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Leitura de Imagens Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof.ª Dr.ª Maria Jose Spiteri Tavolaro Passos Revisão Textual: Prof.ª Esp. Kelciane da Rocha Campos Estudo de Casos • Introdução; • Análise Positivista; • Análise Historicista; • Análise Iconológica; • Análise Sociológica; • Análise Formalista; • Análise Gestáltica; • Análise Fenomenológica; • Análise Estruturalista. • Aplicar os conteúdos estudados em análise de imagens; • Compreender as relações entre forma e conteúdo na leitura e entendimento de imagens; • Acessar estratégias metodológicas empíricas para futuras análises de imagens. OBJETIVO DE APRENDIZADO Estudo de Casos Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como seu “momento do estudo”; Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo; No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você tam- bém encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados; Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus- são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e de aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e de se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE Estudo de Casos Introdução Ao acionar o vocabulário para interpretar uma imagem, as narrativas constroem-se por meio de outras narrativas, como consequência deste conhecimento técnico e histórico. (MANGUEL, 2003, p. 27) A partir dos estudos já desenvolvidos, selecionamos para esta unidade algumas metodologias que possam ser mais diretamente aplicáveis ao campo da análise de imagens fotográficas. Para tanto, destacamos as linhas que têm um direcionamento mais histórico e social, as que se ocupam mais de aspectos simbólicos e fenomeno- lógicos e que se ocupam principalmente de aspectos formais das imagens. Durante a leitura, observe que provavelmente para cada análise da imagem, po- deríamos desenvolver outras interpretações por meio de outros pontos não abor- dados pela metodologia aplicada. Nesse momento, será possível refletir sobre o que está sendo identificado de potencial de interpretação nessas imagens. Procure verificar quais são esses elementos e com quais outras metodologias eles podem ser associados. Assim, veremos que uma imagem pode ser interpretada e analisada com base em várias abordagens. Vamos, pois, experimentar na prática a teoria estudada. Análise Positivista Segundo Viñuales (1986, p. 23), para aquele que pretende utilizar o método positivista é possível partir de duas possibilidades: ou não se sabe nada a respeito da imagem, tendo-a como única referência, ou se conhece alguns dados a seu res- peito e trabalha-se a partir desse material. Nesse segundo caso, tudo se torna um pouco mais simples. Deverá estudar em profundidade a história-geografia-antropologia, cultura, raça, religião, etc., desse país ou região, e esse determinado momento e as relações do artista com esse meio, e poderá deduzir (segundo este método) o tipo de arte, das causas, circunstâncias ou acontecimentos. (VIÑUALES, 1986, p. 23.)1 1 Livre tradução para o português. 8 9 Figura 1 – Marc Ferrez. Gaston d´Orléans, conde d´Eu e dona Isabel, Princesa Imperial, ao lado de ofi ciais em visita a usina dedicada a fabricação de armamentos militares Fonte: Wikimedia Commons A imagem aqui apresentada (Figura 1) é uma fotografia realizada por Marc Ferrez, em 1886, registrando uma visita da princesa Isabel (legítima herdeira do trono) e seu esposo, Conde Gaston de Orleans (o Conde D’Eu), acompanhados de uma comitiva, em visita a uma indústria dedicada à produção de armamentos. Basicamente, tratamos aqui de uma imagem que se divide em dois planos: o do grupo de visitantes e ao fundo o do maquinário, representando o espaço que foram conhecer. A ocupação do espaço é bastante tradicional, privilegiando princípios de sime- tria quanto à distribuição das pessoas, inclusive destacando uma discreta gradação de tamanho dos integrantes do grupo, o que nos mostra um tipo de “escadinha” visual, onde os menores parecem se concentrar nas extremidades e os maiores ao centro, com exceção da princesa Isabel, que embora de estatura mediana, se destaca por estar no centro do grupo e com um traje que a diferencia dos demais. Esse tipo de construção espacial nos revela que o fotógrafo conhecia determi- nados padrões tradicionais aplicáveis aos retratos de grupos, inclusive quando se tratava de personalidades de grande destaque no cenário político, por exemplo. 