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Todos os temas - METODOLOGIA DA PESQUISA 36h

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DEFINIÇÃO 
Apresentação do Método Científico, das Metodologias Científicas e de uma breve história 
da Ciência, identificando o princípio da medida científica, suas grandezas e unidades 
básicas de acordo com o Sistema Internacional de Unidades (SI). 
PROPÓSITO 
Reconhecer a evolução histórico-filosófica da Ciência, contextualizando o conceito de 
Método Científico e a aplicação da Metodologia Científica. 
OBJETIVOS 
Módulo 1 
Relacionar a filosofia da 
Grécia Antiga com a origem 
do Universo e a Ciência 
Módulo 2 
Reconhecer a formalização 
do Método Científico e da 
Metodologia Científica na 
Renascença 
Módulo 3 
Reconhecer a Metodologia 
Científica na Ciência 
Moderna 
 
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INTRODUÇÃO 
Desde os primeiros passos da humanidade interagindo com a natureza por meio de 
fenômenos físicos, químicos, biológicos, médicos, entre outros, sempre foi muito comum 
nossos antepassados associarem tais fenômenos às mitologias, divindades e crenças ou 
cultura religiosa sem quaisquer questionamentos que, atualmente, faríamos. 
Provavelmente, se um indivíduo tivesse acesso a uma nova Ciência ou conhecimento 
completamente transformador cujos fundamentos científicos não compreendêssemos, 
muitos de nós apontariam o detentor desse conhecimento como uma divindade, mesmo 
conhecendo os critérios científicos. Não seria possível distinguir essa Ciência 
desconhecida de um fenômeno sobrenatural ou associado ao sentimento religioso de 
cada um que o experimentasse. 
Uma questão mais delicada ainda é se nossa Ciência preenche os requisitos do Método 
Científico sem comprometer suas conclusões com crenças ideológicas, culturais ou 
religiosas, acreditando serem conhecimentos científicos. Na verdade, ainda precisamos 
estudar, refletir e aprimorar habilidades para compreendermos a Metodologia Científica. 
 
Como podemos distinguir 
Ciência de crenças? 
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Não vamos abordar questões religiosas, apenas discutir a Metodologia Científica do que 
chamamos Método Científico. Discutiremos o que é Ciência e apresentaremos um pouco 
de nossa história filosófica e científica. 
FILOSOFIA DA GRÉCIA ANTIGA 
A tradição filosófica ocidental surgiu na Grécia Antiga, período classificado entre os anos 
700 a.C. e 250 d.C. O primeiro filósofo grego a propor a racionalidade e o pensamento 
livre como formas de compreender os fenômenos universais da natureza foi Tales de 
Mileto (624-546 a.C.). Sua metafísica se opunha à mitologia grega, tradição oral milenar 
que explicava a origem do Universo e seus fenômenos por meio de divindades religiosas, 
numa tradição dogmática incontestável até então. 
 
Os filósofos pré-socráticos— Tales, Anaximandro (610-546 a.C.), Anaxímenes (588-
524 a.C.) e Pitágoras (570-495 a.C.) — acreditavam que se pudéssemos 
compreender os fenômenos da natureza e do Universo preferencialmente por meio 
da Matemática, de forma racional e lógica, estaríamos livres dos caprichos dos 
deuses mitológicos e mais próximos da verdade universal. Devemos a essa escola 
e seus filósofos o nascimento do pensamento científico ocidental. 
 
Vejamos agora um pouco sobre as principais contribuições dos filósofos da Grécia 
Antiga: 
 
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Tales de Mileto (624-546 a.C.) propôs que a água fosse a 
matéria-prima do Cosmo e há relatos históricos de que ele 
teria previsto um eclipse solar em 585 a.C. Infelizmente, 
nenhum dos seus escritos foi conservado, mas sabemos 
que sua escola introduziu avanços na Matemática, em 
particular na Geometria, e na previsão de melhores 
colheitas a partir da observação dos fenômenos climáticos, 
diferente das anteriores súplicas aos deuses. 
 
Pitágoras (570-495 a.C.), provável discípulo de Anaxímenes 
da escola de Mileto, avançou nas ideias racionais e lógicas. 
Propôs que poderíamos compreender o Cosmo e suas 
relações por meio da Matemática como modelo ideal do 
pensamento filosófico metafísico. 
Pitágoras acreditava que somente a razão e a Matemática 
seriam imortais. Devemos a ele os conhecimentos iniciais 
da Geometria, Álgebra e Trigonometria, o Teorema de 
Pitágoras* e a compreensão dos fundamentos da 
Matemática na música, com os harmônicos e as divisões 
em oitavas. 
*Teorema de Pitágoras: “Em qualquer triângulo retângulo, o quadrado do comprimento da 
hipotenusa é igual à soma dos quadrados dos comprimentos dos catetos." 
 
 
 
 
 
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Heráclito (535-475 a.C.) sugeriu o eterno fluxo dos 
contrários (dia e noite, quente e frio etc.), apresentando a 
ideia de equilíbrio e de conservação. 
 
 
 
 
Parmênides (515-445 a.C.) acreditava na unicidade do 
Universo e que todos os fenômenos derivavam da mesma 
origem, conceito amplamente buscado entre os físicos 
contemporâneos. 
 
 
 
Demócrito (460-371 a.C.) e Leucipo (século V 
a.C.) introduziram a atomística e afirmaram 
que, além de átomos, nada mais existe. 
Segundo eles, existiria um número infinito de 
átomos, mas que a combinação deles seria 
finita, o que explicaria o número limitado de 
substâncias. 
 
 
 
 
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Empédocles (490-430 a.C.) apresentou o conceito dos 
quatro elementos, ao qual chamou de quatro raízes da 
matéria: fogo, água, ar e terra. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Sócrates (469-399 a.C.) considerado o fundador da 
Filosofia ocidental, introduziu um método de 
argumentação que acreditava ser infalível para desvendar 
os mistérios da existência, a dialética. Sua preocupação 
principal era a vida e o modo de viver; não estava 
interessado em respostas definitivas, mas em desvendar 
profundamente os conceitos humanos. 
Seu método dialético é a base do pensamento científico 
moderno. Não deixou nenhuma obra registrada, pois 
acreditava que a linguagem escrita não favorecia o debate 
e o confronto dialético. Quase tudo o que sabemos sobre 
Sócrates é por meio dos diálogos de Platão, seu aluno. 
 
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SAIBA MAIS 
A Parábola da Caverna 
Imagine uma caverna na qual todos estão aprisionados e amarrados desde o nascimento. 
Só podem olhar uma parede à sua frente. Uma chama brilhante atrás dos prisioneiros 
ilumina os objetos e todas as formas. Os prisioneiros só podem ver as sombras dos 
objetos projetadas na parede. Essas sombras são as experiências dos prisioneiros por 
meio dos sentidos. 
Se algum prisioneiro se desamarrar, verá os objetos como são na verdade, mas depois de 
toda uma vida em aprisionamento, talvez não consigam compreender e se voltem 
fascinados para a chama e novamente para as sombras na parede, sua única realidade. 
Conclusão: a verdade só pode ser alcançada pela razão, pelo mundo das ideias, não por 
nossos sentidos, opiniões e por experiências de sombras. 
Platão (427-347 a.C.) nos apresentou o pensamento 
socrático. Fundou uma escola filosófica em Atenas, a 
Academia, para propagar o método de Sócrates e a sua 
própria Filosofia das formas perfeitas, ideais e imutáveis. A 
razão seria capaz de explicar todos os fenômenos 
universais e humanos, reforçando assim a base da filosofia 
grega. Ele pregava que estamos presos no mundo dos 
sentidos ilusórios e que, para reconhecermos a verdade 
das coisas, devemos racionalmente compreender o ideal 
perfeito. 
A Filosofia de Platão alcançou o mundo islâmico medieval 
e contribuiu com as fundações do Racionalismo do século 
XVII, o período Renascentista. Sua concepção é 
considerada a base da Filosofia ocidental moderna pela 
quantidade e profundidade dos temas sobre os quais 
escreveu e tratou. 
Para exemplificar suas ideias das Formas perfeitas e de 
como somos frágeis na compreensão da verdade por meio 
dos sentidos, ele nos apresentou a Parábola da Caverna. 
 
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*Silogismo: Silogismo é um padrão de três proposições com o confronto de duas 
premissas e uma conclusão. Por exemplo: Todas as plantas necessitam de luz; a figueira 
é uma planta; portanto, a figueira precisa deluz. Assim, se uma pedra não precisa de luz, 
não pode ser uma planta. 
O silogismo foi a base elementar da Lógica matemática do século XIX e da Computação 
do século XX. 
Aristóteles (384-322 a.C.) estudou na Academia de 
Atenas, foi aluno de Platão, de quem recebeu grande 
influência, mas discordava da filosofia das formas porque 
acreditava ser possível, observando a natureza, encontrar 
a verdade sobre os fenômenos. A partir das experiências 
com o mundo, compreenderíamos as qualidades 
universais de que falava Platão. Essa abordagem de 
Aristóteles é um dos pilares das ciências modernas, a 
obtenção do conhecimento pela experiência, buscando 
racionalmente a verdade. 
Fundou sua escola em Atenas, o Liceu. Sua abordagem 
inicial se deu nos campos da Botânica e da Zoologia. 
Aristóteles introduziu um método lógico e sistemático de 
seleção dos reinos animal, vegetal e mineral, conhecido 
por silogismo*. Também foi o autor da classificação 
básica das ciências. 
 
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O pensamento de Aristóteles, apesar de 
imperfeições nos campos da ética atual 
(não rejeitava a escravidão) e da 
Astronomia, provocou uma revolução na 
Filosofia e nas Ciências. 
Aristóteles foi o instrutor (preceptor) de 
Alexandre, o Grande. Com a morte de 
Alexandre, veio o declínio da Grécia Antiga 
e o início do período Helenístico, com a 
ascensão de Roma. 
 
IMPORTANTE 
A divergência de Aristóteles em relação a Platão, deu origem a duas linhas filosóficas no 
século XVII, os Racionalistas (Platônicos) e os Empiristas (Aristotélicos). 
 
