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1 / 39 DEFINIÇÃO Apresentação do Método Científico, das Metodologias Científicas e de uma breve história da Ciência, identificando o princípio da medida científica, suas grandezas e unidades básicas de acordo com o Sistema Internacional de Unidades (SI). PROPÓSITO Reconhecer a evolução histórico-filosófica da Ciência, contextualizando o conceito de Método Científico e a aplicação da Metodologia Científica. OBJETIVOS Módulo 1 Relacionar a filosofia da Grécia Antiga com a origem do Universo e a Ciência Módulo 2 Reconhecer a formalização do Método Científico e da Metodologia Científica na Renascença Módulo 3 Reconhecer a Metodologia Científica na Ciência Moderna 2 / 39 INTRODUÇÃO Desde os primeiros passos da humanidade interagindo com a natureza por meio de fenômenos físicos, químicos, biológicos, médicos, entre outros, sempre foi muito comum nossos antepassados associarem tais fenômenos às mitologias, divindades e crenças ou cultura religiosa sem quaisquer questionamentos que, atualmente, faríamos. Provavelmente, se um indivíduo tivesse acesso a uma nova Ciência ou conhecimento completamente transformador cujos fundamentos científicos não compreendêssemos, muitos de nós apontariam o detentor desse conhecimento como uma divindade, mesmo conhecendo os critérios científicos. Não seria possível distinguir essa Ciência desconhecida de um fenômeno sobrenatural ou associado ao sentimento religioso de cada um que o experimentasse. Uma questão mais delicada ainda é se nossa Ciência preenche os requisitos do Método Científico sem comprometer suas conclusões com crenças ideológicas, culturais ou religiosas, acreditando serem conhecimentos científicos. Na verdade, ainda precisamos estudar, refletir e aprimorar habilidades para compreendermos a Metodologia Científica. Como podemos distinguir Ciência de crenças? 3 / 39 Não vamos abordar questões religiosas, apenas discutir a Metodologia Científica do que chamamos Método Científico. Discutiremos o que é Ciência e apresentaremos um pouco de nossa história filosófica e científica. FILOSOFIA DA GRÉCIA ANTIGA A tradição filosófica ocidental surgiu na Grécia Antiga, período classificado entre os anos 700 a.C. e 250 d.C. O primeiro filósofo grego a propor a racionalidade e o pensamento livre como formas de compreender os fenômenos universais da natureza foi Tales de Mileto (624-546 a.C.). Sua metafísica se opunha à mitologia grega, tradição oral milenar que explicava a origem do Universo e seus fenômenos por meio de divindades religiosas, numa tradição dogmática incontestável até então. Os filósofos pré-socráticos— Tales, Anaximandro (610-546 a.C.), Anaxímenes (588- 524 a.C.) e Pitágoras (570-495 a.C.) — acreditavam que se pudéssemos compreender os fenômenos da natureza e do Universo preferencialmente por meio da Matemática, de forma racional e lógica, estaríamos livres dos caprichos dos deuses mitológicos e mais próximos da verdade universal. Devemos a essa escola e seus filósofos o nascimento do pensamento científico ocidental. Vejamos agora um pouco sobre as principais contribuições dos filósofos da Grécia Antiga: 4 / 39 Tales de Mileto (624-546 a.C.) propôs que a água fosse a matéria-prima do Cosmo e há relatos históricos de que ele teria previsto um eclipse solar em 585 a.C. Infelizmente, nenhum dos seus escritos foi conservado, mas sabemos que sua escola introduziu avanços na Matemática, em particular na Geometria, e na previsão de melhores colheitas a partir da observação dos fenômenos climáticos, diferente das anteriores súplicas aos deuses. Pitágoras (570-495 a.C.), provável discípulo de Anaxímenes da escola de Mileto, avançou nas ideias racionais e lógicas. Propôs que poderíamos compreender o Cosmo e suas relações por meio da Matemática como modelo ideal do pensamento filosófico metafísico. Pitágoras acreditava que somente a razão e a Matemática seriam imortais. Devemos a ele os conhecimentos iniciais da Geometria, Álgebra e Trigonometria, o Teorema de Pitágoras* e a compreensão dos fundamentos da Matemática na música, com os harmônicos e as divisões em oitavas. *Teorema de Pitágoras: “Em qualquer triângulo retângulo, o quadrado do comprimento da hipotenusa é igual à soma dos quadrados dos comprimentos dos catetos." 5 / 39 Heráclito (535-475 a.C.) sugeriu o eterno fluxo dos contrários (dia e noite, quente e frio etc.), apresentando a ideia de equilíbrio e de conservação. Parmênides (515-445 a.C.) acreditava na unicidade do Universo e que todos os fenômenos derivavam da mesma origem, conceito amplamente buscado entre os físicos contemporâneos. Demócrito (460-371 a.C.) e Leucipo (século V a.C.) introduziram a atomística e afirmaram que, além de átomos, nada mais existe. Segundo eles, existiria um número infinito de átomos, mas que a combinação deles seria finita, o que explicaria o número limitado de substâncias. 6 / 39 Empédocles (490-430 a.C.) apresentou o conceito dos quatro elementos, ao qual chamou de quatro raízes da matéria: fogo, água, ar e terra. Sócrates (469-399 a.C.) considerado o fundador da Filosofia ocidental, introduziu um método de argumentação que acreditava ser infalível para desvendar os mistérios da existência, a dialética. Sua preocupação principal era a vida e o modo de viver; não estava interessado em respostas definitivas, mas em desvendar profundamente os conceitos humanos. Seu método dialético é a base do pensamento científico moderno. Não deixou nenhuma obra registrada, pois acreditava que a linguagem escrita não favorecia o debate e o confronto dialético. Quase tudo o que sabemos sobre Sócrates é por meio dos diálogos de Platão, seu aluno. 7 / 39 SAIBA MAIS A Parábola da Caverna Imagine uma caverna na qual todos estão aprisionados e amarrados desde o nascimento. Só podem olhar uma parede à sua frente. Uma chama brilhante atrás dos prisioneiros ilumina os objetos e todas as formas. Os prisioneiros só podem ver as sombras dos objetos projetadas na parede. Essas sombras são as experiências dos prisioneiros por meio dos sentidos. Se algum prisioneiro se desamarrar, verá os objetos como são na verdade, mas depois de toda uma vida em aprisionamento, talvez não consigam compreender e se voltem fascinados para a chama e novamente para as sombras na parede, sua única realidade. Conclusão: a verdade só pode ser alcançada pela razão, pelo mundo das ideias, não por nossos sentidos, opiniões e por experiências de sombras. Platão (427-347 a.C.) nos apresentou o pensamento socrático. Fundou uma escola filosófica em Atenas, a Academia, para propagar o método de Sócrates e a sua própria Filosofia das formas perfeitas, ideais e imutáveis. A razão seria capaz de explicar todos os fenômenos universais e humanos, reforçando assim a base da filosofia grega. Ele pregava que estamos presos no mundo dos sentidos ilusórios e que, para reconhecermos a verdade das coisas, devemos racionalmente compreender o ideal perfeito. A Filosofia de Platão alcançou o mundo islâmico medieval e contribuiu com as fundações do Racionalismo do século XVII, o período Renascentista. Sua concepção é considerada a base da Filosofia ocidental moderna pela quantidade e profundidade dos temas sobre os quais escreveu e tratou. Para exemplificar suas ideias das Formas perfeitas e de como somos frágeis na compreensão da verdade por meio dos sentidos, ele nos apresentou a Parábola da Caverna. 8 / 39 *Silogismo: Silogismo é um padrão de três proposições com o confronto de duas premissas e uma conclusão. Por exemplo: Todas as plantas necessitam de luz; a figueira é uma planta; portanto, a figueira precisa deluz. Assim, se uma pedra não precisa de luz, não pode ser uma planta. O silogismo foi a base elementar da Lógica matemática do século XIX e da Computação do século XX. Aristóteles (384-322 a.C.) estudou na Academia de Atenas, foi aluno de Platão, de quem recebeu grande influência, mas discordava da filosofia das formas porque acreditava ser possível, observando a natureza, encontrar a verdade sobre os fenômenos. A partir das experiências com o mundo, compreenderíamos as qualidades universais de que falava Platão. Essa abordagem de Aristóteles é um dos pilares das ciências modernas, a obtenção do conhecimento pela experiência, buscando racionalmente a verdade. Fundou sua escola em Atenas, o Liceu. Sua abordagem inicial se deu nos campos da Botânica e da Zoologia. Aristóteles introduziu um método lógico e sistemático de seleção dos reinos animal, vegetal e mineral, conhecido por silogismo*. Também foi o autor da classificação básica das ciências. 9 / 39 O pensamento de Aristóteles, apesar de imperfeições nos campos da ética atual (não rejeitava a escravidão) e da Astronomia, provocou uma revolução na Filosofia e nas Ciências. Aristóteles foi o instrutor (preceptor) de Alexandre, o Grande. Com a morte de Alexandre, veio o declínio da Grécia Antiga e o início do período Helenístico, com a ascensão de Roma. IMPORTANTE A divergência de Aristóteles em relação a Platão, deu origem a duas linhas filosóficas no século XVII, os Racionalistas (Platônicos) e os Empiristas (Aristotélicos). Eratóstenes (276-194 a.C.) obteve um incrível feito científico, a medida da circunferência da Terra por meios geométricos e experimentais: Ele posicionou hastes verticalmente durante o solstício (o dia mais longo do ano) nas cidades de Syene (atual Assuã) e Alexandria. Observando a sombra projetada no solo em Alexandria quando em Syene o sol estava exatamente sobre a haste e, portanto, sem sombra projetada no solo, obteve o ângulo de inclinação formado entre dois raios de circunferência, partindo do centro do planeta até as duas cidades. Assim, ele obteve o perímetro médio da Terra. 