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Ciências SociaisCiências Sociais
AUTORIA
Ma. Solange Santos de Araujo 
Me. Josimar Priori 
Esp. Fúlvio Branco Godinho de Castro 
Ma. Daiany Cris Silva
Bem vindo(a)!
Esta disciplina é um convite para que você conheça a Sociologia, a ciência que
busca interpretar as transformações sociais do mundo em que vivemos. Buscamos,
aqui, te incentivar a mobilizar as principais teorias e os principais conceitos
sociológicos para a sua formação pro�ssional.
Esta disciplina é composta por três unidades, apresentaremos, inicialmente, de
forma introdutória, uma contextualização histórica do surgimento da Sociologia
como ciência. Veremos que a necessidade de se criar uma ciência social, a
Sociologia, é resultado de processos políticos e intelectuais, que proporcionaram
uma recon�guração do sistema social vigente e promoveram a consolidação da
sociedade ocidental moderna, tal como a conhecemos na atualidade. Além disso,
buscaremos discutir quais são as principais características da disciplina, assim como
os objetivos, as possibilidades, as técnicas e os métodos de pesquisa da Sociologia.
Discutiremos, também, sobre como os primeiros pensadores desenvolveram
diferentes perspectivas de interpretação da realidade social. Primeiramente,
apresentaremos a ciência positivista de Auguste Comte, aquele que criou o termo
“Sociologia”, inicialmente inspirada por métodos e técnicas de pesquisa das ciências
naturais. Seguidamente, discutiremos a Sociologia de Émile Durkheim, sociólogo
que desenvolveu regras que �zeram com que a disciplina fosse capaz de estudar os
acontecimentos sociais com o mesmo rigor cientí�co das ciências naturais, tal como
anunciava Auguste Comte. Estudaremos, ainda, os teóricos alemães Max Weber e
Karl Marx – o primeiro desenvolveu uma teoria que busca compreender a sociedade
pelas ações individuais, e o segundo promoveu uma análise sobre a sociedade
capitalista e os problemas sociais provenientes de suas contradições. Nesta unidade,
perceberemos que ambos os autores buscaram, de diferentes maneiras, pensar
sobre a vida em sociedade.
Além disso, nos dedicaremos a conhecer os intelectuais que procuravam entender a
sociedade brasileira, as suas técnicas, os seus métodos de pesquisa e os seus
referenciais teóricos, e perceberemos a construção de uma Sociologia do Brasil, com
trabalhos de campo signi�cativos e análises sociais pertinentes sobre a estrutura
social brasileira.
Compreender o mundo que nos cerca é um grande desa�o, você se dispõe a
enfrentá-lo?
Bons estudos!
Unidade 1
A consolidação da
Sociologia como Ciência:
contextos históricos e
sociais, características
teóricas e metodológicas
AUTORIA
Ma. Solange Santos de Araujo 
Me. Josimar Priori 
Esp. Fúlvio Branco Godinho de Castro 
Ma. Daiany Cris Silva
Introdução
Olá, aluno(a)! Esta unidade é um convite a conhecer a sociologia e o seu processo de
consolidação como ciência. Partimos de uma contextualização de movimentos
políticos e intelectuais que favoreceram o surgimento da sociologia, ciência que
busca interpretar as transformações sociais emergentes da constituição da
sociedade moderna.
Em um primeiro momento, a pergunta que pode surgir é: mas, a�nal, o que é
sociologia? No decorrer da discussão, buscaremos compreender os objetivos, os
métodos e as possibilidades dessa ciência responsável por analisar fenômenos
sociais, que são os acontecimentos presentes na sociedade que podem in�uenciar o
modo pelo qual nos relacionamos coletivamente.
A sociologia possui como principal característica oferecer condições de análise da
sociedade em que vivemos, para que seja possível compreendermos a nossa própria
experiência de mundo. Nesse sentido, a sociologia nos permite fazer re�exões do
tipo: qual é a ordem que seguimos? Como nos organizamos? Existem diferentes
maneiras de se organizar socialmente? Como os acontecimentos exteriores
in�uenciam na nossa vida? Pretendemos responder a essas questões de diferentes
maneiras, com variados métodos e técnicas de pesquisa, os quais você conhecerá
nesta unidade.
Compreender o mundo em que vivemos é um grande desa�o, assim, aqui,
disponibilizaremos ferramentas para que você possa enfrentá-lo. E, então, você está
disposto(a) a entender melhor como a sociedade pode in�uenciar sua trajetória de
vida social?
Bons estudos!
Movimentos políticos e
intelectuais que
possibilitaram o
surgimento da Sociologia
AUTORIA
Ma. Solange Santos de Araujo 
Me. Josimar Priori 
Esp. Fúlvio Branco Godinho de Castro 
Ma. Daiany Cris Silva
A consolidação das ciências sociais é resultado de movimentos políticos e
intelectuais que “atravessaram” o processo de constituição e de desenvolvimento da
sociedade moderna. Esses movimentos emergiram no contexto das discussões
sobre as relações humanas e as transformações sociais oriundas da industrialização.
Os movimentos políticos e intelectuais ocorridos entre os séculos XVI e XIX, período
de mudanças signi�cativas no sistema social ocidental, tinham como principal
marcador a constituição da sociedade capitalista e dos valores liberais e burgueses.
O que aconteceu nesse momento não foi apenas a transição de uma organização
social para outra; muito mais que isso, foi uma mudança radical na maneira de
pensar e de agir de toda a sociedade ocidental, que passou a negar normas e valores
medievais, em razão da construção da modernidade.
Para entendermos as transformações sociais derivadas desse contexto histórico,
precisamos observá-las de modo não isolado, uma vez que constituem o pano de
fundo das grandes mudanças na maneira com que a humanidade passou a explicar
a vida em sociedade. Diante disso, destacamos a seguir, como em uma espécie de
linha do tempo, os principais processos que in�uenciaram na consolidação da
sociologia, ciência que tem como objetivo explicar uma sociedade em
transformação. São eles: a Reforma Protestante, o Iluminismo, a Revolução Francesa,
a Revolução Industrial e o Positivismo.
Pontualmente, todos esses acontecimentos históricos contribuíram para uma
quebra de paradigmas da sociedade feudal e aristocrática, promovendo o
surgimento de novos valores para o mundo ocidental. Tudo isso passa pela
consolidação da ciência em todas as suas especi�cidades: ciências exatas, ciências
da natureza e ciências humanas. Esses conhecimentos constituíram o Estado-nação,
REFLITA
O Conceito de Modernidade
Hoje, somos todos “modernos”. Só que nos tornamos modernos de
maneira muito diferente, e esses caminhos distintos rumo à
modernidade deram origem a mais uma camada de nossa construção
cultural. Modernus e modernitas são termos do latim medieval que
signi�cam “presente”, tanto como adjetivo quanto como substantivo.
Costumavam ser utilizados para estabelecer contraste com “antigo” e
“antiguidade”, a era greco-romana clássica da civilização europeia.
Fonte: Therborn (2013, p. 79).
a concepção de direito e a democracia moderna, além disso, promoveram uma
dinâmica singular nas relações de produção e uma nova concepção de trabalho e de
sobrevivência.
A Reforma Protestante como uma das
Precursoras da Quebra de Paradigmas
Tradicionais (Século XVI)
A Reforma Protestante foi um movimento político e intelectual que questionou a
autoridade papal e a estrutura da Igreja Católica, no curso do século XVI, na
Alemanha. Sob a liderança de Martinho Lutero (1483-1546), teólogo e monge da
ordem de Santo Agostinho, a Reforma Protestante propôs mudanças à Igreja
Católica, contestando “o poder absoluto da instituição e as práticas de cobranças de
indulgências, abusos e corrupções, e defendendo o sacerdócio universal de todos os
cristãos, o livre acesso às Escrituras, entre outros” (BARBOSA, 2011, p. 869).
Um dos grandes marcos desse período foi quando Lutero, em 1517, elaborou 95 teses
e as a�xou na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg. Suas teses traziam os
questionamentos que o teólogo tinha com relação às práticas da Igreja Católica,
consideradas abusivas pelo monge. Em 1520, o Papa escreveu uma carta a Lutero,
ameaçando-o de excomunhão caso ele não se redimisse quanto a seusquestionamentos. O monge não se redimiu e ainda queimou a carta papal.
Excomungado no mesmo ano de recebimento da carta do Papa, Lutero recebeu o
apoio da nobreza alemã. Sob essa tutela, o monge divulgou seus escritos e fundou
uma nova ordem religiosa, a Igreja Luterana. Desse modo, o teólogo traduziu a bíblia
para a língua alemã (até então, a obra só tinha versões em latim, língua conhecida
apenas pelas autoridades religiosas).
Os protestantes incentivaram uma nova relação com a religiosidade e os meios de
produção e de acesso ao conhecimento, buscando difundir o entendimento sobre a
humanidade e suas complexidades por meio da razão. Ademais, eles propuseram a
dissolução da submissão absoluta da sociedade a uma autoridade divina,
representada pela Igreja Católica e sua liderança papal. O movimento iniciado por
Martinho Lutero tomou proporções outras que não apenas a reforma religiosa. O
teólogo apresentou em suas teses e outros escritos preocupações relativas ao acesso
universal ao conhecimento, propondo “mudanças que acabam envolvendo
alterações no desenvolvimento de seu país como um todo e, por isso, também na
educação” (BARBOSA, 2011, p. 869).
O movimento da Reforma Protestante foi precursor de debates cruciais relacionados
ao papel do Estado na condução e na organização da sociedade. Um exemplo
importante é a proposição da construção de um ensino educacional na Alemanha
liberto do
Figura 1.1: Lutero queimando a carta papal, em 1520
Fonte: Fondo Antiguo de la Biblioteca de la Universidad de Sevilla / Wikimedia
Commons.
monopólio da Igreja, que, no âmbito geral, o restringia apenas a
alguns, mas também para que ele adquirisse o caráter de um dever do
Estado e um direito do cidadão, características que se tornaram
essenciais no mundo moderno, ao se discutir o direito à educação de
todos. (BARBOSA, 2011, p. 884)
A Reforma Protestante pode ser considerada um marco inicial do movimento de
contestação dos conhecimentos religiosos como os únicos dotados de “sentido” para
explicar a humanidade. Assim, surgiam o início da valorização da ciência e a
propagação do acesso universal ao ensino e à produção de conhecimento.
