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Competência Técnico-Operativa em Serviço Social II Competência Técnico-Operativa em Serviço Social II Organizado por Universidade Luterana do Brasil Universidade Luterana do Brasil – ULBRA Canoas, RS 2015 Arno Vorpagel Scheunemann Giovane Antônio Scherer Ivone Rheinheimer Roberta Boldrini Rúbia Geane Goetz Conselho Editorial EAD Andréa de Azevedo Eick Astomiro Romais, Claudiane Ramos Furtado Dóris Cristina Gedrat Kauana Rodrigues Amaral Luiz Carlos Specht Filho Mara Lúcia Salazar Machado Maria Cleidia Klein Oliveira Thomas Heimann Obra organizada pela Universidade Luterana do Brasil. Informamos que é de inteira responsabilidade dos autores a emissão de conceitos. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem prévia autorização da ULBRA. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na Lei nº 9.610/98 e punido pelo Artigo 184 do Código Penal. ISBN: 978-85-5639-157-5 Dados técnicos do livro Diagramação: Marcelo Ferreira Revisão: Igor Campos Dutra 1 Competência: Do ser ao Fazer Profissional ............................1 2 Dimensões da Competência Profissional .............................22 3 Clarificando Categorias: da Intencionalidade ao Produto ....46 4 Dimensões das Estratégias na Prática Profissional ................66 5 Políticas, Programas e Projetos Sociais: A Materialização de Direitos ...............................................84 6 Diagnóstico no Planejamento Estratégico ..........................109 7 Indicadores Sociais ...........................................................128 8 Da Rede Social Pessoal às Redes Institucionais...................148 Sumário Capítulo 1 Competência: Do ser ao Fazer Profissional 1 Assistente Social, Especialista na Administração e Planejamento de projetos. Captadora de Recursos junto a Prefeitura Municipal de Novo Hamburgo. Docente do Curso de Serviço Social da Universidade Luterana do Brasil -Ulbra. Rúbia Geane Goetz1 2 Competência Técnico-Operativa em Serviço Social II Esse capítulo se propõe a apresentar uma reflexão alusiva às exigências contemporâneas do mundo do trabalho, pautada no desenvolvimento de competências. Para tanto, buscaremos inicialmente compreender as várias definições sobre a catego- ria articuladas ao campo pessoal e profissional. Pretendemos trazer ao aluno a aproximação com o tema e a relação direta com as competências teórico-metodológicas, ético-políticas e técnico-operativas que fundamentam o fazer profissional do Serviço Social. 1.1 Pressupostos teóricos da competência No momento da gênese da profissão do Serviço Social, o que lhe garantia status de reconhecimento era apenas sua compe- tência técnica, ou seja, os resultados imediatos do seu fazer é que lhe garantiam legitimação. A partir do Movimento de Reconceituação, a profissão rompe sua base nas visões con- servadoras e passa a articular seu fazer a um estatuto cien- tífico, pautado na produção de um conhecimento crítico so- bre a realidade. A partir de então, o processo de trabalho do serviço social passa a ser fundamentado pelas competências: teórico-metodológica, técnico-operativa e ético-política, que são indispensáveis na construção do ser, saber e do fazer pro- fissional. Antes de aprofundarmos nossas reflexões sobre essas com- petências específicas que direcionam o processo de trabalho do serviço social, é importante que possamos compreender o que é competência? Capítulo 1 Competência: Do ser ao Fazer Profissional 3 Em função de sua recente utilização como base teórica, não existe ainda uma definição clara e partilhada desse con- ceito entre os autores que a trabalham. Dessa forma, lança- remos algumas definições e considerações sobre a categoria competência, as quais contribuíram significativamente para a construção do nosso próprio conceito, sobre a mesma. Partiremos, assim, da definição de Resende que tem a com- petência como “transformação de conhecimentos, aptidões e inclusive habilidade em resultados” (1997, p. 116). Aqui, a ca- tegoria envolve e pressupõem alguns elementos, que necessa- riamente precisam estar vinculados, ou ainda, ser mobilizados de forma coerente, para que as ações resultantes desse mo- vimento possam gerar bons resultados, único meio pelo qual pode ser avaliada a efetividade da competência. Para Desaulniers, a competência significa: um sistema de conhecimentos, conceituais e processuais, organizados em esquemas operatórios que permitem, no interior de uma família de situações, a identificação de uma ação eficaz. (1998, p. 8) Segunda a autora, a competência integra dois elementos principais, sendo que a incoerência entre eles gera um impas- se no processo. Assim: competência integra os conhecimentos sobre os objetos e ação (...) é inseparável da ação, e os resultados teóri- cos e/ou técnicos são utilizados de acordo com a capaci- dade de executar as decisões que a ela (a ação) sugere. Ou seja, competência é a capacidade para resolver um 4 Competência Técnico-Operativa em Serviço Social II problema em uma situação dada, o que significa dizer que a mensuração desse processo baseia-se essencial- mente nos resultados (...). (1998, p. 8) Esta capacidade exige ainda um processo de responsabili- dade do profissional, vinculada não somente ao cumprimento de ordens, mas de assumir pessoalmente a responsabilidade referente à análise da situação, as estratégias utilizadas e as consequências dessa situação. A partir dessa concepção, passa a ocorrer um envolvimento pessoal do indivíduo, na situação sobre a qual tem a respon- sabilidade de atuar. Esse envolvimento é essencial e inevitável, assim se considera inviável a realização de uma ação compe- tente sem a presença deste. O envolvimento do sujeito demanda a tomada de inicia- tiva, ou seja, a introdução de algo novo, de respostas ade- quadas aos desafios colocados. Essa iniciativa, no entanto, não é inventada, não surge do nada como se em um passe de mágica fosse possível encontrar soluções, ela está estreitamen- te vinculada à mobilização de conhecimentos já adquiridos, evidenciando a articulação entre esses conhecimentos e a es- tratégia de ação peculiar, para que se possa alcançar êxito no trabalho desenvolvido. Capítulo 1 Competência: Do ser ao Fazer Profissional 5 A responsabilidade passa a assumir particularmente um papel fundamental, quando se trata não apenas de responder por alguma coisa, mas sim quando no lugar dessa “coisa” são colocados seres humanos2. Conforme Zarifian “é muito difícil sentir-se profundamente responsável por uma situação quan- do não se pode, intimamente, dar-lhe um valor significativo” (2001, p. 70). Nesse sentido, a responsabilidade passa a ser a contra- partida da autonomia e da descentralização da tomada de decisões. Sob a ênfase da competência, o espaço de trabalho 2 Referimo-nos aqui especialmente à responsabilidade do assistente social, profis- sional que lida diretamente com os usuários, trabalhando com sua subjetividade, e intervindo na maioria das vezes em situações carregadas de emocionalidade. 6 Competência Técnico-Operativa em Serviço Social II não é mais centrado no cumprimento de ordens, mas sim no “assumir” pessoalmente a responsabilidade pela avaliação da situação, pela iniciativa exigida e pelos seus resultados. Para Zarifian, no mercado de trabalho atual, a competên- cia também está ligada à capacidade de trabalhar em rede, podendo também ser definida como: A faculdade de mobilizar a rede de atores em torno das mesmas situações, faculdade de fazer com que estes ato- res compartilhem as implicações de suas ações, é fazê- -los assumir áreas de corresponsabilidade. (2001, p. 74) Essa responsabilidade, no entanto, passa a ser assumida de acordo com a singularidade do profissional, ou da rede de profissionais envolvidos em determinadas situações, podendo ser utilizada como meio de alcançar méritos pessoais ou, a partir de um sentido ético o qualentendemos ser o mais con- veniente, em uma ação que demanda competência. Para Perrenoud, “as competências não são intrínsecas ao ser humano, sendo estas consideradas, aquisições, aprendi- zados construídos e não virtualidades da espécie” (1999, p. 21). Dessa forma, embora os seres humanos sejam genetica- mente capazes de construir competências, estas somente serão construídas através de “aprendizados que não intervém espon- taneamente”, incumbindo a cada indivíduo, dentro de suas particularidades, mobilizar seus conhecimentos, habilidades, atitudes, para desenvolver suas próprias competências. Assim sendo, a competência não pode ser vinculada ape- nas à existência desses elementos, ela se manifesta na forma Capítulo 1 Competência: Do ser ao Fazer Profissional 7 como estes são utilizados, integrados e ou mobilizados. Essa mobilização nasce de um treinamento intensivo, que poderá resultar na construção efetiva de competências. Ao nos familiarizarmos com o conceito acima menciona- do, surge-nos uma questão, a qual coincidentemente é tratada por Perrenoud. Com base no entendimento de que as compe- tências são construídas a partir das situações as quais somos expostos sejam estas relacionadas ao campo de trabalho, ou no dia a dia, perguntamos, parafraseando o autor: Existem então tantas competências quantas situações? O próprio autor responde ao questionamento dizendo que embora a vida coloca-nos constantemente frente a novas e inesperadas situações, ela também nos impõe que reinventa- mos todos nossos passos a cada dia. Assim, encontra-se um equilíbrio que varia de pessoa a pessoa, alternando-se entre a rotina e as novidades. Refere ainda que “as competências são interessantes, pois permitem enfrentar conjuntos de situações” (Perrenoud, 1999, p. 29). Embora as competências não sejam desenvolvidas para responder situações únicas, na vida são encontradas situações tão originais que não fazem parte de nenhum conjunto de co- nhecimentos, os