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Universidade Federal do Vale do São Francisco – UNIVASF Secretaria de Educação a Distância – SEAD Especialização em Ensino de Química e Biologia na Modalidade a Distância Trabalho de Conclusão de Curso – Juazeiro, 2015. EXPERIMENTAÇÃO NO ENSINO DE QUÍMICA E BIOLOGIA COM ENFASE NA APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA ADENILDO OLIVEIRA LOPES* Pós-graduando *lopesao@yahoo.com.br XIRLEY PEREIRA NUNES Professor Orientador RESUMO Este trabalho evidencia a necessidade das atividades experimentais no ensino de química e biologia e descreve sua importância para o ensino e aprendizagem, dando ênfase a aprendizagem significativa; pelo fato de a mesma levar em consideração que o conhecimento prévio do aluno é a chave para a construção do conhecimento. Uma vez que, de acordo com Ausubel, quanto mais sabemos, mais aprendemos. Neste aspecto, o presente trabalho mostra três tipos de atividades experimentais e defende um “método investigativo”; justificando que sua estrutura é essencial para a construção do conhecimento significativo. Visto que, em termos de condicionalidade para a apropriação do conhecimento científico, a condicionante é o próprio conhecimento prévio do aluno e este, deve ser ampliado ou incorporado ao conhecimento cientifico através de uma situação problema. Esclarece a necessidade do professor de química e biologia passar da condição de detentor do saber para facilitador ou mediador do processo de construção do conhecimento e enfatiza que o professor deve possui a prática da pesquisa para desenvolver seu planejamento didático na perspectiva de acompanhar as constantes inovações do ensino, como também, a necessidade de o mesmo, promover um ambiente com condições favoráveis a assimilação do saber. Mostra que as atividades experimentais devem ser abordadas partindo do princípio da aprendizagem significativa, enfatizando suas importantes contribuições para a efetivação da construção do conhecimento na estrutura cognitiva do aluno. Descreve o insucesso quando essas condições são ignoradas pelo professor e indica a possível causa do fracasso escolar e conseqüentemente do ensino de química e biologia. Palavras-chave: Experimentação, Investigação e Aprendizagem significativa. INTRODUÇÃO As pesquisas em ensino de ciências vêm crescendo nos últimos anos, e um assunto muito abordado e discutido é a utilização de trabalhos experimentais como estratégia de ensino (GIANI, 2010). No entanto, para construir uma aprendizagem significativa, a experimentação não deve limitar-se a atividades de cunho demonstrativo, ou seja, aquelas nas quais o professor executa o experimento enquanto os alunos apenas observam os fenômenos ocorridos. E nem tampouco, servir apenas para verificação, visto que, essas, têm como finalidade apenas a verificação ou confirmação de alguma lei ou teoria já formulada. As atividades experimentais devem potencializar o educando para construir um conhecimento significativo e não mera memorização e ou reprodução de conceitos. Entretanto, numa visão construtivista, a aprendizagem significativa requer a participação 2 dos alunos na construção do conhecimento. E neste aspecto, é importante que no ensino de química e biologia haja a experimentação, não uma experimentação como um receituário que empobrece a atividade científica, mas sim, partindo-se de uma situação- problema, onde seja possível a construção de hipóteses que instiguem à investigação. Assim, as atividades experimentais devem servir para proporcionar aos alunos a prática da investigação; visto que, os experimentos do tipo investigativo, bastante citados nos estudos mais recentes sobre experimentação, representam uma estratégia para permitir que os alunos ocupem uma posição mais ativa no processo de construção do conhecimento e que o professor passe a ser mediador ou facilitador desse processo. Ademais, no ensino por investigação, os alunos são colocados em situação de realizar pequenas pesquisas, combinando simultaneamente conteúdos conceituais, procedimentais e atitudinais. Numa proposta de atividade investigativa, faz-se necessário a explicitação dos conhecimentos prévios disponíveis sobre a atividade, sem os quais se torna impossível a sua realização. E nestes aspectos, o conhecimento prévio do aluno entra como ponto chave para um ensino significativo. Na essência das atividades experimentais investigativas está sua capacidade de proporcionar uma maior participação dos alunos em todas as etapas da investigação, desde a interpretação do problema a uma possível solução para ele. De fato, muitas das abordagens tradicionais de experimentação (demonstração, verificação) oferecem