 
Eratóstenes (276-194 a.C.) obteve um 
incrível feito científico, a medida da 
circunferência da Terra por meios 
geométricos e experimentais: 
 
 
Ele posicionou hastes verticalmente durante o solstício (o dia mais longo do ano) nas 
cidades de Syene (atual Assuã) e Alexandria. 
Observando a sombra projetada no solo em Alexandria quando em Syene o sol estava 
exatamente sobre a haste e, portanto, sem sombra projetada no solo, obteve o ângulo de 
inclinação formado entre dois raios de circunferência, partindo do centro do planeta até as 
duas cidades. 
Assim, ele obteve o perímetro médio da Terra. 
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Arquimedes (287-212 a.C.), famoso pelo 
Princípio de Arquimedes, Princípio do 
Empuxo da Mecânica dos Fluidos, há mais 
de dois mil anos, foi o primeiro filósofo-
cientista a seguir o que chamamos 
atualmente de Método Científico. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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VERIFICANDO O APRENDIZADO 
1. Considere o mundo de um jogo eletrônico bidimensional, onde o personagem principal, 
Pac-Man, deve comer frutinhas e fugir de fantasmas em um labirinto. O projetista do jogo 
optou por introduzir habilidades cognitivas via inteligência artificial ao personagem e a 
possibilidade de uma interface por voz do jogador. Supondo que o jogo tenha evoluído, 
Pac-Man passa a se perguntar: “Quem está falando comigo?” O jogador, tridimensional, 
pode vê-lo, mas não pode explicar ao Pac-Man quem é, somente fornecer comandos do 
jogo. O personagem, bidimensional, só vê traços horizontais, que se movem nas fronteiras 
do labirinto, do que seria o corpo do jogador, mas não pode lhe fazer perguntas. Qual das 
opções apresentadas, considerando o pensamento científico, Pac-Man deve seguir para 
entender com quem está conversando? 
a) Pac-Man deve considerar que experiências sobrenaturais são reais. 
b) Pac-Man deve seguir a lógica racional e fazer suposições plausíveis do que ocorre e, 
passo a passo, eliminar variáveis, aprimorar sua suposição até concluir que outra 
dimensão espacial existe. 
c) Pac-Man deve considerar sua experiência um acontecimento espiritual. 
d) Pac-Man deve seguir sua intuição e tirar suas conclusões do que ocorre até considerar 
um ser invisível a lhe falar. 
e) Nenhuma das respostas anteriores. 
 
Comentário 
Parabéns! A alternativa B está correta. 
O pensamento filosófico científico evoluiu a partir dos filósofos gregos que nos deixaram 
como legado métodos criteriosos, racionais e lógicos para se chegar às verdades do 
mundo. Essa é a base do pensamento científico, de forma isenta, sem dogmas ou crenças 
quaisquer. 
 
 
 
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2. Platão falou sobre a filosofia das formas perfeitas e ideais, do mundo das ideias 
perfeitas, das qualidades universais imutáveis perfeitas e das formas imperfeitas em 
nossas realidades, como sombras das formas ideais. Considerando a existência de 
constantes físicas fundamentais da natureza, assinale a resposta correta: 
a) A Filosofia de Platão não tem qualquer relação com a existência de constantes físicas 
da natureza. 
b) A Filosofia de Platão nos guiou na construção da Filosofia científica, mas não tem 
relação com as constantes físicas da natureza. 
c) A Filosofia de Platão nos guiou na busca de qualidades universais imutáveis, e a 
descoberta dessas constantes físicas da natureza são evidências da efetividade de sua 
Filosofia das formas ideais imutáveis. 
d) A Filosofia de Platão foi superada por Arquimedes e, portanto, não tem consequências 
hoje em dia. 
e) Nenhuma das respostas anteriores. 
 
Comentário 
Parabéns! A alternativa C está correta. 
O pensamento filosófico de Platão, em sua teoria das formas perfeitas, indicava a 
existência de formas e qualidades ideais, às quais deveríamos buscar racionalmente e 
que nossos sentidos só experimentariam suas imagens ou sombras, como chamou. 
Assim, as constantes fundamentais da natureza são essas qualidades perfeitas e 
imutáveis. 
 
 
 
 
 
 
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MÉTODO CIENTÍFICO 
A ascensão do Império Romano (27 a.C.-395 d.C.), 
antes da divisão em Impérios do Ocidente e do 
Oriente, introduziu uma ruptura na difusão do 
conhecimento e da Filosofia na Europa, em 
contraposição ao imenso florescimento cultural 
ocorrido anteriormente na Grécia. 
 
 
 
 
ATENÇÃO 
A única exceção foi o estoicismo, escola de pensamento admirada pelos romanos por sua 
valorização da conduta virtuosa e do cumprimento dos deveres. Foi o início da Idade da 
Trevas, no sentido desse recrudescimento, a Era Medieval (250-1500 d.C.). 
O cristianismo romano (380-395 d.C.) e o crescimento do poder da Igreja como religião e 
Estado (depois da queda de Roma), monopolizando as verdades de forma dogmática e 
contrariando o pensamento filosófico grego livre de crenças, favoreceu interpretações da 
natureza, como a geocêntrica (a Terra como centro do Universo), estendendo essa 
estagnação científica e cultural por mil anos, durante toda a Idade Média. 
Filósofos cristãos, como Santo Agostinho (354-430 d.C.), Boécio (480-525 d.C.) e São 
Tomás de Aquino (1225-1274), propunham a harmonia entre as escrituras cristãs e seus 
dogmas com as filosofias dos gregos Platão e Aristóteles. Também buscavam a 
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hegemonia da Igreja no pensamento filosófico em várias de suas dimensões, a exemplo 
da Metafísica, Ética, Epistemologia, entre outras. 
A filosofia grega arquivada na biblioteca de Alexandria foi traduzida para o árabe entre 
800 e 950 d.C., o que permitiu a era de ouro do pensamento filosófico islâmico. 
 
Pensadores como Avicena (980-
1037) e Alhazen (965-1040), este 
tido como o primeiro cientista do 
mundo islâmico, usaram o 
Método Científico em suas 
descobertas pela primeira vez. 
Seus trabalhos e métodos em 
Óptica produziram grande 
influência nos filósofos e 
cientistas europeus na 
Renascença. 
A Renascença viu surgir o pensamento filosófico-científico ocidental com força, 
retomando os trabalhos da filosofia grega antiga. 
 
A divergência filosófica entre racionalistas e empiristas permanecia. 
RACIONALISTAS X EMPIRISTAS 
Vários foram os pensadores de alta relevância e alguns 
tiveram importância completamente transformadora na 
filosofia da Ciência. Vamos conhecê-los. 
Francis Bacon (1561-1626 d.C.) não foi o primeiro 
cientista experimental que se tem notícia; Alhazen, no 
mundo islâmico, e outros conduziram experimentos 
séculos antes. A enorme importância de Bacon se deveà sua estruturação do Método Científico. Para ele, o 
propósito da Ciência era a qualidade de vida das 
pessoas e, para tanto, a Ciência deveria seguir sem 
influência da Igreja, distante de dogmas e ser 
estruturada em um método para alcançar seu intento, 
colocando a experiência prática em nível fundamental 
de importância. 
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Bacon foi além da mera observação dos fenômenos, ele propunha a experimentação 
ativa, induzida e repetitiva em busca das verdades da natureza. Em 1620, com a 
publicação de seu livro Novum Organum, foi o primeiro a explicar seu método de 
raciocínio e experimentação com três pilares: 
Observação Dedução Experimentação 
Ele nos ensinou a lutar contra as quatro barreiras psicológicas que perturbam a trajetória 
científica, as quais chamou de ídolos da mente: 
 
Segundo Bacon, devemos lutar contra todos esses ídolos para alcançar o 
conhecimento sobre a natureza e o mundo. A filosofia de Bacon coloca a 
experimentação ativa e prática em primeiro plano na ciência. 
Criticado por não considerar que a formulação teórico-hipotética pura poderia produzir 
relevantes saltos científicos, Bacon introduziu uma fundamental mudança no modo de 
pensar em ciências com sua lógica de pensamento científico, a filosofia da Técnica 
Científica. 
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Galileo Galilei (1564-1642, d.C.), conhecido como o 
teórico do empirismo, aquele que nos ensinou 
didaticamente que a experimentação física era 
fundamental à compreensão dos fenômenos da natureza. 
Em seu famoso livro Discorsi e dimostrazioni 
matematiche intorno a due nuove scienze, attenenti alla 
meccanica e i movimenti locali, Galileo descreve suas 
observações, suas hipóteses, seus modelos e suas 
conclusões fenomenológicas. Tendo por fundamento a 
experiência natural, mesmo sem os recursos atuais, 
Galileo descreveu os fenômenos de fricção e como o 
movimento se processa sem fricção, o que é algo genial. 
 
 
Em sua descrição sobre a queda-livre de uma pena e uma 
bola de canhão, concluiu de forma correta que ambos 
chegariam ao solo simultaneamente na ausência de atrito 
com ar atmosférico. Com isso, ele nos ensina a pensar de 
forma isenta, analisando cada efeito e sua ausência. 
Depois de Galileo, cujos ensinamentos nos foram 
deixados como legado, não podemos desconsiderar o 
poder do Método Científico para toda a Ciência e para a 
humanidade. 
 