A Revolução Industrial (Século XVIII): O
Capitalismo em Curso, das Manufaturas
às Grandes Indústrias
A partir do século XV, com o advento das expansões marítimas (as grandes
navegações de comércio ultramarítimas), houve uma ampliação da concepção de
mundo para os colonizadores ocidentais, pois a exploração do comércio
proporcionou a acumulação de capital pela burguesia comercial (SOUZA, [201-]).
Conforme instalaram colônias na África, na Ásia e na América, os europeus viam
surgir a possibilidade de um mercado mais amplo, de alcance mundial.
A exploração de metais preciosos e o trá�co de pessoas escravizadas, que serviam
como mão de obra nas colônias, impulsionaram o comércio e transferiram o poder
econômico das cidades-repúblicas aos comerciantes. Ou seja, a expansão comercial
e territorial muniu a classe de comerciantes, a burguesia, com capital �nanceiro
su�ciente para alçá-la a posições privilegiadas de poder, o que propiciou que
protagonizasse o processo de industrialização na Europa (inicialmente
protagonizado pela Inglaterra).
Iniciada em meados do século XVIII, a Revolução Industrial foi resultado de uma série
de fatores, a exemplo do desenvolvimento de uma nova tecnologia de produção, as
máquinas a vapor, que inovaram as relações de trabalho nesse período. Por sua vez,
essas relações de trabalho foram impactadas pelo movimento migratório de
trabalhadores do campo, que iam para as cidades em busca de trabalho e sustento.
Ademais, o protagonismo da classe burguesa, �nanciadora da criação de fábricas,
favoreceu o surgimento de um novo mercado consumidor. Esse contexto alterou
signi�cativamente a forma de se estabelecer as relações sociais nesse período,
principalmente no que diz respeito aos processos de produção de mercadorias.
A máquina a vapor foi uma revolução no modo de produção chamado
maquinofatura, centrado em fábricas, com máquinas movidas por energia de fonte
físico-químico. Esse modelo é baseado em etapas seriais e setorizadas, que dão
corpo ao processo de produção em série. A maquinofatura substituiu a manufatura,
trabalho via máquinas manuais, dependente, exclusivamente, ou primordialmente,
de mão de obra humana. Por um lado, o processo de produção em série da
maquinofatura gerou muito desemprego, mas, por outro, diminuiu o valor da
mercadoria e acelerou o ritmo de produção, o que pode alargar as margens de lucro
de líderes industriais.
O objetivo para se aperfeiçoar as técnicas de produção era ter menos trabalhadores
e, ainda assim, produzir mais (dessa forma, os lucros teriam um aumento
considerável). Segundo Martins (1994), a Revolução Industrial foi o triunfo do
capitalismo, uma vez que, aos poucos, os empresários concentraram máquinas,
ferramentas e grandes extensões territoriais em suas mãos, fazendo com que parte
considerável da população se transformasse em simples trabalhadores sem posses.
Dessa forma, surgiu uma sociedade dividida em classes, na qual o poder econômico
e de produção está concentrado nas mãos de pequenos grupos, a classe burguesa,
que utiliza a força de trabalho dos demais para a exploração e o acúmulo de capital.
É possível a�rmar que as mudanças ocorridas na Revolução Industrial
estabeleceram uma nova ordem de organização social na sociedade ocidental,
assim como percebemos na atualidade, com a revolução das tecnologias da
informação e da comunicação. Mudanças radicais na maneira de se organizar o
mundo surgiram, e o que elas possuem em comum “é o fato de gerarem
Figura 1.2: Máquina a vapor
Fonte: Tacarijus / Wikimedia Commons.
descontinuidades profundas nos mais variados setores da vida em sociedade”
(NICOLACI-DA-COSTA, 2002, p. 194). Essas descontinuidades surgem no sentido de
romper os moldes anteriores de organização social.
O Iluminismo e a Revolução Francesa
(Século XVIII): O Processo de Instauração
da Ordem Liberal Burguesa
Marcando uma ruptura dos valores feudais e aristocratas da Idade Média, “o
Iluminismo constituiu-se sob a base de um programa fundado na construção
racional da sociedade” (GONÇALVES, 2015, p. 281), ao questionar a intolerância
religiosa e o poder absolutista da realeza europeia. A Idade Média, conhecida como
“período das trevas”, teve seu �m quando os �lósofos iluministas propuseram a
construção de uma “época das luzes”, em que o conhecimento cientí�co e a razão
seriam adotados como fundamentos maiores de justiça. “Era a razão justa; re�etia o
direito igual” (GONÇALVES, 2015, p. 281).
Dentre os principais pensadores iluministas, podemos destacar Jean-Jacques
Rousseau. Em sua obra intitulada “O contrato social”, originalmente publicada em
1762, esse �lósofo suíço explica que o contrato social é o acordo coletivo de
Figura 1.3: Filósofos iluministas reunidos no Salão de Madame Geoffrin. Óleo sobre
tela de Anicet Charles Lemonnier, 1812
Fonte: Anicet Charles Lemonnier [1812] / Wikimedia Commons.
organização social e de adesão a um conjunto de regras, a �m de garantir a
igualdade de condições de sobrevivência e o bom convívio social. Na leitura de
Rousseau (1978), o contrato social deve ser sedimentado em uma decisão geral que
legitima a liberdade de os indivíduos envolvidos escolherem a melhor forma de
organização coletiva. O pensamento desse �lósofo foi a base para a construção das
democracias europeias, principalmente no processo de Revolução Francesa, o qual
trataremos mais adiante.
O movimento intelectual iluminista inspirou, de acordo com Gonçalves (2015, p. 281),
a concepção moderna de democracia, e também de direito, é produto
desta razão, moralmente universalizada: enquanto o racional
caracterizava-se pelo bem e pelas luzes, o irracional era identi�cado
com o mal e o obscurantismo.
Nesse período, o principal objetivo dos intelectuais engajados nesse movimento era
difundir o ideal de que uma sociedade próspera é aquela que interpreta as suas
relações e complexidades por meio darazão e de argumentos legitimados pela
ciência.
Inspirada pelos ideais iluministas, a Revolução Francesa propôs a aplicação de uma
prática social com base no direito universal de toda a população francesa. Ocorrida
também no século XVIII, a Revolução Francesa foi um movimento contra o
absolutismo do rei Luís XVI e da rainha Maria Antonieta. O lema “Liberdade,
Igualdade, Fraternidade” possui forte in�uência iluminista e busca incentivar um
conjunto de ações que visam à construção de uma sociedade mais harmônica e não
submissa ao poder absoluto (FURET, 1989).
A obra de Eugène Delacroix, “A liberdade guia o povo”, representa de forma
profunda o signi�cado da Revolução Francesa para o povo francês. A liberdade seria
a libertação com relação ao poder aristocrático, e esse foi um período de transição
dos grupos em posição de poder. A burguesia francesa tomou a frente desse
movimento e, posteriormente, assumiu as instâncias de poder da França. A Tomada
da Bastilha, em 14 de julho de 1789, foi o marco dessa revolução.
Figura 1.4: “A liberdade guiando o povo”
Fonte: Eugène Delacroix [1830] / Wikimedia Commons.
A Bastilha era uma fortaleza medieval para prisioneiros da época. Em 14 de julho de
1789, os revolucionários franceses ocuparam o espaço como símbolo de seu
rompimento com o poder monárquico do rei Luís XVI, que impunha um sistema de
taxação desigual para controlar a crise econômica que assolava o país. A Tomada da
Bastilha representa uma nova organização social, que seria difundida na França e
em boa parte da Europa. Nesse contexto, a burguesia (classe de comerciantes)
passaria a protagonizar as instâncias de poder.
Figura 1.5: “A Tomada da Bastilha” (no centro, se vê a prisão de Bernard-René
Jourdan de Launay, marquês de Launay, 1740-1789)
Fonte: Jean-Pierre Houël [1789] / Wikimedia Commons.
Os ideais iluministas e a Revolução Francesa compõem o cenário de ascensão da
burguesia. Esses movimentos deram origem a um novo tipo de governo, o Estado-
nação, em que os representantes são escolhidos pelo povo, e não mais pelo direito
sagrado de poder, como era o caso das monarquias. É importante que você perceba
a substituição dos grupos de poder e de ideais promovidos nesse período, pois isso
contribuiu para a construção das instituições governamentais da modernidade.
O Positivismo e o Surgimento de uma
Ciência Social (Século XIX)
A Revolução Industrial promoveu mudanças na divisão social do trabalho, até então
inéditas, o que implicou nova organização econômica e política. Por sua vez, a
Revolução Francesa tinha como propósito dar um �m aos privilégios herdados pela
nobreza e promover a igualdade de direitos e oportunidades. Todo esse contexto
social fez com que inúmeros pensadores procurassem compreender as
repercussões dessas revoluções nos moldes de organização social emergentes. Esses
estudiosos deram origem a uma herança intelectual que possibilitou o surgimento
da sociologia como ciência, no século XIX.
Ao mesmo tempo, a Europa Ocidental consolidava a sociedade capitalista, sistema
social vigente até os dias atuais. Porém, o capitalismo ocidental trouxe diversas
problemáticas. Com o surgimento de fábricas que abrigavam as máquinas, um
CONECTE-SE
A Relação entre os Direitos Humanos e a Revolução Francesa
A Revolução Francesa pode ser considerada um dos processos sociais
que possibilitaram o surgimento da cidadania e dos direitos
democráticos. No pequeno artigo produzido pela Diretoria de Direitos
Humanos da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), há a
tradução da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão,
elaborada durante a Revolução Francesa, de 1789. O material é
considerado o primeiro documento o�cial dos direitos humanos na
sociedade ocidental.
Fonte: Elaborado pelos autores.