poucas oportunidades para que os estudantes possam analisar situações problemáticas, coletar dados, elaborar e testar hipóteses, argumentar, discutir com os pares (SUART; MARCONDES, 2008). Neste consenso, [...] se o estudante tiver a oportunidade de acompanhar e interpretar as etapas da investigação, ele possivelmente será capaz de elaborar hipóteses, testá-las e discuti-las, aprendendo sobre os fenômenos químicos estudados e os conceitos que os explicam, alcançando os objetivos de uma aula experimental, a qual privilegia o desenvolvimento de habilidades cognitivas e o raciocínio lógico. (SUART;MARCONDES, 2008, p.2). Na atividade de investigação o aluno deve projetar e identificar algo interessante a ser resolvido, mas não deve dispor de procedimentos automáticos para chegar a uma solução mais ou menos imediata; a solução, na realidade, deve requerer do aluno um processo de reflexão e tomada de decisões sobre a sequência dos passos a seguir (GIL- PEREZ ET al., 2005). O método investigativo tem, então, se revelado eficaz no desenvolvimento de aspectos fundamentais para a educação científica, tais como a possibilidade de fornecer aos alunos oportunidades para o desenvolvimento de habilidades de observação, formulação, teste, discussão, dentre outros. Devido a essa característica mais aberta, as atividades de investigação, ao contrário das tradicionais, frequentemente não fazem uso de roteiros fechados que forneçam poucas possibilidades de intervenção e ou modificação por parte dos alunos ao longo das etapas do procedimento experimental. Cabe destacar que atividades dessa natureza frequentemente exigem um tempo maior de estudo, uma vez que envolvem uma série de etapas a serem desenvolvidas pelos estudantes, desde a análise do problema, levantamento de hipóteses, preparo e execução dos procedimentos, análise e discussão dos resultados. A atividade de investigação pode ser a própria aula – ou, em alguns casos, em mais de uma aula. Acredita-se que, nessa modalidade de atividade experimental não há uma dependência direta dos conteúdos abordados previamente em aula expositiva, como se observou nas modalidades anteriores. Ao contrário os conteúdos podem ser discutidos no próprio contexto da atividade, sempre em resposta aos questionamentos dos alunos e sua busca por explicações para os fenômenos. Em geral as etapas de execução do experimento são realizadas previamente a qualquer abordagem dos conteúdos 3 correlacionados à atividade, de tal forma que os resultados não sejam totalmente previsíveis, nem as respostas fornecidas de imediato pelo professor. Somente dessa forma os alunos serão de fato instigados a refletir, questionar, argumentar sobre os fenômenos e conteúdos científicos. O papel do professor neste tipo de atividade é também bem distinto daqueles abordados anteriormente. Sua função é essencialmente auxiliar os alunos na busca das explicações causais, negociar estratégias para busca das soluções para o problema, questionar as ideias dos alunos, incentivar a criatividade epistêmica em todas as etapas da atividade, ou seja, ser um mediador entre o grupo e a tarefa, intervindo nos momentos em que há indecisão, falta de clareza ou consenso. Apesar de demandar mais tempo e exigir mais atenção e auxíliodo professor, essa forma de organização da atividade experimental captura a atenção dos alunos e melhora seu envolvimento com a mesma (BORGES, 2002). A utilização de experimentos como ponto de partida, para desenvolver a compreensão de conceitos, é uma forma de levar o aluno a participar de seu processo de aprendizagem. O aluno deve sair de uma postura passiva e começar a perceber e a agir sobre seu objeto de estudo, tecendo relações entre os acontecimentos do experimento para chegar a uma explicação causal acerca dos resultados de suas ações ou interações (CARVALHO ET al., 1995). Dessa forma, para que a atividade experimental possa ser considerada uma atividade investigativa, o aluno não deve ter uma ação limitada à simples observação ou manipulação de materiais, mas, sobretudo, deve conter características de um trabalho científico. Segundo os dizeres de Carvalho et al., “a resolução de um problema pela experimentação deve envolver também reflexões, relatos, discussões, ponderações e explicações características de uma investigação científica” (CARVALHO et al., 1998: 35). A aprendizagem de procedimentos e atitudes torna-se dentro do processo de aprendizagem, tão importante quanto à aprendizagem de conceitos. Para Lewin e Lomascólo: A situação de formular hipóteses, preparar experiências, realizá-las, recolher dados, analisar resultados, quer dizer, encarar trabalhos de laboratório como ‘projetos de investigação’ favorece fortemente a motivação dos estudantes, fazendo-os adquirir atitudes, tais como curiosidade, desejo de experimentar, acostumar-se a duvidar de certas afirmações, a confrontar resultados, a obterem profundas mudanças conceituais, metodológicas e atitudinais (LEWIN; LOMASCÓLO, 1998:148). As atividades investigativas possibilitam a percepção que o conhecimento científico se dá por meio de um processo dinâmico e aberto que convida o aluno a participar da construção do próprio conhecimento. Gil e Castro (1996) descrevem alguns aspectos importantes da atividade científica que podem ser explorados em uma atividade experimental de investigação, são eles: Apresentar situações problemáticas abertas; Favorecer a reflexão dos estudantes sobre a relevância e o possível interesse das situações propostas; Potencializar análises qualitativas, significativas, que ajudem a compreender e acatar as situações planejadas e a formular perguntas operativas sobre o que se busca; Considerar a elaboração de hipóteses como atividade central de investigação científica, sendo este processo capaz de orientar o tratamento das situações e de fazer explícitas as pré-concepções dos estudantes; Considerar as análises, com atenção para os resultados (sua interpretação física, confiabilidade, etc.), a partir dos conhecimentos disponíveis, das hipóteses manejadas e dos resultados das demais equipes de estudantes; Conceder uma importância especial a memórias científicas que reflitam o trabalho realizado e possam ressaltar o papel da comunicação e do debate na 4 atividade científica; Ressaltar a dimensão coletiva do trabalho científico, por intermédio de grupos de trabalho, que interajam entre si. Deve ficar evidente na análise feita sobre o papel da experimentação a mudança de atitude que esta metodologia proporciona tanto ao aluno quanto à prática do professor. O aluno deixa de ser apenas um observador das aulas, geralmente, expositivas, e passa a argumentar, pensar, agir, interferir e a questionar. Para que as atividades realizadas em sala possam ser chamadas de experimentais e investigativas o aluno deve ser levado a participar da formulação de hipóteses acerca de um problema proposto pelo professor e da análise dos resultados obtidos. Para tanto, o professor que propuser uma atividade investigativa deve, além de saber o assunto que está ensinando, tornar-se um professor questionador, argumentador e desafiador, orientando o processo de ensino. Nestes aspectos, as atividades experimentais devem ser garantidas de maneira a evitar que a relação teoria-prática seja transformada numa dicotomia; destacando que as experiências despertam em geral um grande interesse nos alunos, além de propiciar uma situação de investigação, uma vez que: quando planejadas levando em conta estes fatores, elas constituem momentos particularmente ricos no processo de ensino- aprendizagem. OBJETIVO Demonstrar através de uma discussão baseada em autores a importância das atividades experimentais no ensino de química e biologia levando em consideração o conhecimento prévio do aluno. METODOLOGIA O presente projeto é classificado como pesquisa bibliográfica. Sustenta-se em pesquisas e publicações já existentes sobre a temática abordada. RESULTADOS E DISCUSSÕES Com as aulas práticas experimentais espera-se que o aluno construa um conhecimento significativo e não mera memorização, o que na verdade não é construção de conhecimento e sim, uma simples reprodução de conceitos, sem valor construtivo. Pois, segundo as propostas ‘construtivistas’, uma aprendizagem significativa requer a participação e a tomada de decisão dos alunos na construção do conhecimento. As atividades experimentais podem ser planejadas e executadas com diversos objetivos. Em consequência disso, podem proporcionar diversificadas e importantes contribuições no ensino e aprendizagem de ciências, em especial no de química e biologia. Segundo Carvalho e colaboradores (2005), os fatos e os conceitos se constituem em apenas um dos conteúdos a serem trabalhados e – tão importante quanto – outros tipos de saberes (conceitual, procedimental, atitudinal) também podem ser favorecidos. Nessa premissa, algumas, das inúmeras contribuições que as atividades experimentais podem propiciar ao ensino e aprendizagem de ciências, em especial de química e biologia, são citadas e discutidas dentro da perspectiva de que ambas são fundamentais 5 para a concretização de um ensino significativo e consequentemente uma melhor fixação do conhecimento na estrutura cognitiva do aluno, favorecendo a construção do saber. Para motivar e despertar a atenção dos alunos: De forma geral, tanto alunos quanto professores costumam atribuir às