René Descartes (1596-1650, d.C.), autor do 
aforismo “Penso, logo existo”, buscava verdades 
inquestionáveis a partir das quais pudesse construir seu 
raciocínio e pensamento científico. Encontrou, ao propor 
sempre duvidar de tudo, a certeza da própria existência 
que chamou de primeira verdade, seu primeiro axioma. 
Assim, em 1637, com seu livro Discurso do Método, 
propôs seu método de raciocínio cartesiano: 
Duvidar de tudo 
Procurar verdades inquestionáveis (axiomas) 
Deduzir novas verdades a partir desses axiomas 
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METODOLOGIA CIENTÍFICA 
Vamos imaginar que um ser humano teve contato com uma civilização inteligente 
extraterrestre jamais conhecida e recebeu conhecimentos médicos sobre fisiologia 
humana, estrutura molecular e genética, com saberes sobre algumas doenças para as 
quais não temos cura ou solução ainda. Considerando que essa pessoa tenha recebido 
autorização para usar tais conhecimentos de cura sem, no entanto, revelá-los, não é difícil 
imaginar que ela seria alçada a patamares divinos, um semideus, diriam alguns. 
Mesmo que isso ocorresse atualmente, com todo o conhecimento científico vigente, não 
poderíamos saber como aquelas doenças e problemas médicos foram curados e, 
fatalmente, reverenciaríamos esse indivíduo como alguém enviado pelos céus. Caso 
alguém suscitasse a possibilidade de essa pessoa ter adquirido conhecimentos de uma 
outra civilização, a população afetada com as tais doenças elevaria as mãos ao 
“semideus” não se importando com a hipótese levantada, ainda que muito razoável. 
Essa pequena paródia, mais parecida com um filme de ficção científica, serve para nos 
mostrar o quão frágil somos acerca de nossas limitações cientificas. 
SAIBA MAIS 
Nos últimos anos, quando a Física estava por acreditar que faltava pouco para 
compreendermos a natureza universal com todo o conhecimento adquirido ao longo de 
séculos e com o trabalho de milhares de cientistas, um pequeno grupo de astrofísicos 
estava preocupado em saber se nosso Universo estaria expandindo, contraindo ou se 
seria estacionário, como previsto nas soluções das equações da relatividade geral de 
Albert Einstein (1879-1955). 
Após um trabalho de anos, que promoveu grande desenvolvimento de técnicas de 
rastreamento de Supernovas tipo IA*, a conclusão desse grupo — que já não era tão 
pequeno assim tamanha a relevância de suas descobertas — foi que nosso Universo 
visível está em expansão acelerada! Isso causou um choque em toda a comunidade 
mundial de físicos, pois não era previsto nem imaginado. 
Se estávamos em expansão, acreditava-se que seria com desaceleração, pois a força 
gravitacional universal é atrativa e assim o Universo visível deveria desacelerar. Mas 
todos os dados foram revistos por mais grupos que refizeram medidas de todas partes, 
de todos os radiotelescópios e a conclusão, em 1998, foi que aquele grupo tinha razão: 
nosso Universo está em expansão acelerada! 
Saiba mais sobre a relação entre história e Método Científico. 
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*Supernovas tipo IA: São estrelas em colapso gravitacional que emitem radiação como 
um farol de navegação e assim permitem que se possam usar essas informações para 
triangular sua localização a partir do deslocamento para o vermelho (redshift) dessa 
radiação. 
A Metodologia Científica é o estudo do processo adotado para alcançar os propósitos do 
Método Científico: 
 
 
1) Experimentação é a observação dos fenômenos, sejam 
físicos ou não. Qualquer fenômeno requer experimentação ou 
observação. Antes de qualquer coisa, sem nos apegarmos a 
crenças, ideologias, dogmas ou opiniões, devemos observar os 
fenômenos por experimentação. Qualquer fenômeno científico 
é passível de observação e precisa ser primeiramente 
observado por experimentos amplos, não limitadores das 
considerações, livres de crenças e ideologias, e os dados 
gerados devem ser completamente respeitados. 
 
ATENÇÃO 
Crenças devem ser respeitadas, é claro, mas, do ponto de vista humano e filosófico, não 
devem interferir nas observações de uma área científica. A isenção do ato de 
experimentar é fundamental ao método. Para se ter noção desse preceito, atualmente, um 
observador físico ideal deve ser uma máquina, um detector, um sensor. Deve apenas 
medir, isentamente, placidamente, sem pensamentos, sem opiniões, sem sentimentos; 
algo de enorme dificuldade para um ser humano. 
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2) Hipótese é a formulação sobre o que se intui que ocorrerá, o 
que produzirão os fenômenos observados. Hipóteses são 
sugestões acerca do que acontece, dos fenômenos, dos 
mecanismos, da matemática, dos processos, dos meios, enfim, 
tudo que possa ter produzido os dados observados com o 
intuito de formular modelos ou modelagens. 
a) Modelo ou projeto é uma fase da 
hipotetização, a transformação das ideias 
hipotéticas em moldes estruturados, 
articulados, que explicam os mecanismos, 
os fenômenos observados a partir de 
delimitações. Dito de outra maneira, na 
mecânica de Newton, com suas leis e todo o 
resultado de séculos de estudo da mecânica 
do movimento, os fenômenos térmicos não 
são introduzidos diretamente. Isso não 
significa que Newton não os conhecia, mas que optou pela modelagem dos fenômenos 
mecânicos do movimento sem as complexidades adicionais das ciências térmicas. 
Os modelos tratam as hipóteses a fim de simplificar as possíveis respostas e dúvidas 
sobre os fenômenos que produziram os dados experimentados. Um modelo é uma 
simplificação de fenômenos, idealizado. Estará sempre limitado às suas concepções 
iniciais. 
A partir de modelos hipotéticos, pode-se adicionar outras complexidadespara avançar na 
compreensão dos fenômenos pesquisados. 
EXEMPLO 
O problema do Oscilador Harmônico Simples Horizontal é modelado como 
unidimensional, sem qualquer fricção (atrito) e sem forças externas. A partir da 
compreensão das soluções e fenomenologia desse modelo, concordando com os 
experimentos, outra complexidade é introduzida, resultando no modelo do Oscilador 
Harmônico Amortecido, quando incluímos fricção, e do Oscilador Harmônico Amortecido 
Forçado, quando introduzimos, além de fricção, força externa harmônica. 
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b) A modelagem é parte fundamental inerente à 
hipótese, delimitando a questão em parâmetros 
menos complexos. Assim, podemos afirmar que 
todos os modelos físicos que resultaram em leis 
físicas são delimitados em intervalos de validade 
escalar de energias e de dimensões, são modelos 
efetivos da realidade física. 
 
A delimitação dos modelos, das teorias e das leis físicas é recorrente, pois todas as 
teorias físicas são efetivas. Após a propositura de um modelo teórico ou fenomenológico, 
realiza-se a confrontação do modelo proposto com os dados observados 
experimentalmente. 
EXEMPLO 
A mecânica newtoniana é uma teoria efetiva do estudo do movimento mecânico dos 
corpos rígidos, ou seja, ela não tem condições de explicar fenômenos térmicos ou 
quânticos. Significa que essa teoria tem limite de validade de baixas velocidades (quando 
comparada à velocidade da luz), dimensões não quânticas (não explicando fenômenos do 
Universo das partículas fundamentais e ou de escalas pequenas), e não explica 
fenômenos de larga escala do Universo, regidos pela relatividade geral. 
 
 
 
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c) Teste dos modelos é fase, também fundamental, 
em que os modelos serão testados dentro de seus 
limites de validade e parametrizações hipotetizadas, 
confrontando dados obtidos da experimentação e da 
observação. Por meio de gráficos, com tratamento 
estatístico, expõem-se os dados dos fenômenos com 
suas curvas representativas, muitas vezes utilizando 
dados simulados, gerados pelo modelo de simulação, 
com curvas teóricas ou teórico-simuladas. 
EXEMPLO 
Atualmente, com o desenvolvimento das simulações computacionais, o confronto de 
resultados não é realizado somente por via de curvas gráficas, mas também por 
simulações dos fenômenos completos em computador. Com o confronto de resultados, 
modelo versus fenômeno, dentro de parâmetros das ciências estatísticas, e quando 
reproduzidos os mesmos resultados por diferentes grupos de pesquisadores e 
laboratórios, chega-se às conclusões necessárias para se propor uma tese, ou teoria. 
 
3) Tese ou Teoria. Com o acordo entre hipóteses, com a 
modelagem dentro dos limites estabelecidos por elas, 
confrontados os resultados do modelo com os experimentos 
por testes científicos com rigores estatísticos, e verificados os 
resultados por outros grupos científicos, pode-se então elevar o 
modelo à condição de tese ou teoria. De acordo com o Método 
Científico, teoria é o estágio final de uma investigação 
científica, quando não restam mais dúvidas quanto aos 
aspectos mais fundamentais de um fenômeno. 
 
 
 
 
 
 
 
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VERIFICANDO O APRENDIZADO 
3. Leia o seguinte enunciado e marque a alternativa correta: 
Sempre que observo um fenômeno da natureza, busco em meu interior, em minhas 
experiências de vida, a resposta ao que observei. 
a) Devemos combinar o Método Científico às nossas opiniões na busca de compreensão 
de um fenômeno. 
b) Nossas hipóteses são os elementos fundamentais à compreensão de um fenômeno, 
pois sempre será possível que não tenhamos condições de medir todos os aspectos do 
fenômeno. 
c) Como o Método Científico tem a hipótese como uma de suas características 
fundamentais, devemos usá-la de forma ampla, buscando os recursos de nossas 
experiências pessoais como auxílio ao método. 
d) Essa afirmativa é contrária a séculos de evolução do conhecimento científico. Sempre 
que observarmos um fenômeno, devemos seguir o Método Científico como rota à 
compreensão desse fenômeno de forma isenta. 
e) Nenhuma das respostas anteriores. 
 
Comentário 
Parabéns! A alternativa D está correta. 
O Método Científico refuta qualquer forma de investigação não isenta. As experiências 
pessoais, opiniões, sentimentos e crenças não são o caminho da Ciência, como bem 
ensinado por filósofos e cientistas desde a Renascença. 
 
 
 
 
 
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4. Considere o problema da queda livre da pena e da bola de canhão, apresentado por 
Galileo Galilei. Ele afirmou que se retirássemos as forças de atrito do ar atmosférico no 
ambiente do experimento, tanto a pena quanto a bola de canhão chegariam ao solo 
simultaneamente, desde que lançadas no mesmo instante e da mesma altura vertical. 
Marque a resposta que melhor se adequa a como Galileo conseguiu chegar a essa incrível 
conclusão, já que não possuía condições de realizar o experimento em sua época, tendo 
sido realizado 500 anos depois. 
a) Galileo simplesmente propôs essa conclusão sem qualquer base plausível. 
b) Galileo não sabia a resposta e escolheu a que lhe traria mais atenção da comunidade 
científica. 
c) Galileo realizou o experimento em condições não divulgadas e assim chegou à 
conclusão correta. 
d) Galileo refletiu racionalmente, deduziu a conclusão de experimentos em planos 
inclinados onde, de fato, reduziu o atrito substancialmente, tendo por base seu modelo 
matemático, suas equações cinemáticas, que demonstravam matematicamente suas 
conclusões. 
e) Nenhuma das respostas anteriores. 
 
Comentário 
Parabéns! A alternativa D está correta. 
Galileo descreveu seu método dedutivo a partir dos experimentos com planos inclinados e 
de queda livre. Apesar de não ter as condições de idealmente realizar o experimento em 
sua época, seguiu um método criterioso e racional, modelou o experimento 
matematicamente e pôde chegar à sua conclusão, na esperança que pudesse ser 
realizada no futuro, como de fato ocorreu. 
 
