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Ciências SociaisCiências Sociais AUTORIA Ma. Solange Santos de Araujo Me. Josimar Priori Esp. Fúlvio Branco Godinho de Castro Ma. Daiany Cris Silva Bem vindo(a)! Esta disciplina é um convite para que você conheça a Sociologia, a ciência que busca interpretar as transformações sociais do mundo em que vivemos. Buscamos, aqui, te incentivar a mobilizar as principais teorias e os principais conceitos sociológicos para a sua formação pro�ssional. Esta disciplina é composta por três unidades, apresentaremos, inicialmente, de forma introdutória, uma contextualização histórica do surgimento da Sociologia como ciência. Veremos que a necessidade de se criar uma ciência social, a Sociologia, é resultado de processos políticos e intelectuais, que proporcionaram uma recon�guração do sistema social vigente e promoveram a consolidação da sociedade ocidental moderna, tal como a conhecemos na atualidade. Além disso, buscaremos discutir quais são as principais características da disciplina, assim como os objetivos, as possibilidades, as técnicas e os métodos de pesquisa da Sociologia. Discutiremos, também, sobre como os primeiros pensadores desenvolveram diferentes perspectivas de interpretação da realidade social. Primeiramente, apresentaremos a ciência positivista de Auguste Comte, aquele que criou o termo “Sociologia”, inicialmente inspirada por métodos e técnicas de pesquisa das ciências naturais. Seguidamente, discutiremos a Sociologia de Émile Durkheim, sociólogo que desenvolveu regras que �zeram com que a disciplina fosse capaz de estudar os acontecimentos sociais com o mesmo rigor cientí�co das ciências naturais, tal como anunciava Auguste Comte. Estudaremos, ainda, os teóricos alemães Max Weber e Karl Marx – o primeiro desenvolveu uma teoria que busca compreender a sociedade pelas ações individuais, e o segundo promoveu uma análise sobre a sociedade capitalista e os problemas sociais provenientes de suas contradições. Nesta unidade, perceberemos que ambos os autores buscaram, de diferentes maneiras, pensar sobre a vida em sociedade. Além disso, nos dedicaremos a conhecer os intelectuais que procuravam entender a sociedade brasileira, as suas técnicas, os seus métodos de pesquisa e os seus referenciais teóricos, e perceberemos a construção de uma Sociologia do Brasil, com trabalhos de campo signi�cativos e análises sociais pertinentes sobre a estrutura social brasileira. Compreender o mundo que nos cerca é um grande desa�o, você se dispõe a enfrentá-lo? Bons estudos! Unidade 1 A consolidação da Sociologia como Ciência: contextos históricos e sociais, características teóricas e metodológicas AUTORIA Ma. Solange Santos de Araujo Me. Josimar Priori Esp. Fúlvio Branco Godinho de Castro Ma. Daiany Cris Silva Introdução Olá, aluno(a)! Esta unidade é um convite a conhecer a sociologia e o seu processo de consolidação como ciência. Partimos de uma contextualização de movimentos políticos e intelectuais que favoreceram o surgimento da sociologia, ciência que busca interpretar as transformações sociais emergentes da constituição da sociedade moderna. Em um primeiro momento, a pergunta que pode surgir é: mas, a�nal, o que é sociologia? No decorrer da discussão, buscaremos compreender os objetivos, os métodos e as possibilidades dessa ciência responsável por analisar fenômenos sociais, que são os acontecimentos presentes na sociedade que podem in�uenciar o modo pelo qual nos relacionamos coletivamente. A sociologia possui como principal característica oferecer condições de análise da sociedade em que vivemos, para que seja possível compreendermos a nossa própria experiência de mundo. Nesse sentido, a sociologia nos permite fazer re�exões do tipo: qual é a ordem que seguimos? Como nos organizamos? Existem diferentes maneiras de se organizar socialmente? Como os acontecimentos exteriores in�uenciam na nossa vida? Pretendemos responder a essas questões de diferentes maneiras, com variados métodos e técnicas de pesquisa, os quais você conhecerá nesta unidade. Compreender o mundo em que vivemos é um grande desa�o, assim, aqui, disponibilizaremos ferramentas para que você possa enfrentá-lo. E, então, você está disposto(a) a entender melhor como a sociedade pode in�uenciar sua trajetória de vida social? Bons estudos! Movimentos políticos e intelectuais que possibilitaram o surgimento da Sociologia AUTORIA Ma. Solange Santos de Araujo Me. Josimar Priori Esp. Fúlvio Branco Godinho de Castro Ma. Daiany Cris Silva A consolidação das ciências sociais é resultado de movimentos políticos e intelectuais que “atravessaram” o processo de constituição e de desenvolvimento da sociedade moderna. Esses movimentos emergiram no contexto das discussões sobre as relações humanas e as transformações sociais oriundas da industrialização. Os movimentos políticos e intelectuais ocorridos entre os séculos XVI e XIX, período de mudanças signi�cativas no sistema social ocidental, tinham como principal marcador a constituição da sociedade capitalista e dos valores liberais e burgueses. O que aconteceu nesse momento não foi apenas a transição de uma organização social para outra; muito mais que isso, foi uma mudança radical na maneira de pensar e de agir de toda a sociedade ocidental, que passou a negar normas e valores medievais, em razão da construção da modernidade. Para entendermos as transformações sociais derivadas desse contexto histórico, precisamos observá-las de modo não isolado, uma vez que constituem o pano de fundo das grandes mudanças na maneira com que a humanidade passou a explicar a vida em sociedade. Diante disso, destacamos a seguir, como em uma espécie de linha do tempo, os principais processos que in�uenciaram na consolidação da sociologia, ciência que tem como objetivo explicar uma sociedade em transformação. São eles: a Reforma Protestante, o Iluminismo, a Revolução Francesa, a Revolução Industrial e o Positivismo. Pontualmente, todos esses acontecimentos históricos contribuíram para uma quebra de paradigmas da sociedade feudal e aristocrática, promovendo o surgimento de novos valores para o mundo ocidental. Tudo isso passa pela consolidação da ciência em todas as suas especi�cidades: ciências exatas, ciências da natureza e ciências humanas. Esses conhecimentos constituíram o Estado-nação, REFLITA O Conceito de Modernidade Hoje, somos todos “modernos”. Só que nos tornamos modernos de maneira muito diferente, e esses caminhos distintos rumo à modernidade deram origem a mais uma camada de nossa construção cultural. Modernus e modernitas são termos do latim medieval que signi�cam “presente”, tanto como adjetivo quanto como substantivo. Costumavam ser utilizados para estabelecer contraste com “antigo” e “antiguidade”, a era greco-romana clássica da civilização europeia. Fonte: Therborn (2013, p. 79). a concepção de direito e a democracia moderna, além disso, promoveram uma dinâmica singular nas relações de produção e uma nova concepção de trabalho e de sobrevivência. A Reforma Protestante como uma das Precursoras da Quebra de Paradigmas Tradicionais (Século XVI) A Reforma Protestante foi um movimento político e intelectual que questionou a autoridade papal e a estrutura da Igreja Católica, no curso do século XVI, na Alemanha. Sob a liderança de Martinho Lutero (1483-1546), teólogo e monge da ordem de Santo Agostinho, a Reforma Protestante propôs mudanças à Igreja Católica, contestando “o poder absoluto da instituição e as práticas de cobranças de indulgências, abusos e corrupções, e defendendo o sacerdócio universal de todos os cristãos, o livre acesso às Escrituras, entre outros” (BARBOSA, 2011, p. 869). Um dos grandes marcos desse período foi quando Lutero, em 1517, elaborou 95 teses e as a�xou na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg. Suas teses traziam os questionamentos que o teólogo tinha com relação às práticas da Igreja Católica, consideradas abusivas pelo monge. Em 1520, o Papa escreveu uma carta a Lutero, ameaçando-o de excomunhão caso ele não se redimisse quanto a seusquestionamentos. O monge não se redimiu e ainda queimou a carta papal. Excomungado no mesmo ano de recebimento da carta do Papa, Lutero recebeu o apoio da nobreza alemã. Sob essa tutela, o monge divulgou seus escritos e fundou uma nova ordem religiosa, a Igreja Luterana. Desse modo, o teólogo traduziu a bíblia para a língua alemã (até então, a obra só tinha versões em latim, língua conhecida apenas pelas autoridades religiosas). Os protestantes incentivaram uma nova relação com a religiosidade e os meios de produção e de acesso ao conhecimento, buscando difundir o entendimento sobre a humanidade e suas complexidades por meio da razão. Ademais, eles propuseram a dissolução da submissão absoluta da sociedade a uma autoridade divina, representada pela Igreja Católica e sua liderança papal. O movimento iniciado por Martinho Lutero tomou proporções outras que não apenas a reforma religiosa. O teólogo apresentou em suas teses e outros escritos preocupações relativas ao acesso universal ao conhecimento, propondo “mudanças que acabam envolvendo alterações no desenvolvimento de seu país como um todo e, por isso, também na educação” (BARBOSA, 2011, p. 869). O movimento da Reforma Protestante foi precursor de debates cruciais relacionados ao papel do Estado na condução e na organização da sociedade. Um exemplo importante é a proposição da construção de um ensino educacional na Alemanha liberto do Figura 1.1: Lutero queimando a carta papal, em 1520 Fonte: Fondo Antiguo de la Biblioteca de la Universidad de Sevilla / Wikimedia Commons. monopólio da Igreja, que, no âmbito geral, o restringia apenas a alguns, mas também para que ele adquirisse o caráter de um dever do Estado e um direito do cidadão, características que se tornaram essenciais no mundo moderno, ao se discutir o direito à educação de todos. (BARBOSA, 2011, p. 884) A Reforma Protestante pode ser considerada um marco inicial do movimento de contestação dos conhecimentos religiosos