Buscar

RESUMÃO PENSAMENTO CIENTÍFICO

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 63 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 63 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 63 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

PENSAMENTO CIENTÍFICO
Douglas Rodrigues Aguiar de Oliveira
CONHECENDO A DISCIPLINA
A disciplina de Pensamento Científico tem como objetivo proporcionar maior facilidade de compreensão da importância do conhecimento no mundo real, tanto na solução de problemas teóricos como práticos, favorecendo a identificação dos diversos tipos de conhecimentos, distinguindo suas principais particularidades e, principalmente, identificando seus limites para a solução de problemas cotidianos.
Ao longo da disciplina, com base em exemplos objetivos, exploraremos as distinções entre o conhecimento vulgar e o científico, desconstruindo mitos popularmente aceitos sobre suas aplicabilidades e enfatizando seus desafios no mundo globalizado.
Examinaremos também os diversos tipos de conhecimentos filosóficos existentes frequentemente associados com o científico, destacando seus aspectos valiosos e suas dificuldades que se refletem no estabelecimento de uma aceitação universal por parte de pesquisadores acadêmicos no campo da ciência e da filosofia. 
Finalmente, avaliaremos a relação entre o conhecimento filosófico e o religioso, com o objetivo de proporcionar clareza e entendimento profundo das consequências da aplicabilidade desses conhecimentos na realidade.
O estudo desta disciplina favorecerá a fomentação de uma cultura intelectual mais sofisticada, contribuindo para melhores tomadas de decisão frente aos desafios globais, sobretudo na problemática da mudança climática e da saúde pública, e ajudando na resolução dos problemas pertinentes à vida cotidiana.
PRATICAR PARA APRENDER
Provavelmente, você já se perguntou o que torna o conhecimento científico diferenciado em comparação com outras formas de conhecimento, razão pela qual diversas grandes potências reservam uma parcela de seu PIB para investir em ciência e tecnologia, mas não encontrou nenhuma explicação dentro de um contexto histórico apropriado que detalhasse as principais características do conhecimento científico.
Sem um contexto adequado é impossível discutir o que é conhecimento científico, bem como explicar quais seriam suas características e o porquê desse tipo de conhecimento ser único em sua espécie. Por causa dessa dificuldade de entendimento da ciência, você, em alguma parte de sua vida, perguntou: “Por que os cientistas estudam planetas distantes em vez de concentrarem seus esforços em problemas sociais vigentes, como a desigualdade social, a extrema pobreza e a desnutrição?” ou “Por que investir milhões de dólares em pesquisas básicas?”
Com um pouco de tratamento filosófico e história da ciência, seria possível responder que diversos esforços coletivos promovidos dentro do contexto da história da Era Espacial contribuíram direta e indiretamente para o surgimento de tecnologias usadas no dia a dia, como travesseiros, painéis solares, satélites artificiais, detectores de fumaça e muitos outros. Poderia também ser respondido que uma compreensão profunda da genética levou ao desenvolvimento de alimentos transgênicos, que são ricos em proteínas, contribuem para a redução do uso de agrotóxicos e auxiliam diretamente no combate à desnutrição em países do continente africano.
Explicar a origem de todo esse processo de construção de conhecimento enriquece a cultura à medida que revela como as características do conhecimento científico auxiliam no progresso tecnológico, principalmente na produção de vacinas em contextos de pandemias, como a da Gripe Espanhola e do novo coronavírus (SARS-CoV-2).
Em uma sala de aula, um professor de Filosofia da Ciência escolhe três alunos com o objetivo de atribuir a cada escolhido uma disciplina que alegue o status de ciência: a primeira disciplina é a Astronomia (atribuída ao aluno A), a segunda disciplina é a Sociologia (atribuída ao aluno B) e a terceira disciplina é a Psicanálise (atribuída ao aluno C).
Em seguida, os alunos são convidados a aplicar o ceticismo científico na disciplina atribuída a eles para avaliar suas hipóteses e teorias, bem como questionar suas bases analisando a possível compatibilidade com os resultados da ciência.
Supondo que os alunos tiveram êxito no trabalho proposto, considere o resultado a que cada aluno chegou:
a. A astronomia é uma ciência porque suas teorias são compatíveis com os dados disponíveis das melhores agências espaciais.
b. A sociologia é uma ciência porque suas teorias são baseadas em evidências. Além disso, a sociologia consegue, com base no uso de modelagem computacional, realizar predições sobre fenômenos sociais com alto nível de acurácia.
c. A psicanálise não parece ser uma ciência, ou talvez seja uma pseudociência, porque suas principais hipóteses não constituem uma teoria científica. Mais ainda, algumas alegações sobre possíveis entidades ou objetos não podem ser testadas ou demonstradas empiricamente. Ela também tem outro ponto falho, que consiste na ausência de uma formalização lógica adequada da qual seja possível a extração objetiva do significado de um conceito central no campo.
Normalmente, o próprio aluno C poderia indagar sobre o motivo pelo qual a psicanálise ainda mantém um local prestigiado em universidades públicas e particulares, sendo que ela falha em cumprir os requisitos mínimos esperados de um campo que alega produzir conhecimento científico.
Quais seriam os possíveis indicadores que revelariam o porquê de certas pseudociências, como a psicanálise, ainda manterem algum prestígio na academia, mesmo não cumprindo requisitos esperados de uma atividade que preza pela verdade?
A ciência é mais que um corpo de conhecimento, é uma forma de pensar, uma forma cética de interrogar o universo, com pleno conhecimento da falibilidade humana. Se não estamos aptos a fazer perguntas céticas para interrogar aqueles que nos afirmam que algo é verdade, e sermos céticos com aqueles que são autoridade, então estamos à mercê do próximo charlatão político ou religioso que aparecer.
Carl Sagan, entrevista de 1996.
CONCEITO-CHAVE
CONHECIMENTO CIENTÍFICO: SISTEMATICIDADE, FALIBILIDADE E QUESTIONABILIDADE
Algumas características essenciais do conhecimento científico mostram como ele é um conhecimento único em sua espécie, trazendo maior nível de confiabilidade em comparação com outros tipos de saberes no mundo contemporâneo. Um aspecto central é seu princípio de sistematização, que é basicamente a forma como seus enunciados são estruturados logicamente, evitando confusões da linguagem ordinária, como contradições lógicas e polissemia.
A sistematização do conhecimento científico permite que seus enunciados não entrem em contradição ao longo de uma explicação a respeito de algum fenômeno da realidade, evitando a utilização de jargões desnecessários e, por vezes, incompreensíveis, como sentenças que fazem parte de muitos sistemas filosóficos dos chamados filósofos do irracionalismo, como Friedrich Hegel e Martin Heidegger.
A adoção de uma estrutura lógica dentro de enunciados científicos permitiu que qualquer discurso ou método dialéticos fosse extirpado do conhecimento científico, contrariando a crença popular de que a dialética é um elemento indispensável na atividade científica. Isso ocorre desde o surgimento da ciência moderna, admitindo tacitamente o Princípio da Não Contradição de Aristóteles, que assegura que afirmações contraditórias não podem ser verdadeiras ao mesmo tempo. Portanto, a ciência evita o uso de proposições contraditórias, como “esse círculo é quadrado”, “toda verdade é uma mentira” e “tudo é relativo”.
A dialética é um conceito problemático desde Heráclito, significando em seus primórdios a ideia de que existe um Princípio da Unidade dos Contrários, ou seja, a ideia de que todas as coisas que existem possuem uma contraparte ou uma entidade oposta (por exemplo, partículas e antipartículas). Muitos séculos depois, o filósofo Hegel buscou desenvolver a dialética dentro de seu sistema filosófico, admitindo alguns pressupostos da tese original, como a ideia de que existe uma unidade dos opostos e a noção segundo a qual todas as coisas mudam. No entanto, Hegelfoi muito pouco claro sobre o que ele queria dizer com “dialética”, de modo que até hoje não existe um consenso entre filósofos sobre o que ela é: uma lógica não clássica, que romperia com o Princípio da Não Contradição da ciência moderna; uma ontologia das coisas; ou simplesmente ambas. Apesar do extenso debate filosófico sobre a dialética, ela não conseguiu ganhar espaço em nenhuma ciência natural, social ou biossocial – nem mesmo na ciência formal, com a lógica e a matemática.
Outro aspecto central do conhecimento científico é a falibilidade, que significa que todo discurso científico é passível de correção, evitando assim qualquer tipo de dogmatismo, como a estagnação de uma hipótese científica e o culto à autoridade. Esse conceito está presente na tese do filósofo da ciência Karl Popper (2013), que estipulou que a falseabilidade ou refutabilidade é a condição para refinar cada vez mais hipóteses e teorias científicas.
Esse princípio de falseabilidade é importante para a estruturação de hipóteses iniciais ou primitivas, por polir afirmações destituídas de evidências científicas, mas não é um critério de demarcação satisfatório para produzir conhecimento científico. Na verdade, mesmo que alguns cientistas considerem que a ciência siga o modelo popperiano, nenhum filósofo da ciência considera-o como um critério satisfatório – especialmente porque a pseudociência também mantém um nível de conciliação com o respectivo critério de demarcação.
A falibilidade permite que a ciência progrida com novos dados e evidências, fazendo também com que as teorias sejam cada vez mais (re)ajustadas à realidade, produzindo um conhecimento diferenciado em comparação com os outros, sendo então mais profundo e verdadeiro. Essa posição também é admitida por filósofos científicos – ou seja, filósofos que estão em dia com os resultados da ciência e tecnologia –, que assumem que a ciência produz um tipo de conhecimento mais profundo e verdadeiro.