quais requerem competências únicas. Dessa maneira, somos induzimos a construir nossas competências a partir de cada situação. As situações que impõem tal reque- rimento, geralmente, estão ligadas a situações extremas, as quais envolvem os sentimentos dos atores envolvidos. Segundo ainda o autor: 8 Competência Técnico-Operativa em Serviço Social II a maioria de nossas competências é construída em cir- cunstâncias menos dramáticas, mais lentamente, por meio de situações semelhantes o bastante para que cada uma possa contribuir na construção progressiva de uma competência esboçada. Assim, deste nascimento, depa- ramo-nos com situações de estresse, frustração, incerte- za, divisão, expectativa que, para além das diferenças, formam, pouco a pouco, certos conjuntos aos quais ins- tituímos. Um conjunto de situações esboça-se de manei- ra empírica e pragmática. Esse conjunto não é fechado, mas enriquece-se conforme as peripécias da vida. (PER- RENOUD, 1999, p. 29) Nesse sentido, o autor acredita que as ações profissionais são privilegiadas, ao passo que: as situações de trabalho sofrem as fortes exigências do posto, da divisão das tarefas e, portanto, reproduzem-se dia após dia, enquanto que outros campos de ação são maiores os intervalos entre situações semelhantes. Ou seja, no registro profissional, as competências constro- em-se a uma velocidade maior (1999, p. 29). Não existem qualidades pessoais específicas que garantam a competência, ao passo que, mesmo aos especialistas, não bastam apenas a gama de conhecimentos específicos, sendo ainda exigidos, além destes, inúmeras outras capacidades que devem ser “acessadas” na medida em que as situações são vivenciadas. Para Perrenoud “o sucesso depende de uma ca- pacidade geral de adaptação e discernimento das situações, comumente considerada como inteligência natural do sujeito” (1999, p. 30). Capítulo 1 Competência: Do ser ao Fazer Profissional 9 São as situações que possibilitam aos sujeitos a capaci- dade de desenvolverem suas competências, sendo que cada nova situação permite ao sujeito mobilizar não só recursos es- pecíficos, mas também o seu senso comum e sua lógica natu- ral. Esses recursos referentes a seus conhecimentos, modelos, métodos, informações, conceitos exigem uma maneira especí- fica de serem mobilizáados e colocados em sinergia, diferen- ciando-se para cada sujeito. A competência também pode ser assim considerada como algo pessoal e singular, ou seja, independentemente da for- mação ou qualificação a que o sujeito seja exposto, suas com- petências somente serão desenvolvidas na medida em que vi- venciar as situações, colocando-se no processo e mobilizando seus conhecimentos de forma particular, melhor dizendo, a aquisição de conhecimento ou a participação em um treina- mento específico não garante ao sujeito competência em suas ações. Para que essas ações possam então ser competentes, são necessárias várias articulações entre seus conhecimentos, ha- bilidades, atitudes e o modo como estes serão operacionali- zados. 10 Competência Técnico-Operativa em Serviço Social II Embora, tenhamos consciência da amplitude das discus- sões que poderíamos lançar ainda, sobre o tema competên- cia, delimitamos a construção de nosso conceito, sobre as considerações apresentadas anteriormente. Assim, ter-se-á competência como: 1.2 Qualificação e formação: conceitos articulados à competência O conceito de competência agrega uma série de outras ca- tegorias, que, embora muitas vezes passem a ser utilizadas como sinônimos, trazem individualmente diferentes sentidos. Assim, alguns desses conceitos merecem ser distinguidos nesse espaço, para que possam ser melhores compreendidos e tra- balhados. Referimo-nos aqui principalmente aos conceitos de qualificação e formação, os quais vêm ganhando prestígio na Capítulo 1 Competência: Do ser ao Fazer Profissional 11 medida em que a competência ganha seu espaço no mundo do trabalho. Conforme Resende, a qualificação significa “domínio de conhecimentos especializados resultantes de experiência, for- mação e treinamento, requeridos para a execução de determi- nados trabalhos, ou exercício de profissões, cargos ou ativida- des específicas” (2000, p. 37). Podemos entender assim, que a qualificação não determi- na a competência, e sim a pressupõem, pois, quanto mais bem qualificadas estiverem as pessoas, mais probabilidades elas terão de ser competentes no exercício de suas atividades. Tal concepção faz com que competência venha assumin- do um papel cada vez mais central na sociedade e causando um deslocamento de noções: dos saberes a competências na esfera educativa, da qualificação à competência na área do trabalho. A competência vem tomando o lugar da qualificação “onde o saber assume uma atribuição de sujeito e a relação cognitiva tende a definir-se sobre o modo ser (ser competente) e não mais sobre aquele ter uma qualificação (com risco de perdê-la)”. Stroobants apud Desaulniers (1998. p, 8) A partir do momento em que as competências passam a centralizar as discussões do campo de trabalho, estas exigem que outros elementos constituintes desse processo, também sofram alterações, com intuito de aprimoramento. Melhor di- zendo, no momento em que a competência passa a ocupar o 12 Competência Técnico-Operativa em Serviço Social II lugar da qualificação, faz-se necessário uma atualização da própria formação do sujeito, para que essa possa então dar conta da formação de competências, e não apenas da qualifi- cação do indivíduo. Faremos uma discussão específica sobre esse processo na formação do serviço Social no próximo capítulo. Como consequência desse processo, surge a necessidade de redefinição dos conteúdos de aprendizagem, onde se veri- Capítulo 1 Competência: Do ser ao Fazer Profissional 13 fica a transferência de um ensino pautado nos saberes disci- plinares, voltados apenas para saberes técnicos e específicos, para um ensino voltado à instauraçãoda competência, con- templando os saberes formais, informais, teóricos, práticos/ da experiência e ainda sociais, os quais, quando articulados de maneira eficaz, garantam bons resultados frente aos desa- fios encontrados no cotidiano, e principalmente no espaço de trabalho. No processo de formação do Serviço Social, esse processo se evidencia claramente, ao passo que cada período histórico apresentava um determinado perfil profissional. Pau- taremos esse conteúdo no capítulo seguinte. Pela inovação dessas concepções e a decodificação do ter- mo competência pelo mundo da formação, esse processo vem ocorrendo ainda de forma lenta, o que não quer dizer que não mereça uma significativa atenção, sendo que estamos falando do futuro das profissões. O mercado de trabalho vem criando uma tendência de rejeição de profissionais, cuja única “baga- gem” que apresentam são conhecimentos teóricos e domínio técnico das questões apresentadas, exigindo dos mesmos o domínio complexo entre esses saberes e a sua direta articula- ção às aptidões e habilidades particulares. Na medida em que essas discussões vêm sendo pautadas, o uso da categoria formação também passa a ser generaliza- do. Para Desaulniers: a formação consiste numa categoria que envolve várias outras categorias referente à vida social, como aprendi- zagem, reciclagem, aperfeiçoamento, promoção social, formação profissional, empregabilidade, educação de 14 Competência Técnico-Operativa em Serviço Social II adultos, formação contínua, educação permanente, edu- cação popular. (1998. p. 12) A formação, nesse sentido, não pode ser vinculada ape- nas aos espaços institucionais de ensino, pois a mesma ocorre durante toda nossa vida, não estando apenas a simples trans- posição de conhecimentos teóricos, práticos e específicos liga- dos a uma determinada área (profissão), ou ainda reduzida à formação de força de trabalho, embora seja sua principal di- mensão. É preciso aprender a considerá-la como um processo capaz de “instaurar um conjunto de disposições, de saber-ser, de atitudes, de formas, de pensamento e de expectativas ad- quiridas enquanto se aprende uma profissão ou uma técnica” (TANGUY apud DESAULNIERS 1998, p. 12). Contudo, ao mesmo tempo em que buscamos uma nova interpretação para o termo formação, e diante dele passamos a exigir das instituições de ensino uma adequação a nova ló- gica da sociedade pontuada sobre a construção e desenvol- vimento de competências, não podemos esquecer, que cabe também ao próprio sujeito, buscar seu autoconhecimento, descobrir suas potencialidades e pontos fracos, favorecendo assim a construção do perfil profissional hoje exigido. Com a lógica da competência, o processo de formação efetivamente passa a ser concebido não só como “uma ação que visa à transmissão de conhecimentos gerais e especiali- zados, mas também como um conjunto de ações de orienta- ções (operadas em dispositivos apropriados) e de integração ao contexto social, (...)” (TANGUY apud DESAULNIERS 1998, p. 13). Capítulo 1 Competência: Do ser ao Fazer Profissional 15 Nesse sentido, urge a necessidade de que as próprias ins- tituições de formação, produtoras de comportamentos sociais, realizem sua autoanálise, visando avaliar os conteúdos e mé- todos pedagógicos utilizados, para que possam atuar de for- ma coerente com essa nova concepção e lógica da sociedade, atendendo principalmente às novas exigências do mercado de trabalho, sendo uma delas a questão que tratamos neste es- paço, ou seja, a instauração de competências como condição principal das transformações que se desencadeiam a partir do mundo do trabalho, seus reflexos e exigências na área da for- mação. No que se refere à formação do assistente social, a autora Iamamoto considera que esse processo deva habilitar: (...) um profissional culto e atento às possibilidades des- cortinadas pelo mundo contemporâneo, capaz de formu- lar, avaliar e recriar propostas no nível das