Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
REVISTA CIENTÍFICA DO DEPARTAMENTO DE POLÍCIA TÉCNICA DA SECRETARIA DA SEGURANÇA PÚBLICA DO ESTADO DA BAHIA SALVADOR - BAHIA PROVA MATERIAL – Revista Científica do Departamento de Polícia Técnica vinculada à Secretaria da Segurança Pública do Estado da Bahia. Av. Centenário, s/nº, Vale dos Barris, Salvador – Bahia, CEP.: 40.100-180. Telefone: (71) 3116-8792 / Fax: (71)3116-8787. Esta revista é um periódico quadrimestral com distribuição gratuita. Os artigos assinados são de inteira responsabilidade dos autores. Tiragem desta edição de 1000 exemplares, 27p. Jaques Wagner Governador do Estado da Bahia Antônio César Fernandes Nunes Secretário da Segurança Pública Raul Coelho Barreto Filho Diretor Geral do Departamento de Polícia Técnica Mª de Lourdes Sacramento Andrade Chefe de Gabinete Jorge Braga Barretto Corregedor do Departamento de Polícia Técnica Aroldo Ribeiro Schindler Diretor do Instituto Médico Legal Nina Rodrigues Iracilda Mª de O. Santos Diretora do Instituto de Identificação Pedro Mello Evandina Cândida Lago Diretora do Instituto de Criminalística Afrânio Peixoto Eliana Araújo Azevedo Diretora do Laboratório Central de Polícia Técnica Claudemiro Pires Soares Filho Diretor do Interior do Departamento de Polícia Técnica Editora Talita Souza Brito Jornalista – DRT-BA nº 2734 Editoração JM Gráfica e Editora Conselho Editorial Paulo Araújo Moreira de Souza (IMLNR) Valdomir Celestino de Oliveira Filho (IMLNR) Socorro de Mª de Araújo Alves Ferreira (IIPM) Josemi Carvalho da Ressurreição (IIPM) Cláudio Fernando Silva Macêdo (ICAP) Antonio César Morant Braid (ICAP) Jorge Borges dos Santos (LCPT) Josenira Matos Andrade (LCPT) Eunice Moura Vitória (DI) Lídia Ramos de Araújo – Coordenação de Ensino e Pesquisa Colaboradores Jorge Carvalho da Ressurreição Jorge Braga Barretto Prova Material – v. 1 – nº 1 4 – Junho de 2010 – Salvador – Departamento de Polícia Técnica, 2010. Quadrimestral ISSN 1679-818X 1. Criminalística – Bahia – Periódico CDU 343.9 (813.8) (05) EDITORIAL ERRO e FRAUDE CONTÁBEIS - Artigo Original Sérgio Pastori de Figueiredo - - Problemática do Chumbinho na Bahia - Exemplo de identificação de Aldicarbe em material de perícia - Relato de Caso - Maiana de A. Teixeira Solange P. Soares e Ricardo L. Cunha Identificação Odonto-legal de Corpo Carbonizado - Relato de Caso Marília Santos Viana Campos, Christiano Sampaio Queioroz e Nicole Prata Damascena Perfil do suicídio em Salvador e a Incidência de genero e faixa etária um estudo no Imlnr/Salvador/Ba - Comunicação - Telma de Cássia Pinheiro Bispo Conceição Normas para Publicação Parâmetros para Análise perceptual de Imagens Relacionadas a Abuso sexual e Exploração de Crianças e Adolescentes Artigo de Revisão Fernando Luiz Pinheiro de Amorim Abordagem Multidisciplinar na identificação de Gênero - Relato de caso: Deficiência de 5 Alfa-Reductase Tipo 2 - Daysi Maria de Alcântara Jones, Larissa de Amorim Cavalcanti, Thomaz Rodrigues Porto da Cruz e Raul Coelho Barreto Filho .................................................................................................................................. ................................................................................................. ..................................................................................................................................... ......................................................................................................... ..... 04 05 10 13 17 20 ........................................................................................ ............................................................................................................. 24 ............................................................................................................... 27 Nascida na cidade de Atalaia, interior de novas tecnologias e Alagoas, no dia 2 de setembro de 1928, Maria atendesse a demanda de Thereza de Medeiros Pacheco viveu parte de uma Bahia em constante sua infância nos municípios de São Miguel dos crescimento. Assim, em Campos e Penedo. Alagoana de nascimento e parceria com outros baiana de coração, em 1948, Maria Thereza profissionais da época, veio para Salvador onde ingressou na idealizou, planejou e Universidade Federal da Bahia no Curso de construiu o atual Com- Medicina. Especializada em ginecologia e plexo do Departamento obstetrícia trabalhou na Maternidade Nita de Pol íc ia Técnica Costa e no Hospital Santa Isabel. Em 1954 foi inaugurado em janeiro de 1979. Entre os anos de 1991 e convidada pelo Prof. Estácio de Lima para 1999 atuou como Diretora Geral do Departamento de atender crianças, mulheres e adolescentes Polícia Técnica. Além de sua atuação na Secretaria de vítimas de violência sexual no Instituto Médico Segurança Pública, Dra. Maria Thereza foi ainda Legal Nina Rodrigues. Depois de apresentar Professora da Universidade Federal da Bahia, da Escola tese no curso de Docência Livre da Bahiana de Medicina e Saúde Pública, da Universidade Universidade Federal da Bahia interessou-se Católica e da Academia de Polícia Militar. Autora de definitivamente pela Medicina Legal e se artigos na área da medicina legal e pesquisadora, a tornou a primeira mulher Médica Legista do professora dedicou toda sua vida ao desenvolvimento da País. medicina legal no País. Assumiu a direção do IMLNR entre os anos de 1972 e 1987. No meio de sua gestão iniciou os O Departamento de Polícia Técnica, em nome da trabalhos para a construção de um novo e Medicina Legal, agradece por toda contribuição dada a moderno complexo que comportassem as esta nobre ciência e dedicação a esta Instituição. MARIA THEREZA DE MEDEIROS PACHECO: UMA VIDA DEDICADA A MEDICINA LEGAL DA BAHIA 4 RESUMO Este trabalho tem como objetivo estabelecer um paralelo entre as práticas do erro e da fraude contábeis ressaltando a importância dos controles internos e a atuação do perito contador. Inicialmente, apresentam-se os conceitos, as espécies, as características, causas e exemplos de erro e de fraude. Em seguida, descrevem-se os sistemas de controles internos administrativos – contábeis, o perfil dos fraudadores e a atuação do perito contador na detecção e no combate às fraudes contábeis. Por fim, apresenta-se sua relação com os controles internos. Dentro desse contexto, este trabalho foi desenvolvido tendo por base a leitura analítica e a interpretação da Norma Brasileira de Contabilidade (NBC), Resolução CFC nº 836/99, de 22/02/99 e dos textos legais pertinentes ao tema, começando pelo Código Penal Brasileiro (CPB) e em seguida pelo Código de Processo Penal (CPP). Assim, o estudo permite concluir que, se nas entidades públicas ou privadas a prática de fraudes contábeis não pode ser evitada na sua plenitude, ainda assim pode ser controlada e bastante minimizada a partir da adoção de eficientes sistemas de controles internos, de um departamento de auditoria interna muito bem estruturado e da atuação eficiente do perito contador. ABSTRACT This paper has the purpose of establishing a comparison between accounting error and fraud emphasizing the importance of internal control and the role of the accountant expert. To begin with, it presents concepts, types, characteristics, causes and examples of both error and fraud. After that, it describes the administrative and accounting internal control systems, the profile of fraudsters and the roles of the accountant expert in identifying and combating accounting frauds. Finally, it deals with the relationship between accounting expert and internal control. Within this concept, this paper was developed based on the analytic reading and interpretation of the Normas Brasileiras de Contabilidade (NBC), Resolution