A ciência também mantém em seu núcleo um aspecto de questionabilidade ou ceticismo, que significa dúvida metodológica e consiste na adoção do ceticismo científico, que é o princípio segundo o qual todas as hipóteses e teorias devem ser questionadas de forma metódica, responsável e cientificamente orientada. Isso significa que a ciência não adota um tipo de ceticismo conhecido como radical, em que tudo deve ser questionado, que advoga por um questionamento absoluto, irresponsável, descontrolado e, portanto, dogmático. A questionabilidade promovida na ciência é a que submete alegações e hipóteses destituídas de evidências razoáveis à crítica de outros cientistas, promovendo um diálogo construtivo, sadio e útil para o desenvolvimento da ciência.
O ceticismo científico não deve ser confundido com o negacionismo da ciência, que é a posição que defende a rejeição completa ou parcial do conhecimento científico. O negacionismo da ciência está atrelado a posições ideológicas de seus praticantes, entrando em cena quando a ciência revela um fato em relação ao qual a pessoa está em desacordo por alguma razão política, religiosa ou cultural. Alguns exemplos de negacionismo da ciência incluem a negação de efetividade das vacinas, a rejeição da circunferência da Terra, a depreciação das consequências das mudanças climáticas e a resistência em aceitar a evolução biológica das espécies através do processo de seleção natural.
OBJETIVIDADE, POSITIVIDADE, RACIONALIDADE E EXPLICABILIDADE
No contexto do conhecimento científico, o conceito de objetividade não deve ser confundido com objetivismo, que é doutrina ideológica e pseudofilosófica de Ayn Rand. A objetividade se refere à pretensão clara e objetiva na formulação de enunciados científicos, evitando o subjetivismo interpretativo, que é a noção segundo a qual é possível a extração de diversas interpretações e múltiplos significados de um determinado texto. Por conta de a linguagem científica ser diferente da linguagem ordinária, principalmente pela sua construção lógica e sistematização, o subjetivismo não faz parte das proposições científicas.
A objetividade é atrelada a uma concepção positiva de ciência, cujo papel é o acúmulo gradual de conhecimento por meio da confirmação empírica, em vez de uma estrutura desordenada que desmorona a cada nova revolução científica, como defendeu de forma irresponsável o filósofo e historiador da ciência Thomas Kuhn. Segundo Kuhn (2017), a ciência muda como a moda, de modo que o objetivo da ciência não seria mais a verdade. No entanto, essa concepção ignora que todas as revoluções científicas são sempre parciais, que elas nunca rompem totalmente com o conhecimento anterior, como é o caso da mecânica clássica de Newton, que, mesmo após o surgimento da teoria da relatividade geral e da mecânica quântica, ainda permanece válida para calcular a trajetória de objetos terrestres e continua sendo usada para enviar foguetes ao espaço.
A teoria da evolução de Charles Darwin também é outro exemplo dessa característica positiva da ciência, pois ela foi atualizada com os dados da genética e da biologia molecular, revelando um panorama ainda mais abrangente sobre a evolução das espécies, explicando até a origem de certos traços comportamentais nos seres humanos modernos. No entanto, a ciência não progride apenas com base em experimentos, ela precisa de racionalidade.
A racionalidade presente no conhecimento científico pode ser explicada de duas formas, pelo menos: a ideia de que todo discurso científico é debatível de forma organizada (com o exercício do uso da razão) ou a ideia de que o raciocínio formal é um alicerce na construção do conhecimento científico. A primeira ideia pressupõe tacitamente características anteriormente explicadas, como as noções de sistematização e de objetividade, de modo que apenas com uma linguagem compreensível, logicamente e objetivamente coerente, é possível discutir racionalmente conhecimentos e problemas científicos, enquanto a segunda exprime a ideia de que a construção de conceitos lógicos e formais serve para representar objetos que possuem existência concreta, material e real na realidade, como campos, partículas e cérebros.
De acordo com a última definição, sem o raciocínio formal, o qual consiste na ciência formal da lógica e da matemática, nenhum conhecimento seria possível, pois são necessários sempre símbolos e expressões matemáticas não apenas para representar objetos, mas também para quantificar os dados oriundos da investigação científica. Até mesmo a filosofia contemporânea, como a filosofia analítica e a filosofia científica, trata o raciocínio lógico-matemático como essencial para a produção de conhecimento filosófico. No entanto, o conhecimento científico busca trabalhar com o raciocínio formal visando fornecer uma explicação mais adequada com base nos dados e nas evidências da investigação científica, de modo que não é um mero exercício lógico destituído de valor empírico.
A pretensão de elaborar cada vez mais proposições e teorias ajustadas à realidade revela o aspecto de explicabilidade da ciência. Sem a pretensão de explicar a realidade, ou algum de seus níveis em particular (físico, químico, biológico, psicológico, social, artificial, etc.), os cientistas não teriam qualquer motivo para investigar o mundo e produzir conhecimento científico. A explicabilidade, portanto, refere-se simplesmente ao papel da ciência em investigar o mundo e prover conhecimentos cada vez mais profundos sobre as coisas.
ASSIMILE 
1. O conhecimento científico advoga pelo princípio de racionalidade, de modo que seu discurso é universalmente compreensível.
2. O aspecto corretivo do conhecimento científico é sempre guiado pelas evidências da realidade.
3. Toda a atividade científica cultiva o questionamento cético moderado ou razoável, que é orientado pela evidência.
REVISIBILIDADADE, AUTONOMIA, ACUMULABILIDADE E VERIFICABILIDADE
O conhecimento científico é justamente difícil de definir por conta de suas diversas características. Em comparação com o conhecimento religioso, por exemplo, apenas o conhecimentocientífico tem como preocupação a revisibilidade de seus conceitos e teorias mediante a investigação científica. Enquanto o conhecimento religioso admite múltiplas interpretações de um texto como igualmente válidas, o que importa no conhecimento científico é a compatibilidade de seu corpo de conhecimento com as evidências, independente do que um cientista pensa a respeito. Pelo mesmo motivo, a ciência não deve ser comparada com a política, pois seu conhecimento não é decidido como verdadeiro mediante uma votação por decreto ou escolha da população. O conhecimento científico é tratado como verdadeiro quando os resultados de uma investigação apontam numa determinada direção.
Já a autonomia existente na ciência pode se referir ao âmbito individual e coletivo, como quando um cientista tem liberdade para investigar - seguindo os protocolos éticos da pesquisa científica - e quando a ciência tem liberdade para investigar problemas que contradizem anseios políticos. Por exemplo, quando os cientistas sociais podem estudar livremente os impactos das desigualdades sociais nas populações de baixa renda, ou quando o objeto de estudo são os efeitos sistêmicos das mudanças climáticas, que, normalmente, contradizem interesses privados de empresas ou políticos. Contraexemplo: quando os cientistas são impedidos de investigar por conta de sua nacionalidade ou etnia, como ocorreu com os físicos judeus durante a emergência do nazismo na Alemanha, ou quando os pesquisadores são perseguidos pelo governo com a desculpa de serem infiltrados de uma potência mundial rival ou advogarem por uma suposta ideologia contrária à aceita pelo Estado, como aconteceu no caso dos geneticistas de plantas na antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).
Mesmo com todas as dificuldades que a história da ciência revela sobre o processo de construção do conhecimento científico ao longo dos séculos, toda a experiência passada é traduzida em conhecimento sociológico, revelando que a ciência e a política, embora sejam atividades completamente distintas, dependem de uma relação amigável para prosperarem, seja para promover a investigação científica fornecendo recursos financeiros do Estado, seja para usar os resultados científicos na elaboração de políticas públicas mais justas.
A acumulabilidade do conhecimento científico é o que justifica seu aspecto de progresso, justamente porque exemplos de experimentos malsucedidos são considerados, não apenas para refletir sobre os desafios metodológicos e epistemológicos da ciência, mas também para aumentar o rigor necessário durante a avaliação dos trabalhos que são submetidos para revistas científicas. Mais ainda, os resultados negativos na ciência, com base no olhar sociológico, podem revelar aspectos que foram negligenciados sistemicamente durante a época de aceitação ou implementação de uma ideia. Por exemplo, a aplicação política de ideias pseudocientíficas, que já não eram muito bem aceitas, no início do século XX, como a eugenia e o darwinismo social, levou ao extermínio de judeus, negros, pobres e pessoas com deficiência, sob o pretexto de “busca pela pureza genética”.
A elucidação da pseudociência só foi possível graças ao princípio de verificabilidade da ciência, que é a ideia segundo a qual um enunciado, uma hipótese ou uma teoria deve ser passível de ser colocada à prova. No entanto, o conceito de verificabilidade requer um contexto adequado por conta de sua polissemia.
A noção mais forte de verificabilidade foi apresentada pelo lógico Rudolph Carnap, durante a emergência do positivismo lógico do Círculo de Viena. Esse círculo era formado por um grupo de cientistas e filósofos interessados nos problemas filosóficos, históricos e sociológicos da ciência. A despeito dos mitos que circulam sobre o círculo, eles defendiam teses bastantes heterogêneas, tinham preocupações políticas e sociais sobre a atividade científica, não eram ingênuos e nem reducionistas (não reduziam todo o conhecimento às ciências naturais) e buscavam uma linguagem universal para a ciência. No entanto, a tese de Carnap ficou imensamente conhecida ao ponto de ser tratada equivocadamente como representativa de todo o círculo.
A tese verificacionista de Carnap postulava que uma proposição tem sentido se, e somente se, existir alguma circunstância que permita sua verificação. Se não existisse alguma possibilidade de verificação, a proposição seria considerada como destituída de sentido e significado e, portanto, ela não faria outra coisa a não ser trazer pseudoproblemas. Essa tese foi duramente golpeada, justamente por outro filósofo que era simpatizante do círculo, mas que não fazia parte dele: Karl Popper.