políticas so- ciais e da organização das forças da sociedade civil (...) profissional informado, crítico e propositivo, que aposte no protagonismo dos sujeitos sociais (...) profissional ver- sado, no instrumental técnico-operativo, capaz, de reali- zar as ações profissionais, nos níveis de assessoramento, planejamento, negociação, pesquisa e ação direta, esti- muladoras [res] da participação dos usuários na formula- ção, gestão e avaliação de programas e serviços sociais de qualidade. (1999, p. 126) De posse a tais requisições contemporâneas, podemos di- zer que a construção e o desenvolvimento de competências na formação e prática do Serviço Social passa a ser uma al- 16 Competência Técnico-Operativa em Serviço Social II ternativa, na busca do atendimento das novas demandas e desafios colocados à profissão, resultados da questão social e dos espaços de resistência à ordem social posta. O processo histórico que fundamenta essa construção será conteúdo de debate do próximo capítulo. Recapitulando Neste capítulo, debatemos os diferentes e complementares conceitos referentes à categoria competência, chegando-se a um conceito próprio que embasa nossa reflexão, desse modo, a competência é o processo de: “Transformação de conheci- mentos, habilidades atitudes em ações/iniciativas. Pode ser medida e avaliada através dos resultados das mesmas, e incrementada via treinamento, qualificação e/ou desenvolvi- mento”. Assim, a competência apresenta relação direta com os processos de formação e qualificação, os quais fomentam e determinam as possibilidades de acesso e permanência no mundo de trabalho contemporâneo. Referência Comentada DESAULNIERS, Julieta Beatriz Ramos (org). Formação & Tra- balho & Competência: questões atuais. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1998. 226 p. O livro contempla reflexões sobre a construção do conceito de competência e sua articulação com a formação e a Capítulo 1 Competência: Do ser ao Fazer Profissional 17 qualificação. A autora refere que a gestão estratégica de competências está diretamente vinculada ao fenômeno da formação do cidadão e, para tanto, realiza uma análise dessa intrínseca relação. Referências DESAULNIERS, Julieta Beatriz Ramos (org). Formação & Tra- balho & Competência: questões atuais. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1998. 226 p. IAMAMOTO, Marilda Vilela. O Serviço Social na Contem- poraneidade: trabalho e formação profissional. 2. ed. São Paulo: Cortez: 1999. PERRENOUD, Philippe. Construir competências desde a escola (Tradução de Bruno Charles Magne) Porto Alegre: Artmed: 1999, 90 p. RESENDE, Raquel. Esfera Pública e Conselhos de Assistên- cia Social: caminhos da construção: Cortez, São Paulo, 1998. ______________.O livro das competências: desenvolvimen- to das competências: a melhor ajuda pra as pessoas, or- ganizações e sociedade. Rio de Janeiro: Qualitymark. Ed. 2000. ZARIFIAN, Philipe. Objetivo Competência: por uma nova lógica. Tradução Maria Helena C. V. Trylinski. São Paulo: Atlas, 2001. 18 Competência Técnico-Operativa em Serviço Social II Atividades A partir dos estudos desenvolvidos neste capítulo, realize as atividades a seguir. Assinale a alternativa correta: 1) No momento da gênese da profissão do Serviço Social, o que lhe garantia status de reconhecimento eram os re- sultados imediatos. Assinale a alternativa que descreve a competência que legitimava a profissão em sua gênese. a) Competência técnica. b) Competência pautada na bondade, caridade. c) Competência relacional. d) Competência teórica balizada pela teoria social crítica. e) Competência crítica. 2) Para Desaulniers, a competência integra dois elementos principais, sendo que a incoerência entre eles gera um im- passe no processo. Assinale a alternativa que apresenta os dois elementos citados pela autora. a) Os saberes e as potencialidades pessoais. b) Os conhecimentos e o planejamento. c) Os conhecimentos sobre os objetos e a ação. d) Os saberes teóricos e a intencionalidade. e) Nenhuma das alternativas anterioresestá correta. Capítulo 1 Competência: Do ser ao Fazer Profissional 19 3) Assinale (V) para respostas verdadeiras e (F) para as falsas. ( ) Sobre a perspectiva da competência, é correto afirmar que há um envolvimento pessoal do indivíduo na si- tuação sobre a qual tem a responsabilidade de atuar, demandando a tomada de iniciativa e mobilização de conhecimentos já adquiridos. ( ) As competências são desenvolvidas para responder si- tuações únicas. ( ) As competências são construídas em função das situa- ções que são enfrentadas com maior frequência. ( ) Competências não são adquiridas pela simples trans- posição de conhecimento, mas sim construídas indivi- dualmente, durante a vivência das situações. ( ) Transformação de conhecimentos, habilidades atitudes e em ações/iniciativas, é dos conceitos que descreve a categoria competência. 4) A partir dos estudos desenvolvidos nesse capítulo, marque (X) somente nas assertivas verdadeiras: a) ( ) A competência vem assumindo um papel cada vez mais central na sociedade e causando um desloca- mento de noções: dos saberes a competências na es- fera educativa, da qualificação à competência na área do trabalho. b) ( ) No momento em que a competência passa a ocu- par o lugar da qualificação, faz-se necessário uma atualização da própria formação do sujeito para que 20 Competência Técnico-Operativa em Serviço Social II esta possa então dar conta da formação de competên- cias, e não apenas da qualificação do indivíduo. c) ( ) A construção e o desenvolvimento de competências na formação e prática do Serviço Social passa a ser uma alternativa na busca do atendimento das novas demandas e desafios colocados à profissão, resulta- dos da questão social e dos espaços de resistência à ordem social posta. d) ( ) Com a lógica da competência, o processo de for- mação efetivamente passa a ser concebido como uma ação que visa à transmissão de conhecimentos. e) ( ) A formação dos assistentes sociais está direcionada à habilitação de profissionais pautados apenas na prá- tica, ou seja, sua atuação não necessita da articulação entre o conhecimento teórico e a prática. 5) Assinale a alternativa que completa corretamente a frase: No que se refere à formação do assistente social, a autora Iamamoto (1999, p. 126), considera que esse processo deva habilitar: “(...) um profissional culto e atento às possibilidades des- cortinadas pelo mundo contemporâneo, capaz de ________, avaliar e ________ propostas no nível das políticas sociais e da organização das forças da sociedade civil (...) profissional informado, __________ e _________, que aposte no ________ dos sujeitos sociais (...)”. a) Organizar, manter, pontual, solidário, controle. Capítulo 1 Competência: Do ser ao Fazer Profissional 21 b) Conduzir, reduzir, assíduo, altruísta, domínio. c) Vigiar, conduzir, controlado, pontual, processo. d) Formular, recriar, crítico, propositivo, protagonismo. e) Nenhuma das alternativas anteriores está correta. Gabarito 1) a 2) c 3) V,F,V,VV,V 4) a, b,c 5)d Rúbia Geane Goetz1 Capítulo 2 Dimensões da Competência Profissional1 1 Assistente Social, Especialista na Administração e Planejamento de projetos. Captadora de Recursos junto à Prefeitura Municipal de Novo Hamburgo. Docente do Curso de Serviço Social da Universidade Luterana do Brasil-Ulbra. Capítulo 2 Dimensões da Competência Profissional 23 Vimos no capítulo anterior que a competência está ligada e vem ocupando o espaço da qualificação e formação (es- pecialmente profissional) dos sujeitos, contemplando saberes formais, informais, teóricos, práticos/da experiência e tam- bém sociais. Nesse sentido, propomos aqui uma análise so- bre o processo histórico de formação profissional do Serviço Social e sua relação direta com o desenvolvimento de compe- tências. Esse processo passa a ser evidente a partir da década de 80, quando ocorre o movimento de ruptura da profissão com o conservadorismo presente na gênese da profissão. 1 Concepções de competência no Serviço Social Conforme já referimos, a competência está ligada e vem ocu- pando o espaço da qualificação e formação (especialmente profissional) dos sujeitos, contemplando saberes formais, in- formais, teóricos, práticos/da experiência e também sociais. Nesse sentido, propomos aqui uma análise sobre o processo histórico de formação profissional do Serviço Social e sua relação direta com o desenvolvimento de competências. Cada período da história impõe e exige um determinado perfil profissional, buscando que este esteja apto a atuar e construir intervenções frente às questões emergentes da reali- dade. Não podemos negar que o início da profissionalização do Serviço Social, bem como de sua identidade, esteve ligada a movimentos religiosos e do Estado para o atendimento da Questão Social. Conforme Maciel: 24 Competência Técnico-Operativa em Serviço Social II a influência religiosa na formação do Serviço Social tem sua base alicerçada no doutrinarismo e na moral, por- tanto, o elemento vocacional aliado ao catolicismo, con- figuram o perfil inicial e ser formado para o exercício da profissão. (2000. p, 02) Segundo Pinto (1986), a primeira escola de Serviço Social no Brasil, fundada em São Paulo, em 1936, foi estimulada pelo interesse de um grupo de jovens católicas que, durante um curso de formação social, idealizou a criação de um Centro de estudos e Ação Social e, posteriormente, criou essa escola. Nesse período, apesar da falta de regulamentação da profis- são, e de uma proposta formal de currículo, o profissional era formado a partir de diretrizes ético-religiosas, levando em con- ta suas características pessoais e sua bondade. Destacavam-se a realização de práticas de casos individualizados, através de uma metodologia centrada no modelo médico, constituído de estudo, diagnóstico e tratamento. Eram aspectos balizadores da formação: Formação Intelectual, Moral, Profissional e Dou- trinária. Por volta da década de 40, o Serviço Social pas- sa a receber a influência norte-ameri- cana. A for- mação ainda estava sustentada na visão terapêutica e na concepção de que Capítulo 2 Dimensões da Competência Profissional 25 a Questão Social era um desajuste social. A partir da influ- ência americana, emergiu a perspectiva funcionalista, aliada ao neotomismo cristão, reforçando a postura terapêutica, im- pulsionando o desenvolvimento técnico e o atendimento da Questão Social de forma científica. Conforme Maciel, esta cientificidade privilegiou o paradigma positivista no Serviço Social, e ganhou força pelo denominado “Modelo Funcional”, que preconizava as abordagens de caso, grupo e comunidade. A incorporação deste referencial significou a transposição de modelos teóri- cos americanos para a realidade brasileira, demarcan- do um novo perfil, desta vez assentado na tecnificação. (2000, p. 4) Durante a década de 50, ocorre a regulamentação do en- sino em Serviço Social e a aprovação do 1º currículo de Ser- viço Social (1953): Conteúdos: 1º Ano 2º Ano 3º Ano Sociologia Ética Geral Psicologia Estatística Noções de Direito Higiene e Medicina Social Introdução ao Serviço Social Serviço Social de Casos Serviço Social de Grupo Economia Social Legislação Social Ética Profissional Pesquisa Social Atividade de Grupo Organização Social da Comunidade Disciplinas Optativas por setores: Família; Menores; Médico-Social e Trabalho; Administração de Obras Sociais Organização Social da Comunidade Pesquisa Social Fonte: Sá (1995, p. 97) 26 Competência Técnico-Operativa em Serviço Social II No período entre 60 e 70, “o Serviço Social passou a se identificar com problemas mais sintonizados com sua rea- lidade, principalmente, do projeto de desenvolvimento ali- cerçado em bases desiguais; da sua vinculação ao projeto dominante; da sua institucionalização pelo aparato estatal e seu afastamento dos movimentos populares” (MACIEL, 2000, p. 6). SegundoMartinelli (1994), o currículo mínimo, apresentava de- bilidades, principalmente no que se refere à relação teórico- -prática. Além do que, pelos densos movimentos da ditadura, as questões políticas não eram de fácil execução. Nesse período, a profissão a partir de análises críticas, passa a identificar que há uma forte ligação de sua prática profissional ligada aos objetivos da classe dominante, forman- do grupos organizados de assistentes sociais que passam a debater o fazer profissional através de seminários, no âmbito latino-americano, buscando discutir o papel do Serviço Social no contexto capitalista. Tal processo desencadeou o chama- do Movimento de Reconceituação, que consistiu em um mo- vimento de crítica ao positivismo e ao funcionalismo e funda- mentação da visão marxista na história e estrutura do Serviço Social, (Faleiros, 1981). O movimento surge a partir de fortes questionamentos, por parte de alguns profissionais, sobre a direção de sua práti- ca profissional, o compromisso e a consciência social de seus agentes. Pretendia também rever o projeto profissional, redefi- Capítulo 2 Dimensões da Competência Profissional 27 ni-lo conforme a realidade vivenciada, caracterizando-se “por um processo de revisão crítica que questiona a orientação po- sitivista funcionalista, que visava à adaptação do homem ao meio social, no que se refere ao objeto, objetivos ideologia e método” (MACIEL 2000, p. 7). Esse movimento traz novamente a necessidade de ar- ticulação entre teoria-prática, por meio de metodologias próprias, passando neste momento a se vincular à prática profissional com os interesses populares e rejeitando traba- lho institucional, e a buscar sustentações teóricas para as mesmas ocorrendo uma aproximação com o marxismo e a fenomenologia. Segundo Faleiros, “no bojo deste Movimento há a preocu- pação com o desenvolvimento teórico do Serviço Social, ao mesmo tempo em que a preocupação com sua dimensão crí- tica e política” (1999, p. 13). 28 Competência Técnico-Operativa em Serviço Social II Movimento de Reconceituação Martinelli afirma que “pensar uma proposta de ensino de Serviço Social exige um exercício político, pois este tem um dimensionamento político que lhe é imanente” (1994, p. 68). Esse exercício foi assumido pela categoria e expresso no cur- rículo mínimo da década de 80, o qual possibilitou uma di- namização da discussão sobre a formação profissional. Esse Currículo englobava o conhecimento do contexto social, ins- titucional e da clientela do Serviço Social e trazia também a perspectiva profissionalizante, abordando o estudo do objeto, objetivos, habilidades e estratégias da ação. Incide uma ruptu- ra do Serviço Social de caso Grupo e Comunidade, ao passo que se entende, que a profissão está fundamentada a partir da própria realidade e, portanto, existe uma necessidade em pro- ver a formação composta de disciplinas e/ou teorias sociais que possibilitam a apreensão desta, sendo seu eixo centrado na Teoria e Metodologia. Capítulo 2 Dimensões da Competência Profissional 29 O currículo de 82 valorizou a presença de uma pluralidade de elementos a serem contemplados pela profissão, tais como a busca pela efetiva capacitação teórica dos profissionais, das estratégias incentivadoras de uma real aliança da profissão com os trabalhadores e do entendimento de que a formação está situada no interior das relações de classe. Diante da necessidade de repensar a formação de Serviço Social, perante as novas exigências e demandas da socieda- de brasileira, colocadas na década de 90, a partir de 1994, na XXVIII Convenção Nacional da Associação Brasileira de Ensino de Serviço Social – ABESS2, ocorrida em Londrina-PR, em outubro de 1993, foram deliberados alguns encaminha- mentos da revisão do currículo mínimo vigente desde 1982, através de um amplo e sistemático debate realizado pelas unidades de ensino, o qual teve por objetivo, ultrapassar o distanciamento entre o labor teórico-intelectual e o exercício profissional cotidiano. Esse processo resultou, enquanto pressuposto da forma- ção profissional, na aprovação do documento da ABESS/ CEDEPSS3, cujo conteúdo continha a “Proposta de Diretrizes 2 A ABESS – Associação Brasileira de Escolas de Serviço Social foi criada em 1946, uma década depois da oferta do primeiro curso de Serviço Social no Brasil, na Escola de Serviço Social da PUC-SP. Em 1979, ocorre uma Convenção que lhe conduz a assumir a tarefa de coordenar e articular o projeto de formação profissio- nal, neste período passa a denominar-se Associação Brasileira de Ensino de Serviço Social. Na década de 1980, ocorre a criação do Centro de documentação e Pes- quisa em Políticas Sociais e Serviço Social (CEDEPSS). Na década de 90, a ABESS passa a chamar-se ABEPSS – Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social, o que fortalece o debate sobre a impossibilidade de romper a articulação entre ensino, pesquisa e extensão. 3 Em 1987, é criado o CEDEPSS – Centro de Documentação e Pesquisa em Servi- 30 Competência Técnico-Operativa em Serviço Social II gerais para o Curso de Serviço Social”, e que viria mais tarde a ser o norteador da revisão curricular das unidades de ensi- no, na Assembleia Geral Extraordinária de 8 de novembro de 1996, Rio de Janeiro. 1.1 Competências teórico-metodológica, técnico-operativa e ético-política na formação e no fazer profissional do Serviço Social O novo projeto de formação profissional passa a ser expres- so através de diretrizes curriculares. As discussões acerca das diretrizes centraram-se nos seguintes aspectos: a direção social, o eixo curricular, a perspectiva teórico-metodológica, a formação do mercado de trabalho e o tratamento dado à análise da realidade brasileira. Os pressupostos nortea- dores da concepção de formação profissional centram-se nas seguintes afirmações: que o Serviço Social se particula- riza nas relações de produção e reprodução da vida social como uma profissão interventiva no âmbito da questão so- cial, expressa pelas contradições do desenvolvimento do ca- pitalismo monopolista. Essa relação do Serviço Social com questão social é mediatizada por um conjunto de processos sócio-históricos e teórico metodológicos constitutivos de seu processo de trabalho. Nesse período, ocorre uma maior visibilidade das diver- sas formas de expressão da questão social, potencializando a articulação teórico-crítica. Ocorre igualmente um pro- ço Social, como órgão acadêmico da ABESS. (ABESS, 1998:3) Capítulo 2 Dimensões da Competência Profissional 31 cesso de construção de um projeto ético-político compro- metido com a cidadania, promovendo uma renovação da direção social da formação profissional. Tal contexto ecoa na construção de um currículo conduzido ao incremento de uma competência teórico-metodológica pluralista, orienta- da pelo marxismo. A preocupação também se direcionou igualmente à competência técnico-operativa do Serviço So- cial, que deve permitir a apreensão da dinâmica social na sua totalidade. O conjunto de diretrizes estabelece no Brasil uma base comum, para os cursos de graduação em Serviço Social, a partir do qual cada instituição de Ensino Superior elabo- ra seu próprio currículo pleno. Essas diretrizes da formação profissional implicam competências teórico-metodológica, ético-política e técnico-operativa, que segundo ABESS, ca- pacitam para: 32 Competência Técnico-Operativa em Serviço Social II “1. Apreensão crítica do processo histórico como totalidade. 2. Investigação sobre a formação histórica e os processos so- ciais contemporâneos que conformam a sociedade brasileira, no sentido de apreender as particularidades da constituição e desenvolvimento do capitalismo e do Serviço Social no País. 3. Apreensão do significado social da profissão desvelando as possibi- lidades de ação contidas na realidade. 