ACESSAR
http://www.direitoshumanos.unicamp.br/noticia/liberdade-igualdade-e-fraternidade
grande número de operários foi considerado desnecessário, fato que gerou
desemprego e extrema pobreza, inaugurando contexto de desigualdade social,
desconhecido até então.
Além disso, o êxodo rural rapidamente superpopulou as cidades. Houve uma grande
quantidade de trabalhadores que passaram a oferecer mão de obra em abundância
e cada vez mais barata. Assim, com as cidades superpovoadas, as pessoas em busca
de emprego nas fábricas e os indivíduos desempregados, o número de miseráveis foi
aumentando consideravelmente. Problemas de infraestrutura nas cidades,
aglomeração de pessoas miseráveis, sujeitos desempregados, esses e outros fatores
resultaram em miséria, fome, violência e condições de sobrevivência cada vez mais
precárias para os menos favorecidos pelo sistema capitalista.
Diante de todas essas mazelas sociais, o �lósofo francês Auguste Comte (1798-1857)
procurou entender essa sociedade capitalista desigual e problemática em
consolidação. As principais questões desse pensador eram: como nossa sociedade
funciona? Quais são os motivos para os con�itos e a desordem social? Comte, então,
começou a desenvolver um método para se pensar a sociedade por meio de uma
ciência positivista. Você sabe o que isso signi�ca? Signi�ca que Comte acreditava na
superioridade da ciência e no poder que ela tem de explicar os fenômenos sem a
utilização de parâmetros religiosos e míticos. Para esse �lósofo, a ciência poderia dar
conta de oferecer soluções e estabelecer a ordem social.
Entendo por física social a ciência que tem por objeto próprio o estudo
dos fenômenos sociais, segundo o mesmo espírito com que são
considerados os fenômenos astronômicos, físicos, químicos e
�siológicos, isto é, submetidos a leis invariáveis, cuja descoberta é o
objetivo de suas pesquisas. Assim, ela se propõe diretamente a
explicar, com a maior precisão possível, o grande fenômeno do
desenvolvimento da espécie humana, visto em todas as suas partes
essenciais. (COMTE, 1972, p. 86)
A ciência que poderia investigar os problemas sociais em pauta e propor iniciativas
de reordenamento social seria uma ciência social, a sociologia. Comte foi o primeiro
teórico a utilizar o termo “sociologia”, em seu curso de �loso�a positiva, em 1839. O
autor pretendia mapear os métodos já utilizados nas ciências naturais (física,
biologia, matemática) e aplicá-los ao estudo da sociedade. Surgiria, assim, uma física
social, um conhecimento cientí�co das relações humanas e de suas instituições.
A física social seria uma ciência naturalista da sociedade, capaz de explicar o
passado da humanidade e predizer seu futuro por meio de métodos de investigação
já bem-sucedidos no estudo da natureza: observação, comparação e
experimentação
O Positivismo de Auguste Comte foi o movimento responsável por fundar a
sociologia como ciência. Foi nesse período que o avanço cientí�co alcançou as
questões sociais, buscando interpretá-las. O surgimento da sociologia “sela” todo
esse processo de proposição de novos valores sociais para a construção de uma
sociedade moderna. Comte possuía muitos traços do pensamento �losó�co, por
esse motivo, não constituiu um estudo sociológico empiricamente fundamentado,
tal como buscamos realizar na atualidade. No entanto, é importante destacar que o
Positivismo, além de propor um novo método de pesquisa afeto aos problemas
sociais, in�uenciou diversos movimentos de organização política no mundo todo.
Diante de todo esse contexto histórico de formação da sociedade capitalista tal
como a conhecemos hoje, é importante destacar que os movimentos políticos e
intelectuais citados até o momento estão presentes nas principais obras de autores
canônicos das ciências sociais. Os fundamentos da sociologia, publicados por Émile
Durkheim, em 1895, no livro “As regras do método sociológico”, possuem forte
in�uência de aspirações iluministas e positivistas, segundo a perspectiva de
depositar na ciência um valor privilegiado de leitura da realidade. Na obra “Da
divisão do trabalho social”, publicada em 1893, Durkheim analisa as relações de
trabalho na sociedade capitalista, tema que também foi abordado por Karl Marx em
“O capital”, de 1867. Ambos os autoresconsideram os processos de especialização do
trabalho durante o desenvolvimento da Revolução Industrial.
O trabalho tornou-se um tema essencial para a sociologia durante sua consolidação.
O sociólogo alemão Max Weber, por exemplo, relacionou a Reforma Protestante ao
estabelecimento de valores liberais nas relações sociais e à valorização do trabalho
assalariado como meio principal de vida, na obra “A ética protestante e o ‘espírito’ do
capitalismo”, de 1904.
REFLITA
“Ordem e Progresso”
Você já prestou atenção no lema da bandeira brasileira, “Ordem e
Progresso”? Você sabia que ele é inspirado no Positivismo? A frase
“Ordem e Progresso”, estampada na bandeira nacional, é inspirada no
seguinte lema positivista: “O amor por princípio, a ordem por base e o
progresso por �m” (COMTE, 1972). A frase demonstra o principal objetivo
da �loso�a positivista: estabelecer a ordem social por meio do
conhecimento cientí�co. O estabelecimento da ordem seria uma
sociedade em pleno progresso e desenvolvimento; já o amor é o
elemento que institui a solidariedade na convivência social, por isso, é
destacado como um princípio.
Fonte: Elaborado pelos autores.
Destacamos as relações dessas produções com seus contextos históricos para
rea�rmar que a sociologia é resultado da necessidade de compreender e de
interpretar as transformações sociais que impactaram e ainda impactam no modo
de vida ocidental. Posteriormente, falaremos com mais calma sobre cada uma
dessas obras e respectivas teorias de seus autores. No entanto, a seguir,
apresentaremos brevemente os principais pensadores da sociologia.
Pensadores clássicos da
Sociologia
AUTORIA
Ma. Solange Santos de Araujo 
Me. Josimar Priori 
Esp. Fúlvio Branco Godinho de Castro 
Ma. Daiany Cris Silva
Os clássicos da sociologia são pensadores que forneceram subsídios para a criação
de instrumentos de análise, além de perspectivas teóricas e contribuições re�exivas
sobre o funcionamento de nossa sociedade. Os autores que se destacam como
clássicos dessa disciplina são: Marx, Weber e Durkheim. Consideramos suas
concepções teóricas como precursoras do pensamento sociológico, e é por esse
motivo que merecem destaque nesta unidade.
Émile Durkheim
O francês Émile Durkheim (1855-1917) inspirou-se na teoria positivista de Comte.
Para esse pensador, a sociedade é regida por leis exteriores e independentes da
vontade humana. Portanto, a sociedade orienta nossos comportamentos e ações. O
principal objetivo de Durkheim era tornar a sociologia um conhecimento cientí�co.
Max Weber
O sociólogo alemão Max Weber (1864-1920) centrou sua discussão teórica nas ações
individuais, com uma perspectiva oposta à de Durkheim. Para Weber, não existem
leis universais que regem a vida em sociedade. Além disso, segundo esse sociólogo,
a compreensão de um fenômeno social deve partir da análise do comportamento
individual perante a coletividade.
Figura 1.6: Émile Durkheim
Fonte: M. Armando / Wikimedia Commons.
Karl Marx
Karl Marx (1818-1883), revolucionário pensador alemão, inovou as discussões sobre as
relações de produção e de trabalho na sociedade capitalista. Sob uma perspectiva
socialista, Marx procurou analisar as estruturas de poder e as desigualdades sociais
com objetivo de transmitir à classe trabalhadora uma crítica política da sociedade
de seu tempo.
Figura 1.7: Max Weber
Fonte: ��ೕ� / Wikimedia Commons.
As bases para a compreensão da vida em sociedade que cada um desenvolveu
construíram diferentes concepções sobre a organização social, in�uenciaram muitos
outros teóricos das ciências sociais e inspiraram a criação de diversas escolas de
pensamento na sociologia. No entanto, é importante destacar que todas essas
perspectivas teóricas emergiram de mudanças sociais relativas à consolidação do
capitalismo moderno, portanto, a busca pelo entendimento das relações humanas
durante o processo de modernização da sociedade ocidental é o fator comum entre
os interesses de investigação cientí�ca e as diferentes metodologias desses autores.
Figura 1.8: Karl Marx
Fonte: John Jabez Edwin Mayal [~1875] / Wikimedia Commons.
A Sociologia como uma
forma de interpretar o
Mundo: objetivos e
principais características
AUTORIA
Ma. Solange Santos de Araujo 
Me. Josimar Priori 
Esp. Fúlvio Branco Godinho de Castro 
Ma. Daiany Cris Silva
Agora que já compreendemos em termos gerais quais são os movimentos políticos
e intelectuais que possibilitaram a consolidação da sociologia como ciência, vamos
nos concentrar em debater quais são suas principais características.
É possível destacar até aqui que a necessidade de compreensão das transformações
sociais ocorridas no �m do último milênio provocou um ímpeto de conscientização
sobre quais são as formas de organização da realidade social, bem como seu
impacto na vida em sociedade.
Ademais, percebe-se que a sociedade ocidental passou a centrar sua organização
em processos mais “racionais”, pautados no conhecimento cientí�co, nos avanços
tecnológicos e na recon�guração dos modelos de produção e das estruturas
políticas, o que resultou na criação de um sistema social totalmente novo. Para
mobilizar esse novo sistema social, de forma a organizá-lo e a projetar melhorias e
aperfeiçoamentos, o entendimento dos processos em curso tornou-se algo
essencial, e é por esse motivo que a sociologia surgiu como uma ciência capaz de
interpretar o mundo em que vivemos.
De acordo com Mills (1969), para compreender as próprias experiências sociais, é
necessário ser cônscio, lúcido e consciente com relação às possibilidades de vida
reservadas pela convivência social. Além disso, é preciso observar a trajetória de
quem nos cerca, sendo esta uma maneira de estimular a construção de um olhar
atento para os acontecimentos do mundo em que vivemos. Para Mills (1969), esta é a
principal contribuição da sociologia: fornecer a possibilidade de compreender o
mundo ao redor para além do que é tido como “certo”, sem prede�nições. Nesse
sentido, ao desenvolvermos as nossas próprias percepções, será possível localizar o
nosso papel dentro da sociedade e planejar ações individuais e coletivas.