10 / 39 Arquimedes (287-212 a.C.), famoso pelo Princípio de Arquimedes, Princípio do Empuxo da Mecânica dos Fluidos, há mais de dois mil anos, foi o primeiro filósofo- cientista a seguir o que chamamos atualmente de Método Científico. 11 / 39 VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. Considere o mundo de um jogo eletrônico bidimensional, onde o personagem principal, Pac-Man, deve comer frutinhas e fugir de fantasmas em um labirinto. O projetista do jogo optou por introduzir habilidades cognitivas via inteligência artificial ao personagem e a possibilidade de uma interface por voz do jogador. Supondo que o jogo tenha evoluído, Pac-Man passa a se perguntar: “Quem está falando comigo?” O jogador, tridimensional, pode vê-lo, mas não pode explicar ao Pac-Man quem é, somente fornecer comandos do jogo. O personagem, bidimensional, só vê traços horizontais, que se movem nas fronteiras do labirinto, do que seria o corpo do jogador, mas não pode lhe fazer perguntas. Qual das opções apresentadas, considerando o pensamento científico, Pac-Man deve seguir para entender com quem está conversando? a) Pac-Man deve considerar que experiências sobrenaturais são reais. b) Pac-Man deve seguir a lógica racional e fazer suposições plausíveis do que ocorre e, passo a passo, eliminar variáveis, aprimorar sua suposição até concluir que outra dimensão espacial existe. c) Pac-Man deve considerar sua experiência um acontecimento espiritual. d) Pac-Man deve seguir sua intuição e tirar suas conclusões do que ocorre até considerar um ser invisível a lhe falar. e) Nenhuma das respostas anteriores. Comentário Parabéns! A alternativa B está correta. O pensamento filosófico científico evoluiu a partir dos filósofos gregos que nos deixaram como legado métodos criteriosos, racionais e lógicos para se chegar às verdades do mundo. Essa é a base do pensamento científico, de forma isenta, sem dogmas ou crenças quaisquer. 12 / 39 2. Platão falou sobre a filosofia das formas perfeitas e ideais, do mundo das ideias perfeitas, das qualidades universais imutáveis perfeitas e das formas imperfeitas em nossas realidades, como sombras das formas ideais. Considerando a existência de constantes físicas fundamentais da natureza, assinale a resposta correta: a) A Filosofia de Platão não tem qualquer relação com a existência de constantes físicas da natureza. b) A Filosofia de Platão nos guiou na construção da Filosofia científica, mas não tem relação com as constantes físicas da natureza. c) A Filosofia de Platão nos guiou na busca de qualidades universais imutáveis, e a descoberta dessas constantes físicas da natureza são evidências da efetividade de sua Filosofia das formas ideais imutáveis. d) A Filosofia de Platão foi superada por Arquimedes e, portanto, não tem consequências hoje em dia. e) Nenhuma das respostas anteriores. Comentário Parabéns! A alternativa C está correta. O pensamento filosófico de Platão, em sua teoria das formas perfeitas, indicava a existência de formas e qualidades ideais, às quais deveríamos buscar racionalmente e que nossos sentidos só experimentariam suas imagens ou sombras, como chamou. Assim, as constantes fundamentais da natureza são essas qualidades perfeitas e imutáveis. 13 / 39 MÉTODO CIENTÍFICO A ascensão do Império Romano (27 a.C.-395 d.C.), antes da divisão em Impérios do Ocidente e do Oriente, introduziu uma ruptura na difusão do conhecimento e da Filosofia na Europa, em contraposição ao imenso florescimento cultural ocorrido anteriormente na Grécia. ATENÇÃO A única exceção foi o estoicismo, escola de pensamento admirada pelos romanos por sua valorização da conduta virtuosa e do cumprimento dos deveres. Foi o início da Idade da Trevas, no sentido desse recrudescimento, a Era Medieval (250-1500 d.C.). O cristianismo romano (380-395 d.C.) e o crescimento do poder da Igreja como religião e Estado (depois da queda de Roma), monopolizando as verdades de forma dogmática e contrariando o pensamento filosófico grego livre de crenças, favoreceu interpretações da natureza, como a geocêntrica (a Terra como centro do Universo), estendendo essa estagnação científica e cultural por mil anos, durante toda a Idade Média. Filósofos cristãos, como Santo Agostinho (354-430 d.C.), Boécio (480-525 d.C.) e São Tomás de Aquino (1225-1274), propunham a harmonia entre as escrituras cristãs e seus dogmas com as filosofias dos gregos Platão e Aristóteles. Também buscavam a 14 / 39 hegemonia da Igreja no pensamento filosófico em várias de suas dimensões, a exemplo da Metafísica, Ética, Epistemologia, entre outras. A filosofia grega arquivada na biblioteca de Alexandria foi traduzida para o árabe entre 800 e 950 d.C., o que permitiu a era de ouro do pensamento filosófico islâmico. Pensadores como Avicena (980- 1037) e Alhazen (965-1040), este tido como o primeiro cientista do mundo islâmico, usaram o Método Científico em suas descobertas pela primeira vez. Seus trabalhos e métodos em Óptica produziram grande influência nos filósofos e cientistas europeus na Renascença. A Renascença viu surgir o pensamento filosófico-científico ocidental com força, retomando os trabalhos da filosofia grega antiga. A divergência filosófica entre racionalistas e empiristas permanecia. RACIONALISTAS X EMPIRISTAS Vários foram os pensadores de alta relevância e alguns tiveram importância completamente transformadora na filosofia da Ciência. Vamos conhecê-los. Francis Bacon (1561-1626 d.C.) não foi o primeiro cientista experimental que se tem notícia; Alhazen, no mundo islâmico, e outros conduziram experimentos séculos antes. A enorme importância de Bacon se deveà sua estruturação do Método Científico. Para ele, o propósito da Ciência era a qualidade de vida das pessoas e, para tanto, a Ciência deveria seguir sem influência da Igreja, distante de dogmas e ser estruturada em um método para alcançar seu intento, colocando a experiência prática em nível fundamental de importância. 15 / 39 Bacon foi além da mera observação dos fenômenos, ele propunha a experimentação ativa, induzida e repetitiva em busca das verdades da natureza. Em 1620, com a publicação de seu livro Novum Organum, foi o primeiro a explicar seu método de raciocínio e experimentação com três pilares: Observação Dedução Experimentação Ele nos ensinou a lutar contra as quatro barreiras psicológicas que perturbam a trajetória científica, as quais chamou de ídolos da mente: Segundo Bacon, devemos lutar contra todos esses ídolos para alcançar o conhecimento sobre a natureza e o mundo. A filosofia de Bacon coloca a experimentação ativa e prática em primeiro plano na ciência. Criticado por não considerar que a formulação teórico-hipotética pura poderia produzir relevantes saltos científicos, Bacon introduziu uma fundamental mudança no modo de pensar em ciências com sua lógica de pensamento científico, a filosofia da Técnica Científica. 16 / 39 Galileo Galilei (1564-1642, d.C.), conhecido como o teórico do empirismo, aquele que nos ensinou didaticamente que a experimentação física era fundamental à compreensão dos fenômenos da natureza. Em seu famoso livro Discorsi e dimostrazioni matematiche intorno a due nuove scienze, attenenti alla meccanica e i movimenti locali, Galileo descreve suas observações, suas hipóteses, seus modelos e suas conclusões fenomenológicas. Tendo por fundamento a experiência natural, mesmo sem os recursos atuais, Galileo descreveu os fenômenos de fricção e como o movimento se processa sem fricção, o que é algo genial. Em sua descrição sobre a queda-livre de uma pena e uma bola de canhão, concluiu de forma correta que ambos chegariam ao solo simultaneamente na ausência de atrito com ar atmosférico. Com isso, ele nos ensina a pensar de forma isenta, analisando cada efeito e sua ausência. Depois de Galileo, cujos ensinamentos nos foram deixados como legado, não podemos desconsiderar o poder do Método Científico para toda a Ciência e para a humanidade. René Descartes (1596-1650, d.C.), autor do aforismo “Penso, logo existo”, buscava verdades inquestionáveis a partir das quais pudesse construir seu raciocínio e pensamento científico. Encontrou, ao propor sempre duvidar de tudo, a certeza da própria existência que chamou de primeira verdade, seu primeiro axioma. Assim, em 1637, com seu livro Discurso do Método, propôs seu método de raciocínio cartesiano: Duvidar de tudo Procurar verdades inquestionáveis (axiomas) Deduzir novas verdades a partir desses axiomas 17 / 39 METODOLOGIA CIENTÍFICA Vamos imaginar que um ser humano teve contato com uma civilização inteligente extraterrestre jamais conhecida e recebeu conhecimentos médicos sobre fisiologia humana, estrutura molecular e genética, com saberes sobre algumas doenças para as quais não temos cura ou solução ainda. Considerando que essa pessoa tenha recebido autorização para usar tais conhecimentos de cura sem, no entanto, revelá-los, não é difícil imaginar que ela seria alçada a patamares divinos, um semideus, diriam alguns. Mesmo que isso ocorresse atualmente, com todo o conhecimento científico vigente, não poderíamos saber como aquelas doenças e problemas médicos foram curados e, fatalmente, reverenciaríamos esse indivíduo como alguém enviado pelos céus. Caso alguém suscitasse a possibilidade de essa pessoa ter adquirido conhecimentos de uma outra civilização, a população afetada com as tais doenças elevaria as mãos ao “semideus” não se importando com a hipótese levantada, ainda que muito razoável. Essa pequena paródia, mais parecida com um filme de ficção científica, serve para nos mostrar o quão frágil somos acerca de nossas limitações cientificas. SAIBA MAIS Nos últimos anos, quando a Física estava por acreditar que faltava pouco para compreendermos a natureza universal com todo o conhecimento adquirido ao longo de séculos e com o trabalho de milhares de cientistas, um pequeno grupo de astrofísicos estava preocupado em saber se nosso Universo estaria expandindo, contraindo ou se seria estacionário, como previsto nas soluções das equações da relatividade geral de Albert Einstein (1879-1955). Após um trabalho de anos, que promoveu grande desenvolvimento de técnicas de rastreamento de Supernovas tipo IA*, a conclusão desse grupo — que já não era tão pequeno assim tamanha a relevância de suas descobertas — foi que nosso Universo visível está em expansão acelerada! Isso causou um choque em toda a comunidade mundial de físicos, pois não era previsto nem imaginado. Se estávamos em expansão, acreditava-se que seria com desaceleração, pois a força gravitacional universal é atrativa e assim o Universo visível deveria desacelerar. Mas todos os dados foram revistos por mais grupos que refizeram medidas de todas partes, de todos os radiotelescópios e a conclusão, em 1998, foi que aquele grupo tinha razão: nosso Universo está em expansão acelerada! Saiba mais sobre a relação entre história e Método Científico. 