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SOCIOLOGIA JURÍDICA E JUDICIÁRIA

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AULA 1 – SOCIOLOGIA JURÍDICA E JUDICIÁRIA COMO CIÊNCIA SOCIAL
CONCEITO SOCIOLÓGICO DO DIREITO
Vamos considerar que:
· O Direito tem sua origem nos fatos sociais*, que são mutáveis;
· O Direito é um fenômeno cultural – só existe nas sociedades humanas;
· A ideia de Direito relaciona-se às noções de conduta e de organização.
(* Acontecimentos da vida em sociedade.)
De acordo com Cavalieri Filho (2007, p. 8):
“A sociedade humana é, portanto, o meio em que o Direito surge e se desenvolve, pois a ideia do Direito liga-se à ideia de conduta e de organização, provindo da consciência das relações entre os indivíduos”.
CONCEITO SOCIOLÓGICO DO DIREITO
Ao identificarmos a presença do Direito na sociedade, verificamos as seguintes características:
SOCIEDADES HUMANAS:
· Organização sociocultural;
· Raciocínio;
· Criação cultural;
· Evolução social.
SOCIEDADES ANIMAIS:
· Natureza biológica;
· Instintos.
Nas sociedades humanas, há, ainda, atividades de:
· Cooperação – convergência de interesses;
· Concorrência – paralelismo de interesses.
ATENÇÃO:
Tanto nas atividades de cooperação quanto nas atividades de concorrência, podem ocorrer conflitos de interesses (CAVALIERI FILHO, 2007, p. 12-13).
FUNÇÃO SOCIAL DO DIREITO
Se, por um lado, o Direito está relacionado à ideia de conduta do indivíduo, por outro, também se relaciona com a organização social.
Do ponto de vista sociológico, são funções do Direito:
PREVENIR CONFLITOS:
“O Direito previne conflitos através de um conveniente disciplinamento social, estabelecendo regras de conduta na sociedade [...]” (CAVALIERI FILHO, 2007, p. 15).
COMPOR CONFLITOS:
O Direito resolve conflitos de interesses, promovendo a justiça nos casos concretos.
MANTER O CONTROLE SOCIAL:
O Direito assegura a conformidade de comportamento dos indivíduos a um conjunto de regras e princípios prescritos e sancionados.
SUSTENTAR A REGULAÇÃO SOCIAL:
O Direito mantém um conjunto de pressões diretas ou indiretas exercidas sobre os membros individuais ou coletivos de um grupo ou de uma sociedade. O objetivo é corrigir seus desvios de comportamento, de expressão ou de atitude em relação a regras e normas adotadas pelo grupo social ou pela sociedade em questão.
ORIGEM DA SOCIOLOGIA JURÍDICA
A Sociologia Jurídica nasceu como disciplina específica no início do século XX.
Os trabalhos na área partem da tese de que o Direito é um fato social ou uma função da sociedade. Os sociólogos do Direito, por sua vez, consideram que o Direito possui uma única fonte: a vontade do grupo social.
A Sociologia Jurídica deve pesquisar, portanto, o fato do Direito, cuja manifestação não depende da lei escrita, mas sim da sociedade, que produz esse fato e cria relações jurídicas.
Partindo dessa premissa, conforme indica Sabadell (2002), foram desenvolvidas duas abordagens da Sociologia Jurídica. São elas:
ABORDAGEM POSITIVISTA = SOCIOLOGIA DO DIREITO:
De acordo com a abordagem positivista, a Sociologia Jurídica não pode ter uma participação ativa dentro do Direito. Se o Direito corresponde “à lei e às relações entre as leis”, tudo o que não representar a legislação fica fora da ciência jurídica.
A Sociologia Jurídica pode, sim, estudar e criticar o Direito, mas não pode ser parte integrante dessa ciência. Seu papel é de observador neutro do sistema jurídico.
Adeptos dessa abordagem:
· Niklas Luhmann (1927-1998), na Alemanha;
· Renato Treves (1907-1992), na Itália.
COMPOR CONFLITOS:
De acordo com a abordagem pós-positivista*, a Sociologia NO Direito adota uma perspectiva interna com relação ao sistema jurídico. Seus adeptos contestam a exclusividade de um método jurídico tradicional, afirmando que a Sociologia Jurídica deve interferir ativamente na elaboração, no estudo dogmático e, inclusive, na aplicação do Direito.
Não há uma ciência jurídica autônoma, porque, além dos métodos tradicionais, o Direito também emprega – ou deve empregar – métodos próprios das Ciências Sociais.
Essa perspectiva rompe com a ideia do estudioso Hans Kelsen de que o Direito “é uma norma e as relações entre as normas”, bem como com a ideia de imparcialidade ou neutralidade do jurista.
(* Corrente filosófica que tenta restabelecer uma relação entre Direito e ética, materializando o vínculo entre valores, princípios, regras e a teoria dos direitos fundamentais. Para isso, essa doutrina valoriza os princípios e sua inserção nos diversos textos constitucionais, de modo que sua normatividade seja reconhecida pela ordem jurídica.)
OUTRAS CONCEPÇÕES DA SOCIOLOGIA JURÍDICA
Para Sabadell (2002):
“Nas últimas décadas, [foram desenvolvidas] tentativas de unificar a perspectiva interna da Sociologia Jurídica com aquela externa (Sociologia no ou do Direito) [...], [permitindo] ao pesquisador observar aquilo que os juristas consideram como Direito. [De acordo com] essa opinião, o sociólogo do Direito realiza uma análise externa [do que seria] o Direito pelo ponto de vista da dogmática jurídica.
Outros autores insistem no fato de que a Sociologia Jurídica tem, necessariamente, dois aspectos – o interno e o externo –, [e] o pesquisador não pode ignorar nenhum [deles, mas sim] trabalhar, ao mesmo tempo, como jurista e sociólogo”.
De acordo com a autora, surge, então, o seguinte dilema:
A Sociologia Jurídica constitui um ramo do Direito ou da Sociologia, ou existem duas formas diferentes de trabalhar na Sociologia do Direito – a perspectiva do sociólogo e a do jurista?
Na visão de Sabadell (2002), a Sociologia DO Direito é o ramo da Sociologia que tem como objeto de estudo o Direito – seguido, preferencialmente, por sociólogos.
Já os juristas, que estudam as dimensões sociológicas das normas legislativas, realizam uma Sociologia Jurídica, permanecendo dentro do sistema jurídico e contribuindo para sua melhoria.
Nada impede que as duas abordagens se desenvolvam em paralelo. A forma de analisar os fatos e os resultados da pesquisa são diferentes em cada caso.
A Sociologia Jurídica examina, então, a influência dos fatores sociais sobre o Direito e suas incidências na sociedade – elementos de interdependência entre o social e o jurídico –, realizando uma leitura externa do sistema jurídico.
Em outras palavras, a Sociologia Jurídica analisa as causas (sociais) e os efeitos (sociais) das normas jurídicas. Logo, seu objeto de análise é a realidade jurídica, que tenta responder três questões fundamentais:
Por que se cria uma norma ou um inteiro sistema jurídico?
Quais são as consequências do Direito na vida social?
Quais são as causas sociais da decadência do Direito, que se manifesta por meio do desuso e da abolição de certas normas ou mesmo mediante a extinção de determinado sistema jurídico?
O DIREITO É PRODUTO DA PRÓPRIA SOCIEDADE!
Somente a vida humana pode necessitar de normas que a antecipem e que a pretendam regular, buscando a prevenção da conduta antissocial por meio de sanção que a norma pressupõe.
Para ilustrar, podemos citar qualquer norma que tenha sido produto de uma demanda social, como, por exemplo:
· A Lei dos Crimes Hediondos – Lei nº 8.072/1990;
· A Lei da União Estável – Lei nº 9.278/1996;
· A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) – Decreto-Lei nº 5.452/1943;
· O Estatuto do Idoso – Lei nº 10.741/2003;
· O Código de Proteção e Defesa do Consumidor (CDC) – Lei nº 8.078/1990  etc.
ASPECTOS SOCIAIS DO FENÔMENO JURÍDICO: TEORIA TRIDIMENCIONAL DO DIREITO
Vamos aprofundar, agora, nosso estudo com relação à concepção do Direito como fato social – objeto de estudo da Sociologia Jurídica e Judiciária.
Essa ciência não tem o objetivo de estudar a justificação do Direito. O exame de seus fundamentos – razão, ideia de justiça, moral, vontade da classe dominante – é objeto da Filosofia do Direito.
Além disso, a Sociologia Jurídica não faz avaliações normativas, isto é, não se ocupa do problema da validade e da interpretação do Direito.
A validade é objeto de análise dos teóricos do Direito positivo – Ciência do Direito –, que elaboram os critérios da norma válida. Esses teóricos investigam, ainda, o tema da interpretação jurídica, queinteressa, particularmente, aos chamados operadores do Direito – conhecidos, também, como atores jurídicos ou agentes do Direito.
O fenômeno jurídico possui três dimensões, o que significa que pode ser estudado sob três pontos de vista: o da justiça, o da validade e o da eficácia.
Trata-se da teoria tridimensional do Direito, desenvolvida pelo jurista Reale (2003) e, depois, por muitos outros estudiosos. O esquema a seguir representa essa teoria:
Vamos analisar, aqui, os princípios da teoria tridimensional do sistema jurídico:
JUSTIÇA:
A questão da justiça é objeto do estudo dos filósofos do Direito, que examinam a chamada idealidade do Direito, cujas bases são:
· A justificação do sistema jurídico atual;
· A busca dos melhores princípios de organização social;
· As relações entre Direito e moral;
· As relações entre normas positivas e ideais de justiça;
· As relações entre o Direito e a verdade.
VALIDADE:
A análise das normas formalmente válidas – ou seja, o estudo interno do Direito positivo – interessa ao dogmático ou intérprete do Direito, que busca:
· Identificar as normas legais;
· Encontrar o sentido de cada elemento do ordenamento jurídico;
· Solucionar os problemas de conflito entre normas;
· Adaptar as normas aos problemas concretos.
Nesse caso, o objeto do conhecimento é a normatividade do Direito.
