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Indivíduo e Sociedade

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Nesta unidade
Um dos temas a ser investigado nesta unidade é o 
surgimento da sociedade urbana e industrial, com a 
ascensão da burguesia, quando aparecem novas for-
mas de comportamento social, com valores pauta-
dos na liberdade, no acúmulo de bens e de riquezas, 
no consumo, no individualismo e na competição.
É esse o contexto em que nasce a própria Sociolo-
gia. Ela surge juntamente com a fábrica, com a produ-
ção mecanizada, com a urbanização crescente, com 
novos atores sociais, como a burguesia industrial e 
o proletariado. Não por acaso, esses são alguns dos 
clássicos temas sociológicos. Em certa medida, quan-
do investiga esses fenômenos e as relações sociais a 
eles associadas, a Sociologia olha para si mesma.
O começo de uma jornada 
Esta unidade tem o objetivo de apresentar a 
Sociologia em traços gerais, acompanhar sua for-
mação e explicar seus objetivos, destacando sua 
importância no contexto contemporâneo. O ponto 
de partida, porém, data da organização dos primei-
ros grupos humanos, momento em que surge e se 
reproduz o conhecimento dentro da sociedade. 
Durante milênios, o senso comum foi responsá-
vel pela massa de informações que o indivíduo re-
cebia como herança do grupo social. Com o tempo, 
parte desse cabedal de conhecimento passou a ser 
questionada, em especial quando os fenômenos 
naturais e sociais foram submetidos à investiga-
ção científica, mais sistemática e rigorosa. 
4
3
2
Um planeta sem fronteiras 
Nosso mundo ontem e hoje
A vida cotidiana 
Vamos pensar a sociedade1
1Indivíduo e sociedade
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O destino de nossos tempos é caracterizado pela ra-
cionalização e intelectualização e, acima de tudo, pelo 
‘desencantamento do mundo’. [...] nas salas de aula da 
universidade nenhuma outra virtude é válida a não ser a 
simples integridade intelectual [...].”
Weber, Max. A ciência como vocação. In: Gerth, H; Mills, W. (orgs.). Ensaios 
de Sociologia. Rio de Janeiro: Zahar, 1971. p. 177-8, 180, 182-3.
 Com base no texto citado:
1. Pesquise em que período histórico a ciência 
esteve associada às revelações sagradas. 
2. Pesquise em qual civilização do Ocidente sur-
giram as explicações dos filósofos sobre o sig-
nificado do Universo. 
3. Responda: como se organiza a ciência moderna 
e qual a sua contribuição para a sociedade?
Vocação científica 
Para possibilitar uma reflexão inicial sobre al-
guns dos temas desta unidade, leia a seguinte pas-
sagem do sociólogo alemão Max Weber (1917):
“Primeiro, é claro, a ciência contribui para a tecnologia 
de controle da vida calculando os objetos externos bem 
como as atividades do homem. [...] 
Segundo, a ciência pode contribuir com [...] métodos 
de pensamento, os instrumentos e o treinamento para o 
pensamento. [...].
A ciência hoje é uma ‘vocação’ organizada em discipli-
nas especiais a serviço do autoesclarecimento e conheci-
mento de fatos inter-relacionados. Não é o dom da graça 
de videntes e profetas que cuidam de valores e revelações 
sagradas, nem participa da contemplação dos sábios e fi-
lósofos sobre o significado do universo. [...]
Em espaços públicos, costuma acontecer toda sorte de interações 
sociais, desde os cuidados dos pais com os filhos, atividades 
de crianças e adolescentes, namoros, conversas entre amigos, 
até brigas e assaltos. Assim, podemos dizer que um parque se 
configura como uma possibilidade de espaço aberto à investigação 
a respeito da socialização no cotidiano, um dos temas desta 
unidade. Parque do Ibirapuera, em São Paulo (SP), 2006. 
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10
Capítulo
Neste capítulo
1
todos os que os cercam e que formam a so-
ciedade a que pertencem.
Vamos procurar entender como funcio-
na a relação entre o indivíduo e a sociedade 
— o conjunto de indivíduos somados que se 
organizam em instituições públicas e priva-
das para viver coletivamente.
Distanciamento crítico 
Para compreender essa relação entre o 
indivíduo e a sociedade, o senso comum 
nem sempre é suficiente. Coube à Sociolo-
gia tornar o senso comum objeto de estudo 
e, portanto, de questionamento, o que exi-
giu um distanciamento crítico em relação 
a ele. Foi essa a tarefa empreendida pelos 
pioneiros do conhecimento sociológico, 
através do uso de métodos adequados à in-
vestigação sistemática do ser humano e de 
como ele vive em sociedade, métodos que 
serão aqui estudados.
Por meio dessa compreensão inicial, 
começa-se a ter acesso ao instrumental ne-
cessário para desvendar os outros aspectos 
e estruturas que compõem a sociedade e 
que serão vistos ao longo do aprendizado. 
Senso comum e conhecimento 
científico 
Um dos principais objetivos deste capí-
tulo é determinar o que é e para que serve 
a Sociologia. Para tanto, o texto toma como 
ponto de partida a forma mais comum de 
se conhecer e compreender um aconteci-
mento qualquer: vivenciando-o.
O conhecimento adquirido por meio do 
senso comum, herdado do grupo social e 
continuamente ampliado mediante a incor-
poração das experiências cotidianas, resul-
ta, em última análise, do contato permanen-
te entre indivíduos, através de abordagens 
diretas ou indiretas. Esse contato contínuo 
gera um conhecimento comum, que mescla 
conclusões de graus variáveis de precisão 
baseadas na observação dos aspectos da 
vida natural e social. O convívio humano 
possibilita a geração de diferentes repertó-
rios culturais (valores, costumes e formas 
de conhecimento), a depender da coletivi-
dade em questão. Tal conhecimento é par-
tilhado por todos os integrantes do grupo 
social e refere-se às coisas ao seu redor, a 
eles mesmos e a suas experiências e às de 
O senso comum �
como ponto de 
partida
O nascimento da �
ciência moderna
A Sociologia �
aplicada ao 
cotidiano
Nós no mundo �
A formação da �
identidade
O mundo em nós �
Vamos pensar a sociedade
> Lojas na rua dos Andradas, na cidade de Porto Alegre (RS). Fotografia de 2008. Além de impulsionar a 
economia, o consumo coloca os indivíduos em contato uns com os outros, mobilizando valores. São esses 
contatos que geram o conhecimento adquirido pelo senso comum, que é examinado neste capítulo.
Cite um caso em que o conhecimento tradicional, do senso comum, foi contestado pela 1. 
investigação científica.
Você conhece algum caso no qual as práticas associadas ao senso comum tenham sido 2. 
confirmadas e sistematizadas pela ciência?
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11
 O senso comum como ponto de partida 
Vamos imaginar que determinada pes-
soa esteja em casa, preparando um delicio-
so bolo de fubá e aquecendo água para fazer 
café. Para saber se já está assado, é comum 
que algumas pessoas abram o forno com 
cuidado e espetem o bolo com um garfo, re-
tirando-o em seguida e verificando se não 
há nele nenhum resíduo de massa crua. O 
garfo estando seco, já se sabe que o bolo está 
pronto. Depois de desligar o forno, é hora 
de preparar o café. Mas vamos supor que, 
inadvertidamente, a pessoa encoste uma das 
mãos na chaleira quente e se queime. 
Há pessoas que, diante de uma situação 
como essa, tomam atitudes inadequadas. Por 
exemplo, correm até o banheiro e colocam 
pequena quantidade de creme dental no lo-
cal atingido, obtendo certo alívio por ter res-
friado a queimadura.
Conhecimento compartilhado  
Os procedimentos mencionados acima são 
considerados uma espécie de conhecimento 
“natural”, como se, de algum modo, o indiví-
duo sempre soubesse o que fazer em tais si-
tuações. No entanto, esse conhecimento não 
é instintivo nem surge de forma mágica, mas 
é apreendido pela pessoa em sua convivência 
diária com outros seres humanos – parentes, 
amigos, colegas de trabalho e até mesmo des-
conhecidos. E, ainda, nem sempre tal conhe-
cimento é exato, preciso, rigoroso: no caso 
de queimaduras leves, chamadas de 1o grau, 
a primeira providência consiste em lavar o 
local com água fria e corrente. 
Esse conhecimento difundido entre as 
pessoas de modo geral,que corresponde a 
uma visão de mundo compartilhada pelo 
grupo social e sempre atualizada pelas expe-
riências cotidianas que continuam a ocorrer, 
é chamado senso comum.
 O senso comum  
no cotidiano 
Considerar o dia de trabalho de um ope-
rário do setor de construção civil é uma boa 
forma para entender como se processa o co-
nhecimento vindo do senso comum. Esse 
operário geralmente inicia seu dia muito 
cedo para poder se deslocar até o local onde 
a obra está sendo erguida. Para tanto, é preci-
so usufruir do serviço de transporte público, 
o que lhe exige certo conhecimento quanto 
aos itinerários de ônibus, trens e metrô, de-
pendendo dos serviços à disposição.
As atividades dentro da obra também são 
as mesmas feitas em obras anteriores, seguin-
do um mesmo padrão de repetição, facilmen-
te realizado pelo operário. Sua experiência 
profissional permite-lhe certo domínio das 
técnicas de construção, mesmo desconhecen-
do conceitos e termos técnicos comuns a en-
genheiros e arquitetos.
Por sua vez, a incorporação desses conhe-
cimentos obtidos no cotidiano é necessária 
para que qualquer indivíduo da sociedade 
possa interagir e viver socialmente. São essas 
repetições no dia a dia que constituem a ro-
tina individual.
Quebra de padrão 
Essas rotinas continuam a repetir-se até 
que alguma mudança promova uma quebra 
nesse padrão. Quando isso acontece, uma 
nova rotina logo é instaurada e vem substi-
tuir a anterior.
> O ato de estudar faz parte da rotina semanal de muitas crianças e jovens de todo o mundo. A escola favorece 
o convívio entre iguais, no que diz respeito à faixa etária e ao momento do ciclo de vida, desde a infância. 
Mais tarde, a passagem do Ensino Fundamental para o Ensino Médio, e deste para o Ensino Superior, fornece 
oportunidades para o estabelecimento de novas rotinas, comportamentos, relações e valores.