18 / 39 *Supernovas tipo IA: São estrelas em colapso gravitacional que emitem radiação como um farol de navegação e assim permitem que se possam usar essas informações para triangular sua localização a partir do deslocamento para o vermelho (redshift) dessa radiação. A Metodologia Científica é o estudo do processo adotado para alcançar os propósitos do Método Científico: 1) Experimentação é a observação dos fenômenos, sejam físicos ou não. Qualquer fenômeno requer experimentação ou observação. Antes de qualquer coisa, sem nos apegarmos a crenças, ideologias, dogmas ou opiniões, devemos observar os fenômenos por experimentação. Qualquer fenômeno científico é passível de observação e precisa ser primeiramente observado por experimentos amplos, não limitadores das considerações, livres de crenças e ideologias, e os dados gerados devem ser completamente respeitados. ATENÇÃO Crenças devem ser respeitadas, é claro, mas, do ponto de vista humano e filosófico, não devem interferir nas observações de uma área científica. A isenção do ato de experimentar é fundamental ao método. Para se ter noção desse preceito, atualmente, um observador físico ideal deve ser uma máquina, um detector, um sensor. Deve apenas medir, isentamente, placidamente, sem pensamentos, sem opiniões, sem sentimentos; algo de enorme dificuldade para um ser humano. 19 / 39 2) Hipótese é a formulação sobre o que se intui que ocorrerá, o que produzirão os fenômenos observados. Hipóteses são sugestões acerca do que acontece, dos fenômenos, dos mecanismos, da matemática, dos processos, dos meios, enfim, tudo que possa ter produzido os dados observados com o intuito de formular modelos ou modelagens. a) Modelo ou projeto é uma fase da hipotetização, a transformação das ideias hipotéticas em moldes estruturados, articulados, que explicam os mecanismos, os fenômenos observados a partir de delimitações. Dito de outra maneira, na mecânica de Newton, com suas leis e todo o resultado de séculos de estudo da mecânica do movimento, os fenômenos térmicos não são introduzidos diretamente. Isso não significa que Newton não os conhecia, mas que optou pela modelagem dos fenômenos mecânicos do movimento sem as complexidades adicionais das ciências térmicas. Os modelos tratam as hipóteses a fim de simplificar as possíveis respostas e dúvidas sobre os fenômenos que produziram os dados experimentados. Um modelo é uma simplificação de fenômenos, idealizado. Estará sempre limitado às suas concepções iniciais. A partir de modelos hipotéticos, pode-se adicionar outras complexidadespara avançar na compreensão dos fenômenos pesquisados. EXEMPLO O problema do Oscilador Harmônico Simples Horizontal é modelado como unidimensional, sem qualquer fricção (atrito) e sem forças externas. A partir da compreensão das soluções e fenomenologia desse modelo, concordando com os experimentos, outra complexidade é introduzida, resultando no modelo do Oscilador Harmônico Amortecido, quando incluímos fricção, e do Oscilador Harmônico Amortecido Forçado, quando introduzimos, além de fricção, força externa harmônica. 20 / 39 b) A modelagem é parte fundamental inerente à hipótese, delimitando a questão em parâmetros menos complexos. Assim, podemos afirmar que todos os modelos físicos que resultaram em leis físicas são delimitados em intervalos de validade escalar de energias e de dimensões, são modelos efetivos da realidade física. A delimitação dos modelos, das teorias e das leis físicas é recorrente, pois todas as teorias físicas são efetivas. Após a propositura de um modelo teórico ou fenomenológico, realiza-se a confrontação do modelo proposto com os dados observados experimentalmente. EXEMPLO A mecânica newtoniana é uma teoria efetiva do estudo do movimento mecânico dos corpos rígidos, ou seja, ela não tem condições de explicar fenômenos térmicos ou quânticos. Significa que essa teoria tem limite de validade de baixas velocidades (quando comparada à velocidade da luz), dimensões não quânticas (não explicando fenômenos do Universo das partículas fundamentais e ou de escalas pequenas), e não explica fenômenos de larga escala do Universo, regidos pela relatividade geral. 21 / 39 c) Teste dos modelos é fase, também fundamental, em que os modelos serão testados dentro de seus limites de validade e parametrizações hipotetizadas, confrontando dados obtidos da experimentação e da observação. Por meio de gráficos, com tratamento estatístico, expõem-se os dados dos fenômenos com suas curvas representativas, muitas vezes utilizando dados simulados, gerados pelo modelo de simulação, com curvas teóricas ou teórico-simuladas. EXEMPLO Atualmente, com o desenvolvimento das simulações computacionais, o confronto de resultados não é realizado somente por via de curvas gráficas, mas também por simulações dos fenômenos completos em computador. Com o confronto de resultados, modelo versus fenômeno, dentro de parâmetros das ciências estatísticas, e quando reproduzidos os mesmos resultados por diferentes grupos de pesquisadores e laboratórios, chega-se às conclusões necessárias para se propor uma tese, ou teoria. 3) Tese ou Teoria. Com o acordo entre hipóteses, com a modelagem dentro dos limites estabelecidos por elas, confrontados os resultados do modelo com os experimentos por testes científicos com rigores estatísticos, e verificados os resultados por outros grupos científicos, pode-se então elevar o modelo à condição de tese ou teoria. De acordo com o Método Científico, teoria é o estágio final de uma investigação científica, quando não restam mais dúvidas quanto aos aspectos mais fundamentais de um fenômeno. 22 / 39 VERIFICANDO O APRENDIZADO 3. Leia o seguinte enunciado e marque a alternativa correta: Sempre que observo um fenômeno da natureza, busco em meu interior, em minhas experiências de vida, a resposta ao que observei. a) Devemos combinar o Método Científico às nossas opiniões na busca de compreensão de um fenômeno. b) Nossas hipóteses são os elementos fundamentais à compreensão de um fenômeno, pois sempre será possível que não tenhamos condições de medir todos os aspectos do fenômeno. c) Como o Método Científico tem a hipótese como uma de suas características fundamentais, devemos usá-la de forma ampla, buscando os recursos de nossas experiências pessoais como auxílio ao método. d) Essa afirmativa é contrária a séculos de evolução do conhecimento científico. Sempre que observarmos um fenômeno, devemos seguir o Método Científico como rota à compreensão desse fenômeno de forma isenta. e) Nenhuma das respostas anteriores. Comentário Parabéns! A alternativa D está correta. O Método Científico refuta qualquer forma de investigação não isenta. As experiências pessoais, opiniões, sentimentos e crenças não são o caminho da Ciência, como bem ensinado por filósofos e cientistas desde a Renascença. 23 / 39 4. Considere o problema da queda livre da pena e da bola de canhão, apresentado por Galileo Galilei. Ele afirmou que se retirássemos as forças de atrito do ar atmosférico no ambiente do experimento, tanto a pena quanto a bola de canhão chegariam ao solo simultaneamente, desde que lançadas no mesmo instante e da mesma altura vertical. Marque a resposta que melhor se adequa a como Galileo conseguiu chegar a essa incrível conclusão, já que não possuía condições de realizar o experimento em sua época, tendo sido realizado 500 anos depois. a) Galileo simplesmente propôs essa conclusão sem qualquer base plausível. b) Galileo não sabia a resposta e escolheu a que lhe traria mais atenção da comunidade científica. c) Galileo realizou o experimento em condições não divulgadas e assim chegou à conclusão correta. d) Galileo refletiu racionalmente, deduziu a conclusão de experimentos em planos inclinados onde, de fato, reduziu o atrito substancialmente, tendo por base seu modelo matemático, suas equações cinemáticas, que demonstravam matematicamente suas conclusões. e) Nenhuma das respostas anteriores. Comentário Parabéns! A alternativa D está correta. Galileo descreveu seu método dedutivo a partir dos experimentos com planos inclinados e de queda livre. Apesar de não ter as condições de idealmente realizar o experimento em sua época, seguiu um método criterioso e racional, modelou o experimento matematicamente e pôde chegar à sua conclusão, na esperança que pudesse ser realizada no futuro, como de fato ocorreu. 