EFICÁCIA:
Esta terceira dimensão está relacionada à eficácia das normas jurídicas e corresponde ao campo de análise da Sociologia Jurídica. Trata-se do objeto de estudo dos sociólogos do Direito, cuja função é analisar a realidade social do Direito.
Seu referencial é o conhecimento da vida jurídica. Por isso, examina-se, aqui, a facticidade do Direito, isto é, o Direito como realidade social.
Nesse caso, a Sociologia Jurídica prepara uma teoria sociológica dos fenômenos jurídicos, sem interessar-se pelas questões técnicas da interpretação do Direito nem pelos ideais jurídicos, que são foco de atenção, respectivamente, da Filosofia e da Ciência do Direito – dogmática.
Não se esqueça de que as três dimensões do fenômeno jurídico apresentadas anteriormente estão relacionadas entre si. Por exemplo, se a sociedade avalia que uma lei é injusta, esta tende a ser revogada ou, na pior hipótese, tende a não produzir efeitos práticos, o que a tornará ineficaz.
Por isso, o intérprete do Direito não pode ignorar que a falta de legitimação de uma lei em vigor é um elemento importante do fenômeno jurídico, na medida em que é capaz de levar a sua revogação ou ineficácia.
Um exemplo concreto disso aconteceu em 2005, com a abolição do delito de adultério no Código Penal – Lei nº 2.848/1940.
Do mesmo modo, o sociólogo e o filósofo do Direito não podem ser indiferentes ao tema da interpretação normativa do Direito positivo, já que precisam conhecer o conteúdo das normas em vigor para poder analisar a realidade e a idealidade do Direito.
Sendo assim, o sociólogo do Direito não trabalha desconhecendo as análises dos filósofos e dos intérpretes do Direito. Há, portanto, uma complementaridade das três dimensões do conhecimento do fenômeno jurídico.
AULA 2 – LITIGIOSIDADE SOCIAL E FORMAS DE COMPOSIÇÃO DE CONFLITOS
DIREITO: INSTRUMENTO DE SOCIALIZAÇÃO
O Direito é o modo mais formal de controle social.
Seu papel é de socializador, pois sua presença e sua atuação só são necessárias quando as barreiras que a sociedade ergue contra a conduta antissocial são ultrapassadas, quando a conduta social se aparta da tradição cultural – originada da educação.
A ideia é superar as condições de mera descortesia, simples imoralidade ou, mesmo, pecado e alcançar o nível mais grave do ilícito – ou, tanto pior, do crime.
Os vários caminhos da socialização concordam entre si, EXCETO em situação de crise da sociedade.
Nesse caso, o indivíduo que adapta sua conduta aos princípios da tradição cultural herdados da convivência, às normas do trato ou às normas morais e religiosas, em rigor, não precisa conhecer o Código Penal – até porque, neste, exige-se o mínimo daquilo que tais sistemas normativos impõem.
Como o modo de impor as normas morais e de trato é mais brando, criou-se o Código Penal para punir, de maneira severa, a transgressão a esse mínimo de regras éticas e imposições sociais proibitivas – aquelas de que, sob hipótese alguma, a sociedade pode abrir mão.
Sendo assim, como instrumento de socialização em última instância, o Direito cumpre uma função conservadora do status quo. Além disso, serve para legitimar o poder político e favorecer seu domínio sobre a opinião pública.
FUNÇÕES DO DIREITO
Do ponto de vista do funcionalismo* clássico – ou seja, das concepções mais antigas –, a função do Direito é resolver conflitos.
(* Perspectiva teórica que analisa a sociedade e suas características, dando ênfase à integração e à interconexão de ambas. Essa teoria identifica as contribuições do processo social e dos arranjos institucionais para a efetiva manutenção da estabilidade da sociedade.)
Mas, atualmente, é possível interpretar esse papel de forma diferente: se os conflitos são elementos permanentes na sociedade, o Direito pode realizar um tratamento jurídico àqueles de interesses contrários.
De acordo com Cavalieri Filho (2007, p. 15), a primeira e principal função social do Direito é, portanto, prevenir conflitos, que afetam o equilíbrio e a paz social.
Essa prevenção ocorre a partir de um “conveniente disciplinamento social”, quando se estabelecem regras de conduta na sociedade com base nos direitos e deveres do cidadão.
Mas, apesar do esforço da população, nem todos os indivíduos se socializam inteira ou suficientemente. Por isso, uma vez instaurado o conflito, é necessário solucioná-lo.
Para Cavalieri Filho (2007, p. 17), disso resulta a “segunda grande função social do Direito: compor conflitos”. Para resolvê-los, basta colocá-los em equilíbrio, determinando aquele que deve persistir e aquele que deve ser combatido.
ATENÇÃO:
“O Direito [...] é uma ciência social. Suas normas são regras de conduta [destinadas a] disciplinar o comportamento do indivíduo na sociedade, visando atender uma necessidade social. [...]
Quanto maior o relacionamento, quanto mais complexas as relações sociais, maior será a possibilidade de conflito e, portanto, maior, também, a necessidade de disciplina e organização.
A observância das normas previne muitas ocorrências, mas o conflito, lamentavelmente, é inevitável, porque nem todos na sociedade se submetem à disciplina imposta pelo Direito.” (CAVALIERI FILHO, 2007, p. 16)
CRITÉRIOS DE COMPOSIÇÃO
Vamos conhecer, agora, os critérios de composição dos conflitos:
COMPOSIÇÃO VOLUNTÁRIA:
De acordo com Cavalieri Filho (2007, p. 17), este critério:
“[...] se estabelece pelo mútuo acordo das partes. Surgindo o conflito, as partes discutem entre si e o resolvem da melhor maneira possível, quase sempre atentando para os próprios deveres e [as próprias] obrigações [estabelecidas] pelas normas do Direito”.
“Quanto à forma, a composição voluntária pode ser: pura e mista. Cavalieri Filho (2007, p. 18) o ratifica quando afirma:
“A conciliação e a arbitragem não são, a rigor, formas puras de composição voluntária, uma vez que sempre contarão com a interferência de um terceiro – o conciliador ou o árbitro. São, todavia, formas mistas que estimulam e valorizam a participação dos litigantes na composição do conflito”.
COMPOSIÇÃO AUTORITÁRIA:
De acordo com Cavalieri Filho (2007, p. 18):
“Por este critério, cabe ao chefe do grupo [...] o poder de compor os conflitos de interesses que ocorrem ente os indivíduos que se encontram sob sua autoridade”.
Tal critério foi muito usado nas sociedades antigas. Já nas modernas, ainda prevalece no meio familiar.
COMPOSIÇÃO JURÍDICA:
De acordo com Cavalieri Filho (2007, p. 19):
“[...] para que a composição seja jurídica, tem de ser realizada através de um critério anteriormente estabelecido e perfeitamente enunciado para conhecimento de todos, que atenda à universalidade dos casos que se apresentarem dentro do mesmo tipo”.
Este critério apresenta, portanto, as seguintescaracterísticas:
Anterioridade - “Traço [...] fundamental da composição jurídica, [que] implica dizer que o critério aplicado preexiste ao conflito. [Em outras palavras, esse critério] deve ter sido elaborado antes para poder ser aplicado ao conflito que ocorrer depois.” (CAVALIERI FILHO, 2007, p. 19)
Publicidade - “[...] na composição jurídica, [...] [o critério também precisa ser] anunciado, revelado, declarado pela autoridade que o elaborou [...] antes de sua aplicação.” (CAVALIERI FILHO, 2007, p. 19)
Universalidade - “[...] o critério jurídico nunca pode ser [destinado] apenas para determinado caso concreto, mas sim para todos os casos que se apresentarem com a mesma tipologia.” (CAVALIERI FILHO, 2007, p. 19)
MEIOS ALTERNATIVOS DE COMPOSIÇÃO
Além dos critérios apresentados anteriormente, há alguns meios alternativos de composição de conflitos. São eles:
CONCILIAÇÃO:
Forma de resolução de controvérsias na relação de interesses, administrada por um conciliador investido de autoridade ou indicado pelas partes. Cabe a ele:
· Aproximar as partes;
· Controlar as negociações;
· Aparar as arestas;
· Sugerir e formular propostas;
· Apontar vantagens e desvantagens.
Seu principal objetivo deve ser sempre a composição do litígio pelas partes.
Além da administração do conflito por um terceiro – neutro e imparcial –, o conciliador também pode sugerir um possível acordo após criteriosa avaliação das vantagens e desvantagens que tal proposição traria a ambas as partes.
MEDIAÇÃO:
Forma de solução de controvérsias, litígios e impasses, em que um terceiro intervém entre as partes – pessoas físicas ou jurídicas. Essa figura é neutra e imparcial, de confiança das partes, e por elas livre e voluntariamente escolhida.
Ela age como facilitadora, catalisadora, pois, através de sua habilidade e da arte de mediar, ajuda as partes a encontrarem a solução para suas pendências. Portanto, o mediador JAMAIS decide, e sim as partes, que têm esse poder de decisão.
ARBITRAGEM:
Forma de solução de conflitos, prevista em lei, que pode ser utilizada quando estamos diante de um impasse decorrente de um contrato. Para isso, as partes nomearão árbitros.
Quem decide a controvérsia por arbitragem?
Um ou vários árbitros – sempre em número ímpar – escolhidos pelas partes. O árbitro pode ser qualquer pessoa maior de idade que tenha domínio de suas faculdades mentais e a confiança das partes.
Essa figura também deve ser independente e imparcial, isto é, não pode ter interesse no resultado da demanda e não pode estar vinculada a nenhuma das partes.
Qual é a lei que dispõe sobre a arbitragem?
A Lei nº 9.307/1996, que foi alterada pela Lei nº 13.129/2015 para atender às modificações da sociedade e para que pudesse ser aplicada a outras formas de relações jurídicas.
Essa alteração contribuiu para a redução de ações judiciais no Poder Judiciário. Afinal, hoje, a Lei de Arbitragem carrega a perspectiva de racionalidade para a jurisdição estatal – hoje assoberbada com o excesso de volume de processos.
ATENÇÃO:
Não confunda mediação com conciliação. Essas atividades são semelhantes, mas não iguais – em especial na cultura brasileira. Normalmente, a conciliação é exercida por força de lei e compulsoriamente por servidor público, que usa a autoridade de seu cargo para tentar promover a solução de controvérsias.