CFC nº 836/99, of 02/222/99 and Legaltexts pertaining to the subject, starting with the Código Penal Brasileiro (CPB) followed by the Código de Processo Penal (CPP). Therefore, the study allows the conclusion that, if the practice of fraudulent accounting within private or public entities cannot be totally avoided, it may nevertheless be controlled and reasonably minimized by adopting a well-structured auditing department, which should use an efficient control system and support of a competent accounting expert. PALAVRAS-CHAVE: erro, fraude, crime, controles internos, fraudador, perito contador. KEY WORDS: error, fraud, crime, internal control, fraudster, accounting expert. INTRODUÇÃO: Este trabalho tem como objetivo conceituar o erro e a fraude contábeis, mostrar suas causas, seus tipos, suas características e o perfil do fraudador, ressaltando os controles internos e o papel do perito contador. Neste compasso, o trabalho apresenta um paralelo entre estas espécies de incorreções com destaque para a fraude contábil. O erro é ato não intencional que leva a incorreções. No ambiente contábil, o erro é a inexatidão quando dos registros na escrituração contábil e na elaboração das Demonstrações Contábeis. São três as espécies de erros contábeis, duas as suas principais causas, com predominância da causa na pessoa física do executante, ressaltando que o Conselho Federal de Contabilidade prevê três formas de Retificação dos seus Lançamentos, a partir de certas exigências. A fraude é dano intencional feito a alguém. No ambiente contábil, a fraude é a modificação intencional dos registros e das Demonstrações Contábeis. São várias as suas espécies e causas, predominando a causa na pessoa jurídica, pois mesmo possuindo funcionários com perfil de fraudador, difícil será a prática deste delito se a empresa dispuser de um bom sistema de controles internos. Controles Internos são um conjunto de medidas adotadas na empresa para salvaguardar seu patrimônio e que se forem eficazes reduzem a probabilidade de ocorrer distorções nas ERRO e FRAUDE CONTÁBEIS Artigo Original Sérgio Pastori de Figueiredo Perito Criminal Instituto de Criminalística Afrânio Peixoto - DPT/BA 5 E R R O E F R A U D E C O N T Á B E IS Demonstrações Contábeis devido a fraude ou a erro, apesar da existência do risco de que não funcionem a contento. Os fraudadores têm como perfil ser pessoas inteligentes, solícitas, bajuladoras, chantagistas emocionais, que exploram erros prévios. Os peritos contadores no combate às fraudes contábeis e na sua prevenção, antes de tudo, devem conhecê-la bem, possuir conhecimentos contábeis acurados, funcionar como um policial investigador e ser um pesquisador do tema. Atuam na área cível e na área criminal, estão sujeitos às exigências de ordem legal, profissional, moral e ética contidas nas Normas Brasileiras de Contabilidade e nas legislações pertinentes. Os casos mais comuns de fraudes contábeis têm como causa e envolvem a pessoa jurídica fraudada, e estão tipificados no Código Penal como estelionato, duplicata simulada, apropriação indébita, falsidade documental e falsidade ideológica envolvendo empresa de fachada, empresa de intermediação, pagamento/ressarcimento e compras pessoais tendo como seus pilares a oportunidade, as pressões e a racionalidade. MATERIAL E MÉTODOS: A metodologia da pesquisa foi a comparativa através dos procedimentos da leitura analítica e da interpretação da bibliografia, das Normas Brasileiras de Contabilidade (NBC), Resoluções nº. 836/99, nº. 1.243/09 e nº. 1.244/09 e dos textos legais pertinentes ao tema, começando pelo Código Penal Brasileiro e em seguida pelo Código de Processo Penal. RESULTADOS: Os principais resultados alcançados com a pesquisa foram as peculiaridades, as causas, as espécies, as diferenças e as semelhanças do erro e da fraude em contabilidade; o perfil dos que praticam a fraude; a participação do perito contador e a eficiência dos controles internos na prevenção ao cometimento de fraudes contábeis. DISCUSSÃO 1. O ERRO CONTÁBIL O Erro é ato sem intenção que leva a resultados incorretos. De acordo com o Conselho Federal de Contabilidade (CFC) a NBC T 11, Resolução nº. 820/97, item 14.1.4, inciso 'a', o Erro Contábil é: o ato não-intencional resultante de omissão, desatenção ou má interpretação de fatos na elaboração de registros e das Demonstrações Contábeis. Os erros em contabilidade vêm sempre seguidos de falhas, ficando evidente a sua ocorrência, daí ser mais simples detectá-los devido à ignorância, ao desconhecimento por parte de quem o efetuou ou o desenvolveu. Nos termos do item 3 da Resolução nº. 836/99, suas espécies são: (a) aritméticos; (b) aplicação incorreta das normas contábeis e (c) interpretação errada das variações patrimoniais. As causas da prática de erros contábeis podem estar na pessoa física do executante ou na pessoa jurídica da entidade. Dentre as atribuídas ao executante destacam-se: formação profissional insuficiente ou inexistente, negligência, desinteresse, imprudência, incompetência, inexperiência, inabilidade. Para as atribuídas à entidade na qual o executante efetua o erro, destacamos as ausências de: educação continuada, reconhecimento profissional, estímulos, incentivos. Da interpretação conjunta das espécies de erro contábil com as suas causas, percebe-se que as três espécies podem ter como causa a pessoa física do praticante e a aplicação incorreta das normas contábeis. A Resolução nº. 596/85, prevê a ocorrência do erro contábil e a consequente Retificação dos respectivos Lançamentos. A Retificação é o processo técnico de correção de um registro contábil errado. Existem três formas de Retificação: (i) o Estorno é o lançamento inverso anulando o errado; (ii) a Transferência é a transposição para a conta adequada dos valores errados registrados como débito ou como crédito em conta inadequada e (iii) na Complementação, posteriormente complementa-se para mais ou para menos o valor anteriormente registrado.O Histórico da Retificação exige:[a] a sua motivação,[b] a data e [c] a localização do lançamento de origem. 2. A FRAUDE CONTÁBIL A origem latina do termo fraude é “fraus”, ”fraudis”, significando dano feito a alguém, crime - fato típico, antijurídico e culpável pela lei penal - ou delito - fato que a lei declara punível. A fraude é toda forma de lesão premeditada ao direito de terceiros, tramada por meio de artifícios e executada através de métodos e práticas desonestas. A fraude é sempre um erro, porém nem todo erro é uma fraude, então a fraude é um erro proposital para prejudicar alguém. No ambiente contábil, a fraude é conceituada como ato intencional de omissão 6 S É R G IO P A S T O R I D E F IG U E IR E D O 7 e/ou de manipulação de transações e de adulteração de documentos, de registros e/ou de Demonstrações Contábeis. Dentre as características da Fraude Contábil destacamos: (1) a falta de intenção anula a fraude, mas não elimina o erro; (2) é tanto mais perigosa quanto mais sofisticado for o modus operandi usado para praticá-la; (3) meio enganoso capaz de iludir a vigilância da vítima e permitir maior facilidade na subtração do bem material; (4) altera e/ou modifica dados, informações, palavras, números; (5) qualifica o furto por isso é delito desta espécie. O Furto está previsto no artigo 155 do Código Penal que o define como, subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel e o Furto Qualificado no inciso II como sendo aquele com abuso de confiança, ou mediante fraude e no inciso IV como sendo mediante concurso de d u a s o u m a i s p e s s o a s . A s p e n a s , respectivamente são: reclusão, de um a quatro anos, e multa se o crime é de furto, e reclusão de dois a oito anos, e multa se o furto for qualificado. Já a citada Resolução