como os únicos dotados de “sentido” para explicar a humanidade. Assim, surgiam o início da valorização da ciência e a propagação do acesso universal ao ensino e à produção de conhecimento. A Revolução Industrial (Século XVIII): O Capitalismo em Curso, das Manufaturas às Grandes Indústrias A partir do século XV, com o advento das expansões marítimas (as grandes navegações de comércio ultramarítimas), houve uma ampliação da concepção de mundo para os colonizadores ocidentais, pois a exploração do comércio proporcionou a acumulação de capital pela burguesia comercial (SOUZA, [201-]). Conforme instalaram colônias na África, na Ásia e na América, os europeus viam surgir a possibilidade de um mercado mais amplo, de alcance mundial. A exploração de metais preciosos e o trá�co de pessoas escravizadas, que serviam como mão de obra nas colônias, impulsionaram o comércio e transferiram o poder econômico das cidades-repúblicas aos comerciantes. Ou seja, a expansão comercial e territorial muniu a classe de comerciantes, a burguesia, com capital �nanceiro su�ciente para alçá-la a posições privilegiadas de poder, o que propiciou que protagonizasse o processo de industrialização na Europa (inicialmente protagonizado pela Inglaterra). Iniciada em meados do século XVIII, a Revolução Industrial foi resultado de uma série de fatores, a exemplo do desenvolvimento de uma nova tecnologia de produção, as máquinas a vapor, que inovaram as relações de trabalho nesse período. Por sua vez, essas relações de trabalho foram impactadas pelo movimento migratório de trabalhadores do campo, que iam para as cidades em busca de trabalho e sustento. Ademais, o protagonismo da classe burguesa, �nanciadora da criação de fábricas, favoreceu o surgimento de um novo mercado consumidor. Esse contexto alterou signi�cativamente a forma de se estabelecer as relações sociais nesse período, principalmente no que diz respeito aos processos de produção de mercadorias. A máquina a vapor foi uma revolução no modo de produção chamado maquinofatura, centrado em fábricas, com máquinas movidas por energia de fonte físico-químico. Esse modelo é baseado em etapas seriais e setorizadas, que dão corpo ao processo de produção em série. A maquinofatura substituiu a manufatura, trabalho via máquinas manuais, dependente, exclusivamente, ou primordialmente, de mão de obra humana. Por um lado, o processo de produção em série da maquinofatura gerou muito desemprego, mas, por outro, diminuiu o valor da mercadoria e acelerou o ritmo de produção, o que pode alargar as margens de lucro de líderes industriais. O objetivo para se aperfeiçoar as técnicas de produção era ter menos trabalhadores e, ainda assim, produzir mais (dessa forma, os lucros teriam um aumento considerável). Segundo Martins (1994), a Revolução Industrial foi o triunfo do capitalismo, uma vez que, aos poucos, os empresários concentraram máquinas, ferramentas e grandes extensões territoriais em suas mãos, fazendo com que parte considerável da população se transformasse em simples trabalhadores sem posses. Dessa forma, surgiu uma sociedade dividida em classes, na qual o poder econômico e de produção está concentrado nas mãos de pequenos grupos, a classe burguesa, que utiliza a força de trabalho dos demais para a exploração e o acúmulo de capital. É possível a�rmar que as mudanças ocorridas na Revolução Industrial estabeleceram uma nova ordem de organização social na sociedade ocidental, assim como percebemos na atualidade, com a revolução das tecnologias da informação e da comunicação. Mudanças radicais na maneira de se organizar o mundo surgiram, e o que elas possuem em comum “é o fato de gerarem Figura 1.2: Máquina a vapor Fonte: Tacarijus / Wikimedia Commons. descontinuidades profundas nos mais variados setores da vida em sociedade” (NICOLACI-DA-COSTA, 2002, p. 194). Essas descontinuidades surgem no sentido de romper os moldes anteriores de organização social. O Iluminismo e a Revolução Francesa (Século XVIII): O Processo de Instauração da Ordem Liberal Burguesa Marcando uma ruptura dos valores feudais e aristocratas da Idade Média, “o Iluminismo constituiu-se sob a base de um programa fundado na construção racional da sociedade” (GONÇALVES, 2015, p. 281), ao questionar a intolerância religiosa e o poder absolutista da realeza europeia. A Idade Média, conhecida como “período das trevas”, teve seu �m quando os �lósofos iluministas propuseram a construção de uma “época das luzes”, em que o conhecimento cientí�co e a razão seriam adotados como fundamentos maiores de justiça. “Era a razão justa; re�etia o direito igual” (GONÇALVES, 2015, p. 281). Dentre os principais pensadores iluministas, podemos destacar Jean-Jacques Rousseau. Em sua obra intitulada “O contrato social”, originalmente publicada em 1762, esse �lósofo suíço explica que o contrato social é o acordo coletivo de Figura 1.3: Filósofos iluministas reunidos no Salão de Madame Geoffrin. Óleo sobre tela de Anicet Charles Lemonnier, 1812 Fonte: Anicet Charles Lemonnier [1812] / Wikimedia Commons. organização social e de adesão a um conjunto de regras, a �m de garantir a igualdade de condições de sobrevivência e o bom convívio social. Na leitura de Rousseau (1978), o contrato social deve ser sedimentado em uma decisão geral que legitima a liberdade de os indivíduos envolvidos escolherem a melhor forma de organização coletiva. O pensamento desse �lósofo foi a base para a construção das democracias europeias, principalmente no processo de Revolução Francesa, o qual trataremos mais adiante. O movimento intelectual iluminista inspirou, de acordo com Gonçalves (2015, p. 281), a concepção moderna de democracia, e também de direito, é produto desta razão, moralmente universalizada: enquanto o racional caracterizava-se pelo bem e pelas luzes, o irracional era identi�cado com o mal e o obscurantismo. Nesse período, o principal objetivo dos intelectuais engajados nesse movimento era difundir o ideal de que uma sociedade próspera é aquela que interpreta as suas relações e complexidades por meio darazão e de argumentos legitimados pela ciência. Inspirada pelos ideais iluministas, a Revolução Francesa propôs a aplicação de uma prática social com base no direito universal de toda a população francesa. Ocorrida também no século XVIII, a Revolução Francesa foi um movimento contra o absolutismo do rei Luís XVI e da rainha Maria Antonieta. O lema “Liberdade, Igualdade, Fraternidade” possui forte in�uência iluminista e busca incentivar um conjunto de ações que visam à construção de uma sociedade mais harmônica e não submissa ao poder absoluto (FURET, 1989). A obra de Eugène Delacroix, “A liberdade guia o povo”, representa de forma profunda o signi�cado da Revolução Francesa para o povo francês. A liberdade seria a libertação com relação ao poder aristocrático, e esse foi um período de transição dos grupos em posição de poder. A burguesia francesa tomou a frente desse movimento e, posteriormente, assumiu as instâncias de poder da França. A Tomada da Bastilha, em 14 de julho de 1789, foi o marco dessa revolução. Figura 1.4: “A liberdade guiando o povo” Fonte: Eugène Delacroix [1830] / Wikimedia Commons. A Bastilha era uma fortaleza medieval para prisioneiros da época. Em 14 de julho de 1789, os revolucionários franceses ocuparam o espaço como símbolo de seu rompimento com o poder monárquico do rei Luís XVI, que impunha um sistema de taxação desigual para controlar a crise econômica que assolava o país. A Tomada da Bastilha representa uma nova organização social, que seria difundida na França e em boa parte da Europa. Nesse contexto, a burguesia (classe de comerciantes) passaria a protagonizar as instâncias de poder. Figura 1.5: “A Tomada da Bastilha” (no centro, se vê a prisão de Bernard-René Jourdan de Launay, marquês de Launay, 1740-1789) Fonte: Jean-Pierre Houël [1789] / Wikimedia Commons. Os ideais iluministas e a Revolução Francesa compõem o cenário de ascensão da burguesia. Esses movimentos deram origem a um novo tipo de governo, o Estado- nação, em que os representantes são escolhidos pelo povo, e não mais pelo direito sagrado de poder, como era o caso das monarquias. É importante que você perceba a substituição dos grupos de poder e de ideais promovidos nesse período, pois isso contribuiu para a construção das instituições governamentais da modernidade. O Positivismo e o Surgimento de uma Ciência Social (Século XIX) A Revolução Industrial promoveu mudanças na divisão social do trabalho, até então inéditas, o que implicou nova organização econômica e política. Por sua vez, a Revolução Francesa tinha como propósito dar um �m aos privilégios herdados pela nobreza e promover a igualdade de direitos e oportunidades. Todo esse contexto social fez com que inúmeros pensadores procurassem compreender as repercussões dessas revoluções nos moldes de organização social emergentes. Esses estudiosos deram origem a uma herança intelectual que possibilitou o surgimento da sociologia como ciência, no século XIX. Ao mesmo tempo, a Europa Ocidental consolidava a sociedade capitalista, sistema social vigente até os dias atuais. Porém, o capitalismo ocidental trouxe diversas problemáticas. Com o surgimento de fábricas que abrigavam as máquinas, um CONECTE-SE A Relação entre os Direitos Humanos e a Revolução Francesa A Revolução Francesa pode ser considerada um dos processos sociais que possibilitaram o surgimento da cidadania e dos direitos democráticos. No pequeno artigo produzido pela Diretoria de Direitos Humanos da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), há a tradução da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, elaborada durante a Revolução Francesa, de 1789. O material é considerado o primeiro documento o�cial dos direitos humanos na sociedade ocidental. Fonte: Elaborado pelos autores. ACESSAR http://www.direitoshumanos.unicamp.br/noticia/liberdade-igualdade-e-fraternidade grande número de operários foi considerado desnecessário, fato que gerou desemprego e extrema pobreza, inaugurando