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GUIA COMPLETO PARA SE APROFUNDAR NO MUNDO FOTOVOLTAICO ORGANIZAÇÃO: Ezequiel Junio de Lima Gabriela dos Reis Garcia Laís Magalhães Rosa REVISÃO: Paulo Marcelo Frugis T. Pinto FORMATAÇÃO: Gabryella Alves Ferreira Amanda da Silva Wanderley © Todos os direitos reservados. Distribuição totalmente gratuita e, portanto, não pode ser usada para fins lucrativos. Essa apostila foi criada para oferecer uma maior compreensão sobre a Geração Distribuída no mercado fotovoltaico. SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO A ENERGIA SOLAR.............................................................6 FONTES DE ENERGIA ................................................................................. 6 ENERGIA SOLAR ......................................................................................... 8 SOLAR NO BRASIL..................................................................................... 11 REFERÊNCIAS ........................................................................................... 13 2. TIPOS DE SISTEMAS E APLICAÇÕES......................................................14 INTRODUÇÃO............................................................................................. 14 SISTEMAS ISOLADOS (SFI)....................................................................... 14 SISTEMAS AUTÔNOMOS SEM ARMAZENAMENTO ................................ 16 SISTEMAS CONECTADOS......................................................................... 17 SISTEMAS FOTOVOLTAICOS INTEGRADOS A EDIFICAÇÕES ............... 19 REFERÊNCIAS ........................................................................................... 20 3. SISTEMAS CONECTADOS ........................................................................21 INTRODUÇÃO............................................................................................. 21 DEFINIÇÃO DE GERAÇÃO DISTRIBUÍDA (GD)......................................... 21 MÓDULOS FOTOVOLTAICOS ................................................................... 23 INVERSORES ..............................................................................................37 CABEAMENTO.............................................................................................52 CAIXA DE CONEXÕES............................................................................... 54 TERMINAIS ................................................................................................. 55 ESTRUTURAS E TELHADOS..................................................................... 55 MONITORAMENTO..................................................................................... 57 REFERÊNCIAS ........................................................................................... 58 4 . PROTEÇÕES ELÉTRICAS ........................................................................59 INTRODUÇÃO............................................................................................. 59 DISJUNTORES ........................................................................................... 59 FUSÍVEIS .................................................................................................... 61 DISPOSITIVOS DE PROTEÇÃO CONTRA SURTOS (DPS)....................... 62 DISPOSITIVOS DE PROTEÇÃO CC........................................................... 62 STRING BOX............................................................................................... 64 DISPOSITIVOS DE PROTEÇÃO CA........................................................... 65 ATERRAMENTO / SPDA............................................................................. 65 REFERÊNCIAS ........................................................................................... 66 5. DIMENSIONAMENTO .................................................................................67 ORIENTAÇÃO E INCLINAÇÃO ................................................................... 67 SOMBRAS................................................................................................... 71 DIMENSIONAMENTO DO GERADOR FOTOVOLTAICO ........................... 74 PROJETO ELÉTRICO ................................................................................. 84 PROTEÇÃO ................................................................................................ 88 SOFTWARE DE DIMENSIONAMENTO ...................................................... 88 REFERÊNCIAS ........................................................................................... 92 6. ANÁLISE DE VIABILIDADE ECONÔMICA.................................................93 INVESTIMENTO.......................................................................................... 93 CUSTOS OPERAÇÃO E MANUTENÇÃO (O&M)........................................ 93 ANÁLISE DE INVESTIMENTOS (PAYBACK / TIR / VPL) ........................... 93 OUTROS GANHOS E BENEFÍCIOS ESPERADOS .................................... 96 INFLAÇÃO DE ENERGIA............................................................................ 96 CONTA DE ENERGIA / COMPENSAÇÃO .................................................. 98 REFERÊNCIAS ..........................................................................................100 7. REGULAMENTAÇÃO E NORMAS ...........................................................101 INTRODUÇÃO............................................................................................101 RESOLUÇÃO NORMATIVA 482/687 DA ANEEL .......................................101 PRODIST....................................................................................................103 NBR’s PARA TRABALHOS COM SISTEMAS FOTOVOLTAICOS .............104 REFERÊNCIAS ..........................................................................................107 8. OPERAÇÃO E MANUTENÇÃO (O&M).....................................................108 COMISSIONAMENTO................................................................................108 LIMPEZA ....................................................................................................111 MANUTENÇÃO PREVENTIVA/CORRETIVA .............................................112 MONITORAMENTO....................................................................................114 REFERÊNCIAS ..........................................................................................114 9. DEMAIS SISTEMAS FOTOVOLTAICOS ..................................................115 SISTEMA FOTOVOLTAICO COM BACKUP DE BATERIAS ......................115 SISTEMA HÍBRIDO ....................................................................................116 SISTEMAS FOTOVOLTAICOS ISOLADOS ...............................................118 REFERÊNCIAS ..........................................................................................121 10. SEGURANÇA DO TRABALHO...............................................................122 NR 10 .........................................................................................................122 NR 35 .........................................................................................................123 REFERÊNCIAS ..........................................................................................124 ANEXO 1 - BATERIAS..................................................................................125 INTRODUÇÃO............................................................................................125 POSICIONAMENTO DAS BATERIAS ........................................................127 PERIGOS ...................................................................................................128 BATERIAS RECARREGÁVEIS ..................................................................128 REFERÊNCIAS ..........................................................................................130 6 1. INTRODUÇÃO A ENERGIASOLAR FONTES DE ENERGIA As fontes de energia são adquiridas através de recursos ambientais ou até mesmo artificiais, sejam eles renováveis ou não. Com o aumento da demanda de energia pela população, os países estão buscando novas formas de ampliar a sua infraestrutura energética, procurando recursos capazes de gerarem energia e além disso os que causam menos impactos ambientais. As principais formas de fonte de energia estão descritas na sequência. ENERGIA EÓLICA Nesse processo, o vento é usado para gerar energia mecânica e elétrica. O processo funciona com o movimento das pás da turbina eólica provocado pelo vento, e assim é girado um eixo que é ligado a um gerador gerando eletricidade. Sendo as turbinas eólicas máquinas mecânicas que transformam a energia cinética do vento em energia mecânica e então em energia elétrica, podem ser instaladas sobre a terra ou no mar, conseguindo gerar de alguns quilowatts a dezenas de megawatts de energia elétrica. Elas podem ser classificadas como de eixo horizontal e de eixo vertical. As maiores turbinas eólicas possuem maior eficiência e são usadas em parques eólicos para fornecer grandes quantidades de energia. Com a oportunidade de aumentar a potência fornecida, as turbinas estão sendo mais instaladas nas costas marítimas, onde este tipo de instalação é chamado de offshore. No entanto, existem turbinas de pequeno porte que geralmente são usadas em residências, telecomunicações ou bombeamento de água e também podem ser utilizadas com outras formas de energia renovável, como solar fotovoltaica, termogeração a diesel ou gás natural em redes elétricas de pequeno porte. (MOREIRA, 2017) ENERGIA QUÍMICA É obtida através da liberação da energia entre os átomos das