9 UNIDADE Estudo de Casos Observa-se aqui uma nítida preocupação em expor com clareza todos os perso- nagens presentes na cena. A posição em semicírculo nos mostra uma intenção de não sobrepor as pessoas, ocultando partes de seus corpos. O destaque hierárquico é dado pelo posicionamento dos príncipes ao centro da composição, juntamente com o oficial e sua esposa posicionados ao seu lado. Há também uma forte influência da cultua europeia nos trajes do grupo, uma prova de que não se tratava de um grupo que buscasse, em um primeiro momento, por elementos que representassem uma autenticidade brasileira. Cabe ressaltar que no século XIX ocorreu, em momentos diferentes, um certo incentivo do governo imperial para a atividade industrial no Brasil, como o in- centivo para a fábrica de chitas, na década de 1820, entre outras. Essas medidas tinham como exigência básica o emprego de trabalhadores livres (não era permi- tida a presença de mão de obra escrava) e os incentivos incluíam, entre outros, a isenção de impostos para o uso de matérias-primas importadas, medidas essas que foram gradativamente alteradas, gerando um aumento nos preços dos produtos brasileiros no mercado externo. Em razão de dois conflitos ocorridos no exterior – a Guerra Civil Norte-Ame- ricana e a Guerra do Paraguai (conflito que ocorreu entre 1864 e 1870, envol- vendo Uruguai, Argentina e Brasil, unidos contra o Paraguai), ocorreu um novo aumento na indústria brasileira que envolveu diversos setores, desde o químico, até a indústria naval. O maior crescimento se dá após 1870 e se estende até a Proclamação da República, em 1889. Ao mesmo tempo, há aqui uma intenção de se mostrar uma certa abertura do casal real, ao se permitir retratar integrando um grupo e, ainda, a sua presença em um ambiente de produção como o que aqui vemos pode denotar o apoio do governo vigente às ações de industrialização no país, bem como o seu interesse por diversos setores, como o armamentista. Curiosamente, essa imagem foi to- mada anos após o término da Guerra do Paraguai e três anos antes da Proclama- ção da República (para muitos, um golpe militar para acabar com a monarquia e abrir espaço para outrasações políticas que poderiam envolver outros grupos e interesses econômicos). Análise Historicista Uma análise historicista nos dias atuais pode envolver aspectos ligados ao objeto em si, ao seu contexto de produção, ao seu autor, à linguagem aplicada, buscando sempre uma união entre diferentes dados que nos possibilitem um maior enten- dimento a respeito da imagem no sentido de compreender o como, o onde e o porquê da sua existência. 10 11 Figura 2 – Militão de Azevedo - Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, São Paulo, SP, 1862 Fonte: Wikimedia Commons Vejamos agora, com base nas etapas propostas por J. Viñuales (1986) para uma leitura de fundo historicista, um estudo a respeito de uma fotografia histórica da São Paulo novecentista (Figura 2). Identifi cação da obra Trata-se de uma imagem do Largo de São Francisco, em São Paulo, onde se pode verificar o complexo arquitetônico dos frades franciscanos, tendo à extrema esquerda o prédio do antigo convento, que já servia de sede à Faculdade de Direito, seguida pela Igreja Conventual de São Francisco e por último a Igreja da Venerável Ordem Terceira do Seráfico Pai São Francisco. O lugar para o qual ela foi realizada Esta fotografia integra o extenso conjunto de imagens tomadas pelo fotógrafo carioca Militão Augusto de Azevedo, que no século XIX registrou todo o centro da cidade de São Paulo, cidade essa que começava a colher os frutos da prosperidade dos cafeicultores. Estabelecimento de cronologias Proveniente do Rio de Janeiro, Militão Augusto de Azevedo chega em São Paulo em 1862, como ator de uma Companhia Dramática Nacional. A essa época, muitos fotógrafos se dedicavam ao promissor mercado do retrato. Militão, no entanto, passa a se dedicar também ao registro da paisagem urbana. 11 UNIDADE Estudo de Casos Já em 1862, inicia um trabalho sistemático de documentação fotográfica da cidade e arredores, conjunto esse que deu origem a álbuns fotográficos temáticos (cidade de Santos, a estrada de ferro Santos-Jundiaí, a própria cidade de São Paulo) e um dos mais importantes, em 1887, o Álbum comparativo de vistas da cidade de São Paulo, em estilo semelhante ao que se fazia na Europa - um álbum que buscava apresentar as transformações da vista urbana da cidade. Em 1875, estabeleceu seu estúdio – Photographya Americana – no Largo do Rosário , em São Paulo, região frequentada principalmente pela população de ne- gros, sendo que muitos deles se tornaram seus clientes, ao lado de personalidades ilustres, entre elas o Imperador e sua filha, a Princesa Isabel, além de abolicionistas, políticos, juristas e outras pessoas relevantes no cenário de então. Além de retratos e fotos da paisagem urbana, Militão registrou também a chegada dos imigrantes italianos na segunda metade do século XIX. Seu acervo encontra-se sob a guarda do Museu Paulista da Universidade de São Paulo. Interpretações gerais A história do Largo de São Francisco se inicia na primeira metade do século XVII, quando da fundação do Convento Franciscano, que originou um dos mais im- portantes conjuntos arquitetônicos da São Paulo colonial que sobreviveram (ainda que parcialmente) às exigências da modernidade, que conduziram à demolição de grande parte da história arquitetônica mais antiga da cidade. Em 1828, o convento dos frades passou a ser ocupado pela Faculdade de Direito de São Paulo, equipada ainda com uma biblioteca aberta a todos os