contexto de desigualdade social, desconhecido até então. Além disso, o êxodo rural rapidamente superpopulou as cidades. Houve uma grande quantidade de trabalhadores que passaram a oferecer mão de obra em abundância e cada vez mais barata. Assim, com as cidades superpovoadas, as pessoas em busca de emprego nas fábricas e os indivíduos desempregados, o número de miseráveis foi aumentando consideravelmente. Problemas de infraestrutura nas cidades, aglomeração de pessoas miseráveis, sujeitos desempregados, esses e outros fatores resultaram em miséria, fome, violência e condições de sobrevivência cada vez mais precárias para os menos favorecidos pelo sistema capitalista. Diante de todas essas mazelas sociais, o �lósofo francês Auguste Comte (1798-1857) procurou entender essa sociedade capitalista desigual e problemática em consolidação. As principais questões desse pensador eram: como nossa sociedade funciona? Quais são os motivos para os con�itos e a desordem social? Comte, então, começou a desenvolver um método para se pensar a sociedade por meio de uma ciência positivista. Você sabe o que isso signi�ca? Signi�ca que Comte acreditava na superioridade da ciência e no poder que ela tem de explicar os fenômenos sem a utilização de parâmetros religiosos e míticos. Para esse �lósofo, a ciência poderia dar conta de oferecer soluções e estabelecer a ordem social. Entendo por física social a ciência que tem por objeto próprio o estudo dos fenômenos sociais, segundo o mesmo espírito com que são considerados os fenômenos astronômicos, físicos, químicos e �siológicos, isto é, submetidos a leis invariáveis, cuja descoberta é o objetivo de suas pesquisas. Assim, ela se propõe diretamente a explicar, com a maior precisão possível, o grande fenômeno do desenvolvimento da espécie humana, visto em todas as suas partes essenciais. (COMTE, 1972, p. 86) A ciência que poderia investigar os problemas sociais em pauta e propor iniciativas de reordenamento social seria uma ciência social, a sociologia. Comte foi o primeiro teórico a utilizar o termo “sociologia”, em seu curso de �loso�a positiva, em 1839. O autor pretendia mapear os métodos já utilizados nas ciências naturais (física, biologia, matemática) e aplicá-los ao estudo da sociedade. Surgiria, assim, uma física social, um conhecimento cientí�co das relações humanas e de suas instituições. A física social seria uma ciência naturalista da sociedade, capaz de explicar o passado da humanidade e predizer seu futuro por meio de métodos de investigação já bem-sucedidos no estudo da natureza: observação, comparação e experimentação O Positivismo de Auguste Comte foi o movimento responsável por fundar a sociologia como ciência. Foi nesse período que o avanço cientí�co alcançou as questões sociais, buscando interpretá-las. O surgimento da sociologia “sela” todo esse processo de proposição de novos valores sociais para a construção de uma sociedade moderna. Comte possuía muitos traços do pensamento �losó�co, por esse motivo, não constituiu um estudo sociológico empiricamente fundamentado, tal como buscamos realizar na atualidade. No entanto, é importante destacar que o Positivismo, além de propor um novo método de pesquisa afeto aos problemas sociais, in�uenciou diversos movimentos de organização política no mundo todo. Diante de todo esse contexto histórico de formação da sociedade capitalista tal como a conhecemos hoje, é importante destacar que os movimentos políticos e intelectuais citados até o momento estão presentes nas principais obras de autores canônicos das ciências sociais. Os fundamentos da sociologia, publicados por Émile Durkheim, em 1895, no livro “As regras do método sociológico”, possuem forte in�uência de aspirações iluministas e positivistas, segundo a perspectiva de depositar na ciência um valor privilegiado de leitura da realidade. Na obra “Da divisão do trabalho social”, publicada em 1893, Durkheim analisa as relações de trabalho na sociedade capitalista, tema que também foi abordado por Karl Marx em “O capital”, de 1867. Ambos os autoresconsideram os processos de especialização do trabalho durante o desenvolvimento da Revolução Industrial. O trabalho tornou-se um tema essencial para a sociologia durante sua consolidação. O sociólogo alemão Max Weber, por exemplo, relacionou a Reforma Protestante ao estabelecimento de valores liberais nas relações sociais e à valorização do trabalho assalariado como meio principal de vida, na obra “A ética protestante e o ‘espírito’ do capitalismo”, de 1904. REFLITA “Ordem e Progresso” Você já prestou atenção no lema da bandeira brasileira, “Ordem e Progresso”? Você sabia que ele é inspirado no Positivismo? A frase “Ordem e Progresso”, estampada na bandeira nacional, é inspirada no seguinte lema positivista: “O amor por princípio, a ordem por base e o progresso por �m” (COMTE, 1972). A frase demonstra o principal objetivo da �loso�a positivista: estabelecer a ordem social por meio do conhecimento cientí�co. O estabelecimento da ordem seria uma sociedade em pleno progresso e desenvolvimento; já o amor é o elemento que institui a solidariedade na convivência social, por isso, é destacado como um princípio. Fonte: Elaborado pelos autores. Destacamos as relações dessas produções com seus contextos históricos para rea�rmar que a sociologia é resultado da necessidade de compreender e de interpretar as transformações sociais que impactaram e ainda impactam no modo de vida ocidental. Posteriormente, falaremos com mais calma sobre cada uma dessas obras e respectivas teorias de seus autores. No entanto, a seguir, apresentaremos brevemente os principais pensadores da sociologia. Pensadores clássicos da Sociologia AUTORIA Ma. Solange Santos de Araujo Me. Josimar Priori Esp. Fúlvio Branco Godinho de Castro Ma. Daiany Cris Silva Os clássicos da sociologia são pensadores que forneceram subsídios para a criação de instrumentos de análise, além de perspectivas teóricas e contribuições re�exivas sobre o funcionamento de nossa sociedade. Os autores que se destacam como clássicos dessa disciplina são: Marx, Weber e Durkheim. Consideramos suas concepções teóricas como precursoras do pensamento sociológico, e é por esse motivo que merecem destaque nesta unidade. Émile Durkheim O francês Émile Durkheim (1855-1917) inspirou-se na teoria positivista de Comte. Para esse pensador, a sociedade é regida por leis exteriores e independentes da vontade humana. Portanto, a sociedade orienta nossos comportamentos e ações. O principal objetivo de Durkheim era tornar a sociologia um conhecimento cientí�co. Max Weber O sociólogo alemão Max Weber (1864-1920) centrou sua discussão teórica nas ações individuais, com uma perspectiva oposta à de Durkheim. Para Weber, não existem leis universais que regem a vida em sociedade. Além disso, segundo esse sociólogo, a compreensão de um fenômeno social deve partir da análise do comportamento individual perante a coletividade. Figura 1.6: Émile Durkheim Fonte: M. Armando / Wikimedia Commons. Karl Marx Karl Marx (1818-1883), revolucionário pensador alemão, inovou as discussões sobre as relações de produção e de trabalho na sociedade capitalista. Sob uma perspectiva socialista, Marx procurou analisar as estruturas de poder e as desigualdades sociais com objetivo de transmitir à classe trabalhadora uma crítica política da sociedade de seu tempo. Figura 1.7: Max Weber Fonte: ��ೕ� / Wikimedia Commons. As bases para a compreensão da vida em sociedade que cada um desenvolveu construíram diferentes concepções sobre a organização social, in�uenciaram muitos outros teóricos das ciências sociais e inspiraram a criação de diversas escolas de pensamento na sociologia. No entanto, é importante destacar que todas essas perspectivas teóricas emergiram de mudanças sociais relativas à consolidação do capitalismo moderno, portanto, a busca pelo entendimento das relações humanas durante o processo de modernização da sociedade ocidental é o fator comum entre os interesses de investigação cientí�ca e as diferentes metodologias desses autores. Figura 1.8: Karl Marx Fonte: John Jabez Edwin Mayal [~1875] / Wikimedia Commons. A Sociologia como uma forma de interpretar o Mundo: objetivos e principais características AUTORIA Ma. Solange Santos de Araujo Me. Josimar Priori Esp. Fúlvio Branco Godinho de Castro Ma. Daiany Cris Silva Agora que já compreendemos em termos gerais quais são os movimentos políticos e intelectuais que possibilitaram a consolidação da sociologia como ciência, vamos nos concentrar em debater quais são suas principais características. É possível destacar até aqui que a necessidade de compreensão das transformações sociais ocorridas no �m do último milênio provocou um ímpeto de conscientização sobre quais são as formas de organização da realidade social, bem como seu impacto na vida em sociedade. Ademais, percebe-se que a sociedade ocidental passou a centrar sua organização em processos mais “racionais”, pautados no conhecimento cientí�co, nos avanços tecnológicos e na recon�guração dos modelos de produção e das estruturas políticas, o que resultou na criação de um sistema social totalmente novo. Para mobilizar esse novo sistema social, de forma a organizá-lo e a projetar melhorias e aperfeiçoamentos, o entendimento dos processos em curso tornou-se algo essencial, e é por esse motivo que a sociologia surgiu como uma ciência capaz de interpretar o mundo em que vivemos. De acordo com Mills (1969), para compreender as próprias experiências sociais, é necessário ser cônscio, lúcido e consciente com relação às possibilidades de vida reservadas pela convivência social. Além disso, é preciso observar a trajetória de quem nos cerca, sendo esta uma maneira de estimular a construção de um olhar atento para os acontecimentos do mundo em que vivemos. Para Mills (1969), esta é a principal contribuição da sociologia: fornecer a possibilidade de compreender o mundo ao redor para além do que é tido como “certo”, sem prede�nições. Nesse sentido, ao desenvolvermos as nossas próprias