moléculas. Os principais materiais para fornecer essa energia são os hidrocarbonetos oriundos do petróleo, como exemplo a gasolina, o gás liquefeito de petróleo, os óleos combustíveis e o gás natural. Além de outros processos para obter energia elétrica ou outra forma de energia útil, podemos citar a biomassa que utiliza a decomposição de materiais orgânicos, como por exemplo resíduos agrícolas, esterco, restos de alimentos, gerando o gás metano usados para gerar energia. (MOREIRA, 2017) 7 Combustíveis fósseis O processo de obtenção de energia através dos combustíveis fósseis não é renovável, além disso a sua produção tem como consequência um grande impacto ambiental. O método pode utilizar da combustão, na qual interfere no efeito estufa. Como exemplo de combustíveis fósseis podemos citar o carvão ( mineral, negro, metalúrgico e comercial solid fuel) e os derivados do petróleo, como o gás liquefeito de petróleo (GLP), gasolina automotiva, querosene de aviação, óleo diesel, óleo bunker, óleo combustível industrial, gás natural, gás de folhelho. (MOREIRA,2017) Biomassa Como já citado, a produção de energia através da biomassa consiste da matéria orgânica, sendo ela animal ou vegetal. O processo também utiliza de forma indireta a energia solar. No caso, a transformação da energia solar em energia química é obtida pelo processo da fotossíntese. Além da biomassa ser um processo renovável, outra vantagem é o seu aproveitamento ser obtido através de combustão em fornos, caldeiras, entre outros. Para diminuir os impactos socioambientais, tecnologias como a gaseificação e a pirólise para conversão estão sendo desenvolvidas. (ANEEL,2002) ENERGIA ELÉTRICA A energia elétrica pode ser gerada a partir de outros processos, como o eólico, solar entre outros. Por ser de extrema importância para a sociedade a maioria dos processos procuram a sua geração, pois a iluminação de ruas e casas, eletrodomésticos, ar condicionado, acionamento industrial, entre outros dependem da eletricidade para funcionar. Existem diversas fontes para se obter a eletricidade, as principais são usinas hidrelétricas, termelétricas e nucleares, geradores eólicos, os painéis fotovoltaicos e células de combustíveis. As usinas hidrelétricas são mais usadas no Brasil, pelo grande índice de rios. Ela é gerada através do represamento de água, e sua queda provoca o movimento das turbinas que fazem um gerador elétrico funcionar. Apesar de causar impactos ambientais na sua instalação (pode acontecer desvios de rios, morte de peixes entre outros problemas), ela ainda é considerada limpa depois da sua instalação. (MOREIRA, 2017) ENERGIA TÉRMICA As fontes de energia térmica utilizam o calor provindo de radiação térmica ou de energia interna. Podemos citar dentro da térmica a energia geotérmica. Seu processo aproveita-se do calor da crosta terrestre para movimentar as turbinas. São localizadas perto de locais que possuem formação geológica vulcânica. Além da geotérmica, existe também as termelétricas que consiste na geração de vapor 8 para produzir energia, as principais são as nucleares, a gás, a carvão e a biomassa. (MOREIRA, 2017) ENERGIA MECÂNICA Consiste na manipulação de energia potencial ou cinética. A energia mecânica é comumente usada em moinhos, rodas d'água e nos eixos de motores. Uma das principais aplicações é na energia de marés, nas usinas de maremotriz e na ondomotriz, que beneficia da energia potencial proveniente dos movimentos periódicos da água, além disso, as usinas de maremotriz aproveitam da energia cinética através dos movimentos dos mares. (MOREIRA, 2017) ENERGIA SOLAR A fonte da energia solar é a radiação emitida pelo sol (raios solares). Ela pode ser utilizada para o aquecimento de água, com coletores solares de alta e baixa eficiência, ou então para gerar energia elétrica utilizando, por exemplo, os painéis solares. Esse tipo de energia, futuramente, pode representar boa parte da matriz energética, por ser uma das principais formas de energia renovável e inesgotável. (MOREIRA, 2017) ENERGIA SOLAR Dentre as fontes de energia citadas no tópico anterior, a maioria só acontece porque existe a energia solar. Observa-se, por exemplo, que é devido ao aquecimento das massas de ar pelo sol que acontecem os ventos, dando origem a energia eólica. A energia solar produzida pelos raios solares em um ano consegue atender mais que a demanda que a população precisa, porém, boa parte dessa energia não é aproveitada. Os modos de conseguir um melhor aproveitamento da energia solar podem ser divididas em cinco formas: (a) solar passiva, na qual podemos citar a arquitetura bioclimática que consiste em se beneficiar da energia solar por intermédio de edificações; (b) solar ativa, na qual pode ocorrer o processo de refrigeração ou aquecimento de um certo processo por meio da energia solar, como por exemplo funcionamento do ar condicionado; (c) solar fotovoltaica, consiste na aplicação de placas fotovoltaicas para a geração de energia elétrica; (d) geração de energia elétrica a partir de concentradores solares térmicos para altas temperaturas; (e) e por último o método que utiliza “um reator alimentado por dióxido de carbono (CO2), água e metal ou óxido metálico, exposto à radiação solar, onde produz-se hidrogênio, oxigênio e monóxido de carbono (PINHO; GALDINO, 2014). Diante do exposto, podemos resumir os processos como sendo energia solar térmica e energia solar fotovoltaica. 9 ENERGIA SOLAR TÉRMICA A energia solar térmica consiste no aproveitamento da energia solar na forma de calor, possibilitando o aquecimento de água para usos domésticos e industriais. Para obter o calor vindo dos raios solares, utilizamos os denominados coletores solares que também possuem a função de aquecer fluidos, sejam eles líquidos ou gasosos. Os coletores podem ser classificados como coletores planos ou concentradores. Os coletores denominados como coletores planos são geralmente usados em residências ou em qualquer lugar que precisa de baixa temperatura, aproximadamente 60°C, reduzindo o consumode energia elétrica ou até mesmo de gás, conforme ilustrado na Figura 1. Já os coletores concentradores trabalham com temperaturas elevadas (superiores a 100°C), aplicados em usinas para ligar turbinas e geração de eletricidade (PINHO; GALDINO, 2014). Figura 1 - Sistema de aquecimento Solar Residencial típico Existem também os coletores a vácuo que são classificados como coletores planos, o seu absorvedor tem o formato tubular e é inserido dentro de um tubo transparente, o vácuo formado entre o absorvedor e tubo tem a função de isolamento térmico. (MOREIRA,2017) 10 Figura 2- Coletor a vácuo Diferente do processo fotovoltaico, a energia solar térmica possui maior facilidade de armazenar calor para horários sem incidência do sol. Além disso, conseguem uma maior conversão de energia e possibilita a inclusão de outras aplicações que necessitam de energia térmica. (RONILSON DI SOUZA, 2017) Figura 3 - Sistema de Geração de Energia através de Concentradores Solares. Fonte.: http://www.unistmo.edu.mx/~laboptica/concentrador.html Existe ainda a energia térmica passiva, como exemplo a arquitetura bioclimática, onde seu objetivo, como já dito antes, é relacionar as características do ambiente onde serão instalados os equipamentos com o projeto arquitetônico e urbanista, como a altura do teto, o controle da incidência da luz solar através da construção, além da escolha de materiais adequados para a construção (PINHO; GALDINO, 2014). ENERGIA FOTOVOLTAICA Na energia fotovoltaica a energia é obtida através da conversão dos raios solares em eletricidade. O processo consiste no surgimento de uma diferença de potencial nos extremos de um semicondutor quando submetido a luz visível. Uns dos principais componentes do sistema é a célula fotovoltaica, que possui um material semicondutor sendo a peça essencial no processo. A célula pode ser produzida de diversos materiais, sendo os mais comuns no mercado o 11 silício monocristalino e o silício policristalino. Além destes podemos encontrar células de silício amorfo, disseleneto de cobre e índio, disseleneto de cobre, índio e gálio e telureto de cádmio, sendo estes últimos chamados de filmes finos. Além dos materiais citados acima, ainda temos alguns grupos que estão em fase de testes, chamados de célula fotovoltaica multijunção e célula fotovoltaica para concentração (CPV – Concentrated Photovoltaics), células sensibilizadas por corante (DSSC – Dye-Sensitized Solar Cell) e células orgânicas ou poliméricas (OPV – Organic Photovoltaics) (PINHO; GALDINO, 2014). Algumas vantagens de se utilizar o sistema fotovoltaico residem no fato de ser uma fonte de energia renovável e totalmente limpa, além de que a placa fotovoltaica pode ser instalada como decoração e/ou substituindo telhados. No entanto, os custos dos equipamentos são mais elevados que os convencionais e, em determinadas regiões, a energia solar varia, além de ser afetada por condições climatológicas. (RONILSON DI SOUZA, 2017) SOLAR NO BRASIL No Brasil, os índices de incidência de raios solares são altos e o país dispõe de uma grande quantidade de quartzo, no entanto, o índice de geração de energia através da energia solar não é alto. De acordo com o MME (2017), o Brasil possuía, ao final de 2016, 81 MWp de energia solar fotovoltaica instalados, o que representava cerca de 0,05% da capacidade instalada total no país. Do total de 81 MWp existentes em 2016, 24 MWp correspondiam à geração centralizada e 57 MWp à geração distribuída. A nova edição do Atlas Solarimétrico Brasileiro (INPE, 2017) traz a seguinte análise do Brasil: “(...) possui alto nível e baixa variabilidade da irradiação solar do país em comparação, por exemplo, com o que se observa em países onde essa tecnologia já está bem estabelecida, como Alemanha, Espanha, Itália, Portugal e França. A Figura 4 compara a variabilidade da irradiação global horizontal média mensal nas cinco regiões brasileiras com esses países. A comparação é feita na forma de box plot, com as caixas representando 50% dos valores, as linhas verticais os valores máximos e mínimos e os losangos vermelhos as médias. Conclui se que o Brasil apresenta níveis bastante elevados de irradiação solar com uma variabilidade mensal muito mais baixa, indicada pela altura das caixas. A região Nordeste do Brasil supera até mesmo os países ibéricos em termos de irradiação solar média mensal, com a característica de possuir uma variabilidade mensal bem inferior. A região Sul apresenta características mais similares às encontradas nesses países europeus, particularmente no que se refere a variabilidade mensal, já que se encontra em latitudes mais altas e, portanto, com maiores diferenças na duração do dia entre as estações do ano. (...)” 