 
 
 
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A CIÊNCIA MODERNA 
Uma das habilidades humanas básicas é a de medir. Desde a necessidade mais 
elementar até a mais sofisticada, a medida está associada à nossa capacidade científica. 
Contar o número de membros de uma comunidade ou a quantidade de alimentos, de cada 
tipo ou classe, por número de elementos, tamanho ou peso, significa medir. Verificar os 
danos causados por um evento climático ou o resultado de uma batalha entre tribos da 
Antiguidade são procedimentos de medida. Sempre estamos medindo grandezas e 
quantidades em unidades de medidas. 
 
Desde o instante anterior ao acordarmos e iniciarmos o nosso dia, já começamos a medir. 
Estabelecemos um horário de despertar, elegendo o tempo como uma grandeza a ser 
medida, e escolhemos uma quantidade, um valor em unidades dessa grandeza, um 
horário de despertar. Assim, nosso instrumento de medida temporal, o despertador, vai 
nos avisar quando medir a hora que estabelecemos. Nesse exemplo, utilizamos: 
 
 
 
 
 
 
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Isso só para iniciar o dia. 
Sempre que comparamos quantidades de uma grandeza, estamos medindo. Essa medida 
pode ser objetiva ou subjetiva (por exemplo, quando dizemos que determinado alimento é 
mais saboroso que outro). Tudo que puder ser mensurado com técnicas metrológicas – 
de forma isenta, livre de dogmas, crenças, aspectos ideológicos ou religiosos – e puder 
seguir o caminho do Método Científico e suas metodologias, absolutamente tudo que 
cumprir esses requisitos, será considerado Ciência. No entanto, para que haja uma tese, é 
preciso propô-la em hipótese e testá-la, confrontando-a com a Metrologia. Assim, temos o 
Método Científico completo. 
EXEMPLO 
Suponhamos que um juiz de execuções penais, que lida com os detentos e apenados pela 
Justiça, queira levantar informações sobre a efetividade e os resultados de modelos de 
cumprimento de penas diferentes. Necessariamente, esse juiz terá de estabelecer os 
diferentes modelos a comparar (identificar os detentospor classes de periculosidade, 
tamanho da pena, tipos criminais, idade, sexo, educação, para citar algumas), fazer um 
levantamento estatístico dos resultados quanto à efetividade da pena (tranquilidade das 
casas de detenção, recorrência dos libertados), e comparar as estatísticas, da forma mais 
isenta, para cientificamente aferir os modelos de cumprimento de penas. Portanto, o 
Método Científico também alcança o campo das ideias filosóficas quando a medida 
estiver em questão. 
Grandezas físicas de base 
A medida em Física, como em qualquer Ciência, traduz uma comparação. Para medir, 
precisamos identificar a grandeza a ser mensurada e uma referência em unidades 
significativas para que possamos comparar nossa medida com o padrão dessa 
grandeza. 
 
 
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O Sistema Internacional de Unidades (SI) definiu o metro (m) como unidade física básica 
de comprimento. Isso significa que, para medirmos a grandeza comprimento com 
instrumentos de medida padronizados e calibrados de acordo com o SI, compararemos o 
metro (m) padrão com o que estivermos medindo dessa grandeza. Se quisermos medir a 
grandeza massa, utilizaremos a unidade padronizada do quilograma (Kg). 
Todas as grandezas físicas possuem padrões no SI, ou seja, unidades de medida SI. 
GRANDEZA UNIDADE SÍMBOLO 
Comprimento metro m 
Massa quilograma kg 
Tempo segundos s 
Corrente elétrica ampere a 
Temperatura kelvin k 
Quantidade de matéria mol mol 
Intensidade luminosa candela cd 
O QUE SÃO ESCALAS DE MEDIDA? 
Escalas são uma sequência ordenada de pontos em um equipamento de medida 
ou em uma representação gráfica de medidas, podendo ser dispostas em múltiplos 
ou potências da unidade da grandeza física. 
A escala pode ser linear, quadrática, exponencial, logarítmica etc. Assim, o comprimento, 
com sua unidade de medida SI, o metro, tem variações lineares desde o zero até o 
infinitamente grande, pertencentes ao conjunto matemático dos números reais. 
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As medidas negativas de comprimento, dizem respeito à orientação (sentido) e origem 
(início) da medida. O intervalo linear de comprimentos em metros divide-se em grupos 
chamados de escalas lineares 10-4, 10-3, 10-2, 10-1, 100, 101, 102, 103, 104... do metro. Isso 
equivale a dizer que a escala de comprimentos de medidas de uma residência é de 101 ou 
102 m, enquanto a de uma rodovia com 3.585Km pertence à escala de 107 m, pois o Km 
tem escala de 103 metros. 
 
Sistema Internacional de Unidades: SI. — Fonte: INMETRO/CICMA/SEPIN, 2012. 
O SISTEMA INTERNACIONAL DE UNIDADES (SI) E AS UNIDADES 
FÍSICAS BÁSICAS 
De acordo com o Sistema Internacional de Unidades, são sete as grandezas físicas 
básicas convencionadas e suas dimensões canônicas: 
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Essas grandezas são independentes por convenção. Todas as outras, chamadas de 
grandezas derivadas, podem ser definidas por equações algébricas baseadas em leis 
físicas em termos das grandezas básicas. Logo, no escopo dimensional, força é definida 
como M L T-2, ou seja, em termos de unidades de medidas, 1 Newton = 1 kg m / s2 para as 
unidades SI de força, massa, comprimento e tempo. Isso não significa, de modo algum, 
serem essas sete mais importantes, ou suficientes para todos os fenômenos físicos. A 
questão está na medida experimental. 
 
Sistema Internacional de Unidades: SI. — INMETRO/CICMA/SEPIN, 2012. 
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É importante ressaltar que, embora as grandezas físicas básicas sejam independentes, 
suas unidades básicas (metro, quilograma, segundo, ampere, kelvin, mol e candela) não 
são, pois se definem umas em relação às outras: 
• O metro incorpora o segundo; 
• O ampere incorpora o metro, o quilograma e o segundo; 
• O mol incorpora o quilograma; 
• A candela incorpora o metro, o quilograma e o segundo. 
As unidades básicas SI são assim definidas: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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REDEFINIÇÃO DO SISTEMA INTERNACIONAL DE UNIDADES - SI 
Historicamente, algumas unidades básicas SI foram definidas originalmente em termos 
de peças e materiais físicos sólidos, como o caso do metro padrão e do quilograma 
padrão. Com a evolução, tivemos as seguintes atualizações: 
 A definição do metro padrão foi modificada para a atual definição em termos da 
constância da velocidade da luz no vácuo. 
 As unidades básicas Kelvin, ampere e mol também foram alteradas em função de 
constantes fundamentais da natureza: 
 
Kelvin será função da 
constante de Boltzmann. 
Ampere será função da 
carga do elétron. 
Mol será função do número 
de Avogadro. 
Todos esses desenvolvimentos dos processos de medida e definição destas três 
unidades básicas, já haviam sido obtidos, mas somente em fins de 2018, conseguiu-se 
aprovar a nova definição do quilograma padrão em função da constante de Planck, sendo 
implementadas conjuntamente em 20 de maio de 2019. 
Balança de Kibble para a nova definição da massa e do quilograma em função da 
constante de Planck. 
 
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Assim, as sete unidades básicas SI são função de constantes fundamentais da 
natureza. 
Princípio da Medida 
Esta é a essência do Princípio da Medida: toda medida possui uma incerteza. Não é 
possível medir com exatidão ou perfeita acuracidade; nenhuma medida é ou será exata. 
Devemos, então, observar esse princípio, lidando com as incertezas oriundas dos 
instrumentos, dos processos e dos fenômenos físicos, ainda que exatos nas equações 
teóricas. 
Padrão Físico do quilograma até maio / 2019. 
 
Se lançarmos uma pequena esfera sólida de um plano inclinado, descrevendo uma 
parábola, e forrarmos o solo na área de impacto da esfera com papel carbono, de modo a 
marcarmos os pontos de impacto, perceberemos que, a cada lançamento e impacto, a 
probabilidade da esfera marcar o carbono em pontos diversos não é desprezível. Na 
verdade, para cada altura de lançamento, encontraremos uma dispersão de pontos de 
impacto no solo, evidenciando-a. 
 
 
 
 
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EXEMPLO 
Quando localizamos um endereço por meio de um GPS, o equipamento usa as antenas do 
sistema de telefonia celular e mais informações de satélites GPS. Ao combinar essas 
informações, o sistema nos apresenta o local mais provável, estatisticamente, da 
localização requerida e a sombra de entorno é o desvio desse resultado, a incerteza dessa 
medida. Quanto mais precisa a localização do sistema GPS, por usar mais antenas e 
satélites, menor a incerteza e consequentemente menor a sombra de desvio de 
localização. 
O ponto central pode variar, pois o resultado é estatístico. Dessa forma, todo dado medido 
não representará mais um ponto e sim um intervalo de validade da grandeza medida, um 
valor nominal e sua incerteza que, em termos de diagramas de representação gráfica, 
seria representada como uma barra de desvio, um intervalo de valores da grandeza 
medida entre o valor nominal menos o desvio e o valor nominal mais o desvio, formando 
um binômio de elementos, um intervalo de confiabilidade. 
Por exemplo, o alcance horizontal do problema de lançamento de projéteis da esfera 
sólida, de um plano inclinado ao solo, de uma certa altura. Podemos representar esse 
dado de alcance numa coordenada x como R = xm ± δx considerando uma amostra de 
dados de lançamentos, obtendo um valor mediano dos alcances de impacto, xm, para uma 
mesma altura de lançamento, com um desvio estatístico δx. Repare que se 
representarmos graficamente R, alcance, este será representado como uma barra 
variando desde xm - δx até xm + δx, no intervalo de validade da dimensão x. Isso significa 
que toda medida tem uma incerteza, não sendo possível alcançar a exatidão. 
 