4. Apreensão das demandas – consolidadas e emergentes – postas ao Serviço Social via mercadode trabalho, visando a formular respostas profissionais que potenciem o enfrentamento da questão social, consi- derando as novas articulações entre público e privado. 5. Exercício profissional cumprindo as competências e atribuições pre- vistas na legislação profissional em vigor “(1996, p. 62)”. Assim, a construção do perfil profissional dos assistentes sociais sofreu alterações em conformidade com os processos históricos nos quais se realiza, buscando a construção de uma consciência crítica e uma postura ética frente à realidade. A formação prima, assim, pelos princípios da indissociabi- lidade entre: Ensino, Pesquisa e Extensão. E ainda a articulação entre: Capítulo 2 Dimensões da Competência Profissional 33 Graduação e pós-graduação. 34 Competência Técnico-Operativa em Serviço Social II Podemos perceber, pelo quadro anterior, que atualmente as diretrizes curriculares do Curso de Serviço Social visam atender as exigências da sociedade e do mercado, e sobretudo formar um profissional apto ao enfrentamento dos desafios contem- porâneos, permitindo a profissão sua identificação com espa- ços de oposição aos ideais da sociedade capitalista, a questão social e suas mazelas refletidas na vida dos usuários. Assim, a formação e o fazer profissional estão articulados com o pro- jeto Ético Político, permitindo que a profissão intervenha nas situações de desigualdade social e igualmente nos espaços de resistência frente a sociedade capitalista. Tais diretrizes apontam para um profissional que tenha o seguinte perfil: Profissional que atua nas expressões da questão social, formulando e implementando propostas para seu enfren- tamento por meio de políticas sociais públicas, empresa- riais, de organizações da sociedade civil e movimentos sociais. Profissional dotado de formação intelectual e cul- tural generalista crítica, competente em sua área de de- sempenho, com capacidade de inserção criativa e pro- positiva, no conjunto das relações sociais e no mercado de trabalho. E ainda um profissional comprometido com os valores e princípios norteadores do código de ética do assistente social. (ABESS, 1998:12) Apesar dos avanços no processo de formação, são per- cebidos ainda desafios a serem enfrentados nesse processo; conforme Iamamoto (1998), um deles é articular o conheci- mento produzido ao longo da história da profissão à dimensão técnico-operativa. Capítulo 2 Dimensões da Competência Profissional 35 O grande desafio na atualidade é, pois, transitar da ba- gagem teórica acumulada ao enraizamento da profissão na realidade, atribuindo, ao mesmo tempo, uma maior atenção às estratégias, táticas e técnicas do trabalho pro- fissional, em função das particularidades dos temas que são objetos de estudo e ação do assistente social. (IAMA- MOTO; 1998; p. 52) Para Iamamoto (2000), a competência, fruto da formação e do exercício profissional implica: 36 Competência Técnico-Operativa em Serviço Social II  Um diálogo crítico com a herança intelectual incorporada no dis- curso do Serviço Social e nas autorrepresentações do profissional, deslindando ao mesmo tempo as bases sócio-históricas desse dis- curso e as teorias de que se nutre, construindo um diálogo fértil e rigoroso entre a teoria e a história.  Um redimensionamento dos critérios de objetividade do conhe- cimento para além daqueles promulgados pela racionalidade da organização e da burocracia, privilegiando sua conformidade ul- trapassando o movimento da história, isto é, da sociedade e da cultura. Esse conhecimento se constrói no contraponto permanente com a produção intelectual herdada, incorporando-a criticamente e o conhecimento acumulado. Exige um profissional culturalmente versado e politicamente atento ao tempo histórico; atento para de- cifrar o não dito, os dilemas implícitos no ordenamento epidérmico do discurso autorizado pelo poder.  Uma competência estratégica e técnica (ou técnica-política), esta- belecendo os rumos e estratégias da ação, a partir da elucidação das tendências presentes no movimento da própria realidade, deci- frando suas manifestações particulares no campo sobre o qual inci- de a intervenção profissional. Uma vez decifradas, essas tendências podem ser acionadas pela vontade política dos sujeitos, de forma a extrair estratégias de ação reconciliadas com a realidade objetiva, de modo a preservar sua visibilidade, reduzindo assim a distância entre o desejável e o possível. A dimensão da competência teórico-metodológica na formação e no fazer profissional pressupõem que o Assistente Social seja um profissional qualificado para conhecer a realidade social na qual ira intervir, analisando de forma críti- ca seus aspectos políticos, econômicos, so- ciais e culturais. Este olhar deve estar funda- Capítulo 2 Dimensões da Competência Profissional 37 mentado em um rigoroso trato teórico e metodológico, permitindo a leitura e a decodificação da complexa realidade social em suas várias particularidades, levando em conta sua dinamicidade, e possibilidades de transformação. Reconhecer os reflexos da questão social e possíveis espaços de resistência ao capitalismo são importantes particularidades do fazer. A competência técnico-operativa é a dimensão onde o profissional deve adotar e apropriar-se de um conjunto de habilidades técnicas e instrumentos, que lhe permitam a construção de interven- ções que estabeleçam respostas eficien- tes, tanto às demandas trazidas pelos usuários, como aquelas colocadas pelas instituições empregadoras, realizando assim a mediação entre os interesses implicados em cada realidade. Tal competência não está desconexa das demais. A competência ético-política diz respeito ao desenvolvimento da capaci- dade de análise da realidade social e da própria profissão como palco de forças contraditórias, levando em considera- ção o caráter eminentemente político do exercício profissional, bem como a consciência do profissional acerca da direção social que produz em sua intervenção. 38 Competência Técnico-Operativa em Serviço Social II Iamamoto (1998) aponta a relevância de que essas três dimen- sões sejam apreendidas em sua complementaridade, uma vez que, desenvolvidas de forma isolada, poderão transformar-se em armadilhas tais como o militantismo, o teoricismo e o tec- nicismo. Importante ainda considerar que o exercício profissional do assistente social, pautado nesses fundamentos/competências, ocorre por meio de uma dupla dimensão que se relaciona. As dimensões interventiva e investigativa possuem uma relação autônoma e de interindependência. E assim se caracterizam: Assim, tanto as dimensões interventivas quanto investigativa compreendem a dialética do modo de ser e fazer da profissão, claramente expresso nas competências. Capítulo 2 Dimensões da Competência Profissional 39 40 Competência Técnico-Operativa em Serviço Social II Recapitulando Neste capítulo, apresentamos uma síntese do perfil profissional do Serviço Social correlacionado ao processo histórico de sua formação. Assim, identificamos que, na gênese do profissio- nal, a formação e a prática estava pautada nas diretrizes ético- -religiosas, passando pela tecnificação, institucionalização da profissão, viés político e após a implementação das diretrizes curriculares de 1996, a formação e a prática passam a es- tar demarcadas nas competências teórico-metodóligas, ético- -políticas e técnico-operativas. Tais competências permitem ao profissional realizar uma prática firmada no projeto ético-polí- tico da profissão, bem como atender as demandas emergentes da contemporaneidade. Referência Comentada IAMAMOTO, Marilda Vilela. O serviço social na contempo- raneidade: trabalho e formação profissional. São Paulo: Cortez, 1998. O livro é um clássico do Serviço Social em que a autora apresenta reflexões sobre os cenários e tendências da profissão diante das contraditoriedades do contexto de transformações societárias. Destacaos desafios desse contexto colocados a formação e a prática profissional, elucidando as competências necessárias para o atendimento e enfrentamento das deman- das contemporâneas. Capítulo 2 Dimensões da Competência Profissional 41 Referências ABEPSS/CEDEPSS. Proposta Básica para o Projeto de for- mação profissional-novos subsídios para debate. Reci- fe. 1996 (Mimio). FALEIROS, V. de P. Metodologia e Ideologia do trabalho Social. 2. ed. São Paulo: Cortez, 1981. IAMAMOTO, Marilda Vilela. O serviço social na contempo- raneidade: trabalho e formação profissional. São Paulo: Cortez, 1998. ____________.Renovação e Conservadorismo no Serviço Social. São Paulo. 5. ed. Cortez, v. 1. 2000. MACIEL, Ana Lucia Suarez. A construção do Currículo e o Perfil no Serviço Social –Alguns elementos para sua compreensão. PPGEDU. Ulbra. 2000. PINTO. Rosa Maria Ferreiro. Política Educacional e Serviço Social. São Paulo: Cortez: 1986. Atividades A partir dos estudos desenvolvidos neste capítulo realize as ati- vidades a seguir. Assinale a alternativa correta: 42 Competência Técnico-Operativa em Serviço Social II 1) A primeira escola de Serviço Social no Brasil foi fundada em São Paulo, em 1936, tal proposta centrava a formação nos seguintes aspectos: a) Atendimentos de casos individualizados; uso de me- todologia centrada no modelo médico constituído de estudo, diagnóstico e tratamento. b) Intervenções sob a perspectiva funcionalista, aliada ao neotomismo cristão, reforçando a postura terapêutica, impulsionando o desenvolvimento técnico. c) Atendimentos de caso grupo e comunidade pautada na teoria positivista. d) Atendimento interdisciplinar, pautado na teoria social critica. e) Intervenções coletivas com fundamentação teórica da fenomenologia. 