 O senso comum como ponto de partida 
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12
Vamos pensar a sociedade1
 Realidade imediata 
A rotina diária faz parte do que os sociólogos Peter Berger e Thomas 
Luckmann – autores de A construção social da realidade (1966) – cha-
mam de realidade imediata, ou seja, a realidade que o indivíduo perce-
be ao seu redor e vive no momento presente, exigindo sempre soluções 
que garantam a sua sobrevivência. Os dois autores observam que qual-
quer ação repetida com frequência torna-se parte de um padrão, que 
pode então ser reproduzido com economia de esforço e, por isso mes-
mo, é apreendido por seu realizador. De fato, sem essa rotinização, uma 
pessoa teria de despender muito tempo refletindo sobre como realizar 
as pequenas tarefas que lhe possibilitariam a existência. Contraditoria-
mente, se o tempo fosse tomado exclusivamente por essas tarefas coti-
dianas, a pessoa não teria condições de pensar ou refletir sobre outros 
assuntos e acontecimentos mais relevantes.
Em meio à multidão  
Esse automatismo não é percebido somente nas pequenas ações do 
cotidiano. O sociólogo David Riesman, autor de A multidão solitária 
(1950), sustenta que o homem contemporâneo não tende a agir movi-
do pela reflexão, e sim a reagir com base no que, real ou supostamente, 
os outros pensam dele. Ele é, mais do que nunca, um ser social, pois só 
existe na multidão, porém é cada vez mais solitário, incapaz de encon-
trar um interlocutor para um diálogo fecundo. Resta saber em que me-
dida, nas últimas décadas, o desenvolvimento da chamada “sociedade 
do conhecimento” contrariou essa tendência ao multiplicar as oportu-
nidades de reflexão fundamentadas na informática. 
Letra de música
O cotidiano na música
A multiplicidade de situações do cotidiano — e as rotinas a ele incorporadas — inspirou diversas canções da mú-
sica popular brasileira. Veja o tratamento dado ao tema por Nando Reis. 
Diariamente
Para calar a boca: rícino
[…]
Para viagem longa: jato
Para difíceis contas: calculadora
Para o pneu na lona: jacaré
Para a pantalona: nesga
Para pular a onda: litoral
Para lápis ter ponta: apontador
Para o pará e o amazonas: látex
Para parar na pamplona: assis
Para trazer à tona: homem-rã
[…]
Para o presente da noiva: marzipã
[…]
Para o outono a folha: exclusão
Para embaixo da sombra: guarda-sol
Para todas as coisas: dicionário
Para que fiquem prontas: paciência
Para dormir a fronha: madrigal
Para brincar na gangorra: dois
Para fazer uma touca: bobes
Para beber uma coca: dropes
Para ferver uma sopa: graus
Para a luz lá na roça: 220 volts
Para vigias em ronda: café
Para limpar a lousa: apagador
Para o beijo da moça: paladar
Para uma voz muito rouca: hortelã
Para a cor roxa: ataúde
Para a galocha: verlon
Para ser moda: melancia
Para abrir a rosa: temporada
Para aumentar a vitrola: sábado
Para a cama de mola: hóspede
Para trancar bem a porta: cadeado
[…]
Para quem não acorda: balde
Para a letra torta: pauta
[…]
Para os dias de prova: amnésia
Para estourar pipoca: barulho
Para quem se afoga: isopor
Para levar na escola: condução
Para os dias de folga: namorado
Para o automóvel que capota: guincho
Para fechar uma aposta: paraninfo
Para quem se comporta: brinde
Para a mulher que aborta: repouso
Para saber a resposta: vide o verso
Para escolher a compota: Jundiaí
[…]
Os versos caracterizam o conhecimento produzido pelo senso comum para resolver os problemas cotidianos.
1. Procure listar quais situações apresentadas na canção estão integradas na sua rotina e quais utilizam elementos 
que não fazem parte de seu dia a dia. Em seguida, compare a sua lista com a de seus colegas.
2. Identifique nas características formais dos versos elementos que reforçam a ideia de rotina.
> Acender a lâmpada e colocar roupas na 
máquina de lavar são práticas que, ao serem 
apreendidas pelos indivíduos, tornam-se parte 
da rotina diária.
Reis, Nando. Diariamente. Intérprete: Marisa Monte. Mais. Rio de Janeiro: EMI, 1990.
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13
 O que é o senso comum? 
Deve-se entender o senso comum como 
o conhecimento assimilado pelas pessoas, 
que é produzido coletivamente e incorpo-
rado por suas próprias experiências cotidia-
nas. Essa foi a primeira forma de conheci-
mento construída pela humanidade desde 
que passou a vi ver em comunidades. A 
transmissão de conhecimentos úteis à so-
brevivência dos seres humanos ao longo de 
milênios justifica, por si só, sua importân-
cia. Nesse extenso período, o registro dos 
padrões de repetição dos fenômenos natu-
rais, por exemplo, representou o primeiro 
passo para entendê-los.
A transmissão desse conhecimento de ge-
ração a geração deu forma à tradição, aos 
costumes passados pelos parentes e ances-
trais e que contribuem para a formação da 
identidade individual e coletiva. Nossa inte-
ração no mundo parte de valores tradicio-
nais, que estão sempre sujeitos a reconfigu-
rações, a depender do contexto. 
Muitas descobertas científicas questio-
nam ou desautorizam ideias e costumes 
difundidos pelo senso comum. Por exem-
plo, crenças como a de que tomar leite com 
manga pode causar dor de barriga, muitas 
vezes infundadas e questionáveis, determi-
nam padrões de comportamento. Por outro 
lado, a mesma ciência reitera muitas noções 
provenientes do senso comum.
A mesma situação se repete na esfera re-
ligiosa. Os dogmas – pontos ou princípios 
de fé apresentados como incontestáveis e 
indiscutíveis – predominaram, por muito 
tempo, como principal forma de explica-
ção da realidade na sociedade ocidental, 
passando a ser contestados apenas na mo-
dernidade, com o surgimento de uma visão 
mais racional dos fatos. Sem pretensões de 
ordenar a sociedade ou de explicar os fe-
nômenos da natureza, a religião é cada vez 
mais, no Ocidente, uma questão de âmbito 
privado: muitos cientistas são religiosos. 
 Identificação do senso  
comum 
Se o senso comum manifesta-se em varia-
das formas, como identificá-lo e interpretá- 
-lo? Para responder a essa questão, pode-se 
utilizar um exemplo prático, como a ocor-
rência da chuva, que pode ser vista comoa 
solução para determinados problemas dos 
agricultores, mas que, quando cai em exces-
so, leva à perda da safra e, muitas vezes, de 
cidades inteiras. Portanto, o senso comum 
é subjetivo, já que sua interpretação varia 
de indivíduo para indivíduo e de coletivida-
de para coletividade.
Tomar um pouco de chuva no verão é 
algo refrescante e agradável, mas no inver-
no significa sentir muito frio e desconforto. 
Assim, existem características qualitativas 
e heterogêneas no senso comum. 
Também existe a tendência à generaliza-
ção. No Brasil, onde a temporada de pre-
cipitações estende-se de outubro a abril, 
muita gente espera que as chuvas ocorram 
sempre nesse período; se, porventura, não 
chover, pode-se procurar uma explicação 
pautada no extraordinário, ignorando a in-
vestigação científica e seus métodos.
O senso comum é uma verdade que deve ser aceita com base na fé; qualquer forma de dúvida implica, como se 
pode perceber nos quadrinhos acima, a repressão aos mais curiosos e questionadores.
1. Você conhece algum caso de perseguição a cientistas pelo fato de suas pesquisas contrariarem dogmas religiosos? 
2. Dê exemplos de afirmações dogmáticas que costumam ser feitas na esfera religiosa, na política e na dos esportes.
Q
ua
dr
in
ho
s
 O que é o senso comum? 
O cartunista 
Laerte brinca 
com o senso 
comum, 
que adquire 
características 
religiosas ao 
se mascarar 
em dogma.
> 
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14
Vamos pensar a sociedade1
O simples ato de aprender a 
andar de bicicleta costuma 
fazer parte do ritual da 
infância e do amparo 
prestado à pessoa pelo 
grupo familiar. Desde o uso 
de bicicletas com rodinhas 
laterais de apoio até o 
momento em que um adulto 
vai segurando a bicicleta 
com a criança tentando 
equilibrar-se sobre ela, 
nota-se um aprendizado 
prático marcado por 
quedas, machucados e 
choros, que são esquecidos 
no momento em que a 
criança consegue, sozinha, 
equilibrar-se na bicicleta e 
sair pedalando. O resultado, 
além da incorporação 
de uma habilidade, é o 
fortalecimento dos laços no 
grupo familiar.
>
Se o senso comum existe desde que os 
seres humanos passaram a se organizar co-
letivamente, como ele é transmitido? Para 
responder a essa questão, pode-se levantar 
algumas situações nas quais ele se manifesta. 
A família  
O filósofo grego Aristóteles (384 a.C.- 
-322 a.C.) já afirmava que a família é a célu-
la essencial da sociedade. Ele observou que 
a família é uma “sociedade cotidiana forma-
da pela natureza e composta de pessoas que 
comem […] o mesmo pão e se esquentam 
[…] com o mesmo fogo”. Embora a origem 
“natural” da família seja atualmente questio-
nada, não há dúvida de que a convivência 
contínua com os familiares ou adultos (no 
caso daqueles que não tiveram oportunida-
de de crescer junto a uma família), princi-
palmente no início da infância, é essencial 
para cada ser humano. Além disso, ao con-
trário dos outros animais, nos primeiros 
anos a criança depende completamente dos 
adultos para a sobrevivência.
 Como se transmite o senso comum
A roda de amigos e colegas  
Conforme vai crescendo, a pessoa tende 
a ampliar seu convívio social ao entrar em 
contato com outras pessoas, que podem ou 
não possuir os mesmos valores que ela. Aos 
poucos, a pessoa vai se cercando de um gru-
po de amigos que, geralmente, têm interes-
ses semelhantes. Essa convivência permite-
lhe incorporar parte do conhecimento dos 
amigos e colegas.
Assim, para um adolescente ou um jo-
vem, é útil saber deslocar-se da escola ou de 
casa até um lugar onde possa divertir-se. Ele 
pode ainda aprender os macetes para supe-
rar as inúmeras fases dos jogos de computa-
dor, entre outras interações e atividades co-
muns a um grupo de amigos.
Nessa relação de proximidade, é comum 
ocorrerem tanto situações de consenso, que 
fortalecem os laços dentro do grupo, quanto 
de conflito, como será visto mais adiante. 