Essa lógica de pensar sociologicamente, proposta por Mills (1969), possibilita aguçar
a visão de que há uma ordem e uma estrutura exteriores aos seres humanos. Dessa
maneira, apenas quando nos tornamos conscientes desses processos de construção
social é que podemos intervir sobre eles ou, pelo menos, administrá-los, a�rma Mill
(1969).
Segundo essa perspectiva, a sociologia possui um papel social essencial na
sociedade moderna, que é o de construir interpretações sobre a forma com que
funcionamos e nos organizamos coletivamente. Para Mills (1969), a capacidade de
produzir essas interpretações sobre o mundo não é exclusiva de cientistas sociais,
mas só é possível por meio do pensamento sociológico, que se constitui da
contextualização histórica e política de nossas estruturas sociais.
Esse movimento re�exivo de interpretação da realidade é o que Mills (1969) chama
de “imaginação sociológica”. E, para mobilizá-la, devemos responder ao seguinte
conjunto de questões (MILLS, 1969, p. 13):
REFLITA
Compreender a Sociedade é Compreender a Própria
Experiência
“O indivíduo só pode compreender a sua própria experiência e avaliar o
seu próprio destino localizando-se dentro de seu período. Só pode
conhecer as suas possibilidades na vida tornando-se cônscio das
possibilidades de todas as pessoas nas mesmas circunstâncias. Sob
muitos aspectos, é uma missão terrível, sob muitos outros, magní�ca”.
Fonte: Mills (1969, p. 12).
1) Qual a estrutura dessa sociedade como um todo? Quais seus
componentes essenciais e como se correlacionam? Como difere de
outras variedades de ordem social? Dentro dela, qual o sentido de
qualquer característica particular para a sua continuação e para a
sua transformação? 
2) Qual a posição dessa sociedade na história humana? Qual a
mecânica que a faz modi�car-se? Qual é seu lugar no
desenvolvimento da humanidade como um todo, e que sentido tem
para esse desenvolvimento?Como qualquer característica particular
que examinemos afeta o período histórico em que existe, e como é por
ele afetada? Como difere de outros períodos? Quais seus processos
característicos de fazer a história? 
3) Que variedades de homens predominam nessa sociedade e nesse
período? E que variedades irão predominar? De que formas são
selecionadas, formadas, liberadas e reprimidas, tornadas sensíveis ou
impermeáveis? Que tipos de “natureza humana” se revelam na
conduta e no caráter que observamos nessa sociedade, nesse
período? E qual é o sentido que para a “natureza humana” tem cada
uma das características da sociedade que examinamos?
É possível que você, estudante, esteja um pouco atordoado com tantas questões.
Em um primeiro momento, parece difícil fornecer alguma resposta, no entanto, de
acordo com Mills (1969, p. 11), se o indivíduo utilizar a razão e a lucidez para tentar
compreender o que está ocorrendo no mundo e dentro de si mesmo, será capaz de
responder a essas questões.
O primeiro bloco de questões refere-se à compreensão da nossa estrutura social:
qual é a ordem que nos rege coletivamente? Nossa vida em sociedade é orientada
pela ordem de produção capitalista, portanto, ao compreender que isso é um dos
elementos norteadores da nossa organização social, será possível seguir para o
próximo bloco de questões, que busca explicitar quais foram as transformações no
tempo histórico que construíram a ordem sob a qual vivemos.
Por �m, após esclarecer as bases do nosso sistema social, podemos seguir para o
último bloco de questões e buscar um entendimento sobre as diferentes formas de
vida em um mesmo meio: elas existem? Quais são os diferentes grupos existentes e
suas características?
As re�exões de Mills (1969) sobre o pensamento sociológico são essenciais para
compreender as temáticas de pesquisa no âmbito das ciências sociais, bem como
seus métodos e técnicas. Ainda, a “imaginação sociológica” de Mills (1969) nos
mostra que, para sermos conscientes e avaliarmos a nossa própria experiência como
sociedade, devemos nos despir de prede�nições. Para tanto, é necessário mobilizar
“um estado de espírito que permite entender a vida em sociedade como estando
submetida a uma ordem, produzida pelo próprio concurso de condições, fatores e
produtos da vida social” (FERNANDES, 2008, p. 10-11).
O que buscamos destacar, portanto, é que a sociologia primeiramente surgiu como
uma concepção de mundo. Somente depois é que foi estabelecida como ciência,
fato que torna impossível separá-la das condições históricas e sociais que precedem
sua existência. Nesse sentido, a pesquisa cientí�ca nas ciências sociais,
especi�camente na sociologia, deve seguir uma objetividade e avaliar todos os
elementos que constroem a ordem social e os conjuntos de regras e valores
culturais.
Abordagens Sociológicas: Temas
e Métodos de Pesquisa
Como discutimos anteriormente, o estudo da sociedade não é exclusividade da
sociologia. Muitos movimentos políticos e intelectuais se dedicaram a re�etir sobre
as transformações do mundo em que vivemos, propondo formas de intervenção
nesse contexto. No entanto, a peculiaridade da sociologia está na maneira com que
esse campo de estudo lida com as questões sociais, ou seja, pela elaboração de
técnicas e de métodos de pesquisa próprios da investigação sociológica.
Atualmente, consideramos que a sociologia não é a única ciência que se dedica aos
estudos sociais. Ela é parte das ciências sociais, assim como a antropologia e a
ciência política. A antropologia dedica-se ao estudo de culturas, hábitos, costumes e
comportamentos coletivos; já a ciência política trata do “conjunto de estudos sobre
os fenômenos e as estruturas políticas, conduzido sistematicamente e com rigor,
apoiado num amplo e cuidadoso exame dos fatos expostos com argumentos
racionais” (BOBBIO; MATTEUCCI; PASQUINO, 1998, p. 164). Todos esses campos do
conhecimento possuem referenciais teóricos, além de metodologias e abordagens
cientí�cas próprias para a investigação dos temas de pesquisa a que se referem.
Com relação à sociologia, é possível perceber um maior destaque para essa
disciplina, e isso se dá em razão de essa ciência ser a pioneira na consolidação de
uma metodologia especí�ca para o estudo da sociedade.
Resumidamente, a sociologia dedica-se ao estudo do comportamento humano em
coletividade: como nos relacionamos uns com os outros? Como nos organizamos
socialmente e formamos sistemas sociais por meio de uma ordem que é exterior às
nossas vontades individuais? Como estabelecemos padrões de comportamento? A
sociologia é a ciência que analisa essas e muitas outras questões: relacionamentos
interpessoais, família, grupos sociais, escola, trabalho, religiosidade, Estado, justiça
etc. Diante da diversidade de temas de pesquisa, cabe ressaltar que não há uma
separação muito clara entre as diferentes áreas das ciências sociais, pois elas podem
se fundir e/ou compartilhar perspectivas cientí�cas.
Assim como em qualquer outro campo cientí�co, na sociologia e nas ciências sociais
como um todo há um conjunto de técnicas e métodos de pesquisa. Nesse sentido,
podemos destacar dois grupos principais: técnicas e métodos quantitativos ou
técnicas e métodos qualitativos. No primeiro caso, temos a coleta, a manipulação e a
análise de dados quantitativos, censos demográ�cos, pesquisas eleitorais ou de
opinião, questionários de per�l socioeconômico etc., instrumentos que utilizam,
normalmente, questões estruturadas, fechadas e de múltipla escolha. No segundo
caso, temos uma aplicação e uma análise mais subjetivas, mas isso não signi�ca
falta de objetividade ou de rigor cientí�co. Em ambos os casos, existem protocolos
de ética e procedimentos predeterminados pela literatura metodológica das
ciências sociais. As pesquisas qualitativas podem ser representadas por entrevistas
semiestruturadas, com questões abertas, histórias de vida, análise de documentos,
observação participante, estudos de caso etc. 
CONSOLIDAÇÃO DA SOCIOLOGIA COMO
CONHECIMENTO CIENTÍFICO
Movimentos políticos e intelectuais que in�uenciaram o
surgimento da Sociologia
● Reforma Protestante (século XVI); 
● A revolução Industrial (século XVIII); 
● O movimento intelectual Iluminista e a Revolução Francesa (século XVIII); 
● A ciência Positivista (século XIX).
Principais características, métodos e técnicas de pesquisa das
Ciências Sociais
●A Sociologia se dedica a estudar o comportamento humano seus valores e regras
coletivos; 
● A Sociologia é uma das três áreas das Ciências Sociais, composta, também, pela
Antropologia e Ciência Política; 
● As pesquisas quantitativas e qualitativas formam as principais técnicas de
pesquisa nas Ciências Sociais.
Segundo Fernandes (2008), o modo de agir e a capacidade de decisão e de
julgamento dependem do grau de consciência dos indivíduos com relação às ações
dos outros e/ou aos efeitos de possíveis alterações na estrutura e no funcionamento
de instituições. Para tanto, a sociologia desenvolveu diferentes métodos e técnicas
de pesquisa para auxiliar no entendimento das relações estabelecidas na vida em
sociedade, bem como da forma de estruturas e instituições sociais. Avaliar as
interferências exteriores sobre a nossa vida cotidiana é a maneira com que essa
ciência pode contribuir na nossa ação efetiva em sociedade.