VAZIO NORMATIVO
Quando as normas estatais não atingem a sociedade como um todo, em um vazio normativo, podem surgir fontes – muitas vezes negativas – para suprir o vácuo de poder deixado pelo Estado. Este é o caso do poder paralelo dos traficantes e dos milicianos.
Ali, coexiste um grande dilema sobre como ser tratado legalmente e sobre os sistemas de autoridade, as políticas e os procedimentos que estão ou não à disposição dos indivíduos para requisitar e regular a vida social.
MONISMO, PURALISMO JURÍDICO E DIREITO ALÉM DO ESTADO
Há dois pontos de vista que enfrentam, de forma doutrinária, as questões apresentadas anteriormente. São eles:
ESCOLA MONISTA:
Esta doutrina entende que somente o grupo político oficial pode criar as normas de Direito. Sua base é a Ciência do Direito – razão pela qual diverge da ótica da Sociologia Jurídica, cuja filosofia indica que, mesmo antes de existir o Estado, já havia prescrições jurídicas.
Para os monistas, somente o Estado possui monopólio tanto da violência legal – prender, condenar, executar – quanto da produção do Direito – Direito positivo. Em outras palavras, não existe outra fonte de produção do Direito que não a estatal. Essa é a posição dos positivistas e dos marxistas.
Hans Kelsen defendia que:
O Direito é o Estado, e o Estado é o Direito.
Em resumo, essa concepção é o expoente máximo do monismo jurídico contemporâneo do Ocidente.
ESCOLA PLURALISTA:
O pluralismo jurídico surge com uma alternativa à insuficiência da crítica jurídica tradicional. Essa doutrina levanta a possibilidade da existência de uma pluralidade de ordenamentos em um mesmo espaço temporal e geográfico.
De acordo com a tradição, a crítica do Direito se preocupou em mostrar seus efeitos como instrumento de dominação.
O pluralismo considera que todo grupo social de certa consistência ou expressão pode criar normas de funcionamento, que, ultrapassando o caráter de simples regulamentos, adquirem a atribuição de verdadeiras regras jurídicas.
O advento do Direito alternativo* busca resgatar a possibilidade transformadora do jurídico, colocando-a a serviço da libertação naquelas sociedades marcadas pela desigualdade e pela exclusão social.
(* Movimento do início dos anos 1990, estritamente aplicado pelos tribunais, que promove a crítica ao Direito positivo, com o objetivo de preencher lacunas, e desfazer ambiguidades e contradições.)
PLURALISMO JURÍDICO
Na sociedade industrial atual, a relação entre o Direito estatal e o não estatal não é de subordinação. Há coexistência entre os sistemas distintos – e, muitas vezes, opostos – do Direito.
Existem vários grupos que constroem o Direito a cada dia. Esses grupos interferem uns nos outros, bem como na dinâmica do Direito produzido pelo Estado – aquele chamado de positivo. São eles:
O pluralismo jurídico diz respeito ao efeito da lei na sociedade ou, mesmo, ao efeito da própria sociedade sobre as leis. A ideia é construir uma relação mais complexa e interativa entre formas oficiais e extraoficiais de sistematização do Direito.
Esse novo pluralismo aponta para a existência de vários campos de produção do Direito que não somente o Estado. Em outros termos, o Direito não se reduz apenas à lei.
É possível observar, então, quatro esferas de intervenção crítica do pluralismo. São elas:
· Esfera institucional – crítica ao monismo estatal;
· Esfera sociológica – crítica ao legalismo estatal;
· Esfera pós-moderna – crítica à ideia de unidade social (fragmentação);
· Esfera antropológica – crítica ao imperialismo*.
(* Prática através da qual nações poderosas procuram ampliar e manter o controle ou a influência sobre povos ou nações mais pobres.)
Este sociólogo português demonstra o caráter próprio do novo pluralismo jurídico nos resultados de sua pesquisa sobre a relação entre o que chama de lei da favela e lei do asfalto.
Nesse estudo, o autor procura explicar a normatização que ocorre dentro de uma favela localizada no Rio de Janeiro – Jacarezinho – em relação aos mais variados assuntos do dia a dia de seus habitantes.
Além disso, Santos (1993) desataca o papel fundamental do líder comunitário, que funciona como intermediador entre estes dois mundos que convivem na mesma cidade: um dominado pelo poder paralelo e outro, pelo Estado.
Em ambos os casos, existiria um conjunto de leis próprias, conhecidas e obedecidas pelo grupo.
Na mesma linha de raciocínio anterior, este professor brasileiro propõe um novo modelo jurídico, de conteúdo comunitário-participativo, comprometido com a emancipação social, e procedente dos valores e das práticas dos movimentos sociais.
Wolkmer (2013) considera aqueles que participam desses movimentos como sujeitos históricos e coletivos deDireito, e estabelece suas necessidades bem como a alteridade*.
(* Natureza ou condição do outro; situação, estado ou qualidade que se constitui através de relações de contraste, distinção, diferença.)
AULA 3 – EFICÁCIA DAS NORMAS JURÍDICAS E EFEITOS SOCIAIS
EFICÁCIA E INEFICÁCIA SOCIAL
Para começarmos nosso estudo sobre eficácia e ineficácia social das normas jurídicas, selecionamos o seguinte caso concreto:
Em vigor há 10 anos, a Lei nº 4.597/2005 – Lei do Pitbull – virou um gatinho manso nas mãos dos donos de cães ferozes. A lei permite que cães das raças pitbull, fila, doberman e rotweiller circulem a qualquer hora do dia, desde que usem focinheira, enforcador e que estejam acompanhados por maiores de 18 anos.
No último sábado, por exemplo, por volta das 15 horas, o comerciante Joaquim Manuel de Oliveira, de 34 anos, morador de Copacabana, no Rio de Janeiro, passeava no Parque do Cantagalo, na Lagoa, com sua pitbull de 5 anos totalmente à vontade.
Ele foi franco:
– Para evitar problemas, eu só estava saindo de madrugada – quando a lei, revogada pela atual, proibia os passeios diurnos. Mas é só andar pela Zona Sul para ver que a quantidade de dobermans e de rotweillers passeando à luz do dia – a maioria sem focinheira – é a mesma de antes da lei.
A partir da leitura desse caso, é fácil perceber que a norma referida não está tendo eficácia. As questões que levantamos sobre o tema são:
a) Apesar de ineficaz, a Lei do Pitbull pode ser considerada válida? Por quê?
b) Qual é a distinção entre eficácia e validade normativa?
Para responder essas perguntas, precisamos, primeiro, aprofundar nossos estudos sobre tais conceitos.
VALIDADE DA NORMA JURÍDICA
De forma geral, VÁLIDO é aquilo que é feito com todos os seus elementos essenciais.
Em Direito, para que um ato ou negócio seja considerado válido, tem de revestir-se de todos os elementos essenciais que a lei prevê. Faltando um deles, o negócio será inválido, nulo. Portanto, a validade decorre sempre de o ato ter sido executado com a satisfação de todas as exigências legais.
Materialmente, a validade depende de a norma criada respeitar os limites do poder concedido a seu emissor: ela não pode contrariar as normas criadas pelas autoridades superiores.
Preenchidas tais condições, constataremos que se trata de norma válida – e, portanto, jurídica.
De acordo com Hans Kelsen* (1881-1973), a validade da norma jurídica é sua existência específica. Sua capacidade de legalmente obrigar a conduta de seus destinatários – a sociedade em geral – representa um conjunto de requisitos que comporta três aspectos já analisados sob a ótica da Ciência do Direito: a validade formal, fática e ética.
(* Jurista e filósofo austríaco, considerado um dos mais importantes e influentes estudiosos do Direito.)
Sendo assim, podemos classificar a norma por sua:
VALIDADE FORMAL:
Uma norma jurídica será válida se preencher os requisitos formais e materiais. Formalmente, a validade depende de a autoridade possuir poder normativo e exercer esse poder conforme o estabelecido na Constituição ou nas leis.
EFICÁCIA:
Com base na visão positivista, a eficácia é uma consequência da validade.
EFICÁCIA JURÍDICA X EFICÁCIA SOCIAL
É importante distinguir da eficácia jurídica o que muitos autores chamam de eficácia social da norma.
A eficácia social refere-se ao(s):
· Cumprimento efetivo do Direito por parte de uma sociedade;
· “Reconhecimento” do Direito pela comunidade;
· Efeitos que uma regra opera através de seu cumprimento, mais especificamente.
Em tal acepção, eficácia social é a concretização do comando normativo, sua força realizadora no mundo dos fatos. Deliberadamente, ao estudar a capacidade de produzir efeitos, deixou-se de lado a ideia de cogitar, de saber se estes efetivamente se produzem.
A efetividade defende não a eficácia jurídica como possibilidade da aplicação da norma, mas a eficácia social e os mecanismos para sua real aplicação.
A efetividade significa a realização do Direito, o desempenho concreto de sua função social. Ela traduz a materialização dos preceitos* legais no mundo dos fatos e simboliza a aproximação, tão íntima quanto possível, entre o dever-ser normativo e o ser da realidade social.
(* Aquilo que se recomenda praticar. Regra, norma.)
A efetividade das normas depende, em primeiro lugar, de sua eficácia jurídica, da aptidão formal para incidir e reger as situações da vida, operando os efeitos que lhe são inerentes. Não se trata apenas da vigência da regra mas também, e, sobretudo, da capacidade de o relato de uma norma dar-lhe condições de atuação, isoladamente ou conjugada com outros normas. Se o efeito jurídico pretendido pela norma for irrealizável, não haverá efetividade possível.
Nesse sentido, a eficácia da norma pode ser:
Vejamos quais são as repercussões sociais da eficácia normativa:
Norma jurídica formalmente válida
A norma eficaz é aquela que tem força para realizar os efeitos sociais para os quais foi elaborada – seja o cumprimento da norma, seja a sanção imposta em caso de descumprimento.