O ambiente de trabalho  
Uma pessoa que nunca trabalhou e vai 
para o primeiro emprego, ou mesmo alguém 
que começa num emprego novo, costuma 
sentir-se deslocada naquele ambiente desco-
nhecido. O convívio com os colegas de tra-
balho é que vai ajudá-la a superar essa fase 
inicial, permitindo que se adapte mais rapi-
damente à rotina profissional.
Os meios de comunicação  
O desenvolvimento da tecnologia dos 
meios de comunicação permite que as infor-
mações cheguem mais rapidamente a cada 
pessoa. A televisão, o rádio, o cinema e, atual-
mente, a internet vêm bombar deando as 
pessoas com informações que são devida-
mente incorporadas ou descartadas confor-
me a conveniência e importância delas na 
vida diária de cada um.
Jornais e programas de televisão veicu-
lam reportagens sobre o cotidiano no cam-
po, tradições familiares, valores humanos. 
Por meio delas, as pessoas incorporam in-
formações práticas que podem ajudá-las em 
casa ou no trabalho. A internet vem tendo 
um papel marcante na sociedade; através 
dos e-mails, as pessoas são capazes de man-
ter contatos imediatos em tempo real; e, 
através dos sites, conseguem acessar os mais 
diversos conteúdos.
Mais ainda, através do ambiente domés-
tico, a criança apega-se aos costumes fami-
liares e identifica-se com os pais ou respon-
sáveis por ela, incorporando até mesmo as 
percepções que eles possuem a respeito do 
mundo. São eles os responsáveis pela trans-
missão dos primeiros conhecimentos, como 
tomar banho, a importância de cuidar da hi-
giene corporal, alimentar-se de forma ade-
quada, entre outros.
10P_EMSL_LA_U01_C01_008a043.indd 14 20.04.10 14:28:54
15
 Algumas características do senso comum 
Embora o senso comum possa condu-
zir a sérios enganos no tocante ao ambiente 
natural e social, o vasto leque de informa-
ções obtidas por seu intermédio compro-
vou ao longo de milênios sua importância 
para a sobrevivência da espécie humana. Na 
verdade, ele permanece bastante útil ainda 
hoje, quando a ciência fornece um conheci-
mento bem mais rigoroso e abrangente so-
bre a realidade. O fato é que todas as pes-
soas, entre elas os cientistas, usam o senso 
comum o tempo todo: ele é essencial à co-
municação e à invenção.
Escolhas  
Entre os principais aspectos positivos do 
senso comum está o fato de que o conheci-
mento obtido através da experiência cotidia-
na é essencial para construir uma vida em 
sociedade. Mais do que isso, a pessoa tem 
suas possibilidades de escolha ampliadas. 
Ela pode dedicar-se a assuntos e afazeres 
que considera merecedores de sua atenção, 
em vez de despender energia com ativida-
des ou questões que considera irrelevan-
tes. A experiência cotidiana pode estimular 
a pessoa a ser mais atenciosa com os outros 
e realizar com mais capricho as tarefas diá-
rias. Com isso, ela passa a aprender mais so-
bre si mesma e sobre os outros, pois é levada 
a prestar mais atenção às demais pessoas e 
àquilo que faz e que, por extensão, a define. 
Desse modo, aperfeiçoa o seu convívio so-
cial e torna-se um ser humano melhor.
Essa convivência coletiva também ajuda a 
moldar a sociedade, contribuindo para a so-
lução dos problemas que costumam surgir e 
que abalam o cotidiano, levando-o a ser re-
formulado, com a geração de novas rotinas. 
Pequenas dificuldades  
O conhecimento obtido do senso comum 
é especialmente útil para superar aqueles mo-
mentos em que o chão parece faltar, nos quais 
uma mudança relevante se coloca, como dei-
xar a casa dos pais para morar sozinho.
Nesse instante, a pessoa passa a depen-
der de si mesma para organizar as rotinas 
do cotidiano. Pouco a pouco, as dificulda-
des iniciais (limpeza da casa, organização de 
contas a pagar, compras do mês, pequenos 
consertos que uma residência sempre exige) 
vão sendo superadas, quase sempre através 
de conhecimentos vindos do contato com 
pais, avós ou outros parentes ou conheci-
dos, ou seja, pertencentes ao rico acervo do 
senso comum.
 Algumas características do senso comum 
Desatenção civil
Conheça melhor
> Cena comum nasvias públicas dos grandes centros urbanos: pessoas que 
se apresentam com seus instrumentos musicais, prendendo a atenção de 
alguns e sendo ignoradas por outros, conforme a maior ou menor atração 
que o evento desperte e de acordo com o tempo e interesse de cada um. 
Na fotografia de 2009, músicos se apresentam em uma rua de Santa 
Mônica, na Califórnia. 
Viver em grandes cidades leva ao contato cotidiano com desco-
nhecidos, contato que pode ou não ser evitado. De acordo com o so-
ciólogo canadense Ervin Goffman, autor de A representação do Eu 
na vida cotidiana (1959), quando esse contato é evitado, a situação 
é classificada como desatenção civil. Tal mecanismo é utilizado de 
forma consciente ou inconsciente por aqueles que notam a pre-
sença de outros ao seu redor, mas optam por ignorá-los, deixan-
do de se relacionar com eles. Essa atitude pode ser vista como um 
mecanismo de defesa, que permite ao indivíduo dar continuidade 
a seus objetivos sem se dispersar. 
1. Na sua opinião, as demandas das outras pessoas podem ser 
uma fonte de dispersão?
2. Dê exemplos de situações em que as pessoas tendem a prestar 
atenção nos outros, até mesmo em desconhecidos, no cotidia-
no das grandes cidades. 
3. Você conhece alguém que já tenha se apresentado nas ruas, 
tocando um instrumento musical? Caso você conheça, con-
verse com essa pessoa e escreva um pequeno texto contando 
como o público costuma reagir.
4. Faça um contraponto entre a análise de Ervin Goffman, que con-
sidera a desatenção civil um mecanismo de defesa do indivíduo, 
para não se dispersar, e a de David Riesman, que vê o homem 
na multidão como um ser solitário, incapaz de estabelecer um 
diálogo efetivo com o próximo.
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16
Vamos pensar a sociedade1
A superação do senso comum (ou pseudociência)
Conheça melhor
Reflita sobre a seguinte passagem, escrita pelo norte-americano Carl Sagan, importante divulgador da ciência.
“Talvez a distinção mais clara entre a ciência e a pseudociência seja 
o fato de que a primeira sabe avaliar com mais perspicácia as im-
perfeições e a falibilidade humanas do que a segunda (ou a revela-
ção ‘infalível’). Se nos recusarmos radicalmente a reconhecer em que 
pontos somos propensos a cair em erro, podemos ter quase certe-
za de que o erro – mesmo o engano sério, os erros profundos – nos 
acompanhará para sempre. Mas, se somos capazes de uma pequena 
autoavaliação corajosa, quaisquer que sejam as reflexões tristes que 
possa provocar, as nossas chances melhoram muito.”
sagan, Carl. O mundo assombrado pelos demônios – A ciência vista como uma vela no escuro. 
São Paulo: Cia. das Letras, 1997. p. 37.
1. Que aproximação você faz entre as palavras de Carl Sagan e a ima-
gem do quadro de Joana d'Arc ao lado?
2. Segundo Carl Sagan, que tipo de comportamento caracteriza a vi-
são pseudocientífica?
3. Que aspecto essencial a prática científica revela sobre cada um de 
nós? 
Execução de Joana d’Arc (1412-31) em 30 de maio de 1431, litografia do século 
XIX, Escola Francesa, coleção particular. A heroína francesa na Guerra dos Cem 
Anos foi condenada à fogueira por “ligações com o demônio”. Comportamentos 
incomuns eram vistos como fruto de possessão demoníaca, que deveria ser 
combatida com a prisão, a tortura ou a morte. As mulheres que se destacavam, 
abandonando sua posição de submissão, eram vistas como ameaças à ordem 
estabelecida e, por esse motivo, punidas severamente de acordo com o senso 
comum do período, marcado pelo predomínio dos dogmas religiosos.
>
 As armadilhas do senso  
comum 
O senso comum, obviamente, não traz 
apenas benefícios. Seu uso contínuo e a pa-
dronização mecânica do pensamento po-
dem nos levar a “engessar” o conhecimento 
no momento em que se acredita que ele está 
pronto e acabado. Aceitam-se muitas “ver-
dades” sem nem ao menos questioná-las, 
sem a menor preocupação com a origem de-
las ou mesmo com o seu significado.
Por geralmente não ser questionado, o 
senso comum mostra suas limitações, impe-
dindo a pessoa de alcançar novas realidades e 
interpretações sobre o mundo, o que pode ser 
complicado, pois leva o homem a estagnar- 
-se em termos científicos. Pior que isso: in-
corporam-se valores que dificultam a inte-
ração social e colocam em risco a própria 
ideia de sociedade.
Exemplos típicos de desvirtuamento do 
senso comum são os estereótipos. As ideias 
preconcebidas, muitas vezes resultantes de 
falsas generalizações ou da falta de conhe-
cimento real sobre determinado assunto, 
podem recair sobre qualquer pessoa na so-
ciedade. No entanto, certas categorias de in-
divíduos, de grupos sociais, de povos e de 
instituições, como as religiosas, são alvos 
mais frequentes de visões estereotipadas. 
Essa perspectiva limitada do ser huma-
no produz situações em que um vê o ou-
tro como inferior simplesmente porque esse 
outro parece encaixar-se em determinado 
estereótipo. No momento em que essa in-
feriorização ocorre, o estereótipo alimenta o 
preconceito. Uma das acepções da palavra 
“preconceito” é a de atitude, sentimento ou 
parecer insensatos, especialmente de natu-
reza hostil, assumidos em consequência da 
generalização apressada de uma experiência 
pessoal ou imposta pelo meio. Os mais dife-
rentes segmentos sociais podem ser vítimas 
de preconceitos: mulheres, negros, judeus, 
homossexuais, migrantes e muitos outros. 
É por esse motivo que o senso comum 
é importante, mas não suficiente para uma 
vida equilibrada e enriquecedora, devendo 
ser superado. Para que essa superação seja 
possível, é preciso falar sobre a prática cientí-
fica, objeto de estudo do próximo módulo.