2) O Movimento de Reconceituação, nascido entre as déca- das 60 e 70, traz para o Serviço Social questionamentos. Assinale a alternativa que descreve os principais fatores questionados pela profissão: a) Salários e direitos sociais da categoria; b) Direção d prática profissional, o compromisso e a consciência social de seus agentes. c) Espaço sócio ocupacionais de inserção da profissão. d) Padronização dos atendimentos. Capítulo 2 Dimensões da Competência Profissional 43 e) Nenhuma das alternativas está correta. 3) Assinale (V) para respostas verdadeiras e (F) para as falsas. ( ) O currículo mínimo da década de 80, possibilitou uma dinamização da discussão sobre a formação profissional. ( ) A XXVIII Convenção Nacional da Associação Brasileira de Ensino de Serviço Social- ABESS,ocorrida em Londrina -PR, teve por objetivo, ultrapassar o distanciamento entre o labor teórico -intelectual e definir o piso salarial dos pro- fissionais. ( ) As diretrizes curriculares pautadas pelo currículo de 1996, implicam nas competências teórico-metodológica, ético-política e técnico-operativa. ( ) A dimensão da competência teórico-metodológica na formação e no fazer profissional pressupõem um conjunto de habilidades técnicas e instrumentos. ( ) A construção do Perfil Profissional no Serviço Social não sofreu alteração ao longo dos anos, mantendo-se sempre pautada na proposta de atendimento imediato e indivi- dualizado. 4) A partir dos estudos desenvolvidos nesse capítulo, marque (X) somente nas assertivas verdadeiras: a) ( ) Para Iamamoto (2000), a competência implica num diálogo crítico com a herança intelectual incorporada no discurso do Serviço Social e nas auto representa- ções do profissional, deslindando ao mesmo tempo as bases sócio históricas desse discurso e as teorias de 44 Competência Técnico-Operativa em Serviço Social II que se nutre, construindo um diálogo fértil e rigoroso entre a teoria e a história. b) ( ) As competências teórico-metodológicas, ético-polí- ticas e técnico-operativas devem sem apreendidas em sua complementaridade, uma vez que, desenvolvidas de forma isolada, poderão transformar-se em armadi- lhas tais como o militantismo, o teoricismo e o tecnicis- mo. c) ( ) Um dos grandes desafios ainda colocados à profis- são é articular o conhecimento produzido ao longo da história da profissão à dimensão técnico-operativa. d) ( ) A profissão tem o imenso desafio de atender aos objetivos de seus contratantes mesmo que estes sejam contrários ao seu projeto ético-político. e) ( ) É recomendado aos assistente sociais que apreen- dam preferencialmente a competência teórico-meto- dológica na construção de suas práticas. 5) Assinale a alternativa correta: O exercício profissional do assistente social, pautado nos fun- damentos / competências teórico-metodológicas, ético-políti- cas e técnico-operativas,ocorre por meio de uma dupla di- mensão: interventiva e investigativa. Assinale a alternativa que traz a descrição de articulação entre estas dimensões. a) As dimensões interventiva e investigativa possuem uma relação antagônica. Capítulo 2 Dimensões da Competência Profissional 45 b) As dimensões interventiva e investigativa possuem uma relação autônoma e de interindependência. c) As dimensões interventiva não possui relação com a dimensão investigativa. d) As dimensões do fazer profissional são: interpretativa e analítica. e) As dimensões interventiva e investigativa possuem uma relação de dependência. Gabarito 1) a 2) b 3) V,F,V,F,F 4) a, b,c 5) b Capítulo 3 Rúbia Geane Goetz1 Clarificando Categorias: da Intencionalidade ao Produto 1 Assistente Social, Especialista na Administração e Planejamento de projetos. Captadora de Recursos junto à Prefeitura Municipal de Novo Hamburgo. Docente do Curso de Serviço Social da Universidade Luterana do Brasil-Ulbra. Capítulo 3 Clarificando Categorias: da Intencionalidade... 47 Propomos, neste capítulo, reflexões sobre as categorias que se articulam e dão materialidade ao fazer profissional do Serviço Social, desde a intencionalidade dada pelos funda- mentos da profissão, que antecede e acompanha a prática, até o alcance de um resultado (produto). Nesse caminho de construção e consolidação do processo de trabalho, os assis- tentes sociais se utilizam de diferentes estratégias, técnicas e táticas que viabilizam sua ação profissional. Essas categorias são pauta de nosso debate. 1 Fazer profissional no Serviço Social: uma construção permanente Na vida, ao definirmos um objetivo, sabemos que este deman- dará um processo que visa seu alcance, sendo preciso saber onde queremos chegar. Para isso, é necessário planejamento prévio, construção do caminho que iremos percorrer, defini- ção de estratégias e táticas, do método, dos instrumentos que vamos utilizar para chegar ao resultado esperado (produto). Esse nosso (objetivo) desejo certamente estará alicerçado em nossas crenças e ideologias de vida; assim, temos clareza de que o alcance do objetivo nos levará à transformação da situ- ação de vida. Por exemplo: o objetivo de vida de uma pessoa está na formação acadêmica, pois suas crenças lhe dizem que esse caminho lhe proporcionará uma vida de maior qualida- de. Logo, é necessária a organização de sua vida para ingres- sar na vida acadêmica, planejar a logística de como chegar à 48 Competência Técnico-Operativa em Serviço Social II Universidade, disponibilizar de tempo para frequentar as aulas e estudo, certo? Pois bem, na construção do processo de trabalho profis- sional no Serviço Social, esse percurso é semelhante. O pro- fissional, o profissional, a partir da formação, incorpora a sua prática uma intencionalidade que é dada pelos fundamentos da profissão, ou seja, ela está diretamente ligada ao projeto ético-político do Serviço Social. Essa intencionalidade está ali- cerçada em uma teoria e perpassa todo o planejamento de seu fazer. Assim, a identificação das demandas institucionais, a construção das demandas profissionais e do objeto, das es- tratégias e táticas, a escolha e a construção dos instrumentais técnico-operativos não é realizada de forma aleatória. Todo esseprocesso está articulado e fundamentado no Materialismo Dialético2 que fundamenta o fazer profissional e se articula ao processo ético-político da profissão. 2 “A dialética busca considerar os elementos do mundo material, conhecendo a realidade como ela se apresenta e, a partir disso, desvendar a realidade na sua essência. Nesse processo, persegue a realização da verdade, que não é nem ina- tingível nem alcançável de uma vez para sempre, pois ela se faz, se desenvolve e se realiza como processo. Portanto, o que se tem na dialética é a busca de aproxima- ção da verdade e, assim, da história da verdade. Como uma teoria, caracteriza-se por estar em permanente esforço para compreender a realidade, na relação do ho- mem com a sociedade, relação que nem sempre é harmônica, procurando desvelar criticamente essa realidade tanto do que está aparente quanto do que se esconde (Lopes, 2010, p. 14 apud Scheunemann, 2010). Capítulo 3 Clarificando Categorias: da Intencionalidade... 49 Para compreendermos a construção desse processo no ser- viço social e as categorias intrínsecas, é necessário compreen- der que o exercício profissional se realiza a partir do confronto entre as condições objetivas e subjetivas. Condições objetivas são aquelas relativas à produção material da sociedade, são condições postas na rea- lidade material. Por exemplo: a divisão do trabalho, a propriedade dos meios de produção, a conjuntura, os objetos e os campos de intervenção, os espaços sócio ocupacionais, as relações e condições materiais de tra- balho. Condições subjetivas são as relativas aos sujeitos, às suas escolhas, ao grau de qualificação e competên- cia, ao seu preparo técnico e teórico-metodológico, aos referenciais teóricos, metodológicos, éticos e políticos utilizados, dentre outras. (Guerra, 1995) 50 Competência Técnico-Operativa em Serviço Social II Nesse sentido, o processo de trabalho no Serviço Social não ocorre de forma irrefletida, ele exige um conjunto de ati- vidades prático-reflexivas articuladas e voltadas ao alcance de um resultado, sobretudo, regulado pela intencionalidade, fato- res estes que dependem da construção, adaptação dos meios e das condições objetivas e subjetivas. O fazer profissional no Serviço Social carece estar direcionado ao enfrentamento da questão social e suas mazelas geradoras de recorrentes pro- cessos de desigualdade social, problemas políticos, sociais e econômicos e, sobretudo, aos espaços de resistência da lógica capitalista. Porém, a questão social é a condição da existência da so- ciedade capitalista, nesse sentido, atuar em uma profissão que visa enfrentar essa condição de manutenção da desigualdade coloca uma gama de desafios que ordenam a construção de estratégias metodológicas, táticas e técnicas organicamente articuladas ao projeto ético-político da profissão. Para Faleiros (1997), definir estratégias é definir a direção da ação, na conjuntura, ou seja, na correlação de forças exis- tentes em um momento dado, direção que tem como base um conhecimento que a orienta. Desse modo, são os paradigmas3 3 A palavra paradigma significa um modelo ou um conjunto de formas básicas e dominantes do modo de se compreender o mundo, uma sociedade ou mesmo uma civilização; do modo de se perceber, pensar, acreditar, avaliar, comentar e agir, de acordo com uma visão particular de mundo. Pode-se dizer que o paradigma é a percepção geral e comum, não necessariamente a melhor... Ao mesmo tempo, ao ser aceito, um paradigma serve como critério de verdade e validação e reconheci- mento nos meios onde ele é adotado (DUARTE JÚNIOR apud Sangui: 2010). Capítulo 3 Clarificando Categorias: da Intencionalidade... 