nº. 836/99, no item 2, caracteriza a fraude como: (a) manipulação, falsificação ou alteração deregistros ou documentos, de modo a modificar os registros de ativos, passivos e resultados; (b) apropriação indébita de ativos; (c) é supressão ou omissão de transações nos registros contábeis; (d) registro de transações sem comprovação; (e) aplicação de práticas contábeis indevidas. As possíveis razões para o fraudador praticar as fraudes são: [1] perda de valores éticos, morais e sociais; [2] insuficiência nos controles internos; [3] impunidade; [4] a própria natureza humana; [5] pressões econômicas; [6] fruto de oportunidades; [7] perdas em jogos; [8] gastos com mulheres; [9] infortúnio; [10] concupiscência; [11] megalomania; [12] cleptomania. Tanto o erro quanto a fraude contábeis não surgem do nada, ou seja, precisam de um ambiente propício e fecundo para a sua germinação e nascimento. Como causas comuns de suas práticas relacionamos: Estrutura Inadequada, Atuações Inadequadas, Pressões Internas, e Pressões Externas. Dentre os principias tipos de fraudes contábeis destacamos o grupo das Falsidades e o grupo das Burlas.São exemplos de Falsidades: [1] Falsa Intitulação, conta com nomenclatura inadequada; [2] Falsa Avaliação, registro, para mais ou para menos, de quantum monetário falso; [3] Falsa Apuração, maquiagem de resultado contábil, quer pelo aumento dos gastos quer pela diminuição de receitas; [4] Falso Transporte, transcrição proposital de valor errado através da troca de números; [5] Lançamento Duplo, registro contábil repetido; [6] Lançamento Omisso, exclusão ou registro incompleto de fato contábil; [7] Lançamento Parcial, apenas parte do fato contábil é registrado. Os fraudadores usam a empresa fraudada como pano de fundo praticando uma das quatro maneiras de fraudar. [1] nas Empresas de Fachada os empregados desonestos utilizam uma empresa falsa para fornecer, de maneira fictícia, bens ou serviços e desviam os pagamentos para si; [2] nas Empresas de Intermediação utilizando uma empresa de fachada, o empregado do departamento de compras de uma empresa compra bens e serviços superfaturados para a empresa em que trabalha e os vende para a própria empresa através da empresa de fachada; [3] o Pagamento e Ressarcimento envolvem um empregado que propositalmente realiza um pagamento a maior a um legítimo fornecedor. Quando o fornecedor devolve para a empresa o valor pago a maior o empregado desvia o reembolso e [4] Compras Pessoais consistem na compra de produtos pelos empregados, faturando-os como sendo para a empresa em que trabalham. 3. OS SISTEMAS DE CONTROLES INTERNOS Controles Internos são os planos e todos os métodos e medidas adotados de forma coordenada, com o objetivo de proteger o patrimônio e promover a eficiência operacional da empresa. Têm como finalidades verificar a exatidão e a fidelidade dos dados contábeis; desenvolver as eficiências nas operações e estimular que se siga e obedeça a política administrativa prescrita nos manuais internos. Para confiar-se nos controles internos, previamente são necessários o seu conhecimento e sua avaliação. Portanto, numa empresa que possua bons Sistemas de Controles Internos torna-se mais difícil a ocorrência de fraudes. A falta de controles internos ou sua deficiência estimula desfalques, dificulta sua constatação e representa mais da metade das causas do cometimento de fraudes contábeis. Portanto, para evitar sua prática, as entidades devem adotar medidas de controle, possuir bons Sistemas de Controles Internos, minimizar os E R R O E F R A U D E C O N T Á B E IS riscos de ocorrência de fraudes, possuir um manual de ética com direitos e deveres dos seus executivos e funcionários, disponibilizar um canal que assegure confidencialidade para a comunicação de eventuais fraudes e aplicar medidas disciplinares rígidas. Bons controles internos indicam de forma mais rápida a necessidade da adoção de medidas preventivas e/ou corretivas, que visem a maximização dos lucros e a minimização de perdas decorrentes de ineficiências e/ou de desvios. A existência de controles internos eficazes reduz a probabilidade de distorções nas Demonstrações Contábeis devido a fraude/erro, todavia haverá sempre algum risco dos controles in ternos não funcionarem satisfatoriamente e como planejado. Ressalte-se ainda que quaisquer controles internos tornam- se ineficazes no combate às fraudes contábeis que envolvam conluio entre empregados ou que seja cometida pela alta administração da entidade, pois certos níveis da administração podem burlar os sistemas de controles internos que previnam tais cometimentos de fraudes por parte de outros empregados de uma entidade. Na grande maioria dos casos a entidade fraudada não recupera o dinheiro subtraído. Como as fraudes contábeis envolvem atos planejados para ocultá-las, o risco de sua não detecção é maior do que o de não detecção da prática do erro. Portanto, deve-se avaliar criticamente sua concepção e como estão funcionando, pois como a responsabilidade primária de prevenção e de identificação de fraudes e/ou de erros é da administração da entidade in casu, então a manutenção de um adequado sistema de controles internos não elimina o risco de suas ocorrências. As fraudes contábeis corporativas aumentam a cada ano e, consequentemente, cresce também o número de executivos que perdem seus cargos por envolvimento em tal delito, pois como na grande maioria dos casos, numa organização pública ou privada a fraude começa de cima para baixo e inicialmente é praticada por aquele que exerce a função mais humilde na empresa, então se deve avaliar a probabilidade do envolvimento da alta administração da entidade objeto da perícia contábil. E em havendo dúvidas, é de bom alvitre, que, antes de qualquer conclusão formal, se avalie mais aprimoradamente as circunstâncias do fato. E ainda, no mundo empresarial, as entidades que fraudam o fisco, seus clientes ou seus fornecedores, criam um ambiente estimulante para seus funcionários praticarem-na internamente e, daí, essas entidades não conseguem puni-los. Destacamos a seguir os principais pontos de um sistema de controles internos contábeis para uma entidade: [1] segregação de funções; [2] integração dos custos ao setor contábil; [3] emissão de documentos comprobatórios; [4] contagem rotativa dos estoques e seu inventário físico; [5] regularidade de escrituração; [6] organização das informações sobre os funcionários; [7] aprovação dos pagamentos e dupla assinatura nos cheques sempre nominais; [8] uma pessoa confere o trabalho da outra sem executá-lo; [9] valor baixo como limite para pagamentos em espécie. 4. O PERFIL DOS FRAUDADORES Geralmente os fraudadores são pessoas inteligentes, sem interesses aparentes, solícitos, eficientes, minuciosos, preservam-se de quaisquer suspeitas; estão sempre preocupados em justificar o que fazem; ocupam cargos pouco elevados; são funcionários de confiança, com algum tempo de “casa” e num cargo com autoridade; exploram erros prévios; utilizam as facilidades tecnológicas; estão familiarizados com os mecanismos da empresa; quase sempre, antes de praticar a fraude, experimentam-na para, paulatinamente implementarem-na; são bajuladores, supervenientes, chantagistas emocionais; nada criticam; externalizam gratidão exagerada; mostram-se competentes, ganham confiança e obtêm poder. 