Karl Popper enfatizou que a tese não era suficiente como um critério para proposições, além de diversos outros problemas enumerados em sua obra A Lógica da Pesquisa Científica (2013), argumentando que a condição de verificabilidade não é suficiente para que uma proposição ou teoria seja considerada científica, mas simplesmente a condição de sua possível refutação. Para Popper, uma teoria é científica se, e somente se, existir alguma circunstância que permita sua refutação. Se não existir nenhuma circunstância passível de refutação, a teoria não é considerada científica. Com isso, Popper lançou as bases de sua hoje conhecida tese: o falseacionismo.
REFLITA
1. Dado o sucesso do conhecimento científico na explicação de diversos fenômenos da realidade, o que torna a ciência um campo confiável?
2. Dado o contexto de negacionismo anticientífico na sociedade contemporânea, por que é importante adotar o ceticismo científico?
3. Por que a lógica é um elemento indispensável dentro do conhecimento científico?
FACTUALIDADE, ANALITICIDADE E COMUNICABILIDADE
A ciência não se resume a uma atividade puramente empírica. Ela também contempla disciplinas que lidam com aspectos formais do método científico, que usam seu aspecto de racionalidade para investigar problemas matemáticos, lógicos e semânticos. Para clarificar essa abrangência, é necessária uma distinção rápida sobre esses dois tipos de ciências: a ciência fática (ou factual) e a ciência formal.
Como explica o filósofo Mario Bunge em seu livro La Ciencia, su Método y su Filosofía (2014), a ciência fática lida com entes concretos ou materiais (como campos, partículas, animais, pessoas), adequa-se aos fatos e possui consistência empírica (como a física, a química, a biologia, a psicologia, a sociologia), enquanto a ciência formal lida com entes ideais (como números, conceitos, axiomas), adequa-se a um conjunto de regras e possui consistência racional (como a lógica e matemática). No entanto, tanto a ciência fática como a ciência formal normalmente se cruzam em um processo de enriquecimento contínuo.
A ciência formal fornece à fática a analiticidade essencial para sua sistematização, formalização e objetividade. Com esse tratamento analítico, o conhecimento científico se torna mais exato, porque evita-se a ambiguidade e a armadilha da linguagem ordinária. Desse modo, justifica-se a definição de Bunge (2014) da ciência como um tipo de conhecimento sistemático, racional, exato, verificável e, portanto, falível, sendo a melhor reconstrução conceitual do mundo do qual fazemos uso.
Finalmente, a ciência preza pela comunicabilidade, ou seja, os resultados científicos são passíveis de serem comunicáveis de forma objetiva para quaisquer pesquisadores ao redor do mundo. Mais ainda, os resultados podem ser traduzidos na linguagem ordinária com o objetivo de visar à popularização da ciência e ao enriquecimento cultural através da atividade de divulgação científica.
EXEMPLIFICANDO
1. O conhecimento científico tem uma estrutura lógica ordenada, a qual permite a extração de proposições objetivas.
2. O conhecimento científico visa explicar a realidade em sua totalidade, adequando sua metodologia científica para o estudo de cada nível (físico, químico, biológico, psicológico, social e artificial).
3. O conhecimento científico progride ao longo do tempo, ajustando suas teorias às evidências,corrigindo imprecisões e mantendo seu aspecto questionador frente a uma gama de hipóteses sobre o mundo.
Devido à natureza peculiar do conhecimento científico, suas diversas características revelam o porquê de ele poder ser considerado como um tipo de conhecimento mais profundo, verdadeiro e confiável. Embora muitos argumentem que o aspecto autocorretivo seja uma sentença de risco, o que levaria a duvidarmos cada vez mais do nível de verdade e profundidade desse tipo de conhecimento, ignora-se que a requerida compatibilidade das teorias com as evidências é o que aproxima a ciência da descrição mais precisa o possível da realidade.
FAÇA VALER A PENA
Questão 1
O ceticismo científico é uma das características fundamentais da ciência e de toda a atividade intelectual. O astrônomo e divulgador científico Carl Sagan escreveu uma obra chamada O Mundo Assombrado Pelos Demônios (2006), em que ele descreve exemplos de aplicação do ceticismo científico na vida cotidiana. O ceticismo, argumenta Sagan, é uma ferramenta indispensável para não deixar enganar a nós mesmos.
Qual é a definição de ceticismo científico?
a. Uma abordagem filosófica que adota a suspensão de juízo pela impossibilidade de provar algum fenômeno.
b.  Uma abordagem niilista que considera a ciência isenta de valores. 
c.  A negação absoluta do conhecimento científico. 
d.  Uma abordagem que consiste na dúvida metódica ou razoável aplicada a situações e afirmações destituídas de boas evidências. 
e.  A crença religiosa no poder da ciência.  
Questão 2
A verificabilidade é a noção que advoga a preocupação com o teste experimental. No entanto, essa posição não pode ser confundida com o verificacionismo do Círculo de Viena e nem com o falseacionismo do filósofo da ciência Karl Popper.
O que significa verificacionismo?
a. Um critério de demarcação entre ciência e pseudociência.
b.  Um critério para verificar através da observação se certos enunciados são significativos. 
c.  Um critério ético para a ciência. 
d.  Um axioma matemático. 
e.  Uma lógica não clássica.  
Questão 3
A lógica é uma ciência formal, embora possa ser aplicada na ciência fática com o objetivo de proporcionar melhor clareza e objetividade para os enunciados científicos. Seu uso evita a ambiguidade da linguagem ordinária, facilita o entendimento conceitual e impede a contradição no conhecimento científico. A dialética, por outro lado, tolera contradições e ambiguidades da linguagem ordinária. No entanto, ela ainda é considerada por muitos como uma ferramenta essencial para a ciência, os quais acabam ignorando suas implicações com o Princípio da Não Contradição de Aristóteles e defendendo que ela serve como uma técnica de comparabilidade entre ideias aparentemente distintas, a partir da qual, de alguma forma, seria possível a extração de uma nova ideia ou hipótese.
Historicamente, qual pensador é considerado o pai da dialética?
a.  Friedrich Hegel.
b.  Friedrich Nietzsche. 
c.  Martin Heidegger.
d.  Aristóteles. 
e.  Heráclito.  
REFERÊNCIAS
BUNGE, M. La Ciencia, su Método y su Filosofía. [S.l.]: Editora Sudamericana, 2014.
CARNAP, R. The Logical Structure of the World and Pseudoproblems in Philosophy. [S.l.]: Editora Open Court, 2003.
MARCONDES, D. Textos Básicos de Filosofia e História das Ciências: a revolução científica. [S.l.]: Editora Zahar, 2016.
POPPER, K. A Lógica da Pesquisa Científica. 2. ed. [S.l.]: Editora Cultrix, 2013.
SAGAN, C. O Mundo Assombrado Pelos Demônios: a ciência vista como uma vela no escuro. [S.l.]: Editora Companhia de Bolso, 2006.
CONVITE AO ESTUDO  
Caro aluno,
Veja como a ciência está em todos os lugares. Hoje, ela é um dos elementos mais básicos em todos os aparatos tecnológicos, como no celular, na televisão, no computador e, principalmente, nos dispositivos de GPS.
No entanto, todos esses aparatos tecnológicos não surgiram do nada. Essas tecnologias são produtos de investigações científicas mais elementares, principalmente com base no estudo com partículas elementares, estudo exige a adoção de um método para avaliar o nível de verdade das hipóteses e das teorias.
Esse é o método científico. Embora muito pouco compreendido, ele também nos auxilia na hora de avaliarmos afirmações que nos parecem duvidosas, como quando vamos avaliar a existência de evidência para alguma substância ou terapias que nossos amigos e familiares nos recomendaram para um problema específico.
Devido ao fato desse momento único na história ser altamente dependente da ciência e tecnologia, é necessário entendermos como o conhecimento científico é produzido, quais passos nos levam cada vez mais próximos à verdade e, principalmente, quais os limites desse tipo único de conhecimento – é isso que veremos ao longo desta unidade. 
PRATICAR PARA APRENDER
Você sabe o que é o método científico? Talvez você já deve ter pensado que é uma fórmula secreta para produzir conhecimento científico. Uma sugestão para essa resposta é geralmente apresentada em diagramas e infográficos, que reduzem a concepção de método científico a algo análogo a uma receita de bolo, porém, isso não é uma representação fidedigna do método científico nem representa o grau mais elementar da pesquisa científica.
O método científico, que será apresentado ao longo do livro, deve ser visto como um conjunto de procedimentos teóricos, experimentais e, principalmente, éticos, que podem ser usados não apenas na ciência, mas na filosofia, tecnologia e até mesmo na vida cotidiana para a resolução de problemas.
Um exemplo de aplicação do método científico na vida cotidiana para avaliação de um problema é na hora de averiguar a plausibilidade da reivindicação de um farmacêutico que tenha como objetivo vender um produto homeopático ou qualquer tipo de medicina alternativa. Para isso, seria necessário apenas um celular com acesso à internet para consultar – especialmente, na base de dados de um periódico de medicina baseada em evidências – estudos de revisão de literatura científica, com o objetivo de extrair da conclusão a resposta mais adequada para contrastar com a reivindicação do farmacêutico. Suponha-se, para fins didáticos, que o farmacêutico tenha afirmado que a homeopatia é recomendada para a gripe, sobretudo, para melhorar o sistema imunológico, enquanto que o estudo de revisão aponta que, com base na avaliação de 500 estudos randomizados e com controle de placebo, a homeopatia não tenha apresentado nenhum efeito clínico significativamente estatístico. A partir dessa informação, você pode desconsiderar a afirmação do farmacêutico e, consequentemente, evitar que seu dinheiro seja desperdiçado com homeopatia e outros tipos de pseudomedicinas.