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17
 O nascimento da ciência moderna
Perfil
René Descartes e o método científico racional
Visto como o “pai do racionalismo”, o francês René Descartes (1596-1650) negou o conhecimento obtido do sen-
so comum, o res extensa, em favor do conhecimento real, o res cogito, obtido por meio da dúvida sistemática e da 
utilização da razão.
O pensamento racional utiliza a matemática como linguagem que traduz a realidade; esta, portanto, deve ser ló-
gica, como a linguagem que a revela. Dessa forma, se a matemática confirma a possibilidade de um evento, significa 
que ele certamente existe, mesmo que nunca se tenha percebido sua existência. Ele apenas não foi ainda identifi-
cado (ou verificado).
A defesa da razão cartesiana é feita no Discurso do método (1637), obra 
na qual Descartes fundamenta seu pensamento, que se traduz na máxima 
“penso, logo existo”. O ato de pensar, por traduzir-se em uma atividade indi-
vidual única, comprova por si só a existência do sujeito, senhor de seu pró-
prio pensar.
1. Verifique qual filosofia predominava na Europa antes do cartesianismo. 
2. Descartes era filósofo e matemático. Pesquise uma área da Matemática 
que tenha sido desenvolvida por ele.
O senso comum é útil para o cotidiano, 
mas somente ele não é suficiente para que 
a pessoa realize todo o seu potencial. Por 
isso, é preciso superá-lo e ir em busca de 
um conhecimento que não nos deixe ser le-
vados pelas primeiras impressões. Isso sig-
nifica que é preciso superar o senso comum 
utilizando o método científico.
Dogmas contestados  
A tecnologia e o conforto de que as pes-
soas dispõem no mundo atual são acessíveis 
apenas porque, nas gerações anteriores, al-
guns se dedicaram à investigação da nature-
za e de seus mistérios, abandonando antigas 
crenças e dogmas e questionando-se insis-
tentemente. Compreender como os fenô-
menos acontecem e por que acontecem per-
mite saber como dominá-los, ampliando o 
controle do homem sobre a natureza.
Se limitarmos a perspectiva histórica e 
deixarmos de lado a contribuição da Grécia 
clássica e de outras culturas da Antiguida-
de, podemos dizer que a ciência moderna, 
que permite a passagem da teoria científica 
para a aplicação prática no cotidiano, surgiu 
durante o Renascimento europeu. Artistas e 
pensadores do portede Leonardo da Vin-
ci (1452-1519), cientista e artista, arqué-
tipo do homem renascentista, de Nicolau 
 O nascimento da ciência moderna
Maquiavel (1469-1527), pioneiro da ciên cia 
política, e dos astrônomos Nicolau Copér-
nico (1473-1543) e Galileu Galilei (1564-
1642) desafiaram os dogmas e a visão de 
mundo das igrejas cristãs para tentar des-
vendar os mistérios da natureza. 
Dúvida sistemática  
É nesse período que a visão científica mo-
derna volta-se para o mundo, opondo-se ao 
senso comum reinante e que fora induzido 
pelos dogmas religiosos, segundo os quais 
tudo ao redor do homem seria fruto da von-
tade divina. A visão científica não admite essa 
aceitação cega e, como foi destacado por Carl 
Sagan, sempre duvida da realidade imediata.
O uso do método racional, que mais tar-
de somou-se ao método indutivo (pelo qual 
o conhecimento se estabelece através da ob-
servação da repetição de um mesmo evento) 
– não sem questionar este último –, permitiu 
a aplicação prática desse conhecimento, que 
se traduziu no desenvolvimento tecnológico 
do século XIX. A explosão industrial-tecno-
lógica mudou os hábitos da população euro-
peia, que passou, pela primeira vez em sua 
história, a concentrar-se nos centros urbanos, 
em vertiginoso crescimento. Foi essa trans-
formação espacial e comportamental o ponto 
de partida para o surgimento da Sociologia.
Retrato de René Descartes, c. 1649, óleo sobre tela 
de Frans Hals, Museu do Louvre, Paris.
> 
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18
Vamos pensar a sociedade1
 O nascimento da Sociologia 
A rápida urbanização, acompanhada pelo desenvolvimento de no-
vas tecnologias de comunicação (a expansão das ferrovias, o surgi-
mento do telégrafo e logo depois do telefone, agilizando as comuni-
cações) e de novos métodos de produção e organização industrial, 
chamou a atenção de muitos intelectuais que procuravam compreen-
der como essas mudanças afetavam o homem moderno.
A curiosidade em relação ao comportamento, ao modo de pensar e às 
concepções do homem levou ao desenvolvimento das ciências humanas 
e, em particular, da Sociologia. Elas surgiram posteriormente às ciên- 
cias naturais e físicas, cujos métodos de investigação científica encontra-
vam-se plenamente formulados e em aplicação durante o século XIX.
Mas a curiosidade não pode ser entendida como elemento suficien-
te para transformar o homem em objeto de estudo e constituir uma 
área da ciência; seria necessário determinar um método de investigação 
científica que se adequasse ao objeto de estudo, a espécie humana.
 O positivismo de Auguste Comte 
É creditado ao francês Auguste Comte (1798-1857) o título de “pai da 
Sociologia”. Foi ele quem cunhou o nome desse campo do conhecimento, 
mas, quando o fez, tinha como objetivo destacar o papel de “física social” 
da Sociologia. Assim, o sociólogo devia interpretar o homem em socieda-
de com o mesmo distanciamento e neutralidade das ciências exatas.
Sendo uma ciência nova, a Sociologia buscou espelhar-se nas demais 
ciências, cujo método de investigação era eficiente e apresentava resulta-
dos convincentes. Segundo Comte, as leis referentes ao desenvolvimento 
da espécie humana eram tão rigorosas quanto a lei da gravidade. Ou seja, 
o homem e a sociedade deveriam obedecer a leis semelhantes às que re-
giam a natureza, mesmo porque a espécie humana faz parte dela.
Amparado por essa visão, Comte procurava aplicar o método cien-
tífico ao estudo da sociedade europeia de sua época. Esse procedi-
mento consiste na identificação e na observação do objeto de es-
tudo, e requer ainda a quantificação dos dados colhidos, que serão, 
posteriormente, analisados através da comparação, numa busca de 
evidências de determinado padrão ou causalidade. No final, coloca-se 
à prova esse padrão ou causalidade, por meio de experiências que de-
vem comprovar os dados inicialmente colhidos.
Navegue
<http://www.prof2000.pt/users/dicsoc/
soc_a.html>. Acesso em: 22 mar. 2010.
O site oferece um dicionário de Sociologia 
com centenas de conceitos apresentados em 
ordem alfabética.
Saint-Simon, precursor do pensamento sociológico
Pertencente à alta nobreza da França, Claude-Henri de Rouvroy, conde de Saint-Simon (1760- 
-1825), renunciou a seu título e a seus privilégios aos 40 anos, pregando os ideais iluministas e a 
aplicação incondicional da razão às questões humanas.
Saint-Simon identificava o uso do pensamento racional como caminho para a descoberta do fun-
cionamento dos mecanismos que compunham a natureza, possibilitando saltos tecnológicos que re-
duziriam as diferenças e a exploração econômica. Isso propiciaria uma era de paz, de riqueza e de 
harmonia entre os homens. Essa visão colocou-o entre os chamados socialistas utópicos. 
Por outro lado, ele também era obcecado pela racionalização da produção, preocupando-se com 
a elevação da produtividade fundamentada na especialização e na hierarquização das funções e das 
atividades na fábrica. Essa concepção aproximou-o dos pensadores positivistas, tendo sido Auguste 
Comte, criador de tal corrente, assistente de Saint-Simon em sua adolescência e início da vida adulta.
1. Pesquise a organização da sociedade proposta por Saint-Simon.
2. Faça pesquisas para identificar outros socialistas utópicos.
Perfil
> O conde de 
Saint-Simon, 
litografia, 
Biblioteca 
Nacional, 
Paris.
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19
 O nascimento da Sociologia 
Por essa época, suas preocupações volta-
vam-se, cada vez mais, para a espiritualida-
de. Em sua concepção, seria preciso retirar 
da dimensão espiritual e religiosa do ho-
mem os elementos sobrenaturais. As formu-
lações da “Religião da Humanidade”, basea-
das no altruísmo e não na crença em um ser 
divino, foram apresentadas em 1854 no úl-
timo volume de sua obra Sistema de política 
positiva, publicada a partir de 1851. 
Muitos intelectuais até então influencia-
dos pelo positivismo afastaram-se de Comte 
por causa do “retrocesso metafísico” implí-
cito nessa concepção religiosa. Isso, porém, 
não o desanimou, e certa vez ele declarou 
ter seguido duas carreiras diferentes: a pri-
meira, apoiada nos princípios de Aristóteles 
(referência a suas preocupações filosóficas), 
e a segunda, nos de Paulo (o apóstolo de um 
novo credo).
A Igreja positivista difundiu-se em diver-
sos países. No Brasil, o primeiro templo foi 
fundado em 1881. 
Os três estágios  
Através da utilização desse método, 
Comte chegou à formulação da Lei dos 
Três Estágios, em que identificou três mo-
mentos específicos do esforço humano para 
compreender o mundo à sua volta. Tais es-
tágios – o teológico, o metafísico e o posi-
tivo – ocorreriam de forma organizada e na 
mesma ordem, constituindo a evolução do 
pensamento e, automaticamente, da própria 
sociedade, favorecida em termos tecnológi-
cos pelas novas descobertas.
Classificação das ciências  
Com base na Lei dos Três Estágios, Comte 
procurou classificar as ciências, consideran-
do fatores como a simplicidade e a comple-
xidade e o momento em que elas deixariam 
para trás os aspectos metafísicos para torna-
rem-se positivas. Segundo ele, haveria seis 
grandes disciplinas científicas: a Matemáti-
ca, a Astronomia, a Física, a Química, a Bio-
logia e a Sociologia. 
A primeira delas, a Matemática, teria se tor-
nado positiva desde a Antiguidade, quando 
descartou os elementos metafísicos presen-
tes nas concepções de Pitágoras (c. 570 a.C.- 
-c. 496 a.C.), filósofo e matemático. A Astro-
nomia realizou uma trajetória similar no sécu-
lo XVI e no início do século XVII, com os tra-
balhos de Nicolau Copérnico e de Johannes 
Kepler (1571-1630); a Física ganhou positi-
vidade nos séculos XVII e XVIII, graças a Ga-
lileu Galilei e a Isaac Newton (1643-1727); 
e a Química no século XVIII, com Lavoisier 
(1743-1794); a Biologia tornou-se positiva no 
decorrer do século XIX; enquanto a Sociolo-
gia já despontou como ciência positiva. 