5. O PERITO CONTADOR Para detectar fraude contábil, assim como proteger a sociedade dela, este profissional deve conhecê-la bem, enfrentá-la aplicando critérios técnicos acurados, pois o leigo, o desprovido de conhecimentos contábeis pertinentes à matéria, não identificará os seus indícios, pois se ele não conhece como a praticam, tem sua capacidade reduzida para detectá-la ou encontrar os seus indícios. O conhecimento das espécies de fraudes contábeis, além de ser uma das culturas básicas da sua formação, é o caminho mais curto e seguro para a detecção dos seus indícios. Ressalte-seainda que na Perícia Contábil o estudo desta espécie de crime é condição essencial para a cultura deste expert, cuja função é a de um pesquisador de fraudes contábeis e não pode ser exercida com eficiência se não estiver submetida a uma metodologia analítica da possibilidade também de ocorrência de erros. Quando da realização dos seus trabalhos 8 periciais, ele não pode desconsiderar a hipótese da conivência ativa, aliada às prerrogativas previstas na NBC, PP01, Resolução nº. 1.244/09, no Código de Processo Penal e no Código de Processo Civil. Tanto na área cível como criminal este profissional deve possuir qualidades de ordem legal, profissional, ética e moral, deve desenvolver os seus trabalhos periciais contábeis sob a égide do zelo, do sigilo, da responsabilidade, da competência, da independência, da clareza, da exatidão e da diligência. Qualidades e exigências contidas nas NBC's, emanadas do CFC, e nas legislações pertinentes, além de estarem sujeitos às Responsabilidades Administrativa, Civil e Criminal. CONCLUSÃO Das diferenças entre a fraude e o erro destaca-se a intenção em praticar e a semelhança é que ambos os atos são erros. O erro por ser não intencional decorre da formação profissional insuficiente, da negligência, da incompetência do executante. A fraude por sua vez, como ato intencional com a finalidade de subtrair bens, visa lesar terceiros. O erro e a fraude contábeis têm como causas semelhantes tanto a pessoa física do executante quanto a pessoa jurídica lesada, todavia a causa pessoa física predomina na prática dos erros contábeis e aquela outra causa predomina na prática das fraudes contábeis. Estas últimas, no Código Penal, estão tipificadas como crime do tipo furto, como crime contra a fé pública, no rol daqueles contra o patrimônio e como apropriação indébita. Mesmo que a entidade tenha em seus quadros funcionários cleptomaníacos, concupiscentes, megalomaníacos ou com perfil típico de fraudador, controles internos eficientes, aliados a uma auditoria interna independente e bem estruturada, não só previnem como evitam a prática de fraudes contábeis, pois tais controles, a exemplo da segregação de funções, da contagem rotativa dos estoques, da dupla assinatura em cheques nominais, de informações organizadas sobre seus empregados, buscam a confiabilidade dos seus registros contábeis, evitam uma empresa com estrutura inadequada e dificultam atuações indevidas da sua administração e a ação de pressões internas e externas. E ainda, para combater ou descobrir a prática de fraudes contábeis, necessário se faz a atuação de peritos contadores, cíveis ou criminais, habilitados, pesquisadores e competentes no tema fraudes contábeis e possuidores de qualidades de ordem legal, profissional, ética e moral. Por conseguinte, a ciência contábil pode e deve ser usada para fins de detecção das fraudes contábeis, pois em tese, com o auxílio da tecnologia contábil, os seus indícios podem ser percebidos pelo perito contador cível ou criminal. REFERÊNCIAS 4.1. CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. Decreto - Lei nº. 3.689/41, de 03/10/41. 4.2. CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. Lei nº. 5.869/73, de 11/01/73. 4.3. CÓDIGO PENAL. Decreto - Lei nº. 2.848/40, de 07/12/40. 4.4.CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE. Código de Ética Profissional do Contabilista – CEPC, Resolução CFC nº. 803/96, de 10/10/96. ______ Perícia Contábil, NBC TP01, Resolução CFC nº. 1.243/09, de 10/12/09. ______ Perito Contábil, NBC PP01, Resolução CFC nº. 1.244/09, de 10/12/09. ______ Fraude e Erro, IT 03, Resolução CFC nº. 836/99, de 22/02/99. ______ Retificação de Lançamentos, NBC T2. 4, Resolução CFC nº. 596/85, de 14/06/85. _ _ _ _ _ _ N o r m a s d e A u d i t o r i a Independente das Demonstrações Contábeis, NBC T 11, Resolução CFC nº. 820/97, de 17/12/97. 4.5. D'ÁUREA, Francisco. Revisão e Perícia Contábil. 3. ed. São Paulo: Nacional, 1962. 4.6. DECRETO-LEI nº. 9.295/46, de 27/05/46, artigo 25c. 4.7. FIGUEIRÊDO, Sérgio Pastori de. Perícia x Auditoria. 1. ed. Salvador: Eduneb, 2008. 4.8. MORAIS, Antônio Carlos & FRANÇA, José Antônio. Perícia Judicial e Extrajudicial. 1. ed.Brasília: Intertexto, 2000. 4.9. SÁ, Antônio Lopes de. Perícia contábil. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2002. ______ Fraudes Contábeis. 2. ed. São Paulo: Ediouro, 1982. 4.10. O Barulho da Fraude. Disponível em: http:// em: em 12/10/2003. S É R G IO P A S T O R I D E F IG U E IR E D O 9 RESUMO O número de requisições direcionadas para a Coordenação de Perícias em Audiovisuais, emanadas através da autoridade, concernentes à verificação de conteúdo e autenticidade das infrações penais relativas à pedofilia têm crescido de forma considerável. Na maior parte dos casos, o material submetido a análise consiste de milhares de registros de imagens e vídeos armazenados em mídia ótica e/ou aparelhos celulares. Para proceder aos exames de verificação de conteúdo mais preciso, faz-se necessária a utilização de uma metodologia que permita ao perito criminal identificar, dentre as cenas a serem analisadas, os atos de pedofilia criminalizados, bem como a faixa etária dos atores participantes. Este trabalho possui como objetivo apresentar esta metodologia. ABSTRACT: The number of requests addressed to the Coordination of Audio-Visual Forensic Exams concerning to the examination of content and authenticity of law infringements related to pedophilia has grown considerably. In most of the cases, the material undergone analysis consists of thousands of recordings of images and videos stored on optical media and/or cell phones. In order to do verification examinations of more precise content, it is necessary the usage of a methodology which enables the forensic expert identify, among the scenes to be analyzed, the criminalized pedophilia acts, as well as, the age group of the participant actors. This paper aims to present this methodology. Key words: sexual abuse of children and ado lescen t s ; Au then t i c i ty ve r i f i ca t ion ; methodology; perceptual analysis. PALAVRAS CHAVE: Abuso sexual de crianças e adolescentes; Verificação de autenticidade; metodologia; Análise perceptual. 1. INTRODUÇÃO A questão da violência contra as crianças e adolescentes tem sido uma preocupação em nível mundial, ocupando um dos oito temas principais da agenda de discussões do 12º Congresso das Nações Unidas sobre Prevenção ao Crime e Justiça Criminal, realizado em Salvador-Ba, no período de 12 a 19 de abril de 2010. Para combater o tipo de violência, representado pelo abuso e exploração de crianças e adolescentes, durante a Convenção sobre Proteção de Crianças Contra o abuso e exploração de criança foi definido um conjunto de protocolos a serem seguidos pelos estados membros da ONU, que, em linhas gerais, consiste: a) na criminalização do abuso, exploração e pornografia envolvendo crianças e adolescentes; b) medidas preventivas, incluindo educação de crianças vulneráveis a práticas de abuso e exploração sexual por meio de novas tecnologias; c) cooperação internacional através de programas de capacitação dos agentes da lei. A lei brasileira estabelece vários crimes para a punição de abuso sexual. Recentemente, foi sancionada a lei nº 11.829/2008 (elaborada pela CPI da Pedofilia), a qual modificou o Estatuto da Criança e do Adolescente, estabelecendo novos tipos de crimes e melhorando o combate à pornografia infantil na internet. As perícias em registros de vídeo e imagens precisam utilizar como suporte de análise um conjunto de parâmetros para representar, com