 
É importante notar que esse efeito não 
desaparecerá se aprimorarmos nossa 
técnica, apesar de podermos 
aperfeiçoar os resultados, pois sempre 
haverá dispersão. Logo, podemos 
afirmar que todo dado medido tem sua 
incerteza, ou desvio. Essa dispersão 
dos resultados da amostra de dados 
será tratada matematicamente com 
estatística padrão, sendo as incertezaso resultado de desvios. 
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SAIBA MAIS 
Busque na internet o documento Avaliação de dados para Medição, Guia para expressão 
de incerteza de medição GUM 2008 e consulte as definições dos conceitos de medição, 
resultado de medição, desvios ou incertezas de medição, erros de medida, erros 
sistemáticos e aleatórios. 
ALGARISMOS SIGNIFICATIVOS 
São os algarismos representativos que compõem o valor de uma grandeza, excluindo-se 
os zeros à esquerda. Eles indicam a precisão dessa medida, na qual o último algarismo 
representado é incerto. Zeros à direita são significativos. Na tabela, podemos observar um 
mesmo valor do deslocamento de uma partícula descrito com diferentes números de 
algarismos significativos. 
X (mm) No. de significativos 
57,896 5 
5,79 x 101 3 
5,789600 x 101 7 
0,6 x 102 1 
A escolha do número de significativos que será usado depende da grandeza, do processo 
de medida e do instrumento utilizado. O número de algarismos significativos de uma 
grandeza será determinado por sua incerteza. 
 
 
 
 
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Incorreto Correto 
5,30 ± 0,0572 5,30 ± 0,06 
124,5 ± 11 125 ± 11 
0,0000200 ± 0,0000005 (200,0 ± 5,0) x 10-7 
(45 ± 2,6) x 101 (45 ± 3) x 101 
REPRESENTAÇÃO GRÁFICA 
A representação gráfica será executada levando-se em consideração os dados medidos 
de uma amostra, com suas incertezas representadas como barras de desvio, ou barras de 
incertezas, nas quais os dados serão interpretados como intervalos representados 
graficamente, tendo sido escalonados para essa representação, seja em uma mídia de 
representação linear, quadrática, exponencial ou logarítmica. As barras representarão o 
intervalo de confiança da grandeza mensurada. 
V (m/s) X(m) 
1,84 ± 0,55 4,60 ± 0,05 
2,76 ± 0,82 6,90 ± 0,05 
3,99 ± 1,20 11,10 ± 0,05 
9,88 ± 2,96 20,60 ± 0,05 
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Representação gráfica linear 
 
As barras de desvios ou de incertezas do espaço, na abscissa, não foram representadas, 
pois são menores que os pontos. Foi ajustada uma reta média que representa os pontos 
experimentais. 
A reta mediana é traçada procurando passar a reta equilibradamente o mais 
próximo possível do maior número de pontos, sempre dentro das barras de desvio, 
e não há uma âncora de representação, como a origem ou outro ponto. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Verificando o Aprendizado 
5. De forma simplificada, como se pode definir o que é Ciência? 
a) Todas as crenças, culturas, mitologias, folclores, rituais e demais atividades humanas 
são a base do conceito de Ciência. 
b) Não há uma única definição, toda atividade humana pode ser classificada como 
Ciência. 
c) Todas as atividades de investigação, que se utilizem dos preceitos do Método 
Científico somadas às experiências humanas e de vida, inclusive as crenças humanas 
sobre uma atividade, serão consideradas Ciência. 
d) Tudo que puder ser medido, com os princípios do Método Científico e suas 
metodologias, de forma objetiva e isenta, livre de dogmas, crenças e opiniões, pode ser 
classificado como Ciência. 
e) Ciência não pode ser classificada em termos do Método Científico e suas 
metodologias, mas sim dos avanços científicos alcançados. 
 
Comentário 
Parabéns! A alternativa D está correta. 
Ciência não pode depender de dogmas, culturas, folclores, crenças mitológicas de 
qualquer ordem ou de experiências de vida. A Ciência fundamenta-se no Método 
Científico, em suas metodologias e na medida experimental, sempre de forma isenta. 
 
 
 
 
 
 
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6. Anos atrás, um cientista afirmou ter encontrado um monopolo magnético, uma 
partícula de carga magnética não prevista na teoria eletrodinâmica de Maxwell. Essa 
busca era o desejo de Paul M. Dirac para explicar a origem da quantização da carga 
elétrica. No entanto, toda a comunidade de Física que se dispôs a repetir o experimento 
descrito por esse cientista não conseguiu observar o tão procurado monopolo magnético. 
O que você diria que ocorreu? 
a) Os demais Cientistas simplesmente não conseguiram encontrar o monopolo 
magnético. 
b) O trabalho descrito pelo suposto descobridor do monopolo magnético deve ser 
considerado falso ou, no mínimo, inconclusivo. 
c) O monopolo magnético não foi observado com os preceitos do Método Científico e, 
portanto, os demais cientistas não conseguiram reproduzir o experimento. 
d) Os demais cientistas não tinham os recursos necessários ao experimento. 
e) Os demais cientistas falsearam resultados para não divulgarem suas descobertas. 
 
Comentário 
Parabéns! A alternativa B está correta. 
Todo trabalho científico que passou pelo crivo do Método Científico e suas metodologias 
deve ser reproduzível dentro dos princípios da medida. Se nenhum outro cientista 
conseguiu reproduzi-lo com o resultado alegado, e não faltariam interessados nesse tema, 
o trabalho só pode ser considerado falso ou inconclusivo. 
 
 
 
 
 
 
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O desenvolvimento do Método Científico, desde a Grécia Antiga até os dias atuais, 
relaciona-se à nossa evolução científica, tecnológica e do próprio conhecimento, o que 
chamamos de Teoria do Conhecimento. Não é possível fazer Ciência e seus recursos sem 
o Método Científico e suas metodologias. 
Todo processo de conhecimento é uma realização do Método Científico. Qualquer 
procedimento de medição de grandeza científica, recorre às suas metodologias. Nenhum 
texto, artigo, tese, monografia e normas técnicas pode deixar de tê-lo em sua concepção. 
Qualquer pesquisa, para que possa ser validada e certificada, segue o Método Científico. 
Em resumo, nossa compreensão da natureza em suas amplas dimensões científicas 
somente existe graças ao Método Científico. 
REFERÊNCIAS 
BRASIL. Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia. Resumo do Sistema 
Internacional de Unidades (SI). Tradução da publicação do BIPM. Rio de Janeiro: 
INMETRO, 2006. 
BRASIL. Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia. Sistema Internacional 
de Unidades (SI). Tradução da publicação do BIPM. Rio de Janeiro: INMETRO, 2012. 
BRASIL. Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia. GUM - Guia para a 
Expressão da Incerteza de Medição 2008. Tradução da publicação do BIPM. Brasília: 
INMETRO, 2012. 
BRASIL. Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia. Redefinição do SI. Rio 
de Janeiro: INMETRO, 2018. 
DE OLIVEIRA, A. J., Bóson de Higgs: Divulgada foto mais nítida da partícula. In: Revista 
Galileu, 2 set. 2015. 
HALLIDAY, D.; RESNICK, R. Fundamentos da Física. Volumes 1, 2, 3 e 4. Rio de Janeiro: 
LTC, 2012. 
KIM, D. Livro da Filosofia. Tradução de The Phylosophy Book, São Paulo: Globo Livros, 
2016. 
39 / 39 
 
NUSSENZVEIG, H. M. Curso de Física Básica. Volumes 1, 2, 3 e 4. Ed. São Paulo: Edgar 
Blucher, 1998. 
PIACENTINI, J. J. et al. Introdução ao laboratório de Física. Florianópolis: Ed. UFSC, 2012. 
SEARS & ZEMANSKY; YOUNG, H.; FREEDMAN, R. A. Física I, II, III e IV. 12. ed. São Paulo: 
Pearson, 2009. 
EXPLORE+ 
1) Leia os textos a seguir e aprofunde seu conhecimento: 
• Estimando a distância de galáxias, Laboratório Interinstitucional de e-Astronomia 
(LIneA), 2015. 
• Bóson de Higgs: divulgada foto mais nítida da partícula, de André Jorge de Oliveira, 
Revista Galileu, 2015. 
• Sistema Internacional de Unidades – SI, 1ª Edição Brasileira da 8ª Edição do BIPM, 
Rio de Janeiro, 2012. 
• Dicionário de Física Ilustrado, Horácio Macedo, São Paulo: Nova fronteira, 1976. 
• Redefinição do Sistema Internacional de Unidades de Medidas, INMETRO, 2018. 
• Precisão e acurácia: você sabe a diferença? CPE Tecnologia, 2019. 
2) Pesquise sobre a Convenção do Metro e sua relação com o Bureau Internacional de 
Pesos e Medidas (BIPM) 
3) Acesse o site do Projeto Phet - Interactive Simulations, University of Colorado, e 
experimente o simulador do problema de um pêndulo, onde se pode adicionar atrito e 
ajustar a massa e o comprimento do fio. 
CONTEUDISTA 
Gentil Oliveira Pires 
 