Caro(a) aluno(a), nesta unidade, conhecemos os contextos que possibilitaram a formação
do pensamento sociológico moderno. Tendo em vista os movimentos políticos e
intelectuais que impulsionaram o surgimento da sociologia, é possível a�rmar que essa
disciplina deu início à valorização do conhecimento cientí�co, em detrimento da
autoridade absoluta da religiosidade, característica da Idade Média e da elite
aristocrática. Além da ascensão do conhecimento cientí�co, a constituição do Estado
moderno foi um marco importante para que questões sobre a organização social
passassem a fazer parte do escopo teórico da sociologia
Todo o contexto histórico e social apresentado nesta unidade demonstra que a
sociologia é umproduto cultural. Vimos que a Revolução Industrial e a Revolução
Francesa proporcionaram a criação de um ambiente propício à intelectualização dos
conhecimentos relativos ao mundo então em emergência. Nesse sentido, a sociologia foi
uma disciplina que buscou responder aos anseios de compreensão dessa nova realidade.
Assim, a sociologia surgiu como uma forma de interpretação da realidade, buscando
compreender qual seria a ordem social que nos organiza coletivamente. Para tanto,
foram criadas diferentes especialidades para dar conta das diversas temáticas
concernentes à realidade social. Ademais, foram desenvolvidos métodos e técnicas de
pesquisa para avaliar as diferentes experiências em sociedade.
Conclusão - Unidade 1
Livro
Unidade 2
Sociologia: a lente da
Ciência voltada para
sociedade
AUTORIA
Ma. Solange Santos de Araujo 
Me. Josimar Priori 
Esp. Fúlvio Branco Godinho de Castro 
Ma. Daiany Cris Silva
Introdução
Estimado(a) aluno(a), a Sociologia, como uma ciência que surge das transformações
sociais emergentes da sociedade capitalista, constitui-se como um conhecimento
plural em suas perspectivas teóricas e metodológicas, tal como se apresenta a
consolidação do capitalismo em suas contradições.
Considerando esse contexto, esta unidade é um convite para que você compreenda
a diversidade de metodologias e de posicionamentos teóricos que foram
desenvolvidos pelos autores precursores da Sociologia. Buscaremos demonstrar
como a lente da ciência se voltou para a sociedade e o que ela nos revelou sobre
nossas condições sociais.
Começaremos apresentando o autor que cunhou o termo “Sociologia”, Auguste
Comte. Estudaremos sobre como esse teórico via, na Sociologia, uma possibilidade
de intervenção social para solucionar a crise da sociedade capitalista.
A seguir, partiremos ao entendimento da metodologia de Émile Durkheim, autor
que fundamenta regras e métodos de pesquisa que �zeram da Sociologia um
conhecimento cientí�co institucionalizado, capaz de estudar os acontecimentos
sociais com rigor cientí�co equivalente ao das ciências naturais (matemática,
biologia e química).
Conheceremos, ainda, Max Weber, sociólogo que desenvolveu uma teoria que busca
entender a sociedade por meio das ações individuais dos indivíduos. Seguidamente,
apresentaremos as discussões de Karl Marx, responsável por promover uma análise
crítica sobre a sociedade capitalista, abrangendo as relações de produção e as
características estruturais, assim como a origem dos problemas sociais decorrentes
dessa organização social.
Bons estudos!
O papel dos precursores da
Sociologia na consolidação
da disciplina
AUTORIA
Ma. Solange Santos de Araujo 
Me. Josimar Priori 
Esp. Fúlvio Branco Godinho de Castro 
Ma. Daiany Cris Silva
As ciências sociais podem ser consideradas um campo de estudos emergente do
processo de formação da sociedade capitalista, representada, aqui, pela Sociologia.
Assim, apresentaremos diferentes posicionamentos teóricos e metodológicos que
expressam as contradições desse sistema social.
Desde o seu nascimento, a Sociologia debate-se entre tendências
teóricas, entre perspectivas produzidas por diferentes visões de
mundo. Essa diversidade fruti�ca da própria diferenciação interna,
das tensões e das contradições que determinam a formação social
capitalista (MARTINS, 2008, p. 1).
Portanto, cabe a nós situar essa ciência em seu contexto histórico,
preferencialmente, referenciado pelo capitalismo.
Para isso, torna-se necessário apresentar os princípios lógicos de formação do
pensamento dos precursores da Sociologia, que, como referenciais teóricos,
possuem um papel fundamental na consolidação da disciplina e geram
repercussões no fazer sociológico até os dias atuais.
Auguste Comte, Émile Durkheim, Max Weber e Karl Marx são considerados como
autores basilares para a disciplina de Sociologia, atuando como referências
fundamentais para o desenvolvimento desta. Primordialmente, podemos destacar
três elaborações teóricas provenientes deles: o método funcionalista de Durkheim,
que é inspirado pelo positivismo de Comte; o método dialético de Marx; o método
compreensivo de Weber. Ressalta-se, ainda, que aprender as metodologias clássicas
nos permite dimensionar a diversidade de perspectivas do conhecimento
sociológico e compreender as ciências sociais não como um conhecimento
universal, e sim como uma produção cientí�ca que apresenta possibilidades de
leitura e apreensão da realidade social.
A construção da Ciência
Sociológica por Auguste Comte
A Revolução Industrial é resultado da solidi�cação da ciência e das inovações
tecnológicas na Europa Ocidental. Esse movimento de transformação social
impulsionou a formação de uma nova estrutura econômica e de estrati�cação
social, a qual consolidou o que conhecemos atualmente como sistema capitalista.
Diante de tantas mudanças nos âmbitos político e econômico, a sociedade
ocidental enfrentou uma série de problemas sociais.
Veja só! Com a Revolução Industrial, surgiram fábricas que abrigavam um modelo
de trabalho de produção em série extremamente especializado. Assim, com a
adesão de máquinas, cada vez menos trabalhadores eram necessários no processo
de produção, ocasionando desemprego e miséria entre os que não possuíam poder
econômico e que dependiam do trabalho assalariado. Somando-se a isso, é de
extrema importância entender que, como a mão de obra é considerada uma
mercadoria, os trabalhadores vendiam suas forças de trabalho para os donos das
fábricas (capitalistas/burgueses), e estes tentavam pagar o menos possível,
resultando em baixos salários.
O desemprego, a fome e os problemas estruturais na organização das cidades se
multiplicaram nesse período, e, diante de tantos problemas sociais, um cientista, o
�lósofo francês Auguste Comte (1798-1857), decidiu que a ciência poderia atuar
como uma forma de intervenção social. Pioneiro da ciência positiva, Comte, buscou
entender a sociedade capitalista, analisando o funcionamento desta e a forma com
que as relações sociais se estabeleciam nesse sistema. O objetivo do autor foi,
primordialmente, encontrar os motivos da existência de con�itos e desordem social,
ou seja, estabelecer a ordem para atingir o progresso.
Para alcançar o objetivo de compreender a ordem estabelecida na sociedade e as
relações sociais, Comte desenvolve a ciência positiva, uma teoria do conhecimento
que considera que “[...] os procedimentos da ciência natural são diretamente
aplicáveis ao mundo social com objetivo de estabelecer leis invariantes ou
generalizações semelhantes a leis sobre fenômenos.” (WACQUANT, 1996, p. 597). De
acordo com Comte, “[...] o genuíno espírito positivo consiste em ver para prever, em
estudar o que é, a �m de concluir o que será, segundo o dogma geral da
invariabilidade das leis naturais.” (COMTE, 1978, p. 131).
A ciência positiva buscou replicar os métodos e as técnicas das ciências naturais
para a investigação dos fenômenos sociais, campo de estudos que Comte intitulou,
inicialmente, de física social e que, posteriormente, foi desenvolvido como
Sociologia. Com o intuito de prever os acontecimentos da sociedade e de possibilitar
uma intervenção nos processos sociais, para que estes fossem ordeiros e
harmoniosos, o �lósofo positivista buscou diminuir os con�itos e os problemas
sociais. Atualmente, sabemos que a vida em sociedade não é previsível e passível de
controle igual a um experimento de laboratório; no entanto, durante o processo de
consolidação da disciplina, Comte acreditou nessa possibilidade.
O progresso social, que só seria alcançado por meio da ciência, foi um dos principais
norteadores da teoria de Auguste Comte. Para apresentar esse preceito, o autor
desenvolve a “lei dos três estados”, que se con�gura em estágios de evolução das
concepções intelectuais humanas.
O primeiro, menos evoluído intelectualmente, é o estado teológico, baseado em
crendices populares e em crenças de religiões politeístas e monoteístas, além de ser
constituído por explicações de mundo que, segundo o �lósofo, seriamfruto da
imaginação e das �cções coletivas. O segundo estado seria o metafísico, de
evolução intermediária e transitória. De acordo com Comte (1978), tanto no estado
teológico quanto no estado metafísico, existe a busca de uma explicação para a
natureza da vida e para a origem de todas as coisas, porém, neste último:
[...] em vez de empregar para isso os agentes sobrenaturais
propriamente ditos, substitui-os cada vez mais por entidades ou
abstrações personi�cadas, cujo uso, verdadeiramente característico,
amiúde permitiu designá-la sob a denominação de Ontologia.
(COMTE, 1978, p. 123).
O terceiro estágio, mais evoluído intelectualmente, foi denominado de estado
positivo e necessitou do processo de desenvolvimento intelectual dos estados
teológico e metafísico. Segundo Comte (1978), o estado positivo subordina a
imaginação e as conceituações abstratas sobre a realidade social, a observação e a
investigação empírica dos fenômenos sociais. Além disso, constitui-se como uma
concepção de mundo baseada no estudo social e permite “[...] perceber as
verdadeiras relações de cada parte com o todo, de modo a oferecer constantemente
um largo destino às mais eminentes pesquisas, evitando, entretanto, toda
especulação pueril.” (COMTE, 1978, p. 146).
Portanto, a Sociologia comporia, para Comte, a superioridade intelectual no
pensamento humano, ou seja, o estado positivo, em que a compreensão dos
processos sociais e a formulação de iniciativas que cooperam para o ordenamento
social são possíveis. 
A teoria positivista de Auguste Comte
LEI DOS 3 ESTADOS
1) Teológico
Nesta concepção, as ideias utilizadas para a explicação do mundo real são baseadas
no sobrenatural. Segundo Comte, o primeiro estado (teológico) tem relação com a
inteligência humana.