maior grau de precisão, as condutas tipificadas em lei. O modelo de análise perceptual apresentado a seguir consiste da utilização dos artigos da legislaçãobrasileira para selecionar as cenas cujas condutas são tipificadas em lei, bem como, também, da utilização dos critérios de Tanner, Bonjardim e Hegg, que servem para verificar a presença de crianças e adolescentes nestas cenas. r.” 2. O MATERIAL A legislação brasileira que tipifica os atos de pedofilia constitui-se em importante referencial para selecionar dentre o material enviado para ser periciado, aqueles que são objeto da perícia: Código Penal; o Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA - Lei 11.829 -, de 13 de julho de 1990, e a Lei 11.829, de 25 de novembro de 2008, que modificou o ECA. Em relação ao Código Penal, os crimes de estupro (art. 213) e corrupção de menores (Art.218), quando praticados contra criança ou adolescente, têm a pena agravada (art. 61, II, h, do Código Penal). Parâmetros para Análise perceptual de Imagens Relacionadas a Abuso sexual e Exploração de Crianças e Adolescentes Fernando Luiz Pinheiro de Amorim Perito Criminalístico Bacharel em Matemática UFBA / Mestre em Redes de Computadores - UNIFACS Artigo de Revisão 10 F E R N A N D O L U IZ P IN H E IR O D E A M O R IM 11 Em relação ao ECA, o Estatuto tipifica os seguintes crimes: a) Artigo 240 - A produção de qualquer tipo de pornografia envolvendo criança ou adolescente, bem como pune aqueles que agenciam, de qualquer forma, e, também, os que com esse contracenam; b) Artigo – 241 - Vender ou expor à venda, por qualquer meio, inclusive da internet, registros de imagem com teor pornográfico ou cenas de sexo explícito envolvendo crianças ou adolescentes. Por sua vez, o ECA alterado criou novos tipos de crimes no sentido de combater os atos criminalizados de pedofilia, definindo, inclusive, o significado da expressão “cena de sexo explícito e pornográfica”, que representa qualquer situação que envolva criança ou adolescente em atividades sexuais explícitas, reais ou simuladas, ou exibição dos órgãos genitais de criança ou adolescente, para fins primordialmente sexuais”: a) Artigo 241 – A. Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, distribuir, publicar ou divulgar por qualquer meio, inclusive por meio de sistema de informática ou telemático, fotografia, vídeo ou outro registro que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica, envolvendo criança ou adolescente; b) Artigo 241 – B. Adquirir, possuir ou armazenar, por qualquer meio, fotografia, vídeo ou outra forma de registro que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica, envolvendo criança ou adolescente; c) Artigo 241 – C. Simular a participação de criança ou adolescente em cena de sexo explícito ou pornográfica, por meio de adulteração, montagem ou modificação de fotografia, vídeo ou qualquer outra forma de representação visual; d) Artigo 241 – D. Aliciar, assediar, instigar ou constranger, por qualquer meio de comunicação, criança, com o fim de com ela praticar ao libidinoso. Assim como a legislação brasileira serve de importante fonte de consulta para selecionar as cenas de interesse pericial, os critérios de Tanner, Bonjardim e Hegg servem para verificar a presença de crianças ou adolescentes nas cenas pré-selecionadas. Tanner considera os estágios de desenvolvimento puberal masculino (genitália e pelos pubianos) e feminino (pelos pubianos e mamas) em estágios de I a V: (CADERNETA de Saúde do Adolescente – Meninos, 2009) e (CADERNETA de Saúde do Adolescente – Meninas, 2009), cujas figuras ilustrativas integram o item 2.0 dos documentos anexos a este laudo pericial, sob o título “Estágios de Tanner”. Por sua vez, Bonjardim e Hegg propuseram uma classificação para representar este desenvolvimento em fases pré- púbere, púbere e pós-púbere. 2.1 Composição dos critérios de Tanner, Bonjardim e Hegg 2.1.1 Sexo feminino: Evolução das mamas M1 – Estágio Pré-púbere (menor que 8 anos) Classificado como estágio I, apresenta mamas infantis, com elevação somente dos mamilos, formadas por uma aréola pequena e plana de cor rosada; Estágio púbere (8 a 15 anos) a) M2 – Broto mamário ou areolar: surgimento do primeiro broto mamário, a aréola se eleva e forma com o mamilo um pequeno cone semelhante a um botão de uma flor. b) M3 – Mama cônica pré-adolescente: inicia-se o acúmulo de tecido adiposo debaixo da aréola tornando-se cada vez mais proeminente. O mamilo se agiganta e adota um aspecto coniforme. Observa-se maior aumento da mama e aréola, sem separação de seus contornos. c) M4 – Mama adolescente: o tecido adiposo aumenta, observando-se a projeção da aréola e da papila, formando uma pequena elevação acima do nível da mama. A mama assume a forma de uma semi-esfera, em cuja saliência se destaca outra saliência formada pela aréola aumentada e pigmentada. Estágio Pós-Púbere (13 a 18 anos) M5 – Maturidade das mamas: as mamas alcançam o aspecto adulto e são redondas de maior tamanho, a aréola se retrai em função do desaparecimento da junção entre a aréola e o contorno das mamas, sobressaindo-se deste contorno somente o mamilo. Evolução dos pelos pubianos Estágio Pré-púbere (menor que 9 anos) P1 – Não há pelugem; Estágio Púbere (9 a 15 anos) a) P2 – Presença de pelos longos, macios, ligeiramente pigmentados, distribuídos ao longo dos grandes lábios; b) P3 – Os pelos tornam-se mais escuros e ásperos sobre o púbis; c) P4 – O pêlo já está com características P A R Â M E T R O S P A R A A N Á L IS E P E R C E P T U A L D E I M A G E N S R E L A C IO N A D A S A A B U S O S E X U A L E E X P L O R A Ç Ã O D E C R IA N Ç A S E A D O L E S C E N T E S 12 adultas, mas cobre uma área consideravelmente menor que na maioria dos adultos. O pêlo não atinge a fase medial das coxas; Estágio Pós-púbere (12 a 16,5 anos) P5 – O pêlo já está distribuído, na mulher sob a forma de um triângulo invertido com base superior, cobrindo todo o púbis e virilha, e atinge a face medial das coxas. 2.1.2 Sexo masculino Desenvolvimento dos órgãos do genital externo (escroto e pênis): · G1 - Fase Pré-púbere (menor que 9,5 anos): considerada também como fase infantil, persiste desde o nascimento até o começo da puberdade; Fase púbere ( 9,5 a 16 anos) a) G2 – Aumento do escroto e dos testículos, sem aumento do pênis; b) G3 - O pênis aumenta, inicialmente em toda a sua extensão. Continua a haver crescimento do escroto; c) G4 – Aumento do diâmetro do pênis e da glande, crescimento dos testículos e escroto, com escurecimento da pele deste último; · G5 - Fase pós-púbere (12,5 a 17 anos): corresponde ao estágio V. Os órgãos do genital externo assumem a forma adulta em tamanho e forma. Evolução dos pelos pubianos · P1 - Fase pré-púbere ou pré- adolescência (menor que 11 anos): nesta fase, não existem pêlos púbicos verdadeiros; pode-se encontrar uma fina e macia penugem sobre o púbis, semelhantes à de outras partes do abdômen; Fase púbere: (11 a 16 anos) a) P2 (11-15,5 anos): presença de pêlos longos, finos e lisos e ligeiramente pigmentados na base do pênis; b) P3 (11,5-16 anos) – existência de pêlos mais escuros, espessos e encaracolados sobre o púbis. c) P4 (12-16, 5 anos) – presença de pelos escuros, espessos e encaracolados, cobrindo totalmente o púbis, sem atingir as raízes das coxas; Fase Pós-púbere: P5 (13-17 anos) - pelugem do tipo adulto, estendendo- até as raízes e face interna das coxas. 