percepções, será possível localizar o nosso papel dentro da sociedade e planejar ações individuais e coletivas. Essa lógica de pensar sociologicamente, proposta por Mills (1969), possibilita aguçar a visão de que há uma ordem e uma estrutura exteriores aos seres humanos. Dessa maneira, apenas quando nos tornamos conscientes desses processos de construção social é que podemos intervir sobre eles ou, pelo menos, administrá-los, a�rma Mill (1969). Segundo essa perspectiva, a sociologia possui um papel social essencial na sociedade moderna, que é o de construir interpretações sobre a forma com que funcionamos e nos organizamos coletivamente. Para Mills (1969), a capacidade de produzir essas interpretações sobre o mundo não é exclusiva de cientistas sociais, mas só é possível por meio do pensamento sociológico, que se constitui da contextualização histórica e política de nossas estruturas sociais. Esse movimento re�exivo de interpretação da realidade é o que Mills (1969) chama de “imaginação sociológica”. E, para mobilizá-la, devemos responder ao seguinte conjunto de questões (MILLS, 1969, p. 13): REFLITA Compreender a Sociedade é Compreender a Própria Experiência “O indivíduo só pode compreender a sua própria experiência e avaliar o seu próprio destino localizando-se dentro de seu período. Só pode conhecer as suas possibilidades na vida tornando-se cônscio das possibilidades de todas as pessoas nas mesmas circunstâncias. Sob muitos aspectos, é uma missão terrível, sob muitos outros, magní�ca”. Fonte: Mills (1969, p. 12). 1) Qual a estrutura dessa sociedade como um todo? Quais seus componentes essenciais e como se correlacionam? Como difere de outras variedades de ordem social? Dentro dela, qual o sentido de qualquer característica particular para a sua continuação e para a sua transformação? 2) Qual a posição dessa sociedade na história humana? Qual a mecânica que a faz modi�car-se? Qual é seu lugar no desenvolvimento da humanidade como um todo, e que sentido tem para esse desenvolvimento?Como qualquer característica particular que examinemos afeta o período histórico em que existe, e como é por ele afetada? Como difere de outros períodos? Quais seus processos característicos de fazer a história? 3) Que variedades de homens predominam nessa sociedade e nesse período? E que variedades irão predominar? De que formas são selecionadas, formadas, liberadas e reprimidas, tornadas sensíveis ou impermeáveis? Que tipos de “natureza humana” se revelam na conduta e no caráter que observamos nessa sociedade, nesse período? E qual é o sentido que para a “natureza humana” tem cada uma das características da sociedade que examinamos? É possível que você, estudante, esteja um pouco atordoado com tantas questões. Em um primeiro momento, parece difícil fornecer alguma resposta, no entanto, de acordo com Mills (1969, p. 11), se o indivíduo utilizar a razão e a lucidez para tentar compreender o que está ocorrendo no mundo e dentro de si mesmo, será capaz de responder a essas questões. O primeiro bloco de questões refere-se à compreensão da nossa estrutura social: qual é a ordem que nos rege coletivamente? Nossa vida em sociedade é orientada pela ordem de produção capitalista, portanto, ao compreender que isso é um dos elementos norteadores da nossa organização social, será possível seguir para o próximo bloco de questões, que busca explicitar quais foram as transformações no tempo histórico que construíram a ordem sob a qual vivemos. Por �m, após esclarecer as bases do nosso sistema social, podemos seguir para o último bloco de questões e buscar um entendimento sobre as diferentes formas de vida em um mesmo meio: elas existem? Quais são os diferentes grupos existentes e suas características? As re�exões de Mills (1969) sobre o pensamento sociológico são essenciais para compreender as temáticas de pesquisa no âmbito das ciências sociais, bem como seus métodos e técnicas. Ainda, a “imaginação sociológica” de Mills (1969) nos mostra que, para sermos conscientes e avaliarmos a nossa própria experiência como sociedade, devemos nos despir de prede�nições. Para tanto, é necessário mobilizar “um estado de espírito que permite entender a vida em sociedade como estando submetida a uma ordem, produzida pelo próprio concurso de condições, fatores e produtos da vida social” (FERNANDES, 2008, p. 10-11). O que buscamos destacar, portanto, é que a sociologia primeiramente surgiu como uma concepção de mundo. Somente depois é que foi estabelecida como ciência, fato que torna impossível separá-la das condições históricas e sociais que precedem sua existência. Nesse sentido, a pesquisa cientí�ca nas ciências sociais, especi�camente na sociologia, deve seguir uma objetividade e avaliar todos os elementos que constroem a ordem social e os conjuntos de regras e valores culturais. Abordagens Sociológicas: Temas e Métodos de Pesquisa Como discutimos anteriormente, o estudo da sociedade não é exclusividade da sociologia. Muitos movimentos políticos e intelectuais se dedicaram a re�etir sobre as transformações do mundo em que vivemos, propondo formas de intervenção nesse contexto. No entanto, a peculiaridade da sociologia está na maneira com que esse campo de estudo lida com as questões sociais, ou seja, pela elaboração de técnicas e de métodos de pesquisa próprios da investigação sociológica. Atualmente, consideramos que a sociologia não é a única ciência que se dedica aos estudos sociais. Ela é parte das ciências sociais, assim como a antropologia e a ciência política. A antropologia dedica-se ao estudo de culturas, hábitos, costumes e comportamentos coletivos; já a ciência política trata do “conjunto de estudos sobre os fenômenos e as estruturas políticas, conduzido sistematicamente e com rigor, apoiado num amplo e cuidadoso exame dos fatos expostos com argumentos racionais” (BOBBIO; MATTEUCCI; PASQUINO, 1998, p. 164). Todos esses campos do conhecimento possuem referenciais teóricos, além de metodologias e abordagens cientí�cas próprias para a investigação dos temas de pesquisa a que se referem. Com relação à sociologia, é possível perceber um maior destaque para essa disciplina, e isso se dá em razão de essa ciência ser a pioneira na consolidação de uma metodologia especí�ca para o estudo da sociedade. Resumidamente, a sociologia dedica-se ao estudo do comportamento humano em coletividade: como nos relacionamos uns com os outros? Como nos organizamos socialmente e formamos sistemas sociais por meio de uma ordem que é exterior às nossas vontades individuais? Como estabelecemos padrões de comportamento? A sociologia é a ciência que analisa essas e muitas outras questões: relacionamentos interpessoais, família, grupos sociais, escola, trabalho, religiosidade, Estado, justiça etc. Diante da diversidade de temas de pesquisa, cabe ressaltar que não há uma separação muito clara entre as diferentes áreas das ciências sociais, pois elas podem se fundir e/ou compartilhar perspectivas cientí�cas. Assim como em qualquer outro campo cientí�co, na sociologia e nas ciências sociais como um todo há um conjunto de técnicas e métodos de pesquisa. Nesse sentido, podemos destacar dois grupos principais: técnicas e métodos quantitativos ou técnicas e métodos qualitativos. No primeiro caso, temos a coleta, a manipulação e a análise de dados quantitativos, censos demográ�cos, pesquisas eleitorais ou de opinião, questionários de per�l socioeconômico etc., instrumentos que utilizam, normalmente, questões estruturadas, fechadas e de múltipla escolha. No segundo caso, temos uma aplicação e uma análise mais subjetivas, mas isso não signi�ca falta de objetividade ou de rigor cientí�co. Em ambos os casos, existem protocolos de ética e procedimentos predeterminados pela literatura metodológica das ciências sociais. As pesquisas qualitativas podem ser representadas por entrevistas semiestruturadas, com questões abertas, histórias de vida, análise de documentos, observação participante, estudos de caso etc. CONSOLIDAÇÃO DA SOCIOLOGIA COMO CONHECIMENTO CIENTÍFICO Movimentos políticos e intelectuais que in�uenciaram o surgimento da Sociologia ● Reforma Protestante (século XVI); ● A revolução Industrial (século XVIII); ● O movimento intelectual Iluminista e a Revolução Francesa (século XVIII); ● A ciência Positivista (século XIX). Principais características, métodos e técnicas de pesquisa das Ciências Sociais ●A Sociologia se dedica a estudar o comportamento humano seus valores e regras coletivos; ● A Sociologia é uma das três áreas das Ciências Sociais, composta, também, pela Antropologia e Ciência Política; ● As pesquisas quantitativas e qualitativas formam as principais técnicas de pesquisa nas Ciências Sociais. Segundo Fernandes (2008), o modo de agir e a capacidade de decisão e de julgamento dependem do grau de consciência dos indivíduos com relação às ações dos outros e/ou aos efeitos de possíveis alterações na estrutura e no funcionamento de instituições. Para tanto, a sociologia desenvolveu diferentes métodos e técnicas de pesquisa para auxiliar no entendimento das relações estabelecidas na vida em sociedade, bem como da forma de estruturas e instituições sociais. Avaliar as interferências exteriores sobre a nossa vida cotidiana é a maneira com que essa ciência pode contribuir na nossa ação efetiva em sociedade. Caro(a) aluno(a), nesta unidade, conhecemos os contextos que possibilitaram a formação do pensamento sociológico moderno. Tendo em vista os movimentos políticos e intelectuais que impulsionaram o surgimento da sociologia, é possível a�rmar que essa disciplina deu início à valorização do conhecimento cientí�co, em detrimento da autoridade absoluta da religiosidade, característica da Idade Média e da elite aristocrática. Além da ascensão do conhecimento cientí�co, a constituição do Estado moderno foi um marco importante para que questões sobre a organização social passassem a fazer parte do escopo teórico da sociologia Todo o contexto histórico e social apresentado nesta unidade demonstra que a sociologia