24 / 39 A CIÊNCIA MODERNA Uma das habilidades humanas básicas é a de medir. Desde a necessidade mais elementar até a mais sofisticada, a medida está associada à nossa capacidade científica. Contar o número de membros de uma comunidade ou a quantidade de alimentos, de cada tipo ou classe, por número de elementos, tamanho ou peso, significa medir. Verificar os danos causados por um evento climático ou o resultado de uma batalha entre tribos da Antiguidade são procedimentos de medida. Sempre estamos medindo grandezas e quantidades em unidades de medidas. Desde o instante anterior ao acordarmos e iniciarmos o nosso dia, já começamos a medir. Estabelecemos um horário de despertar, elegendo o tempo como uma grandeza a ser medida, e escolhemos uma quantidade, um valor em unidades dessa grandeza, um horário de despertar. Assim, nosso instrumento de medida temporal, o despertador, vai nos avisar quando medir a hora que estabelecemos. Nesse exemplo, utilizamos: 25 / 39 Isso só para iniciar o dia. Sempre que comparamos quantidades de uma grandeza, estamos medindo. Essa medida pode ser objetiva ou subjetiva (por exemplo, quando dizemos que determinado alimento é mais saboroso que outro). Tudo que puder ser mensurado com técnicas metrológicas – de forma isenta, livre de dogmas, crenças, aspectos ideológicos ou religiosos – e puder seguir o caminho do Método Científico e suas metodologias, absolutamente tudo que cumprir esses requisitos, será considerado Ciência. No entanto, para que haja uma tese, é preciso propô-la em hipótese e testá-la, confrontando-a com a Metrologia. Assim, temos o Método Científico completo. EXEMPLO Suponhamos que um juiz de execuções penais, que lida com os detentos e apenados pela Justiça, queira levantar informações sobre a efetividade e os resultados de modelos de cumprimento de penas diferentes. Necessariamente, esse juiz terá de estabelecer os diferentes modelos a comparar (identificar os detentospor classes de periculosidade, tamanho da pena, tipos criminais, idade, sexo, educação, para citar algumas), fazer um levantamento estatístico dos resultados quanto à efetividade da pena (tranquilidade das casas de detenção, recorrência dos libertados), e comparar as estatísticas, da forma mais isenta, para cientificamente aferir os modelos de cumprimento de penas. Portanto, o Método Científico também alcança o campo das ideias filosóficas quando a medida estiver em questão. Grandezas físicas de base A medida em Física, como em qualquer Ciência, traduz uma comparação. Para medir, precisamos identificar a grandeza a ser mensurada e uma referência em unidades significativas para que possamos comparar nossa medida com o padrão dessa grandeza. 26 / 39 O Sistema Internacional de Unidades (SI) definiu o metro (m) como unidade física básica de comprimento. Isso significa que, para medirmos a grandeza comprimento com instrumentos de medida padronizados e calibrados de acordo com o SI, compararemos o metro (m) padrão com o que estivermos medindo dessa grandeza. Se quisermos medir a grandeza massa, utilizaremos a unidade padronizada do quilograma (Kg). Todas as grandezas físicas possuem padrões no SI, ou seja, unidades de medida SI. GRANDEZA UNIDADE SÍMBOLO Comprimento metro m Massa quilograma kg Tempo segundos s Corrente elétrica ampere a Temperatura kelvin k Quantidade de matéria mol mol Intensidade luminosa candela cd O QUE SÃO ESCALAS DE MEDIDA? Escalas são uma sequência ordenada de pontos em um equipamento de medida ou em uma representação gráfica de medidas, podendo ser dispostas em múltiplos ou potências da unidade da grandeza física. A escala pode ser linear, quadrática, exponencial, logarítmica etc. Assim, o comprimento, com sua unidade de medida SI, o metro, tem variações lineares desde o zero até o infinitamente grande, pertencentes ao conjunto matemático dos números reais. 27 / 39 As medidas negativas de comprimento, dizem respeito à orientação (sentido) e origem (início) da medida. O intervalo linear de comprimentos em metros divide-se em grupos chamados de escalas lineares 10-4, 10-3, 10-2, 10-1, 100, 101, 102, 103, 104... do metro. Isso equivale a dizer que a escala de comprimentos de medidas de uma residência é de 101 ou 102 m, enquanto a de uma rodovia com 3.585Km pertence à escala de 107 m, pois o Km tem escala de 103 metros. Sistema Internacional de Unidades: SI. — Fonte: INMETRO/CICMA/SEPIN, 2012. O SISTEMA INTERNACIONAL DE UNIDADES (SI) E AS UNIDADES FÍSICAS BÁSICAS De acordo com o Sistema Internacional de Unidades, são sete as grandezas físicas básicas convencionadas e suas dimensões canônicas: 28 / 39 Essas grandezas são independentes por convenção. Todas as outras, chamadas de grandezas derivadas, podem ser definidas por equações algébricas baseadas em leis físicas em termos das grandezas básicas. Logo, no escopo dimensional, força é definida como M L T-2, ou seja, em termos de unidades de medidas, 1 Newton = 1 kg m / s2 para as unidades SI de força, massa, comprimento e tempo. Isso não significa, de modo algum, serem essas sete mais importantes, ou suficientes para todos os fenômenos físicos. A questão está na medida experimental. Sistema Internacional de Unidades: SI. — INMETRO/CICMA/SEPIN, 2012. 29 / 39 É importante ressaltar que, embora as grandezas físicas básicas sejam independentes, suas unidades básicas (metro, quilograma, segundo, ampere, kelvin, mol e candela) não são, pois se definem umas em relação às outras: • O metro incorpora o segundo; • O ampere incorpora o metro, o quilograma e o segundo; • O mol incorpora o quilograma; • A candela incorpora o metro, o quilograma e o segundo. As unidades básicas SI são assim definidas: 30 / 39 REDEFINIÇÃO DO SISTEMA INTERNACIONAL DE UNIDADES - SI Historicamente, algumas unidades básicas SI foram definidas originalmente em termos de peças e materiais físicos sólidos, como o caso do metro padrão e do quilograma padrão. Com a evolução, tivemos as seguintes atualizações: A definição do metro padrão foi modificada para a atual definição em termos da constância da velocidade da luz no vácuo. As unidades básicas Kelvin, ampere e mol também foram alteradas em função de constantes fundamentais da natureza: Kelvin será função da constante de Boltzmann. Ampere será função da carga do elétron. Mol será função do número de Avogadro. Todos esses desenvolvimentos dos processos de medida e definição destas três unidades básicas, já haviam sido obtidos, mas somente em fins de 2018, conseguiu-se aprovar a nova definição do quilograma padrão em função da constante de Planck, sendo implementadas conjuntamente em 20 de maio de 2019. Balança de Kibble para a nova definição da massa e do quilograma em função da constante de Planck. 31 / 39 Assim, as sete unidades básicas SI são função de constantes fundamentais da natureza. Princípio da Medida Esta é a essência do Princípio da Medida: toda medida possui uma incerteza. Não é possível medir com exatidão ou perfeita acuracidade; nenhuma medida é ou será exata. Devemos, então, observar esse princípio, lidando com as incertezas oriundas dos instrumentos, dos processos e dos fenômenos físicos, ainda que exatos nas equações teóricas. Padrão Físico do quilograma até maio / 2019. Se lançarmos uma pequena esfera sólida de um plano inclinado, descrevendo uma parábola, e forrarmos o solo na área de impacto da esfera com papel carbono, de modo a marcarmos os pontos de impacto, perceberemos que, a cada lançamento e impacto, a probabilidade da esfera marcar o carbono em pontos diversos não é desprezível. Na verdade, para cada altura de lançamento, encontraremos uma dispersão de pontos de impacto no solo, evidenciando-a. 32 / 39 EXEMPLO Quando localizamos um endereço por meio de um GPS, o equipamento usa as antenas do sistema de telefonia celular e mais informações de satélites GPS. Ao combinar essas informações, o sistema nos apresenta o local mais provável, estatisticamente, da localização requerida e a sombra de entorno é o desvio desse resultado, a incerteza dessa medida. Quanto mais precisa a localização do sistema GPS, por usar mais antenas e satélites, menor a incerteza e consequentemente menor a sombra de desvio de localização. O ponto central pode variar, pois o resultado é estatístico. Dessa forma, todo dado medido não representará mais um ponto e sim um intervalo de validade da grandeza medida, um valor nominal e sua incerteza que, em termos de diagramas de representação gráfica, seria representada como uma barra de desvio, um intervalo de valores da grandeza medida entre o valor nominal menos o desvio e o valor nominal mais o desvio, formando um binômio de elementos, um intervalo de confiabilidade. Por exemplo, o alcance horizontal do problema de lançamento de projéteis da esfera sólida, de um plano inclinado ao solo, de uma certa altura. Podemos representar esse dado de alcance numa coordenada x como R = xm ± δx considerando uma amostra de dados de lançamentos, obtendo um valor mediano dos alcances de impacto, xm, para uma mesma altura de lançamento, com um desvio estatístico δx. Repare que se representarmos graficamente R, alcance, este será representado como uma barra variando desde xm - δx até xm + δx, no intervalo de validade da dimensão x. Isso significa que toda medida tem uma incerteza, não sendo possível alcançar a exatidão. É importante notar que esse efeito não desaparecerá se aprimorarmos nossa técnica, apesar de podermos aperfeiçoar os resultados, pois sempre haverá dispersão. Logo, podemos afirmar que todo dado medido tem sua incerteza, ou desvio. Essa dispersão dos resultados da amostra de dados será tratada matematicamente com estatística padrão, sendo as incertezaso resultado de desvios. 