2) Metafísico
Na segunda concepção, há presença das ideias naturais, porém as ideias baseadas
no sobrenatural ainda são usadas para explicar as coisas do mundo (é uma
concepção intermediária). Segundo Comte, o segundo estado (metafísico) tem
como função servir de transição entre o primeiro e o último.
3) Positivista
Neste momento, são as leis gerais de ordem positiva que explicam os fatos. Segundo
Comte, o terceiro (positivista) é o estado físico e de�nitivo do ser humano.
Fonte: REALE, G. História da Filoso�a. v. 3. São Paulo: Paulus, 1991. p. 118.
Para a ciência positivista, seria possível dominar e controlar a realidade social por
meio do conhecimento e do entendimento das relações sociais instituídas na
sociedade capitalista, o que possibilitaria mapear suas problemáticas e instaurar a
disciplina e a ordem social, garantindo o progresso da civilização moderna. Em
termos positivistas, “o progresso é regulado pela ordem” (MARTINS, 2008, p. 3), o que
signi�ca que a Sociologia, por investigar de maneira aprofundada os processos
sociais, poderia dar instrumentos para o entendimento da realidade social vigente.
Émile Durkheim em busca
de atribuir à Sociologia
uma reputação cientí�ca
AUTORIA
Ma. Solange Santos de Araujo 
Me. Josimar Priori 
Esp. Fúlvio Branco Godinho de Castro 
Ma. Daiany Cris Silva
O sociólogo francês Émile Durkheim (1858-1971), inspirado, em alguma medida, na
ciência positivista de Auguste Comte, avança no desenvolvimento de uma ciência
social e busca atribuir à Sociologia uma reputação cientí�ca. Quando ocorre a
publicação de “As regras do método sociológico” em 1895, Émile Durkheim inaugura
uma discussão sobre a metodologia própria da Sociologia.
Em busca de analisar a sociedade como um organismo, tal qual as ciências naturais,
Durkheim observa que, independente da vontade individual, a humanidade é
regida por causas exteriores e, portanto, sociais. Uma das grandes preocupações de
Durkheim é centrar o estudo da vida social como uma realidade objetiva. O autor
defendia que os acontecimentos sociais deveriam ser estudados como coisas ou
objetos.
Portanto, o sociólogo deveria desenvolver a capacidade de realizar uma observação
neutra, racional e livre de preconceitos e concepções prede�nidas. O método para
estabelecer essa relação com um objeto de estudo na Sociologia, segundo
Durkheim, seria por meio do estudo do fato social, o objeto de estudo da Sociologia,
constituído pelos acontecimentos sociais que ocorrem independentemente das
manifestações individuais.
Para Durkheim (1971), os fatos sociais podem ser divididos em três categorias:
a) coercitivo – o fato social é uma imposição coletiva sobre o indivíduo, que se
con�gura como uma obrigação a seguir um determinado comportamento
estabelecido pela sociedade por meio de grupos sociais e instituições, por exemplo,
religião, moda e crença;
b) exterior ao indivíduo – o fato social ocorre independentemente da vontade do
indivíduo, sendo imposto por determinações externas, ou seja, o fato social não se
expressa no comportamento de uma só pessoa, e sim na adesão de uma maioria de
pessoas envolvidas na determinação coercitiva de um comportamento,
padronizando as maneiras de agir, ser e pensar em sociedade;
c) coletivo/geral – o fato social é comum a todos os indivíduos da sociedade. Além
de ser externo às nossas vontades individuais e nos coagir a seguir padrões de
comportamento, o fato social é ditado pelo meio social em que convivemos.
O fato social, constituído como o objeto de estudo de Durkheim (1971), torna o autor
o primeiro sociólogo a desenvolver uma metodologia própria para a Sociologia, ou
seja, não é apenas uma réplica de métodos e técnicas das ciências naturais, como
pretendeu a física social de Comte, é uma metodologia sociológica pensada
especi�camente para o estudo da sociedade. Pode-se resumir as propostas de
teoria sociológica de Durkheim por meio das seguintes características:
a) observação empírica – a análise por experiência, detida aos sentidos, e o contato
direto com sujeito e o objeto de estudo;
b) neutralidade cientí�ca – apenas o que se pode comprovar e analisar
cienti�camente, distanciando-se de prenoções e posicionamentos
predeterminados;
c) método comparativo – a comparação do fato social em diferentes situações,
considerando a diversidade de condições sociais existentes e, até mesmo, em outras
formas de organização social;
d) diagnóstico de função e causa social – a procura pela explicação das causas que
tornaram possível a existência do fato social e a busca pela função do fato social em
sua sociedade de origem;
e) indução – o resultado da análise de um fato social especí�co deve servir para a
compreensão de uma lei geral.
O objetivo de atribuir uma reputação cientí�ca à Sociologia se deu quando
Durkheim conseguiu, por meio das premissas citadas anteriormente, denotar um
rigor metodológico ao estudo da sociedade, de maneira a estabelecer conceitos
objetivos de investigação cientí�ca.
REFLITA
O Fato Social
“É fato social toda maneira de agir �xa ou não, suscetível de exercer
sobre o indivíduo uma coerção exterior; ou então ainda, que é geral na
extensão de uma sociedade dada, apresentando uma existência
própria, independente das manifestações individuais que possa ter.”
Fonte: Durkheim (1971, p. 11).
Destaca-se que, além de ter contribuído para o projeto de ciência social, Émile
Durkheim colaborou para que uma lógica de pensamento importante se colocasse
nos estudos sobre a sociedade. O autor de�niu seu método cientí�co de modo a
considerar as imposições sociais sobre os nossos hábitos e modos de ser, agir e
pensar, em um movimento que determina uma relação do geral para o particular,
ou seja, do social para o individual.
Para re�etir sobre as interferências que a sociedade impõe sobre a nossa trajetória,
Durkheim criou dois conceitos importantes: consciência coletiva e consciência
individual. Segundo o sociólogo, a primeira se trata do que é:
[...] comum a todo nosso grupo e, por conseguinte, não é a gente
mesmo, mas a sociedade vivendo e agindo em nós; a outra, ao
contrário, representa apenas nós mesmo, naquilo que temos de
pessoal e distinto, naquilo que faz de nós um indivíduo. (DURKHEIM,
2008, p. 27-28).
CONECTE-SE
O padrão debeleza como um fato social
Os padrões de beleza no decorrer da história são um bom exemplo de
fato social, no que se refere à imposição exterior de modelos de
comportamento. No artigo indicado a seguir, é possível perceber que os
nossos gostos e as nossas preferências estéticas são construídos
socialmente e não possuem relações com laços genéticos e
determinações biológicas. O padrão de corpo considerado bonito pela
sociedade sofre modi�cações de acordo com o nosso contexto histórico
e re�ete em como a maioria dos indivíduos lidará com os padrões de
beleza de seu tempo.
Fonte: Elaborado pelas autoras.
ACESSAR
https://grupoiagsaude.com.br/a-ciencia-explica-o-que-constitui-o-seu-tipo-ideal/
Ao dimensionar esses dois tipos de consciência, Durkheim inaugura uma série de
discussões sobre como lidamos coletivamente com nossos gostos, nossas maneiras
de ser, nossos pensamentos e nossas ações. Assim, reconhece-se uma dimensão
individual, proveniente da personalidade que possuímos, a qual é vinculada a
preferências como: cor favorita, tipo de comida preferida, entre outros aspectos
muito particulares. No entanto, demonstra-se uma atenção a como nossas ações,
também, estão condicionadas a fatores externos. Por exemplo, quando um
indivíduo que vai a um casamento pensa que deve vestir um terno, o dever, nesse
caso, não é porque há uma preferência por usar ternos, e sim porque, nesses
espaços, esse é o tipo adequado de vestimenta, estabelecido por imposições
coletivas.
Destacar as características que constituem o fato social como um objeto de estudo
e os conceitos de consciência individual e coletiva é essencial para aprender a teoria
durkheimiana, principalmente, no que se refere à interpretação de Durkheim sobre
uma sociedade que nos molda coletivamente como um organismo funcional.
Divisão Social do Trabalho
Agora que compreendemos, de maneira geral, as premissas do pensamento de
Durkheim, convém avaliar uma de suas obras que apresenta uma análise prática da
realidade moderna. Em 1893, Durkheim publicou sua tese de doutoramento “A
divisão social do trabalho”, que analisa a sociedade moderna e as relações de
produção do sistema capitalista. Para Durkheim:
[...] a divisão do trabalho não é especí�ca do mundo econômico:
podemos observar sua in�uência crescente nas regiões mais
diferentes da sociedade. As funções políticas, administrativas,
judiciárias especializam-se cada vez mais. O mesmo ocorre com as
funções artísticas e cientí�cas. Estamos longe do tempo em que
�loso�a era a ciência única; ela fragmentou-se numa multidão de
disciplinas especiais, cada uma das quais tem seu objeto, seu método,
seu espírito. (DURKHEIM, 1999, p. 2).
O sociólogo compreende que a divisão social do trabalho possuía a função de
estabelecer coesão social e vínculos de solidariedade social, “[...] fenômeno
totalmente moral e que não pode haver uma observação exata.” (DURKHEIM, 1999,
p. 13). A coesão social se refere ao compartilhamento de ideais, valores, crenças e
modos de agir e pensar em uma sociedade, quanto mais coeso é o funcionamento
de uma sociedade, melhor a sua organização social.
“Para Durkheim, o progresso é o progresso da divisão social do trabalho que se
impõe pelo crescimento do volume e densidade moral das sociedades, pela
intensi�cação dos contatos e das relações sociais.” (MARTINS, 2008, p. 3). Assim
como vimos anteriormente, a imposição de valores sociais e morais impacta
signi�cativamente a vida das pessoas. A coletividade é determinante em muitas
instâncias da vida social, a qual depende do estabelecimento de vínculos de
solidariedade social para atingir uma melhor coesão em sociedade. Considerando
esse contexto, para o autor, existem dois tipos de solidariedade social: a mecânica e
a orgânica.
Solidariedade Mecânica
As sociedades com solidariedade mecânica são aquelas baseadas na divisão social
do trabalho simples, em que todos os seus membros reconhecem todos os
processos de produção. Esse tipo de organização advém de sociedades mais
elementares, em que há um forte senso de coletividade e não há muitos níveis de
individualidade.