12 Figura 4. Comparativo das médias mensais da irradiação global horizontal no Brasil e em alguns países da Europa (kWh/m2.dia). As caixas indicam 50% de probabilidade e as linhas os máximos e mínimos valores encontrados. Fonte: Atlas Solarimétrico do Brasil 2a Edição, 2017. Na Figura 5, temos o mapa da média anual de irradiação solar diária já plano inclinado de acordo com a latitude local. Pode-se perceber que os estados de Minas Gerais, Goiás, Tocantins e boa parte do Nordeste recebem os maiores índices de incidência da luz solar. Figura 5. Irradiação Solar no Brasil. Fonte: Atlas Solarimetro do Brasil 2a Edição, 2017. 13 Segundo a ABSOLAR (Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica), o Brasil entrou em 2018 com quase 1,1 gigawatts em instalações fotovoltaicas, o que representou um crescimento 1.358% (um mil, trezentos e cinquenta e oito por cento) frente aos apenas 81 megawatts ao final de 2016. Mais precisamente, segundo a ANEEL, 935 MW em geração centralizada e 161 MW em geração distribuída. Ultrapassar o patamar de 1GW instalado foi alcançado por apenas 30 países no mundo, disse em nota a ABSOLAR. REFERÊNCIAS [1] INPE. Enio Bueno Pereira. INPE/CCST/LABREN. Atlas brasileiro de energia solar. 2. ed. São José dos Campos: INPE, 2017. 88 p. Disponível em: <http://labren.ccst.inpe.br/atlas_2017.html>. Acesso em: 3 nov. 2017. [2] BRASIL. Rodrigo Lima Nascimento. Consultoria Legislativa. Energia solar no Brasil: Situação e Perspectivas. Brasília: Estudo Técnico, 2017. IDEAL INSTITUTO. Potencial solar no Brasil. 2017. Disponível em: <http://americadosol.org/potencial-solar-no-brasil/#toggle-id-1>. Acesso em: 12 jun. 2017. [3] MOREIRA, José Roberto Simões (Org.). Energias renováveis, geração distribuída e eficiência energética. Rio de Janeiro: Ltc, 2017. [4] PINHO, João Tavares; GALDINO, Marco Antonio (Org.). Manual de Engenharia para Sistemas Fotovoltaicos. Rio de Janeiro: Cepel-cresesb, 2014. [5] RONILSON DI SOUZA. Bluesol Energia Solar. Os sistemas de energia solar fotovoltaica. Ribeirão Preto: Bluesol Educacional. Disponível em: <www.blue- sol.com.br>. Acesso em: 9 jun. 2017. 14 2. TIPOS DE SISTEMAS E APLICAÇÕES INTRODUÇÃO Quando classificamos os sistemas fotovoltaicos (SFV) levamos em conta como é feita a geração ou transmissão de energia elétrica e consequentemente podemos dizer que existem dois tipos principais, os sistemas isolados (Off-Grid) e os sistemas conectados à rede (On-Grid). Os dois sistemas podem operar apenas com a fonte fotovoltaica ou conciliados com uma ou mais fontes de energia, sendo neste caso conhecido como sistema híbrido. Para que possamos usar uma das opções listadas anteriormente devemos levar em conta a aplicação e/ou a acessibilidade de recursos energéticos. Qualquer um deles possui uma complexidade variante, sendo que tal complexidade está diretamente ligada à aplicação e as restrições do projeto em análise. [1] SISTEMAS ISOLADOS (SFI) O sistema fotovoltaico isolado recebeesse nome pelo fato de não ter qualquer tipo de comunicação com a rede de distribuição de energia. Os sistemas isolados podem ser considerados como híbridos ou autônomos (puros). Esse tipo de sistema (SFI), tanto os puramente fotovoltaicos (SFV) ou híbridos (SFH), geralmente, precisam de um tipo de armazenamento. O armazenamento pode ser realizado em baterias quando se pretende usar aparelhos elétricos nos períodos onde não há geração de energia pelo sistema fotovoltaico. As baterias empregadas como armazenamento também operam como uma referência de tensão e de corrente contínua para os inversores formadores da rede do sistema isolado. [1] [2] SISTEMAS HÍBRIDOS Um sistema fotovoltaico híbrido funciona ligado a outro ( ou a mais de um) sistema de geração elétrica. Por exemplo, no caso de um sistema híbrido solar-eólico, pode ser utilizado um aerogerador. Outros exemplos são sistemas híbridos utilizando um moto-gerador a combustível líquido, como o diesel (ver figura 1) ou qualquer outro sistema de geração elétrica. 15 Figura 1 - Representação esquemática de um sistema híbrido que tem um gerador diesel como fonte alternativa de energia elétrica O sistema híbrido pode ou não ter um sistema de armazenamento de energia. Em geral, o sistema de armazenamento possui autonomia menor ou igual a um dia. Estes sistemas são mais complexos e precisam ter um controle capacitado para integrar todos os geradores de energia. Atualmente, existem muitas configurações, além de métodos de uso de cada fonte de energia. Usualmente, os sistemas híbridos são aplicados em situações onde possuem cargas em corrente alternada, devendo ser utilizado um inversor. Por esse tipo de sistema apresentar uma maior complexidade e multiplicidade de opções, a otimização desse tipo de sistema é tema de muitos estudos. Uma desvantagem desse tipo de sistema é que quando empregados em regiões remotas oferece uma complexidade operacional e de manutenção elevada. [1] [2] SISTEMAS AUTÔNOMOS (PUROS) Um sistema fotovoltaico puro não possui outra forma de geração de eletricidade. Como esse tipo de sistema gera eletricidade apenas nas horas de sol, os autônomos são compostos por acumuladores para armazenar energia para os períodos sem sol, isto é, a noite e\ou em épocas chuvosas ou nubladas, este sistema está ilustrado na figura 2. 16 Os acumuladores são produzidos conforme as exigências de uso que o sistema deve atender e mudam com as condições climáticas do local de implementação. [2] Figura 2 - Componentes de um sistema fotovoltaico autônomo. Fonte; Unitron - www.unitron.com.br SISTEMAS AUTÔNOMOS SEM ARMAZENAMENTO Esse tipo de sistema tem a sua funcionalidade durante o período do dia que o sol aparece. Um exemplo desse sistema é o de bombeamento de água. As bombas que serão utilizadas são calculadas dando atenção a necessidade de água e o potencial solar do local a ser implementado. [2] SISTEMA DE BOMBEAMENTO DE ÁGUA O sistema fotovoltaico de bombeamento (SBFV) é formado por um gerador fotovoltaico ligado diretamente em uma bomba de corrente contínua, e em alguns modelos utiliza-se um inversor e/ou um controlador de bomba, além de um conjunto motobomba e um reservatório de água, conforme ilustra a figura 3. Diferente dos sistemas domiciliares, não é usual o emprego de baterias para armazenamento de energia. Nesse tipo de metodologia (SBFV), a água é bombeada e guardada em um reservatório, para que em um passo subsequente possa ser utilizada. O sistema fotovoltaico de bombeamento de água possui três principais aplicações: Bombeamento de água residencial; Bombeamento de água para pequenas comunidades e Bombeamento de água para consumo animal. [1] 17 Figura 3 - Sistema Fotovoltaico de bombeamento de água SISTEMAS CONECTADOS No sistema fotovoltaico conectado à rede de distribuição (SFVCR), conhecido também como “on-grid” ou “grid-tie”, não é necessária utilização de acumuladores, visto que a energia que é produzida pelo sistema é consumida instantaneamente pela carga, ou injetada diretamente na rede elétrica da concessionária, para ser utilizada pelos demais consumidores conectados ao sistema de distribuição. Esse tipo de sistema está cada vez mais sendo aplicado na Europa, China, Japão, Estados Unidos, e na atualidade, também no Brasil. A potência nesse sistema vai desde poucos kWp (lê-se quilowatts pico), no caso de instalações residenciais, até MWp (megawatts pico) em sistemas que operam em empresas ou usinas. Os sistemas conectados se diferenciam levando em conta o tipo de conexão à rede, que está diretamente ligado a legislação local. [1] Os sistemas fotovoltaicos conectados à rede têm o seu funcionamento total apenas no período matutino e vespertino. Porém, usualmente o pico de consumo de eletricidade em residências é no período noturno e por isso SFCR injeta energia durante o dia, e o consumidor recebe energia da rede da concessionária durante à noite. A figura 4 mostra um sistema fotovoltaico conectado e os equipamentos típicos. 