é umproduto cultural. Vimos que a Revolução Industrial e a Revolução Francesa proporcionaram a criação de um ambiente propício à intelectualização dos conhecimentos relativos ao mundo então em emergência. Nesse sentido, a sociologia foi uma disciplina que buscou responder aos anseios de compreensão dessa nova realidade. Assim, a sociologia surgiu como uma forma de interpretação da realidade, buscando compreender qual seria a ordem social que nos organiza coletivamente. Para tanto, foram criadas diferentes especialidades para dar conta das diversas temáticas concernentes à realidade social. Ademais, foram desenvolvidos métodos e técnicas de pesquisa para avaliar as diferentes experiências em sociedade. Conclusão - Unidade 1 Livro Unidade 2 Sociologia: a lente da Ciência voltada para sociedade AUTORIA Ma. Solange Santos de Araujo Me. Josimar Priori Esp. Fúlvio Branco Godinho de Castro Ma. Daiany Cris Silva Introdução Estimado(a) aluno(a), a Sociologia, como uma ciência que surge das transformações sociais emergentes da sociedade capitalista, constitui-se como um conhecimento plural em suas perspectivas teóricas e metodológicas, tal como se apresenta a consolidação do capitalismo em suas contradições. Considerando esse contexto, esta unidade é um convite para que você compreenda a diversidade de metodologias e de posicionamentos teóricos que foram desenvolvidos pelos autores precursores da Sociologia. Buscaremos demonstrar como a lente da ciência se voltou para a sociedade e o que ela nos revelou sobre nossas condições sociais. Começaremos apresentando o autor que cunhou o termo “Sociologia”, Auguste Comte. Estudaremos sobre como esse teórico via, na Sociologia, uma possibilidade de intervenção social para solucionar a crise da sociedade capitalista. A seguir, partiremos ao entendimento da metodologia de Émile Durkheim, autor que fundamenta regras e métodos de pesquisa que �zeram da Sociologia um conhecimento cientí�co institucionalizado, capaz de estudar os acontecimentos sociais com rigor cientí�co equivalente ao das ciências naturais (matemática, biologia e química). Conheceremos, ainda, Max Weber, sociólogo que desenvolveu uma teoria que busca entender a sociedade por meio das ações individuais dos indivíduos. Seguidamente, apresentaremos as discussões de Karl Marx, responsável por promover uma análise crítica sobre a sociedade capitalista, abrangendo as relações de produção e as características estruturais, assim como a origem dos problemas sociais decorrentes dessa organização social. Bons estudos! O papel dos precursores da Sociologia na consolidação da disciplina AUTORIA Ma. Solange Santos de Araujo Me. Josimar Priori Esp. Fúlvio Branco Godinho de Castro Ma. Daiany Cris Silva As ciências sociais podem ser consideradas um campo de estudos emergente do processo de formação da sociedade capitalista, representada, aqui, pela Sociologia. Assim, apresentaremos diferentes posicionamentos teóricos e metodológicos que expressam as contradições desse sistema social. Desde o seu nascimento, a Sociologia debate-se entre tendências teóricas, entre perspectivas produzidas por diferentes visões de mundo. Essa diversidade fruti�ca da própria diferenciação interna, das tensões e das contradições que determinam a formação social capitalista (MARTINS, 2008, p. 1). Portanto, cabe a nós situar essa ciência em seu contexto histórico, preferencialmente, referenciado pelo capitalismo. Para isso, torna-se necessário apresentar os princípios lógicos de formação do pensamento dos precursores da Sociologia, que, como referenciais teóricos, possuem um papel fundamental na consolidação da disciplina e geram repercussões no fazer sociológico até os dias atuais. Auguste Comte, Émile Durkheim, Max Weber e Karl Marx são considerados como autores basilares para a disciplina de Sociologia, atuando como referências fundamentais para o desenvolvimento desta. Primordialmente, podemos destacar três elaborações teóricas provenientes deles: o método funcionalista de Durkheim, que é inspirado pelo positivismo de Comte; o método dialético de Marx; o método compreensivo de Weber. Ressalta-se, ainda, que aprender as metodologias clássicas nos permite dimensionar a diversidade de perspectivas do conhecimento sociológico e compreender as ciências sociais não como um conhecimento universal, e sim como uma produção cientí�ca que apresenta possibilidades de leitura e apreensão da realidade social. A construção da Ciência Sociológica por Auguste Comte A Revolução Industrial é resultado da solidi�cação da ciência e das inovações tecnológicas na Europa Ocidental. Esse movimento de transformação social impulsionou a formação de uma nova estrutura econômica e de estrati�cação social, a qual consolidou o que conhecemos atualmente como sistema capitalista. Diante de tantas mudanças nos âmbitos político e econômico, a sociedade ocidental enfrentou uma série de problemas sociais. Veja só! Com a Revolução Industrial, surgiram fábricas que abrigavam um modelo de trabalho de produção em série extremamente especializado. Assim, com a adesão de máquinas, cada vez menos trabalhadores eram necessários no processo de produção, ocasionando desemprego e miséria entre os que não possuíam poder econômico e que dependiam do trabalho assalariado. Somando-se a isso, é de extrema importância entender que, como a mão de obra é considerada uma mercadoria, os trabalhadores vendiam suas forças de trabalho para os donos das fábricas (capitalistas/burgueses), e estes tentavam pagar o menos possível, resultando em baixos salários. O desemprego, a fome e os problemas estruturais na organização das cidades se multiplicaram nesse período, e, diante de tantos problemas sociais, um cientista, o �lósofo francês Auguste Comte (1798-1857), decidiu que a ciência poderia atuar como uma forma de intervenção social. Pioneiro da ciência positiva, Comte, buscou entender a sociedade capitalista, analisando o funcionamento desta e a forma com que as relações sociais se estabeleciam nesse sistema. O objetivo do autor foi, primordialmente, encontrar os motivos da existência de con�itos e desordem social, ou seja, estabelecer a ordem para atingir o progresso. Para alcançar o objetivo de compreender a ordem estabelecida na sociedade e as relações sociais, Comte desenvolve a ciência positiva, uma teoria do conhecimento que considera que “[...] os procedimentos da ciência natural são diretamente aplicáveis ao mundo social com objetivo de estabelecer leis invariantes ou generalizações semelhantes a leis sobre fenômenos.” (WACQUANT, 1996, p. 597). De acordo com Comte, “[...] o genuíno espírito positivo consiste em ver para prever, em estudar o que é, a �m de concluir o que será, segundo o dogma geral da invariabilidade das leis naturais.” (COMTE, 1978, p. 131). A ciência positiva buscou replicar os métodos e as técnicas das ciências naturais para a investigação dos fenômenos sociais, campo de estudos que Comte intitulou, inicialmente, de física social e que, posteriormente, foi desenvolvido como Sociologia. Com o intuito de prever os acontecimentos da sociedade e de possibilitar uma intervenção nos processos sociais, para que estes fossem ordeiros e harmoniosos, o �lósofo positivista buscou diminuir os con�itos e os problemas sociais. Atualmente, sabemos que a vida em sociedade não é previsível e passível de controle igual a um experimento de laboratório; no entanto, durante o processo de consolidação da disciplina, Comte acreditou nessa possibilidade. O progresso social, que só seria alcançado por meio da ciência, foi um dos principais norteadores da teoria de Auguste Comte. Para apresentar esse preceito, o autor desenvolve a “lei dos três estados”, que se con�gura em estágios de evolução das concepções intelectuais humanas. O primeiro, menos evoluído intelectualmente, é o estado teológico, baseado em crendices populares e em crenças de religiões politeístas e monoteístas, além de ser constituído por explicações de mundo que, segundo o �lósofo, seriamfruto da imaginação e das �cções coletivas. O segundo estado seria o metafísico, de evolução intermediária e transitória. De acordo com Comte (1978), tanto no estado teológico quanto no estado metafísico, existe a busca de uma explicação para a natureza da vida e para a origem de todas as coisas, porém, neste último: [...] em vez de empregar para isso os agentes sobrenaturais propriamente ditos, substitui-os cada vez mais por entidades ou abstrações personi�cadas, cujo uso, verdadeiramente característico, amiúde permitiu designá-la sob a denominação de Ontologia. (COMTE, 1978, p. 123). O terceiro estágio, mais evoluído intelectualmente, foi denominado de estado positivo e necessitou do processo de desenvolvimento intelectual dos estados teológico e metafísico. Segundo Comte (1978), o estado positivo subordina a imaginação e as conceituações abstratas sobre a realidade social, a observação e a investigação empírica dos fenômenos sociais. Além disso, constitui-se como uma concepção de mundo baseada no estudo social e permite “[...] perceber as verdadeiras relações de cada parte com o todo, de modo a oferecer constantemente um largo destino às mais eminentes pesquisas, evitando, entretanto, toda especulação pueril.” (COMTE, 1978, p. 146). Portanto, a Sociologia comporia, para Comte, a superioridade intelectual no pensamento humano, ou seja, o estado positivo, em que a compreensão dos processos sociais e a formulação de iniciativas que cooperam para o ordenamento social são possíveis. A teoria positivista de Auguste Comte LEI DOS 3 ESTADOS 1) Teológico Nesta concepção, as ideias utilizadas para a explicação do mundo real são baseadas no sobrenatural. Segundo Comte, o primeiro estado (teológico) tem relação com a inteligência humana. 2) Metafísico Na segunda concepção, há presença das ideias naturais, porém as ideias baseadas no sobrenatural ainda são usadas para explicar as coisas do mundo (é uma concepção intermediária). Segundo Comte, o segundo estado (metafísico) tem como função servir de transição entre o primeiro e o último. 