EFEITOS DA NORMA JURÍDICA
As normas jurídicas nunca são plenamente eficazes. O ponto de partida é uma maior ou menor diferença entre a pretensão jurídica e o efeito real. Uma pesquisa empírica pode estabelecer matematicamente o grau – a porcentagem – de eficácia de uma norma, identificando sua quota. Em outras palavras, é possível determinar até que ponto o Direito é cumprido na realidade social.
São alguns efeitos da norma jurídica:
EXPECTATIVA DE CONSEQUÊNCIAS NEGATIVAS:
Quando sabem que a desobediência a uma lei é punida na prática, as pessoas tendem a respeitá-la.
ÊNFASE A FATORES SOCIAIS:
O sistema de relações sociais e a atitude do poder político diante da sociedade civil influenciam as chances de aplicação da norma.
CONTRIBUIÇÃO PARA EFICÁCIA SOCIAL DA NORMA: FATORES SOCIAIS
Vamos conhecer, agora, alguns dos possíveis fatores que contribuem para a eficácia social da norma. Os primeiros são os fatores referentes à situação social. São eles:	
PARTICIPAÇÃO DOS CIDADÃOS NO PROCESSO DE ELABORAÇÃO E APLICAÇÃO DA NORMA:
Uma reforma legal que atende reivindicações da maioria da população tem mais possibilidades de aplicação do que uma norma decidida de forma autoritária.
COESÃO SOCIAL:
Quanto menos conflitos existirem em uma sociedade em determinado momento e quanto mais consenso houver entre os cidadãos com relação à política do Estado, mais forte será o grau de eficácia das normas vigentes.
ADEQUAÇÃO DA NORMA:
Uma norma que corresponde à realidade política e social possui mais chances de ser cumprida.
Disso resulta a importância de sua adequação interna: quando as consequências da norma na prática permitem alcançar os fins objetivados pelo legislador, tornando-a funcional.
Exemplo: norma que estabelece o rodízio de carros no centro de São Paulo.
CONTEMPORANEIDADE:
Em geral, não se tornam eficazes normas que exprimem ideias antigas ou inovadoras.
CONTRIBUIÇÃO PARA EFICÁCIA SOCIAL DA NORMA: FATORES INSTRUMENTAIS
Outros fatores que contribuem para a eficácia social da norma são os instrumentais, que dependem da atuação dos órgãos de elaboração e de aplicação do Direito – Legislativo e Judiciário. São eles:
· Divulgação do conteúdo da norma entre a população;
· Conhecimento da norma por seus destinatários;
· Perfeição técnica da norma – clareza da redação, brevidade, precisão do conteúdo, sistematicidade;
· Estudos preparatórios do tema sobre o qual se objetiva legislar;
· Preparação dos profissionais do Direito responsáveis pela aplicação da norma;
· Previsão de consequências jurídicas – sanções – adaptadas à situação e socialmente aceitas;
· Expectativa de consequências negativas – efetividade na aplicação da sanção prevista na norma.
EFEITOS POSITIVOS NA NORMA JURÍDICA
A norma jurídica apresenta algumas funções positivas para a sociedade. São elas:
FUNÇÃO DE CONTROLE SOCIAL:
Aquela exercida através do Direito pela:
· Prevenção geral – para realizar uma coação psicológica ou intimidação por todos;
· Prevenção especial – para isolaro transgressor do meio social;
· Pena pecuniária ou multa – para ajustar a conduta desse transgressor às condições existenciais.
FUNÇÃO EDUCATIVA:
Certos assuntos passam a ser mais conhecidos pelo grupo social quando são disciplinados pela lei. Afinal, antes de se tornar obrigatória, a lei precisa ser divulgada, publicada. À medida que vai se tornando conhecida pelo grupo, ela também vai educando e esclarecendo a opinião pública.
FUNÇÃO CONSERVADORA:
Aquela que está vinculada ao caráter estático que representa ao garantir a manutenção da ordem social vigente. Isso pode significar a perpetuação do atraso. Disso resulta a importância de o Direito ser visto, ao mesmo tempo, como um instrumento de transformações sociais.
FUNÇÃO TRANSFORMADORA:
Muitas vezes, em função das necessidades objetivas, a norma estabelece novas diretrizes a serem seguidas, fixa novos princípios a serem observados em certas questões. Para isso, determina a realização de certas modificações em seus dispositivos.
EFEITOS NEGATIVOS DA NORMA JURÍDICA
Como observamos, a eficácia da norma está relacionada a seu reconhecimento, a sua aceitação ou a sua adesão pela sociedade. No entanto, quando as leis entram em conflito com os fatos, acabam vencidas por estes e findam por desmoralizar-se, provocando desapreço a toda legislação. São alguns efeitos negativos da norma jurídica:
DESATUALIZAÇÃO DA LEI:
Com o passar do tempo, a lei acaba se tornando ultrapassada, pois os fatos são dinâmicos – estão sempre evoluindo –, enquanto a lei é estática.
MISONEÍSMO:
Misoneísmo significa ter aversão às inovações: velhos hábitos, costumes, privilégios de grupos impedem que a lei seja aplicada ou elaborada.
ANTECIPAÇÃO DA LEI À REALIDADE:
Nem sempre, há correspondência entre a realidade social e a norma. Dessa forma, a lei cai no vazio.
AULA 4 – SOCIEDADE BRASILEIRA E INSTITUIÇÕES DE DIREITO – LEGISLATIVO
SISTEMA ELEITORAL
O sistema eleitoral é baseado no voto direto e secreto. Em outras palavras, o eleitor vota, diretamente e de maneira sigilosa, no candidato ao cargo a ser preenchido, já que seu voto não pode ser divulgado a terceiros.
Mas há distorções na representação política que atingem os dois atores principais do sistema eleitoral – eleitor e candidato. Essas distorções podem ser formuladas da seguinte maneira:
1. Uma eleição será ainda mais democrática quanto menores forem as desigualdades no sistema eleitoral, que atribuem valor diferente ao voto. Sendo assim, os votos de todos e de cada um deverão ter o mesmo valor.
2. Quanto maior a proporcionalidade garantida pela lei das eleições, mais democrático será o sistema eleitoral. Primeiro, porque haverá igualdade entre os partidos, independentemente de seu tamanho; segundo, porque o sistema será menos excludente, na medida em que não negará representação política aos eleitores que tiverem optado por partidos menores.
As distorções em um sistema de representação têm sido reunidas na literatura sob o título geral de desproporcionalidades, que atingem o cidadão eleitor, o partido, o sistema partidário como um todo e o próprio Poder Legislativo.
EVOLUÇÃO DO ORDENAMENTO JURÍDICO
O ordenamento jurídico é fruto de um processo histórico de lutas por conquistas, que pode ser assim resumido:
ATÉ OS ANOS 1930:
O Estado brasileiro voltava-se estritamente para o atendimento dos interesses das oligarquias e considerava as questões sociais simplesmente “um caso de polícia”.
APÓS A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL:
Surgiu um Estado nacional que assumiu como responsabilidade os direitos sociais relacionados ao trabalho urbano – direitos trabalhistas.
GOLPE MILITAR DE 1964:
Iniciaram na história brasileira mais de duas décadas de ditadura. As instituições de Direito foram frontalmente atacadas.
CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988:
Depois de muita resistência de setores mais progressistas da população brasileira, que nunca aceitaram o regime militar e não desistiram de lutar – apesar das mortes, dos desaparecimentos e dos exílios forçados –, criou-se a Constituição Federal.
PROGRESSISTA: Favoráveis ao progresso, às transformações ou às reformas, especialmente nos campos político, social ou econômico.
CONSTITUIÇÃO GARANTIA E DIRIGENTE
A atual Constituição Federal possui diversas normas que permitem classificá-la como:
CONSTITUIÇÃO GARANTIA:
Tipo clássico de constituição que protege as liberdades individuais e coletivas, bem como limita o poder do Estado.
Exemplos
· Magna Carta inglesa (1215);
· Constituição norte-americana (1787);
· Constituição francesa (1791).
CONSTITUIÇÃO DIRIGENTE:
Constituição que possui normas programáticas e diretrizes para seu cumprimento por parte do Poder Público. Tais diretrizes orientam a utilização do poder, o progresso social e econômico, bem como a política a ser seguida pelos órgãos estatais e pela sociedade como um todo.
Esse tipo de constituição estabelece um plano diretivo que tem por finalidade a evolução política.
ORGANIZAÇÃO DO ESTADO REPUBLICANO, DEMOCRÁTICO E REPRESENTATIVO
A Constituição Federal estabelece o seguinte:
“Art. 1º A República Federativa do Brasil [...] constitui-se em Estado Democrático de Direito [...]”.
Isso significa que, inspirando-se na moderna doutrina jurídica e democrática, os constituintes brasileiros concordam com o princípio de que a atuação do Estado deve se pautar pela estrita observância das normas legais, e não pelo capricho ou pela vontade circunstancial de seus dirigentes.
O conceito de Estado moderno está estreitamente vinculado à noção de poder institucionalizado, que enuncia: o Estado se forma quando o poder se assenta em uma instituição, e não em um indivíduo. Dessa forma, podemos dizer que, no Estado moderno, não há poder absoluto, pois mesmo os governantes devem se sujeitar ao que está estabelecido na lei.
Além disso, no Estado Democrático de Direito, também é fundamental que a Lei seja a expressão da vontade popular, exercida por meio de seus representantes eleitos de forma direta. Portanto, duas noções importantes estão relacionadas ao conceito de Estado republicano: a democracia e a representação política*.
(* Palavra de origem grega composta da seguinte forma: demos = povo + cratos = poder → poder do povo.
Em Atenas, na Grécia Clássica – século IV a.C. –, o poder era exercido por uma assembleia de cidadãos, a quem competia elaborar as principais normas da vida em comunidade e decidir as questões de interesse comum. Contudo, nem todos os membros da sociedade podiam participar: estavam excluídos as mulheres, os escravos e os estrangeiros, que, em conjunto, eram a maioria da população.)
Atualmente, em função da complexidade das sociedades e do expressivo número de cidadãos habilitados a participar do processo democrático, a experiência da democracia direta não é mais possível. No Estado moderno, a democracia é representativa, isto é, os cidadãos escolhem, por meio do voto, os representantes que decidirão os assuntos públicos nos âmbitos dos Poderes:
· Executivo – presidente da República, governador de Estado e prefeito;
· Legislativo – senador, deputado federal, deputado estadual e vereador.