33 / 39 SAIBA MAIS Busque na internet o documento Avaliação de dados para Medição, Guia para expressão de incerteza de medição GUM 2008 e consulte as definições dos conceitos de medição, resultado de medição, desvios ou incertezas de medição, erros de medida, erros sistemáticos e aleatórios. ALGARISMOS SIGNIFICATIVOS São os algarismos representativos que compõem o valor de uma grandeza, excluindo-se os zeros à esquerda. Eles indicam a precisão dessa medida, na qual o último algarismo representado é incerto. Zeros à direita são significativos. Na tabela, podemos observar um mesmo valor do deslocamento de uma partícula descrito com diferentes números de algarismos significativos. X (mm) No. de significativos 57,896 5 5,79 x 101 3 5,789600 x 101 7 0,6 x 102 1 A escolha do número de significativos que será usado depende da grandeza, do processo de medida e do instrumento utilizado. O número de algarismos significativos de uma grandeza será determinado por sua incerteza. 34 / 39 Incorreto Correto 5,30 ± 0,0572 5,30 ± 0,06 124,5 ± 11 125 ± 11 0,0000200 ± 0,0000005 (200,0 ± 5,0) x 10-7 (45 ± 2,6) x 101 (45 ± 3) x 101 REPRESENTAÇÃO GRÁFICA A representação gráfica será executada levando-se em consideração os dados medidos de uma amostra, com suas incertezas representadas como barras de desvio, ou barras de incertezas, nas quais os dados serão interpretados como intervalos representados graficamente, tendo sido escalonados para essa representação, seja em uma mídia de representação linear, quadrática, exponencial ou logarítmica. As barras representarão o intervalo de confiança da grandeza mensurada. V (m/s) X(m) 1,84 ± 0,55 4,60 ± 0,05 2,76 ± 0,82 6,90 ± 0,05 3,99 ± 1,20 11,10 ± 0,05 9,88 ± 2,96 20,60 ± 0,05 35 / 39 Representação gráfica linear As barras de desvios ou de incertezas do espaço, na abscissa, não foram representadas, pois são menores que os pontos. Foi ajustada uma reta média que representa os pontos experimentais. A reta mediana é traçada procurando passar a reta equilibradamente o mais próximo possível do maior número de pontos, sempre dentro das barras de desvio, e não há uma âncora de representação, como a origem ou outro ponto. 36 / 39 Verificando o Aprendizado 5. De forma simplificada, como se pode definir o que é Ciência? a) Todas as crenças, culturas, mitologias, folclores, rituais e demais atividades humanas são a base do conceito de Ciência. b) Não há uma única definição, toda atividade humana pode ser classificada como Ciência. c) Todas as atividades de investigação, que se utilizem dos preceitos do Método Científico somadas às experiências humanas e de vida, inclusive as crenças humanas sobre uma atividade, serão consideradas Ciência. d) Tudo que puder ser medido, com os princípios do Método Científico e suas metodologias, de forma objetiva e isenta, livre de dogmas, crenças e opiniões, pode ser classificado como Ciência. e) Ciência não pode ser classificada em termos do Método Científico e suas metodologias, mas sim dos avanços científicos alcançados. Comentário Parabéns! A alternativa D está correta. Ciência não pode depender de dogmas, culturas, folclores, crenças mitológicas de qualquer ordem ou de experiências de vida. A Ciência fundamenta-se no Método Científico, em suas metodologias e na medida experimental, sempre de forma isenta. 37 / 39 6. Anos atrás, um cientista afirmou ter encontrado um monopolo magnético, uma partícula de carga magnética não prevista na teoria eletrodinâmica de Maxwell. Essa busca era o desejo de Paul M. Dirac para explicar a origem da quantização da carga elétrica. No entanto, toda a comunidade de Física que se dispôs a repetir o experimento descrito por esse cientista não conseguiu observar o tão procurado monopolo magnético. O que você diria que ocorreu? a) Os demais Cientistas simplesmente não conseguiram encontrar o monopolo magnético. b) O trabalho descrito pelo suposto descobridor do monopolo magnético deve ser considerado falso ou, no mínimo, inconclusivo. c) O monopolo magnético não foi observado com os preceitos do Método Científico e, portanto, os demais cientistas não conseguiram reproduzir o experimento. d) Os demais cientistas não tinham os recursos necessários ao experimento. e) Os demais cientistas falsearam resultados para não divulgarem suas descobertas. Comentário Parabéns! A alternativa B está correta. Todo trabalho científico que passou pelo crivo do Método Científico e suas metodologias deve ser reproduzível dentro dos princípios da medida. Se nenhum outro cientista conseguiu reproduzi-lo com o resultado alegado, e não faltariam interessados nesse tema, o trabalho só pode ser considerado falso ou inconclusivo. 38 / 39 O desenvolvimento do Método Científico, desde a Grécia Antiga até os dias atuais, relaciona-se à nossa evolução científica, tecnológica e do próprio conhecimento, o que chamamos de Teoria do Conhecimento. Não é possível fazer Ciência e seus recursos sem o Método Científico e suas metodologias. Todo processo de conhecimento é uma realização do Método Científico. Qualquer procedimento de medição de grandeza científica, recorre às suas metodologias. Nenhum texto, artigo, tese, monografia e normas técnicas pode deixar de tê-lo em sua concepção. Qualquer pesquisa, para que possa ser validada e certificada, segue o Método Científico. Em resumo, nossa compreensão da natureza em suas amplas dimensões científicas somente existe graças ao Método Científico. REFERÊNCIAS BRASIL. Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia. Resumo do Sistema Internacional de Unidades (SI). Tradução da publicação do BIPM. Rio de Janeiro: INMETRO, 2006. BRASIL. Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia. Sistema Internacional de Unidades (SI). Tradução da publicação do BIPM. Rio de Janeiro: INMETRO, 2012. BRASIL. Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia. GUM - Guia para a Expressão da Incerteza de Medição 2008. Tradução da publicação do BIPM. Brasília: INMETRO, 2012. BRASIL. Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia. Redefinição do SI. Rio de Janeiro: INMETRO, 2018. DE OLIVEIRA, A. J., Bóson de Higgs: Divulgada foto mais nítida da partícula. In: Revista Galileu, 2 set. 2015. HALLIDAY, D.; RESNICK, R. Fundamentos da Física. Volumes 1, 2, 3 e 4. Rio de Janeiro: LTC, 2012. KIM, D. Livro da Filosofia. Tradução de The Phylosophy Book, São Paulo: Globo Livros, 2016. 39 / 39 NUSSENZVEIG, H. M. Curso de Física Básica. Volumes 1, 2, 3 e 4. Ed. São Paulo: Edgar Blucher, 1998. PIACENTINI, J. J. et al. Introdução ao laboratório de Física. Florianópolis: Ed. UFSC, 2012. SEARS & ZEMANSKY; YOUNG, H.; FREEDMAN, R. A. Física I, II, III e IV. 12. ed. São Paulo: Pearson, 2009. EXPLORE+ 1) Leia os textos a seguir e aprofunde seu conhecimento: • Estimando a distância de galáxias, Laboratório Interinstitucional de e-Astronomia (LIneA), 2015. • Bóson de Higgs: divulgada foto mais nítida da partícula, de André Jorge de Oliveira, Revista Galileu, 2015. • Sistema Internacional de Unidades – SI, 1ª Edição Brasileira da 8ª Edição do BIPM, Rio de Janeiro, 2012. • Dicionário de Física Ilustrado, Horácio Macedo, São Paulo: Nova fronteira, 1976. • Redefinição do Sistema Internacional de Unidades de Medidas, INMETRO, 2018. • Precisão e acurácia: você sabe a diferença? CPE Tecnologia, 2019. 2) Pesquise sobre a Convenção do Metro e sua relação com o Bureau Internacional de Pesos e Medidas (BIPM) 3) Acesse o site do Projeto Phet - Interactive Simulations, University of Colorado, e experimente o simulador do problema de um pêndulo, onde se pode adicionar atrito e ajustar a massa e o comprimento do fio. CONTEUDISTA Gentil Oliveira Pires DESCRIÇÃO A importânciada pesquisa de modelos qualitativo e quantitativo para a produção acadêmica. A pesquisa de campo e a análise de dados nas abordagens quantitativa e qualitativa. PROPÓSITO Compreender as características da pesquisa de abordagens qualitativa e quantitativa, bem como suas possíveis interfaces. Perceber que a análise de dados, proveniente da pesquisa de campo, pode tornar-se instrumento eficaz na pesquisa acadêmica, em ambas as abordagens. OBJETIVOS MÓDULO 1 Distinguir pesquisa quantitativa de pesquisa qualitativa a partir da relevância da pesquisa de campo para a produção acadêmica MÓDULO 2 Reconhecer a importância da análise de dados para a pesquisa acadêmica no âmbito das análises quantitativa e qualitativa INTRODUÇÃO DEPOIMENTO (PROFESSORA MIRIAN GOLDENBERG) Quando inicio um curso presencial de metodologia de pesquisa, noto no semblante de meus alunos uma profunda desconfiança. Costumo perguntar sobre suas experiências anteriores com a disciplina e, salvo raríssimas exceções, eles são unânimes em afirmar que a matéria foi muito desinteressante em suas experiências anteriores. Com essa recepção, não é fácil iniciar um curso de dezenas de horas, semanas ou meses. Ao final do curso, no entanto, sempre encontro alunos entusiasmados, empolgados com seus projetos, e não raro com manifestações de carinho e gratidão. Aqui quero compartilhar um pouco dessa experiência prazerosa em sala de aula e mostrar que a pesquisa científica não é algo de apenas alguns eleitos, podendo ser exercida em qualquer campo de estudo. Metodologia científica é muito mais do que algumas regras de como fazer uma pesquisa; ela auxilia a refletir e propicia um “novo” olhar sobre o mundo: um olhar científico, curioso, indagador e criativo. Portanto, a pesquisa não se reduz a certos procedimentos metodológicos. A pesquisa científica exige criatividade, disciplina, empatia, flexibilidade, humildade, interesse genuíno, organização e sensibilidade, baseando‐se no confronto permanente entre o possível e o impossível, entre o conhecimento e o desconhecimento. Nenhuma pesquisa é totalmente controlável, com início, meio e fim previsíveis. A pesquisa é um processo em que é impossível prever todas as etapas. O pesquisador está sempre em estado de tensão porque sabe que seu conhecimento é parcial e limitado — o “possível” para ele. Nesse mesmo sentido, não existe um único modelo de pesquisa. Neste tema veremos um dos caminhos possíveis: aquele que tenho