atividades experimentais um caráter motivador (GIORDAN, 1999). Nessa perspectiva, sem sombra de dúvidas, a motivação dará uma contribuição importante para favorecer a aprendizagem, pois, através dela, será possível despertar a atenção dos alunos, em especial daqueles mais dispersos na aula. Isso os levará a se envolver com as atividades, tornando-os, mais inteirados e participativos e desta forma, haverá um estímulo para compreender os conteúdos trabalhados naquela atividade experimental. Muito embora, esse aspecto das atividades experimentais seja bastante questionado por alguns pesquisadores (GONÇALVES MARQUES, 2006). Pois, segundo Hodson (1994) as atividades práticas não são vistas de forma positiva por todos os alunos. Para exemplificar, o autor destaca que, em geral, os meninos sentem-se mais seguros que as meninas para manipular os materiais do experimento e, além disso, o entusiasmo por tais atividades reduz com o passar dos anos. Entende-se também que o simples fato do uso de uma atividade experimental não garante que toda a turma ficará envolvida, especialmente em abordagens demonstrativas. Diante desta constatação, é preferível que o professor use estratégias que mantenham a atenção dos alunos focada sobre a atividade proposta, tais como a solicitação de registros escritos dos fenômenos observados, questionamentos realizados no decorrer do experimento e, sempre que possível, estimular os próprios alunos a participem de várias etapas da atividade. Uma alternativa mais indicada para solucionar tal problema ou pelo menos minimizá-lo, é fazer uso de atividade experimental de cunho investigativo. Para desenvolver a capacidade de trabalhar em grupo: È comum na escola os alunos trabalharem de forma isolada. A principalforma de interação é aluno-professor, a atividade em grupo é uma estratégia de ensino que promove a socialização dos alunos, levando-os a situações nas quais necessitam aprender a ouvir e respeitar a opinião dos colegas, a repensar ou renunciar às próprias ideias, ou ainda a colocar os objetivos pessoais em segundo plano (GALIAZZI; GONÇALVES, 2004). Entende-se, também, que na discussão com seus colegas ou grupo há um aguçamento que propicia o desenvolvimento lógico e favorece a prática de se falar em público e consequentemente de se expressar coerentemente. Nos trabalhos experimentais, especialmente naqueles em que os alunos desenvolvem em grupo as atividades propostas, uma série de habilidades e competências são favorecidas: divisão de tarefas, responsabilidade individual e com o grupo, negociação de ideias e diretrizes para a solução dos problemas. No entanto, Carvalho e colaboradores (2005) ressaltam que não basta reunir os alunos e aguardar que todos esses eventos ocorram naturalmente. É necessário possui conhecimento para planejar e desenvolver as atividades em grupo como também, observar seu andamento durante a aula. Outro aspecto importante, é que o professor combine previamente as regras de convivência, a necessidade de respeitar as opiniões do colega e de garantir que todos tenham oportunidade de participar na execução do experimento. Para desenvolver a iniciativa pessoal e a tomada de decisão: Um dos mais antigos problemas do ensino de ciências é a inércia dos alunos. As aulas tradicionais geralmente os mantêm inativos em termos físicos e intelectualmente. Mesmo quando lidam com materiais, espécimes e instrumentos, se a aula não lhes garantir liberdade de expressão, corre o risco de se manterem inertes do ponto de vista mental. Isso, porque, o aprendizado de ciências não requer somente habilidade de observação e manipulação, exige também especulação e formação de ideias próprias (KRASILCHIK, 1987). È importante colocá-los a pesquisar e propor hipóteses para a solução de problemas ou a pensar e fornecer explicações para os fenômenos observados nos 6 experimentos. Assim, os alunos serão estimulados a tomar decisões e expressar suas ideias para outras pessoas (GALIAZZI; GONÇALVES, 2004). Tais situações, oportunizadas pelas atividades experimentais, são de extrema importância para a formação social dos estudantes e fornecem-lhes uma base para enfrentar novas situações nas quais necessitem tomar iniciativas, dentro ou fora da escola. Borges (2002) destaca ainda que mesmo que a ideias manifestadas pelos alunos não sejam coerentes e o professor necessite corrigi-las, é essencial que suas iniciativas sejam elogiadas e, assim, cada vez mais estimuladas. É necessário que o professor enfatize também a importância de conhecer tais ideias para poder ajudá-los. Ou seja, quando o professor esclarece rapidamente as finalidades de seus questionamentos, os alunos percebem que não se trata de uma