3. O MÉTODO A metodologia empregada para realizar os exames periciais consiste da seguinte seqüência de procedimentos: 1) Identificação das características e identificações externas ap re sen tadas a t r avés dos me ios de armazenamento dos registros de imagens e vídeo; 2) Verificação quanto à estrutura, disposição, tipo e características dos registros de imagem e/ou vídeo armazenados; 3) Recuperação de registros apagados, mas ainda não sobrepostos, nos meios de armazenamentos possíveis de efetuar tal recuperação, a exemplo de: chipsde aparelhos celulares, cartão de memória da máquina fotográfica etc; 3) Transferência dos arquivos armazenados para o computador com a finalidade de preservar as informações originais e propiciar a utilização do instrumental de suporte das análises periciais; 4) Reprodução e seleção dos registros de vídeo e/ou de imagens para a realização das análises perceptuais; 5) Realização das análises perceptuais, dos arquivos selecionados, que consiste em verificar, através dos registros de imagens e/ou vídeo a participação de criança e/ou adolescente em cena de sexo explícito ou pornográfica, considerando-se criança a pessoa de até 12 (doze) anos de idade incompletos, e adolescente a pessoa de 12 (doze) anos completos a 18 (dezoito) anos incompletos, de acordo com os termos do art. 2º da Lei 8.069/90 ( Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA). 4. CONCLUSÃO A utilização da legislação e dos critérios de conduta dos atos de pedofilia tipificados em lei e dos critérios Tanner, Bonjardim e Hegg norteia as análises de verificação de conteúdo dos exames periciais; no entanto não esgotam todas as possibilidades. Os resultados decorrentes da investigação policial poderão ampliar o conjunto probatório, como, por exemplo, verificar através dos bancos de dados de imagens existentes na INTERPOL, se as imagens periciadas foram divulgadas através de outros países. Abordagem Multidisciplinar na identificação de Gênero Relato de caso: Deficiência de 5alfa-Reductase Tipo 2 Relato de Caso Daysi Maria de Alcântara Jones (Perita Médica Legal- Departamento de Polícia Técnica) Larissa de Amorim Cavalcanti (Acadêmica de Medicina - UFBA) Raul Coelho Barreto Filho (Perito Médico Legal – Departamento de Polícia Técnica). RESUMO É relatada a perícia de um caso de genitália ambígua (hipospádia pseudovaginal períneo escrotal), abordando as dificuldades para se estabelecer o diagnóstico. A pericianda inicialmente criada como menina, aos cinco anos dá sinais fenotípicos de masculinização e isso mobiliza os pais a procurarem a justiça para elucidação do seu gênero. O sexo genético foi identificado como sendo masculino (cromatina sexual negativa) e o sexo genotípico também masculino (presença de testículos). Após a confirmação de que se tratava de um caso de deficiência parcial da enzima 5 alfa - reductase 2 e de que a evolução da menor seria para uma masculinização progressiva, os pais concordaram com a mudança do sexo social. O sexo fenotítpico não foi tratado cirurgicamente e utilizou- se terapia hormonal para atenuar a hispospádia. O sexo legal foi mudado para o masculino. A pericianda e sua família receberam apoio psicológico e a atenção de uma equipe multidisciplinar para aceitação da nova condição. Palavras-chaves: Determinação de gênero, hermafroditismo, antropologia legal. INTRODUÇÃO A determinação do sexo se constitui numa das tarefas mais desafiantes da antropologia forense. No morto, medidas osteométricas e índices auxiliam nesse mister. No vivo, essa tarefa é bem mais desafiadora porque transcende a necessidade de fazer a diferença biológica através da caracterização genética e anátomo – fisiológica do indivíduo (FRANÇA, 2008). Busca-se estudar os aspectos culturais e psicológicos que fazem a construção social do sexo e atribuições do sexo legal, ou seja, o gênero. Segundo Carloto (2001), “a construção dos gêneros se dá através da dinâmica das relações sociais” em que “os seres humanos só se constroem como tal em relação com os outros”. Reconhece-se a importância de tal definição no âmbito biológico por conta das diferentes atribuições e características físicas associadas com cada um dos gêneros sexuais. Nos jogos olímpicos de 1968, no México, começou-se a realizar exames para determinação de sexo, quando alguns dos competidores, que criados como sendo do gênero feminino, após testes, constatou-se tratar-se do sexo oposto, o que repercutia no seu desempenho durante as provas, já que possuíam maior força muscular que as atletas do genótipo feminino confirmadas laboratorialmente. Recentemente, nas Olimpíadas de Pequim, em 2008, foram realizados exames físicos, dosagens hormonais e avaliação da cromatina sexual nas atletas suspeitas de possuírem alguma ambiguidade sexual. Isso criou uma grande polêmica, pois de fato a questão do gênero envolve aspectos outros, como a forma do indivíduo enxergar-se a si mesmo (sexo psíquico). No âmbito penal, até o ano 2009, antes da nova lei dos crimes contra a dignidade sexual, de nº 12.015, publicada em 10 de agosto deste mesmo ano, o homem não era considerado também um sujeito passivo, havendo distinção na aplicação das penas entre os gêneros. Hoje, ainda permanecem leis de aplicação apenas a um deles, como a Lei Maria da Penha, que trata da violência à mulher. À medida que o conhecimento científico avançou nas áreas de genética e endocrinologia, mais se percebeu o quanto se deve valorar determinadas diferenças sexuais, para que através de um diagnóstico correto, possa-se promover um melhor ajuste social da pessoa em estudo. Além do mais, pessoas com anomalias da genitália externa têm maior chance de sofrer morte súbita por desequilíbrio hidro-eletrolítico que aquelas com genitália normal, o que, com o conhecimento, pode ser evitado. A determinação do gênero no indivíduo vivo encontra sua problemática nos casos em que há presença de anomalias de diferenciação gonadal, e o indivíduo pode ter um sexo genético diverso do fenotípico, e os pais detectando a anomalia logo 13 após o nascimento, fazem a opção de criá-lo em um ou outro sexo (sexo social), a depender de qual sexo a genitália externa mais se aproxime, morfologicamente. Portanto, a elucidação diagnóstica do gênero na antropologia forense exige uma abordagem multidisciplinar que envolve o obstetra, o neonatologista, o geneticista, o endocrinologista, o cirurgião (urologista ou ginecologista), além de apoio psicológico a ser dispensado à família e ao paciente durante todo o processo investigativo e depois, quando definido o gênero que mais for adequado ao paciente, possa a autoridade jurídica estabelecer o sexo legal. Noções gerais sobre genitália ambígua O processo de diferenciação sexual divide-se em dois momentos distintos: a determinação gonadal, que é a transformação da gônada bipotencial, indiferenciada, em testículo ou em ovário, e depois, a diferenciação sexual, que ocorre a partir da gônada diferenciada e que vai levar o indivíduo ao seu fenótipo final, incluindo ductos internos e genitália externa. Existe uma tendência “intrínseca” das estruturas tanto gonadais, quanto dos ductos internos e da genitália externa, a seguirem um caminho para o sexo feminino. Assim, a diferenciação para o sexo masculino exige a atuação ativa de fatores envolvidos no processo de diferenciação sexual. Uma pequena região no cromossoma Y chamada SRY, determina o sexo masculino humano. A partir da diferenciação testicular, as células de Sertoli secretam o hormônio antimülleriano (AMH), cujo papel, nesse momento (8 a 12 semanas de vida intra-uterina), é promover apoptose das células dos ductos de Müller e evitar que se diferenciem a fímbrias, trompas de Fallópio, útero e terço proximal da vagina. Já as células de Leydig iniciam a produção de testosterona (T), responsável, através de ação parácrina, pelo desenvolvimento dos ductos de Wolff, que darão origem aos ductos deferentes, epidídimo, vesículas seminais e ductos ejaculatórios. A masculinização da genitália externa depende da conversão da T a diidrotestosterona (DHT), que ocorre nas células da genitália externa pela ação da