Segundo Durkheim (2008):
As moléculas sociais cuja a coesão se dê dessa forma singular, só
poderão agir em conjunto se não tiverem movimentos próprios, como
as moléculas de corpos inorgânicos. Por isso nos propomos chamar
esta espécie de solidariedade mecânica. Com essa expressão não
queremos dizer que ela seja produzida por meios mecânicos
arti�cialmente. Chamamo-la assim apenas por analogia com a
coesão que une entre si os elementos dos corpos brutos, em oposição
àquela que dá unidade aos corpos vivos. O que completa a
justi�cação de tal denominação é que o laço que une os indivíduos à
sociedade é análogo ao que liga a coisa à pessoa. (DURKHEIM, 2008,
p. 28).
É comum perceber alusões a nomenclaturas das ciências naturais nas obras de
Durkheim, principalmente, em suas primeiras produções, dado a tentativa do autor
de adaptar os métodos desse campo de estudos para a investigação sociológica. Na
citação anterior, o autor justi�ca o uso da expressão solidariedade mecânica, para
nos mostrar que a sua de�nição se trata da relação dependente da coletividade em
sociedades que possuem esse tipo de divisão social do trabalho.
Sociedades de solidariedade mecânica são aquelas em que o senso de coletividade
é maior do que o de individualidade ou, até mesmo, se impõe à individualidade,
sufocando-a.
Solidariedade orgânica
As sociedades de solidariedade orgânica constituem-se nos processos de produção
da modernidade, ou seja, no sistema capitalista. Esse tipo de divisão social do
trabalho se baseia no alto grau de especialização e no individualismo. Em uma
sociedade de solidariedade orgânica, os indivíduos possuem muita dependência
uns dos outros, complexi�cando o sistema de relações sociais nos mais diversos
âmbitos, em instituições econômicas, políticas e culturais.
A solidariedade do tipo orgânica é um desenvolvimento do tipo mecânico, segundo
Durkheim:
SAIBA MAIS
Povos caçadores e coletores são sociedades de solidariedade
mecânica?
Considera-se que as sociedades de solidariedade mecânica são
constituídas por modelos de produção com processos simples, como a
economia e a alimentação, que são baseadas em caça, coleta, pesca e
agricultura complementar, assim como vivem o povo Kaingang, uma
das maiores populações indígenas brasileiras. Para saber mais sobre o
tema e compreender melhor a dinâmica de solidariedade mecânica,
acesse o link a seguir.
Fonte: Elaborado pelas autoras.
ACESSAR
http://www.portalkaingang.org/index_cultura_5_1.htm
[...] a passagem da sociedade de solidariedade mecânica para a
sociedade de solidariedade orgânica como uma lei histórica. Assim,
quando a maneira como os homens são solidários se modi�ca, a
estrutura das sociedades acaba mudando também. A forma de um
corpo se transforma necessariamente quando as a�nidades
moleculares não são mais as mesmas. Por conseguinte, se a
proposição precedente é exata, deve haver dois tipos sociais que
correspondem a essas duas sortes de solidariedade. (DURKHEIM, 1999,
p. 17).
Portanto, para Durkheim, quando a sociedade muda, os indivíduos dependem uns
dos outros, devido à especialização de funções ou mesmo à divisão do trabalho
social. Na realidade, o que causa interação entre as pessoas é o progresso dos meios
da especialização das funções que os indivíduos exercem entre si (DURKHEIM, 1999).
Logo, os indivíduos acabam se tornando independentes das atividades em
diferentes setores da vida social. Portanto, Durkheim postula que a divisão social do
trabalho não deve se reduzir ao seu papel econômico: “Ao contrário, a divisão do
trabalho social tem antes de tudo uma função moral, no sentido de que ela passa a
ser o elemento-chave para a integração dos indivíduos na sociedade.” (SELL, 2001, p.
144).
Sob essa perspectiva, Durkheim demonstra uma preocupação com a constituição
dos valores morais em sociedade, pois, para o sociólogo, nossas fragilidades estão na
perda, ou na falta de adesão, dessa dimensão coletivade compartilhamento de
ideias, normas e valores, responsável por orientar as condutas dos indivíduos.
O nível de consciência individual é maior nesse tipo de sociedade, na qual a divisão
social do trabalho impele que os indivíduos sejam diferentes entre si:
Já com a solidariedade que a divisão social do trabalho produz [de
solidariedade orgânica], é tudo muito diferente. Enquanto a
precedente [de solidariedade mecânica] implica que os indivíduos se
pareçam, esta supõe que que eles sejam diferentes entre si. A primeira
só é possível na medida que a personalidade individual é absorvida
pela personalidade coletiva; a segunda só é possível se cada um tem a
esfera de ação que lhe é própria - uma personalidade, por
conseguinte. É necessário, então, que a consciência coletiva deixe
uma parte da consciência individual descoberta, para que aí se
estabeleçam as funções especiais que ela não pode regulamentar; e
quanto mais essa região se estende, mais forte é a coesão que resulta
dessa solidariedade. (DURKHEIM, 2008, p. 28).
Isso signi�ca que, quanto maior forem o nível de interdependência entre cada
indivíduo na sociedade, a diversidade de funções a serem exercidas socialmente e o
grau de especialização nos processos de produção, melhor será o nível de coesão
social. Quando essa coesão se perde e o nível de solidariedade social diminui, em
razão da não adesão, pelos indivíduos, de regras e valores coletivos, nossa sociedade
entra no que o Durkheim chama de anomia social.
O olhar de Max Weber para
entender o sistema
Capitalista
AUTORIA
Ma. Solange Santos de Araujo 
Me. Josimar Priori 
Esp. Fúlvio Branco Godinho de Castro 
Ma. Daiany Cris Silva
O sociólogo alemão Max Weber (1864-1920) propõe uma Sociologia que busca
compreender e interpretar as relações entre indivíduos, isto é, a ação social. Para
Weber, a ação, sem seu sentido social, é puro fruto do comportamento humano, já a
ação social possui, como referência, o comportamento entre indivíduos, uns com
relação aos outros, constituindo o que chamamos de vida em sociedade.
Segundo Cruz (2004), a pesquisa histórica é, para Weber, essencial para a
compreensão das sociedades. A investigação sociológica deve se basear no esforço
interpretativo de avaliar as diferentes expressões de relações sociais.
Diferentemente de Durkheim, Weber não defende que há leis gerais ou exteriores
que se impõem sobre os seres humanos, pelo contrário, para Weber, todo fenômeno
social tem uma causa, um comportamento individual que o precede. Portanto, leis
universais que in�uenciam o comportamento humano e o desenvolvimento
histórico são inexistentes, o que mantém o construto coletivo dado pelas relações
sociais estabelecidas no cotidiano.
Sob a perspectiva de Weber, deve-se compreender a realidade parcialmente, em
suas particularidades individuais, em um movimento do particular para o geral, do
indivíduo para a sua relação com a sociedade. O aspecto compreensivo signi�ca,
segundo Cruz (2004):
REFLITA
A Ação Social para Max Weber
“A ação social (incluindo tolerância ou omissão) orienta-se pelas ações
de outros, que podem ser passadas, presentes ou esperadas como
futuras (vingança por ataques anteriores, replica a ataques presentes,
medidas de defesa diante de ataques futuros). Os ‘outros’ podem ser
individualmente desconhecidos ou então uma pluralidade de
indivíduos indeterminados e completamente desconhecidos (o
‘dinheiro’, por exemplo, signi�ca um bem – de troca – que o agente
admite no comércio porque sua ação está orientada pela expectativa
de que outros muitos, embora indeterminados e desconhecidos,
estarão dispostos também a aceitá-lo, por sua vez, numa troca futura).”
Fonte: Weber (2008, p. 117).
[...] apreensão interpretativa do sentido ou contexto de sentido: a)
realmente visando no caso particular (à luz da apreciação histórica)
ou b) em média e aproximativamente visando (à luz da apreciação
sociológica de massas) ou c) a construir cienti�camente para o tipo
puro (tipo ideal) de um fenômeno frequente (sentido ou conexão de
sentido “ideal” típico). (CRUZ, 2004, p. 588).
A análise sociológica proposta por Weber, diante da ação social como seu objeto de
estudo, presume um método que busca compreender as motivações individuais
que impulsionam determinadas ações sociais.
A ação social, como toda ação, pode ser:
1. racional com relação a �ns: determinada por expectativas no comportamento
tanto de objetos do mundo exterior como de outros homens, e utilizando essas
expectativas como “condições” ou “meios” para o alcance de �ns próprios
racionalmente avaliados e perseguidos;
2. racional com relação a valores: determinada pela crença consciente no valor
interpretável como ético, estético, religioso ou de qualquer outra forma -
próprio e absoluto de uma determinada conduta, considerada de per si e
independente de êxito;
3. afetiva: especialmente emotiva, determinada por afetos e estados
sentimentais atuais;
4. tradicional: determinada por um costume arraigado. (WEBER, 2008, p. 118, grifo
do autor).
As ações sociais, que possuem diferentes formas de expressão no cotidiano,
segundo Weber, são:
[...] como tipos conceituais puros, construídos para �ns de pesquisa
sociológica, com relação aos quais a ação real se aproxima mais ou
menos ou, o que é mais frequente, de cuja mescla se compõe.
Somente os resultados que com eles se obtenham é que podem nos
dar a medida de sua conveniência. (WEBER, 2008, p. 119).
Ao mobilizar o conceito de ação social como objeto de estudo, podemos
dimensionar sociologicamente as ações, como nos seguintes casos: 1) um político
que busca ocupar uma posição de poder sob a �nalidade de, supostamente,
cumprir promessas de campanha eleitoral (ação social do tipo racional com relação
a �ns); 2) a ida a cultos religiosos, que só se justi�ca quando se acredita nos valores
ali pregados (ação social do tipo racional com relação a valores); 3) atitudes
passionais, movidas por afeição a outro, crises de ciúmes, declarações de amor etc.