forma de avaliação oral – classificatória e punitiva como frequentemente ocorre no ensino tradicional – e, com isso, sentem-se mais livres para falar o que realmente pensam. Para estimular a criatividade: As atividades experimentais favorece a criatividade dos alunos das mais diversas formas: solicitando que os alunos pesquisem experimentos que considerem interessantes e justifiquem suas escolhas; estimulando-os a pensar em possíveis substituições nos materiais empregados no experimento, explicado suas justificativas para tal; colocando-os tanto para executar quanto para auxiliar na montagem do experimento; instigando-os a pensar antes da execução do experimento sobre os possíveis resultados a serem obtidos; solicitando que façam desenhos ou esquemas que representem a atividade experimental (BORGES, 2002; GASPAR, 2003; CARVALHO et al., 2005). Ademais, quanto mais os alunos estiverem envolvidos com as diversas etapas da atividade experimental, mais terão sua criatividade estimulada. Para aprimorar a capacidade de observação e registro de informações: As atividades experimentais exigem dos alunos uma atenção minuciosa sobre os fenômenos ocorridos durante o experimento, ampliando assim, sua capacidade de observação, que é fundamental para compreender todas as etapas da atividade proposta e consequentemente, melhora sua concentração. Entretanto, uma das maneiras de estimular ainda mais o aperfeiçoamento de tais habilidades são através da solicitação aos alunos de registros escritos sobre os eventos ocorridos durante a atividade (CARVALHO et al., 2005 ). Considerando tais aspectos, os relatórios de atividades experimentais – corriqueiros no ensino superior – também podem servir ao ensino fundamental e médio como instrumento de aprendizagem de diversos saberes: propiciam possivelmente o primeiro contato dos alunos com textos científicos, com sua estrutura e linguagem característica; favorecem a realização de pesquisas bibliográficas (CUNHA et al., 2005); estimulam a comunicação e memória científica (BIASOTO; CARVALHO, 2007); desenvolvem a capacidade de organização das informações na forma de gráficos, tabelas, equações químicas (BRASIL, 1999); aprimoram a capacidade de relacionar dados obtidos com os conceitos científicos conhecidos. Algumas iniciativas dessa natureza que vêm sendo aplicadas em atividades experimentais no ensino fundamental e médio revelaram que, além de uma aceitação plena por parte dos alunos, a produção de textos escritos na forma de relatórios contribui para a apropriação de conceitos (DIAS DE SOUZA; ARROIO, 2007). Assim, uma consideração importante a ser feita é que o desenvolvimento da escrita científica não se dá de forma rápida ou espontânea, sendo primeiramente necessário o fornecimento de informações sobre as características de textos científicos, como por exemplo, um modelo de relatório. É necessário frisar que embora não se deva, no ensino fundamental e médio, valorizar-se demasiadamente a padronização rígida de um relatório de laboratório – afinal sua função é pedagógica e não profissionalizante –, o não fornecimento de algumas instruções básicas deixa os alunos inseguros e dispersos quanto à melhor forma de apresentar e discutir suas observações experimentais. 7 No entanto, para que os alunos consigam elaborar bem seus relatórios – ou qualquer outra forma de registro do experimento – é essencial que eles façam relatos escritos dos eventos ocorridos na atividade, suas observações e interpretações, bem como, explicações do professor. Nesta perspectiva, torna se imprescindível que tenham em mãos uma série de informações para de fato trabalharem no texto científico. Também é importante que sejam fornecidas algumas instruções aos alunos sobre como e o que devem anotar durante a atividade experimental. Para aprender a analisar dados e propor hipóteses para os fenômenos: O pensamento lógico para interligar as informações teóricas e os fenômenos observados experimentalmente, a capacidade de propor explicações coerentes para os resultados obtidos à luz do conhecimento científico são habilidades que dificilmente são desenvolvidas nos alunos em estratégias de ensino tradicionais. Diante disso, cabe ao professor organizar e apresentar todas as informações sobre os fatos e conceitos em questão. Nesse sentido, as aulas experimentais podem estimular os alunos a observar, refletir, analisar e propor hipóteses para suas observações, bem como rever o que pensam sobre um determinado fenômeno (BIASOTO; CARVALHO, 2007). A demonstração escrita sobre os eventos ocorridos durante a atividade, dos dados obtidos e das possíveis explicações para eles também contribuem para aprimorar tais habilidades. Para aprender