Porém, existem diversas outras formas de avaliar certas reivindicações, principalmente com base na realização de pesquisas experimentais. Devido à abrangência dos diferentes tipos de técnicas e metodologias científicas, bem como de sua importância na vida cotidiana, convido-lhe a mergulhar no processo de construção do conhecimento, analisando suas diferentes abordagens na solução de problemas.
Um grupo de cientistas quer investigar os possíveis efeitos da homeopatia no organismo de pessoas com gripe. Para isso, o grupo decidiu fazer uma pesquisa exploratória - especialmente um ensaio observacional.
Os cientistas selecionaram cerca de 20 voluntários gripados para ingerir doses de comprimidos homeopáticos. Cerca de 4 horas após a ingestão de substâncias homeopáticas, os pesquisadores perguntam aos voluntários o que eles sentem. Todos eles, sem exceção, relataram algum nível de melhoria em sua condição de saúde.
Então, os pesquisadores encerram o experimento e escrevem suas descobertas em trabalho formalizado e, consequentemente, submetem para uma revista científica.
Tendo como base a descrição desse tipo de experimento, é seguro afirmar que ele foi bem conduzido?
O método científico é comprovado e verdadeiro. Não é perfeito, é apenas o melhor que temos. Abandoná-lo, junto com seus protocolos céticos, é o caminho para uma idade das trevas." 
Carl Sagan
CONCEITO-CHAVETIPOS DE PESQUISAS CIENTÍFICAS
Há diversos tipos de pesquisas científicas, cada qual com seus objetivos, particularidades e, principalmente, objetos de estudos. A diversidade da pesquisa científica permite estudar diversos problemas, da origem do Universo ao comportamento humano, também permite estudar um mesmo problema sob diferentes perspectivas metodológicas, com o objetivo de enriquecer o conhecimento científico, proporcionando uma visão de mundo mais ampla e consistente com as evidências científicas.
Por causa dessa ampla variedade metodológica de pesquisas, uma consequência inevitável é o investimento diversificado para cada tipo de pesquisa, de modo que um físico experimental, por conta da necessidade de instrumentação adequada e a necessidade de exportar ainda mais ferramentas para empreender sua pesquisa, acaba recebendo mais verba para sua pesquisa do que um filósofo ou sociólogo literário, que desenvolve pesquisas de cunho teórico, geralmente revisando a literatura acadêmica vigente para desenvolver seu trabalho.
Isso, no entanto, contribui para uma visão valorativa incorreta da ciência - especialmente pela crença de que maior investimento em uma ciência é um critério que define sua qualidade metodológica ou seu nível de importância. Um exemplo didático que refuta essa concepção equivocada da ciência é dado por cientistas e filósofos, que desenvolveram pesquisas bibliográficas que tinham como objetivo analisar a metodologia de estudos da psicologia evolutiva sobre a questão da divisão do trabalho, diferenças de gêneros e, sobretudo, desigualdades sociais.
Esse tipo de estudo da psicologia evolutiva tem tido ampla repercussão e tem sido considerado útil em decisões políticas que envolvem a possibilidade de rejeitar a implementação de políticas públicas. Uma ideia constantemente propagada para reforçar a posição contrária às políticas sociais é de que a pobreza e a desigualdade social estão nos genes, de que políticas sociais são inúteis e que o quociente de inteligência (Q.I.) é determinado pela genética. No entanto, diversos cientistas e filósofos têm argumentado amplamente contra a metodologia desses estudos dizendo que “são apenas histórias”, ou seja, que não possuem qualquer tipo de correspondência empírica entre a hipótese e a afirmação do qual os proponentes do campo defendem. Por causa dos críticos da psicologia evolutiva que enfatizaram sobre o possível impacto da implementação de ideias “evolutivas” no âmbito político, os cientistas e filósofos contribuíram para reforçar a importância das ciências sociais – mesmo com o campo recebendo pouca verba para a pesquisa e sendo constantemente ameaçado por ideólogos e pseudocientistas.
Os tipos diversificados de pesquisas científicas incluem a pesquisa bibliográfica, a pesquisa documental, a pesquisa de campo, a pesquisa de laboratório, a pesquisa qualitativa, a pesquisa quantitativa, a pesquisa exploratória, a pesquisa descritiva e a pesquisa explicativa. Cada tipo de pesquisa tem sua importância dentro da ciência, mas elas também podem ser conduzidas em outros campos de conhecimento, como na filosofia, no jornalismo e, principalmente, na tecnologia - especialmente nas tecnologias sociais, como a administração, o direito e a pedagogia.
A pesquisa bibliográfica, utilizada amplamente em estudos de revisões de literatura científica, refere-se a um tipo de estudo que busca consultar amplas bases de dados, sobretudo indexadores de artigos científicos e livros-textos com o objetivo de procurar saber o quanto um problema já foi estudado e o quão significativo é a sua evidência. Um exemplo prático desse tipo de estudo é quando o objetivo do pesquisador é identificar a reivindicação de eficácia de alguma terapia ou técnica médica para algum problema de saúde. O pesquisador, dessa maneira, consulta a base de dados, filtra os resultados de buscas, escolhe os estudos, analisa suas discrepâncias metodológicas, emprega uma técnica estatística adequada e extraí a porcentagem de evidência resultante da revisão dos estudos selecionados. Digamos, por exemplo, que o cálculo estatístico, após a análise dos estudos selecionados, revelou que a acupuntura não produziu nenhum efeito clínico estatístico significativo para o tratamento da dor lombar. Então, o autor adiciona sua metodologia, procedimento e conclusão em sua pesquisa bibliográfica.
A pesquisa documental é amplamente utilizada na história, porque ela envolve a investigação primária de algum fenômeno ou ocorrência do passado com base na coleta de documentos, livros, testamentos, gravações, fotografias, cartas, artefatos e mais outras coisas das quais seriam úteis na condução da investigação. Ela também tem aplicação no âmbito da investigação forense, contribuindo para a solução de crimes com base na sua metodologia de extração de dados com o objetivo de fornecer a melhor evidência para o julgamento criminal.
A pesquisa de campo é importante para estudar fenômenos naturais e climáticos, como a atividade vulcânica em uma área geologicamente ativa, coletando rochas vulcânicas na área de ocorrência do evento com o objetivo de estudar sua estrutura, composição e sua possível utilidade para prever a ocorrências de novas erupções vulcânicas. Esse tipo de pesquisa também tem utilidade na solução de acidentes tecnológicos, contribuindo, por exemplo, para decifrar a causa de acidentes aéreos ao analisar o local da queda.
A pesquisa de laboratório é uma forma de estudar problemas de forma direta, com o objetivo de produzir ou reproduzir pequenas condições em seu objeto de estudo e avaliar suas possíveis implicações, como para testar a efetividade de uma vacina em camundongos ou mesmo para reproduzir as circunstâncias ambientais da Terra primitiva com o objetivo de estudar a origem da vida. Esse tipo de pesquisa também é empregado no campo da tecnologia, com o objetivo de produzir e testar a segurança dos organismos geneticamente modificados.
A pesquisa quantitativa visa a implementação de ferramentas estatísticas para quantificar os dados e resultados alcançados após a investigação de um fenômeno ou problema da realidade. Nesse tipo de estudo, também utilizado em ciência social, os pesquisadores podem utilizar estatística inferencial e deduzida, bem como modelagem computacional para prever a ocorrência de um fenômeno em termos quantificáveis, como crises econômicas, desigualdades sociais e o impacto da implementação de uma política pública.
A pesquisa quantitativa visa a implementação de ferramentas estatísticas para quantificar os dados e resultados alcançados após a investigação de um fenômeno ou problema da realidade. Nesse tipo de estudo, também utilizado em ciência social, os pesquisadores podem utilizar estatística inferencial e deduzida, bem como modelagem computacional para prever a ocorrência de um fenômeno em termos quantificáveis, como crises econômicas, desigualdades sociais e o impacto da implementação de uma política pública.
A pesquisa exploratória é uma abordagem inicial para o estudo de um problema ou fenômeno da realidade. Esse tipo de pesquisa não tem como objetivo proporcionar um conhecimento aprofundado sobre qualquer coisa. Na sua aplicação na área da saúde, por exemplo, os pesquisadores utilizam poucos voluntários, uma amostragem pouco ou nada representativa da população, para testar algum novo medicamento ou terapia. Essa pesquisa serve de base para outras mais aprofundadas e pode ser facilmente conduzida por alunos de iniciação científica ou estagiários de laboratórios.
A pesquisa descritiva tem como objetivo interpretar e mapear a ocorrência de um fenômeno com base em técnicas de observação e análise de dados. Ela pode ser empregada no estudo de eventos astronômicos, como supernovas, com o objetivo de estabelecer as condições iniciais do fenômeno e relacionar variáveis para chegar à melhor interpretação dos dados.
A pesquisa explicativa busca estabelecer um conhecimento avançado sobre um fenômeno natural ou social procurando explicar sua origem, evolução e impacto na realidade. Nessetipo de pesquisa, o pesquisador busca analisar a compatibilidade de uma ideia com o conhecimento do momento, emprega pesquisas empíricas e tenta explicar as causas de um evento. No caso das ciências naturais, por exemplo, esse evento pode ser a evolução das espécies, com pesquisadores engajados em fornecer a melhor explicação dos mecanismos envolvidos na transmissão de genes entre parentescos e sua implicação no comportamento humano. No caso das ciências sociais, por exemplo, um típico evento estudado são as crises econômicas, com cientistas tentando identificar as variáveis importantes do sistema político-econômico do momento a fim de prever quais razões poderiam levar um país ao colapso financeiro.
