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UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA - Campus Juiz de Fora FACULDADE DE MEDICINA VETERINÁRIA ANA CLARA FONTES CARACIOLA FONSECA ANA FLÁVIA AGUIAR DA CRUZ ANDRÉ LUCAS AMARAL MONTEIRO RODRIGUES DANIELLE PEREIRA DOS SANTOS LÍVIA SILVA FERREIRA MARIA CAROLINA LANDIM DELGADO MARIA CLARA HEIDENREICH BERNARDES CUNHA Cinomose Anatomia Veterinária I Prof.ª Dra. Katerin Grondona Juiz de Fora 2018 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO 3 2. IMPORTÂNCIA 4 3. DESENVOLVIMENTO 4 3.1 OCORRÊNCIA 4 3.2 SINAIS CLÍNICOS 4 3.3 DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO 5 3.4 SEQUELAS 6 3.5 PREVENÇÃO 6 4. CONCLUSÃO 6 5. REFERÊNCIAS 7 1. INTRODUÇÃO A cinomose é uma doença altamente contagiosa, causada pelo Vírus da Cinomose Canina (VCC), o qual se trata de um Morbillivirus da família Paramyxoviridae. Afeta principalmente os cães, por representarem o fundamental reservatório para o vírus VCC e servirem como fonte de infecção para outras espécies carnívoras. A doença atinge cães de qualquer idade, raça e sexo, mas possui maior propensão por filhotes e indivíduos não vacinados. Os cães infectados pelo VCC desenvolvem sinais clínicos e lesões respiratórias, gastrintestinais, dermatológicas, oftalmológicas e neurológicas, que podem ocorrer juntas, em sequência ou de forma isolada. A imaturidade do sistema imunológico dos filhotes contribui para a maior prevalência de cinomose neles, pois estão mais susceptíveis à infecção pelo VCC. Além disso, existem outros fatores como a ausência de vacinação, exposição de filhotes não-vacinados ao vírus após a perda da imunidade materna e concentração insuficiente de anticorpos maternos transmitida aos filhotes. Já a prevalência em cães adultos, é discutido que seja devido à falta de revacinação periódica, um procedimento ainda pouco frequente entre tutores de cães no Brasil. Considerando as lesões histológicas do Sistema Nervoso Central(SNC) de um modo geral, a prevalência do comprometimento de cada região anatômica em ordem decrescente de frequência, é de: cerebelo, diencéfalo, lobo frontal, ponte, mesencéfalo, medula espinhal C1-C5, lobo occipital, lobo parietal, medula espinhal L4-S3, medula espinhal T3-L3, lobo temporal, hipocampo, medula espinhal C6-T2 e lobo piriforme. O conhecimento da frequência com que as lesões de cinomose afetam as diferentes regiões do SNC é importante principalmente nos casos em que o patologista não dispõe de informações do exame neurológico. Assim, sabendo-se que as lesões ocorrem no cerebelo, diencéfalo, lobo frontal, ponte e mesencéfalo em 70%-90% dos casos, essas cinco estruturas podem ser consideradas as regiões de escolha para o exame histopatológico, principalmente naquelas situações em que o histórico clínico é incompleto ou inexistente. No entanto, essa é uma informação válida somente em situações de diagnóstico nas quais o patologista não dispõe de tempo suficiente ou possui recursos financeiros limitados que inviabilizam o exame de todas as 14 secções do SNC aqui descritas, pois não é aconselhável examinar habitualmente apenas uma ou outra dessas áreas. 2. IMPORTÂNCIA Por possuir um espectro de espécies hospedeiras relativamente alto e afetar outros integrantes da ordem Carnívora (GREENE & APPEL, 2006), o VCC pode causar, além da perda de animais produtores de pele, importantes em alguns países (RIKULA et al., 2001), a redução de populações de espécies selvagens ao ponto de ameaçá-las de extinção em determinadas regiões (DAVIDSON, 1986; Machida et al., 1993; ROELKE-PARKER et al., 1996; DIAZ-FIGUEROA & SMITH, 2007). Em cães, o VCC é o vírus com a segunda maior mortalidade, perdendo apenas para o vírus da raiva (Greene & Appel, 2006; Ek-Kommonen et al., 1997). A vacinação é o principal meio de profilaxia da cinomose, porém, as cepas utilizadas para a fabricação das vacinas são relativamente antigas, o que prejudica seu desempenho quando em face de cepas atuais (JOZWIK & FRIMUS, 2002). Além disso, a cinomose canina não possui um tratamento efetivo, sendo realizado tratamento de suporte para aliviar os sintomas da doença (TIPOLD et al., 1992; CORRÊA & CORRÊA, 1992; KAJITA et al., 2006). Deste modo, é necessário estudos mais aprofundados fornecendo análises filogenéticas, que determinem as diferentes cepas em cada região do mundo (pois desta forma vacinas adequadas podem ser produzidas), novos tratamentos e dados epidemiológicos da doença para um melhor controle da mesma (MARTINS et al., 2009). 