51 adotados que orientam a direção estratégica. O autor refere também: As estratégias são processos de articulação e mediação de poderes e mudança de relações de interesses, refe- rências e patrimônios em jogo, seja pelo rearranjo de recursos, de vantagens e patrimônios pessoais, seja pela efetivação de direitos, de novas relações ou pelo uso de informações. (FALEIROS, 1997:76) As táticas são responsáveis pela realização das estratégias. Devem ser objetivas e possíveis de mensuração, pois se confi- guram ações específicas criadas e selecionadas para se atingir a meta. 52 Competência Técnico-Operativa em Serviço Social II Capítulo 3 Clarificando Categorias: da Intencionalidade... 53 Assim, a Estratégia Metodológica4 no Serviço Social é um conjunto de instrumentos, táticas, habilidades e saberes, que são mobilizados pelo assistente social a partir do objetivo que o mesmo estabelece para efetivar a sua intervenção na reali- dade. No Serviço Social, a técnica abrange três categorias cen- trais que estão ligadas à subjetividade e à objetividade. No que tange à subjetividade, esta envolve tanto criatividade quanto as habilidades, características que são dadas pelo sujeito que utiliza os instrumentos, ou seja, está relacionada diretamente à particularidade de cada profissional que utilizará os instrumen- tos. A objetividade, no entanto, refere-se à intencionalidade desse uso, e esta por sua vez é balizada pelos fundamentos da profissão e, assim, se torna comum e não particular. 4 Conceito elaborado pelo curso de Serviço Social Ulbra Canoas, 1999. 54 Competência Técnico-Operativa em Serviço Social II Técnica: C riatividade/Habilidades Intencionalidade (Dada pelos fundamentos teórico- metodológicos, ético-políticos e técnico- operativos da pro�ssão). Objetividade Subjetividade (Dadas pela particularidade de cada profissional que utilizarão os instrumentos). Sabemos que o Serviço Social não possui instrumentos particulares de intervenção, ou seja, os instrumentos utilizados pela profissão são comuns a outras profissões, contudo, a téc- nica peculiar utilizada pelo assistente social é que lhe garante a particularidade do fazer da profissão. Assim, a técnica é o que dá qualidade ao uso do instrumento, por exemplo: entre- vista reflexiva dialética. Desse modo, o profissional se utiliza de um conjunto de instrumentos e técnicas dialeticamente articulados para cons- truir e realizar a intervenção na realidade social, por meio de sua intencionalidade, que é orientada pelos fundamentos da profissão. Mas afinal, como se operacionalizam essas categorias e suas articulações no fazer profissional? Capítulo 3 Clarificando Categorias: da Intencionalidade... 55 2 A construção e utilização das estratégias metodológicas, táticas e técnicas no saber e fazer profissional no Serviço Social Para melhor compreendermos o significado dessas categorias no Serviço Social, buscaremos apresentar uma experiência destacando a utilização e articulação destas no contexto so- cial. Nessa perspectiva, será palco de nossa reflexão o Pro- grama de Gerenciamento de Resíduos Sólidos de Novo Ham- burgo, denominado CATAVIDA. Tal Programa é um espaço de atuação do serviço social, uma vez que incorpora práticas interdisciplinares de enfrentamento dos processos de desigual- dades sociais e um lugar de resistência, ênfases de trabalho da profissão. O Programa nasceu precisamente de demandas da popu- lação municipal que requisitavam intervenções do poder pú- blico, frente ao atendimento dos catadores autônomos de ma- teriais recicláveis que ocupavam espaços públicos da cidade (praças e passeios públicos) para a realização do seu trabalho e assim, consequentemente induziam a comunidade a um pro- cesso de visibilidade da sua condição social, que, a partir das metamorfoses do mundo do trabalho, materializavam inúme- ras expressões da questão social. Esse contexto demandou ao profissional do serviço social vinculado ao programa, a realização da análise de conjuntura e organizacional, ou seja, do conhecimento dessa realidade, para apreensão das demandas institucionais e profissionais colocadas nesse cenário, quais foram: 56 Competência Técnico-Operativa em Serviço Social II As demandasinstitucionais foram prontamente delimitadas: Demandas Institucionais  Interlocução com a comunidade.  Atendimento imediato dos catadores em situação de rua.  Intervenção nos processos de conflito entre comunidade e catadores. Entretanto, a construção das demandas profissionais, de- mandou a realização de algumas ações tática, contemplando ações particulares e práticas:  Aproximação e abordagem dos catadores.  Conhecimento da realidade social de cada indivíduo e família implicada na situação.  Articulação com várias políticas públicas, dentre as quais se destacam: Assistência Social, Meio Ambiente, Educação e Trabalho.  Busca de conhecimentos específicos sobre o processo de reciclagem na cidade e no país e suas particularidades. Conforme Pontes: Como demanda profissional estabelece-se que a legíti- ma demanda advinda das necessidades sociais dos seg- mentos demandatários dos serviços sociais. A demanda profissional incorpora a demanda institucional, mas não Capítulo 3 Clarificando Categorias: da Intencionalidade... 57 se restringe a ela, podendo e devendo ultrapassá-la (1995, p. 174). Na experiência em tela, esse processo de ultrapassagem colocado pelo autor, se efetivou com êxito no desvelamento do aparente e na busca pela particularidade da realidade de intervenção. Assim, constituíram-se: Demandas Profissionais construídas  Acesso à alimentação e documentação.  Acesso aos programas das políticas de Assistência Social, Saúde e habitação.  Capacitação profissional.  Sensibilização e interlocução com a comunidade na busca pelo direito ao trabalho desses cidadãos. Nesse processo particular de identificação das demandas sociais e de desvelamento da realidade social aparente, o assis- tente social balizado nas competências teórico-metodológicas, técnico-operativas e ético-políticas, deparou-se com inúmeras expressões da questão social, as quais se constituíram objetos interventivos profissionais: acesso negado a políticas sociais, precarização das condições de vida e de trabalho, a explo- ração da mão de obra, invisibilidade social, estigmatização, preconceito e situação constante de vulnerabilidade social. Tais apropriações foram realizadas com base no referencial materialismo dialético, que procura avaliar os elementos do mundo material, conhecendo a realidade como ela se apre- 58 Competência Técnico-Operativa em Serviço Social II senta e, a partir disso, desvendar a realidade na sua essência. Como uma teoria, caracteriza-se por estar em permanente es- forço para compreender a realidade, na relação do homem com a sociedade, relação que nem sempre é harmônica, pro- curando desvelar de forma crítica essa realidade tanto do que está aparente quanto do que está oculto. Segundo Barbosa, o trabalho do assistente social é reque- rido como especialidade da divisão sociotécnica e na forma assalariada para responder às estratégias de dominação bur- guesa no enfrentamento das questões sociais que emergem da diferenciação e conflito das classes sociais. (1998, p. 113). Esses conflitos tornaram-se evidentes na construção da prá- tica profissional em tela, demandando diferentes estratégias metodológicas de intervenção nos processos de correlação de forças aparentes e velados. Assim, a profissão enfrenta o de- safio de decifrar algumas lógicas do capitalismo contemporâ- neo, particularmente em relação às mudanças no mundo do trabalho e sobre os processos desestruturados dos sistemas de proteção social e política social em geral. No âmbito do Programa CATAVIDA, a construção de estra- tégias e táticas se fez evidente frente ao contexto intrínseco de correlação de forças apurado. A mediação entre a instituição, a comunidade e os catadores trouxe à tona uma série de re- quisições ao profissional do Serviço Social. A partir das estratégias de abordagens individuais e cole- tivas realizadas junto aos catadores e à comunidade, perce- beu-se que o atendimento pontual das necessidades daquela população (documentação, alimentação, medicamentos, be- Capítulo 3 Clarificando Categorias: da Intencionalidade... 59 nefícios sociais, dentre outros) contribuiria paliativamente para o atendimento das demandas profissionais. Desse modo, a ação profissional percebeu a necessidade da implementação de novas ações táticas; dentre elas, desta- cam-se a construção de ações intersetoriais e multidisciplina- res, a aproximação com o Movimento Nacional de Catadores, que somou significativamente com conhecimentos específicos da realidade/singularidade desses trabalhadores, a organiza- ção coletiva dos trabalhadores em cooperativa, pautados nos princípios da economia solidária. Nesse caminho, estiveram presentes diferentes instrumen- tais, que permitiram a articulação entre instrumentos e técnicas pautados pela intencionalidade profissional, dos quais pode- mos apresentar: observação crítica, escuta sensível, entrevistas individuais reflexivas, grupos de trabalho solidário. Tal experiência conduz ainda a compreensão de que a questão ambiental é igualmente um respeitável assunto a ser apropriado pelo Serviço Social, por se abordar do efeito des- trutivo da forma de produção capitalista. Pode-se considerar que os alicerces da questão ambiental, amplamente debatida na atualidade, remete às mediatizações da questão social “a produção social é cada vez mais social enquanto a apropria- ção dos seus frutos mantém-se privada, monopolizada por uma parte da sociedade” (IAMAMOTO, 1998, p. 177). Com vistas ao paradigma do desenvolvimento sustentável, pautado no processo de mudança da relação homem/natu- reza, o assistente social é provocado, assim, a se situar como agente ativo de sensibilização da população, contribuindo 60 Competência Técnico-Operativa em Serviço Social II para o processo de aprendizagem social (PÉREZ, Alejandro G., 2005). E este tem sido um dos caminhos trilhados pelo pro- fissional no Programa CATAVIDA, que hoje, após seis anos de prática, conta com duas cooperativas organizadas, compreen- dendo oitenta e cinco trabalhadores que estão construindo o processo de superação das vulnerabilidades sociais. Parte da comunidade vem superando os processos de estigmatização e preconceito em relação a esses trabalhadores e vem coope- rando com a destinação dos resíduos sólidos, no processo de implementação de coleta seletiva solidária. Tal atitude contri- bui significativamente no empoderamento desses trabalhado- res e, sobretudo, na renda mensal da cooperativa. Sabe-se, de antemão, que essa parcela atendida é apenas um fragmento dos catadores de materiais recicláveis que vivem no contexto social do município. Dessa forma, permanecem ainda significativos desafios no atendimento das mazelas da questão social materializadas nesse contexto social, as quais exigem a construção contínua de estratégias, táticas e técnicas no fazer profissional. Recapitulando Neste capítulo, vimos um breve debate sobre as categorias que integram a construção do processo de trabalho do Assis- tente Social. Destacamos as estratégias como uma sequência de pensamentos, comportamentos e atitudes com intuito de alcançar objetivos mais longos, determinam de modo amplo “o que” deve ser realizado, enquanto que as táticas ocupam- Capítulo 3 Clarificando Categorias: da Intencionalidade... 