Cada tipo de pesquisa tem sua importância e utilidade, de modo que elas não podem ser vistas com base numa visão hierárquica. Todos esses tipos de pesquisa auxiliam a ciência, ajustando as teorias à realidade e, até mesmo, proporcionando um amplo conhecimento sobre problemas que ainda não foram explorados.
ASSIMILE
1. Existem diversos tipos de pesquisas científicas, cada uma com um objetivo específico, que são igualmente importantes para a construção de conhecimento científico.
2. Existem diversos modelos de métodos científicos. Entre eles, se destacam o método hipotético-dedutivo, a falseabilidade popperiana e a concepção bungeana.
3. O anarquismo epistemológico, cuja a posição é exposta na máxima “tudo vale” ou “qualquer coisa serve”, é incompatível com a investigação científica.
MÉTODOS CIENTÍFICOS
O “método científico” é um conceito difícil de definir, embora seja constantemente tratado de forma incorreta e, às vezes, pejorativa. Na literatura filosófica do século XX, por exemplo, o método científico chegou a ser considerado como um mito, como um elemento não existente na investigação científica, de modo que essa visão inspirou a ideia de que a ciência é um campo onde “tudo vale” ou “qualquer coisa serve”, tratando a ciência como um terreno baldio e equivalente a crenças religiosas, superstições e pseudociências. Essa foi uma visão inspirada no filósofo austríaco Paul Feyerabend que foi considerada como razoável em determinados setores das humanidades, bem como no campo da filosofia da ciência, mas incorreta sobre a ciência e o método científico.
Outras visões de método científico, embora incorretas, também ganharam uma ampla aceitação nos setores mais atrasados da ciência básica; em particular, duas visões tiveram uma ampla aceitação: a visão de que a ciência funciona mediante a aplicação do método indutivo. 
Karl Popper foi um dos filósofos mais críticos desse pensamento que buscava comprovar teorias mediante a observação ou coleta de dados particulares. Isto é, digamos que um pesquisador tenha observado um grupo de ursos pretos numa floresta e, então, tenha deduzido uma regra geral de que todos os ursos são pretos. Uma observação de um urso polar no continente antártico, portanto, falsearia a proposição de que “todos os ursos são pretos”, o que levaria a um problema epistemológico, conhecido como problema da indução. Popper, então, estabeleceu que o que determina as condições de cientificidade não é a observação particular da suposta regularidade de um evento, mas a falseabilidade de uma hipótese ou teoria científica, ou seja, a hipótese ou teoria científica deveria ter consequências das quais fossem possíveis de extrair sua refutação. 
O exemplo que corrobora com o modelo de Popper é fornecido pelo próprio naturalista inglês Charles Darwin, em seu livro A Origem das Espécies, que descreve que sua teoria da evolução poderia ser falseada, caso alguém conseguisse demonstrar que algum órgão complexo existiu e que não poderia ter sido formado por leves modificações numerosas e sucessivas ao longo do tempo.
Popper propõe o método hipotético-dedutivo que, em síntese, passa pelas seguintes etapas:
a. Elaboração do problema (decorrente, muitas vezes, de conflitos de teorias existentes).
b. Construção de um modelo teórico (em que há a formulação das hipóteses centrais).
c. Tentativa de falseamento das hipóteses por meio da observação e da experimentação.
Caso a hipótese não seja verificada por meio dos testes, ela estará falseada, exigindo uma nova reformulação da hipótese ou do problema. Caso ela se supere os testes rigorosos, então ela estará parcialmente confirmada, mesmo que provisoriamente. 
Embora o critério de Popper estivesse alinhado a algumas características das teorias científicas, como no caso da própria teoria da evolução, ele era insuficiente para demarcar a ciência de qualquer atividade não científica, na qual inclui não apenas a filosofia, mas também a pseudociência. Um exemplo é fornecido pelo filósofo Mario Bunge, em sua obra Pseudociência e Ideologia, que argumenta que levar em consideração a falseabilidade, enquanto critério de demarcação, exigiria considerar todas as teorias falsas como científicas, e também exigiria descartar teorias científicas de alto nível que não são falseáveis, como a Teoria Geral dos Campos e a Teoria Geral da Informação, que, sendo tão gerais, só podem ser testadas indiretamente por meio de sua especificação.
Em resposta às propostas simplistas de cientificidade, Bunge desenvolveu sua própria tese, distinguindo o critério de demarcação do modelo de método científico. Para Bunge, o que demarca a ciência de outros campos cognitivos, como a filosofia e a pseudociência, é a presença de uma comunidade de pesquisadores, uma sociedade tolerante à atividade científica, o domínio sobre entidades reais, uma base filosófica (envolvendo a pressuposição de que [a] o mundo é composto de coisas concretas que mudam, segundo leis, [b] uma epistemologia realista, [c] um sistema de valores que enaltece a claridade, a exatidão, a profundidade, a coerência e a verdade, [d] e o ethos da busca livre da verdade), uma base formal (coleção de teorias lógicas ou matemáticas do momento), uma base específica (coleção de dados, hipóteses e teorias do momento), uma problemática (problemas cognitivos relativos à natureza dos objetos concretos), um fundo de conhecimento (específico e acumulado), objetivos racionais (descobrir ou utilizar leis, sistematizar hipóteses e refinar métodos), uma metódica bem delineada (procedimentos verificáveis e justificáveis) e um campo cognitivo sendo componente de um campo de conhecimento mais abrangente.
Bunge considerou o método científico como sendo um conjunto de procedimentos gerais mutáveis, ajustados para cada problema e objeto estudado, constando com (a) a identificação de um problema envolvendo o reconhecimento de um fato, a descoberta de um problema e, em seguida, a formulação do problema; (b) a construção de um modelo teórico envolvendo a seleção de fatores pertinentes do problema, a invenção de hipóteses centrais e suposições auxiliares e, principalmente, tradução matemática; (c) a dedução de características particulares envolvendo a busca por suportes racionais e empíricos, (d) a demonstração da prova ou evidência da hipótese envolvendo a representação e execução da prova ou evidência, a elaboração de dados e a inferência da conclusão; (e) a introdução das consequências na teoria envolvendo a comparação das conclusões com as predições e o reajuste de modelo; e (f), finalmente, a sugestão referente ao trabalho anterior.
Essas características apresentadas por Bunge também rompem com concepções que levavam em consideração a unidade do método científico como sendo algo imutável, ou mesmo semelhante a uma receita de bolo para produzir conhecimento. Para Bunge, o método científico, mesmo sendo único e universal, deve ser visto como um conjunto de procedimentos amplos que mudam conforme o tempo e se ajustam a cada ciência em particular, de modo que a forma como os biólogos investigam microrganismos não envolve o emprego das mesmas técnicas de investigação utilizadas pelos sociólogos para estudar comportamentos sociais ou crises econômicas. De fato, há algumas exceções, como o uso de ferramentas matemáticas e lógicas semelhantes, bem como a atitude debusca pela verdade e admissão de cognoscibilidade da realidade, mas não é como advogam os naturalistas metodológicos, que defendem que o método das ciências naturais deve ser o mesmo das ciências sociais. Essa proposta também rompe com o anarquismo epistemológico de Feyerabend, a ideia segundo a qual não existiria um método científico e universal, pois Bunge reconhece que ele existe e pode ser – e está sendo – aplicado para estudar problemas cognitivos, bem como todos os objetos existentes da realidade, como partículas, elementos químicos, moléculas, planetas, estrelas, supernovas, microrganismos, cérebros, consciência, comportamento, sociedade, ética, experiência estética, artes, cultura, política, linguagem, economia, filosofia e muitas outras coisas, como a própria ciência (sociologia da ciência ou ciência da ciência), diferente da crença falsa compartilhada em diversos campos das humanidades.
REFLITA
1. O que torna o método científico uma abordagem confiável?
2. Qual a importância das revisões sistemáticas no contexto das investigações científicas na área da saúde?
3. Quais elementos contribuem para a objetividade científica?
PESQUISA COM PESQUISA: METANÁLISES E REVISÕES
Nenhuma pesquisa individual é suficiente para conduzir ou representar uma verdade no mundo, pois ela pode estar sujeita a falhas metodológicas, vieses cognitivos e fraudes intencionais. Também pode ser o caso de um estudo individual ser conduzido sem um grupo de controle adequado para avaliar de forma rigorosa a efetividade um medicamento ou terapia. Talvez um estudo individual não tenha uma amostragem suficientemente representativa para a população, ou pode ser que os animais utilizados para um determinado experimento tenham predisposição a alguma doença, de modo que um teste experimental poderia não representar fielmente as possíveis consequências da ingestão de uma determinada substância. Nesse contexto, entra a importância de conduzir mais experimentos com o objetivo de tentar reproduzir os mesmos resultados – a tal chamada “reprodutibilidade”.
Na reprodutibilidade, ocasionalmente, ocorre de os cientistas chegarem a resultados discrepantes do estudo original. Na verdade, tem-se argumentado que a ciência está enfrentando uma crise de reprodutibilidade por conta das divergências nos resultados experimentais alcançados por pesquisadores independentes ao tentarem replicar experimentos anteriores. Por causa dessas diferenças nos resultados experimentais e, principalmente, nas potenciais falhas metodológicas dos diversos estudos científicos desenvolvidos ao longo dos anos, tornou-se necessária a utilização de estudos de revisão sistemática para avaliar a qualidade da evidência produzida ao longo da análise de dezenas, centenas ou mais de artigos científicos.