3) Positivista Neste momento, são as leis gerais de ordem positiva que explicam os fatos. Segundo Comte, o terceiro (positivista) é o estado físico e de�nitivo do ser humano. Fonte: REALE, G. História da Filoso�a. v. 3. São Paulo: Paulus, 1991. p. 118. Para a ciência positivista, seria possível dominar e controlar a realidade social por meio do conhecimento e do entendimento das relações sociais instituídas na sociedade capitalista, o que possibilitaria mapear suas problemáticas e instaurar a disciplina e a ordem social, garantindo o progresso da civilização moderna. Em termos positivistas, “o progresso é regulado pela ordem” (MARTINS, 2008, p. 3), o que signi�ca que a Sociologia, por investigar de maneira aprofundada os processos sociais, poderia dar instrumentos para o entendimento da realidade social vigente. Émile Durkheim em busca de atribuir à Sociologia uma reputação cientí�ca AUTORIA Ma. Solange Santos de Araujo Me. Josimar Priori Esp. Fúlvio Branco Godinho de Castro Ma. Daiany Cris Silva O sociólogo francês Émile Durkheim (1858-1971), inspirado, em alguma medida, na ciência positivista de Auguste Comte, avança no desenvolvimento de uma ciência social e busca atribuir à Sociologia uma reputação cientí�ca. Quando ocorre a publicação de “As regras do método sociológico” em 1895, Émile Durkheim inaugura uma discussão sobre a metodologia própria da Sociologia. Em busca de analisar a sociedade como um organismo, tal qual as ciências naturais, Durkheim observa que, independente da vontade individual, a humanidade é regida por causas exteriores e, portanto, sociais. Uma das grandes preocupações de Durkheim é centrar o estudo da vida social como uma realidade objetiva. O autor defendia que os acontecimentos sociais deveriam ser estudados como coisas ou objetos. Portanto, o sociólogo deveria desenvolver a capacidade de realizar uma observação neutra, racional e livre de preconceitos e concepções prede�nidas. O método para estabelecer essa relação com um objeto de estudo na Sociologia, segundo Durkheim, seria por meio do estudo do fato social, o objeto de estudo da Sociologia, constituído pelos acontecimentos sociais que ocorrem independentemente das manifestações individuais. Para Durkheim (1971), os fatos sociais podem ser divididos em três categorias: a) coercitivo – o fato social é uma imposição coletiva sobre o indivíduo, que se con�gura como uma obrigação a seguir um determinado comportamento estabelecido pela sociedade por meio de grupos sociais e instituições, por exemplo, religião, moda e crença; b) exterior ao indivíduo – o fato social ocorre independentemente da vontade do indivíduo, sendo imposto por determinações externas, ou seja, o fato social não se expressa no comportamento de uma só pessoa, e sim na adesão de uma maioria de pessoas envolvidas na determinação coercitiva de um comportamento, padronizando as maneiras de agir, ser e pensar em sociedade; c) coletivo/geral – o fato social é comum a todos os indivíduos da sociedade. Além de ser externo às nossas vontades individuais e nos coagir a seguir padrões de comportamento, o fato social é ditado pelo meio social em que convivemos. O fato social, constituído como o objeto de estudo de Durkheim (1971), torna o autor o primeiro sociólogo a desenvolver uma metodologia própria para a Sociologia, ou seja, não é apenas uma réplica de métodos e técnicas das ciências naturais, como pretendeu a física social de Comte, é uma metodologia sociológica pensada especi�camente para o estudo da sociedade. Pode-se resumir as propostas de teoria sociológica de Durkheim por meio das seguintes características: a) observação empírica – a análise por experiência, detida aos sentidos, e o contato direto com sujeito e o objeto de estudo; b) neutralidade cientí�ca – apenas o que se pode comprovar e analisar cienti�camente, distanciando-se de prenoções e posicionamentos predeterminados; c) método comparativo – a comparação do fato social em diferentes situações, considerando a diversidade de condições sociais existentes e, até mesmo, em outras formas de organização social; d) diagnóstico de função e causa social – a procura pela explicação das causas que tornaram possível a existência do fato social e a busca pela função do fato social em sua sociedade de origem; e) indução – o resultado da análise de um fato social especí�co deve servir para a compreensão de uma lei geral. O objetivo de atribuir uma reputação cientí�ca à Sociologia se deu quando Durkheim conseguiu, por meio das premissas citadas anteriormente, denotar um rigor metodológico ao estudo da sociedade, de maneira a estabelecer conceitos objetivos de investigação cientí�ca. REFLITA O Fato Social “É fato social toda maneira de agir �xa ou não, suscetível de exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior; ou então ainda, que é geral na extensão de uma sociedade dada, apresentando uma existência própria, independente das manifestações individuais que possa ter.” Fonte: Durkheim (1971, p. 11). Destaca-se que, além de ter contribuído para o projeto de ciência social, Émile Durkheim colaborou para que uma lógica de pensamento importante se colocasse nos estudos sobre a sociedade. O autor de�niu seu método cientí�co de modo a considerar as imposições sociais sobre os nossos hábitos e modos de ser, agir e pensar, em um movimento que determina uma relação do geral para o particular, ou seja, do social para o individual. Para re�etir sobre as interferências que a sociedade impõe sobre a nossa trajetória, Durkheim criou dois conceitos importantes: consciência coletiva e consciência individual. Segundo o sociólogo, a primeira se trata do que é: [...] comum a todo nosso grupo e, por conseguinte, não é a gente mesmo, mas a sociedade vivendo e agindo em nós; a outra, ao contrário, representa apenas nós mesmo, naquilo que temos de pessoal e distinto, naquilo que faz de nós um indivíduo. (DURKHEIM, 2008, p. 27-28). CONECTE-SE O padrão debeleza como um fato social Os padrões de beleza no decorrer da história são um bom exemplo de fato social, no que se refere à imposição exterior de modelos de comportamento. No artigo indicado a seguir, é possível perceber que os nossos gostos e as nossas preferências estéticas são construídos socialmente e não possuem relações com laços genéticos e determinações biológicas. O padrão de corpo considerado bonito pela sociedade sofre modi�cações de acordo com o nosso contexto histórico e re�ete em como a maioria dos indivíduos lidará com os padrões de beleza de seu tempo. Fonte: Elaborado pelas autoras. ACESSAR https://grupoiagsaude.com.br/a-ciencia-explica-o-que-constitui-o-seu-tipo-ideal/ Ao dimensionar esses dois tipos de consciência, Durkheim inaugura uma série de discussões sobre como lidamos coletivamente com nossos gostos, nossas maneiras de ser, nossos pensamentos e nossas ações. Assim, reconhece-se uma dimensão individual, proveniente da personalidade que possuímos, a qual é vinculada a preferências como: cor favorita, tipo de comida preferida, entre outros aspectos muito particulares. No entanto, demonstra-se uma atenção a como nossas ações, também, estão condicionadas a fatores externos. Por exemplo, quando um indivíduo que vai a um casamento pensa que deve vestir um terno, o dever, nesse caso, não é porque há uma preferência por usar ternos, e sim porque, nesses espaços, esse é o tipo adequado de vestimenta, estabelecido por imposições coletivas. Destacar as características que constituem o fato social como um objeto de estudo e os conceitos de consciência individual e coletiva é essencial para aprender a teoria durkheimiana, principalmente, no que se refere à interpretação de Durkheim sobre uma sociedade que nos molda coletivamente como um organismo funcional. Divisão Social do Trabalho Agora que compreendemos, de maneira geral, as premissas do pensamento de Durkheim, convém avaliar uma de suas obras que apresenta uma análise prática da realidade moderna. Em 1893, Durkheim publicou sua tese de doutoramento “A divisão social do trabalho”, que analisa a sociedade moderna e as relações de produção do sistema capitalista. Para Durkheim: [...] a divisão do trabalho não é especí�ca do mundo econômico: podemos observar sua in�uência crescente nas regiões mais diferentes da sociedade. As funções políticas, administrativas, judiciárias especializam-se cada vez mais. O mesmo ocorre com as funções artísticas e cientí�cas. Estamos longe do tempo em que �loso�a era a ciência única; ela fragmentou-se numa multidão de disciplinas especiais, cada uma das quais tem seu objeto, seu método, seu espírito. (DURKHEIM, 1999, p. 2). O sociólogo compreende que a divisão social do trabalho possuía a função de estabelecer coesão social e vínculos de solidariedade social, “[...] fenômeno totalmente moral e que não pode haver uma observação exata.” (DURKHEIM, 1999, p. 13). A coesão social se refere ao compartilhamento de ideais, valores, crenças e modos de agir e pensar em uma sociedade, quanto mais coeso é o funcionamento de uma sociedade, melhor a sua organização social. “Para Durkheim, o progresso é o progresso da divisão social do trabalho que se impõe pelo crescimento do volume e densidade moral das sociedades, pela intensi�cação dos contatos e das relações sociais.” (MARTINS, 2008, p. 3). Assim como vimos anteriormente, a imposição de valores sociais e morais impacta signi�cativamente a vida das pessoas. A coletividade é determinante em muitas instâncias da vida social, a qual depende do estabelecimento de vínculos de solidariedade social para atingir uma melhor coesão em sociedade. Considerando esse contexto, para o autor, existem dois tipos de solidariedade social: a mecânica e a orgânica. Solidariedade Mecânica As sociedades com solidariedade mecânica são aquelas baseadas na divisão social do trabalho simples, em que todos os seus membros reconhecem todos os processos de produção. Esse tipo de organização advém de sociedades mais elementares, em que há um forte senso de coletividade