Segundo Comte, o acelerado desenvolvi-mento científico e tecnológico de seu tem-
po era fruto da especialização científica. No 
entanto, era preciso evitar os efeitos perni-
ciosos da especialização exagerada, entre os 
quais a atenção excessiva aos detalhes e a re-
cusa à “universalidade das investigações es-
peciais, tão fácil e comum nos tempos anti-
gos”. Essas ideias são desenvolvidas em sua 
obra Curso de Filosofia positiva, publicada 
em seis volumes, de 1830 a 1842.
Religião da Humanidade  
Em 1852, Comte colocou junto às seis 
ciências positivas uma sétima, a Moral, que 
deveria estudar a psicologia do indivíduo e 
suas interações sociais. 
Desenvolvimento dos conhecimentos humanos
 “É a essa repartição de diversas espécies de pesquisas entre 
diferentes ordens de sábios que devemos, evidentemente, o de-
senvolvimento tão notável que tomou, enfim, em nossos dias, 
cada classe distinta dos conhecimentos humanos [...]. 
Mas hoje cada uma dessas ciências tomou separadamente ex-
tensão suficiente para que o exame de suas relações mútuas pos-
sa dar lugar a trabalhos contínuos, ao mesmo tempo em que essa 
nova ordem de estudos tornou-se indispensável para prevenir a 
dispersão das concepções humanas. 
Tal é a maneira pela qual concebo o destino da filosofia positiva 
no sistema geral das ciências positivas propriamente ditas [...].”
Comte, Auguste. Curso de filosofia positiva. In: Os pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 
1978. p. 17-8. 
1. Segundo Comte, que organização da ciência favoreceu a ex-
pansão do conhecimento no século XIX?
2. Que papel o autor reservava à Filosofia positiva?
Túnel do tempo
Primeiro templo da Igreja 
positivista no Brasil, 
localizado no bairro do 
Catete, na cidade do Rio 
de Janeiro. Fotografia de 
2003. Depois da criação da 
“Religião da Humanidade”, 
muitos intelectuais até 
então influenciados pelo 
positivismo afastaram-se 
de Comte, por causa do 
que consideraram uma 
“recaída metafísica” do 
pai da Sociologia.
> 
 O nascimento da Sociologia 
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20
Vamos pensar a sociedade1
A Lei dos Três Estágios
Conheça melhor
Através do método incorporado das ciências matemáticas e naturais, Auguste Comte chegou à conclusão de que 
o espírito humano passa por uma transformação progressiva no que diz respeito à capacidade de investigação da 
realidade. Num primeiro momento, no qual o domínio sobre a natureza ainda é limitado, suas explicações recorrem a 
entidades e figuras divinas e espirituais, responsáveis pela criação de tudo; trata-se do estágio teológico.
Este seria ultrapassado a partir do instante em que essas respostas espirituais não fossem mais suficientes para 
explicar o mecanismo da realidade social, abrindo caminho para o estágio metafísico, no qual o homem passa a 
contemplar a realidade procurando despojar-se dos símbolos religiosos e buscando na natureza e em si próprio as 
respostas para a compreensão dessa realidade. Por fim, esse conhecimento metafísico, contemplativo e filosófico 
cede espaço para o surgimento do estágio positivo, quando o homem passa a aplicar o conhecimento pensado e 
teorizado no momento anterior.
1. Identifique nos períodos representados pelas imagens exemplos do conhecimento que Auguste Comte classifi-
cou como teológico, metafísico e positivo.
2. Em que estágio do desenvolvimento social surgiu a ciência moderna?
Imagens do cristianismo 
medieval, do Renascimento 
artístico e científico e da 
sociedade industrial, períodos 
analisados por Comte. Da 
esquerda para a direita: 
Coroação de Filipe II Augusto 
da França, livro de iluminuras 
atribuído a Jean Fouquet, 
Biblioteca Nacional, Paris; 
O homem vitruviano, 1492, de 
Leonardo da Vinci, Gallerie 
dell’Accademia, Veneza, e 
Ferrovia elevada em Nova 
York, c. 1880, litogravura 
colorida, Escola Americana, 
coleção particular. >
 
 Alcance e limitações do  
positivismo 
A doutrina positivista exerceu forte in-
fluência sobre os militares brasileiros que 
proclamaram a República, a ponto de par-
te do lema da “Religião da Humanidade” – 
o Amor por princípio, a Ordem por base, 
o Progresso por fim – estar inscrita na ban-
deira nacional, por meio da expressão “Or-
dem e Progresso”. Entre os seus principais 
divulgadores estava o republicano Benja-
min Constant, que não apenas era adep-
to das concepções filosóficas de Comte, 
mas também chegou a frequentar a Igreja 
positivista. 
O ideário comtiano também marcou a 
vida política do Rio Grande do Sul. A Cons-
tituição gaúcha de 1891, que permitia reelei-
ções sucessivas do presidente (governador) 
do Estado, possuía inspiração positivista. 
Tanto Júlio de Castilhos quanto seu suces-
sor, Borges de Medeiros, que controlaram a 
política do Rio Grande do Sul durante toda 
a República Velha, diziam-se influenciados 
por Auguste Comte. 
A doutrina positivista lançou igualmente 
raízes no México, onde tornou-se uma espé-
cie de “ideologia oficiosa” do regime autori-
tário de Porfírio Díaz, que governou o país 
de 1876 a 1880 e depois de 1884 a 1911. 
No entanto, essa fase de impacto político, 
no México, no Brasil e em outros países, 
pertence ao passado.
Abertura de caminhos 
A grande limitação do positivismo en-
contra-se no fato de identificar o homem 
como elemento natural que reage ao meio e 
aos acontecimentos ao seu redor, sendo in-
capaz de, por vontade própria, buscar alter-
nativas distintas daquelas para as quais as 
condições sociais o levariam. Contradito-
riamente, o esforço metodológico de Comte 
abriria espaço para que outros pensadores 
do século XIX pudessem consolidar os es-
tudos sociológicos, tornando-se referência 
para eles.
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21
 Émile Durkheim 
Apesar de ser considerado discípulo de 
Auguste Comte, o francês Émile Durkheim 
(1858-1917) não poupou críticas ao seu an-
tecessor ao afirmar que Comte praticava uma 
investigação sociológica despojada do verda-
deiro espírito científico e que ainda flertava 
com ideias vagas e especulativas. Essa ten-
dência se tornaria mais evidente na fase final 
da trajetória de Comte, quando a Sociologia, 
de ciência da sociedade baseada em leis racio-
nais, “física social”, passou a ser vista por ele 
como o fundamento de uma nova concepção 
religiosa: a “Religião da Humanidade”. 
A metodologia desenvolvida por Durk heim 
foi apresentada em um de seus livros mais 
importantes, As regras do método sociológico 
(1895), que atribuiu à Sociologia um efetivo 
estatuto científico. Segundo ele, era necessá-
rio ao sociólogo livrar-se de todo e qualquer 
tipo de preconceito e ideologia ao analisar 
um acontecimento, mantendo uma neutrali-
dade real diante do objeto de estudo, o que 
poderia ser feito apenas a partir do instante 
em que se desviasse a percepção dos indiví-
duos em direção aos fatos sociais.
Divisão do trabalho social  
Na visão durkheimiana, os fatos sociais são 
coisas, elementos exteriores ao ser humano e 
que não pertencem a ele, sendo, na verdade, 
plenamente independentes de sua vontade. 
Mais do que isso, os fatos sociais são estabele-
cidos pela sociedade e exercem grande pres-
são e controle sobre os indivíduos, forçando- 
-os a posicionar-se dentro do todo social.
O todo social, por sua vez, manteria sua 
coesão – a união entre os indivíduos que o 
compõem – através dos níveis de solidarie-
dade. A solidariedade seria mecânica quan-
do observada em sociedades tradicionais, 
nas quais impera o poder da crença espi-
ritual; e seria orgânica em sociedades in-
dustriais e laicizadas, nas quais a força da 
tradição é substituída pelos laços econômi-
cos que unem patrão e empregado. Nessas 
sociedades contemporâneas, a contínua di-
visão do trabalho promove a especializa-
ção entre os indivíduos, de modo que cada 
um passa a depender dos serviços do ou-
tro, mesmo não mantendo vínculos pessoais 
entre si. Tais aspectos são aprofundados em 
outra das principais obras de Durkheim, Da 
divisão do trabalho social (1893).
Nessas sociedades urbano-industriais,os 
indivíduos, por vezes, sentem-se perdidos, 
co mo se estivessem descolados da estrutura, 
co mo se nunca chegassem a fazer parte dela. 
Essa sensação de perda de rumo e controle 
Durkheim chamou de anomia – uma confi-
guração social que resulta em indivíduos com 
essa sensação de desalento. Esse conceito é 
apresentado em outra obra, intitulada O sui-
cídio (1897). Nesse livro, ele mostra que o ato 
individual e solitário dos suicidas sofre uma 
profunda influência dos fatores sociais, sendo, 
por exemplo, mais frequente entre os soltei-
ros, viúvos e divorciados do que entre pessoas 
casadas e com filhos. O suicídio por anomia, 
em especial, estaria associado à não identifica-
ção do indivíduo com as normas da socieda-
de. Na verdade, a tendência à multiplicação 
dos suicídios registrada em diversos países se-
ria um sintoma de uma sociedade doente. 
 Émile Durkheim 
Trabalhadores numa 
fábrica de montagem de 
televisões de tela plana, 
na cidade chinesa de 
Chengdu. Fotografia de 
2009. Para Durkheim, a 
situação apresentada nessa 
imagem seria um exemplo 
da solidariedade orgânica 
na divisão do trabalho e da 
contribuição do indivíduo 
ao corpo coletivo social.>
 
Instituições sociais  
Outra noção bastante presente ao longo da 
obra de Durkheim é a de instituição social. 
Ela designa procedimentos aceitos e sancio-
nados pela sociedade, destinados a manter a 
coesão do grupo e a atender às necessidades 
de seus integrantes. A família, a escola e a po-
lícia estariam entre essas instituições sociais, 
essencialmente conservadoras, que cumprem 
a função de reforçar a coesão social.
 Ideologia: o termo tem basicamente duas acepções: conjunto 
de ideias que caracterizam determinada sociedade; e construção 
visando mascarar consciente ou inconscientemente a realidade 
social.