18 Figura 4 - Componentes típicos do sistema conectado SISTEMAS CONECTADOS COM ARMAZENAMENTO É necessário usar baterias (íon de lítio ou chumbo ácidas) para armazenar a energia excedente, coletada pelos painéis solares. Dependendo do montante armazenado, é possível utilizar esta eletricidade para diversas atividades, como gerenciamento do uso da energia (tarifa branca ou hora-sazonal) ou para manter os equipamentos funcionando em caso de interrupção do fornecimento de energia. Um fabricante neste ramo é a Schneider Electric, que lançou recentemente a linha XW+ de inversores híbridos (ver figura 5) para aplicações tanto em sistemas conectados como em sistemas isolados para formação de rede. Figura 5 - Sistema XW+ com armazenamento 19 SISTEMAS FOTOVOLTAICOS INTEGRADOS A EDIFICAÇÕES Os sistemas fotovoltaicos integrados a edificações (SFIE) ou Building Integrated Photovoltaics (BIPV) consiste em células solares ou placas, que estão integradas na construção de elementos ou materiais como parte da estrutura do edifício. Desta forma, eles substituem um elemento de construção convencional, conforme ilustra a figura 6. [3] Figura 6 - Projeto BIPV, Estação de Trem de Perpignan, sul da França - Fonte Wikipédia Esse tipo de sistema dispensa a criação de um lugar para a instalação, sendo colocados em telhados ou fachadas, acrescentando um diferencial arquitetônico para a edificação, que pode ser visto na figura 7. Figura 7 - Fachada do Museu da Ciência e da Técnica da Catalunha, Espanha. Fonte: Wikipédia Quando observamos a viabilidade econômica desse sistema, esbarramos no custo, impedindo que o mesmo consiga se desenvolver no Brasil como em outras regiões do mundo. [1] 20 REFERÊNCIAS [1] PINHO, João Tavares; GALDINO, Marco Antônio (Org.). Manual de Engenharia para Sistemas Fotovoltaicos. Rio de Janeiro: CEPEL-CRESESB, 2014. [2] RONILSON DI SOUZA. Bluesol Energia Solar. Os sistemas de energia solar fotovoltaica. Ribeirão Preto: Bluesol Educacional. Disponível em: <www.blue- sol.com.br>. Acesso em: 9 jun. 2017. [3] PORTAL SOLAR. PAINÉIS SOLARES INTEGRADOS À CONSTRUÇÃO – BIPV. 2017. Disponível em: <http://www.portalsolar.com.br/paineis-solares- integrados-a-construcao---bipv.html>. Acesso em: 10 jun. 2017. 21 3. SISTEMAS CONECTADOS INTRODUÇÃO É possível listar algumas diferenças entre os projetos de um sistema conectado à rede e um sistema isolado. As principais características dos sistemas conectados são: ● Em sistemas conectados à rede não há necessidade de armazenamento de energia elétrica; ● Os sistemas operam obrigatoriamente em CA na mesma frequência e tensão da rede local; ● Quando não há tensão na rede, o sistema fica inoperante mesmo com irradiação solar presente; ● Os inversoresincorporam dispositivos seguidores de potência máxima (MPPT); ● A rede local deve ser capaz de receber a energia elétrica gerada; ● A qualidade da energia da rede pode comprometer a transferência de energia do sistema; ● O gerador FV pode ser integrado à estrutura de edificações, implicando a análise da resistência mecânica e carga máxima admissível, entre outros fatores; ● Em sistemas instalados em ambiente urbano é mais provável a existência de perdas por sombreamento, inclusive sombreamento parcial, e interferência de superfícies reflexivas próximas; ● Questões estéticas podem ser determinantes nos projetos, contribuindo para a escolha do tipo de módulo e tecnologia das células, bem como do posicionamento do painel. DEFINIÇÃO DE GERAÇÃO DISTRIBUÍDA (GD) A geração distribuída é conhecida como uma fonte de energia elétrica conectada à rede de distribuição ou instalada no próprio consumidor. No Brasil, a definição citada acima é orientada pelo Artigo 14º do Decreto Lei nº 5.163/2004: “Considera-se geração distribuída toda produção de energia elétrica proveniente de agentes concessionários, permissionários ou autorizados (...) conectados diretamente no sistema elétrico de distribuição do comprador, exceto aquela proveniente de: hidrelétrico com capacidade instalada superior a 30 MW; termelétrico, inclusive de cogeração, com eficiência energética inferior a 75%. ” (Fonte: Caderno de Recursos Energéticos Distribuídos – FGV Energia). 22 Seguindo, a RN 482/2012 regulamenta como será feito a inserção da geração distribuída na matriz energética no território brasileiro a partir de condições reguladoras, sendo apresentadas as seguintes definições: Microgeração distribuída: Sistemas de geração de energia renovável ou cogeração qualificada conectados à rede com potência até 75 kW; Minigeração distribuída: Sistemas de geração de energia renovável ou cogeração qualificada conectados à rede com potência superior a 75 kW e inferior a 5 MW (limite de 3 MW para geração de energia através de fonte hídrica). De acordo com a ANEEL, cogeração qualificada é o “atributo concedido a cogeradores que atendem os requisitos definidos na Resolução Normativa nº 235 de 14/11/2006, segundo aspectos de racionalidade energética, para fins de participação nas políticas de incentivo à cogeração”. A GERAÇÃO DISTRIBUÍDA NO BRASIL No Brasil a geração distribuída tem como base um método no qual o consumidor após descontado o seu próprio consumo, recebe um crédito na sua conta pelo saldo positivo de energia gerada e inserida na rede, sendo esse sistema conhecido com sistema de compensação de energia. Sempre que existir esse saldo positivo, o consumidor recebe um crédito em energia (em kWh) na próxima fatura e terá até 60 meses para utilizá-lo. No entanto, as pessoas que utilizam esse tipo de sistema não podem comercializar o montante excedente da energia gerada por GD entre eles. A rede elétrica disponível é utilizada como backup quando a energia gerada localmente não é suficiente para satisfazer as necessidades de demanda, sendo que esse tipo de situação ocorre quando geralmente se usa fontes intermitentes de energia, como a solar. AS REGRAS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA – GD As regras básicas definidas pela REN 482/2012, aperfeiçoadas pela REN 687/2015 válidas desde 1º de março de 2016 são: ● Definição das potências instaladas para micro (até 75 kW) e minigeração (maior que 75 kW até 5 MW); ● Direito a utilização dos créditos por excedente de energia injetada na rede em até 60 meses; ● Possibilidade de utilização da geração e distribuição em cotas de crédito para condomínios, geração compartilhada e autoconsumo remoto. A geração compartilhada consiste na reunião de consumidores, dentro da mesma área de concessão ou permissão, por meio de consórcio ou cooperativa, composta por pessoa física ou jurídica, que possua unidade consumidora com microgeração ou minigeração distribuída em local diferente das unidades consumidoras e o autoconsumo remoto tem o 23 mesmo conceito da geração compartilhada, porém não é uma reunião de consumidores, ela é caracterizada por unidades consumidoras de titularidade de uma mesma Pessoa Jurídica ou uma Pessoa Física. Foram estabelecidos prazos para processos, padronização de formulários para solicitação de conexão e definição de responsabilidades atribuídas aos clientes, a empresa responsável pela implantação do sistema e a distribuidora; Foi possibilitada a forma de autoconsumo remoto onde existe a geração em uma unidade e o consumo em outra unidade de mesmo titular; Foi possibilitada a geração compartilhada onde um grupo de unidades consumidoras são responsáveis por uma única unidade de geração; A QUANTIDADE DE SISTEMAS DE GERAÇÃO DISTRIBUÍDA INSTALADOS NO BRASIL Segundo a ABSOLAR (Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica), o Brasil entrou em 2018 com quase 1,1 gigawatts em instalações fotovoltaicas, mais precisamente 935 MW em geração centralizada e 161 MW em geração distribuída (aproximadamente 20.000 sistemas instalados). Segundo projeções da Empresa de Pesquisa Energética EPE, até 2030 serão instalados 25 GW, divididos em 17 GW de geração centralizada e 8,2 GW de geração distribuída. No dia 15 de dezembro de 2015, o Ministério de Minas e Energia criou o Programa de Desenvolvimento da Geração Distribuída de Energia Elétrica (ProGD), para ampliar e aprofundar as ações de estímulo à geração de energia pelos próprios consumidores, com base nas fontes renováveis de energia (em especial a solar fotovoltaica). O POTENCIAL DE CRESCIMENTO DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA A ANEEL prevê 1,23 milhão de sistemas conectados à rede até 2024 (4.577 MW) e a EPE prevê que serão instalados 78 GWp em sistemas de geração distribuída até 2050 com grande destaque para a microgeração residencial. MÓDULOS FOTOVOLTAICOS O módulo fotovoltaico é constituído por células fotovoltaicas, mostradas na figura 1, que utiliza do efeito fotovoltaico para a produção de eletricidade, ou seja o aparecimento de uma diferença de potencial nos extremos de uma estrutura de material semicondutor, produzida pela absorção da luz. As células são ordenadas para que possam ser conectadas e assim sejam capazes de produzir uma tensão e corrente suficientes para a utilização da energia, do mesmo jeito que essa organização das células as protegem de qualquer situação que possa danificá-las. 24 Figura 1 - Células fotovoltaicas de diferentes tecnologias. (a) Silício monocristalino; (b) Silício policristalino e (c) Silício amorfo. No geral, essas células individualmente têm uma tensão entre 0,5 e 0,8V, no caso da produzida com Silício. Dessa forma, as células são conectadas em série para que produzam uma tensão de um valor adequado para a utilização da mesma. As células são também consideradas muito frágeis e por esse motivo devem ter uma proteção mecânica e contra mudanças climáticas. O número de células conectadas em um módulo, tanto em série quanto em paralelo, depende diretamente da tensão que será utilizada e da corrente elétrica que se deseja obter, a figura 2 mostra essas configurações possíveis. Figura 2 - Esquema ilustrativo de (a) três células em série e (b) três células em paralelo. No processo de fabricação desses módulos devemos dar importância ao tipo de células que serão utilizadas para que seja realizada a união das mesmas, devido a suas características elétricas, visto que a incompatibilidade das propriedades elétricas pode levar a produção de módulos de baixíssima qualidade, devido ao efeito de “descasamento elétrico” (mismatching), já que as células de menor corrente limitam o