conceitos científicos: As aulas experimentais devem ser empregadas como estratégia de ensino complementar a aula expositiva – como é o caso das atividades de verificação –, relembrando conceitos, confirmando fatos científicos estudados no plano teórico, o que contribui paraa aprendizagem (ARAÚJO; ABIB, 2003). Embora esse emprego não seja bem visto por alguns pesquisadores, para outros, os alunos conseguem, de fato, melhorar a aprendizagem de conceitos científicos através das atividades experimentais. A aula experimental deve constituir um espaço para construção de novos conhecimentos e, por esse motivo, nem sempre deve estar “presas” à abordagem expositiva prévia do conteúdo. Durante a própria aula experimental os conceitos podem ser introduzidos, servindo como respostas aos problemas que surgem durante o experimento, aos questionamentos realizados pelos alunos, à identificação de concepções alternativas existentes em relação ao tema em foco. Para detectar e corrigir erros conceituais dos alunos: Pelas tradicionais estratégias de ensino em sala de aula, o professor constantemente só tem conhecimento dos erros conceituais dos alunos após a etapa de aplicação de testes (avaliação formal). Assim, mesmo que o professor retome o conteúdo para debater as dúvidas ou incoerências conceituais apresentadas pelos alunos, o ideal é que tais erros sejam corrigidos no momento que surgiram ou o quanto antes. Para atingir esse objetivo, durante as aulas experimentais o professor pode constantemente solicitar aos alunos explicações (prévias ou posteriores ao experimento) e, com isso, detectar erros conceituais e concepções alternativas (CARVALHO et al., 2005). Os registros escritos das atividades, sejam eles na forma de relatórios ou não, também lhes fornecem tais informações. Portanto, é necessário que os textos dos alunos sejam autênticos. Por isso, em atividades experimentais na escola deve-se tomar cuidado para não supervalorizar apenas os resultados “corretos”, pois os alunos podem se sentir pressionados a fazer com que sua experiência produza o resultado previsto pela teoria, ou que alguma regularidade deva ser encontrada. Quando eles não obtêm a resposta esperada, ficam desconcertados com seu erro e, se perceberem que esse resultado pode afetar suas notas, podem intencionalmente modificar suas observações e seus registros escritos para apresentar ao professor somente as respostas certas. Segundo Borges (2002), o desprezo ao experimento que “não deu certo” faz com que suas causas não 8 sejam investigadas e, com isso, uma situação potencialmente valiosa de aprendizagem se perde. Portanto, os erros dos alunos quase sempre expressam seus pensamentos e seus sistemas de referências e conceitos, para eles, bastante coerentes. Assim, mais importante que se apressar em corrigir o erro, é entender melhor porque os alunos erraram, buscando compreender o pensamento do aluno e solicitando explicações sobre os procedimentos adotados e sua forma de entendê-los. Colocando-o em situações de conflitos de ideias e dando-lhes novos conhecimentos, criam-se condições para que o próprio aluno compreenda o erro, ou ainda para que o professor reveja alguns conceitos inadequados. Para compreender a natureza da ciência e o papel do cientista em uma investigação: Apesar de que se deva deixar claro que as atividades experimentais realizadas na escola têm funções bem distintas daquelas realizadas nas universidades e centros de pesquisa, é necessário discutir com os alunos aspectos relacionados à natureza da ciência, evitando que eles tenham algumas visões distorcidas da construção do conhecimento científico. Aconselha-se que o professor destaque, por exemplo, que as observações científicas não são puras ou desprovidas de quaisquer ideias teóricas do observador, ou ainda que, não existe um único caminho para a resolução de um problema. Na realidade, há décadas é comumente questionada a ideia de que as descobertas resultam de um único processo ou de um conjunto rígido de etapas. Mesmo que, os cientistas utilizem métodos, isso não significa que haja um método científico que determine exatamente como fazer para produzir conhecimento (BORGES, 2002). Assim, discussões dessa natureza podem ser fomentadas durante as atividades experimentais, as quais podem proporcionar também excelentes oportunidades para que os estudantes testem suas próprias hipóteses sobre fenômenos particulares, para que planejem suas ações e as executem de forma a produzir resultados plausíveis e de confiança. Para compreender as relações entre ciência, tecnologia e sociedade: Um problema observado no ensino de ciências é a falta de vínculo com a realidade dos alunos. Essa limitação