DESCRIÇÃO
A importânciada pesquisa de modelos qualitativo e quantitativo para a produção acadêmica. A
pesquisa de campo e a análise de dados nas abordagens quantitativa e qualitativa.
PROPÓSITO
Compreender as características da pesquisa de abordagens qualitativa e quantitativa, bem como
suas possíveis interfaces. Perceber que a análise de dados, proveniente da pesquisa de campo,
pode tornar-se instrumento eficaz na pesquisa acadêmica, em ambas as abordagens.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
Distinguir pesquisa quantitativa de pesquisa qualitativa a partir da relevância da pesquisa de
campo para a produção acadêmica
MÓDULO 2
Reconhecer a importância da análise de dados para a pesquisa acadêmica no âmbito das
análises quantitativa e qualitativa
INTRODUÇÃO
DEPOIMENTO (PROFESSORA MIRIAN
GOLDENBERG)
Quando inicio um curso presencial de metodologia de pesquisa, noto no semblante de meus
alunos uma profunda desconfiança. Costumo perguntar sobre suas experiências anteriores com a
disciplina e, salvo raríssimas exceções, eles são unânimes em afirmar que a matéria foi muito
desinteressante em suas experiências anteriores. Com essa recepção, não é fácil iniciar um curso
de dezenas de horas, semanas ou meses. Ao final do curso, no entanto, sempre encontro alunos
entusiasmados, empolgados com seus projetos, e não raro com manifestações de carinho e
gratidão. Aqui quero compartilhar um pouco dessa experiência prazerosa em sala de aula e
mostrar que a pesquisa científica não é algo de apenas alguns eleitos, podendo ser exercida em
qualquer campo de estudo.
Metodologia científica é muito mais do que algumas regras de como fazer uma pesquisa; ela
auxilia a refletir e propicia um “novo” olhar sobre o mundo: um olhar científico, curioso, indagador e
criativo. Portanto, a pesquisa não se reduz a certos procedimentos metodológicos. A pesquisa
científica exige criatividade, disciplina, empatia, flexibilidade, humildade, interesse genuíno,
organização e sensibilidade, baseando‐se no confronto permanente entre o possível e o
impossível, entre o conhecimento e o desconhecimento.
Nenhuma pesquisa é totalmente controlável, com início, meio e fim previsíveis. A pesquisa é um
processo em que é impossível prever todas as etapas. O pesquisador está sempre em estado de
tensão porque sabe que seu conhecimento é parcial e limitado — o “possível” para ele. Nesse
mesmo sentido, não existe um único modelo de pesquisa. Neste tema veremos um dos caminhos
possíveis: aquele que tenho buscado seguir nas últimas quatro décadas e com diferentes
abordagens de acordo com o tema escolhido.
Todos os pesquisadores precisam estar abertos para um verdadeiro debate de ideias. É a
discussão dos nossos achados que pode contribuir para o amadurecimento de nosso trabalho. A
pesquisa científica exige um exercício permanente de crítica e autocrítica. Por isso, aceite o
estudo desse tema como um prazeroso desafio: um exercício para aprender a pensar
cientificamente, com clareza, criatividade, organização e, acima de tudo, sabor.
MÓDULO 1
 Distinguir pesquisa quantitativa de pesquisa qualitativa a partir da relevância da
pesquisa de campo para a produção acadêmica
CONSTRUINDO O PROBLEMA DA PESQUISA
Fazer uma pesquisa significa aprender a pôr ordem nas próprias ideias. Não importa tanto o tema
escolhido, mas a experiência de trabalho de pesquisa. Trabalhando‐se bem, não existe tema que
seja tolo ou pouco importante. A pesquisa deve ser entendida como uma ocasião singular para
fazer alguns exercícios que servirão por toda a vida. O trabalho de pesquisa deve ser instigante,
mesmo que o objeto não pareça ser tão interessante. O que o verdadeiro pesquisador busca é o
jogo criativo de aprender como pensar e olhar cientificamente.
 COMENTÁRIO
Aqui falamos em objeto da pesquisa e não objetivos. Em Metodologia Científica, o que
chamamos objeto da pesquisa é exatamente aquilo que será pesquisado. Já os objetivos de
uma pesquisa dependerão de muitos fatores, inclusive do tipo de objeto pesquisado.
 Fonte: fizkes | Shutterstock
QUALQUER TEMA OU ASSUNTO DA ATUALIDADE PODE SER
OBJETO DE UMA PESQUISA CIENTÍFICA.
É preciso ter estudado muito, possuir uma sólida bagagem teórica e muita experiência de
pesquisa para enxergar o que outros não conseguem ver. O pesquisador experiente descobre
assuntos que podem parecer banais e os transforma em pesquisas fecundas.
O desejo de reconhecimento não só leva o cientista a comunicar os seus resultados, mas também
o influencia na escolha de temas e métodos que tornem seu trabalho mais aceitável por seus
pares. Quanto maior a consciência de suas motivações, mais o pesquisador é capaz de evitar os
desvios (ou bias) próprios daqueles que trabalham com a ilusão de serem orientados apenas por
propósitos científicos.
Existe uma hierarquia de legitimidade dentro do campo científico traçada de acordo com os temas
que dão prestígio, recursos para a pesquisa, cargos universitários, publicações em editoras
prestigiadas etc. Assim, falar de “liberdade de escolha” nesse campo é desconsiderar as pressões
(evidentes ou sutis) às quais o pesquisador permanentemente se submete. Tendo consciência de
tais pressões, muitas dificuldades e contradições podem ser mais bem compreendidas na escolha
de um assunto e na sua formulação como um projeto de pesquisa.
Nessa “arte” de fazer pesquisa, o jogador precisa ter alguns atributos para poder entrar no campo
científico. Alguns podem ser vistos como internos, atributos pessoais que devem fazer parte do
indivíduo que deseja ser um pesquisador:
Clareza
Concentração
Criatividade
Curiosidade
Delicadeza
Disciplina
Empatia
Equilíbrio
Flexibilidade
Humildade
Iniciativa
Interesse real
Objetividade
Organização
Paciência
Paixão
Respeito ao entrevistado
Saber escutar
Tranquilidade
Outras qualidades podem ser chamadas de externas, porque dependem da formação científica do
pesquisador. São elas:
BOM DOMÍNIO DA TEORIA
DOMÍNIO DAS TÉCNICAS DE PESQUISA
ESCREVER BEM
EXPERIÊNCIA COM PESQUISA
RELACIONAR OS DADOS EMPÍRICOS COM A TEORIA
As principais etapas da pesquisa científica envolvem a concepção de um tema de estudo, a coleta
de dados, a apresentação de um relatório com os resultados e, em alguns casos, a aplicação dos
resultados. O passo inicial está ligado à formulação do problema e consequente definição do
objeto da pesquisa.
O primeiro passo é tornar o problema concreto e explícito mediante:
 
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Imersão sistemática no assunto
 
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Estudo da literatura existente
 
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Discussão com pessoas que acumularam experiência prática no campo de estudo
A boa resposta depende da boa pergunta. O pesquisador deve estar consciente da importância da
pergunta que faz e deve saber colocar as questões necessárias para o sucesso de sua pesquisa.
O pesquisador, ao escolher seu objeto de estudo, deve pensar em como:
 
PRIMEIRO PASSO
Identificar um tema preciso (recorte do objeto).
 
SEGUNDO PASSO
Escolher e organizar o tempo de trabalho.
 
TERCEIRO PASSO
Realizar a pesquisa bibliográfica (revisão da literatura).
 
QUARTO PASSO
Organizar e analisar o material selecionado.
 
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QUINTO PASSO
Fazer com que o leitor compreenda o seu estudo e possa recorrer aos resultados caso queira dar
continuidade à pesquisa.
Para tanto, o objeto de estudo deve responder aos interesses do pesquisador e ter as fontes de
consulta acessíveis e de fácil manuseio. Quanto mais se recorta o tema, com mais segurança e
criatividade se trabalha. O estudo científico deve ser claro, interessante e objetivo, tanto para as
pessoas familiarizadas com o assunto quanto para as que não são. Muitos acadêmicos se perdem
em parágrafos herméticos que não são compreendidos nem pelos seus pares. O pesquisador não
precisa utilizar termos obscuros para se mostrar profundo. A profundidade e a seriedade do estudo
podem ser mais bem percebidas se o pesquisador utilizar uma linguagem compreensível parao
maior número de alunos e leitores.
A PESQUISA APRESENTA DIFERENTES FASES.
Veremos a seguir:
FASE EXPLORATÓRIA
A fase inicial, que pode ser chamada de exploratória, lembra uma “paquera” de dois adolescentes.
É o momento em que se tenta descobrir algo sobre o objeto de desejo, quem mais escreveu (ou
se interessou) sobre ele, como poderia haver uma aproximação, qual a melhor abordagem (ou
metodologia) dentre todas as possíveis para conquistar esse objeto.
FASE DE ELABORAÇÃO
Em seguida, vem a fase que equivale ao “namoro”, quando há maior compromisso e que exige um
conhecimento mais profundo, uma dedicação quase exclusiva ao objeto de paixão. É a fase de
elaboração do projeto de pesquisa, quando o estudioso mergulha profundamente no tema
estudado.
FASE DE RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS
A terceira fase é o “casamento”, em que a pesquisa exige fidelidade, dedicação, atenção ao seu
cotidiano, que é feito de altos e baixos. O pesquisador deve resolver os problemas que vão
aparecendo, desde os mais simples (como se vestir para realizar as entrevistas) até os mais
cruciais (como garantir a verba para a execução da pesquisa).
FASE DE DIAGNÓSTICO
Por último, a fase de “separação”, em que o pesquisador precisa se distanciar do seu objeto para
escrever o relatório final da pesquisa. É o momento em que é necessário olhar o mais criticamente
possível para o objeto estudado, quando é preciso fazer rupturas, sugerir novas pesquisas. É o
momento de ver os defeitos e as qualidades do objeto amado.
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METODOLOGIA
Quando se fala de metodologia, trata-se de um caminho possível para a pesquisa científica.
O que determina a técnica escolhida é o problema que se quer trabalhar: só se escolhe o
caminho quando se sabe aonde quer chegar.
A importância da pesquisa na vida acadêmica
PESQUISA QUANTITATIVA X PESQUISA
QUALITATIVA
Durante muito tempo, as ciências se pautavam por um modelo quantitativo de pesquisa, em que a
veracidade de um estudo era constatada pela quantidade de pesquisados. Muitos pesquisadores,
no entanto, questionaram a representatividade e o caráter de objetividade com que a pesquisa
quantitativa se revestia.
É PRECISO ACEITAR O FATO DE QUE, MESMO NAS
PESQUISAS QUANTITATIVAS, A SUBJETIVIDADE DO
PESQUISADOR ESTÁ PRESENTE.
Na escolha do tema, dos entrevistados, no roteiro de perguntas, na bibliografia consultada e na
análise do material coletado, existe um autor, um sujeito que decide os passos a serem dados.
Na pesquisa qualitativa, a preocupação do pesquisador não é com a quantidade de indivíduos,
mas com o aprofundamento da compreensão de um grupo social, de uma organização, de uma
instituição, de uma trajetória etc.
 