desempenho das outras células e assim a eficiência do módulo em geral é reduzida. CARACTERÍSTICAS CONSTRUTIVAS DOS MÓDULOS FOTOVOLTAICOS O módulo fotovoltaico é membro unitário do gerador e de acordo coma associação e as características das células, pode adquirir diferentes valores de tensão e corrente nominal. Módulos que possuem uma tensão de 18V, que tem 36 25 células em série, são geralmente empregados para carregar baterias e também podem ser associados em série para que se possa obter 24V ou 48V em corrente contínua, a figura 3 ilustra este tipo de módulo e sua construção típica. Em outros tipos de aplicação, são normalmente utilizados módulos com tensões nominais diferenciadas, sendo esse valor de tensão variando de 30V até 120V. Para a realização do carregamento de baterias de chumbo-ácido de 12V é preciso uma tensão de no mínimo 14V, e os módulos precisam produzir aproximadamente 16V, pelo fato de ocorrer perdas nos cabos, nas proteções e o efeito da temperatura sobre o módulo. Para essa aplicabilidade são usualmente utilizados módulos de silício cristalino com 36 células conectadas todas em série, que apresenta uma tensão de máxima potência de 18V e como tensão de circuito aberto em condições ideais de 21V. Figura 3 - Componentes básicos do módulo fotovoltaico Os módulos que são fabricados com outras tecnologias necessitam da utilização de uma quantidade diferente de células conectadas em série para que possa atingir essa tensão citada anteriormente. Em sistemas conectados à rede e de bombeamento de água, os valores de tensão que devem ser atingidos variam consideravelmente e exigem a utilização da associação de muitos módulos em série, e é por esse motivo que podemos observar uma diversidade de tensões nominais nesse tipo de módulos. O mercado exige módulos rígidos ou flexíveis, de acordo com o tipo de célula utilizada. Os módulos rígidos, figura 4, usualmente aplicam como base mecânica uma ou mais lâminas de vidro temperado, com um baixo teor de ferro, para uma melhor transmitância (razão entre a quantidade de luz que atravessa um meio e a quantidade de luz que sobre ele incide) à radiação solar. Podem também ter uma moldura com perfis de alumínio, que facilita a instalação do 26 painel, ou sem a utilização de molduras, sendo o caso onde os módulos são utilizados como parte de uma construção ou revestimento. Figura 4 - Módulo com célula de silício monocristalino e policristalino, respectivamente. Ao contrário das células de silício cristalino, onde primeiro se produz a lâmina de silício, depois a célula e finalmente o módulo, nos painéis de filmes finos todo o processo está integrado. As células de filmes finos são depositadas sobre o vidro, realizando a produção das células e dos módulos em uma única fase. Já os módulos flexíveis, o módulo utiliza um substrato de material flexível, que usualmente pode ser um polímero ou uma lâmina metálica. Dentre os materiais mais usados estão o silício amorfo hidrogenado (a-Si:H), o disseleneto de cobre e índio (CIS) ou disseleneto de cobre, índio e gálio (CIGS) e o telureto de cádmio (CdTe), este último mostrado na figura 5. Figura 5 - Módulo de filme fino, rígido, encapsulamento de vidro-vidro de telureto de cádmio (CdTe) 27 Atualmente, os módulos fotovoltaicos são produzidos em lugares inteiramente automatizados, evitando a manipulação humana. O aumento da fabricação de módulos fotovoltaicos tem ajudado a reduzir os preços e garantir uma manutenção de qualidade aos consumidores. CARACTERÍSTICAS ELÉTRICAS DOS MÓDULOS Um módulo é geralmente identificado pela sua potência elétrica de pico (Wp), porém, deve ser levado em conta as características que são compatíveis com aplicação. Para definir a potência de pico de um módulo fotovoltaico é realizado um ensaio nas condições ideais (STC), considerando uma irradiação solar de 1000 W/m2 sob um espectro de radiação solar padrão para AM 1,5 e temperatura de célula de 25 °C, conforme ilustra a figura 6. AM é a abreviação para “Air Mass”, ou seja, Massa de Ar e nada mais é do que a razão entre o caminho ótico percorrido pelos raios solares ao cruzar a atmosfera (SO) e o caminho vertical na direção do zênite (ZO), conforme a equação 1 abaixo. Figura 6 - Posição relativa do sol para o cálculo da Massa de Ar (AM) Devemos observar que as características elétricas que definem um módulo dependem diretamente das condições de temperatura e de irradiação. Quando o módulo fica posicionado direcionado para o Sol, a tensão do módulo pode ser medida utilizando um voltímetro conectado aos terminais positivos e negativos. A tensão que é analisada em um módulo desconectado é a tensão de circuito aberto (Voc). Contudo, ao utilizar um amperímetro nos mesmos terminais 28 é medido a corrente de curto-circuito (Isc). No entanto, esses dados não são muitos utilizados para se obter conhecimento sobre a potência real do módulo. No ensaio mais completo para determinar as características elétricas de um módulo fotovoltaico, o módulo é submetido às condições padrões de ensaio e se utiliza uma fonte de tensão variável para realizar uma varredura entre a tensão negativa de poucos volts (levando em conta a tensão dos terminais do módulo) até extrapolar a tensão de circuito aberto do módulo (corrente fica negativa). Durante a varredura são armazenados pares de informações de tensão e corrente, produzindo uma curva característica como mostrado na figura 7, sendo que para cada ponto da curva observada o produto de corrente pela tensão nos dá o dado de potência gerada para condições de operação. Figura 7 – Curva característica I-V e curva de potência P-V para um módulo com potência nominal de 100Wp. Na mesma figura 7 é possível observar uma curva de potência em função da tensão, que ajuda a identificar o ponto onde é alcançado a potência máxima. Nesse ponto da curva onde se encontra a potência máxima, é determinado valores de corrente e tensão especificados, que são chamados de corrente e tensão de potência máxima (VMP, IMP), denominado esse ponto de ponto de potência máxima (PMP). Dessa forma, podemos definir a potência máxima como o produto da tensão de máxima potência (VMP) e a corrente de máxima potência (IMP). As informações anteriormente citadas com: PMP, VMP, IMP, Voc e Isc são os cinco principais parâmetros que definem o módulo sob determinadas condições de radiação, temperatura de operação de célula e massa de ar. O fator de forma (FF) do módulo é a grandeza que expressa quando a sua curva característica se 29 aproxima de um retângulo no diagrama, essa forma retangular nos mostra a qualidade das células do módulo. A definição do FF é mostrada na figura 8. A Figura 8 – Definição de fator de forma A área hachurada simples condiz com o produto Voc x Isc, ou seja, a potência real do módulo (G.Am), sendo G a irradiação solar e Am a área, tendo esse valor sempre acima da potência que o módulo pode atingir. A área duplamente hachurada representa o produto VMP x IMP, ou seja, PMP, isto é, a potência máxima do módulo. A equação 2 apresenta o cálculo da eficiência do módulo. Para o módulo pelas normas técnicas a área inclui a moldura metálica e qualquer parte construtiva do módulo. Eq. 2 FATORES QUE AFETAM AS CARACTERÍSTICAS ELÉTRICAS DOS MÓDULOS De forma análoga com o que acontece com a célula fotovoltaica, o desempenho do módulo fotovoltaico também é afetado pela irradiância solar e pela temperatura das células. 30 Efeito da irradiância solar Com o aumento da irradiância solar, a corrente elétrica que é produzida pelo módulo aumenta consideravelmente. A corrente de curto-circuito possui um aumento linear, como observado na figura 9. Figura 9 – Efeito causado pela variação da irradiância solar sobre a curva característica I-V para um módulo fotovoltaico de 36 células de silício cristalino (c-Si) a 25°C. Efeito da temperatura A incidência diária de radiação solar e a mudançade temperatura ambiente desenvolve uma variação de temperatura nas células que constituem o módulo. A figura 10, mostra curvas com uma diversidade de temperaturas de células, podendo ser observado que há uma queda de tensão significativa com o aumento da temperatura da célula. Além disso, a corrente passa por uma elevação muito pequena, sendo incapaz de compensar a perda pela diminuição de tensão. Para representar o efeito da temperatura nas propriedades dos módulos é usualmente utilizado os coeficientes de temperatura definidos abaixo: Figura 10 - Efeito do aumento de temperatura na curva característica I-V do painel solar. 31 Coeficiente (β) de variação da tensão de circuito aberto (Voc) com a temperatura: Eq. 3 Onde: ▪ ∆Voc é a variação da tensão de circuito aberto para uma variação de temperatura de célula ∆T. ▪ Para realizar o cálculo do Voc em uma temperatura pré- estabelecida, utilizando o coeficiente β, utiliza-se a seguinte equação 4: Eq. 4 Este coeficiente β é negativo e, para os módulos c-Si, um valor típico é de - 2,3 mV/célula.°C ou -0,37%/°C, enquanto que para os de a-Si é de -2,8 mV/célula.°C ou -0,32%/°C2. Alguns fabricantes também informam o coeficiente de temperatura específico para a VMP, que pode ser denominado βVMP, e que é geralmente maior do que o β para o Voc. (PINHO; GALDINO,2014) Abaixo segue o coeficiente de variação da corrente de curto-circuito (α): Eq. 5 Onde: ▪ ∆Isc é conhecido como corrente de curto-circuito (Isc) com uma variação de temperatura de célula ∆T, podendo ser utilizado a uma equação igual à equação 4. Este coeficiente α é positivo. Um valor típico para o c-Si é de +0,004 mA/cm².°C ou +0,01%/°C, e para o a-Si pode atingir +0,013 mA/cm².