – os conjuntos urbanos e sítios de valor 
histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleon-
tológico, ecológico e científico. (BRASIL, 1988)
Ou seja, nosso Patrimônio Cultural, nossa herança comum, é formado 
por itens materiais e imateriais que, em objetos ou ações e modos de ser 
e fazer, refl etem os costumes e a identidade cultural do povo brasileiro. É 
um campo bastante amplo e completo e 
Admitindo as inúmeras interpretações do conceito de 
patrimônio como um fator cultural composto por três 
categorias de elementos, o meio ambiente, o conhe-
cimento, tudo que o homem fabricou, isto é, os bens 
culturais. (RODRIGUES, 2000, p. 73)
Atenção
De acordo com a Declaração de Caracas de 1992, “o Patrimô-
nio Cultural de uma nação, de uma região ou de uma comunidade 
é composto de todas as expressões materiais e espirituais que lhe 
constituem, incluindo o meio ambiente natural” (DECLARAÇÃO DE 
CARACAS, 1992).
A arte popular, as danças, as comidas, as lendas, os costumes, as 
festas, as devoções, as tradições em geral, acumuladas ao longo desses 
nossos já comemorados 500 anos, juntas, formam a identidade cultural 
nacional e são nossas maiores riquezas e constituem-se como nosso pa-
trimônio cultural imaterial.
Entende-se por patrimônio cultural imaterial as práticas, 
representações, expressões, conhecimentos e técnicas – 
junto com os instrumentos, objetos, artefatos e lugares 
culturais que lhe são associados – que as comunidades, 
os grupos e, em alguns casos, os indivíduos, reconhe-
cem como parte integrante do seu patrimônio imate-
rial. Este patrimônio cultural imaterial, que se transmite 
de geração em geração, é constantemente recriado por 
Patrimônio: s.m. Bem que vem do 
pai e da mãe.
Conjunto dos bens, direitos e 
obrigações de uma pessoa jurídica.
Fig. O que é considerado como 
herança comum.
Sinônimos de Patrimônio: legado, 
herança, deixa, dinheiro, recursos, 
meios, riqueza, arcabouço e 
bagagem.
Fonte: Dicionário on-line de português. 
Disponível em: <http://www.dicio.com.br/
patrimonio/>. Acesso em: nov. 2014.
47Curso de Bacharelado em Biblioteconomia na Modalidade a Distância
grupos em função de seu ambiente, de sua interação 
com a natureza, gerando um sentimento de identidade

Continue navegando