contribui, muitas vezes, para que a disciplina se torne irrelevante e sem significado, pois não se baseia no conhecimento que os alunos trazem de forma intuitiva e não é atrelada a seu universo de interesses (KRASILCHIK, 1987). Um dos grandes benefícios das atividades experimentais é a possibilidade de, através delas, discutir como a ciência está relacionada à tecnologia presente no dia-a-dia dos alunos, as relações sociais associadas à produção do conhecimento científico, as implicações ambientais decorrentes da atividade científica, dentre muitas outras formas de se estabelecer uma importante ponte entre os conceitos científicos em destaque e o cotidiano dos alunos (GONÇALVES; MARQUES, 2006). O entendimento dessas relações é de fundamental importância para que os alunos vejam a ciência como algo mais próximo de sua realidade, contribuindo para despertar seu interesse em temas relacionados à ciência e para a formação de uma visão menos ingênua e distorcida de como a ciência é construída, além de conscientizá-los sobre seu papel na sociedade ou ainda estimulá-los a adotar atitudes críticas diante dos problemas sociais e ambientais da atualidade. Para aprimorar habilidades manipulativas: Mesmo que seja um ponto controverso entre os pesquisadores da área de educação, não há como negar que as atividades experimentais, mesmo sem intenção direta, contribuem para esse aspecto. Alguns estudantes não se sentem seguros na execução de experimentos devido ao medo de errarem nos procedimentos empregados. Essa insegurança, que certamente atrapalha no bom aproveitamento das atividades experimentais, só pode ser vencida à medida que eles desenvolvem suas habilidades de manipular objetos e familiarizam-se com os procedimentos típicos dos experimentos. De fato, ao montar sistemas experimentais, 9 mesmo os mais simples, manipular os materiais empregados nos experimentos, ou eventualmente operarem equipamentos, os alunos aprimoram múltiplos saberes procedimentais, o que, segundo alguns pesquisadores, é fundamental para sua formação, especialmente na sociedade atual, cada vez mais cercada pela ciência e tecnologia (GASPAR, 2003). Diante dessas contribuições e discussões, fica notável que o papel do professor é de enorme importância, sua missão é criar um ambiente que seja propício à assimilação do saber, servindo de facilitador no processo de ensino e aprendizado. A aprendizagem significativa pode ser a condição essencial para alcançar esse objetivo, garantindo ao aluno a versatilidade de agir autonomamente em diferentes contextos. A teoria da aprendizagem significativa é uma abordagem cognitivista da construção do conhecimento. Segundo David Ausubel (apud Moreira, 2006). “é um processo pelo qual uma nova informação se relaciona, de maneira substantiva (não literal) e não arbitrária, a um aspecto relevante da estrutura cognitiva do individuo” (p. 14). A ideia parece muito simples. Se a pretensão do educador é ensinar significativamente, basta que este avalie o que o aluno já sabe e então ensine de acordo com esses conhecimentos. Portanto, o fator isolado mais importante, segundo Ausubel (apud Moreira, 2006), que influencia na aprendizagem significativa, é aquilo que o aluno já sabe. No entanto, as pesquisas mostram e propõe que a experimentação deve ser planejada com objetivos bem definidos e que, visto que há três tipos básicos de experimentação: (observação, verificação e investigação), o professor deve ter conhecimento de ambas e, em termos de objetivarconstruir um conhecimento significativo, o mesmo precisa partir do conhecimento prévio do aluno e a partir daí, colocá-lo em situação de investigação através de uma situação problema. Nessa premissa, entende-se que, as atividades experimentais no ensino de química e biologia devem, além de serem do tipo investigativo, precisam ser planejadas a partir do conhecimento que aluno possui antes mesmo de chegar à escola ou aquele que adquiriu em estudos anteriores. Porque, "Ensinar sem levar em conta o que a criança já sabe, segundo Ausubel, é um esforço vão, pois o novo conhecimento não tem onde se ancorar". Neste entendimento, é necessário que a aprendizagem seja construída de forma concreta. Para isto, é importante que o professor disponha de conhecimento e se não, busque-o, e possua as ferramentas necessárias para favorecer o processo de ensino. O grande problema é, talvez, a pré-disposição dos professores para proceder desta forma. Parece que os professores ainda estão muito atrelados a chamadas aulas tradicionais; quadro, livro, pincel e quando não, um vídeo ou slides “algo mais modernos” más, talvez insuficientes para despertar a atenção dos alunos e envolvê-los na situação