Esses estudos de revisão sistemática são extremamente importantes no campo da medicina, porque, com base neles, é possível identificar potenciais falhas, vieses e limitações nos estudos realizados até o momento, contribuindo para fornecer uma visão sobre o estado atual das coisas, como para identificar a qualidade e o nível da evidência produzida até o momento. Em resumo, a revisão sistemática é um tipo de pesquisa secundária com o objetivo de reunir estudos semelhantes, publicados ou não, a fim de avaliá-los criticamente e, quando possível, reuni-los numa ampla análise estatística, chamada metanálise.
A metanálise é uma técnica estatística utilizada para combinar resultados oriundos de diferentes estudos, geralmente aplicada na revisão sistemática. A metanálise ajuda a extrair resultados estatísticos com base na análise geral dos estudos. No entanto, a revisão sistemática pode ser feita de forma independente das técnicas estatísticas, pois não é sempre possível e nem mesmo adequado aplicá-las em todos os casos. 
Existem diversos estudos com medicina alternativa indexados no repositório do PubMed, revelando possíveis efeitos benéficos à saúde humana, mas isso não significa que esses estudos tenham sido bem conduzidos. Na verdade, existir um estudo não significa que ele seja bom nem que seja “científico”, pois a pseudociência também produz estudos, embora de baixa qualidade, sem o controle adequado, mergulhado em vieses cognitivos e, às vezes, até com indícios de falsificações. Esse é o caso das medicinas alternativas, como acupuntura, homeopatia, quiropraxia, naturopatia, ozonoterapia, antroposofia, reiki, cura quântica, hidroterapia de cólon e, principalmente, psicanálise, que são exemplos típicos de pseudociências, pseudoterapias ou pseudotecnologias, que negligenciam os resultados extraídos das revisões sistemáticas, que normalmente revelam que elas não produzem nenhum efeito estatisticamente significativo, exceto efeitos placebos – que não são causados pela suposta eficácia da medicina alternativa, mas simplesmente por conta do estado psicológico do paciente, bem como de sua relação de confiança com seu médico. Efeitos placebos também não curam absolutamente nada, ao contrário da crença equivocada amplamente divulgada pelos “médicos alternativos”, o efeito placebo está relacionado simplesmente ao alívio de sintomas subjetivos, como dor, por exemplo.
As revisões sistemáticas, com ou sem abordagem metanalítica, são necessárias até mesmo na elaboração de políticas públicas baseadas em evidências, pois, com base nelas, podemos guiar o financiamento para técnicas e terapias realmente eficazes, evitando o desperdício de dinheiro público com medicina alternativa e oferecendo o melhor tratamento disponível à população. Em resumo, as revisões sistemáticas produzem o tipo mais confiável de evidência científica e podem ser guias úteis em nossas escolhas da vida cotidiana, principalmente quando estamos procurando cuidados médicos.
ESTRUTURA E ELEMENTOS
O método científico é a estrutura geral da ciência moderna, de modo que não é possível conceber uma ciência sem método. No entanto, ainda existem mais algumas particularidades, por exemplo, a estrutura do método científico é ordenada logicamente, o que significa que é permitido contradição. Consequentemente, a dialética, por violar o princípio da não contradição, não faz parte da ciência nem do método científico.
Essa estrutura permite que o método científico, enquanto um conjunto de procedimentos teóricos, experimentais e éticos, seja aplicado na ciência com o objetivo de fornecer a melhor explicação da realidade. Uma consequência inevitável é que a estrutura do método requer um nível de compatibilidade das hipóteses com as teorias mais bem confirmadas do momento, o que significa que uma hipótese deve estar em concordância com as leis que regem o mundo, portanto, hipóteses sobre a existência de almas, espíritos ou instâncias psíquicas psicanalíticas, por conflitarem com o princípio de conservação de energia das leis da termodinâmica, não são científicas, mas pseudocientíficas.
O método científico também faz uso de elementos ou símbolos formais, de modo que é possível aplicar ferramentas da lógica e da matemática para extrair das proposições a melhor precisão e objetividade possível, evitando, dessa forma, a ambiguidade da linguagem ordinária e, principalmente, a armadilha da polissemia com certos conceitos. Além disso, adoção de certos elementos ou símbolos formais refuta a crença de que não existe objetividade na ciência.
Mesmo na construção de hipóteses científicas, esses elementos são adicionados ou incrementados com o objetivo de analisar logicamente a compatibilidade das proposições com a conclusão. Mas isso não é uma coisa exclusiva da ciência, pois, atualmente, a filosofia científica é desenvolvida com essas mesmas ferramentas formais e aplica o método científico para avaliar hipóteses filosóficas pela compatibilidade com o conhecimento científico do momento.
O entendimento claro, preciso e profundo do conhecimento científico, bem como a capacidade de comunicar descobertas científicas em diversos países e línguas, é o que revela o aspecto de objetividade da ciência, que não é apenas possível, mas desejável para evitar a confusãoe o autoengano. O que não devemos fazer é cair no erro de pensar que objetividade é sinônimo de neutralidade, pois a ciência advoga por princípios éticos de busca pela verdade, racionalidade, humanismo e comprometimento com a investigação da realidade mediante contribuição da comunidade científica. Além disso, os cientistas podem ser inspirados por posições pessoais, bem como políticas, ideológicas e religiosas, de modo que essas posições possam contribuir com alguma nova ideia para resolver um problema. Então, a ciência não é neutra, mas isso não significa que as ideologias pessoais dos cientistas determinem o que é verdade, pois a ciência, enquanto comunidade, advoga por princípios éticos que neutralizam as preferências individuais dos pesquisadores. Daí a importância das revisões sistemáticas e da reprodutibilidade na ciência, pois são formas de identificar exceções das quais as intenções pessoais sobrepuseram à vontade coletiva da comunidade científica pela verdade.
EXEMPLIFICANDO
1. O método científico não é uma receita de bolo para produzir conhecimento, mas um conjunto de procedimentos teóricos, experimentais e éticos que auxiliam na investigação de um problema.
2. O método científico pode ser aplicado não apenas na ciência, mas também na filosofia e na vida cotidiana.
3. As ferramentas formais da matemática e da lógica contribuem para que a ciência mantenha sua objetividade e exatidão, evitando as armadilhas da linguagem ordinária e a subjetividade interpretativa.
Como foi apresentado, existem diversos tipos de pesquisas científicas que norteiam a ciência, cada qual com sua importância e aplicação para o estudo de um problema específico. A pluralidade de investigação permite a extração de um conhecimento mais amplo sobre a realidade mediante uso de método científico. No entanto, o conceito de método científico é pouco claro, de modo que diversas tentativas de modelos foram apresentadas ao longo da história da ciência e da filosofia com o objetivo de classificá-lo, sendo os mais conhecidos o Método Hipotético-Dedutivo (inspirado na indutivismo do filósofo Francis Bacon), a Falseabilidade do filósofo da ciência Karl Popper e a Concepção Sistêmica da Ciência, do físico e filósofo científico Mario Bunge. Embora a ciência leve em consideração um conjunto de procedimentos teóricos, experimentais e éticos ao longo de sua investigação e construção de conhecimento, existem diversas ferramentas formais que contribuem para sua melhor objetividade, evitando as armadilhas da linguagem ordinária e a subjetividade interpretativa.
FAÇA VALER A PENA
Questão 1
O campo de conhecimento responsável em estudar a ciência, incluindo seus limites e o próprio método científico. Também busca analisar as distinções entre ciência e pseudociência com o objetivo de resolver o problema da demarcação.
Qual o nome da disciplina responsável pela tarefa descrita no enunciado?
a.  Linguística da ciência.
b.  Sociologia da ciência.
c.  Psicologia da ciência.
d.  História da ciência.
e.  Filosofia da ciência.  
Questão 2
Pesquisa conduzida por cientistas e tecnólogos, geralmente em ambiente controlado, que tem a intenção de estudar microrganismos, camundongos ou simplesmente o próprio ambiente da Terra primitiva.
Assinale o tipo de pesquisa descrita no enunciado.
a.  Metanálise.
b.  Pesquisa laboratorial.
c.  Pesquisa exploratória.
d.  Pesquisa bibliográfica. 
e.  Revisão sistemática.
Questão 3
Um tipo de pesquisa que visa extrair diversos estudos semelhantes para avaliar o nível de evidência de uma intervenção específica que pode usar uma técnica estatística de metanálise para quantificar os dados, sendo essencial para avaliar reivindicações no campo da saúde.
Assinale o nome desse tipo de pesquisa.
a.  Pesquisa exploratória.
b.  Hipotético-dedutivo.
c.  Pesquisa bibliográfica.
d.  Revisão sistemática.
e.  Pesquisa laboratorial.
REFERÊNCIAS
BUNGE, M. La Ciencia, su Método y su Filosofía. [S.L.]: Editora Sudamericana, 2014.
BUNGE, M. Las pseudociencias ¡vaya timo! 2. ed. [S.L.]: Editora Laetoli, 2014.
BUNGE, M. Seudociencia e ideología. [S.L.]: Editora Alianza, 1986.
FEYERABEND, P. Contra o Método. 2. ed. [S.L.]: Editora Unesp, 2011.
POPPER, K. A Lógica da Pesquisa Científica. 2. ed. [S.L.]: Editora Cultrix, 2013.