Apesar da escolha periódica dos representantes, a fonte de todo poder legítimo permanece nas mãos dos cidadãos, conforme indica o Artigo 1º da Constituição Federal, Parágrafo único:
“Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente [...]”.
Os representantes não estão acima da lei nem da obrigação de prestarem contas de seus atos perante os eleitores. Em cada eleição, os cidadãos são soberanos em sua decisão a respeito da permanência ou não dos representantes nos cargos que estão ocupando.
O papel dos representantes eleitos é votar de acordo com a vontade dos homens e das mulheres de quem receberam essa delegação. Por isso, eles precisam estar em permanente contato com a população, para saber quais são suas aspirações, seus desejos, suas reivindicações e reclamações.
ATRIBUIÇÕES DOS TRÊS PODERES
Outra característica do Estado constitucional moderno é o estabelecimento da separação entreos Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário por meio de um sistema de freios e contrapesos que evita a predominância de um Poder sobre os demais.
De acordo com a célebre formulação de Montesquieu:
“Tudo estaria perdido se uma só pessoa ou um só corpo de notáveis, de nobres ou do povo, exercesse estes três poderes: o de fazer as leis, o de executar as decisões públicas e o de punir os delitos ou as contendas entre os particulares”.
(* Filósofo, jurista e político francês do século XVIII.)
Avançando em relação a essa concepção, mais do que designar pessoas diferentes para essas funções diversas, o Estado constitucional moderno determinou papéis institucionais diferenciados para os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. Conforme o Artigo 2º da Constituição Brasileira estabelece, estes são os “Poderes da União, independentes e harmônicos entre si [...]”.
PODER EXECUTIVO:
No caso do sistema presidencialista de governo adotado pela Constituição Brasileira de 1988, ao Poder Executivo – exercido pelo presidente da República com o auxílio dos ministros de Estado – cabe a função de praticar os atos de chefia de Estado – representar a nação –, de governo e de administração.
PODER LEGISLATIVO:
No contexto da divisão de Poderes estabelecida pelo constitucionalismo moderno, o papel do Poder Legislativo é fundamental, pois a este cabe, entre outras funções, a elaboração das leis e a fiscalização dos atos dos demais Poderes da União.
As leis são elaboradas de forma abstrata, geral e impessoal, pois são feitas para todas as pessoas e não devem atender a interesses ou a casos individuais.
ATRIBUIÇÕES DO CONGRESSO NACIONAL
As atribuições do Congresso Nacional estão estabelecidas nos Artigos 48 e 49 da Constituição Federal. Além dessas, o Artigo 51 define mais algumas que são privativas apenas da Câmara dos Deputados, e o Artigo 52, aquelas que são somente do Senado Federal.
O Congresso Nacional exerce sua atribuição legislativa sobre todas as matérias de competência da União, especialmente sobre:
· As questões tributárias – arrecadação e distribuição de recursos públicos;
· O planejamento das ações de governo – por meio das leis orçamentárias e de planejamento, que definem como os recursos públicos federais serão gastos;
· Organização do território nacional – particularmente com relação às áreas dos Estados, ouvidas as Assembleias Legislativas;
· Criação de órgãos públicos, cargos e empregos públicos federais;
Telecomunicações e radiodifusão;
· Questões monetárias etc.
Entre as demais e variadas matérias sobre as quais compete ao Congresso Nacional legislar, estão, por exemplo:
· Todos os ramos do Direito;
· A desapropriação;
· As águas, a energia e a informática;
· O serviço postal;
· O comércio exterior e interestadual;
· As jazidas minerais;
· A emigração e a imigração;
· A nacionalidade, a cidadania e a naturalização;
· As diretrizes e as bases da educação;
· Os registros públicos;
· A licitação e os contratos na administração pública;
· A defesa nacional;
· A propaganda comercial.
SISTEMA ELEITORAL BRASILEIRO
Originalmente, o sistema eleitoral brasileiro era censitário, ou seja, baseado na renda ou na escolaridade. Além disso, o voto era:
· Indireto – os eleitores municipais indicavam os eleitores da província;
· A descoberto – não secreto.
Isso facilitava a fraude e legitimava a exclusão social*. Hoje, de acordo com a Constituição Federal:
“Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos [...]”.
(* Expressão de origem francesa pautada pelo modo de classificação social da França, que está relacionada, especificamente, a pessoas ou a grupos desfavorecidos.)
VOCÊ SABIA?
Sufrágio, voto e escrutínio NÃO têm o mesmo significado!
Embora, por vezes, empregados como sinônimos, esses termos apresentam sentidos distintos.
Sufrágio é o direito que alguém tem de votar e de ser votado.
Voto é o instrumento que possibilita o exercício do direito ao sufrágio por alguém.
Escrutínio é o procedimento, o modo pelo qual alguém pratica o voto.
PROCESSO DE ESCOLHA DOS LEGISLADORES
Os representantes de todos os níveis dos Poderes Legislativo e Executivo são escolhidos diretamente através do voto. São considerados válidos os votos nominais aos candidatos – por nome escolhido – e os votos nas legendas – partidos –, nas eleições proporcionais e majoritárias. Os votos nulos e em branco são descartados.
QUADRO ATUAL DO SISTEMA ELEITORAL BRASILEIRO
QUALIDADE DO SISTEMA ELEITORAL
No Brasil, o Poder Legislativo é composto por duas casas: o Senado e a Câmara dos Deputados. Ambas constituem o Congresso Nacional. Mas, embora façam parte do mesmo Poder, senadores e deputados são escolhidos por sistemas eleitorais diferentes. A justificativa para isso está baseada na representatividade das casas. No entanto, há quem critique essa distinção e, até mesmo, proponha a extinção do Senado.
O QUE É REFORMA POLÍTICA?
Há muito tempo, refletimos sobre a necessidade de uma reforma política no Brasil. O tema é alvo constante de debates entre especialistas e pessoas que discutem sobre os destinos da política partidária do País. Na verdade, este é um assunto importante para todos os brasileiros – especialistas ou não – e, em particular, para os estudiosos do Direito.
Com as manifestações populares ocorridas em junho de 2013, a temática ainda ganhou maior destaque após o discurso da presidenta da República. Nas rádios, nos canais de TV, nos sites e nas redes sociais, a questão foi propagada e bastante debatida.
Trata-se de um conjunto de propostas para a reorganização do sistema político brasileiro que não foi modificado na Assembleia Nacional Constituinte (1987/1988).
Só no final da década de 1990, o debate sobre a reforma política configurou-se em torno de alguns pontos. São eles:
· A reorganização ampla das regras do sistema político e da forma de financiamento de campanha;
· A criação de novas instituições capazes de aumentar a participação e os diferentes padrões de interação entre instituições representativas e participativas.
· 
Isso significa que, desde o final do século passado, discute-se sobre a necessidade de haver modificações no modelo político nacional. Mas, até hoje, não existe um consenso entre os especialistas sobre quais são as reformas necessárias para o sistema político brasileiro.
Atualmente, estes são os principais tópicos de discussão sobre a reforma política no Brasil:
FINANCIAMENTO PÚBLICO DE CAMPANHA:
Destinação de recursos públicos a campanhas eleitorais e a partidos políticos, proporcionalmente à representatividade desses partidos no parlamento.
LISTA FECHADA:
Sistema de votação de representação proporcional, no qual os eleitores votam apenas em partidos, e não nos candidatos.
CLÁUSULA DE BARREIRA:
Também conhecida como cláusula de exclusão ou de desempenho, trata-se de um dispositivo que restringe ou impede a atuação parlamentar de um partido que não alcança um percentual de votos determinado.
PROPOSTA DE UM SISTEMA NACIONAL DE PARTICIPAÇÃO SOCIAL:
O Decreto nº 8.243/2014 instituiu a Política Nacional de Participação Social (PNPS) e o Sistema Nacional de Participação Social (SNPS). O texto estabelece objetivos e diretrizes relativos ao conjunto de mecanismos* criados para compartilhar com a sociedade civil decisões sobre programas e políticas públicas.
De acordo com o governo, o objetivo é fortalecer e articular os mecanismos e as instâncias democráticas de diálogo, bem como a atuação conjunta entre a administração pública federal e a sociedade civil.
(* Dentro deste conjunto, estão:
· Conselhos;
· Conferências;
· Ouvidorias;
· Mesas de diálogo;
· Consultas públicas;
· Audiências públicas;
· Ambientes virtuais de participação social.)
AULA 5 - FUNÇÕES ESSENCIAIS À REALIZAÇÃO DA JUSTIÇA E SOCIOLOGIA DAS PROFISSÕES
FUNÇÃO SOCIAL DO PODER JUDICIÁRIO
A questão do Judiciário é alvo de estudos e debates não só no Brasil mas também em outros Estados Democráticos, na medida em que a solução definitiva dos conflitossociais passa pela decisão judicial. Nesse contexto, apoia-se o conceito de fuga dos tribunais, que envolve dois aspectos:
Como um dos Poderes do Estado, o Poder Judiciário tem sua autonomia na esfera da competência que a Constituição lhe atribui, mas a lei votada no Legislativo é obrigatória para o Judiciário – salvo as inconstitucionais.
FUNÇÃO JURISDICIONAL
A função jurisdicional corresponde ao poder de formular e tornar efetiva a norma concreta que deve regular determinada situação jurídica. Trata-se, ao mesmo tempo, de poder, função e atividade. Vejamos:
PODER:
Capacidade de decidir imperativamente e de impor decisões.
FUNÇÃO:
Promoção da pacificação dos conflitos de interesses entre os jurisdicionados por meio do Direito e do processo.
ATIVIDADE:
Complexo de atos jurídicos praticados no processo pelo juiz, que exerce o poder conferido a ele por lei e cumpre suas funções.
DIVISÃO DO JUDICIÁRIO
O Judiciário está dividido em dois grandes grupos. São eles:
FEDERAL:
De acordo com os Artigos 106 e 109 da Constituição, ao Poder Judiciário Federal compete apreciar todas as causas de interesse da União ou de seus desdobramentos administrativos – autarquias e empresas públicas – como autoras, rés ou simples interessadas. Dele fazem parte os tribunais federais, eleitorais, trabalhistas e militares.