1. Pesquise no dicionário outras acepções para “ideologia”.
2. O termo “ideologia” normalmente não é usado por Durkheim. 
Quais conceitos poderiam substituí-lo? 
lossário
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22
Vamos pensar a sociedade1
Tragédia e farsa
“Hegel faz notar algures que todos 
os grandes acontecimentos e persona-
gens históricos se repetem por assim 
dizer uma segunda vez. Esqueceu-se 
de acrescentar: da primeira vez como 
tragédia, da segunda como farsa. 
Caussidière por Danton, Louis Blanc 
por Robespierre, a Montanha de 1848 
a 1851 pela Montanha de 1793 a 
1795, o sobrinho pelo tio. [...].
Os homens fazem a sua própria 
história, mas não a fazem arbitra-
riamente, nas condições escolhidas 
por eles, mas sim nas condições di-
retamente determinadas ou herda-
das do passado. A tradição de todas 
as gerações mortas pesa inexoravel-
mente no cérebro dos vivos. E mes-
mo quando estes parecem ocupados 
em transformar-se, a eles e as coisas, 
em criar algo de absolutamente novo, 
é precisamente nessas épocas de cri-
se revolucionária que evocam com 
inquietação os espíritos do passado, 
que lhes tomam de empréstimo os 
seus nomes, as suas palavras de or-
dem, os seus costumes, para entra-
rem na nova cena da história sob esse 
disfarce venerável e com essas pala-
vras emprestadas. [...].”
Marx, Karl. O 18 Brumário de Luís Bonaparte. São 
Paulo: Mandacaru, 1990. p. 17.
1. Pesquise quem são as persona-
gens e os grupos políticos men-
cionados no primeiro parágrafo do 
texto acima.
2. Discuta com seus colegas a ideia 
de que os homens fazem a sua 
própria história, porém nas con-
dições diretamente determinadas 
ou herdadas do passado. 
Túnel do tempo
Economia e política  
Os mecanismos da produção capitalista são expostos e analisados 
por Marx em diversos textos sobre Economia Política. Entre eles está 
a sua principal obra, O Capital, cuja publicação teve início em 1867. 
No entanto, o compromisso de Marx com a revolução socialista ma-
nifestou-se muito antes. Em 1848 – no momento em que as mobiliza-
ções da Primavera dos Povos eclodiam pela Europa –, ele e seu amigo 
e parceiro intelectual Friedrich Engels (1820-1895) lançaram o Mani-
festo Comunista. Outros textos de Marx, como O 18 Brumário de Luís 
Bonaparte (1852) e A guerra civil na França (1871), são considerados 
obras-primas de análise política. Neles, o materialismo histórico – 
que relaciona as concepções e o estilo de intervenção política dos se-
tores sociais com o lugar que ocupam na esfera produtiva – mostra 
todo o seu potencial.
O organicismo de Spencer  
Outro pensador importante da fase inicial da Sociologia foi o inglês 
Herbert Spencer (1820-1903). Influenciado pelo darwinismo, ele viu a 
sociedade como um organismo em evolução, com a trajetória da socieda-
de militante, homogênea e indiferenciada, para a sociedade industrial, 
complexa e diferenciada, baseada em obrigações sociais voluntárias, con-
tratualmente assumidas. 
 Marx e Spencer 
Se a Sociologia nasceu e consolidou-se na França, um alemão abriu 
novos horizontes para esse campo do conhecimento: Karl Marx (1818- 
-1883). 
O materialismo histórico de Marx  
Karl Marx dedicou especial atenção ao estudo da sociedade capitalista- 
-industrial do século XIX. Ele apontou que a fábrica era a célula dessa nova 
sociedade. Dessa maneira, compreendendo o funcionamento da fábrica, se-
ria possível estender a compreensão ao próprio sistema emergente.
Dentro da fábrica e da sociedade capitalista existem duas categorias cen-
trais que se envolvem no processo de produção: capital e trabalho. Ambos 
representam também classes sociais antagônicas. Enquanto a burguesia é 
proprietária dos meios de produção (a fábrica e as ferramentas necessárias 
para produzir), os operários detêm a força de trabalho que movimenta os 
meios de produção. O trabalho operário acrescenta valor à mercadoria pro-
duzida: a mais-valia. Os confrontos entre as duas classes tornam-se mais 
agudos até a revolução. A vitória dos explorados instauraria a ditadura do 
proletariado, indispen-
sável para se alcançar o 
comunismo – a socie-
dade sem classes.
Barricada na rua Soufflot, Paris, 
25 de junho de 1848, óleo sobre 
tela de Horace Vernet, 1848- 
-1849, Deutsches Historisches 
Museum, Berlim. O ano de 
1848, das mobilizações da 
chamada Primavera dos Povos, 
é também o do lançamento do 
Manifesto Comunista 
por Marx e Engels.
>
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23
 O interacionismo de Max Weber 
> Rembrandt, O sindicato dos mercadores de 
tecidos, óleo sobre tela, 1662. Rijksmuseum, 
Amsterdã. O artista retratou os burgueses da 
cidade, influenciados pela ética protestante, 
que, segundo Weber, favoreceu 
o desenvolvimento do capitalismo. 
 O interacionismo de Max Weber 
O alemão Max Weber (1864-1920) também demonstrou interesse no 
desenvolvimento do sistema e da sociedade capitalistas. Mas, ao contrá-
rio de Marx e de Durkheim, ele acreditava que as estruturas, apesar de 
importantes, não eram determinantes para a formação e para o desen-
volvimento da sociedade. Para tanto, seria necessário voltar-se para o 
elemento que originariamente dá forma à estrutura, o indivíduo.
Ações com sentido  
Para alcançar seu objetivo, Weber desenvolveu o conceito de ação 
social, a ação que um indivíduo exerce em relação a outro e que é 
imprevisível para este último até que ele a receba e interaja ou não. 
São as interações sociais que formam o alicerce de compreensão da 
sociedade.
Uma característica da ação social é ela ser uma conduta humana do-
tada de sentido, isto é, de uma justificativa subjetivamente elaborada. É 
o homem quem atribui sentido à ação social: é ele quem estabelece a 
conexão entre o motivo da ação, a ação propriamente dita e os efeitos 
que produz. A tarefa do cientista é buscar compreender os nexos que 
dão sentido à ação social. 
O tipo ideal  
Um traço característico do método weberiano é a utilização do tipo 
ideal, uma ferramenta de pesquisa que contribui na análise dos fenô-
menos sociais. Trata-se de um método teórico abstrato que desenvolve 
categorias a partir do estudo comparado dos fenômenos sociais, contra-pondo a identificação das semelhanças e diferenças desses à empiria. 
O espírito do capitalismo  
Entre os livros mais conhecidos de Max Weber está A ética protestan-
te e o espírito do capitalismo (1904-1905), em que ele afirma: “Qualquer 
observação da estatística ocupacional de um país de composição reli-
giosa mista traz à luz, com notável frequência, [...] o fato de os líderes 
do mundo dos negócios e proprietários do capital, assim como dos ní-
veis mais altos da mão de obra qualificada [...], serem preponderante-
mente protestantes”.
Para explicar essa situação, o autor mostra que certas crenças ligadas 
à Reforma Protestante (e em especial o calvinismo) favoreciam o com-
portamento econômico racional dos devotos. A riqueza associada ao 
trabalho e a uma vida frugal era um indício do favor divino, um sinal 
de que a pessoa estava entre os “eleitos”. Sem dúvida, a salvação, não o 
enriquecimento, era o objetivo; a prosperidade era antes um efeito dos 
hábitos de vida valorizados pelo calvinismo. Weber observa que “nas 
igrejas dos huguenotes franceses, monges-industriais (comerciantes, ar-
tesãos) constituíam boa parte dos fiéis, especialmente na época das per-
seguições. Até os espanhóis sabiam que a heresia (dos calvinistas da Ho-
landa) ‘promove o comércio’”.
Essa perspectiva contrariava o materialismo histórico, que via o nível 
das relações de produção como o responsável – com toda uma série de 
mediações – pela modelagem das superestruturas, até mesmo da re-
ligiosa. Em vez disso, Weber sustentou que uma dimensão cultural, o 
protestantismo e, em especial, a crença calvinista, podia ser considera-
da uma “semente da economia capitalista”, produzindo efeitos sobre as 
estruturas econômicas.
 Superestrutura: conceito mar-
xista para o conjunto de instituições 
que fazem parte de uma sociedade 
nas esferas política, social, cultural e 
religiosa. Estas exercem influência so-
bre o comportamento dos indivíduos, 
mas submetem-se às mudanças pro-
venientes da infraestrutura, que cor-
responde ao nível das relações de 
produção. 
1. As relações de trabalho perten-
cem ao nível da infraestrutura ou 
da superestrutura? E a escola?
2. Qual o efeito das mudanças na in-
fraestrutura?
lossário
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24
Vamos pensar a sociedade1
Mas, afinal, para que serve efetivamente 
o saber sociológico? 
A melhor forma de tentar responder é 
através de um exemplo prático. Para que 
esse exemplo seja convincente, o ideal é que 
ele se articule com os interesses imediatos 
do aluno. Como você está lendo este livro, 
deve estar cursando o Ensino Médio e, pro-
vavelmente, considera ou considerou – com 
uma pitada de ansiedade – a perspectiva de 
se preparar para o desafio do vestibular.
Para todos os estudantes, a aprovação no 
vestibular está diretamente ligada ao ren-
dimento escolar. Passar nesse tipo de exa-
me significa uma vitória intelectual pessoal, 
porque somente os que são classificados en-
tre os aprovados, e por isso mesmo conside-
rados intelectualmente aptos, é que podem 
cursar as disciplinas universitárias.
Realização pessoal  
Ser aprovado no vestibular também re-
presenta sucesso social, pois o jovem uni-
versitário torna-se parte de uma elite que 
tem acesso à educação de qualidade. Esse 
reconhecimento social é sinônimo de status, 
que também satisfaz seu desejo de realiza-
ção, porque muita gente depositou confian-
ça em você: seus professores, amigos, pais e 
Conheça melhor
O vestibular não é o único “bicho-papão” no ca-
minho dos adolescentes e dos jovens: é o que mos-
tra a bem-humorada charge do cartunista Angeli. 