CONVITE AO ESTUDO
Caro estudante,
Você já deve ter feito perguntas como “Por quê?” e “Como?” muitas vezes na vida. Essa é uma facilidade especialmente das crianças. Nós nascemos curiosos para saber a origem das coisas e a causas dos fenômenos que observamos. A curiosidade é uma das características elementares do ser humano.
O ser humano encontrou muitas formas de sanar suas dúvidas. Uma dessas formas, considerada a mais confiável, é o método científico. Ao longo das tentativas da humanidade de desenvolver um conhecimento seguro, foram desenvolvidas regras e procedimentos básicos que colocavam o ser humano mais próximo do conhecimento verdadeiro. Tais regras formam o método científico, que tem como etapa inicial a elaboração de um problema ou uma questão a ser investigada pelo pesquisador.
Na pesquisa científica, as perguntas ganham uma forma específica, seguindo certas regras e princípios, com a finalidade de tornar possível a condução de uma pesquisa com metodologia e rigor científico. Por essa razão, as perguntas científicas geralmente são menos vagas e mais claras dos que as que fazemos no nosso dia. 
Fazer perguntas em ciência é uma prática constante que não termina com a elaboração do projeto de pesquisa. Na verdade, a todo o momento da pesquisa, o cientista pode se sentir motivado a fazer perguntas, especialmente quando suas hipóteses não são corroboradas pela experiência, isso deve fazer o cientista se perguntar como e por quê a experiência é diferente do que se pensava. Dessa forma, fazer ciência implica em saber fazer as perguntas da maneira correta.
Convido-lhe a exercitar a sua curiosidade a partir da abordagem da ciência que envolve, entre outras coisas, investigar as causas, elaborar hipóteses, resolver problemas, criar soluções. 
Caro estudante,
Você já deve ter visto como a ciência e a tecnologia estão presentes em nossa vida cotidiana em diversos segmentos. Por trás de toda construção desses artefatos ou conhecimentos estão as perguntas, elas são muito importantes porque configuram a motivação do cientista para iniciar uma investigação. Toda pesquisa deve conter um problema a ser tratado ou uma pergunta como fio condutor. Tais problemas ou perguntas possuem fontes diversas, que podem surgir a partir de conversa com familiares, de uma reflexão individual, de uma conversa com colegas de faculdade ou trabalho. Mas há uma série de adaptações a serem feitas para que essa curiosidade inicial se torne uma pergunta científica que possibilite o desenvolvimento de uma pesquisa.
No desenvolvimento da pesquisa, há a formulação inicial do problema, a elaboração do projeto de pesquisa (que consiste em um planejamento rigoroso de cada etapa da pesquisa), a criação de um modelo de análise (as hipóteses a serem testadas), que é a forma do pesquisador quantitativo de testar a resposta que acha mais plausível para sua pergunta, a coleta e análise de dados e a comunicação dos resultados.
Saber conduzir uma boa pesquisa é essencial tanto a produção de conhecimento básico, quanto para a produção de conhecimento aplicado, financiados por empresas ou governos.
O conhecimento dessas etapas e desses procedimentos que envolvem todo o método científico não só possibilitará o desenvolvimento de uma boa pesquisa, mas também exercitará o seu pensamento crítico. A partir do conhecimento de como uma pesquisa deve ser conduzida, você se tornará mais capaz de julgar quando uma pesquisa é rigorosa ou não com seus resultados. Por sua vez, ficará mais difícil de acreditar em notícias sensacionalistas, pseudociências e fórmulas mágicas de resolução de problemas que não são verificadas ou que ainda não foram replicadas por uma comissão independente.
Imagine que você trabalha em uma empresa química em que o departamento de marketingquer verificar o efeito da propaganda na venda de álcool em gel. Com as informações dos faturamentos anteriores desse produto, a empresa começa a fazer grandes campanhas publicitárias e o faturamento desse produto no mês seguinte, fevereiro, é significativamente maior.
O departamento de marketing imediatamente comemora os resultados e supõe que a propaganda provocou um efeito positivo nas vendas do produto. Para comprovar essa hipótese, você é convocado enquanto pesquisador a realizar o teste da hipótese. Você elabora os seguintes enunciados:
Observação 1: As vendas do álcool em gel aumentaram no mês de fevereiro.
Hipótese básica: Elas aumentaram em decorrência do investimento em propaganda pela empresa.
Hipótese alternativa: Há algum outro fator externo, como preocupação com a saúde, que elevou o faturamento do produto.
Quais seriam os possíveis procedimentos a serem realizados a fim de confirmar ou refutar as hipóteses?
“A ciência é muito mais do que um corpo de conhecimento. É uma maneira de pensar.” 
Carl Sagan
CONCEITO-CHAVE
COMO FAZER PESQUISA CIENTÍFICA: ELABORANDO PERGUNTAS
Um dos primeiros passos ao desenvolver uma pesquisa científica passa por elaborar a pergunta de pesquisa, isso porque, ao desenvolver uma pesquisa, o pesquisador tem em si alguma inquietação, dúvida ou problema que almeja sanar. A pergunta da pesquisa é justamente essa incerteza que o pesquisador possui sobre determinado assunto e que o encoraja a desenvolver uma investigação, mas, se engana quem pensa que o produto final de toda investigação é a solução dessa pergunta. Na verdade, mesmo quando é possível produzir respostas satisfatórias a uma dada pergunta (e nem sempre é possível), outras questões surgem decorrentes da investigação, além da existência própria daquelas que tangenciam a pesquisa e sequer foram tratadas.
Há ainda as questões-problemas que surgem a partir de um avanço na ciência. As novas tecnologias e os novos instrumentos utilizados pela ciência geraram uma série de perguntas sobre questões já conhecidas que originaram novos paradigmas de pesquisa. Essa capacidade de gerar novas perguntas é uma marca do pensamento científico. Dessa maneira, não faltam incertezas a serem trabalhadas em projetos de pesquisa. O desafio que se coloca ao pesquisador é conseguir elaborar uma questão que possa ser transformada em um “plano de estudo factível e válido” (HULLEY, 2008, p. 36).
São muitas as origens dos problemas de pesquisa. Um pesquisador mais experiente geralmente toma como questão de pesquisa os problemas encontrados em seus estudos anteriores. Um pesquisador iniciante pode e deve revisar a literatura sobre determinado tema, a fim de encontrar questões abertas. Ele deve procurar ter um certo domínio sobre a literatura do campo de estudo que almeja começar uma investigação. Os livros, as revisões sistemáticas e os eventos de comunicação de pesquisa são bons pontos de partida tanto para quem sabe ou não se sabe qual questão estudar. Os eventos de comunicação científica são grandes oportunidades de conhecimento para o pesquisador iniciante porque ele terá contato com pesquisas mais recentes da sua área, poderá conversar com pesquisadores experientes que já passaram pela fase que ele está, poderá sanar dúvidas sobre as referências bibliográficas mais relevantes, além de formar parcerias de pesquisa. Não se esqueça: a ciência é uma construção coletiva e não individual!
Para elaborar um projeto de pesquisa, aconselha-se que o pesquisador procure um orientador que pode ser tanto um professor quanto um profissional especialista na área. Ele ou ela saberá avaliar se, à luz do campo estudado, a questão elaborada pelo pesquisador é adequada visando os métodos e as ferramentas da área disponíveis, isso porque algumas questões são interdisciplinares ou muito abrangentes e precisam ser delimitadas para garantir a boa condução do estudo. Há também pesquisas que contam com mais de um mentor. De maneira geral, uma boa pergunta de pesquisa tem como característica ser: factível, interessante, nova, ética e relevante (FINER).
Factível: diversos estudos não alcançam seus objetivos porque não conseguem delimitar o tamanho da sua amostra. É preciso planejar o número de pessoas participantes que serão suficientes para a coleta de dados e isso implica em uma análise de adequação de estratégia, tempo e critérios de inclusão ou exclusão de participantes. Além disso, o pesquisador deverá ter acesso às técnicas que precisa para o desenvolvimento da pesquisa, isso inclui equipamentos e habilidades como: fazer a delimitação do estudo, recrutar os participantes quando for o caso, conhecer os métodos de coleta e análise de dados e variáveis, etc. Também há que se ver quanto tempo o estudo irá durar e quanto irá custar, pois dependendo da pesquisa, os custos são altos. O pesquisador deve ter o planejamento de tempo por etapa e de insumos antes de iniciar a pesquisa, incluindo imprevistos. Uma situação que pode acontecer sem o planejamento adequado é o encerramento da pesquisa ainda na fase de desenvolvimento por falta de recursos. Nem sempre, é claro, isso é uma responsabilidade dos pesquisadores. As agências que financiam pesquisas com bolsas e recursos para o desenvolvimento dos testes são, em sua maioria, financiadas pelo governo. Um corte significativo de gastos poderá comprometer muitas pesquisas em andamento. Por fim, o pesquisador deve ter um escopo bem definido, caso contrário poderá se perder tentando responder mais questões do que lhe seriam pertinentes. Mesmo que problemas secundários sejam interessantes, é importante focar em uma questão específica a fim de conseguir se dedicar a ela e entregar resultados relevantes. Já dizia o ditado: “mais vale um pássaro na mão do que dois voando”.
Interessante: a questão precisa ser interessante para a ciência, porque não basta que ela seja interessante apenas para o pesquisador que a faz. Para conseguir aporte financeiro, muitas vezes, é preciso que outros pesquisadores da área reconheçam a pertinência da questão. Os especialistas e orientadores são essenciais nesse momento pois poderão dar o feedback necessário para saber se o projeto de pesquisa é pertinente à luz dos seus objetivos.