ESTADUAL:
De acordo com o Artigo 126 da Constituição, ao Poder Judiciário Estadual compete apreciar todas as demandas que envolvem conflito de interesse entre particulares, bem como as causas em que há interesse dos próprios Estados, Municípios e seus desmembramentos administrativos.
ATENÇÃO:
Há, também, instâncias superiores instaladas na capital do Brasil, que possuem as seguintes competências:
· Superior Tribunal de Justiça – zelar pela supremacia das leis federais e promover a uniformização de sua interpretação (Artigo 105, Inciso III, Alíneas a, b e c da Constituição);
· Supremo Tribunal Federal – atuar em hipóteses especiais previstas pela Constituição através do recurso devido, seja este ordinário ou extraordinário (Artigo 102, Incisos II e III, respectivamente, da Constituição). Este é o órgão máximo do Judiciário, abaixo do qual se encontram todos os demais.
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA
Com previsão constitucional, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) tem-se revelado um marco na busca da eficiência do Poder Judiciário. De acordo com o Artigo 103-B da Constituição, ao CNJ compete:
I - Zelar pela autonomia do Poder Judiciário; [...]
III - Receber e conhecer das reclamações contra qualquer dos membros ou órgãos do Poder Judiciário [...];
IV - Representar ao Ministério Público, no caso de crime contra a administração pública ou de abuso de autoridade;
V - Rever, de ofício ou mediante provocação, os processos disciplinares de juízes e membros de tribunais julgados há menos de um ano. [...]
INSTRUMENTOS HUMANOS DE REALIZAÇÃO DA ORDEM JURÍDICA
A magistratura é elemento essencial no Estado Democrático de Direito. Por isso, não pode haver democracia sem uma magistratura consciente de seu papel social. Em outras palavras, não pode haver democracia sem esse poder que, por atribuição constitucional, desempenha a relevante função de garantir o respeito aos direitos fundamentais do cidadão.
Vamos conhecer os sistemas seletivos adotados para o recrutamento de juízes:
SISTEMA ELETIVO (POR VOTAÇÃO):
Vantagens: Este sistema é mais democrático, rápido e econômico. Nesse caso, há controle sobre o desempenho do juiz por parte da população.
Desvantagens: Os critérios políticos podem influir na votação e, nem sempre, os melhores candidatos são eleitos.
SISTEMA DA NOMEAÇÃO:
Vantagens: Rapidez e economia.
Desvantagens: Este sistema é antidemocrático, pois não dá oportunidades iguais a todos.
CONCURSO PÚBLICO:
Vantagens: Este sistema é mais democrático.
Desvantagens: Este sistema é, porém, mais oneroso, pois exige uma comissão de alto nível para realizar o concurso, além de ser mais demorado.
O sistema adotado no Brasil é o concurso público de provas e títulos para os magistrados de primeira instância. Nos Tribunais Superiores, os juízes são nomeados pelo presidente da República após aprovação pelo Senado Federal. Já nos Tribunais de Justiça, a nomeação de 1/5 dos membros que neles ingressarão é feita pelo governador através de uma lista tríplice organizada pelo próprio tribunal. Nesse caso, metade das vagas é da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e a outra metade, dos membros do Ministério Público Estadual.
GARANTIAS CONSTITUCIONAIS DA MAGISTRATURA
Nos Estados modernos, as garantias asseguradas aos magistrados variam de Constituição para Constituição, de modo que possam exercer suas funções livremente. As garantias da magistratura podem ser:
· Institucionais – aquelas que repercutem funções atípicas e que servem para proteger a magistratura contra a pressão dos outros órgãos. Entre estas garantias, estão a autonomia orgânico-administrativa e a autonomia financeira.
· Funcionais – aquelas conferidas aos juízes, que estão estabelecidas no Artigo 95 da Constituição*.
(* Os juízes gozam das seguintes garantias:
I - vitaliciedade, que, no primeiro grau, só será adquirida após dois anos de exercício, dependendo a perda do cargo, nesse período, de deliberação do tribunal a que o juiz estiver vinculado, e, nos demais casos, de sentença judicial transitada em julgado;
II - inamovibilidade, salvo por motivo de interesse público [...];
III - irredutibilidade de subsídio [...].)
Para fins de compreensão da lei, são garantias funcionais:
· Vitaliciedade – os magistrados não podem ser demitidos senão em virtude de sentença do próprio Judiciário;
· Inamovibilidade – o Executivo não pode remover o magistrado senão por motivo de promoção;
· Irredutibilidade – relativa a subsídio.
MINISTÉRIO PÚBLICO
O Ministério Público (MP) é considerado o quarto poder constitucional e, na Carta Magna, aparece em capítulo especial: Capítulo IV - Das funções essenciais à Justiça.
De acordo com o Artigo 129 da Constituição, são funções do MP:
· Defender a sociedade fiscal da lei – custus legis;
· Promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e dos interesses difusos e coletivos;
· Promover a ação de inconstitucionalidade;
· Exercer o controle externo da atividade policial;
· Defender os direitos humanos.
DEFENSORIA PÚBLICA
A Defensoria Pública é uma instituição que, ao lado da Advocacia, da Advocacia Pública e do Ministério Público, é essencial à jurisdição*.
(* Poder de um Estado – decorrente de sua soberania – para editar leis e ministrar a Justiça.)
São atribuições da Defensoria Pública:
· Orientação jurídica e defesa, em todos os graus, dos necessitados –aqueles que comprovarem insuficiência de recursos;
· Isenção ao preparo de pareceres e consultoria.
ADVOCACIA 
A Advocacia é atividade essencial para a administração da Justiça. O advogado possui a capacidade de postular os interesses das pessoas em juízo ou fora dele, além de prestar assessoria e consultoria.
No Brasil, a Lei nº 8.906/1994 – que instituiu o Estatuto da Advocacia e da OAB – reforça a delineação do perfil profissional traçado no Artigo 133 da Constituição, com grande preocupação quanto aos aspectos sociais.
DEFICIÊNCIAS DO JUDICIÁRIO
Entre as origens dos problemas do Poder Judiciário em relação ao acesso à Justiça e à democratização, estão:
· O despreparo técnico de juízes;
· As deficiências na elaboração das normas jurídicas;
· O desaparelhamento do Judiciário;
· A prática de um sistema abusivo de recurso;
· O excessivo apego ao formalismo, com dedicação à vertente romanista do Direito que já deveria estar vencida.
As causas dessa situação problemática do Judiciário brasileiro merecem uma abordagem sistemática por parte de diversos sociólogos e juristas.
SOCIOLOGIA DAS PROFISSÕES JURÍDICAS
A Sociologia das Profissões começou a ser estudada por sociólogos ingleses, em 1933, com o trabalho intitulado The Professions de Carr-Saunders. Esse estudo promoveu um extenso levantamentoda história de grupos profissionais que poderiam ser classificados como profissões, permitindo sistematizar uma disciplina especial denominada Sociologia das Profissões Jurídicas.
Até o primeiro quarto do século XX, os interesses nas profissões jurídicas ainda estavam voltados para os seguintes assuntos:
· A qualidade do ensino jurídico;
· A consolidação das profissões jurídicas no mercado de trabalho;
· A ética dos profissionais da área jurídica.
Nas análises sociológicas de viés funcionalista, a profissão jurídica é frequentemente idealizada como nobre, mas, na prática, é descoberta como um nicho de atuação para ganhar dinheiro – aliás, bastante dinheiro.
Para Santos (2012, p. 89), importam três aspectos fundamentais para as análises sociológicas. São eles:
1. A relação entre profissões jurídicas e burocracia estatal como mecanismo de reforço do poder das próprias profissões do Direito;
2. O ensino do Direito como via de acesso à atividade profissional do ramo e como meio de incorporação dos habitus* profissionais do Direito;
3. O poder político das associações profissionais do Direito.
(* Conceito desenvolvido pelo sociólogo francês Pierre Bourdieu, com o objetivo de pôr fim à antinomia indivíduo/sociedade dentro da sociologia estruturalista. Trata-se da capacidade de determinada estrutura social ser incorporada pelos agentes por meio de disposições para sentir, pensar e agir.)
AULA 6 - FATORES DE TRANSFORMAÇÃO SOCIOJURÍDICA E OPINIÃO PÚBLICA
Para ser instrumento eficaz ao bem-estar e progresso social, o Direito deve estar sempre adequado à realidade, refletindo as instituições e a vontade coletiva. Sua evolução deve expressar um esforço do legislador em realizar a adaptação de suas normas ao momento histórico. Os fatores que influenciam a vida social, provocando-lhe mutações, produzirão igual efeito no setor jurídico, determinando alterações no Direito Positivo. Esses fatores, chamados sociais e também jurídicos, funcionam como motores da vida social e do Direito. Fatores jurídicos são, pois, elementos que condicionam os fenômenos sociais e, em consequência, induzem transformações no Direito. Não obstante ser este o caminho científico, Georges Ripert, impressionado com as distorções que se passam na gênese da lei, declarou: "O Direito nasce na luta e pelo triunfo dos mais fortes [...]. O mais forte sai vencedor de um combate cujo prêmio é a lei. Assim, o jurista declara gravemente que “a lei é a expressão da vontade geral. Ela não é nunca senão a expressão da vontade de alguns”. (Les Forces Créatrices du Droit, apud Machado Netto e Zahidé Machado Netto. O Direito e a Vida Social, São Paulo: Nacional, 1966, pp. 79 e 81.)
MUDANÇA SOCIAL E DIREITO
O Direito concebido como ciência social deve acompanhar as mudanças que ocorrem na sociedade, a fim de tutelar novos direitos ou prevenir novos conflitos, apontando solução para os conflitos inevitáveis. Isto porque, como um produto cultural, o Direito, é influenciado e reflete a realidade social, econômica e política que o envolve.
À medida que a sociedade se vai renovando, novas leis surgem para legitimar essas mudanças. Esses novos arranjos normativos são a prova de que, embora moroso, o direito sempre acompanha as novas facetas sociais.