buscado seguir nas últimas quatro décadas e com diferentes abordagens de acordo com o tema escolhido. Todos os pesquisadores precisam estar abertos para um verdadeiro debate de ideias. É a discussão dos nossos achados que pode contribuir para o amadurecimento de nosso trabalho. A pesquisa científica exige um exercício permanente de crítica e autocrítica. Por isso, aceite o estudo desse tema como um prazeroso desafio: um exercício para aprender a pensar cientificamente, com clareza, criatividade, organização e, acima de tudo, sabor. MÓDULO 1 Distinguir pesquisa quantitativa de pesquisa qualitativa a partir da relevância da pesquisa de campo para a produção acadêmica CONSTRUINDO O PROBLEMA DA PESQUISA Fazer uma pesquisa significa aprender a pôr ordem nas próprias ideias. Não importa tanto o tema escolhido, mas a experiência de trabalho de pesquisa. Trabalhando‐se bem, não existe tema que seja tolo ou pouco importante. A pesquisa deve ser entendida como uma ocasião singular para fazer alguns exercícios que servirão por toda a vida. O trabalho de pesquisa deve ser instigante, mesmo que o objeto não pareça ser tão interessante. O que o verdadeiro pesquisador busca é o jogo criativo de aprender como pensar e olhar cientificamente. COMENTÁRIO Aqui falamos em objeto da pesquisa e não objetivos. Em Metodologia Científica, o que chamamos objeto da pesquisa é exatamente aquilo que será pesquisado. Já os objetivos de uma pesquisa dependerão de muitos fatores, inclusive do tipo de objeto pesquisado. Fonte: fizkes | Shutterstock QUALQUER TEMA OU ASSUNTO DA ATUALIDADE PODE SER OBJETO DE UMA PESQUISA CIENTÍFICA. É preciso ter estudado muito, possuir uma sólida bagagem teórica e muita experiência de pesquisa para enxergar o que outros não conseguem ver. O pesquisador experiente descobre assuntos que podem parecer banais e os transforma em pesquisas fecundas. O desejo de reconhecimento não só leva o cientista a comunicar os seus resultados, mas também o influencia na escolha de temas e métodos que tornem seu trabalho mais aceitável por seus pares. Quanto maior a consciência de suas motivações, mais o pesquisador é capaz de evitar os desvios (ou bias) próprios daqueles que trabalham com a ilusão de serem orientados apenas por propósitos científicos. Existe uma hierarquia de legitimidade dentro do campo científico traçada de acordo com os temas que dão prestígio, recursos para a pesquisa, cargos universitários, publicações em editoras prestigiadas etc. Assim, falar de “liberdade de escolha” nesse campo é desconsiderar as pressões (evidentes ou sutis) às quais o pesquisador permanentemente se submete. Tendo consciência de tais pressões, muitas dificuldades e contradições podem ser mais bem compreendidas na escolha de um assunto e na sua formulação como um projeto de pesquisa. Nessa “arte” de fazer pesquisa, o jogador precisa ter alguns atributos para poder entrar no campo científico. Alguns podem ser vistos como internos, atributos pessoais que devem fazer parte do indivíduo que deseja ser um pesquisador: Clareza Concentração Criatividade Curiosidade Delicadeza Disciplina Empatia Equilíbrio Flexibilidade Humildade Iniciativa Interesse real Objetividade Organização Paciência Paixão Respeito ao entrevistado Saber escutar Tranquilidade Outras qualidades podem ser chamadas de externas, porque dependem da formação científica do pesquisador. São elas: BOM DOMÍNIO DA TEORIA DOMÍNIO DAS TÉCNICAS DE PESQUISA ESCREVER BEM EXPERIÊNCIA COM PESQUISA RELACIONAR OS DADOS EMPÍRICOS COM A TEORIA As principais etapas da pesquisa científica envolvem a concepção de um tema de estudo, a coleta de dados, a apresentação de um relatório com os resultados e, em alguns casos, a aplicação dos resultados. O passo inicial está ligado à formulação do problema e consequente definição do objeto da pesquisa. O primeiro passo é tornar o problema concreto e explícito mediante: autor/shutterstock Imersão sistemática no assunto autor/shutterstock Estudo da literatura existente autor/shutterstock Discussão com pessoas que acumularam experiência prática no campo de estudo A boa resposta depende da boa pergunta. O pesquisador deve estar consciente da importância da pergunta que faz e deve saber colocar as questões necessárias para o sucesso de sua pesquisa. O pesquisador, ao escolher seu objeto de estudo, deve pensar em como: PRIMEIRO PASSO Identificar um tema preciso (recorte do objeto). SEGUNDO PASSO Escolher e organizar o tempo de trabalho. TERCEIRO PASSO Realizar a pesquisa bibliográfica (revisão da literatura). QUARTO PASSO Organizar e analisar o material selecionado. Fonte:Shutterstock QUINTO PASSO Fazer com que o leitor compreenda o seu estudo e possa recorrer aos resultados caso queira dar continuidade à pesquisa. Para tanto, o objeto de estudo deve responder aos interesses do pesquisador e ter as fontes de consulta acessíveis e de fácil manuseio. Quanto mais se recorta o tema, com mais segurança e criatividade se trabalha. O estudo científico deve ser claro, interessante e objetivo, tanto para as pessoas familiarizadas com o assunto quanto para as que não são. Muitos acadêmicos se perdem em parágrafos herméticos que não são compreendidos nem pelos seus pares. O pesquisador não precisa utilizar termos obscuros para se mostrar profundo. A profundidade e a seriedade do estudo podem ser mais bem percebidas se o pesquisador utilizar uma linguagem compreensível parao maior número de alunos e leitores. A PESQUISA APRESENTA DIFERENTES FASES. Veremos a seguir: FASE EXPLORATÓRIA A fase inicial, que pode ser chamada de exploratória, lembra uma “paquera” de dois adolescentes. É o momento em que se tenta descobrir algo sobre o objeto de desejo, quem mais escreveu (ou se interessou) sobre ele, como poderia haver uma aproximação, qual a melhor abordagem (ou metodologia) dentre todas as possíveis para conquistar esse objeto. FASE DE ELABORAÇÃO Em seguida, vem a fase que equivale ao “namoro”, quando há maior compromisso e que exige um conhecimento mais profundo, uma dedicação quase exclusiva ao objeto de paixão. É a fase de elaboração do projeto de pesquisa, quando o estudioso mergulha profundamente no tema estudado. FASE DE RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS A terceira fase é o “casamento”, em que a pesquisa exige fidelidade, dedicação, atenção ao seu cotidiano, que é feito de altos e baixos. O pesquisador deve resolver os problemas que vão aparecendo, desde os mais simples (como se vestir para realizar as entrevistas) até os mais cruciais (como garantir a verba para a execução da pesquisa). FASE DE DIAGNÓSTICO Por último, a fase de “separação”, em que o pesquisador precisa se distanciar do seu objeto para escrever o relatório final da pesquisa. É o momento em que é necessário olhar o mais criticamente possível para o objeto estudado, quando é preciso fazer rupturas, sugerir novas pesquisas. É o momento de ver os defeitos e as qualidades do objeto amado. javascript:void(0) METODOLOGIA Quando se fala de metodologia, trata-se de um caminho possível para a pesquisa científica. O que determina a técnica escolhida é o problema que se quer trabalhar: só se escolhe o caminho quando se sabe aonde quer chegar. A importância da pesquisa na vida acadêmica PESQUISA QUANTITATIVA X PESQUISA QUALITATIVA Durante muito tempo, as ciências se pautavam por um modelo quantitativo de pesquisa, em que a veracidade de um estudo era constatada pela quantidade de pesquisados. Muitos pesquisadores, no entanto, questionaram a representatividade e o caráter de objetividade com que a pesquisa quantitativa se revestia. É PRECISO ACEITAR O FATO DE QUE, MESMO NAS PESQUISAS QUANTITATIVAS, A SUBJETIVIDADE DO PESQUISADOR ESTÁ PRESENTE. Na escolha do tema, dos entrevistados, no roteiro de perguntas, na bibliografia consultada e na análise do material coletado, existe um autor, um sujeito que decide os passos a serem dados. Na pesquisa qualitativa, a preocupação do pesquisador não é com a quantidade de indivíduos, mas com o aprofundamento da compreensão de um grupo social, de uma organização, de uma instituição, de uma trajetória etc. Fonte:Shutterstock Fonte: Arthimedes | Shutterstock Ao se pensar nas origens da pesquisa qualitativa em ciências sociais, corre‐se o risco de se perder em um caminho longo demais que, procurando as origens das origens, não chega jamais ao fim. Poderia chegar a Heródoto (495 a.C.