e não há muitos níveis de individualidade. Segundo Durkheim (2008): As moléculas sociais cuja a coesão se dê dessa forma singular, só poderão agir em conjunto se não tiverem movimentos próprios, como as moléculas de corpos inorgânicos. Por isso nos propomos chamar esta espécie de solidariedade mecânica. Com essa expressão não queremos dizer que ela seja produzida por meios mecânicos arti�cialmente. Chamamo-la assim apenas por analogia com a coesão que une entre si os elementos dos corpos brutos, em oposição àquela que dá unidade aos corpos vivos. O que completa a justi�cação de tal denominação é que o laço que une os indivíduos à sociedade é análogo ao que liga a coisa à pessoa. (DURKHEIM, 2008, p. 28). É comum perceber alusões a nomenclaturas das ciências naturais nas obras de Durkheim, principalmente, em suas primeiras produções, dado a tentativa do autor de adaptar os métodos desse campo de estudos para a investigação sociológica. Na citação anterior, o autor justi�ca o uso da expressão solidariedade mecânica, para nos mostrar que a sua de�nição se trata da relação dependente da coletividade em sociedades que possuem esse tipo de divisão social do trabalho. Sociedades de solidariedade mecânica são aquelas em que o senso de coletividade é maior do que o de individualidade ou, até mesmo, se impõe à individualidade, sufocando-a. Solidariedade orgânica As sociedades de solidariedade orgânica constituem-se nos processos de produção da modernidade, ou seja, no sistema capitalista. Esse tipo de divisão social do trabalho se baseia no alto grau de especialização e no individualismo. Em uma sociedade de solidariedade orgânica, os indivíduos possuem muita dependência uns dos outros, complexi�cando o sistema de relações sociais nos mais diversos âmbitos, em instituições econômicas, políticas e culturais. A solidariedade do tipo orgânica é um desenvolvimento do tipo mecânico, segundo Durkheim: SAIBA MAIS Povos caçadores e coletores são sociedades de solidariedade mecânica? Considera-se que as sociedades de solidariedade mecânica são constituídas por modelos de produção com processos simples, como a economia e a alimentação, que são baseadas em caça, coleta, pesca e agricultura complementar, assim como vivem o povo Kaingang, uma das maiores populações indígenas brasileiras. Para saber mais sobre o tema e compreender melhor a dinâmica de solidariedade mecânica, acesse o link a seguir. Fonte: Elaborado pelas autoras. ACESSAR http://www.portalkaingang.org/index_cultura_5_1.htm [...] a passagem da sociedade de solidariedade mecânica para a sociedade de solidariedade orgânica como uma lei histórica. Assim, quando a maneira como os homens são solidários se modi�ca, a estrutura das sociedades acaba mudando também. A forma de um corpo se transforma necessariamente quando as a�nidades moleculares não são mais as mesmas. Por conseguinte, se a proposição precedente é exata, deve haver dois tipos sociais que correspondem a essas duas sortes de solidariedade. (DURKHEIM, 1999, p. 17). Portanto, para Durkheim, quando a sociedade muda, os indivíduos dependem uns dos outros, devido à especialização de funções ou mesmo à divisão do trabalho social. Na realidade, o que causa interação entre as pessoas é o progresso dos meios da especialização das funções que os indivíduos exercem entre si (DURKHEIM, 1999). Logo, os indivíduos acabam se tornando independentes das atividades em diferentes setores da vida social. Portanto, Durkheim postula que a divisão social do trabalho não deve se reduzir ao seu papel econômico: “Ao contrário, a divisão do trabalho social tem antes de tudo uma função moral, no sentido de que ela passa a ser o elemento-chave para a integração dos indivíduos na sociedade.” (SELL, 2001, p. 144). Sob essa perspectiva, Durkheim demonstra uma preocupação com a constituição dos valores morais em sociedade, pois, para o sociólogo, nossas fragilidades estão na perda, ou na falta de adesão, dessa dimensão coletivade compartilhamento de ideias, normas e valores, responsável por orientar as condutas dos indivíduos. O nível de consciência individual é maior nesse tipo de sociedade, na qual a divisão social do trabalho impele que os indivíduos sejam diferentes entre si: Já com a solidariedade que a divisão social do trabalho produz [de solidariedade orgânica], é tudo muito diferente. Enquanto a precedente [de solidariedade mecânica] implica que os indivíduos se pareçam, esta supõe que que eles sejam diferentes entre si. A primeira só é possível na medida que a personalidade individual é absorvida pela personalidade coletiva; a segunda só é possível se cada um tem a esfera de ação que lhe é própria - uma personalidade, por conseguinte. É necessário, então, que a consciência coletiva deixe uma parte da consciência individual descoberta, para que aí se estabeleçam as funções especiais que ela não pode regulamentar; e quanto mais essa região se estende, mais forte é a coesão que resulta dessa solidariedade. (DURKHEIM, 2008, p. 28). Isso signi�ca que, quanto maior forem o nível de interdependência entre cada indivíduo na sociedade, a diversidade de funções a serem exercidas socialmente e o grau de especialização nos processos de produção, melhor será o nível de coesão social. Quando essa coesão se perde e o nível de solidariedade social diminui, em razão da não adesão, pelos indivíduos, de regras e valores coletivos, nossa sociedade entra no que o Durkheim chama de anomia social. O olhar de Max Weber para entender o sistema Capitalista AUTORIA Ma. Solange Santos de Araujo Me. Josimar Priori Esp. Fúlvio Branco Godinho de Castro Ma. Daiany Cris Silva O sociólogo alemão Max Weber (1864-1920) propõe uma Sociologia que busca compreender e interpretar as relações entre indivíduos, isto é, a ação social. Para Weber, a ação, sem seu sentido social, é puro fruto do comportamento humano, já a ação social possui, como referência, o comportamento entre indivíduos, uns com relação aos outros, constituindo o que chamamos de vida em sociedade. Segundo Cruz (2004), a pesquisa histórica é, para Weber, essencial para a compreensão das sociedades. A investigação sociológica deve se basear no esforço interpretativo de avaliar as diferentes expressões de relações sociais. Diferentemente de Durkheim, Weber não defende que há leis gerais ou exteriores que se impõem sobre os seres humanos, pelo contrário, para Weber, todo fenômeno social tem uma causa, um comportamento individual que o precede. Portanto, leis universais que in�uenciam o comportamento humano e o desenvolvimento histórico são inexistentes, o que mantém o construto coletivo dado pelas relações sociais estabelecidas no cotidiano. Sob a perspectiva de Weber, deve-se compreender a realidade parcialmente, em suas particularidades individuais, em um movimento do particular para o geral, do indivíduo para a sua relação com a sociedade. O aspecto compreensivo signi�ca, segundo Cruz (2004): REFLITA A Ação Social para Max Weber “A ação social (incluindo tolerância ou omissão) orienta-se pelas ações de outros, que podem ser passadas, presentes ou esperadas como futuras (vingança por ataques anteriores, replica a ataques presentes, medidas de defesa diante de ataques futuros). Os ‘outros’ podem ser individualmente desconhecidos ou então uma pluralidade de indivíduos indeterminados e completamente desconhecidos (o ‘dinheiro’, por exemplo, signi�ca um bem – de troca – que o agente admite no comércio porque sua ação está orientada pela expectativa de que outros muitos, embora indeterminados e desconhecidos, estarão dispostos também a aceitá-lo, por sua vez, numa troca futura).” Fonte: Weber (2008, p. 117). [...] apreensão interpretativa do sentido ou contexto de sentido: a) realmente visando no caso particular (à luz da apreciação histórica) ou b) em média e aproximativamente visando (à luz da apreciação sociológica de massas) ou c) a construir cienti�camente para o tipo puro (tipo ideal) de um fenômeno frequente (sentido ou conexão de sentido “ideal” típico). (CRUZ, 2004, p. 588). A análise sociológica proposta por Weber, diante da ação social como seu objeto de estudo, presume um método que busca compreender as motivações individuais que impulsionam determinadas ações sociais. A ação social, como toda ação, pode ser: 1. racional com relação a �ns: determinada por expectativas no comportamento tanto de objetos do mundo exterior como de outros homens, e utilizando essas expectativas como “condições” ou “meios” para o alcance de �ns próprios racionalmente avaliados e perseguidos; 2. racional com relação a valores: determinada pela crença consciente no valor interpretável como ético, estético, religioso ou de qualquer outra forma - próprio e absoluto de uma determinada conduta, considerada de per si e independente de êxito; 3. afetiva: especialmente emotiva, determinada por afetos e estados sentimentais atuais; 4. tradicional: determinada por um costume arraigado. (WEBER, 2008, p. 118, grifo do autor). As ações sociais, que possuem diferentes formas de expressão no cotidiano, segundo Weber, são: [...] como tipos conceituais puros, construídos para �ns de pesquisa sociológica, com relação aos quais a ação real se aproxima mais ou menos ou, o que é mais frequente, de cuja mescla se compõe. Somente os resultados que com eles se obtenham é que podem nos dar a medida de sua conveniência. (WEBER, 2008, p. 119). Ao mobilizar o conceito de ação social como objeto de estudo, podemos dimensionar sociologicamente as ações, como nos seguintes casos: 1) um político que busca ocupar uma posição de poder sob a �nalidade de, supostamente, cumprir promessas de campanha eleitoral (ação social do tipo racional com relação a �ns); 2) a ida a cultos religiosos, que só se justi�ca quando se acredita nos valores ali pregados (ação social do tipo racional com relação a valores); 3) atitudes passionais, movidas por afeição a outro, crises de ciúmes, declarações de amor etc. (ação social do tipo afetiva); 4) hábitos culturais e festas tradicionais, como o Carnaval, a