didática do ensino significativo. Nos dias de hoje, é preciso ter a consciência de que no ambiente de ensino, precisam prevalece elementos propícios para favorecer a autoestima dos alunos. Em termos de conhecimento prévio do aluno, verifica-se que é outro problema a ser superado; pouquíssimos professores têm o hábito de planejar suas atividades levando em consideração esse fator. Pelo visto, há um problema que se perdura e talvez, difícil de solucioná-lo. Não se sabe se é conseqüência da formação docente ou pelo fato de ser trabalhoso promover aulas de cunho investigativo em consonância com o conhecimento prévio do aluno. E estes, talvez, sejam os fatores responsáveis pela desmotivação e o fracasso escolar e consequentemente o fracasso do ensino de química e biologia. Visto que o fracasso escolar é compreendido, num primeiro momento, como algo vinculado a autoestima no processo de aprendizagem, algo que inviabiliza a capacidade de um ou mais indivíduos de aprender, de acreditar e sentir-se digno de que pode apropriar-se do conhecimento. 10 CONCLUSÃO Diante dos estudos, é notável que as atividades experimentais investigativas devem constituir parte do ensino de química e biologia pelo fato de serem consideradas estratégias fundamentais de ensino. Suas contribuições serão para a superação de obstáculos na aprendizagem de conceitos científicos, não somente por propiciar interpretações, discussões e confrontos de idéias entre os estudantes, mas pela natureza investigativa. Nessa perspectiva, conseguimos entender porque um número significativo de especialistas em ensino de ciências propõe a substituição do verbalismo das aulas expositivas, e da grande maioria dos livros didáticos, por atividades experimentais (FRACALANZA et al, 1986). Considerando que a experimentação é uma alternativa para a construção da aprendizagem significativa. Ademais, quando a atividade experimental é utilizada como caráter investigativo, tem como objetivo garantir condições para que os procedimentos escolhidos e os resultados obtidos pelos alunos sejam respeitados, não sendo arbitrário ou diretivamente desqualificados. Deste modo, fica evidente a necessidade da experimentação por investigação no ensino de química e biologia e, a necessidade do professor fazer o planejamento dessas atividades levando em consideração a história do sujeito, ou seja, o conhecimento que o mesmo já possui. Isto implica diretamente no papel dos docentes. Visto que os mesmos têm papel fundamental na proposição de situações que favoreçam a construção do conhecimento; sem levar em consideração essas questões, não há garantia de que o conhecimento se construa de forma gradual e sólida e nem tampouco, de que se concretize na estrutura cognitiva dos educandos. AGRADECIMENTOS Os autores do trabalho gostariam de agradecer a CAPES, pelo financiamento deste Curso de Especialização na modalidade à distância. Ao Nosso Deus pela sua infinita bondade para conosco. Aos professores, colegas, familiares e, A SEAD/UNIVASF – Secretaria de Educação a Distância da Universidade Federal do Vale do São Francisco. REFERÊNCIAS ARAÚJO, M. S. T; ABIB, M. L. V. S. Atividades Experimentais no Ensino de Física: diferentes enfoques, diferentes finalidades. Revista Brasileira de Ensino de Física, v.25, n.2, p.176-194, 2003. BIASOTO, J. D.; CARVALHO, A. M. P. Análise de uma atividade experimental que desenvolva a argumentação dos alunos. In.: ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS, 6, Florianópolis, 2007. Anais... Florianópolis, 2007. 11 BORGES, A. T. Novos rumos para o laboratório escolar de ciências. Caderno Brasileiro de Ensino de Física, v.19, n.13, p.291-313, 2002. BRASIL. Ministério da Educação. Parâmetros Curriculares Nacionais – Ensino Médio: Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias. Brasília: MEC/SENTEC, 1999. CARVALHO, A. M. P.; GIL, D. Formação de professores de ciências: tendências e inovações.2. ed. São Paulo: Cortez / Coleção questões da nossa época, 1995. 120 p. CARVALHO, A. M. P. ; VANNUCCHI, A. I. ; BARROS, M. A. ; GONÇALVES, M. E. R. ; REY, R. C. . Ciências no Ensino Fundamental - O Conhecimento Físico. São Paulo: Editora Scipione, 1998. 200 p. CARVALHO, A. M. P. et al. Ciências no Ensino Fundamental: o conhecimento físico. São Paulo: Scipione, 2005. 199p. CUNHA, A. M. et al. Atividades experimentais: primeira etapa para uma mudança didática no ensino de ciências. In.: ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS, 5, Bauru, 2005. Anais..., Bauru, 2005. DIAS DE SOUZA, D. D.; ARROIO, A. Produção de textos de comunicação em Ciências nas aulas de Química em uma escola de Ensino Médio. 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