públicos. Trata- va-se de uma iniciativa que beneficiaria os grandes proprietários e produtores, que, a partir de então, não precisariam mais enviar seus filhos para Coimbra, em Portugal, para o desenvolvimento de seus estudos – poderiam fazê-lo ali mesmo, no centro da cidade. A partir de então, o largo passou a ser chamado de “Largo do Curso Jurí- dico” e desde meados do século XIX, passa a ser conhecido definitivamente como “Largo de São Francisco”. A fachada da faculdade, conforme vemos no registro de Militão, em muito difere da que hoje se encontra no mesmo Largo de São Francisco, pois na década de 1930 passou por uma grande reforma, assumindo um suntuoso desenho em estilo neocolonial, projeto do arquiteto português, residente no Brasil, Ricardo Severo. A imagem de Militão de Azevedo aqui apresentada (Figura 2) integra importante acervo com milhares de fotografias, que representa uma das principais fontes de pesquisa imagética da São Paulo com características coloniais, as quais foram apa- gadas pelo processo de modernização a partir do início do século XX. A respeito da obra de Militão Augusto de Azevedo, visite o acervo: https://goo.gl/DqmuaP. Ex pl or 12 13 Análise Iconológica A análise iconológica, conforme nos indica Ervin Panofsky, deve ser desenvolvida em três etapas: a pré-iconográfica, de caráter descritivo, a iconográfica, de caráter analítico e, finalmente, a iconológica, dirigida à interpretação dos conteúdos da ima- gem. Vamos aplicá-las a um exemplo concreto, um tradicional retrato (Figura 3). Figura 3 – Raymundo de Castro Maya e sua esposa D. Theodósia, pais de Raymundo Ottoni de Castro Maya. Fotografi a de autor desconhecido. Data desconhecida (fi m do século XIX). Acervo dos Museus Castro Maya Fonte: Wikimedia Commons Nível pré-iconográfi co A leitura pré-iconográfica se apoia basicamente no nível descritivo do objeto analisado. No caso da imagem em questão, vemos um casal já maduro (ele por volta dos 65 anos e ela talvez por volta dos 60). A mulher está sentada em uma poltrona, o corpo voltado para a direção do homem, que está em pé, do seu lado direito, sem tocá-la, apenas apoia o braço sobre o encosto da poltrona e olha ao longe, na direção do fotógrafo. A poltrona é, aparentemente, pesada, de madeira, com assento e encosto de couro. O casal se encontra em um espaço onde se pode identificar, no chão, a presença de um grande tapete de motivos orientais. Se comparados à moda atual, seus trajes são bastante antigos, bem como o penteado da senhora. 13 UNIDADE Estudo de Casos Nível iconográfico No segundo estágio da análise nos dedicamos à leitura iconográfica, ou seja, bus- caremos identificar elementos convencionais que nos permitam buscar referências, inclusive no mundo das histórias, outras imagens e alegorias e, assim, podermos acessar informações não tão explícitas na imagem em si. Para este nível de estudo, poderíamos buscar dados a respeito das pessoas aqui retratadas - Raymundo de Castro Maya e sua esposa D. Theodósia. A partir disso, saberíamos que ele, natural de Viana, no Maranhão, foi um importante engenheiro e professor da Escola Central de Engenharia (Rio de Janeiro). Por ter frequentado a corte, sob o reinado de D. Pedro II (de quem despertou grande interesse), conhe- ceu Theodosia Benedito Ottoni, pertencente a uma tradicional e influente família mineira (ela era sobrinha de Teófilo Otoni, que deu nome à cidade). O pai de Theodosia foi ministro, construtor e presidente da Ferrovia Pedro II (atual- mente Central do Brasil) e Raymundo de Castro Maya chegou a trabalhar com ele. A imagem nos mostra um certo tradicionalismo na pose, estando o homem em pé, ao lado da esposa, representando a posição de autoridade e superioridade, embora em outros retratos da época, também seja possível verificar a inversão das posições (ele sentado e ela em pé). Os objetos que compõem a cena também têm um discurso: um mobiliário sólido, de estilo, bem como a tapeçaria sobre a qual se encontram. Embora as vestes da senhora sejam bastante conservadoras, o traje masculino aponta para o uso de um corte mais despojado do que as tradicionais casacas do tempo do império, o que nos remonta a um momento de passagem do Brasil do século XIX para o universo moderno, do século XX. Ressalta-se ainda que o casal Raymundo e Theodosia teve dois filhos, Paulo e Raymundo. Nível iconológico Nas diversas linguagens artísticas, como a escultura, a pintura e o desenho, o retra- to é um gênero dos mais tradicionais. O mesmo se aplica à fotografia.Por meio do retrato se imortaliza a imagem de uma pessoa. O retrato fotográfico, surgido no século XIX, popularizou esse tipo de registro que antes era objeto sobretudo da pintura. Realizadas em estúdios, com cenários muitas vezes construídos ou pintados, essas fotografias contribuíam para se criar uma imagem célebre do retratado. 