Folia de Reis, a festa do boi-bumbá e as festas juninas que acontecem aqui no Brasil, podem ser pensados pela ação da tradição (ação social do tipo tradicional). Weber defende que a compreensão da sociedade se dá pelo olhar atento às relações entre os indivíduos que a compõem e pelas ações efetivas desses indivíduos entre si. Isso signi�ca que, se quisermos entender como a instituição escola funciona, por exemplo, devemos olhar para os indivíduos que fazem parte dela (alunos, professores etc.) e veri�car o modo como essas pessoas agem em relação umas às outras, ou seja, a interação social; assim, esse processo é denominado pelo autor como relação social. A relação social é a reciprocamente dotada de sentido na ação, sentido esse que é modi�cado por uma pluralidade de agentes que se orientam por essa referência de reciprocidade. A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo Ao centrar sua atenção na ação social dos indivíduos, Max Weber defendia a possibilidade de a�rmar que a base inicial do sistema capitalista foi a ação social dos indivíduos que seguiam a ética protestante calvinista, vertente do movimento de Reforma Protestante iniciado no século XVI. Sobre essa temática, o sociólogo publicou, em 1904, a primeira versão da obra “A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo”, na qual defendia que haveria um tipo de conduta religiosa que contribuiu para o desenvolvimento do capitalismo moderno. Weber classi�ca essa conduta por um conceito que ele chama de tipo ideal, constituído como um instrumento metodológico que possibilita ao cientista social a investigação de fenômenos particulares. Segundo Weber, a ética de vida dos calvinistas era fortemente voltada ao trabalho e com disciplinas rígidas, porque estes acreditavam que o trabalho, além de servir como forma de glori�cação divina, garantiria, também, a salvação. Em algum momento de sua vida, você, caro(a) aluno(a), já deve ter ouvido a expressão “o trabalhodigni�ca o homem”; é nesse sentido que a lógica calvinista colaborou para a formação do espírito do capitalismo, criando uma condição humana divina para a realização do trabalho, de forma que estaríamos, portanto, predestinados ao trabalho. Com o passar do tempo, essa ideia de predestinação foi deixada de lado, mas o trabalho disciplinado e a busca por sucesso (acúmulo do capital) continuaram a existir na teoria exposta no livro em questão. Isso, para Weber, resultou no aparecimento dos primeiros capitalistas. Na Idade Média, a religião motivava a vida das pessoas e dava sentido às suas ações. Com o pensamento cientí�co ganhando espaço na Europa Ocidental, a cultura religiosa foi confrontada, porém, para Weber, a ciência não poderia ocupar, por completo, o lugar que a religião tinha ao desenvolver concepções de mundo. Nesse sentido, na concepção de Weber, a Reforma Protestante contribuiu para a consolidação do sistema capitalista, pois surgiu como forma de ressigni�car a leitura religiosa sobre a sociedade. A extrema racionalização dos processos sociais seria, segundo o autor, um elemento con�ituoso, que causaria uma fragilidade no sistema capitalista. Weber acreditava que os indivíduos, quando agem por meio de uma racionalização extrema, conduzem-se a um desencantamento do mundo, que torna as pessoas mais calculistas e frias. Esse processo de racionalização causaria uma burocratização da vida, que aprisionaria a humanidade em sua própria organização social. REFLITA Meritocracia A lógica de pensamento protestante, que difundia um valor de dignidade e recompensa celestial aos trabalhadores dedicados, colaborou para que, na atualidade, nossa sociedade desenvolvesse a meritocracia. De acordo com a de�nição de Johnson, a “[...] meritocracia é um sistema social no qual o sucesso do indivíduo depende principalmente de seu mérito - de seus talentos, habilidades e esforço.” (JOHNSON, 1997, p. 146). A crença na conquista meritocrática é uma mentira que nosso sistema capitalista moderno criou para signi�car o esforço desmedido de trabalhadores e apaziguar as discrepâncias que suas desigualdades sociais promovem, como uma espécie de justi�cativa para a manutenção do poder nas mãos de pequenos grupos sociais. Fonte: Adaptado de Johnson (1997). Karl Marx e seu pensamento crítico sobre a Sociedade Capitalista AUTORIA Ma. Solange Santos de Araujo Me. Josimar Priori Esp. Fúlvio Branco Godinho de Castro Ma. Daiany Cris Silva Karl Marx (1818-1883) é considerado um dos pensadores mais revolucionários da Sociologia, pois, além de um método cientí�co, o autor propôs um projeto político de atuação e organização social. Os estudos de Marx buscaram analisar a sociedade capitalista em seu processo de consolidação e discutiram sobre as características do trabalho nesse sistema e como as relações de produção que estavam se estabelecendo in�uenciam na estrutura social e na determinação de desigualdades sociais. Karl Marx e Engels (1998) entendiam que a burguesia, classe de proprietários, comerciantes e industriais donos dos meios de produção, adquiriu poder econômico e político durante a Revolução Industrial e a Revolução Francesa. Sob posse de um maior poder econômico, a burguesia criou leis e regras sociais que visam proteger a propriedade privada de seus bens e, assim, proporcionar a manutenção de sua classe no poder. Em posição de exploração e subjugados à classe burguesa, a classe proletária, composta por trabalhadores sem posses, era responsável pelo processo de produção, por meio da venda de sua força de trabalho (mão de obra). Dessa forma, Marx e Engels (1998) demonstram que a sociedade capitalista se constituiu pela divisão social do trabalho baseada em duas principais classes sociais: a dos capitalistas (burgueses), que detêm a posse dos meios de produção (as máquinas, as matérias-primas, as terras e as fábricas); e a dos proletários (operariado/trabalhadores), cuja única posse é a força de trabalho que seria vendida à classe dominante, os burgueses. Para Karl Marx, a exploração da classe de trabalhadores possui, como principal objetivo, a acumulação de capital. Dessa forma, o capital seria o acúmulo de bens e lucros provenientes da exploração da mão de obra barata pela classe burguesa. Em sua obra mais signi�cativa, “O capital: crítica da economia política”, publicada em REFLITA A Sociedade de Classes Em seu texto político do mundo moderno e contemporâneo, “O manifesto comunista”, publicado em 1848, Karl Marx explica que “[...] a sociedade burguesa moderna, que brotou das ruínas da sociedade feudal, não aboliu os antagonismos das classes. Estabeleceu novas classes, novas condições de opressão, novas formas de luta no lugar das antigas.” (MARX; ENGELS, 2001, p. 9). Fonte: Adaptado de Marx e Engels (2001). 1867, o autor descreve os processos de produção capitalista e aponta a forma com que esse modelo aprofundava as desigualdades na sociedade que se consolidava e mantinha uma parcela da população em condição de exploração. Sobre a divisão de classes sociais, segundo Marx e Engels (2001): Na mesma medida em que a burguesia – isto é, o capital - se desenvolve, também o proletariado se desenvolve. A classe trabalhadora moderna desenvolve-se: uma classe de trabalhadores, que vive somente enquanto encontra trabalho e que só encontra trabalho enquanto o labor aumenta o capital. Estes trabalhadores, que precisam vender a si próprios aos poucos, são uma mercadoria, como qualquer outro artigo de comércio e são, por consequência, expostos a todas vicissitudes da competição, a todas �utuações do mercado. (MARX; ENGELS, 2001, p. 19). Na teoria de Marx, os meios de produção é que transformam as relações de produção e as formas de organização social, acarretando desigualdades sociais profundas, que propiciam a luta de classes. A luta de classes se trata dos embates políticos entre trabalhadores e burgueses. Segundo o sociólogo alemão, é por meio do movimento de organização social de questionamento à ordem dominante que a emancipação humana total seria possível, bem como o �m da exploração do trabalho, o advento da revolução operária e a derrocada do sistema capitalista. O Materialismo Histórico Dialético Embora Marx estivesse muito mais preocupado em construir um projeto político de sociedade, o sociólogo também desenvolveu uma metodologia cientí�ca que direciona uma longa tradição de estudos marxistas na Sociologia, o método do materialismo histórico dialético. Para Marx, são as condições materiais que determinam a sociedade, e não o contrário, portanto, devemos compreender, primeiramente, o âmbito material, as estruturas e as relações efetivas que formam a sociedade, o que é denominado, pelo autor, de materialismo: [...] não partimos do que os homens dizem, imaginam ou representam, tampouco do que eles são nas palavras, nos pensamentos, na imaginação e na representação dos outros, para depois se chegarmos aos homens de carne e osso; mas partimos dos homens em sua atividade real [...]. Assim, a moral, a religião, a metafísica e todo o restante da ideologia, bem como as formas de consciência a ela correspondentes, perdem logo toda a sua autonomia. Não tem história, não tem desenvolvimento [...] (MARX; ENGELS, 1998, p. 19). Para o pensamento materialista de Karl Marx, a essência do indivíduo é o centro das relações sociais; por isso, ele compreende que o indivíduo não é um ser isolado, e sim que sua existência é proveniente dos processos sociais em curso. Nesse sentido, a pesquisa materialista histórico dialética é realizada por meio da análise dos contextos históricos e processos sociais que solidi�cam as relações sociais materialmente, em sua aplicabilidade prática da vida em sociedade. O movimento de pensamento dialético se dá na contraposição do campo das ideias com a realidade efetiva. Essa contraposição possibilita a junção desses dois elementos, constituindo, assim, uma concepção única, que é a análise da realidade. Em síntese: o materialismo histórico dialético de Marx (MARX; ENGELS,
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