-425 a.C.) que, descrevendo a guerra entre a Pérsia e a Grécia, dedicou-se a esboçar os costumes, as vestimentas, as armas, os barcos, os tabus alimentares e as cerimônias religiosas dos persas e povos circunvizinhos. HERÓDOTO Uma boa reflexão sobre a importância de Heródoto nesse contexto, bem como um ótimo exemplo de pesquisa podem ser encontrados no artigo O selvagem e a História: Heródoto e a questão do Outro, de Klaas Woortmann. Pesquise-o na plataforma SciELO. javascript:void(0) Fonte: sianstock | Shutterstock COMENTÁRIO Não pretendendo fazer um caminho tão longo, mas, para situar a questão do uso de técnicas e métodos qualitativos de pesquisa nas ciências sociais dentro de uma discussão mais ampla, elucidaremos o debate entre a sociologia positivista e a sociologia compreensiva. Os pesquisadores que adotam a abordagem qualitativa em pesquisa se opõem ao pressuposto que defende um modelo único de pesquisa para todas as ciências, baseado no modelo de estudo das ciências da natureza. Esses pesquisadores se recusam a legitimar seus conhecimentos por processos quantificáveis que venham a se transformar em leis e explicações gerais. Afirmam que as ciências sociais têm sua especificidade, o que pressupõe uma metodologia própria. Vamos conhecê-los? COMTE Os pesquisadores qualitativistas recusam o modelo positivista aplicado ao estudo da vida social. O fundador do positivismo, Augusto Comte (foto), defendia a unidade de todas as ciências e a aplicação da abordagem científica na realidade social humana. Com base em critérios de abstração, complexidade e relevância prática, Comte estabeleceu uma hierarquia das ciências, em que a Matemática ocupava o primeiro lugar e a Sociologia ou “física social”, o último, precedida, em ordem decrescente, por Astronomia, Física, Química e Biologia. Para Comte, cada ciência javascript:void(0) dependia do desenvolvimento da que a precedeu. Portanto, a Sociologia não poderia existir sem a Biologia, que não existiria sem a Química, e assim por diante. Augusto Comte. Fonte: wikimedia.org Segundo a perspectiva de que o objeto das ciências sociais deve ser estudado como o das ciências físicas, a pesquisa é uma atividade neutra e objetiva, que busca descobrir regularidades ou leis, em que o pesquisador não pode fazer julgamentos nem permitir que seus preconceitos e suas crenças contaminem a pesquisa. DURKHEIM Émile Durkheim. Fonte: wikimedia.org Émile Durkheim (foto), como Comte, preocupado com a ordem na sociedade e com a primazia da sociedade sobre o indivíduo, também se posicionou a favor da unidade das ciências. Tomando “os fatos sociais como coisas”, Durkheim (1985) defendia que o social é real e externo ao indivíduo, ou seja, o fenômeno social, como o fenômeno físico, é independente da consciência humana e verificável pela experiência dos sentidos e da observação. Durkheim acreditava que os fatos sociais só poderiam ser explicados por outros fatos sociais, e não por fatos psicológicos ou biológicos, como pretendiam alguns pensadores de seu tempo. Defendendo a visão da ciência social como neutra e objetiva, na qual sujeito e objeto do conhecimento estão radicalmente separados, Durkheim teve uma influência decisiva para que as ciências sociais adotassem o método científico das ciências naturais. DILTHEY Na segunda metade do século passado, alguns pensadores, influenciados pelo idealismo de Kant, reagiram criticamente ao modelo positivista de conhecimento aplicado às ciências sociais, acreditando que o estudo da realidade social por meio de métodos de outras ciências poderia destruir a própria essência dessa realidade, já que esquecia a dimensão de liberdade e individualidade do ser humano. javascript:void(0) Fonte:Shutterstock Wilhelm Dilthey. Fonte: wikimedia.org A sociologia compreensiva, distinguindo “natureza” de “cultura”, mostrou que era necessário, para estudar os fenômenos sociais, um procedimento metodológico diferente daquele utilizado nas ciências físicas e matemáticas. O filósofo alemão Wilhelm Dilthey (foto) foi um dos primeiros a criticar o uso da metodologia das ciências naturais pelas ciências sociais, em função da diferença fundamental entre seus objetos de estudo. Nas primeiras, os cientistas lidam com objetos externos passíveis de serem conhecidos de forma objetiva, enquanto nas ciências sociais lidam com emoções, valores, subjetividades. Essa diferença se traduz em diferenças nos objetivos e nos métodos de pesquisa. Para Dilthey, os fatos sociais não são suscetíveis de quantificação, já que cada um deles tem um sentido próprio, diferente dos demais, e isso torna necessário que cada caso concreto seja compreendido em sua singularidade. Portanto, as ciências sociais devem se preocupar com a compreensão de casos particulares e não com a formulação de leis generalizantes, como fazem as ciências naturais. WEBER javascript:void(0) Fonte:Shutterstock Max Weber. Fonte: wikimedia.org O maior representante da chamada sociologiacompreensiva é Max Weber (foto). Para ele, o principal interesse da ciência social era o comportamento significativo dos indivíduos engajados na ação social, ou seja, o comportamento ao qual os indivíduos agregam significado considerando o comportamento de outros indivíduos. Os cientistas sociais, que pesquisam os significados das ações sociais de outros indivíduos e deles próprios, são sujeito e objeto de suas pesquisas. Nessa perspectiva – que se opõe à visão positivista de objetividade e de separação radical entre sujeito e objeto da pesquisa – é natural que cientistas sociais se interessem por pesquisar aquilo que valorizam. Esses cientistas buscam compreender os valores, as crenças, as motivações e os sentimentos humanos, compreensão que só pode ocorrer se a ação for colocada dentro de um contexto de significado. FUNDADOR DO POSITIVISMO A origem do positivismo é atribuída ao francês Augusto Comte (1798-1857), autor dos famosos Sistema de Filosofia Positiva (1830-1842) e Catecismo Positivista (1852), além de javascript:void(0) outras publicações. A relação que se estabelece entre a filosofia do francês Comte – chamada de filosofia positiva ou positivismo – e as várias correntes denominadas de "positivismo" baseia-se em diversas possibilidades: a primeira, claro, é a identidade de nome em diversas situações; em seguida, alguns vínculos históricos (teóricos e políticos) entre eles; por fim, mera extensão ou ampliação de sentido (LACERDA, 2009). ÉMILE DURKHEIM David Émile Durkheim (1858-1917) foi um sociólogo, antropólogo, cientista político, psicólogo social e filósofo francês. Formalmente, tornou a Sociologia uma ciência e, com Karl Marx (1818-1883) e Max Weber (1864-1920), é comumente citado como o principal arquiteto da ciência social moderna e pai da Sociologia. WILHELM DILTHEY Wilhelm Christian Ludwig Dilthey (1833‐1911) foi um filósofo hermenêutico, psicólogo, historiador, sociólogo e pedagogo alemão. Dilthey lecionou Filosofia na Universidade de Berlim. MAX WEBER Maximilian Karl Emil Weber (1864‐1920) foi um intelectual, jurista e economista alemão considerado um dos fundadores da Sociologia. Seu irmão foi o também famoso sociólogo e economista Alfred Weber. PESQUISA DE CAMPO A discussão apresentada anteriormente, que diferencia as ciências sociais das demais ciências físicas, contextualiza o surgimento e o desenvolvimento das técnicas e dos métodos qualitativos de pesquisa social. LE PLAY Frédéric Le Play (foto), contemporâneo de Comte, foi um dos primeiros a estudar a realidade social dentro de uma perspectiva científica que considerava a observação direta, controlável e objetiva da sociedade como o método mais adequado à pesquisa social. Em La Réforme Sociale en France (1864), Le Play expõe o método das monografias, que se caracteriza por ser uma técnica, ordenada e metódica, de observação direta da sociedade. Frédéric Le Play. Fonte: wikimedia.org Trouxe de sua experiência de mineralogista, na qual estava habituado a colher amostras de jazidas para serem analisadas, a preocupação de observar diretamente e analisar javascript:void(0) sistematicamente as famílias operárias localizadas nos diferentes países da Europa onde pesquisou. De seus registros minuciosos e ordenados, resultou um conjunto de monografias reunidas em Les ouvriers européens (1855). MORGAN, BOAS E MALINOWSKI No final do século XIX e início do século XX, os estudos dos antropólogos nas sociedades chamadas então de “primitivas” foram determinantes para o desenvolvimento das técnicas de pesquisa que permitem recolher diretamente observações e informações sobre a cultura nativa. As sociedades estudadas diretamente por esses antropólogos eram sociedades sem escrita, longínquas, isoladas, de pequenas dimensões, com reduzida especialização das atividades sociais, tendo sido classificadas como “simples” ou “primitivas” em contraste com a organização “complexa” das sociedades dos pesquisadores. Fonte:Shutterstock Lewis Henry Morgan. Fonte: wikimedia.org O primeiro antropólogo a conviver com os nativos foi o americano Lewis Henry Morgan (foto), um dos mais expressivos representantes do pensamento evolucionista. Jurista de formação, em 1851 publicou The League of Hodénosaunee, or Iroquois, considerado o primeiro tratado científico de etnografia. javascript:void(0) Fonte:Shutterstock Franz Boas. Fonte: wikimedia.org Fonte:Shutterstock Bronislaw Malinowski. Fonte: wikimedia.org Mas foram os trabalhos de campo de Franz Boas e Bronislaw Malinowski (respectivamente retratados acima), entre 1883 e 1902, e, particularmente, a expedição às ilhas Trobriand, que consagraram a ideia de que os antropólogos deveriam passar um longo período na sociedade que estão estudando para encontrar e interpretar seus próprios dados, em vez de depender dos relatos dos viajantes, como faziam os chamados “antropólogos de gabinete”. Nos primeiros trinta anos do século XX, o trabalho de campo passou a orientar as pesquisas antropológicas. Boas, um geógrafo de formação, crítico radical dos antropólogos evolucionistas, ensinou que no campo tudo deveria ser anotado meticulosamente e que um costume só tem significado se estiver relacionado ao seu contexto particular. Ensinou também o “relativismo cultural”: o pesquisador deveria estudar as culturas com um mínimo de preconceitos etnocêntricos. Para Boas, o que constitui o “gênio próprio” de um povo repousa sobre as experiências individuais e, portanto, o objetivo do pesquisador é compreender a vida do indivíduo dentro da própria sociedade em que vive. A primeira experiência de campo de Malinowski foi em 1914, entre os mailu, na Melanésia. Impedido de voltar à Inglaterra no início da Primeira Guerra Mundial, ele começou sua pesquisa nas ilhas Trobriand, de 1915 a 1916, retornando em 1917 para viver com os nativos por mais um ano. Essa longa convivência com os nativos teve uma influência decisiva na inovação do método de pesquisa antropológica. Malinowski demonstrou que o comportamento nativo não é irracional, mas se explica por uma lógica própria que precisa ser descoberta pelo pesquisador. Colocou em prática a observação participante, criando um modelo do