3. DESENVOLVIMENTO 3.1 OCORRÊNCIA A transmissão da cinomose é diretamente de um cão para o outro, segundo BAUMANN (1999), através de espirros, secreções oculares, nasais e orais, pelas fezes ou ainda pela inalação do ar infectado. Indiretamente o vírus da cinomose pode ser levado pelas vestimentas, quando se tem contato, de um cachorro doente para outro sadio. Nesse sentido, os cuidados com a higiene são fundamentais. O Canine Distemper Vírus (VCC), pode permanecer inativo no organismo e o hospedeiro não apresentar nenhum sintoma e continuar a propagar a doença. 3.2 SINAIS CLÍNICOS O período de incubação para o surgimento dos sinais clínicos da cinomose aguda é, geralmente, de 14 a 18 dias. Os primeiros sinais de infecção consistem em tosse seca, bem como uma pneumonia bacteriana (Bordetella bronchiseptica), febre transitória, não muito elevada, entre o quarto e sétimo dia, acompanhada de conjuntivite serosa, desidratação e perda de sangue com debilitação, assim como cegueira repentina, por lesão no nervo óptico e degeneração retiniana. Além disso, há uma manifestação clássica da cinomose na pela chamada doença do coxim, em que o cão desenvolve hiperqueratose de gravidade variável e ou nasal. Aproximadamente, metade dos cães que sobrevivem aos sinais sistêmicos apresenta mais tarde sinais neurológicos de cinomose. A idade do animal, sua imunocompetência e as propriedades imunossupressoras do vírus, definem o tipo de lesão e o curso da infecção no Sistema Nervoso Central (SNC), classificando-se em encefalite aguda, encefalite não supurativa e encefalite crônica (TAYLOR, 2003). O início da sintomatologia nervosa ocorre entre uma a três semanas após recuperação da doença sistêmica (HOSKINS, 2004). Os sinais da encefalite aguda podem surgir com uma série de manifestações, como ataques de mascar borracha, ataxia, incoordenação, locomoção em círculos, hiperestesia, rigidez muscular, vocalização similar à do estado de dor, respostas de temor e cegueira. Na encefalite não supurativa, alguns sinais neurológicos podem ocorrer e serem observados semanas ou meses após a recuperação de infecções inaparentes, ou depois da recuperação de uma cinomose aguda (BAUMANN, 1999; TAYLOR, 2003; SHERDING, 2008). Dessa forma, os cães que apresentam sinais neurológicos de surgimento tardio, em geral, possuem imunidade contra o vírus da cinomose, o que sugere que o vírus pode ter escapado à eliminação pela resposta imune. Já a encefalite crônica existe em duas formas: encefalite multifocal e a encefalite do cão idoso. A primeira consiste em uma moléstia lentamente progressiva, que pode ter curso clínico de mais de um ano, geralmente desenvolve em cães com 4 a 8 anos de idade imunocompetentes que sobrevivem à infecção aguda. E a segunda é presenciada em cães com mais de 6 anos de idade, na qual sua progressão torna-os mentalmente deprimidos e não reconhecem seus donos e nem respondem aos estímulos em seu ambiente (SHERDING, 2008). Por fim, no caso de fêmeas grávidas, os sinais neurológicos da infecção transplacentária se manifestam entre as 4-6 primeiras semanas de vida do animal e, pode gerar aborto, natimortos ou neonatos vivos fracos de acordo com o período de gestação que se deu a infecção. 3.3 SEQUELAS A cinomose está entre as doenças neurológicas que mais comprometem a saúde dos cães, sendo considerada a maior causa de encefalite nestes animais. Quando não leva o animal a óbito, causa sequelas que comprometem diretamente a qualidadede vida dos mesmos, segundo GAMA (2007). De acordo com MONTI (2004), acredita-se que metade dos cães acometidos pela cinomose apresentam sinais sistêmicos antes ou concomitantemente aos neurológicos, e que praticamente metade dos sobreviventes aos sinais sistêmicos apresentam mais tarde, graves sequelas decorrentes da doença. As sequelas deixadas pela doença são: perdas de cognição, alterações de equilíbrio e locomoção, mioclonia (“tiques” nervosos), paralisia, paraplegia, tetraplegia, convulsões, problemas na visão, alterações respiratórias, alterações na dentição e alterações gastrintestinais. 