°C ou +0,1%/°C. (PINHO; GALDINO,2014) A variação da potência máxima (potência de pico) do módulo fotovoltaico de acordo com a temperatura é dada pelo coeficiente (γ): 32 Eq. 6 Onde: ▪ ∆PMP é a variação da potência máxima do módulo de acordo com a modificação da temperatura da célula, podendo ser utilizado uma equação idêntica à equação 7. Este coeficiente γ é negativo e os valores típicos são de -0,5%/°C para módulos de c-Si e -0,3%/°C para módulos de a-Si. (PINHO; GALDINO,2014) A expressão que será demonstrada abaixo tem como principal objetivo utilizar a definição do ponto de máxima potência para encontrar a variação da mesma de acordo com a temperatura, utilizando as variáveis IMP e VMP. Para esse fim, considere o coeficiente de temperatura (α) para a variável Isc e para a IMP iguais, e que o coeficiente de temperatura VMP é βVMP. Sendo que o coeficiente deve ser expresso em porcentagem: Eq. 7 Desenvolvendo a expressão, e desprezando o termo de segunda ordem, obtém-se: Eq. 8 Dessa forma podemos escrever uma equação que é capaz de relacionar os coeficientes de temperatura da célula fotovoltaica utilizada, além de nos permitir achar o coeficiente βVMP caso não seja fornecido pelo fabricante: Eq. 9 Os coeficientes antes demonstrados variam de tecnologia para tecnologia da célula. A referência sobre os coeficientes de temperatura de cada célula pode ser encontrada nas folhas de dados técnicos fornecidos pelos fabricantes dos módulos. Os coeficientes β e γ, quando possuem um número pequeno, pode-se observar que a perda de potência do módulo é muito pequena de acordo com a temperatura. Os módulos que possuem uma menor influência da temperatura na potência de pico é o de a-Si, tendo uma redução desprezível em relação aos outros módulos. Os módulos de a-Si também possuem uma diferença considerável de 33 fabricante para fabricante nos valores dos coeficientes de temperatura. Para um cálculo simplificado da temperatura de operação de um módulo fotovoltaico em determinadas condições ambientais pode-se utilizar a seguinte equação 10. Eq. 10 Onde: ▪ Tmod (°C) – temperatura do módulo; ▪ Tamb (°C) – temperatura ambiente; ▪ G (W/m2) – irradiância incidente sobre o módulo; ▪ Kt(°C/W.m-2) – coeficiente térmico para o módulo, podendo ser adotado o valor padrão de 0,03, se não for conhecido. TEMPERATURA NOMINAL DE OPERAÇÃO Visto que as condições padrão de ensaio, são geralmente totalmente diferentes das condições de operações reais, são definidas temperaturas nominais de operação das células nos módulos, sendo que as características elétricas dessa forma podem se aproximar das características efetivas. Cada módulo fabricado possui uma temperatura nominal para suas células, sendo essa variável adquirida a partir da exposição do módulo em circuito aberto a uma irradiação de 800W/m2 com temperatura ambiente de 20°C, além da ação de vento incidente com velocidade de 1m/s. É possível também, adquirir essa informação nas folhas de dados técnicos dos módulos fotovoltaicos, na qual esse valor é indicado pela sigla NOCT (Nominal Operating Cell Temperature) e está entre 40 a 80°C. A NOCT é diretamente ligada às propriedades térmicas e ópticas dos materiais utilizados na produção do módulo. Por exemplo, quando os módulos estudados têm os mesmos coeficientes de temperatura (α, β e γ), o que possuir menor NOCT terá um desempenho elevado em relação aos outros em campo, visto que o mesmo possuirá perdas muito pequenas relacionadas a temperatura. A partir da NOCT informada pelo fabricante, pode-se calcular, com auxílio da equação 11, o coeficiente Kt do módulo. Eq. 11 Onde: ▪ Kt (°C/W.m²) – coeficiente térmico para o módulo; 34 ▪ NOCT (°C) – Nominal Operating Cell Temperature do módulo; ▪ 20 (°C) – temperatura ambiente definida para medida da NOCT; ▪ 800 (W/m²) – irradiância definida para a medida da NOCT; IDENTIFICAÇÃO DAS CARACTERÍSTICAS ELÉTRICAS DOS MÓDULOS As informações julgadas essenciais são normalmente encontradas na etiqueta afixada em cada módulo como observado na tabela 1. Dados técnicos complementares são encontrados nas folhas de dados ou catálogos técnicos dos módulos, como visto na tabela 2. Tabela 1 – Dados técnicos que constam na folha de dados do módulo. 35 Tabela 2 – Dados técnicos que não constam na etiqueta do módulo. A figura 11 a seguir mostra dados reais de um painel de 36 células de fabricação da Yingli Solar, e a figura 12 mostra dados de um painél de 60 células da Canadian. Figura 11 - Dados reais de painéis de 36 células. Fonte: Yingli Solar 36 Figura 12 - Dados reais de painéis de 60 células. Fonte: Canadian REGISTRO INMETRO Os módulos que são vendidos no Brasil devem ser ensaiados de acordo com a RAC do Inmetro e possuir um registro que pode ser consultado na página do Inmetro, além de ter uma etiqueta como mostrado na figura 13. Figura 13 – Modelo de etiqueta do Inmetro afixada nos módulos. Adaptado de (INMETRO, 2011). 37 A classificação da eficiência energética dos módulos fotovoltaicos (A a E) é realizada pelo Inmetro seguindo a eficiência do módulo em condições-padrão de teste, como observado na tabela 3. A portaria 004/2011 do Inmetro engloba essa questão de etiquetagem da eficiência energética, ela possui como objetivo estabelecer os critérios do “Programa de Avaliação da Conformidade” para sistemas e equipamentos de energia fotovoltaica, através do mecanismo da etiquetagem, para utilização da Etiqueta Nacional de Conservação de Energia (ENCE), atendendo aos requisitos do Programa Brasileiro de Etiquetagem (PBE), visando à eficiência energética e adequado nível de segurança. A ENCE tem como propósito informar a eficiência energética e/ou o desempenho térmico de sistemas e equipamentos para energia fotovoltaica, definidos nestes requisitos de avaliação de conformidade, segundo normas brasileiras específicas e/ou internacionais. Tabela 3 – Classes de eficiência de módulos fotovoltaicos no Brasil (INMETRO, 2011)Usualmente a eficiência do módulo é uma característica considerada não muito importante no projeto do sistema fotovoltaico, com exclusão dos casos onde existe uma limitação da área disponível para realização da instalação do painel. INVERSORES (adaptado de PINHO; GALDINO, 2014) Um inversor é um dispositivo eletrônico que fornece energia elétrica em corrente alternada (CA) usando de uma fonte de energia elétrica em corrente contínua (CC). A energia CC é proveniente, de baterias, células a combustível ou módulos fotovoltaicos. A tensão CA de saída precisa ter amplitude, frequência e conteúdo harmônico de acordo com as cargas a serem alimentadas. Complementarmente, no caso de sistemas conectados à rede elétrica a tensão de saída do inversor deve ser sincronizada com a tensão da rede. Há uma grande diferença de tipos de inversores em função das propriedades de suas aplicações. Várias vezes eles fazem parte de equipamentos maiores, como no caso de UPS (no-breaks) e acionamentos eletrônicos para 38 motores de indução. Para os sistemas fotovoltaicos, os inversores podem ser divididos em duas categorias com relação ao tipo de aplicação: SFIs e SFCRs. Mesmo que os inversores para SFCRs compartilhem os mesmos princípios gerais de funcionamento que os inversores para SFIs, eles contêm propriedades específicas para obedecer às exigências das concessionárias de distribuição em termos de segurança e qualidade da energia injetada na rede. Os inversores modernos usam chaves eletrônicas de estado sólido e o seu desenvolvimento está diretamente ligado à evolução da eletrônica de potência, tanto em termos de componentes (especialmente semicondutores) quanto das topologias de seus circuitos de potência e controle. Diferente dos primeiros inversores para uso em sistemas fotovoltaicos que eram apenas adaptações de circuitos que já existiam, os circuitos mais modernos são desenvolvidos considerando a complexidade e as exigências de sua aplicação específica. Desta maneira, no decorrer de poucas décadas, as topologias foram aperfeiçoadas e os custos de fabricação reduzidos, enquanto que as eficiências de conversão evoluíram até chegar a valores próximos a 99% em alguns inversores para conexão à rede elétrica. CLASSIFICAÇÃO DOS INVERSORES Dependendo do princípio de operação, os inversores podem ser divididos em dois grandes grupos: comutados pela rede (comutação natural) e autocomutados (comutação forçada). A figura 14, ilustra os casos citados. Figura 14 – Tipos de inversores classificados com o princípio de funcionamento. 