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 Fonte: Arthimedes | Shutterstock
Ao se pensar nas origens da pesquisa qualitativa em ciências sociais, corre‐se o risco de se
perder em um caminho longo demais que, procurando as origens das origens, não chega jamais
ao fim. Poderia chegar a Heródoto (495 a.C.-425 a.C.) que, descrevendo a guerra entre a Pérsia
e a Grécia, dedicou-se a esboçar os costumes, as vestimentas, as armas, os barcos, os tabus
alimentares e as cerimônias religiosas dos persas e povos circunvizinhos.
HERÓDOTO
Uma boa reflexão sobre a importância de Heródoto nesse contexto, bem como um ótimo
exemplo de pesquisa podem ser encontrados no artigo O selvagem e a História: Heródoto e
a questão do Outro, de Klaas Woortmann. Pesquise-o na plataforma SciELO.
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 Fonte: sianstock | Shutterstock
 COMENTÁRIO
Não pretendendo fazer um caminho tão longo, mas, para situar a questão do uso de técnicas e
métodos qualitativos de pesquisa nas ciências sociais dentro de uma discussão mais ampla,
elucidaremos o debate entre a sociologia positivista e a sociologia compreensiva.
Os pesquisadores que adotam a abordagem qualitativa em pesquisa se opõem ao pressuposto
que defende um modelo único de pesquisa para todas as ciências, baseado no modelo de estudo
das ciências da natureza. Esses pesquisadores se recusam a legitimar seus conhecimentos por
processos quantificáveis que venham a se transformar em leis e explicações gerais. Afirmam que
as ciências sociais têm sua especificidade, o que pressupõe uma metodologia própria. Vamos
conhecê-los?
COMTE
Os pesquisadores qualitativistas recusam o modelo positivista aplicado ao estudo da vida social. O
fundador do positivismo, Augusto Comte (foto), defendia a unidade de todas as ciências e a
aplicação da abordagem científica na realidade social humana. Com base em critérios de
abstração, complexidade e relevância prática, Comte estabeleceu uma hierarquia das ciências, em
que a Matemática ocupava o primeiro lugar e a Sociologia ou “física social”, o último, precedida,
em ordem decrescente, por Astronomia, Física, Química e Biologia. Para Comte, cada ciência
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dependia do desenvolvimento da que a precedeu. Portanto, a Sociologia não poderia existir sem a
Biologia, que não existiria sem a Química, e assim por diante.
 
 Augusto Comte. Fonte: wikimedia.org
Segundo a perspectiva de que o objeto das ciências sociais deve ser estudado como o das
ciências físicas, a pesquisa é uma atividade neutra e objetiva, que busca descobrir regularidades
ou leis, em que o pesquisador não pode fazer julgamentos nem permitir que seus preconceitos e
suas crenças contaminem a pesquisa.
DURKHEIM
 
 Émile Durkheim. Fonte: wikimedia.org
Émile Durkheim (foto), como Comte, preocupado com a ordem na sociedade e com a primazia da
sociedade sobre o indivíduo, também se posicionou a favor da unidade das ciências. Tomando “os
fatos sociais como coisas”, Durkheim (1985) defendia que o social é real e externo ao indivíduo,
ou seja, o fenômeno social, como o fenômeno físico, é independente da consciência humana e
verificável pela experiência dos sentidos e da observação.
Durkheim acreditava que os fatos sociais só poderiam ser explicados por outros fatos sociais, e
não por fatos psicológicos ou biológicos, como pretendiam alguns pensadores de seu tempo.
Defendendo a visão da ciência social como neutra e objetiva, na qual sujeito e objeto do
conhecimento estão radicalmente separados, Durkheim teve uma influência decisiva para que as
ciências sociais adotassem o método científico das ciências naturais.
DILTHEY
Na segunda metade do século passado, alguns pensadores, influenciados pelo idealismo de Kant,
reagiram criticamente ao modelo positivista de conhecimento aplicado às ciências sociais,
acreditando que o estudo da realidade social por meio de métodos de outras ciências poderia
destruir a própria essência dessa realidade, já que esquecia a dimensão de liberdade e
individualidade do ser humano.
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 Wilhelm Dilthey. Fonte: wikimedia.org
A sociologia compreensiva, distinguindo “natureza” de “cultura”, mostrou que era necessário, para
estudar os fenômenos sociais, um procedimento metodológico diferente daquele utilizado nas
ciências físicas e matemáticas. O filósofo alemão Wilhelm Dilthey (foto) foi um dos primeiros a
criticar o uso da metodologia das ciências naturais pelas ciências sociais, em função da diferença
fundamental entre seus objetos de estudo. Nas primeiras, os cientistas lidam com objetos externos
passíveis de serem conhecidos de forma objetiva, enquanto nas ciências sociais lidam com
emoções, valores, subjetividades. Essa diferença se traduz em diferenças nos objetivos e nos
métodos de pesquisa.
Para Dilthey, os fatos sociais não são suscetíveis de quantificação, já que cada um deles tem um
sentido próprio, diferente dos demais, e isso torna necessário que cada caso concreto seja
compreendido em sua singularidade. Portanto, as ciências sociais devem se preocupar com a
compreensão de casos particulares e não com a formulação de leis generalizantes, como fazem
as ciências naturais.
WEBER
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 Max Weber. Fonte: wikimedia.org
O maior representante da chamada sociologiacompreensiva é Max Weber (foto). Para ele, o
principal interesse da ciência social era o comportamento significativo dos indivíduos engajados na
ação social, ou seja, o comportamento ao qual os indivíduos agregam significado considerando o
comportamento de outros indivíduos.
Os cientistas sociais, que pesquisam os significados das ações sociais de outros indivíduos e
deles próprios, são sujeito e objeto de suas pesquisas. Nessa perspectiva – que se opõe à visão
positivista de objetividade e de separação radical entre sujeito e objeto da pesquisa – é natural
que cientistas sociais se interessem por pesquisar aquilo que valorizam. Esses cientistas buscam
compreender os valores, as crenças, as motivações e os sentimentos humanos, compreensão que
só pode ocorrer se a ação for colocada dentro de um contexto de significado.
FUNDADOR DO POSITIVISMO
A origem do positivismo é atribuída ao francês Augusto Comte (1798-1857), autor dos
famosos Sistema de Filosofia Positiva (1830-1842) e Catecismo Positivista (1852), além de
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outras publicações. A relação que se estabelece entre a filosofia do francês Comte –
chamada de filosofia positiva ou positivismo – e as várias correntes denominadas de
"positivismo" baseia-se em diversas possibilidades: a primeira, claro, é a identidade de nome
em diversas situações; em seguida, alguns vínculos históricos (teóricos e políticos) entre
eles; por fim, mera extensão ou ampliação de sentido (LACERDA, 2009).
ÉMILE DURKHEIM
David Émile Durkheim (1858-1917) foi um sociólogo, antropólogo, cientista político, psicólogo
social e filósofo francês. Formalmente, tornou a Sociologia uma ciência e, com Karl Marx
(1818-1883) e Max Weber (1864-1920), é comumente citado como o principal arquiteto da
ciência social moderna e pai da Sociologia.
WILHELM DILTHEY
Wilhelm Christian Ludwig Dilthey (1833‐1911) foi um filósofo hermenêutico, psicólogo,
historiador, sociólogo e pedagogo alemão. Dilthey lecionou Filosofia na Universidade de
Berlim.
MAX WEBER
Maximilian Karl Emil Weber (1864‐1920) foi um intelectual, jurista e economista alemão
considerado um dos fundadores da Sociologia. Seu irmão foi o também famoso sociólogo e
economista Alfred Weber.
PESQUISA DE CAMPO
A discussão apresentada anteriormente, que diferencia as ciências sociais das demais ciências
físicas, contextualiza o surgimento e o desenvolvimento das técnicas e dos métodos qualitativos
de pesquisa social.
LE PLAY
Frédéric Le Play (foto), contemporâneo de Comte, foi um dos primeiros a estudar a realidade
social dentro de uma perspectiva científica que considerava a observação direta, controlável e
objetiva da sociedade como o método mais adequado à pesquisa social. Em La Réforme Sociale
en France (1864), Le Play expõe o método das monografias, que se caracteriza por ser uma
técnica, ordenada e metódica, de observação direta da sociedade.
 
 Frédéric Le Play. Fonte: wikimedia.org
Trouxe de sua experiência de mineralogista, na qual estava habituado a colher amostras de
jazidas para serem analisadas, a preocupação de observar diretamente e analisar
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sistematicamente as famílias operárias localizadas nos diferentes países da Europa onde
pesquisou. De seus registros minuciosos e ordenados, resultou um conjunto de monografias
reunidas em Les ouvriers européens (1855).
MORGAN, BOAS E MALINOWSKI
No final do século XIX e início do século XX, os estudos dos antropólogos nas sociedades
chamadas então de “primitivas” foram determinantes para o desenvolvimento das técnicas de
pesquisa que permitem recolher diretamente observações e informações sobre a cultura nativa. As
sociedades estudadas diretamente por esses antropólogos eram sociedades sem escrita,
longínquas, isoladas, de pequenas dimensões, com reduzida especialização das atividades
sociais, tendo sido classificadas como “simples” ou “primitivas” em contraste com a organização
“complexa” das sociedades dos pesquisadores.
 
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 Lewis Henry Morgan. Fonte: wikimedia.org
O primeiro antropólogo a conviver com os nativos foi o americano Lewis Henry Morgan (foto), um
dos mais expressivos representantes do pensamento evolucionista. Jurista de formação, em 1851
publicou The League of Hodénosaunee, or Iroquois, considerado o primeiro tratado científico de
etnografia.
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 Franz Boas. Fonte: wikimedia.org
 