14 15 Não raro, nessas imagens do século XIX, vamos encontrar retratados (espe- cialmente quando no contexto familiar) em poses rígidas e austeras. No entan- to, não é o que verificamos nesse registro tomado por um fotógrafo anônimo. Em sua pose, Raymundo parece até um pouco descontraído, o olhar voltado para o longe, enquanto a esposa, em lugar de olhar diretamente para o fotó- grafo, parece um pouco distraída, apreciando uma cena que talvez se desenvol- vesse em local próximo. Basicamente, uma postura bastante diferenciada para quem provinha de uma estrutura social muito tradicional. O fato de se deixar retratar por meio de fotografia, em lugar da tradicional pintura, já demonstra uma ligação com os novos meios que se desenvolviam na época. Os elementos que compõem a cena, em associação com os demais já aponta- dos, contribuem para que se desenvolva uma leitura no sentido de entender que se trata de um casal de família de posses e que isso envolvia desdobramentos, como um interesse por objetos de significativo valor estético, como vemos ao seu redor. Ao analisarmos a história de Raymundo Castro Maya e sua esposa, verificamos ainda que seu interesse por obras de arte não se restringiu a algumas poucas peças como vemos na imagem, mas sim que levou à formação de uma coleção de obras, à qual foi dada sequência por meio de seu filho Raymundo Otoni Castro Maya, que criou os Museus Castro Maya, no Rio de Janeiro, formados por duas antigas resi- dências da família (uma no Alto da Boa Vista e outra em Santa Teresa), legando, assim, um importante patrimônio artístico e cultural ao povo brasileiro. A imagem que nos serve de ponto de partida para a análise pode, assim, nos revelar um casal que, embora ligado à antigas tradições familiares no Brasil, demonstra um olhar dirigido a outras direções que não se restringem à imorta- lização de sua própria figura, mas também um olhar para o passado (o olhar da esposa e a pose do casal) e, ao mesmo tempo, para o futuro (o olhar do esposo e sua postura aberta ao “novo”), sem no entanto deixar de valorizar o presente (o uso do registro fotográfico). Saiba mais a respeito de Raymundo de Castro Maya e dos Museus Castro Maya em: https://goo.gl/F76YW6. Visite também: https://goo.gl/KkNmCb. Ex pl or Análise Sociológica Como tema para um ensaio de leitura com base sociológica, selecionamos uma imagem documental da fotógrafa italiana, radicada no México, Assunta Adelaide Luigia Modotti Mondini (1896-1942), que assumiu o nome artístico Tina Modotti. 15 UNIDADE Estudo de Casos Figura 4 – Tina Modotti. Dos tehuanas con jicalpextle. Museo Nacional de Arte, Cidade do México Fonte: Wikimedia Commons Descrição sumária dos elementos linguísticos: temáticos, técnicos, formais • Gênero artístico: Fotografia. • Autor: Tina Modotti. • Reconhecimento do tema: Fotografia documental. A imagem mostra duas mulheres saindo de uma casa, uma delas transportando uma vasilha com as mãos e a outra equilibrando outro artefato de mesmo tipo sobre a cabeça. • Técnicos: Fotografia em preto e branco, prata sobre gelatina. • Formais: » Espacialidade: podemos identificar três planos, sendo o primeiro deles ocu- pado pelas figuras femininas, o segundo sendo a parede da casa e um mais ao fundo, o interior da casa. » Tipo de composição: a distribuição dos elementos prioriza a verticalidade, quase setorizando o campo plástico em zonas retangulares. 16 17 » Tipo de iluminação: trata-se de uma iluminação natural, em uma tomada externa realizada durante o dia. » Estrutura da obra: aparentemente, a imagem trata de uma cena do cotidiano. O título descreve a cena como duas tehuanas com jicalpextle. Chama-se de tehuana um dos mais conhecidos trajes regionais mexicanos, usado sobretudo pelas mulheres da etnia zapoteca, que vivem no istmo de Tehuantepec, princi- palmente nas festas civis e religiosas. O jicalpextle é um tipo de recipiente de elaborada fatura artesanal, usado para o transporte de oferendas (flores e frutas) aos santos em suas festividades, e também para a decoração ou ainda para o armazenamento de objetos de valor, como joias e dinheiro. É uma tradição que as mulheres que o transportem vistam o traje típico, como vemos na foto, especialmente nas festas de santos. Conheça mais a respeito da tradição dos jicalpextle em: https://goo.gl/3bH2me. Ex pl or Relação destes elementos com outras linguagens anteriores ou posteriores Seguindo uma tendência ao realismo social, a imagem nos revela um regis- tro do cotidiano das pessoas aqui retratadas, o que dá à fotografia um aspecto de espontaneidade. Tina Modotti (1895 - 1942), antes de dedicar-se à fotografia, desenvolveu uma carreira como atriz. Aos dezessete anos, deixou a Itália rumo aos Estados Unidos, ten- do trabalhado no teatro italiano em São Francisco e posteriormente em Hollywood. Aproximou-se do universo fotográfico pelo contato com o fotógrafo estadunidense Edward Weston, mas foi no México que sua atividade na área floresceu, assim tam- bém como seu envolvimento com a produção de caráter engajado, estabelecendo contatos com artistas como Diego Rivera, Frida Kahlo, David Siqueiros, além de ativistas políticos e revolucionários. Seus primeiros trabalhos envolveram temas mais neutros, como a