enzima 5alfa-redutase 2. As anomalias da diferenciação sexual podem ser classificadas em cinco categorias distintas, a saber: pseudo-hermafroditismo feminino, pseudo-hermafroditismo masculino, hermafroditismo verdadeiro, disgenesia gonadal e defeitos embriogenéticos não atribuíveisa gônadas ou hormônios ou a a l t e rações ca r io t íp icas . No pseudo- hermafroditismo masculino (PHM), o cariótipo é 46,XX, desenvolvem-se testículos bilaterais, mas alguma ou alguns dos passos necessários para completar a diferenciação da genitália externa não ocorreram de forma adequada, originando ambigüidade. Entre as possíveis causas de PHM, encontra-se a deficiência de 5alfa-redutase 2, em que há conversão insuficiente de T a DHT, levando a uma deficiência na diferenciação da genitália externa. A DHT é o hormônio que induz a virilização da genitália externa, formando o pênis, a uretra, a próstata e a bolsa escrotal durante a vida fetal e atua no desenvolvimento dos caracteres sexuais secundários durante a puberdade. Procede-se o relato de um caso de pseudo- hermafroditismo masculino secundário a deficiência de 5alfa-redutase 2, com contribuições da endocrinologia, da genética, da ginecologia, da pediatria e da cirurgia. RELATO DE CASO L.S., apresentou desde o nascimento genitália externa ambígua mas foi reconhecida e criada pela sua família como sendo do gênero feminino. Aos cinco anos de idade foi trazida do interior, pelos genitores aflitos para entender porque a mesma se parecia cada vez mais com um menino. Exibia pele áspera, ressecada e hipertrofia muscular generalizada, além de aumento do phalus. Exame da genitália externa r e v e l o u h i p o s p á d i a p s e u d o v a g i n a l perineoescrotal (HPVPS). Segundo a classificação de Prader (1954), utilizada hoje para diversos casos de ambigüidade sexual, o grau de virilização da criança era o IV, em que há presença de um clitóris fálico com abertura urogenital em forma de fenda na base do falo, indicando virilização ocorrida com 12-13 semanas de vida intra-uterina (VIU). O estudo citogenético revelou cromatina sexual negativa, tratando-se de um cariótipo 46,XY. Dosagem de 17 OH e 17 KS (metabólitos adrenais), Sulfato de dehidroepiandrosterona, androstenediona, e 17 OH Progesterona se revelaram normais, excluindo a hipótese de uma disormonogênese supra-renal. Testosterona, estradiol, além de FSH e LH estavam discretamente elevados, o que excluiu um defeito de produção hormonal a nível testicular e hipofisário, respectivamente. Prolactina e DHT foram normais. Estudo radiológico revelou vagina em fundo cego, ausência de útero, e A B O R D A G E M M U L T ID IS C IP L IN A R N A I D E N T IF IC A Ç Ã O D E G Ê N E R O R E L A T O D E C A S O : D E F IC IÊ N C IA D E 5 A L F A -R E D U C T A S E T IP O 2 14 massas inguinais (testículos). Suspeitou-se então de feminização testicular incompleta ou deficiência de 5alfa-reductase 2. Procedeu-se o teste de estímulo com gonadotrofina coriônica humana na dose de 1000U/d, via intramuscular, por cinco dias, dosando-se os hormônios androgênicos antes, durante e depois do estímulo. A tabela 1 mostra que os níveis de testosterona elevaram-se de 2ng/dl para 157ng/dl, a relação T/DHT aumentou para 22, entretanto a DHT praticamente não se alterou. Considera-se como normal para a relação T/DHT, após o estímulo com HCG, um valor de 12 +/- 3 ng/dl. Uma relação superior a 35-40 ng/dl firma o diagnóstico de deficiência de 5alfa-reductase 2. No presente caso, considera-se uma deficiência parcial da enzima de conversão a DHT. Este caso evidencia as dificuldades no diagnóstico diferencial entre as formas de pseudo-hermafroditismo masculino, o qual deve ser preciso, posto que a evolução fenotípica das suas formas é bem diferente: enquanto a deficiência da 5 alfa-reductase evolui, durante a puberdade, para o sexo masculino com masculinização bastante exacerbada, as outras formas evoluem para o sexo feminino. Reuniões com as mais diversas especialidades (ginecologista, pediatra, endocrinologista, geneticista, urologista, perito médico legal) foram feitas para adotar procedimentos médicos e padronizá-los para outros casos que venham a ocorrer no serviço. Firmado o diagnóstico, passada a informação de que o menor em estudo teria cada vez mais características físicas masculinas, os pais do mesmo, o próprio paciente e toda a equipe concordaram que se devia deixar evoluir esses caracteres sexuais secundários, e estimular através de uso de hormônios o desenvolvimento de outros caracteres que possivelmente estariam atrofiados. A ausência de próstata e vesículas seminais o tornariam infértil, mas se prognostica uma vida sexual normal. O sexo legal foi mudado para o masculino, foi administrada testosterona, corrigindo progressivamente a hipospádia, e o uso de DHT em creme foi utilizado para desenvolver o pênis. Um suporte psicológico foi dado durante todo o processo investigativo, ao menor e à seus pais, para aceitação da nova condição. Solicitado encaminhamento jurídico para reconhecimento do novo sexo legal do periciando. CONCLUSÃO Os autores chamam a atenção de que todo o conhecimento médico pode e deve ser colocado em auxílio à demanda da justiça e nesse particular, várias especialidades médicas necessitam dar suporte ao perito médico legal que se vê desafiado a tão complexa investigação, para determinação do gênero de uma pessoa. BIBLIOGRAFIA 1- ARBENZ,G. O. - Medicina Legal e Antropologia Forense. São Paulo, Atheneu, 1988, 562 p. 2- BRASIL. Lei Maria da Penha: Lei n. 11.340 de 7 de agosto de 2006, que dispõe sobre mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher . – Brasília: Câmara dos Deputados, Coordenação de Publicações, 2007. Disponível em URL: http://pdf-search- engine.com/lei-11.340-maria-da-penha- pdf.html. Acessado em: 02/03/10, às 14hs. 3- CARLOTO, C. M. O conceito de gênero e sua importância para a análise das relações sociais. Serviço Social em Revista [online], Londrina, v. 3, n. 2, p. 119-245 jan./jun. 2001. ISSN 1516- 3 0 9 1 . D i s p o n í v e l e m U R L : http://www.ssrevista.uel.br/c_v3n2_genero.htm Acessado em: 24/02/10, às 15hs. 4- DAMIANI, D; ARAÚJO J; DAMIANI, D. Investigação diagnóstica da genitália ambígua. In: Endocrinologia clínica. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan S.A.,2006.p. 419- 428. 5- FAUSTO-STERLING, A. Dualismos em duelo. Cad. Pagu [online]. 2002, n.17-18, pp. 9- 79. ISSN 0104-8333. Disponível em URL: h t t p : / / w w w. s c i e l o . b r / p d f / c p a / n 1 7 - 18/n17a02.pdf Acessado em: 24/02/10, às 14hs. 6- FRANÇA GV. Antropologia médico – legal. In: Medicina Legal. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan S.A.,2008.p. 42- 74. 7- KATIE, T. Laboratório de verificação do sexo de atletas ainda gera críticas. The New York Times, jul 2008. Disponível em URL: http://ultimosegundo.ig.com.br/new_york_time s/2008/07/30/laboratorio_de_verificacao_do_s exo_de_atletas_ainda_gera_criticas_1480317.h tml Acessado em: 02/03/10, às 14hs30min. 8- OLINTO, M. T. A. Reflexões sobre o uso do conceito de gênero e/ou sexo na epidemiologia: um exemplo nos modelos hierarquizados de análise. Separata de: Revista brasileira de epidemiologia. São Paulo, v. 1, n. 2, p. 161- 1 6 9 , 1 9 9 8 . D i s p o n í v e l e m U R L : http://www.scielo.br/pdf/%0D/rbepid/v1n2/06. pdf Acessado em 24/02/10, às 15hs30min. 15 D A Y S I M A R IA D E A L C Â N T A R A J O N E S , L A R IS S A D E A M O R IM C A V A L C A N T I, T H O M A Z R O D R IG U E S P O R T O D A C R U Z e R A U L C O E L H O B A R R E T O F IL H O FIGURA 2 Aspecto da genitália externa de menor (5 anos). Após testes genéticos e hormonais, constatou-se tratar-se de periciando de sexo genético (cromatina negativa) e genotípico masculino ( testículos palpáveis em grandes lábios - bolsas escrotais). 