39 PRINCÍPIO DE FUNCIONAMENTO DOS CONVERSORES CC-CA A figura 15a apresenta o esquema do conversor CC-CA de meia ponte para um inversor monofásico. Neste circuito, a inversão da polaridade do sinal é conseguida pelo acionamento alternado das chaves S1 e S2 numa frequência fixa, que pode ser a frequência de rede elétrica (60 Hz). Como consequência, tem-se uma tensão alternada aplicada sobre a carga. A forma do sinal de saída deste tipo de conversor é uma onda quadrada, variando de: –Vcc/2 a +Vcc/2 em 60 Hz. Figura 15 – Inversor de (a) meia ponte e (b) ponte completa monofásica. Se ao invés de duas, forem utilizadas quatro chaves, na topologia de circuito apresentada na figura 15b, tem-se então um conversor CC-CA de ponte completa para um inversor monofásico. Para uma mesma tensão de entrada, o conversor de onda completa faz uma saída com o dobro da amplitude do conversor de meia ponte, variando de –Vcc a +Vcc. Esta topologia permite várias estratégias de funcionamento, dependendo da forma de acionamento das chaves. A tensão Vcc representada na figura 15 para alimentação do conversor CC-CA, corresponde na verdade ao elo de corrente contínua do inversor. Se as chaves forem acionadas aos pares, de forma alternada e sincronizada, (S1 e S4, S2 e S3) em uma dada frequência (60 Hz), o sinal de tensão resultante na saída do conversor será outra vez uma onda quadrada, como a mostrada na figura 16a. Independentemente de ter como vantagem a simplicidade, este tipo de acionamento não permite o controle da amplitude nem do valor eficaz (RMS) da tensão. O uso de um diferente esquema de chaveamento, no qual os pares S1/S4 e S2/S3 sejam acionados não simultaneamente, mas defasados entre si por um determinado ângulo (tempo), causa cancelamentos de tensão em certos intervalos do ciclo. O resultado na saída do conversor é a chamada onda quadrada modificada, cuja forma de onda está representada na figura 16b. Neste caso, a tensão RMS de saída pode ser controlada pelo ângulo de defasagem no disparo dos dispositivos de chaveamento e a forma de onda 40 apresenta menor distorção harmônica, tornando-se um pouco mais assemelhada a uma senóide. O valor eficaz da componente fundamental (60 Hz) da tensão de saída da onda senóide modificada é dado, neste caso, pela equação 12. Figura 16 – Possíveis formas de onda da tensão de saída de um conversor c.c-CA de ponte completa: (a) onda quadrada, (b) onda quadrada modificada (c) 3 pulsos e (d) modulação por largura de pulso PWM. Eq. 12 41 Onde: ▪ Vrms (V) – tensão eficaz da componente fundamental; ▪ Vcc (V) – tensão cc da entrada; ▪ T (s) – período da senóide (1/60); ▪ tc (s) – período de bloqueio (intervalo entre os pulsos ou tempo com tensão zero), cuja variação permite o controle da tensão de saída (ver figura 16b). As saídas dos inversores de onda quadrada, assim como os de onda senoidal modificada, possuem um alto nível de distorção harmônica. A atenuação desses harmônicos geralmente é feita através de filtros, que, além de caros, complexos e volumosos, normalmente consomem muita potência, prejudicando a eficiência do inversor. Por isso, a utilização de inversores de onda quadrada e senóide modificada, que são do tipo denominado monopulso, é limitado a aplicações em SFIs e, mesmo assim, para alimentação de cargas não críticas. A figura 16c mostra, como exemplo, uma hipotética forma de onda com 3 pulsos por semiciclo. Na prática, nas aplicações nas quais a eficiência na conversão e a qualidade da energia são fatores determinantes, são utilizados os inversores multipulsos, com formas de onda como a mostrada na figura 16d com 14 pulsos por semiciclo. Nos conversores CC-CA de inversores modernos, a estratégia de controle mais usada é a PWM. Apesar de existirem vários esquemas PWM, todos eles baseiam-se no acionamento dos dispositivos de chaveamento a uma frequência constante (dezenas ou centenas de kHz), porém com um ciclo de trabalho (razão entre o tempo de condução e o período) variando durante o semiciclo proporcionalmente ao valor instantâneo de um sinal de referência. Iniciando com pulsos estreitos quando a amplitude da senóide de referência é baixa e, naturalmente, os pulsos vão se alargando conforme o valor instantâneo da senóide de referência aumenta. A figura 17 explica detalhadamente a implementação de uma das possíveis estratégias de PWM, chamada chaveamento bipolar. Na figura 17a observa-se que o controle do chaveamento é feito pela comparação de uma tensão de referência (Vcaref), que é uma senóide na frequência da rede (60 Hz), com um sinal triangular (Vtri) de frequência muito superior, ambas geradas internamente no conversor CC-CA As duas formas de onda podem ou não ser sincronizadas e as relações entre suas freqüências e amplitudes controlam os parâmetros da saída. Quando a tensão de referência tem valor superior à onda triangular, então são postas em condução as chaves S1/S4, enquanto que S2/S3 permanecem em bloqueio, aplicando assim uma tensão positiva (+Vcc) na carga. 42 Nos momentos em que a tensão de referência é inferior à da onda triangular, os estados das chaves são invertidos e a carga recebe tensão negativa. Figura 17 – Estratégia de controle PWM paraum conversor CC-CA – tensões de controle VcaREF e Vtri(a) e tensão na saída Vcarga (b). Depois de uma filtragem adicional com filtro passa-baixa para retirar as componentes harmônicas de alta frequência, o sinal de saída é praticamente senoidal. Além de baixa THD, os inversores PWM também possuem elevada eficiência e uma excepcional regulação da tensão de saída. Esses dispositivos são indicados para equipamentos eletrônicos sensíveis. Comparados com inversores de onda quadrada, tem custo mais elevado como resultado da maior complexidade dos circuitos. CARACTERÍSTICAS DOS INVERSORES A forma da onda usualmente indica a qualidade e o custo do inversor. Conforme visto anteriormente, ela depende do método de conversão e filtragem utilizado para acabar com os harmônicos indesejáveis resultantes da conversão. Outro aspecto que determina a qualidade dos inversores é a sua eficiência de conversão. Nos inversores a eficiência não é constante e seu valor depende da potência demandada pelos equipamentos de consumo (carga), e também de seu fator de potência. Os fabricantes costumam anunciar a eficiência na carga nominal, mas nem sempre enfatizam o fato de que sob cargas parciais seus dispositivos apresentam baixas eficiências. Para os usuários de sistemas com 43 necessidades variáveis de potência, altas eficiências em cargas parciais são importantes. Um parâmetro importante a ser considerado em um inversor para SFI, especialmente para sistemas tipo SIGFI, é a potência que o dispositivo consome em condições de espera (standby). A economia de energia em modo de espera pode diminuir a capacidade de geração fotovoltaica necessária na etapa de dimensionamento do projeto e, como consequência, reduzir o custo de aquisição do sistema com um todo. O valor máximo de corrente de autoconsumo de inversores para SFIs admitido no RAC para ensaio do Inmetro é de 3% da corrente consumida em carga nominal, em toda a faixa de tensão de entrada. Alguns inversores, seja para SFIs ou para SFCRs, podem ter limitações de potência quando em operação em temperaturas ambientes elevados. Outra característica primordial é de que um inversor para SFIs deve tolerar surtos de corrente que acontecem, por exemplo, na partida de motores elétricos, os quais podem exigir valores mais de 10 vezes superiores à corrente nominal do motor em curtos períodos de tempo, antes de entrar em regime normal de trabalho. Alguns modelos de inversores conseguem tolerar altas potências de surto, como por exemplo duas vezes a potência nominal em 1 minuto ou três vezes a potência nominal em 5 segundos. A potência de surto suportada pelo equipamento varia inversamente com o tempo de duração do surto. Exemplificando, a tabela 4 abaixo mostra as especificações reais de um certo equipamento de potência nominal de 5.000 W, em relação a potência de surto e temperatura de operação, extraídas das folha de dados técnicos do fabricante. Tabela 4 – Exemplo de especificações de potência de pico e de limitações térmicas da potência de um inversor. Alguns modelos de inversores para SFIs permitem a operação em paralelo de mais de uma unidade e/ou podem ser integrados para criar circuitos bifásicos ou trifásicos. Para especificar um inversor é necessário primeiro considerar qual é o tipo de inversor: inversor de bateria, para SFI, ou inversor para SFCR. Os parâmetros a serem especificados são: a tensão de entrada CC e a tensão de saída CA, faixa de variação de tensão aceitável, potência nominal, potência de surto, frequência, forma de onda e distorção harmônica (THD), grau IP de proteção, 44 temperatura ambiente e umidade do local da instalação além das certificações e tempo de garantia desejados. As características a serem observadas nas especificações de um inversor fotovoltaico são apresentadas a seguir: ▪ Forma de onda e Distorção harmônica: a forma de onda da tensão CA produzida deve ser a senoidal pura. A distorção harmônica total (THD) precisa ser inferior a 5% em qualquer potência nominal de operação. ▪ Eficiência na conversão de potência: a eficiência é a relação entre a potência de saída e a potência de entrada do inversor. Nas especificações fornecidas pelos fabricantes há referência, usualmente, apenas à eficiência máxima. Entretanto, deve-se ter em conta que as variações na potência de entrada e saída, o fator de potência da carga, e outros fatores influenciam negativamente na eficiência do inversor. A eficiência dos inversores varia, geralmente, na faixa de 50 a 95 %, podendo diminuir quando estão funcionando abaixo da sua potência nominal. Quando operando alguns motores, a eficiência real pode ser inferior a 50 %. Na figura 18 são mostradas algumas curvas de eficiência de inversores para uso em SFIs. Segundo os critérios especificados no RAC para ensaios de equipamentos fotovoltaicos do Inmetro (INMETRO, 2011), a eficiência do inversor isolado deverá ser superior a 80% na faixa de operação entre 10% e 50% da potência nominal e igual ou superior a 85% na faixa entre 50% e 100% da potência nominal. Atualmente, tem-se no mercado inversores que apresentam eficiências bastante altas, o que permite especificações de níveis superiores a pelo menos 85 e 90%, respectivamente. (PINHO; GALDINO, 2014) 45 Figura 18 – Curvas de eficiência para cargas resistivas de alguns inversores para uso em sistemas fotovoltaicos isolados. ▪ Potência nominal de saída: indica a potência que o inversor pode prover à carga em regime contínuo. Num sistema isolado, o inversor deve ser especificado para fornecer uma potência sempre superior às necessidades máximas das cargas conectadas, considerando um aumento momentâneo da demanda de potência. Para sistemas isolados tipo SIGFI é recomendável escolher uma potência nominal que seja próxima à potência total necessária para alimentar as cargas e que esteja próxima a uma das classificações