Nova: Nem sempre é preciso inovar em ciência, mas com uma questão bem delimitada, é possível e desejável a produção de novas informações a partir da pesquisa. Além disso, um avaliador do projeto de pesquisa pode achar que um estudo que não produz nada novo não vale os recursos reivindicados pelo pesquisador. A questão não precisa ser completamente original, mas novas informações sobre o assunto constituem um resultado esperado de boas pesquisas.
Ética: a pergunta de pesquisa deve ser ética, de modo que não cause risco de vida para os participantes, nem uma completa invasão de suas privacidades. Geralmente, os projetos de pesquisa que envolvem testes em humanos ou animais não humanos passam por uma comissão de ética para serem aprovados e as pesquisas devem seguir suas normatizações com extremo rigor. Uma pesquisa que incorra em infrações éticas também não consegue produzir resultados relevantes em ciência.
Relevante: A relevância tem um papel central na busca por uma boa pergunta de pesquisa. Uma forma de pensar a relevância da pergunta é imaginar as conclusões que a pesquisa poderá chegar e pensar quais contribuições e avanços essa conclusão pode trazer à sociedade; vale aqui também discutir com os orientadores e especialistas da área a relevância da pergunta, bem como do projeto de pesquisa como um todo. 
Desenvolver uma boa pergunta de pesquisa, embora pareça uma tarefa individual, é, antes, uma elaboração coletiva que envolve a participação de especialistas, professores, amigos, colaboradores e certo domínio da literatura. São alguns exemplos de perguntas de pesquisa: A redução da gordura alimentar pode reduzir a câncer de mama? Qual a origem dos índios americanos? Qual a composição da atmosfera de Marte? Qual a relação entre subdesenvolvimento e dependência econômica? “A criatividade, a persistênciae a capacidade de julgamento são qualidades necessárias a serem exercitadas nessa tarefa” (HULLEY, 2008, p. 43).
ASSIMILE
A pergunta de pesquisa é o ponto de partida de todos os estudos científicos. Ela expressa a dúvida, inquietação e incerteza do pesquisador frente a uma parte do campo de estudo de uma disciplina.
Para elaborar uma boa pergunta de pesquisa, é necessário ter um certo domínio da literatura da área de estudos. Também é recomendável que o pesquisador discuta sobre ela com os seus pares.
Uma boa pergunta de pesquisa tem cinco características, sob o acrônimo FINER. Ela é: factível, interessante, nova, ética e relevante.
A CONSTRUÇÃO DE HIPÓTESES
Uma vez elaborada a questão de pesquisa pode ser necessária a elaboração de hipóteses a serem testadas que darão uma resposta quanto ao problema colocado pelo pesquisador. As hipóteses são uma espécie de diretrizes da pesquisa; elas indicam o que os pesquisadores estão buscando ou o que eles estão tentando comprovar, sendo tentativas prévias de explicação do fenômeno analisado e devem ser formuladas de forma clara e concisa. A hipótese não deve ser confundida com pressuposto teórico, uma vez que no decorrer da pesquisa, ela pode ser descartada e avaliada. A hipótese é sempre provisória e provável.
Nem todas as pesquisas formulam hipóteses. A formulação de hipóteses é dada apenas em estudos correlacionais ou explicativos, isto é, que preveem um dado acerca do fenômeno analisado. Em geral, pesquisas apenas exploratórias não formulam hipóteses. As pesquisas que formulam hipóteses se utilizam do método hipotético-dedutivo que consiste na construção de conjecturas, isto é, premissas altamente prováveis baseadas em hipóteses que, se confirmadas, confirmam também sua veracidade. Um estudo que busque medir o índice de delitos de uma cidade pode ter como hipótese que o índice para determinado semestre será menor que o semestre anterior baseado em determinados fatores. Mais exemplos de hipóteses: quanto maior variedade houver no trabalho, maior será a motivação do trabalhador; o índice de câncer pulmonar é maior entre fumantes que não fumantes; a psicoterapia aumenta gradativamente a expressão do paciente sobre o futuro e diminui a expressão sobre os fatos passados.
Uma hipótese é diferente de uma afirmação, pois o pesquisador não tem plena certeza de sua comprovação. As fontes comuns para formulação de hipóteses são as teorias, generalizações empíricas sobre o problema de pesquisa e estudos revisados, mas elas também podem surgir em campos de estudo pouco explorados. Nesse caso, quanto menor o fundamento empírico da hipótese, maior o cuidado que o pesquisador deve ter quanto a sua aceitação ou rejeição. Um erro grave ao elaborar hipóteses se faz quando o pesquisador não revê a literatura do campo de estudo e formula hipóteses que já foram significativamente aceitas ou descartadas por outros estudos.
Lakatos e Marconi (1991) listaram onze características que uma boa hipótese deve conter:
Consistência Lógica: o enunciado da hipótese não deve ser contraditório, além disso, deve ser compatível com o conhecimento científico já existente.
Verificabilidade: a hipótese deve ser passível de verificação.
Simplicidade: a hipótese deve ser simples, evitando enunciados obscuros ou complexos demais.
Relevância: a hipótese deve poder explicar ou prever algum dado significativo para a pesquisa.
Apoio teórico: a hipótese precisa ser baseada em uma teoria já estabelecida, a fim de que haja uma probabilidade maior de produção de conhecimento relevante.
Especificidade: a hipótese deve indicar as operações de sua verificabilidade.
Plausibilidade e clareza: a hipótese deve ser provável e seu enunciado claro.
Profundidade, fertilidade e originalidade: a hipótese deve indicar os mecanismos que podem levar o conhecimento a um nível de maior complexidade do problema. Deve facilitar que mais deduções sejam feitas e expressar uma resolução inédita para a questão.
Ainda segundo Lakatos e Marconi (1991), as hipóteses se dividem em duas categorias: hipóteses básicas e hipóteses secundárias. As hipóteses básicas são aquelas escolhidas pelo pesquisador e que respondem o problema diretamente, por sua vez, as hipóteses secundárias indicam respostas complementares ou outras possibilidades de resposta para o problema em questão. Além dessa classificação, há outras maneiras de classificar hipóteses mais gerais que variam de acordo com o objetivo da pesquisa como: hipóteses de pesquisa, hipóteses nulas, hipóteses alternativas e hipóteses estatísticas. As hipóteses de pesquisa podem ser entendidas como proposições acerca das possíveis relações entre duas ou mais variáveis. Comumente se representa essas variáveis como H11, H2, H3, etc. E há ainda uma classificação para os tipos de hipóteses de pesquisa, sendo:
Descritivas: as hipóteses desse tipo são utilizadas em estudos descritivos, por exemplo, “a expectativa de salário dos trabalhadores da empresa x oscila entre 800 e 1.000 reais”. 
Correlacionais: as hipóteses desse tipo explicam as relações entre variáveis, por exemplo, “quanto maior a autoestima, menor o medo da rejeição”.
Da diferença entre grupos: as hipóteses desse tipo têm a finalidade de comparar grupos, exemplo, “o efeito persuasivo para deixar de fumar será maior em adolescentes que adultos”.
Causalidade: as hipóteses desse tipo estabelecem relações bem mais fortes entre duas variáveis, em que uma variável estabelece com a outra uma relação de dependência, por exemplo, “a ausência da figura paterna contribui para uma maior probabilidade de conduta antissocial”.
Além das hipóteses de pesquisa, temos as hipóteses nulas. Elas são os opostos das hipóteses de pesquisa, pois as refutam. Retomando os exemplos anteriores, uma hipótese nula seria “a expectativa de salário dos trabalhadores da empresa x varia entre 800 e 1.000 reais”. Ou ainda, “não há relação entre autoestima e o medo de sucesso”.
Há ainda, as hipóteses alternativas e as hipóteses estatísticas. A primeira são as possibilidades de respostas alternativas ao problema de pesquisa. Assim, poderíamos dizer, como no exemplo anterior, que “a expectativa de salário dos trabalhadores da empresa x oscila entre 1.200 e 1.500 reais”. As hipóteses estatísticas, por sua vez, são exclusivas das pesquisas quantitativas e representam as hipóteses (pesquisa, nula e alternativa) em símbolos estatísticos.
REFLITA
Além do valor das hipóteses para a obtenção de resultados, no que as hipóteses podem contribuir para a pesquisa científica?
O que pode ser feito quando a hipótese básica é rejeitada?
Qual relação entre a pergunta de pesquisa e a elaboração da hipótese?
A CONDUÇÃO DA PESQUISA
Para que a pesquisa científica seja conduzida da forma correta, é necessário que o pesquisador observe uma série de regras e princípios. De acordo com Academia Brasileira de Ciências (ABC, 2013), os princípios gerais que todo pesquisador deve seguir são: honestidade na apresentação e descrição dos procedimentos da pesquisa; confiabilidade na execução e comunicação da pesquisa; objetividade na coleta e no tratamento de informações; imparcialidade na execução da pesquisa; cuidado na coleta, no armazenamento e no tratamento de dados; respeito pelos voluntários e animais que participarem de testagens; veracidade na atribuição dos créditos aos outros; e, por fim, responsabilidade com a formação e supervisão de novos cientistas.
Além disso, a ABC recomenda uma série de boas práticas que garantem a boa condução da pesquisa. Em resumo, no que concerne ao planejamento da pesquisa, o pesquisador deve observar:
Os recursos e materiais necessários à execução do projeto.
A averiguação da capacidade científica do pesquisador em dar procedimento à pesquisa.
A documentação de dados e informações prévias relevantes para a pesquisa.
Reconhecimento dos possíveis conflitos de interesse que possam atrapalhar a pesquisa.
A análise sobre propriedade intelectual quando for pertinente à pesquisa.
No que concerne ao manuseio de dados, o pesquisador ou a equipe responsável deve:

Outros materiais