que deve ser o trabalho de campo: o pesquisador, por meio de uma estada de longa duração, deve mergulhar profundamente na cultura nativa, impregnando‐se da mentalidade nativa. Deve viver, falar, pensar e sentir como os nativos. Grande parte da renovação das ciências sociais se deve às influências (diretas ou indiretas) dos métodos de pesquisa de Malinowski. Argonauts of the Western Pacific provocou uma verdadeira ruptura metodológica na Antropologia, priorizando a observação direta e a experiência pessoal do pesquisador no campo. FRÉDÉRIC LE PLAY javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) Frédéric Le Play (1806-1882) teve uma grande influência no desenvolvimento da sociologia aplicada devido às metodologias que propôs para estudar determinados fenômenos sociais; considerava a família e o orçamento familiar fundamentais para estudar as condições sociais da sociedade em que se encontravam. LEWIS HENRY MORGAN Lewis Henry Morgan (1818-1881) foi um antropólogo, etnólogo e escritor norte-americano. Considerado um dos fundadores da antropologia moderna, fez pesquisa de campo entre os iroqueses, de onde retirou material para sua reflexão sobre cultura e sociedade. FRANZ BOAS Franz Uri Boas (1858-1942) foi um antropólogo teuto-americano e um dos pioneiros da antropologia moderna que tem sido chamado de "Pai da Antropologia Americana". Estudando na Alemanha, Boas foi premiado com um doutorado em Física em 1881, enquanto estudava Geografia. BRONISLAW MALINOWSKI Bronislaw Kasper Malinowski (1884-1942) foi um antropólogo polonês. É considerado um dos fundadores da Antropologia social. Atuando na London School of Economics, fundou a Escola Funcionalista. Suas grandes influências incluíam James Frazer e Ernst Mach. Malinowski,considerado o pai do funcionalismo, acreditava que cada cultura tivesse como função a satisfação das necessidades básicas dos indivíduos que a compõem, criando instituições capazes de responder a essas necessidades. A análise funcional consiste em verificar todo fato social do ponto de vista das relações de interdependência que ele mantém, sincronicamente, com outros fatos sociais no interior de uma totalidade. INOVAÇÃO DO MÉTODO DE PESQUISA ANTROPOLÓGICA Argonauts of the Western Pacific, publicado em 1922, é um verdadeiro tratado sobre o trabalho de campo. A convivência íntima com os nativos passou a ser considerada o melhor instrumento de que o antropólogo dispõe para compreender “de dentro” o significado das lógicas particulares características de cada cultura. SAIBA MAIS Boas foi o grande mestre da antropologia americana na primeira metade do século XX. Formou toda uma geração de antropólogos importantes no campo, como Ralph Linton, Ruth Benedict e Margaret Mead, considerados representantes da antropologia cultural americana, que utiliza métodos e técnicas de pesquisa qualitativa somados a modelos conceituais próximos da Psicologia e da Psicanálise. RALPH LINTON javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) Ralph Linton (1893-1953) foi um respeitado antropólogo americano de meados do século XX, particularmente lembrado por seus textos O Estudo do Homem e A Árvore da Cultura. Uma das principais contribuições de Linton para a Antropologia foi definir uma distinção entre status e papel. RUTH BENEDICT Ruth Benedict (1887-1948) foi uma antropóloga americana, iniciou sua graduação na Universidade de Columbia em 1919. Lá, entrou em contato com Franz Boas e se tornou PhD. Em 1923, tornou-se membro da mesma universidade. São de autoria de Boas muitos trabalhos clássicos, inclusive Raça, Linguagem e Cultura – provavelmente o mais veemente texto antirracista a surgir do mundo acadêmico em sua época. MARGARET MEAD Margaret Mead (1901-1978) foi uma antropóloga cultural norte-americana. Nasceu na Pensilvânia, criada na localidade de Doylestown por um pai professor universitário e uma mãe ativista social. Graduou-se no Barnard College em 1923 e fez doutorado na Universidade de Columbia em 1929. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. SOBRE O CONCEITO DE PESQUISA ESTUDADO NESTE TEMA, É CORRETO AFIRMAR, EXCETO: A) A pesquisa não é uma ação isolada, mas uma oportunidade de fazer exercícios que servirão por toda a vida. B) O autêntico pesquisador compreende a pesquisa como um jogo que lhe proporciona a criatividade e o desenvolvimento do olhar científico. C) Ainda que o objeto não seja ou não pareça interessante, é preciso que o trabalho do pesquisador seja instigante. D) Não é qualquer tema ou assunto da atualidade que pode ser objeto de uma pesquisa científica. E) Mesmo temas do cotidiano e banais, dependendo da experiência do pesquisador, podem se tornar grandes e profundas pesquisas. 2. PARA ESTE PENSADOR, OS FATOS SOCIAIS SOMENTE PODEM SER EXPLICADOS POR OUTROS FATOS SOCIAIS E NÃO POR EXPLICAÇÕES PSICOLÓGICAS OU BIOLÓGICAS, DIFERENCIANDO-SE DE MUITOS OUTROS PENSADORES DE SUA ÉPOCA. A ADOÇÃO DO MÉTODO CIENTÍFICO NAS CIÊNCIAS SOCIAIS TEM, COM CERTEZA, A SUA INFLUÊNCIA DIRETA E DETERMINANTE. ESSE PENSADOR É: A) Durkheim B) Comte C) Malinowski D) Dilthey E) Weber GABARITO 1. Sobre o conceito de pesquisa estudado neste tema, é correto afirmar, exceto: A alternativa "D " está correta. Qualquer tema ou assunto da atualidade pode ser objeto de uma pesquisa científica. A pesquisa não é uma ação isolada, mas uma oportunidade de fazer exercícios que servirão por toda a vida. O autêntico pesquisador compreende a pesquisa como um jogo que lhe proporciona criatividade e o desenvolvimento do olhar científico. Ainda que o objeto não seja ou não pareça interessante, é preciso que o trabalho do pesquisador seja instigante. Mesmo temas do cotidiano e banais, dependendo da experiência do pesquisador, podem se tornar grandes e profundas pesquisas. 2. Para este pensador, os fatos sociais somente podem ser explicados por outros fatos sociais e não por explicações psicológicas ou biológicas, diferenciando-se de muitos outros pensadores de sua época. A adoção do método científico nas ciências sociais tem, com certeza, a sua influência direta e determinante. Esse pensador é: A alternativa "A " está correta. É fato social toda a maneira de fazer, fixada ou não, suscetível de exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior; ou ainda, toda a maneira de fazer que é geral na extensão de uma sociedade dada e, ao mesmo tempo, possui uma existência própria, independentemente de suas manifestações individuais. O fato social é tudo o que se produz na e pela sociedade, ou ainda, aquilo que interessa e afeta o grupo de alguma forma (DURKHEIM, 1985). MÓDULO 2 Reconhecer a importância da análise de dados para a pesquisa acadêmica no âmbito das análises quantitativa e qualitativa ANÁLISE DOS DADOS: DA FASE DA COLETA À INTERPRETAÇÃO Agora vamos nos aprofundar um pouco mais na pesquisa de campo e como ela acontece. Isso possibilitará que você encontre a melhor metodologia para realizá-la quando estiver elaborando seu próprio projeto de pesquisa ou mesmo já buscando os dados de seu objeto. Para isso, continuaremos aproveitando a experiência antropológica citada. Malinowski sugeriu três questões para o trabalho de campo: Por meio do contato íntimo com a vida nativa, exaustivamente registrado no diário de campo, Malinowski buscou as respostas dessas questões preocupando‐se em compreender o ponto de vista nativo. Para Malinowski, a Antropologia era o estudo segundo o qual, compreendendo o “primitivo”, poderíamos chegar a compreender melhor a nós mesmos. A rica experiência de campo de Malinowski, assim como suas propostas metodológicas, influenciaram decisivamente a aplicação de técnicas e métodos de pesquisa qualitativa em ciências sociais. Fonte:Shutterstock Malinowski em pesquisa de campo com nativos das Ilhas Trobriand. | Fonte: scihi.org Na década de 1970, surge nos EUA, inspirada na ideia weberiana de que a observação dos fatos sociais deve levar à compreensão (e não a um conjunto de leis), a antropologia interpretativa. Um dos principais representantes da abordagem interpretativa é Clifford Geertz, que propõe um modelo de análise cultural hermenêutico: o antropólogo deve fazer uma descrição em profundidade (descrição densa) das culturas como “textos” vividos, como “teias de significados” que devem ser interpretados. De acordo com Geertz (1978), os “textos” antropológicos são interpretações sobre as interpretações nativas, já que os nativos produzem interpretações de sua própria experiência. Essa perspectiva se traduz em um permanente questionamento do antropólogo a respeito dos limites de sua capacidade de conhecer o grupo que estuda, e na necessidade de expor, em seu texto, suas dúvidas, perplexidades e os caminhos que levaram à sua interpretação, percebida sempre como parcial e provisória. CLIFFORD GEERTZ javascript:void(0) Clifford James Geertz (1926-2006) foi um antropólogo estadunidense, professor emérito da Universidade de Princeton, em Nova Jersey, nos Estados Unidos. Seu trabalho no Institute for Advanced Study de Princeton se destacou pela análise da prática simbólica no fato antropológico. Geertz inspirou a tendência atual da chamada antropologia reflexiva (ou pós‐interpretativa), que propõe uma autorreflexão a respeito do trabalho de campo nos seus aspectos morais e epistemológicos. Essa antropologia questiona a autoridade do texto antropológico e propõe que o resultado da pesquisa não seja fruto da observação pura e simples, mas de um diálogo e de uma negociação de pontos de vista entre pesquisador e pesquisados. Fonte:Shutterstock Clifford Geertz. Fonte: wikimedia.org Partindo do princípio de que o ato de compreender está ligado ao universo existencial humano, as abordagens qualitativas não
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