Nela, o exame é tratado como mais uma etapa na 
vida do estudante, que ainda enfrentará novos de-
safios e perturbações em sua vida pessoal, como a 
obtenção do primeiro emprego, a consolidação de 
uma carreira, uma demissão imprevista, problemas 
na esfera amorosa e assim por diante. Compreen-
der essa dimensão do vestibular é essencial para 
que o aluno possa resistir à pressão, dominar a an-
siedade e triunfar sobre mais um dos obstáculos 
que se colocam à sua frente.
1. Escreva uma dissertação comparando duas si-
tuações angustiantes: passar no vestibular e 
conquistar o primeiro emprego.
2. Cite outras situações que podem ser vistas 
como marcos na trajetória individual.
A pressão do vestibular
 A Sociologia aplicada ao cotidiano 
parentes que acreditaram no seu potencial e 
investiram em seus estudos.
Rito de passagem  
Muitos sociólogos e antropólogos iden-
tificam traços similares entre a preparação 
para o vestibular ou exames semelhantes 
nas sociedades urbano-industriais e a reali-
zação das provas e dos ritos de passagem a 
que se submetem adolescentes e jovens de 
ambos os sexos em muitas sociedades indí-
genas, para a conquista do status de adultos. 
Dessa perspectiva, o período de preparação 
para os exames, durante o qual os encon-
tros com os amigos são trocados por noites 
de estudo, assume grande importância. Em 
certa medida, essa fase pode ser comparada 
ao tempo de reclusão na “casa dos homens” 
ou seu equivalente feminino em certos gru-
pos nativos, durante o qual os rapazes e as 
moças que em breve vão iniciar a vida adul-
ta assimilam conhecimentos socialmente 
valorizados e transmitidos pelos mais ve-
lhos. Em outras palavras, a preparação para 
o estágio adulto começa bem antes da reali-
zação do vestibular, num rito de passagem 
que exige a renúncia temporária às baladas, 
às excursões e a outros prazeres em geral as-
sociados à condição juvenil. 
Charge de Angeli publicada na Folha de S.Paulo 
em 20 de dezembro de 2001.
>
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 Consciência falsa: na concepção 
marxista, trata-se de uma construção 
ideológica destinada a mascarar a rea-
lidade.
1. Em que sentido C. Wright Mills 
usou essa expressão? Justifique a 
resposta. 
2. Dê exemplos de consciência falsa.
lossário
25
 A Sociologia aplicada ao cotidiano 
> Brasília, 1o de outubro de 2009: os 
movimentos sociais Educafro e Articulação 
em Defesa das Cotas Raciais promovem ato 
público em defesa das cotas raciais diante do 
Supremo Tribunal Federal.
Aspectos políticos e econômicos  
O exame vestibular também leva a outras considerações, como a ado-
ção das cotas para minorias étnicas e grupos carentes. Tal política levan-
ta polêmicas. Segundo seus defensores, ela visa amenizar desigualdades 
sociais; os críticos dessa política, por outro lado, argumentam que ela 
reduz o acesso a vagas por parte de outros alunos que poderiam ter de-
sempenho superior ao dos beneficiados pela política de cotas. 
Outra consideração a ser feita sobre o vestibular é com relação ao 
impacto que ele produz nas pessoas que moram nas proximidades dos 
locais onde as provas são aplicadas. Os trabalhadores responsáveis pela 
limpeza, por exemplo, no final das provas devem fazer um esforço ex-
tra, recolhendo milhares de papéis, de copos plásticos, de embalagens 
de alimentos, de latas de refrigerante, etc. Além disso, costuma haver 
alterações no transporte coletivo, cujas rotas e horários são redimensio-
nados para atender aos estudantes. Isso implica uma mudança, por ve-
zes desconfortável, da rotina da comunidade.
Por fim, a realização das provas movimenta grande contingente de 
trabalhadores responsáveis por elaborar as questões, editando-as, im-
primindo-as e distribuindo-as na hora correta e ao mesmo tempo para 
todos os concorrentes. Todo esse grupo que torna o vestibular possível 
é remunerado, aspecto que tem certo impacto sobre as atividades eco-
nômicas no período em que o exame ocorre.
Imaginação sociológica  
Percebe o que significa tudo isso? Quando você pensa no vestibular, 
concentra sua imaginação na necessidade de vencer esse desafio, talvez 
sem se dar conta de que, na realidade, ele envolve um número muito 
maior de pessoas e relações sociais, interligando-as.
Eis aí uma aplicação prática do pensar sociológico. Wright Mills 
(1916-1982) chamou de imaginaçãosociológica a capacidade de pas-
sar de uma perspectiva a outra do conhecimento, conectando-as como 
parte de um mesmo evento ou ocorrência social. A imaginação socio-
lógica permite abandonar a perspectiva individual e adotar uma noção 
mais coletivizante do evento em si. Nas palavras do autor:
“A imaginação sociológica capacita seu possuidor a compreender o 
cenário histórico mais amplo, em termos de seu significado para a vida 
íntima e para a carreira exterior de numerosos indivíduos. Permite-lhe 
levar em conta como os indivíduos, na agitação de sua experiência diá-
ria, adquirem frequentemente uma consciência falsa de suas posições 
sociais. Dentro dessa agitação, busca-se a estrutura da sociedade mo-
derna, e dentro dessa estrutura são formuladas as psicologias de dife-
rentes homens e mulheres. Através disso, a ansiedade pessoal dos indi-
víduos é focalizada sobre fatos explícitos e a indiferença do público se 
transforma em participação nas questões públicas. [...]”.
Mills, C. Wright. A imaginação sociológica. 6. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1982. p. 11-2.
De certa forma, foi isso que os “pais fundadores” do pensar sociológi-
co fizeram ao tentar imaginar a sociedade capitalista não apenas por sua 
unidade, o indivíduo, mas também através da coletividade formada pe-
los indivíduos. Compreender a sociedade é compreender melhor o papel 
que o indivíduo exerce nela, o que lhe permite buscar papéis diferentes 
de acordo com as pretensões que porventura venha a ter. Exercer a ima-
ginação sociológica significa exercer um valioso movimento de autoco-
nhecimento, que possibilita a cada pessoa avaliar de forma mais precisa 
suas qualidades e limitações, bem como do coletivo em que vive.
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26
Vamos pensar a sociedade1
Conheça melhor
e o impacto da gestão dele junto à comuni-
dade. Por exemplo, quando se pretende am-
pliar a quantidade de pistas de um aeropor-
to e isso implica a remoção de famílias que 
residem nas proximidades do local, é preci-
so avaliar se essa medida vai trazer benefícios 
reais para a coletividade e a forma como as 
famílias serão deslocadas para outras áreas, 
sem perder qualidade de vida. Também é ne-
cessário verificar se o dinheiro investido na 
obra não está sendo desviado para outras ati-
vidades – ou, ainda mais grave, para o bolso 
de algumas pessoas – e se essa ampliação não 
visa favorecer basicamente grupos privados. 
Acompanhamentos e avaliações desse tipo 
aumentam a transparência na atividade polí-
tica e contribuem para o reforço da cidadania 
dos indivíduos mobilizados.
Compreensão do indivíduo  
No momento em que o indivíduo e a co-
munidade permanecem mudos e incapa-
zes de reagir a mudanças sociais amplas, é 
quando o sociólogo deve mostrar-se mais 
presente, apontando a inquietação dos gru-
pos indefesos diante das mudanças (ou per-
turbações, como Mills preferiu chamar as 
situações em que a rotina é abalada por 
transformações externas, mas que afetam as 
pessoas internamente).
Da mesma forma, a aplicação do pensar 
sociológico permite compreender melhor 
os indivíduos com quem a pessoa interage. 
Essa compreensão e a maior interatividade 
auxiliam no difícil processo de entender o 
que o outro pensa, reduzindo as barreiras 
sociais e favorecendo o desempenho profis-
sional, já que o instrumental sociológico fa-
cilita o contato entre os indivíduos. 
Como exemplo, podemos mencionar uma 
casa noturna frequentada basicamente por 
jovens de 18 a 25 anos. Compreender como 
esse grupo age e quais as suas motivações 
permite ao proprietário e aos funcionários do 
estabelecimento lidar melhor com o públi-
co, garantindo sua fidelidade. Outro exem-
plo: agentes sociais que trabalham com mu-
lheres violentadas ou com prosti tutas (que 
sofrem violência diária, em meio ao descaso 
generalizado) precisam compreen der a rea-
lidade em que elas vivem para saber como 
conversar a respeito do cotidiano delas e 
como atender a suas expectativas, realizan-
do melhor seu trabalho de integração social. 
Em todos esses casos, o pensar sociológico é 
uma ferramenta fundamental. 
 Sociologia e aprimoramento  
da cidadania 
A Sociologia não é, porém, um instru-
mento voltado apenas para o autoconheci-
mento, mas também para a compreensão e 
para o aprimoramento da sociedade. Numa 
organização social na qual a maior parte das 
decisões de interesse da coletividade é to-
mada por representantes escolhidos pelos 
cidadãos por meio do voto, é relevante dire-
cionar a imaginação e a análise sociológicas 
para esse setor.
Avaliações
Nem sempre é possível monitorar a qua-
lidade do mandato dos representantes do 
povo; ainda assim, cabe registrar as promes-
sas e, o mais importante, o que foi efetiva-
mente realizado por eles em benefício da so-
ciedade e não de um pequeno grupo.
Através das realizações práticas de um po-
lítico eleito, é possível avaliar a importância 
A imaginação sociológica e a realidade social brasileira
Um país de dimensões continentais e população diversificada 
como o Brasil é um vasto laboratório para o sociólogo. Seu instru-
mental é útil para compreender como os brasileiros das diferentes 
regiões veem a si mesmos e veem uns aos outros, fornecendo ele-
mentos para o combate a atitudes estereotipadas que alimentam 
o preconceito. Também ajuda a planejar melhor a distribuição da 
população e os recursos humanos necessários para cada região. 
Além disso, seus estudos evidenciam as necessidades locais, o 
processo de integração da sociedade e a construção de uma iden-
tidade com que seus componentes possam identificar-se. 
1. Com base na imagem do 
“analista de Bagé”, perso-
nagem do escritor Luís Fer-
nando Veríssimo, identifique 
alguns estereótipos associa-
dos à figura do gaúcho. 
2. Monte com seus colegas pai-
néis com imagens e textos 
sobre o “analista de Bagé”. 
3. Mencione alguns estereóti-
pos que costumam ser rela-
cionados aos habitantes do 
Rio de Janeiro, de São Paulo 
e da Bahia. 