arquitetura, imagens da natureza, efeitos de luz e sombra. Assim a descreve Manguel: Na inóspita paisagem americana, Modotti usou a luz radiante do sol para criar cópias por contato, pondo o negativo diretamente sobre o papel sensibilizado e expondo-o à luz. Em 1926, começou a usar papel de emulsão fotográfica, que deu ao seu trabalho uma impressão mais quente, mais tátil. (p. 97.) Em seguida, voltou seus olhos para a realidade mexicana, opondo-se às injus- tiças, e engajando-se no ativismo político transformou gradativamente sua obra. 17 UNIDADE Estudo de Casos Conexões entre o tema e o meio. Vinculação sócio-histórica Embora não tenhamos a data precisa dessa imagem, é provável tratar-se de uma fotografia do final da década de 1920, quando Tina e Edward Weston foram comis- sionados para viajar pelo México realizando uma documentação fotográfica para o livro Idols Behind Altars, de Anita Brenner. Embora haja controvérsias a respeito da autoria das fotografias, sabe-se que Modotti envolveu-se com a vida das pessoas e sua realidade social, enquanto que seu parceiro de trabalho dedicou-se muito mais às paisagens e ao universo artesanal que envolvia aquele povo. Para Edward Weston, o trabalho de Modotti passou a “transformar o tangível em intangível, transmutar a matéria em ideologia” (apud MANGUEL, p. 98). Análise das conexões entre significado e meio histórico Em princípio, poderia ser apenas uma simples imagem do cotidiano, mas ao ana- lisarmos o contexto histórico no qual se insere a imagem verificamos poder tratar-se de uma imagem que busca reforçar a importância das tradições mexicanas. Se reali- zada no final de década de 1920 e, portanto, no período pós-Revolução Mexicana, ela integra toda uma tentativa de retomada da identidade desse povo. Se parte do livro de Anita Brenner, o discurso se torna ainda mais enfático nesse sentido, visto que a autora da publicação, uma estudiosa do universo da arte e da cultura mexicanas, integrou o movimento de arte pós-revolucionário, que muito valorizava as tradições indígenas naquele país. Assim, nesse caso, esta fotografia de Tina Modotti, embora não apresente um olhar tão crítico quanto vemos em outras de suas obras nas quais registra trabalha- dores rurais, por exemplo, traz um discurso de valorização da cultura mexicana e da importância de sua valorização para a consolidaçãoda identidade de um povo. Veja outros trabalhos dessa importante fotógrafa que esteve diretamente ligada aos ar- tistas e ao movimento do muralismo mexicano, Tina Modotti, em: https://goo.gl/xrPg6m. Ex pl or Análise Formalista Para a análise de caráter formalista, selecionamos uma fotografia de natureza. Trata-se de uma imagem de um grou-coroado, uma ave de origem africana. Nesta imagem, vemos uma composição dividida em dois planos – a ave e o fundo – sendo que o autor concentrou sua atenção na figura da ave, reduzindo a nitidez de todo o fundo. 18 19 A imagem do animal, registra- do a meio corpo, como em um retrato, ocupa a metade esquer- da do campo plástico, aqui orien- tado horizontalmente: vemos que o corpo da ave está “ancorado” junto à base da composição e seu pescoço alonga-se para cima e em direção à direita da fotogra- fia, criando, assim, uma sensa- ção de movimento. A luz, no entanto, como em um retrato da Renascença, é de uma claridade absoluta, não deixa dúvidas quanto à figura em ques- tão, embora o jogo criado com a nitidez não nos permita ver com precisão os elementos do fundo. Segundo a terminologia indicada por Wölfflin, poderíamos dizer que o autor conferiu ao fundo um aspecto pictural, que contrasta com a linearidade da ave, já que podemos vê-la nitidamente, identificando em sua figura os menores detalhes (cores, formas etc.). O colorido do fundo apresenta um predomínio de esverdeados, mais intensos à esquerda e, gradativamente, em função das variações de luminosidade, tornando- -se mais amarelados à direita. Essas delicadas mudanças tonais quase unificam-se em um todo que nos remeteriam a pinceladas sobre uma tela. Em contrapartida, no grou predominam tons de cinza e preto, que, por sua vez, contrastam com os avermelhados que colorem parte de sua cabeça (em torno do olho) e o penacho amarelo-ouro, que a emoldura como uma coroa. Uma área mais escura corta horizontalmente o campo de fundo, criando uma ligação com as partes mais escuras da plumagem da ave. Trata-se de um enquadramento pouco convencional para um “retrato”, o que se pode concluir pelo deslocamento do personagem principal, fugindo da tradicional composição calcada em uma ocupação simétrica do espaço e, principalmente, por esse recurso de desfocar o fundo, em favor do primeiro plano. Natural da África, o grou-coroado é a ave símbolo da República Democrática do Congo. Uma ave de porte elegante, monogâmica (o grou tem uma única parceira por toda a vida) e que tem hábitos curiosos em relação a outros tipos de grous, pois este é o único de vida fixa (não é uma ave migratória) e que costuma empoleirar-se em árvores para repousar. Figura 5 – Tomasz Podlak. Grou-coroado