No entanto, é de se notar que, em relação a alguns fatos da sociedade, apesar da mudança social já caminhar a passos largos, certas decisões são fundadas em normas e regras obsoletas. Mas isso não quer dizer que elas devem ser postas de lado, ou que se deve permitir que sejam descumpridas, pelo contrário, devem ser adequadas à nova realidade.
Em síntese o que se pode afirmar é que, ainda que a produção normativa não caminhe na mesma velocidade das mudanças sociais (o que é um fato!), ela desempenha um papel fundamental para a consolidação e o reconhecimento dessas mudanças.
FATORES DE TRANSFORMAÇÃO SOCIOJURÍDICA
O Direito e a realidade se influenciam. Portanto, o Direito precisa acompanhar as diversas oscilações sociais, uma vez que é para a sociedade que o Direito está a serviço e foi criado. Desse modo, constata-se a existência de certos fatores que ocorrem na sociedade e que repercutem diretamente na esfera jurídica. Tais fatores, que podem ter diversas origens, influenciam a sociedade e impõem mudanças efetivas no quadro de leis, seja de forma acelerada ou lenta.
Então, é correto afirmar que o Direito (formação e evolução) não é resultado da simples vontade do legislador. O Direito se encontra subordinado à realidade social a quem acompanha, ou seja, a presença de determinados fatores impulsiona a produção legislativa e a própria sociedade, definindo suas diversas estruturas. Assim, o direito enquanto instrumento de bem comum* e do progresso social deve estar sempre adequado à realidade, refletindo as instituições e a vontade coletiva.
(* É um termo que pode se referir a vários conceitos diferentes, mas idênticos entre si, seja na Filosofia, na Teologia, na Sociologia e na Ciência Política. No sentido popular, descreve o conjunto de benefícios que são compartilhados de todos os membros (ou a maioria) de uma dada comunidade.)
PARTICIPAÇÃO POPULAR E OPINIÃO PÚBLICA
Este tópico envolve dois aspectos:
· O Direito utilizado como instrumento controlador dos comportamentos é eficaz, pois na vida não se pode prescindir de regras;
· O Direito como efetivador de justiça, sob o ponto de vista de cada cidadão, tem se demonstrado inoperante.
Assim sendo, a opinião pública* passa a ser uma matéria de especial interesse para o operador do direito em geral. Porque o sentimento social sobre o que é o justo e o injusto e o papel do Direito é sinalizado pelo próprio pensamento social coletivo, que a cada momento, funcionando como uma bússola, aponta e orienta esses operadores no que a sociedade necessita e espera do Estado em sua função de distribuir a justiça e manter a paz social.
(* É o pensamento predominante do grupo sobre uma determinada pessoa ou questão. É o juízo coletivo adotado e exteriorizado por um grupo. A opinião pública não é a soma nem a síntese da opinião de todos, é um novo produto, uma nova realidade. Representa a tendência geral, mas sem ser, necessariamente, a opinião de todos os membros nem a opinião de qualquer pessoa em particular.)
ATENÇÃO:
Importância da Opinião Pública para a Sociologia Jurídica e para o Direito
A opinião pública nos países de livre manifestação de pensamento constitui elemento decisivo de interação social.
Tem especial importância, pois age como um verdadeiro termômetro, revelando ao legislador e demais autoridades que atuam na área jurídica o sentimento social em torno de questões sociais relevantes e indicando as mudanças necessárias nas leis e instituições jurídicas.
O SENTIMENTO COLETIVO DE JUSTIÇA
Existe não só um sentimento individual de justiça, mas um sentimento coletivo, no qual a sociedade se baseia para estabelecer padrões de comportamento e que varia de tempo em tempo e de lugar para lugar.
Ao legislador, especialmente, importa conhecer o sentimento coletivo de justiça para que possa elaborar leis justas, adequadas aos interesses e conveniência sociais.
O exame do sentimento de justiça abrange:
A OPINIÃO PÚBLICA SOBRE O DIREITO E SUA UTILIDADE SOCIAL E SUAS INSTITUIÇÕES
Muito embora o Direito seja considerado e aceito como a forma mais eficaz de controle social em sua organização e aplicação, sofre um questionamento cada vez maior da opinião pública quanto a sua equidade.
Para muitos, o Direito é um meio do qual se valem os mais fortes, as classes dominantes da máquina estatal, para se manterem no poder contra os oprimidos. Outros entendem que ele se presta a manobras que o desvirtuam completamente, e que isso é uma constante.
VOCÊ SABIA?
A opinião pública formada em torno do Judiciário foi no sentido de considerá-lo deficiente, emperrado e moroso.
Há uma grande parcela que considera os tribunais ou juízes influenciáveis pelos poderosos, ou passíveis de corrupção, e portanto parciais, assunto da maior gravidade a merecer especial atenção, sob penade uma desmoralização cada vez maior da instituição.
AULA 7 - MOVIMENTOS SOCIAIS - CIDADANIA, ETNODIVERSIADE, GÊNERO E DIREITOS HUMANOS
MOVIMENTOS SOCIAIS – MS
O conceito de Movimentos sociais envolve dois aspectos:
a) Ação coletiva de um grupo organizado para alcançar mudanças sociais por meio do embate político, conforme seus valores e ideologias.
b) Objetivar a mudança, a transição ou mesmo a revolução de uma realidade hostil a certo grupo ou classe social.
VOCÊ SABIA?
Para se compreender os movimentos sociais deve-se pensar em valores e crenças comuns para a ação social coletiva. É importante considerar se as estruturas sociais nas quais se manifestam os MS fariam explodir os conflitos já postos pela estrutura social geradora.
ATENÇÃO:
Cada sociedade ou estrutura social teria como cenário um contexto histórico (ou historicidades) no qual, assim como também apontava Karl Marx, estaria posto um conflito entre classes, terreno das relações sociais, a depender dos modelos culturais, políticos e sociais.
MOVIMENTO DOS TRABALHADORES SEM TERRA – MST
Você teve oportunidade de aprender na disciplina História do Direito Brasileiro, que o acesso à terra, em nosso país, a partir da edição da Lei de Terras, de 1850, foi dificultado para os pobres. E que, a partir do advento da Lei de Terras, começou o fenômeno da grilagem de terras pelos próprios latifundiários (falsificação de títulos de propriedade).
A Lei de Terras garantia mão de obra livre aos grandes proprietários, pois restringia o acesso à terra mediante a compra. Isto porque as terras ainda não ocupadas passavam a ser propriedade do Estado e só poderiam ser adquiridas por meio da compra nos leilões mediante pagamento a vista e não mais por meio da posse.
Sem a aprovação da Lei de Terras, possivelmente, escravos libertos e imigrantes europeus, ao invés de trabalharem nas grandes lavouras, dirigir-se-iam para o interior do país em busca de terras desocupadas para tomar posse.
A criação desta Lei garantiu os interesses dos grandes proprietários do Nordeste e do Sudeste que estavam iniciando a promissora produção do café e, certamente, contribuiu para a formação de grandes concentrações latifundiárias e da injusta distribuição de terras no Brasil, que levou ao aparecimento do MST.
CIDADANIA
No decorrer da história da humanidade, surgiram diversos entendimentos de cidadania em diferentes momentos – Grécia e Roma da Idade Antiga e Europa da Idade Média. Contudo, o conceito de cidadania, como conhecemos hoje, insere-se no contexto do surgimento da Modernidade e da estruturação do Estado-Nação.
O termo cidadania tem origem etimológica no latim civitas, que significa "cidade". Estabelece um estatuto de pertencimento de um indivíduo a uma comunidade politicamente articulada – um país – e que lhe atribui um conjunto de direitos e obrigações, sob vigência de uma constituição. Ao contrário dos direitos humanos – que tendem à universalidade dos direitos do ser humano na sua dignidade –, a cidadania moderna, embora influenciada por aquelas concepções mais antigas, possui um caráter próprio e possui duas categorias: formal e substantiva.
CIDADANIA FORMAL:
A cidadania formal é, conforme o direito internacional, indicativo de nacionalidade, de pertencimento a um Estado-Nação, por exemplo, uma pessoa portadora da cidadania brasileira. Em segundo lugar, na ciência política e sociologia o termo adquire sentido mais amplo, a cidadania substantiva é definida como a posse de direitos civis, políticos e sociais. Essa última forma de cidadania é a que nos interessa.
CIDADANIA SUBSTANTIVA:
A compreensão e ampliação da cidadania substantiva ocorrem a partir do estudo clássico de T. H. Marshall – Cidadania e classe social, de 1950 – que descreve a extensão dos direitos civis, políticos e sociais para toda a população de uma nação. Esses direitos tomaram corpo com o fim da Segunda Guerra Mundial, após 1945, com aumento substancial dos direitos sociais – com a criação do Estado de Bem-Estar Social (Welfare State) – estabelecendo princípios mais coletivistas e igualitários. Os movimentos sociais e a efetiva participação da população em geral foram fundamentais para que houvesse uma ampliação significativa dos direitos políticos, sociais e civis alçando um nível geral suficiente de bem-estar econômico, lazer, educação e político. (Disponível em: http://www.brasilescola.com/sociologia/cidadania-ou-estadania.htm, acesso em 27 jun 2015).
ETNODIVERSIDADE
A expressão etnodiversidade foi inicialmente utilizada pelo Partido Verde alemão, em 1994 por Tibor Rabóczkay, significando a presença de diversas etnias e "raças" em um mesmo país, ou mesmo território. Sua inspiração é a analogia com "biodiversidade".
Etnodiversidade no Brasil
É inegável que o Brasil, desde seu descobrimento e sua colonização, se encontra profundamente vinculado à diversidade. Seja a Biodiversidade, por conta das inúmeras espécies encontradas em sua fauna e flora, seja pela etnodiversidade, ou seja, a diversidade das nações indígenas, diversidade dos imigrantes, diversidades regionais, mestiços etc.
Assim a etnodiversidade brasileira resulta da presença de vários povos indígenas (tupis, guaranis, yanomamis, temiminós etc.), descendentes de imigrantes de variadas origens (europeus, asiáticos), além da forte contribuição de povos africanos (yorubá, bantu, gê etc.).
Da etnodiversidade brasileira se origina a grande capacidade de adaptação do brasileiro.