Capa de O analista de Bagé, São Paulo: 
Círculo do Livro, 1986. Explorando 
os estereótipos associados ao gaúcho, 
especialmente o da fronteira, 
Luís Fernando Veríssimo criou uma 
personagem inesquecível.
>
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27
 A Sociologia aplicada ao cotidiano 
> A tirinha de Charles M. Schulz consta do livro Assim é a vida, Charlie Brown! Porto Alegre: L&PM, 2007.
Na tirinha, Charles Schulz transmite a percepção adequada da diferenciação entre o “eu” e os “outros” ou mesmo 
o “nós”. No caso, a personagem Lucy, acometida por um resfriado, utiliza sua perspectiva pessoal para desmerecer o 
problema que se alastra junto às demais crianças, por entender que, em seu caso, foi muito pior porque aconteceu com 
ela. Essa é uma típica situação em que se pode perceber a relação do sujeito com a sociedade, tema a ser estudado 
neste módulo.
1. Procure determinar o impacto de doenças endêmicas para você, para sua comunidade e para sua cidade. 
2. Quais as providências que você pode tomar para que seu cotidiano não seja prejudicado por causa disso? 
Q
ua
dr
in
ho
s
 Indivíduo: segundo o Dicionário 
de Ciências Sociais do MEC/FGV:
“O substantivo indivíduo é si-
nônimo de pessoa ou ser humano. 
O adjetivo individual denota que o 
substantivo por ele qualificado é sin-
gular, separado e distinguível, como 
se observa na seguinte expressão: o 
ser humano é individual.
[…] Na literatura de ciências so-
ciais, o termo indivíduo perdeu seu 
significado original de indivisível e é 
usado como sinônimo de pessoa ou 
ser humano singular. [...]”.
Velho, Otávio Guilherme. Indivíduo. In: 
Dicionário de Ciências Sociais. Rio de Janeiro: Ed. 
da FGV, 1986. p. 591.
lossário
Nós no mundo  
Quem somos nós  
Você já se perguntou por que você é – e age, pensa, se veste, fala, etc. 
– desse jeito? Porque você é assim, do “seu jeito”. Mas o que significa 
ser do “seu jeito”? Como você se tornou o que é hoje?
O jeito de ser de cada pessoa foi moldadodesde o nascimento dela, 
passando pela infância e juventude, até chegar à idade adulta. Através 
de uma enorme quantidade de relações individuais e coletivas, ela ab-
sorveu informações necessárias para essa moldagem. 
Por maior que seja o esforço, uma pessoa não consegue lembrar-se 
com clareza do início de sua vida e mesmo dos primeiros anos de sua 
infância, porque nessa fase ela ainda está formando sua consciência so-
bre o mundo. À medida que cresce, vai ampliando o leque de pessoas 
com quem tem contato, o que a leva a novas relações e experiências que 
contribuem para sua formação individual. Constata-se assim que os se-
res humanos são seres sociais.
Cada indivíduo depende da existência dos outros e tem consciência 
disso, o que contribui para a manutenção dos laços que unem a socie-
dade; não é possível imaginar um indivíduo que viva completamente 
isolado de qualquer tipo de contato com outros seres humanos.
Nem mesmo a figura de um Robinson Crusoé ou da personagem de 
Tom Hanks no filme Náufrago pode ser considerada como a de um ser 
desprovido de contato humano, a não ser na situação especial (isolados 
em uma ilha) em que se encontram. Ambos mantêm práticas sociais a 
despeito do isolamento temporário, procurando conservar parte do que 
se pode chamar de rotina diária. São, portanto, seres sociais.
Um indivíduo completamente isolado seria aquele que jamais che-
gou a ter qualquer tipo de contato físico ou social com outros seres hu-
manos, como se, por exemplo, ao nascer, fosse abandonado em uma 
floresta. Suas condições de sobrevivência como um recém-nascido se-
riam muito limitadas, e sua morte seria praticamente certa. O ser hu-
mano é um dos animais mais frágeis e indefesos nos primeiros anos de 
vida, necessitando de atenção e cuidados quase contínuos.
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28
Vamos pensar a sociedade1
Vamos imaginar a hipótese mencionada 
de um recém-nascido ter sido abandona-
do em uma floresta e, posteriormente, ser 
encontrado e acolhido por animais, como 
macacos ou lobos. Essa criança jamais te-
ria contato com outro ser humano, portanto 
não aprenderia a falar, a raciocinar, a andar 
sobre as duas pernas, a usar as mãos para 
operar e produzir instrumentos. Não apren-
deria a ser humana, mas incorporaria os há-
bitos do grupo de animais com o qual pas-
sou a viver, fazendo parte da comunidade 
deles e submetendo-se às regras de convi-
vência deles.
Agentes de socialização  
Casos como o das meninas-lobo mos-
tram que a única forma de a pessoa desen-
volver sua individualidade é pelo contato 
com outros seres humanos. A família e os 
parentes, a escola, os amigos, o ambien-
te de trabalho e os meios de comunicação 
de massa, que disseminam o conhecimen-
to adquirido através do senso comum, são 
também agentes ou órgãos de socializa-
ção, responsáveis por transmitir a cada in-
divíduo o conhecimento e a cultura acumu-
Conheça melhor
O caso das meninas-lobo
No texto Le développement social de l’enfant et de 
l’adolescent (O desenvolvimento social da criança e do 
adolescente. Bruxelas: Dessart, 1965), Berry Leymond 
aborda o caso de duas meninas-lobo, encontradas na Ín-
dia em 1920, quando viviam no meio de uma alcateia. Elas 
receberam os nomes de Amala e Kamala. A primeira tinha 
cerca de 1 ano e meio e morreu um ano mais tarde. Kama-
la, de aproximadamente 8 anos de idade, viveu até 1929. 
As duas garotas nada tinham de humano e apresen-
tavam um comportamento semelhante ao dos lobos. 
Caminhavam de quatro, apoiando-se sobre os joelhos e co-
tovelos para os pequenos trajetos e sobre as mãos e os pés 
para os trajetos mais longos. Comiam apenas carne crua 
ou podre. Bebiam como os bichos, lambendo o líquido. Pas-
savam o dia quietas, numa sombra. À noite, eram ativas e 
ruidosas, uivando como lobos. Jamais choravam ou riam.
Em seus oito anos de vida com os humanos, Kamala gradativamente adquiriu hábitos so-
ciais. Precisou de seis anos para aprender a andar e, quando morreu, tinha um vocabulário de 
cerca de cinquenta palavras. Aos poucos aprendeu a expressar afeto. Chorou pela primeira 
vez por ocasião da morte de Amala, sua irmã-lobo. 
1. Você conhece algum filme cuja trama gire em torno de meninos-lobo? Se necessário, 
pesquise para encontrar a resposta. 
2. Faça pesquisas para encontrar outros casos de descoberta de meninos-lobo.
 O aprendizado humano 
lados pela sociedade, ajudando a moldá-lo 
na produção de sua identidade.
Torna-se claro, então, que o conhecimen-
to obtido do senso comum é fundamental 
no processo de constituição da identidade 
individual, mas não exclusivo. Também o 
conhecimento proveniente da aplicação da 
imaginação sociológica é elemento com-
ponente da identidade individual, inter-
ligando-a à rede que compõe a sociedade 
na qual a pessoa tenta afirmar-se como ser 
independente. 
Cada um desses agentes de socialização 
contribui com o processo de formação da so-
ciedade a partir do instante em que deposi-
ta no indivíduo alguns dos valores que ele 
deve incorporar para viver socialmente. As-
sim, a família configura a primeira experiên-
cia de aprendizagem social. É junto aos pais e 
parentes que a pessoa aprende a comportar- 
-se diante dos outros, incorporando valores 
como a obediência e o respeito e muitas ve-
zes copiando as atitudes dos familiares. Em 
última instância, vêm da família (ou daqueles 
com quem se convive nos primeiros anos de 
vida) os valores morais e éticos que vão mol-
dar o indivíduo para a vida em sociedade. 
Leia
Burke, Peter; 
Porter, Roy (orgs.). 
Linguagem, 
indivíduo e 
sociedade. São 
Paulo: Editora da 
Unesp, 1994.
A obra procura des-
vendar a formação 
do “eu” na sociedade 
a partir do mecanis-
mo da linguagem, 
mostrando como 
esta é essencial nas 
relações sociais e na 
formação das identi-
dades individuais.
> A menina-lobo Kamala é 
alimentada por sua protetora.
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29
 O aprendizado humano 
> Crianças jogam futebol em campo improvisado 
numa praia de Ponta Grossa (CE). Fotografia 
de 2001. A convivência entre crianças de 
famílias com diferentes perfis sociais e 
culturais contribui para que aprendam o 
respeito à diversidade. 
Você já ouviu falar...
Como nossos pais
A composição “Como nossos pais”, do cearense 
Belchior, fornece um exemplo da importância da estrutura 
familiar na formação do indivíduo e da reprodução dos 
costumes e valores culturais da sociedade da qual ele 
faz parte. O autor observa, entre outros aspectos, que os 
jovens permanecem fiéis aos antigos ídolos e, sobretudo, 
que apesar de terem feito muita coisa, correndo riscos, 
ainda vivem como os seus pais. 
Vale a pena ouvir, na sala de aula, a música de 
Belchior, prestando atenção na letra. Em seguida, você e 
seus colegas podem explorá-la de diversas maneiras. 
1. Coloquem em debate algumas das ideias da composição. Os ídolos da juventude atual ainda são os mesmos da 
geração anterior? Os jovens correm perigo na sociedade contemporânea?
2. E você, o que tem de parecido com seus pais? E em que você é diferente? Escreva um pequeno texto sintetizando 
semelhanças e diferenças.
Convivência na escola 
Quando o indivíduo passa a frequentar a escola e a entrar em contato 
com amigos, professores e funcionários, a família deixa de ser o único 
agente de socialização diante do seu desenvolvimento. A escola reforça 
muitos dos valores passados pelos pais e responsáveis, incluindo a no-
ção de autoridade, já que se estrutura de modo hierarquizado. Ao mes-
mo tempo, porém, incute valores e instrumentos de convivência cole-
tiva importantes, como a escrita, o uso do raciocínio de forma lógica e 
o patriotismo, permitindo ao indivíduo absorver conhecimentos que o 
auxiliem em sua formação social e profissional.
O grupo de amigos 
Por outro lado, o grupo de amigos corresponde ao agente de sociali-
zação que permite ao indivíduo reconhecer-se entre seus iguais, podendo 
conversar com eles sobre assuntos que,

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