Fonte: pxhere.com 19 UNIDADE Estudo de Casos Análise Gestáltica A fotografia Mãe migrante, Nipomo, Califórnia, da estadunidense Dorothea Lange, é uma das mais conhecidas ima- gens no cenário dos Estados Unidos na década de 1930. Com a Grande Depres- são, crise econômica que assolou o país após a quebra da Bolsa de Nova York, e com a aproximação da II Guerra Mun- dial, muitas famílias passam a enfrentar as mais adversas condições. Durante a Grande Depressão, Lange passou a usar a fotografia como um ins- trumento para defender os direitos dessas pessoas. A imagem em questão integra uma série de fotografias que Dorothea Lange registrou quando esteve a serviço da Farm Security Administration, um programa do governo dos Estados Uni- dos que tinha como objetivo promover o desenvolvimento de áreas agrícolas que apresentavam uma baixa qualidade de vida de seus habitantes em relação a ou- tras regiões do país. A cena apresenta Florence Owens Thompson, uma mulher que vivia com seus sete filhos em uma barraca, em um acampamento de colhedores de ervilhas nos campos de Nipomo, na Califórina. Em Tudo sobre fotografia (2012, p. 311) localizamos o seguinte comentário a respeito deste trabalho de Lange: [...] Ela enfoca uma única pessoa e retrata como um arquétipo, não um indivíduo, representando as vítimas da Depressão por meio do tema tra- dicional da maternidade e da família. […] Lange representa Thompson como a Madona, um símbolo de dignidade e virtude da tradição cristã que talvez diferisse de suas próprias crenças. Conheça mais a respeito de Dorothea Lange e seu trabalho como fotógrafa em: https://goo.gl/pujLc2. Ex pl or A seguir, veremos alguns pontos a se observar durante uma análise formal da imagem com base na teoria da Gestalt, em particular nos estudos de Rudolf Arnheim, dirigidos à análise de obras de arte. Figura 6 – Dorothea Lange. Mãe migrante, Nipomo, Califórnia, 1936 Fonte: Wikimedia Commons 20 21 Equilíbrio A composição trabalha com uma distribuição dos elementos ao longo do eixo central, ou seja, estrutura-se, tal qual um retrato renascentista, em um equilíbrio axial. Isso significa que linhas imaginárias que acompanham os corpos das três crianças estruturam um grande triângulo, que tem o vértice mais alto posicionado no rosto da mãe. Forma Embora o tema seja a figura humana, a imagem evoca formas geométricas; as formas dos braços das crianças e da mãe, o desenho anguloso do rosto da mulher; o próprio desenho formado pelas pregas das roupas, nos remetem a formas trian- gulares. Por fim, a posição das crianças ladeando a mãe e uma terceira em seu colo formam um grande triângulo imaginário ao seu redor. Espaço Poderíamos entender a composição a partir de alguns planos, sendo o primeiro formado pelo elemento posicionado à direita da composição (provavelmente parte da estrutura que sustenta a barraca); o segundo formado pelo rosto da mãe e o braço que o sustenta; o terceiro plano inclui as crianças que cercam a figura feminina; e um último plano, o fundo, composto pela barraca que abriga o grupo. Cor e iluminação Trata-se de uma fotografia em preto e branco; em lugar de grandes contrastes, observa-se, graças a uma suave luz natural (luz do sol ao final da tarde), o predo- mínio do uso de cinzas médios, porém com uma grande variedade tonal. Somente no fundo há tons um pouco mais escuros, que contrastam com a claridade que se concentra no rosto da mãe e na criança em seu colo. Movimento O rosto da “mãe migrante” (em particular os seus olhos) constitui um centro de interesse na imagem, o que é acentuado por ser a parte mais iluminada da cena. Em seguida, o olhar do observador se dirige para a direita e “escorrega” pela figura da criança, chegando à base da imagem. O movimento do olhar é então dirigido novamente ao rosto da mãe, pela linha de força que se forma pela criança da esquerda e se reforça pela posição do braço da mulher, que aponta justamente para o seu rosto. Tensão e expressão O acúmulo de elementos em um bloco central traz uma certa sensação de “fechamento” do espaço. O fato de os rostos das duas crianças estarem ocultos cria um clima de indefinição, vazio e solidão, o que se acentua e culmina com a expressão da mãe, que revela angústia e grande tensão visual. 21 UNIDADE Estudo de Casos Análise Fenomenológica Segundo Jesús Viñuales (1986), a leitura de uma imagem a partir de uma abordagem fenomenológica considera que a mesma é constituída de planos interdependentes, mas que podem ser analisados de forma isolada. Segundo sua concepção, a imagem (ou a obra) tem um plano terrestre (a matéria física e sensível) e o plano cósmico (a forma e seus elementos representativos e de significado) e é a partir desse modelo de análise que vamos estudar a obra de Vik Muniz, esse importante artista brasileiro, que, vivendo nos Estados Unidos, encontrou espaço para o de- senvolvimento de uma consistente car- reira como artista e fotógrafo. Plano terrestre (a matéria) O Material A imagem fotografada é uma composição constituída por uma série de fragmentos