citadas na RN 493/2012 (ANEEL, 2012a). Para aplicação em MIGDIs recomenda-se utilizar um fator de diversidade que será tanto maior quanto menor for o número de unidades consumidoras a serem atendidas. Para os SFCRs, a potência do inversor está associada à potência do painel fotovoltaico utilizado. (PINHO; GALDINO, 2014) ▪ Potência de surto: indica a capacidade do inversor em exceder sua potência nominal por certo período de tempo. Aplica-se somente aos inversores para sistemas isolados. Deve-se determinar as necessidades de surtos para cargas específicas. Como já citado anteriormente, algumas cargas CA, quando acionadas, necessitam de uma corrente elevada de partida por um curto período, para entrarem em operação. (PINHO; GALDINO, 2014) ▪ Taxa de utilização: é o número de horas que o inversor poderá fornecer energia operando com potência nominal. (PINHO; GALDINO, 2014) ▪ Tensão de entrada: é a tensão CC do inversor. Conforme já mencionado, os valores mais utilizados em SFIs no Brasil são 12V, 24V e 48 V, normalmente fornecidos por baterias, e devem ser compatíveis com os requisitos de entrada do inversor. A tensão de entrada do inversor deve ser especificada tanto maior quanto maior for a potência demandada pelas cargas ao sistema fotovoltaico, a fim de se manter as correntes CC em níveis aceitáveis. Quando a bateria se descarrega e a tensão CC do sistema cai abaixo de um valor mínimo especificado, o inversor pode ser capaz de desconectar a carga automaticamente, fazendo a função LVD do controlador de carga. Nos 46 inversores para SFCRs, os requisitos relacionados à tensão de entrada do inversor devem ser sempre atendidos pela associação em série/paralelo de módulos. (PINHO; GALDINO, 2014) ▪ Tensão de saída: é regulada na maioria dos inversores, e sua escolha nos sistemas isolados depende da tensão de operação das cargas. No Brasil, dependendo da região ou cidade são usados os valores de 127ou 220 V, sempre na frequência de 60 Hz. A regulamentação Aneel exige que os inversores para SIGFIs operem na tensão de distribuição adotada na região. Quanto aos inversores para SFCRs, a regulamentação específica que devem operar em BT para potências de até 75 kW, enquanto que para potências superiores até 1MW, a injeção deverá ser feita na MT de distribuição (13,8kV). (PINHO; GALDINO, 2014) ▪ Regulação de tensão: indica a variação de amplitude permitida na tensão de saída CA Os melhores inversores produzem uma tensão de saída praticamente constante para uma ampla faixa de cargas. As variações na tensão de saída devem estar de acordo com os limites estabelecidos pela Aneel-PRODIST e devem considerar a queda de tensão no circuito de distribuição de energia. (PINHO; GALDINO, 2014) ▪ Frequência da tensão de saída: indica a frequência da tensão CA de saída do inversor. Os aparelhos elétricos convencionais usados como cargas CA no Brasil são fabricados para operar na frequência de 60Hz. Alguns tipos de equipamentos, como relógios e timers eletrônicos, necessitam de uma cuidadosa regulagem de frequência para não apresentarem perda de desempenho, o que deve ser atendido pelos inversores em SFIs. (PINHO; GALDINO, 2014) ▪ Fator de potência: as cargas mais comuns, em sistemas residenciais, são indutivas com o fator de potência podendo chegar a 0,5. Os melhores inversores são projetados para compensarem as cargas indutivas e manterem o fator de potência próximo de 1, o que maximiza a transferência de potência para a carga. É desejável que a carga tenha um fator de potência elevado, uma vez que isto reduz a corrente necessária para qualquer nível de 47 potência. O inversor deve ter um fator de potência nominal compatível com o fator de potência desejado para as cargas. Se os fatores de potência das cargas não forem incluídos em suas especificações, eles poderão ser obtidos do fabricante. (PINHO; GALDINO, 2014) ▪ Consumo de potência sem carga (consumo permanente, autoconsumo, consumo em standby): é a quantidade de potência que o inversor utiliza, mesmo quando nenhuma carga está sendo alimentada. Para reduzir o autoconsumo, alguns inversores monitoram continuamente a sua saída, detectando se alguma carga está sendo usada e passam a operar efetivamente apenas a partir do momento em que uma carga é detectada. (PINHO; GALDINO, 2014) ▪ Modularidade: em alguns sistemas, o uso de múltiplos inversores é muito vantajoso. Alguns modelos de inversores podem ser conectados em paralelo para operarem diferentes cargas. Algumas vezes é fornecido um chaveamento de carga manual para permitir que o inversor possa atender às cargas críticas em caso de falha. Esta característica aumenta a confiabilidade do sistema. (PINHO; GALDINO, 2014) ▪ Temperatura e umidade do ambiente: Devem ser citadas a temperatura ambiente máxima do local da instalação na qual se requer a potência nominal do inversor, pois a temperatura de operação do mesmo afeta sua eficiência. Deve ser sempre especificada dissipação de calor por convecção natural (sem partes móveis, como ventoinhas, pois estas, além de consumirem energia, requerem maior manutenção), e o local de instalação deve possuir ventilação adequada. Além disso, deve também ser citada a umidade relativa do ambiente e solicitada proteção adequada quanto a este quesito (por exemplo, isolamento de resina do circuito eletrônico). (PINHO; GALDINO, 2014) ▪ Compatibilidade eletromagnética: uma vez que efetuam chaveamento em alta frequência, os inversores podem ser elementos geradores de interferência eletromagnética capaz de prejudicar outros equipamentos eletrônicos e, principalmente, de telecomunicações. Os inversores para 48 SFCRs dotados do selo CE mantém (filtragem, blindagem) os níveis de emissões abaixo dos valores máximos estabelecidos pelas normas europeias de EMC. (PINHO; GALDINO, 2014) ▪ Grau de proteção: O grau de proteção IP (Ingress Protection) classifica e avalia o grau de proteção de pessoas contra o contato a partes energizadas sem isolamento; de proteção contra o contato as partes móveis no interior do invólucro e proteção contra a entrada de corpos estranhos (Incluindo partes do corpo como mãos e dedos) e o grau de proteção contra entrada de poeira e contato acidental com água em carcaças mecânicas e invólucros elétricos. O grau de proteção IP a ser especificado varia de acordo com o ambiente onde o inversor será instalado, se abrigado ou não. Normalmente, para ambientes desabrigados se estabelece IP54 ou melhor e para ambientes abrigados IP20 ou melhor. (PINHO; GALDINO, 2014) ▪ Proteções: As principais proteções apresentadas pelos inversores para sistemas fotovoltaicos isolados são: ▪ Sobretensão na entrada CC: um inversor pode ser danificado se o nível de tensão de entrada (CC) for excedido. A maioria dos inversores têm sensores que o desconectam da bateria se os limites de tensão especificados forem excedidos. ▪ Inversão de polaridade na entrada CC ▪ Curto circuito na saída CA ▪ Sobrecargas e elevação de temperatura: recomenda-se incluir controles capazes de desligar a unidade, para impedir danos, se as cargas impostas ao inversor excederem sua capacidade máxima ou se a temperatura de operação do inversor exceder o seu limite. É recomendável que a proteção seja eletrônica e que tente reenergizar o sistema algumas vezes antes de desligar o inversor definitivamente (neste caso é necessária uma religação manual). Isto evita que o sistema fique desligado devido a problemas transitórios. (PINHO; GALDINO, 2014) 49 INVERSORES PARA SISTEMAS CONECTADOS À REDE Uma possível classificação de tipos de inversores para SFCRs é a apresentada a seguir. Inversores Centrais Inversores trifásicos de grande porte, com potência numa faixa que vai de centenas de kWp até MWp, utilizados em Usinas Fotovoltaicas (UFVs), conforme ilustrado na figura 19. (PINHO; GALDINO, 2014) Figura 19 - Diagrama de Inversores Centrais Inversores Multistring Inversores trifásicos ou monofásicos dotados de várias entradas independentes de MPPT’s para conexão de strings de módulos, ver figura 20. São adequados a instalações urbanas (telhados, fachadas) nas quais cada string pode estar submetida a diferentes condições de irradiância e/ou sombreamento. Tem potência na faixa de dezenas de kWp. (PINHO; GALDINO, 2014) Figura 20 - Inversor com Múltiplos MPPTs Inversores de String 50 inversores monofásicos dotados de apenas uma entrada MPPT, adequados a instalações de microgeração (até 15kWp), conforme figura 21. (PINHO; GALDINO, 2014) Figura 21 - Inversor com único MPPT Microinversores (Módulo CA) O módulo fotovoltaico CA é constituído por um conjunto integrado módulo/inversor, cujos terminais de interface são unicamente CA, sem acesso ao lado CC. Podem ser conectados em paralelo (ver figura 22) para aumento da potência e são direcionados a instalações de pequeno porte (micro e minigeração distribuída). (PINHO; GALDINO, 2014) Dentre as vantagens do microinversor pode-se citar: ● Sistema modular a partir de 1 painel ● Otimização e monitoramento individual dos painéis ● Maior segurança em Corrente Alternada (AC) ● Facilidade de projeto e dimensionamento ● Flexibilidade em caso de manutenção Figura 22 - Microinversor ou Módulo CA 51 EFICIÊNCIA DOS INVERSORES Os inversores para SFCRs normalmente efetuam MPPT em suas entradas CC como uma forma de eficientização. A eficiência de um inversor para conexão à rede pode ser expressa pela equação 13, equação 14 e equação 15. Onde: ▪ PCC (W) – potência instantânea c.c na entrada do inversor; ▪ PCA (W) – potência instantânea c.a na saída do inversor; ▪ PMP (W) – potência instantânea máxima do painel fotovoltaico nas condições de temperatura e irradiância vigentes;
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