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 Bronislaw Malinowski. Fonte: wikimedia.org
Mas foram os trabalhos de campo de Franz Boas e Bronislaw Malinowski (respectivamente
retratados acima), entre 1883 e 1902, e, particularmente, a expedição às ilhas Trobriand, que
consagraram a ideia de que os antropólogos deveriam passar um longo período na sociedade que
estão estudando para encontrar e interpretar seus próprios dados, em vez de depender dos
relatos dos viajantes, como faziam os chamados “antropólogos de gabinete”.
Nos primeiros trinta anos do século XX, o trabalho de campo passou a orientar as pesquisas
antropológicas. Boas, um geógrafo de formação, crítico radical dos antropólogos evolucionistas,
ensinou que no campo tudo deveria ser anotado meticulosamente e que um costume só tem
significado se estiver relacionado ao seu contexto particular. Ensinou também o “relativismo
cultural”: o pesquisador deveria estudar as culturas com um mínimo de preconceitos etnocêntricos.
Para Boas, o que constitui o “gênio próprio” de um povo repousa sobre as experiências individuais
e, portanto, o objetivo do pesquisador é compreender a vida do indivíduo dentro da própria
sociedade em que vive.
A primeira experiência de campo de Malinowski foi em 1914, entre os mailu, na Melanésia.
Impedido de voltar à Inglaterra no início da Primeira Guerra Mundial, ele começou sua pesquisa
nas ilhas Trobriand, de 1915 a 1916, retornando em 1917 para viver com os nativos por mais um
ano. Essa longa convivência com os nativos teve uma influência decisiva na inovação do método
de pesquisa antropológica.
Malinowski demonstrou que o comportamento nativo não é irracional, mas se explica por uma
lógica própria que precisa ser descoberta pelo pesquisador. Colocou em prática a observação
participante, criando um modelo do que deve ser o trabalho de campo: o pesquisador, por meio de
uma estada de longa duração, deve mergulhar profundamente na cultura nativa, impregnando‐se
da mentalidade nativa. Deve viver, falar, pensar e sentir como os nativos.
Grande parte da renovação das ciências sociais se deve às influências (diretas ou indiretas) dos
métodos de pesquisa de Malinowski. Argonauts of the Western Pacific provocou uma verdadeira
ruptura metodológica na Antropologia, priorizando a observação direta e a experiência pessoal do
pesquisador no campo.
FRÉDÉRIC LE PLAY
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Frédéric Le Play (1806-1882) teve uma grande influência no desenvolvimento da sociologia
aplicada devido às metodologias que propôs para estudar determinados fenômenos sociais;
considerava a família e o orçamento familiar fundamentais para estudar as condições sociais
da sociedade em que se encontravam.
LEWIS HENRY MORGAN
Lewis Henry Morgan (1818-1881) foi um antropólogo, etnólogo e escritor norte-americano.
Considerado um dos fundadores da antropologia moderna, fez pesquisa de campo entre os
iroqueses, de onde retirou material para sua reflexão sobre cultura e sociedade.
FRANZ BOAS
Franz Uri Boas (1858-1942) foi um antropólogo teuto-americano e um dos pioneiros da
antropologia moderna que tem sido chamado de "Pai da Antropologia Americana".
Estudando na Alemanha, Boas foi premiado com um doutorado em Física em 1881,
enquanto estudava Geografia.
BRONISLAW MALINOWSKI
Bronislaw Kasper Malinowski (1884-1942) foi um antropólogo polonês. É considerado um
dos fundadores da Antropologia social. Atuando na London School of Economics, fundou a
Escola Funcionalista. Suas grandes influências incluíam James Frazer e Ernst Mach.
Malinowski,considerado o pai do funcionalismo, acreditava que cada cultura tivesse como
função a satisfação das necessidades básicas dos indivíduos que a compõem, criando
instituições capazes de responder a essas necessidades. A análise funcional consiste em
verificar todo fato social do ponto de vista das relações de interdependência que ele mantém,
sincronicamente, com outros fatos sociais no interior de uma totalidade.
INOVAÇÃO DO MÉTODO DE PESQUISA
ANTROPOLÓGICA
Argonauts of the Western Pacific, publicado em 1922, é um verdadeiro tratado sobre o
trabalho de campo. A convivência íntima com os nativos passou a ser considerada o melhor
instrumento de que o antropólogo dispõe para compreender “de dentro” o significado das
lógicas particulares características de cada cultura.
 SAIBA MAIS
Boas foi o grande mestre da antropologia americana na primeira metade do século XX. Formou
toda uma geração de antropólogos importantes no campo, como Ralph Linton, Ruth Benedict e
Margaret Mead, considerados representantes da antropologia cultural americana, que utiliza
métodos e técnicas de pesquisa qualitativa somados a modelos conceituais próximos da
Psicologia e da Psicanálise.
RALPH LINTON
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Ralph Linton (1893-1953) foi um respeitado antropólogo americano de meados do século
XX, particularmente lembrado por seus textos O Estudo do Homem e A Árvore da Cultura.
Uma das principais contribuições de Linton para a Antropologia foi definir uma distinção entre
status e papel.
RUTH BENEDICT
Ruth Benedict (1887-1948) foi uma antropóloga americana, iniciou sua graduação na
Universidade de Columbia em 1919. Lá, entrou em contato com Franz Boas e se tornou
PhD. Em 1923, tornou-se membro da mesma universidade. São de autoria de Boas muitos
trabalhos clássicos, inclusive Raça, Linguagem e Cultura – provavelmente o mais veemente
texto antirracista a surgir do mundo acadêmico em sua época.
MARGARET MEAD
Margaret Mead (1901-1978) foi uma antropóloga cultural norte-americana. Nasceu na
Pensilvânia, criada na localidade de Doylestown por um pai professor universitário e uma
mãe ativista social. Graduou-se no Barnard College em 1923 e fez doutorado na
Universidade de Columbia em 1929.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. SOBRE O CONCEITO DE PESQUISA ESTUDADO NESTE TEMA, É
CORRETO AFIRMAR, EXCETO:
A) A pesquisa não é uma ação isolada, mas uma oportunidade de fazer exercícios que servirão
por toda a vida.
B) O autêntico pesquisador compreende a pesquisa como um jogo que lhe proporciona a
criatividade e o desenvolvimento do olhar científico.
C) Ainda que o objeto não seja ou não pareça interessante, é preciso que o trabalho do
pesquisador seja instigante.
D) Não é qualquer tema ou assunto da atualidade que pode ser objeto de uma pesquisa científica.
E) Mesmo temas do cotidiano e banais, dependendo da experiência do pesquisador, podem se
tornar grandes e profundas pesquisas.
2. PARA ESTE PENSADOR, OS FATOS SOCIAIS SOMENTE PODEM SER
EXPLICADOS POR OUTROS FATOS SOCIAIS E NÃO POR EXPLICAÇÕES
PSICOLÓGICAS OU BIOLÓGICAS, DIFERENCIANDO-SE DE MUITOS
OUTROS PENSADORES DE SUA ÉPOCA. A ADOÇÃO DO MÉTODO
CIENTÍFICO NAS CIÊNCIAS SOCIAIS TEM, COM CERTEZA, A SUA
INFLUÊNCIA DIRETA E DETERMINANTE. ESSE PENSADOR É:
A) Durkheim
B) Comte
C) Malinowski
D) Dilthey
E) Weber
GABARITO
1. Sobre o conceito de pesquisa estudado neste tema, é correto afirmar, exceto:
A alternativa "D " está correta.
 
Qualquer tema ou assunto da atualidade pode ser objeto de uma pesquisa científica. A pesquisa
não é uma ação isolada, mas uma oportunidade de fazer exercícios que servirão por toda a vida.
O autêntico pesquisador compreende a pesquisa como um jogo que lhe proporciona criatividade e
o desenvolvimento do olhar científico. Ainda que o objeto não seja ou não pareça interessante, é
preciso que o trabalho do pesquisador seja instigante. Mesmo temas do cotidiano e banais,
dependendo da experiência do pesquisador, podem se tornar grandes e profundas pesquisas.
2. Para este pensador, os fatos sociais somente podem ser explicados por outros fatos
sociais e não por explicações psicológicas ou biológicas, diferenciando-se de muitos
outros pensadores de sua época. A adoção do método científico nas ciências sociais tem,
com certeza, a sua influência direta e determinante. Esse pensador é:
A alternativa "A " está correta.
 
É fato social toda a maneira de fazer, fixada ou não, suscetível de exercer sobre o indivíduo uma
coerção exterior; ou ainda, toda a maneira de fazer que é geral na extensão de uma sociedade
dada e, ao mesmo tempo, possui uma existência própria, independentemente de suas
manifestações individuais. O fato social é tudo o que se produz na e pela sociedade, ou ainda,
aquilo que interessa e afeta o grupo de alguma forma (DURKHEIM, 1985).
MÓDULO 2
 Reconhecer a importância da análise de dados para a pesquisa acadêmica no âmbito
das análises quantitativa e qualitativa
ANÁLISE DOS DADOS: DA FASE DA COLETA
À INTERPRETAÇÃO
Agora vamos nos aprofundar um pouco mais na pesquisa de campo e como ela acontece. Isso
possibilitará que você encontre a melhor metodologia para realizá-la quando estiver elaborando
seu próprio projeto de pesquisa ou mesmo já buscando os dados de seu objeto. Para isso,
continuaremos aproveitando a experiência antropológica citada.
Malinowski sugeriu três questões para o trabalho de campo:
 
Por meio do contato íntimo com a vida nativa, exaustivamente registrado no diário de campo,
Malinowski buscou as respostas dessas questões preocupando‐se em compreender o ponto de
vista nativo.
Para Malinowski, a Antropologia era o estudo segundo o qual, compreendendo o “primitivo”,
poderíamos chegar a compreender melhor a nós mesmos. A rica experiência de campo de
Malinowski, assim como suas propostas metodológicas, influenciaram decisivamente a aplicação
de técnicas e métodos de pesquisa qualitativa em ciências sociais.
 
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 Malinowski em pesquisa de campo com nativos das Ilhas Trobriand. | Fonte: scihi.org
Na década de 1970, surge nos EUA, inspirada na ideia weberiana de que a observação dos fatos
sociais deve levar à compreensão (e não a um conjunto de leis), a antropologia interpretativa. Um
dos principais representantes da abordagem interpretativa é Clifford Geertz, que propõe um
modelo de análise cultural hermenêutico: o antropólogo deve fazer uma descrição em
profundidade (descrição densa) das culturas como “textos” vividos, como “teias de significados”
que devem ser interpretados.
De acordo com Geertz (1978), os “textos” antropológicos são interpretações sobre as
interpretações nativas, já que os nativos produzem interpretações de sua própria experiência.
Essa perspectiva se traduz em um permanente questionamento do antropólogo a respeito dos
limites de sua capacidade de conhecer o grupo que estuda, e na necessidade de expor, em seu
texto, suas dúvidas, perplexidades e os caminhos que levaram à sua interpretação, percebida
sempre como parcial e provisória.
CLIFFORD GEERTZ
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Clifford James Geertz (1926-2006) foi um antropólogo estadunidense, professor emérito da
Universidade de Princeton, em Nova Jersey, nos Estados Unidos. Seu trabalho no Institute
for Advanced Study de Princeton se destacou pela análise da prática simbólica no fato
antropológico.
Geertz inspirou a tendência atual da chamada antropologia reflexiva (ou pós‐interpretativa), que
propõe uma autorreflexão a respeito do trabalho de campo nos seus aspectos morais e
epistemológicos. Essa antropologia questiona a autoridade do texto antropológico e propõe que o
resultado da pesquisa não seja fruto da observação pura e simples, mas de um diálogo e de uma
negociação de pontos de vista entre pesquisador e pesquisados.
 
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 Clifford Geertz. Fonte: wikimedia.org
Partindo do princípio de que o ato de compreender está ligado ao universo existencial humano, as
abordagens qualitativas não

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