(ação social do tipo afetiva); 4) hábitos culturais e festas tradicionais, como o
Carnaval, a Folia de Reis, a festa do boi-bumbá e as festas juninas que acontecem
aqui no Brasil, podem ser pensados pela ação da tradição (ação social do tipo
tradicional).
Weber defende que a compreensão da sociedade se dá pelo olhar atento às relações
entre os indivíduos que a compõem e pelas ações efetivas desses indivíduos entre si.
Isso signi�ca que, se quisermos entender como a instituição escola funciona, por
exemplo, devemos olhar para os indivíduos que fazem parte dela (alunos,
professores etc.) e veri�car o modo como essas pessoas agem em relação umas às
outras, ou seja, a interação social; assim, esse processo é denominado pelo autor
como relação social.
A relação social é a reciprocamente dotada de sentido na ação, sentido esse que é
modi�cado por uma pluralidade de agentes que se orientam por essa referência de
reciprocidade.
A Ética Protestante e o Espírito do
Capitalismo
Ao centrar sua atenção na ação social dos indivíduos, Max Weber defendia a
possibilidade de a�rmar que a base inicial do sistema capitalista foi a ação social dos
indivíduos que seguiam a ética protestante calvinista, vertente do movimento de
Reforma Protestante iniciado no século XVI.
Sobre essa temática, o sociólogo publicou, em 1904, a primeira versão da obra “A
Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo”, na qual defendia que haveria um tipo
de conduta religiosa que contribuiu para o desenvolvimento do capitalismo
moderno. Weber classi�ca essa conduta por um conceito que ele chama de tipo
ideal, constituído como um instrumento metodológico que possibilita ao cientista
social a investigação de fenômenos particulares.
Segundo Weber, a ética de vida dos calvinistas era fortemente voltada ao trabalho e
com disciplinas rígidas, porque estes acreditavam que o trabalho, além de servir
como forma de glori�cação divina, garantiria, também, a salvação. Em algum
momento de sua vida, você, caro(a) aluno(a), já deve ter ouvido a expressão “o
trabalhodigni�ca o homem”; é nesse sentido que a lógica calvinista colaborou para
a formação do espírito do capitalismo, criando uma condição humana divina para a
realização do trabalho, de forma que estaríamos, portanto, predestinados ao
trabalho.
Com o passar do tempo, essa ideia de predestinação foi deixada de lado, mas o
trabalho disciplinado e a busca por sucesso (acúmulo do capital) continuaram a
existir na teoria exposta no livro em questão. Isso, para Weber, resultou no
aparecimento dos primeiros capitalistas.
Na Idade Média, a religião motivava a vida das pessoas e dava sentido às suas ações.
Com o pensamento cientí�co ganhando espaço na Europa Ocidental, a cultura
religiosa foi confrontada, porém, para Weber, a ciência não poderia ocupar, por
completo, o lugar que a religião tinha ao desenvolver concepções de mundo.
Nesse sentido, na concepção de Weber, a Reforma Protestante contribuiu para a
consolidação do sistema capitalista, pois surgiu como forma de ressigni�car a leitura
religiosa sobre a sociedade. A extrema racionalização dos processos sociais seria,
segundo o autor, um elemento con�ituoso, que causaria uma fragilidade no sistema
capitalista. Weber acreditava que os indivíduos, quando agem por meio de uma
racionalização extrema, conduzem-se a um desencantamento do mundo, que torna
as pessoas mais calculistas e frias. Esse processo de racionalização causaria uma
burocratização da vida, que aprisionaria a humanidade em sua própria organização
social.
REFLITA
Meritocracia
A lógica de pensamento protestante, que difundia um valor de
dignidade e recompensa celestial aos trabalhadores dedicados,
colaborou para que, na atualidade, nossa sociedade desenvolvesse a
meritocracia. De acordo com a de�nição de Johnson, a “[...] meritocracia
é um sistema social no qual o sucesso do indivíduo depende
principalmente de seu mérito - de seus talentos, habilidades e esforço.”
(JOHNSON, 1997, p. 146). A crença na conquista meritocrática é uma
mentira que nosso sistema capitalista moderno criou para signi�car o
esforço desmedido de trabalhadores e apaziguar as discrepâncias que
suas desigualdades sociais promovem, como uma espécie de
justi�cativa para a manutenção do poder nas mãos de pequenos
grupos sociais.
Fonte: Adaptado de Johnson (1997).
Karl Marx e seu
pensamento crítico sobre a
Sociedade Capitalista
AUTORIA
Ma. Solange Santos de Araujo 
Me. Josimar Priori 
Esp. Fúlvio Branco Godinho de Castro 
Ma. Daiany Cris Silva
Karl Marx (1818-1883) é considerado um dos pensadores mais revolucionários da
Sociologia, pois, além de um método cientí�co, o autor propôs um projeto político
de atuação e organização social. Os estudos de Marx buscaram analisar a sociedade
capitalista em seu processo de consolidação e discutiram sobre as características do
trabalho nesse sistema e como as relações de produção que estavam se
estabelecendo in�uenciam na estrutura social e na determinação de desigualdades
sociais.
Karl Marx e Engels (1998) entendiam que a burguesia, classe de proprietários,
comerciantes e industriais donos dos meios de produção, adquiriu poder econômico
e político durante a Revolução Industrial e a Revolução Francesa. Sob posse de um
maior poder econômico, a burguesia criou leis e regras sociais que visam proteger a
propriedade privada de seus bens e, assim, proporcionar a manutenção de sua
classe no poder. Em posição de exploração e subjugados à classe burguesa, a classe
proletária, composta por trabalhadores sem posses, era responsável pelo processo
de produção, por meio da venda de sua força de trabalho (mão de obra).
Dessa forma, Marx e Engels (1998) demonstram que a sociedade capitalista se
constituiu pela divisão social do trabalho baseada em duas principais classes sociais:
a dos capitalistas (burgueses), que detêm a posse dos meios de produção (as
máquinas, as matérias-primas, as terras e as fábricas); e a dos proletários
(operariado/trabalhadores), cuja única posse é a força de trabalho que seria vendida
à classe dominante, os burgueses.
Para Karl Marx, a exploração da classe de trabalhadores possui, como principal
objetivo, a acumulação de capital. Dessa forma, o capital seria o acúmulo de bens e
lucros provenientes da exploração da mão de obra barata pela classe burguesa. Em
sua obra mais signi�cativa, “O capital: crítica da economia política”, publicada em
REFLITA
A Sociedade de Classes
Em seu texto político do mundo moderno e contemporâneo, “O
manifesto comunista”, publicado em 1848, Karl Marx explica que “[...] a
sociedade burguesa moderna, que brotou das ruínas da sociedade
feudal, não aboliu os antagonismos das classes. Estabeleceu novas
classes, novas condições de opressão, novas formas de luta no lugar das
antigas.” (MARX; ENGELS, 2001, p. 9).
Fonte: Adaptado de Marx e Engels (2001).
1867, o autor descreve os processos de produção capitalista e aponta a forma com
que esse modelo aprofundava as desigualdades na sociedade que se consolidava e
mantinha uma parcela da população em condição de exploração.
Sobre a divisão de classes sociais, segundo Marx e Engels (2001):
Na mesma medida em que a burguesia – isto é, o capital - se
desenvolve, também o proletariado se desenvolve. A classe
trabalhadora moderna desenvolve-se: uma classe de trabalhadores,
que vive somente enquanto encontra trabalho e que só encontra
trabalho enquanto o labor aumenta o capital. Estes trabalhadores,
que precisam vender a si próprios aos poucos, são uma mercadoria,
como qualquer outro artigo de comércio e são, por consequência,
expostos a todas vicissitudes da competição, a todas �utuações do
mercado. (MARX; ENGELS, 2001, p. 19).
Na teoria de Marx, os meios de produção é que transformam as relações de
produção e as formas de organização social, acarretando desigualdades sociais
profundas, que propiciam a luta de classes.
A luta de classes se trata dos embates políticos entre trabalhadores e burgueses.
Segundo o sociólogo alemão, é por meio do movimento de organização social de
questionamento à ordem dominante que a emancipação humana total seria
possível, bem como o �m da exploração do trabalho, o advento da revolução
operária e a derrocada do sistema capitalista.
O Materialismo Histórico Dialético
Embora Marx estivesse muito mais preocupado em construir um projeto político de
sociedade, o sociólogo também desenvolveu uma metodologia cientí�ca que
direciona uma longa tradição de estudos marxistas na Sociologia, o método do
materialismo histórico dialético. Para Marx, são as condições materiais que
determinam a sociedade, e não o contrário, portanto, devemos compreender,
primeiramente, o âmbito material, as estruturas e as relações efetivas que formam a
sociedade, o que é denominado, pelo autor, de materialismo:
[...] não partimos do que os homens dizem, imaginam ou representam,
tampouco do que eles são nas palavras, nos pensamentos, na
imaginação e na representação dos outros, para depois se chegarmos
aos homens de carne e osso; mas partimos dos homens em sua
atividade real [...]. Assim, a moral, a religião, a metafísica e todo o
restante da ideologia, bem como as formas de consciência a ela
correspondentes, perdem logo toda a sua autonomia. Não tem
história, não tem desenvolvimento [...] (MARX; ENGELS, 1998, p. 19).
Para o pensamento materialista de Karl Marx, a essência do indivíduo é o centro das
relações sociais; por isso, ele compreende que o indivíduo não é um ser isolado, e
sim que sua existência é proveniente dos processos sociais em curso. Nesse sentido,
a pesquisa materialista histórico dialética é realizada por meio da análise dos
contextos históricos e processos sociais que solidi�cam as relações sociais
materialmente, em sua aplicabilidade prática da vida em sociedade. O movimento
de pensamento dialético se dá na contraposição do campo das ideias com a
realidade efetiva. Essa contraposição possibilita a junção desses dois elementos,
constituindo, assim, uma concepção única, que é a análise da realidade.
Em síntese: o materialismo histórico dialético de Marx (MARX; ENGELS,

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