3.4 DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO O diagnóstico clínico é realizado com base no exame físico, anamnese (histórico de todos os sintomas narrados pelo paciente sobre determinado caso clínico) e por exames complementares. Às vezes, é inconclusivo, pois o mesmo padrão também pode ser encontrado em outras doenças infecciosas e parasitárias de cães (BARBOSA et al., 2008 apud MORAES, et al., 2013), por isso, faz-se o uso de materiais oriundos do sangue, das fezes e urina a partir da observação dos sinais clínicos já mencionados, como tosse seca e febre, além de vômitos, diarreias e perda de apetite para se ter maior precisão do exame. Quando o animal apresenta convulsões, o quadro clínico já alcançou o estágio mais grave da doença, atingindo o Sistema Nervoso Central (SNC). Outro caminho para diagnosticar os animais infectados, se dá pelo exame laboratorial ante mortem da cinomose canina, que segundo NAKADOMARI et al., (2017), é fundamental para a execução do tratamento, avaliação do prognóstico e planejamento de medidas de controle e profilaxia da doença. A técnica possui alta sensibilidade, entretanto os resultados variam segundo a amostra e os métodos de extração do RNA. O procedimento para realização do exame abordado no estudo de NAKADOMARI et al., (2017) foi a extração do RNA viral a partir de uma alíquota de 200 µL de urina, utilizando-se sílica e tiocianato de guanidina e a técnica de ante mortem (Transcriptase reversa- Reação em cadeia da polimerase - RT-PCR ) foi realizada utilizando primers já descritos segundo GEBARA et al. (2004) apud FRISK et al., (1999). Para os animais atendidos com suspeita clínica de cinomose foram utilizadas amostras de urina para diagnóstico laboratorial da infecção. Os produtos amplificados da (Transcriptase reversa- Reação em cadeia da polimerase - RT-PCR) de 287 pares de bases (pb) foram visualizados sob luz ultravioleta por eletroforese em gel de agarose. Os resultados foram analisados pela frequência total e relativa. O resultado desse exame apresentou diagnóstico positivo para 23% dos animais do tratamento, e negativo para os 77% restantes. O tratamento é realizado a partir do diagnóstico positivo, visando cessar com os sintomas e não combater o vírus, pois ainda não há medicamentos antivirais de valor para tratamento da cinomose. Segundo MORAES et al., (2013), quando a infecção está no início, é possível a cura, entretanto após atingir SNC, o animal dificilmente se recupera, podendo ir a óbito ou apresentar sequelas pro resto da vida. Portanto, utiliza-se uma terapia de suporte, de acordo com a sintomatologia desenvolvida (LITFALLA et al., 2008 apud MORAES, et al., 2013), como antibióticos para a febre, hidratação do animal, acupuntura, inserção de células tronco, estímulos, fisioterapia entre outros. 3.5 PREVENÇÃO A cinomose é uma infecção altamente contagiosa e os métodos de prevenção baseiam-se no uso de vacinas atenuadas, aplicadas com reforços mensais nos primeiros meses de vida em animais jovens, seguido de reforços anuais em cães adultos (Horzinek 2006, Schultz 2006). A imunização por meio da vacinação é a única abordagem eficaz na prevenção da cinomose, já que quando ausente pode haver aumento em torno de 100 vezes a ocorrência da doença numa população (BORBA et al., 2002). No entanto, a falta de dados epidemiológicos sobre a ocorrência de casos e surtos, assim como a escassez de estudos epidemiológicos relativos a esse agente tem dificultado a adoção de estratégias para o controle. 4. CONCLUSÃO A cinomose possui elevada importância epidemiológica, afetando cães e diversas espécies de animais em todas as partes do globo. Muitos países são afetados economicamente ao mobilizar medidas de prevenção e controle da doença e pelo impacto causado às populações de animais de produção importantes para alguns países, além de afetar animais selvagens de vida livre ou cativos. Muitos dos animais acometidos pelo VCC acabam desenvolvendo sequelas se resistirem a doença e, por isso, deve-se também buscar desenvolver tratamentos que visam a regeneração física destes animais. A cinomose é uma doença emergente em diversos países, e para entender melhor sua distribuição e facilitar sua contenção e controle, dados epidemiológicos devem ser obtidos e analisados para evitar sua maior dispersão. Logo, para mudar o atual cenário, faz-se necessário uma mobilização de pesquisadores e um maior investimento em estudos para desenvolvimento de medicamentos antivirais , vacinas e medidas de controle mais eficientes para minimizar as mazelas causadas pelo Vírus da Cinomose Canina. 5. REFERÊNCIAS BAUMAN, G. Enfermidades virais: paramyxovírus. In: BEER, J. Doenças infecciosas em animais domésticos. 1.ed. São Paulo: Roca, 1999. GRATH, M.C.; J.D. Inflammatory and infectious diseases. In: McGRATH, J.D. The neurologic examination of the dog with clinic-pathological observations.2.ed. Philadelphia: Lea & Febiger, 1960. MORAES, F. C. ; CRUZ, C.A.; MEIRELLES-BARTOLI, R.B; SOUSA, D.B. Diagnóstico e controle da cinomose canina. Pubvet, Londrina, v. 7, n. 14, ed. 237, art. 1566, julho, 2013. NAKADOMARI, G. H.; PAVAN, A. C. L.; VIGNOTO, V. K. C. Diagnóstico laboratorial ante morten de cinomose canina. In: 6º Encontro Anual de Iniciação Científica Júnior, 2017. 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