coletados no lixo. O Sensível Por ser uma organização de diversos fragmentos, o material da obra em si perde lugar no registro fotográfico. A fotografia nos apresentauma unidade, os volumes construídos pelo jogo de luz e sombra. Plano cósmico (a forma) Fatores representativos Espaciais O artista utilizou aqui uma composição bastante tradicional, de estrutura trian- gular, na qual a mãe ocupa o vértice e as duas crianças a base. De um modo geral, poderíamos afirmar que se trata de uma composição baseada em uma ideia de equilíbrio axial. Figura 7 – Vik Muniz. Pictures of Garbage, 2008-2011. Técnica: escultura seguida de fotografia Fonte: Vik Muniz, 1961 22 23 Esse “amontoado” de objetos contrasta com o chão limpo, faz com que reco- nheçamos nesse emoldurado que circunda as figuras uma textura mais áspera e irregular, ao mesmo tempo que intuímos que possa haver uma certa maciez nas áreas que representam a pele da mãe e das crianças. Temporais Ao investigar a história da imagem, seu processo (fotografia feita pelo artista, projetada em larga escala e remontada com peças vindas do lixão e novamente o registro fotográfico), vemos que ele evoca a clássica imagem de uma Madona, ou seja, a mãe ladeada por seus filhos. Mesmo sendo um registro contemporâneo, a composição apela para aquilo que a história da arte já consagrou como a repre- sentação da mãe, de ar quase santificado, cercada por sua prole, como vemos em tantas obras de Leonardo da Vinci, Rafael de Sanzio e outros. Fatores significativos Miméticos As texturas e relevos do material que forma a imagem são “apagados” e dão lugar a uma volumetria típica da representação pictórica. Não interessa o material de fato, mas sim a ilusão de ótica que ele proporciona, a contribuição que ele traz para que a representação imite o real. Expressivos Ao retratar a mãe com um manto, podemos reconhecer no artista a intenção da santificação da figura feminina. Essa figura que carrega a criança, que dela cuida, está fixada na cultura cristã como uma associação direta à virgem Maria e, sendo assim, coloca a mãe, a mulher, num pedestal, onde ela é capturada sob essa única perspectiva: a da maternidade. Sugestivos O material, o contexto, a imagem em si. Há um claro contraste entre a singeleza e o ar angelical da composição e os materiais utilizados para formá-la. Ao lixo e seus dejetos só associamos o putrefato e o descartado, oposto ao que associamos às mães e à infância. Conheça outras obras de Vik Muniz na Enciclopédia Itaú Cultural: https://goo.gl/ly41B3. Ex pl or 23 UNIDADE Estudo de Casos Análise Estruturalista Ao tratar a respeito da leitura estruturalista de uma imagem, Jesús Viñuales des- taca alguns pontos que podem ser observados como balizadores de possíveis es- truturas (não necessariamente formais) identificáveis na obra. A esses “pontos”, o autor denomina “regras” – imanência, pertinência, comutação, compatibilidade etc. Além dessas, ele nos coloca em contato com a proposta de Roman Jakobson, que busca compreender as mensagens a partir da estrutura do sistema comunicacional. Figura 8 – Bailarinos no salão de festas Fonte: pixabay.com A imagem nos mostra um casal entrelaçado, em um espaço com fundo mono- cromático. Os trajes e a posição em que se encontram (o homem suspendendo a mulher em seus braços) sugerem a tomada de um instante durante os movimentos de uma dança. O grupo está deslocado para o canto esquerdo do campo visual, atraindo a atenção do observador para a lateral da imagem; um tecido vermelho, longo e es- voaçante parte do corpo da mulher e se dirige para a direita da imagem. Aqui vemos dois sistemas que coexistem em um mesmo campo: o primeiro deles composto pelos elementos vivos que compõem o núcleo do movimento (ho- mem-mulher), e segue-se a esse um outro, dos elementos artificiais que compõem o espaço estático (o fundo liso, cinza e vazio). Assim, forma-se um paradigma movimento-repouso. A união do casal, a mulher completamente sustentada pelos braços de seu par- ceiro, sem ao menos tocar o chão, nos traz uma ideia de bloco único, que se sus- tenta mesmo em meio ao vazio. Se em lugar do fundo liso tivéssemos um outro 24 25 contexto, um salão de baile, por exemplo, provavelmente a ideia de cumplicidade e isolamento do casal permaneceria a mesma. Desse modo, entende-se que a men- sagem é clara e não deixa dúvidas. A construção é completamente compatível e coerente: a confiabilidade e cum- plicidade do casal é clara e somente se reforça pelo vazio estéril do seu entorno. Ao analisarmos esta mesma fotografia (Figura 8) a partir das funções da lingua- gem, conforme o modelo proposto por Roman Jakobson, é possível observar que ainda que em uma imagem possamos ter a presença de todas as funções, é natural que algumas se mostrem mais presentes. No caso da imagem em questão, as funções emotiva, poética e metalinguística se destacam. O casal manifesta explicitamente o seu modo pessoal de lidar com o espaço e com a situação. Por meio do movimento de seus corpos entrelaçados, apresentam a sua leitura particular