QUESTÕES DE GÊNERO
As relações de gênero se revelam como elementos indispensáveis para a compreensão da sociedade. Inegavelmente, o conceito institucionalizado de gênero contribui para a justificação das desigualdades sociais entre homens e mulheres que nada tem a ver com o biológico.
A identidade de gênero ou sexual é um conceito extremamente complexo, composto por componentes conscientes e inconscientes.
ATENÇÃO:
Uma questão básica é que as pessoas sejam nomeadas e reconhecidas pelo modo como elas se identificam para o outro, e sejam respeitadas como tal.
NOVOS ARRANJOS FAMILIARES
A existência das novas configurações familiares passa por uma linha tênue de análise entre o que se considera politicamente/moralmente correto e a possibilidade da felicidade no rompimento de valores tradicionais construídos em conjunto com a família nuclear tradicional. A busca por novas formas de relações pode ser considerada um tabu. Por outro lado, é fato a existência de novas estruturas familiares, o que confirma a transformação da concepção em relação à instituição familiar e às relações conjugais.
Os direitos humanos são inegavelmente o resultado de um longo processo histórico de lutas e de resistência a opressão, que deita suas raízes desde o Cristianismo, do Medievo, com a afirmação da defesa da igualdade entre os homens numa mesma dignidade, fruto da condição de igualdade e semelhança ao próprio Criador, responsável último pela criação de um ordenamento normativo cuja aspiração maior era o ideal de justiça.
É importante demarcar que a teoria do direito natural desenvolvida por Hugo Grócio, Samuel Pufendorf, Thomasius, Wolff, entre outros, ajudam a construir o ideário* de ser o homem possuidor de direitos que são anteriores a qualquer lei humana.
(* Conjunto das ideias principais de um autor, de uma doutrina, movimento, partido etc.)
DIREITOS HUMANOS NO BRASIL
Aqui no Brasil, a despeito de presentes em outras constituições, será a Constituição de 1988 que irá contemplar o conjunto das diversas gerações/dimensões desses direitos.
Os direitos humanos estão consolidados na Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, no título que trata dos princípios fundamentais, no título sobre os direitos e garantias fundamentais e, por último, no art. 225, sobre o meio ambiente, sem eliminar outros artigos que possam conter matéria dos direitos fundamentais.
Os direitos fundamentais se dividem em: individuais, coletivos, de grupos e difusos.
DIREITOS INDIVIDUAIS:
Os direitos individuais têm como sujeito ativo um indivíduo humano, que, quando verificar que tevea supressão, ou melhor, quando houver perturbação de seu direito por autoridade pública, ou outra que atue em lugar da pública, poderá impetrar habeas corpus (art. 5° LXVII CF/88) quando verificar que há impedimento no seu direito de livre circulação (ir e vir – e ficar), habeas data, quando houver necessidade de retificação de registro ou para que seja prestada informação que sobre ele constem nos bancos de dados (art. 5°, LXXII, a, b CF/88). O sujeito individual poderá, ainda, solicitar a providência da segurança (art. 5°, LXIX CF/88) quando a perturbação de seu direito líquido e certo não for de matéria do habeas corpus nem do habeas data.
DIREITOS COLETIVOS:
Os direitos coletivos são aqueles que envolvem a coletividade como um todo, uma sociedade. Por essa natureza, quando há a turbação de algum direito fundamental é dever do Ministério Público promover a ação cabível, uma vez que esse órgão é o responsável pela defesa dos interesses da coletividade. Dessa forma, o Ministério Público poderá promover ação civil pública para defesa do patrimônio público e social, do meio ambiente e outros interesses conforme art 129, III, não sendo vedado a interposição desse remédio por outras pessoas segundo o §1º do mesmo artigo. A Constituição vigente foi inovadora ao permitir a proposição de mandado de segurança coletivo (art. 5º, LXX CF/88) por partido político com representação no Congresso Nacional ou por qualquer organização não governamental constituída há mais de um ano.
DIREITOS DE GRUPOS:
Direitos de grupos são direitos individuais “homogêneos, assim entendidos os decorrentes de origem comum” (art. 81, parágrafo único, III, do Código de Defesa do Consumidor).
DIREITOS DIFUSOS:
Os direitos difusos são aqueles, conforme definição do Código de Defesa do Consumidor: “transindividuais de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato” (art. 81, parágrafo único, I do Código de Defesa do Consumidor).
ATENÇÃO:
Há, todavia, que se falar em direito-garantia, ou nos remédios constitucionais acerca da ação popular (art. 5º LXXIII CF/88), a qual poderá ser proposta por qualquer cidadão nacional desde que no uso de sua plena cidadania para defesa do meio ambiente adequado contra ato lesivo da autoridade pública.
E, por último, há o mandado de injunção (art. 5º, LXXI CF/88), modalidade esta que é recente no direito pátrio. Este remédio constitucional será proposto sempre que a falta de norma regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos fundamentais. Entretanto, o mandado de injunção não tem sido utilizado e na verdade não haveria necessidade de sua existência, uma vez que o legislador constitucional assegurou a aplicação imediata dos direitos e garantias fundamentais. Então, a autoridade pública não poderia se escusar de cumprir com a tutela dos direitos humanos assegurados, pois estes não mais possuem caráter de normas programáticas. Portanto, quando não há o cumprimento público de um direito essencial o cidadão pode usar dos direitos-garantias (como o habeas corpus ou data, mandado de segurança, ação popular ou civil pública) sempre que houver a supressão de um direito elementar ao homem.
É preciso fazer uma consideração especial sobre o habeas corpus com relação à prisão civil do depositário infiel, matéria essa assegurada constitucionalmente (art.5º, LXVII) e regulamentada pele decreto-lei n° 911 (01.10.1969). Essa matéria tem sido controversa na Suprema Corte brasileira em vista da adesão do Brasil à Convenção Americana sobre Direitos Humanos (22.11.1969), a qual entrou em vigor no plano interno pela aprovação do Congresso Nacional pelo Decreto Legislativo nº 27 (26.05.1992)”.
(Disponível em http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=artigos_leitura_pdf&artigo_id=339, acesso em: 27 jun. 2015)
DIREITOS HUMANOS EM CRISE?
Para Villey (2007, p. 162), a grande contradição dos direitos humanos seria o fato de que tanto servem aos ideais das classes obreiras quanto aos patrões, mas nunca simultaneamente a todas as partes. “O problema com os direitos humanos é que ninguém poderia tirar partido deles senão em detrimento de alguns homens”.
Na medida em que os direitos humanos estão atrelados a uma tradição liberal, partem de uma concepção individualista e formal nos aspectos relacionados à igualdade de uma sociedade liberal-burguesa que entende as pessoas como átomos associais, isolados, apropriadores e consumidores que usam os direitos para proteger seus interesses em vez de pensar no bem comum.
Objetivamente, os direitos econômicos e sociais se revelam mais como normas programáticas, verdadeiras aspirações e esperanças, e não como direitos “sujeitos a julgamento” que possam ser levados aos tribunais e executados.
Eles são direitos de grupo ou classe, enquanto que a tradição dos direitos humanos está preocupada com direitos individuais.
Entre os diversos fatores que contribuem para que se considere a crise dos direitos humanos Douzinas, (2009, p.156) aponta que um deles é a apreensão de seu discurso tanto pelo poder público quanto pelo privado. Na medida em que governos, instituições internacionais, juristas e diplomatas se apoderam dos direitos humanos, estes têm todo seu poder contido e sua finalidade destruída. O autor não nega que a institucionalização dos direitos humanos seja útil, mas atenta para o fato de que a sua reprodução em códigos, tratados e convenções é uma forma dos governos, seus maiores violadores, serenarem sua consciência coletiva de maneira pública. (HOGEMANN, 2015).
AULA 8 - TRANSFORMAÇÕES NAS RELAÇÕES SOCIAIS E ECONÔMICAS DO COTIDIANO E DESVIO SOCIAL
CONSUMO E CONSUMISMO
A vida atual nos empurra ao consumo. Já se foi o tempo em que as pessoas faziam suas próprias roupas, cultivavam seus próprios alimentos, utilizavam os animais como meio de transporte e levavam uma vida pacata, mais preocupados com sua ligação com a divindade para garantir um lugar no paraíso ou com seus laços familiares e de vizinhança.
Temos que admitir que não há como fugir do consumo. Ele significa nossa própria sobrevivência e não passamos um único dia sem adquirir algum bem. A grande questão é que nos dias de hoje precisamos adquirir bens não somente para suprir nossas necessidades de alimentação, vestuário, lazer, educação, abrigo, mas também e, talvez, principalmente, para alimentar desejos artificialmente criados por uma sociedade dominada pelo mercado.
O mercado estimula o consumo dos bens, vinculando-o à realização pessoal, à felicidade, ao prazer de viver e nos induz a consumir usando essa ilusão de alcançar tais valores.
Isso significa que consumimos muitas coisas que, ainda que sem essa consciência, nos são impostas: é, por exemplo, a roupa da moda (que muda a cada semana), para não ficar para trás, porque todo mundo usa. Então, consumimos, não porque precisamos, mas porque somos induzidos a consumir, e, cada vez mais. Aqui surge o consumismo.
CONSUMIR É PRECISO, VIVER NÃO É PRECISO!
Muito mais do que pessoas que compram muito e adquirem bens que não precisam, o consumismo representa o modelo atual de sociedade, do desperdício e dos valores que imperam. O consumismo se refere a um modo de vida voltado cada vez mais ao consumo de bens ou serviços e sua relação com prazer, sucesso, felicidade, que todos os seres humanos almejam e, frequentemente, é observado nas mensagens comerciais dos meios de comunicação de massa.
Acontece que vivemos em uma sociedade capitalista e de classes.
No capitalismo, necessariamente, há os que tudo têm e os que produzem os bens para aqueles que tudo têm, mas que não poderão desfrutar de tais bens. Ou seja, não existe capitalismo sem ricos e pobres.
E aí começa o problema: na medida em que a própria sociedade estabelece que o sucesso está ao alcance de todos, porque, afinal, todos são iguais perante a lei, criam a ideia de que para ser reconhecido nessa sociedade você tem que consumir bens, possuir bens. Então, surge o desvio.
Como essa mesma sociedade não disponibiliza os meios efetivos

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