61 -se de forma mais direta e restrita a “como” os objetivos e a intencionalidade serão alcançados de forma mais breves. As técnicas são elementos que dão qualidade ao uso dos instru- mentos no fazer profissional, trazendo à tona a particularidade e identidade da profissão, diretamente ligadas aos fundamen- tos e competências teórico-metodológicas, técnico-operativas e ético-políticas. Referência Comentada FALEIROS, Vicente de Paula. Estratégias em Serviço Social. 2. ed. São Paulo: Cortez, 1997. O livro reúne articulações permanentes entre a historia, es- tratégias e fundamentos teóricos do Serviço Social. O autor apresenta as perspectivasinterventivas a partir de estratégias particulares do fazer profissional, especialmente à perspectiva da autonomia e do empoderamento do sujeito. Referências BARBOSA, R.N.; CARDOSO, F. G.; ALMEIDA, N. L. T. A cate- goria “processo de trabalho” e o trabalho do assisten- te social. Serviço Social & Sociedade, São Paulo, ano 19, n. 58, p. 109-130, nov. 1998. FALEIROS, Vicente de Paula. Estratégias em Serviço Social. 2. ed. São Paulo: Cortez, 1997. 62 Competência Técnico-Operativa em Serviço Social II GUERRA, Yolanda. A Instrumentalidade do Serviço Social. São Paulo, Cortez, 1995. IAMAMOTO, Marilda V. O Serviço Social na contempora- neidade. São Paulo: Cortez, 1998. PÉREZ, Alejandro G. Necessidades de formação do assis- tente social no campo ambiental. In: Serviço Social e Meio Ambiente. São Paulo: Cortez, 2005. PONTES, R. N. Mediação e Serviço Social. São Paulo: Cor- tez/Unama, 1995. SCHEUNEMANN et al. Processo de Trabalho no Serviço Social. Canoas: Ed. ULBRA, 2010. 116 p. Atividades A partir dos estudos desenvolvidos neste capítulo, realize as atividades a seguir. Assinale a alternativa correta: 1) O exercício profissional se realiza a partir do confronto entre as condições objetivas e subjetivas. Assinale a alter- nativa que descreve essas condições de forma correta. a) Condições objetivas são aquelas relativas à produção material da sociedade e podem ser exemplificadas pela divisão do trabalho. Já as condições subjetivas são as relativas aos sujeitos, às suas escolhas, ao grau de qualificação e competência. Capítulo 3 Clarificando Categorias: da Intencionalidade... 63 b) Condições subjetivas são aquelas relativas à produ- ção material da sociedade e podem ser exemplificadas pela divisão do trabalho. Já as condições objetivas são as relativas aos sujeitos, às suas escolhas, ao grau de qualificação e competência. c) Condições objetivas dizem respeito aos resultados ma- teriais do fazer profissional e às condições subjetivas tem relação com a avaliação de terceiros sobre uma determinada ação profissional. d) Condições objetivas estão relacionadas à objetividade de uma ação, ou seja, se essa ação possui um objetivo bem definido. Já as ações subjetivas têm relação com a particularidade de cada instituição que emprega os profissionais do serviço social. e) Nenhuma das alternativas está correta. 2) Assinale a alternativa que preenche corretamente as lacu- nas da frase: O processo de trabalho no serviço social não ocorre de forma _________, ele exige um conjunto de atividades prático-reflexivas articuladas e voltadas ao alcance de um resultado, sobretudo, regulado pela______________, fa- tores estes que dependem da construção, adaptação dos meios e das condições______ e _____. a) Automática, autonomia, extadas e imateriais. b) Irrefletida, intencionalidade, objetivas, subjetivas. c) Condicionada, direção, objetivas e literais. d) Regulada, personalidade, objetivas e particulares. 64 Competência Técnico-Operativa em Serviço Social II e) Ajustada, individualidade, práticas e particulares. 3) Assinale (V) para respostas verdadeiras e (F) para as falsas. ( ) A questão social é a condição da existência da socie- dade capitalista. ( ) Definir estratégias é definir a direção da ação. ( ) As estratégias são responsáveis pela realização das tá- ticas. ( ) As táticas ocupam-se de forma mais direta e restrita a “como” os objetivos e a intencionalidade serão alcan- çados. ( ) A estratégia determina de modo amplo “o que” deve ser realizado para se atingir os objetivos e a intencio- nalidade. 4) A partir dos estudos desenvolvidos nesse capítulo, marque (X) somente nas assertivas verdadeiras: a) A Estratégia Metodológica no Serviço Social é um con- junto de instrumentos, táticas, habilidades e saberes, que são mobilizados pelo assistente social a partir do objetivo que o mesmo estabelece para efetivar a sua intervenção na realidade. b) No Serviço Social, a tática abrange três categorias cen- trais que estão ligadas a subjetividade e a objetividade. c) As estratégias metodológicas podem ser assim conside- radas a logística de condução da intencionalidade do profissional somada à seleção e uso dos instrumentos. Capítulo 3 Clarificando Categorias: da Intencionalidade... 65 d) A estratégia metodológica é o que dá qualidade ao uso do instrumento. e) A técnica é o que dá qualidade ao uso do instrumento. 5) Assinale a alternativa que preenche corretamente as lacu- nas da frase: As _________ como uma sequência de pensamentos, com- portamentos e atitudes com intuito de alcançar objetivos mais longos, determinam de modo amplo “o que” deve ser realizado, enquanto que as _________ ocupam-se de forma mais direta e restrita a “como” os objetivos e a in- tencionalidade serão alcançados de forma mais breves. As __________ são elementos que dão qualidade ao uso dos instrumentos no fazer profissional, trazendo à tona a parti- cularidade e identidade da profissão, diretamente ligadas aos fundamentos e competências teórico-metodológicas, técnico-operativas e ético-políticas. a) Estratégias, táticas, técnicas. b) Táticas, estratégias, técnicas. c) Técnicas, táticas, estratégias. d) Estratégias, técnias, táticas. e) Nenhuma das alternativas está correta. Gabarito 1) a 2) c 3) v, v, f, v, v 4) a, c 5) a Capítulo 4 Dimensões das Estratégias na Prática Profissional Capítulo 4 Dimensões das Estratégias na Prática Profissional 67 O processo de prática profissional, a intervenção, não se estabelece por intermédio de um conjunto de passos preesta- belecidos como aponta Faleiros (1997), mas exige do profis- sional uma leitura da realidade, um aprofundamento teórico e uma capacidade de proposição de alternativas onde estão imbricados os diversos atores sociais, inclusive o assistente so- cial. Sendo assim, as dimensões da prática profissional podem ser identificadas quanto à abrangência do processo de traba- lho, quanto à constituição dos sujeitos e quanto à dinâmica da realidade1 1 Dimensões da prática quanto à abrangência do processo de trabalho Quanto à abrangência do trabalho, em relação à realidade social à realidade social, a prática profissional comporta vá- rias dimensões: Dimensão política Ao falarmos dessa dimensão, nosso pensamento automati- camente vai para a política partidária, e é confundido com as ações dos profissionais dessa área, os políticos. Mas essa palavra tem um sentido mais amplo, como apresentado por 1 Tipologia elaborada, a partir de Edgar Morin, por Arno Vorpagel Scheunemann. In: SCHEUNEMANN, Arno V.; GOMES, Kelines; SANGHI, Simone. Estratégias me- todológicas em Serviço Social. Canoas: ULBRA, 2008, p. 7-9. (Caderno Universi- tário nº 499) 68 Competência Técnico-Operativa em Serviço Social II Arendt (2004). Segundo a autora, o sentido de Política é a liberdade que para o Grego era a própria razão de viver, pois o conceito nasceu na Grécia, considerada o berço da demo- cracia. Arendt (2004) destaca que a liberdade só existia na sociedade política (a esfera da liberdade), logo precisaríamos “situar” a afirmação de que a liberdade era a razão de viver. Para a autora, a política está baseada na pluralidade entre os homens, com isso, organiza e regula o convívio social dos diferentes e não dos iguais, nesse sentido, política e liberdade tinham uma associação direta com a capacidade do homem de agir em público, que era o campo de atuação do político. O homem é um ser essencialmente político, pois nossas ações são políticas e estão, de certa forma, relacionadas com questões ideológicas. Como nas palavras de Morin, somos produtos e produtores de nossas ações, portanto, a dimensão política é muito maior que o simples ato do voto, mas ela está no nosso cotidiano, nas ações mais simples como conversar à mesa de um bar, nas atitudes que tomamos nos nossos espa- ços de trabalho, ao exigirmos nossos direitos de consumidor, quando nos indignamos com as injustiças
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