daquele momento, é o caráter emotivo, expressional que se manifesta na imagem. Mas é a fotografia que registra o movimento, logo há todo um discurso da ima- gem sobre a imagem que a revela. É a metalinguagem. Por outro lado, a ênfase dada pelo fotógrafo aos corpos, ao diálogo entre o cheio e o vazio, os contrastes entre as cores neutras do espaço e do traje mascu- lino em relação ao vermelho que parte do corpo da bailarina, cruzando o campo compositivo, expressam claramente um “mergulho” nos elementos da linguagem visual. É a mensagem versando a respeito de si mesma. A função fática, que testa o canal de comunicação, e a conativa, que nos cha- ma a atenção enquanto receptores, podem estar concentradas nessa mesma faixa vermelha que leva o olhar do observador pelo campo visual e o enlaça novamente, trazendo-o para os personagens centrais. A função referencial está presente na própria imagem em si: os dois bailarinos enlaçados em um movimento de dança. O tecido se derramando pelo espaço livre, partindo do corpo da bailarina. O contraste entre o corpo e o vazio. Importante! Por fi m, ao observarmos essa imagem, vemos o trabalho de um fotógrafo que cria todo um jogo de contrastes entre vazio-cheio, estaticidade-movimento, claros-escuros, brancos- -vermelhos e até, metaforicamente, morte e vida. Uma imagem potente que chama o olhar do observador e o convida ao movimento jun- to com o casal, desloca-o por todo o campo, criando dinâmica e dramaticidade por meio do jogo compositivo. Em Síntese 25 UNIDADE Estudo de Casos Últimas Palavras A partir da interpretação de traços e registros de uma determinada cultu- ra, acionamos uma estrutura espaço-temporal que somada ao referencial teórico do investigador permite que se elaborem tramas em um trabalho de construção capaz de produzir sentido, como em um puzzle. Aos pou- cos, as peças se articulam, oferecem diferentes combinações e revelam explicações que permitem uma leitura do espaço em diferentes tempos. (COELHO, 2008, p. 2) Depois de uma longa jornada por diferentes leituras de obras fotográficas, finalizamos mais uma unidade de estudos. Vale ressaltar que estas são algumas possibilidades de análise; por estas verificamos como cada uma das metodologias pode enfocar um ou outro aspecto da imagem – ora histórico, ora formal, ora documental, crítico-social etc. A ideia é ampliar o repertório e compreender que uma imagem é um conjunto de camadas a serem descortinadas, revelando o seu complexo conteúdo, que vai muito além de “simples” conjunto de formas. 26 27 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Sites Retratos | Brasiliana Fotográfica https://goo.gl/YftzXo Vídeos LABTRI FAUUSP | Largo São Francisco (1862 - 1887) Conheça o trabalho do grupo LABTRI, da Faculdade de Arquitetura da Universidade de São Paulo, e a reconstituição animada que realizaram a respeito do Largo de São Francisco, tendo como base algumas das fotografias de Militão de Azevedo. https://youtu.be/hLocFleh2tU Filmes Lixo extraordinárioLixo extraordinário. UK/Brasil, 2010. Direção: Lucy Walker; João Jardim; Karen Harley. O documentário trata a respeito do projeto realizado por Vik Muniz envolvendo catadores de material reciclável em um aterro no Jardim Gramacho, na periferia de Duque de Caxias. Leitura O artista e o seu meio social: considerações acerca da pintura Aautorretrato com cigarro de Edvard Munch BORTULUCCE, Vanessa Beatriz. O artista e o seu meio social: considerações acerca da pintura Aautorretrato com cigarro de Edvard Munch. In: IV Encontro de História da Arte – IFCH / UNICAMP, 2008. https://goo.gl/bfCcBg Análisis de la imagen fotográfica Leia também uma análise completa a respeito da fotografia Mãe migrante, de Dorothea Lange, envolvendo diferentes níveis de leitura - contextual, morfológico, compositivo e enunciativo: UNIVERSITAT JACUME I. Grupo de investigación Itaca – UJI. Banco de datos. Análisis de la imagen fotográfica. https://goo.gl/QZYwyA 27 UNIDADE Estudo de Casos Referências ARGAN, G. C.; FAGIOLO, M. Guia de história da arte. Lisboa: Editorial Estam- pa, 1994. AUMONT, J. A imagem. Campinas: Papirus, 2011. COELHO, Letícia Castilhos. O simbólico na paisagem através da leitura de ima- gens. In: Publicação do GPIT – Grupo de Pesquisa Identidade e Território – UFR- GS. Disponível em: <http://www.ufrgs.br/gpit/wp-content/uploads/2011/03/ castilhos-leticia-leitura-de-imagens.pdf>. Acesso em: 07 out. 2018. COSTELLA, A. F. Para apreciar a arte: roteiro didático. 3ª ed. São Paulo: Senac, 2002. FARTHING, S. Tudo sobre arte. Rio de Janeiro: Sextante, 2010. FELICI, Javier Marzal. Cómo se lee una fotografía: interpretaciones de la mirada. Madrid: Cátedra, 2009. GERVEREAU, L. Ver, compreender e analisar as imagens. Portugal: Edi- ções 70, 2007. HACKING, Juliet. Tudo sobre fotografia. Rio de Janeiro: Sextante, 2012. JOLY, M. Introdução à análise da imagem. 9ª ed. Campinas: Papirus, 2005. MANGUEL, Alberto. Lendo imagens. São Paulo: Companhia das Letras, 2001. TREVISAN, A. 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