9- ________. Lei n.º 113/2009 de 17 de setembro, que estabelece medidas de proteção de menores, em cumprimento do artigo 5.º da Convenção do Conselho da Europa contra a Exploração Sexual e o Abuso Sexualde Crianças, e procede à segunda alteração à Lei n.º 57/98, de 18 de Agosto. Brasília: Assembléia da República, 2009. Disponível em URL: http://www.dre.pt/pdf1s/2009/09/18100/06620 06621.pdf Acessado em: 02/03/10, às 14hs50min. FIGURA 1 Exame de imagem de menor com genitália ambígua revela ausência de útero, ovários e vagina em fundo cego TABELA 1 Teste de estímulo com gonadotrofina coriônica humana mostrando resposta exacerbada da T e resposta parcial da DHT. Legenda: T- Testosterona, DHT - Dihidrotestosterona, ∆ 4 –Androstenediona, DHEA- Dehidroepiandrosterona, 17 OHP – 17 Hidroxi progesterona, E2- Estradiol. 16 A B O R D A G E M M U L T ID IS C IP L IN A R N A I D E N T IF IC A Ç Ã O D E G Ê N E R O R E L A T O D E C A S O : D E F IC IÊ N C IA D E 5 A L F A -R E D U C T A S E T IP O 2 INTRODUÇÃO O Aldicarbe é um inseticida, nematicida e acaricida, pertencente ao grupo dos carbamatos, comumente utilizado na agricultura baiana especialmente no cultivo de batata, feijão, cana-de- açúcar e banana. Esta substância, cuja molécula está apresenada na Ilustração 1, atua como inibidor reversível da enzima acetilcolinesterase e sua ação tóxica deve-se à depressão central provocada pelo aumento da acetilcolina na fenda sináptica o que se ref lete em efei tos agudos de paral is ia neuromuscular, excitabilidade e aumento da salivação são os sintomas mais frequentes em casos de intoxicação por este agente. Ilustração 1 - Estrutura molecular do Aldicarbe. Esta substância é utilizada na agricultura principalmente como inseticida sob a apresentação de TEMIK150®, que contém 15% do princípio ativo, na forma de grânulos e fracionado em grandes quantidades. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) classificada o Aldicarbe como substância de nível toxicológico 1, extremamente tóxico e apresenta toxicidade aguda expressa por DL50 de 0,9 mg.Kg-1, o que significa que apenas 0,4g dos grânulos é suficiente para levar ao óbito um indivíduo de 70Kg. Seu uso clandestino, também na forma de pequenos grânulos de coloração cinza escuro, se dá pelo fracionamento em pequenas quantidades e comercialização em feiras livres e Problemática do Chumbinho na Bahia Exemplo de identificação de Aldicarbe em material de perícia Relato de Caso Maiana de A. Teixeira (maiana.teixeira@gmail.com); Solange P. Soares; Ricardo L. Cunha. Laboratório Central de Polícia Técnica, Departamento de Polícia Técnica, SSP-BA comércio ambulante como rodenticida de forma imprópria, sob a denominação de “chumbinho”, conforme Ilustração 2. Ilustração 2 - Foto dos grânulos popularmente conhecidos por "chumbinho". Nos últimos anos a Coordenação de Toxicologia Forense do Laboratório Central de Polícia Técnica da Bahia tem registrado um aumento do número de casos de perícias relacionadas a “chumbinho”. Conforme demonstrado no Gráfico 1, foram 134 casos positivos para chumbinho em 2003 crescendo para 244 em 2008. Dentre os ingredientes ativos presentes no chumbinho encontram-se, além do Aldicarbe, outras substâncias como Carbofuran, Forato e Terbufós. Gráfico 2 - Número de casos relacionados a chumbinho no período de 2003 a 2008 17 18 produto de oxidação aldicarbe sulfóxido em material de uso hospitalar enviado para exame pericial conforme demonstrado na Ilustração 3, empregando extração líquido-líquido e Cromatografia Líquida de Alta Eficiência com Detector de Arranjo de Diodos (CLAE-DAD). Dessa forma, a avaliação da presença de aldicarbe em materiais relacionados a locais de crime se faz necessária dentro de um contexto de uso irregular e indiscriminado em tentativas de homicídios e suicídios, devido à facilidade do acesso da população a este tipo de produto. Objetivo Este trabalho teve por objetivo a identificação do carbamato aldicarbe e de um Durante o processo de extração dos analitos, buscou-se sempre utilizar a menor quantidade de amostra possível, uma vez que a quantidade de material disponível era muito pequena (aproximadamente 1,5mL). Metodologia As amostras per ic iadas foram submetidas a tratamento prévio com reagentes conforme esquema apresentado na Ilustração 4. Ilustração 3 - Foto do material de uso hospilatar periciado. A: seringa de 20mL contendo líquido escuro. B: agulha revestida por capa plástica, C: seringa de 5 mL ; e D: equipo de acesso contendo líquido escuro. 500mL de amostra 100mL de HCl 1M 400mL diclorometano “ “ ” ” Agitação por 1 min Centrifugação por 5min Injeção de 50mL Transferência de 200mL da fase orgânica Secagem em N2 e ressuspensão com 100mL da fase móvel CLAE -DAD Ilustração 4 - Esquema da metodologia utilizada no exame pericial. P R O B L E M Á T IC A D O C H U M B IN H O N A B A H IA E X E M P L O D E I D E N T IF IC A Ç Ã O D E A L D IC A R B E E M M A T E R IA L D E P E R ÍC IA Os extratos foram injetados no Cromatógrafo Líquido de Alta Eficiência com Detecção por Arranjo de Diodos (CLAE-DAD) e os cromatogramas e os espectros UV (195- 380nm) foram comparados à biblioteca de espectros UVTOX-Class VP e aos materiais de referência. O aldicarbe sulfóxido foi preparado através de reação de oxidação do aldicarbe com peróxido de hidrogênio 30% em excesso e aquecimento de 84°C por 5min. Resultados As amostras analisadas apresentaram picos cromatográficos com tempos de retenção compatíveis com os materiais de referência de aldicarbe e aldicarbe sulfóxido injetados nas mesmas condições e apresentaram também tempos de retenção relativos compatíveis e espectros UV com similaridade >0,999 comparando-os à biblioteca conforme Ilustrações 5 e 6, parâmetros que confirmam a presença destas substâncias nas amostars analisadas. Ilustração 5 - Cromatograma de uma das amostras analisadas através do CLAE-DAD. Ilustração 6 - Espectro UV em três dimensões (3D) de uma das amostras analisadas. Conclusões O método analítico de identificação mostrou-se rápido, simples e sensível. A síntese do aldicarbe sulfóxido através da oxidação do aldicarbe foi primordial para a caracterização do mesmo. Intoxicações por agrotóxicos, em particular a intoxicação por formulações conhecidas como chumbinho, constituem-se num grave problema de saúde e segurança pública no Estado da Bahia, onde é constatado crescimento do número de óbitos relacionados a este material. Neste sentido são imperiosas ações de fiscalização e repressão por parte dos órgãos competentes, bem como utilização de técnicas analíticas eficientes, que utilizem a menor quantidade de amostra possível, para identificação e quantificação dos princípios ativos. Referências PROENÇA, P.; TEIXEIRA, H., MENDONÇA, M. C.; CASTANHEIRA, E. P. M., CORTE- REAL, F., VIEIRA, D. N. Aldicarb poisoning: one case report. For. Sci Int. v. 146S, p. S79-S81, 2004. PRAGST, F.; HERZLER, M.; ERXLEBEN, B. Systematic toxicological analysis by high- performance liquid chromatography with diode array detection. Clin. Chem. Lab. Med. v. 42, n. 11, p. 1325-1340, 2004. 19 M A IA N A D E A . T E IX E IR A , S O L A N G E P . S O A R E S E R IC A R D O L . C U N H A Identificação Odonto-legal de Corpo Carbonizado Relato de Caso Marília Santos Viana Campos¹ Christiano Sampaio Queioroz² Nicole Prata Damascena³ RESUMO Este artigo relata um caso de identificação de um corpo carbonizado, por meio do exame odonto- legal. PALAVRAS CHAVES: odontologia legal, identificação. INTRODUÇÃO Na Odontologia Legal ou Forense, os procedimentos periciais criminais mais efetuados incluem as lesões traumáticas que atingem o complexo maxilomandibular (agressões, acidentes de trânsito) e a identificação de cadáveres 15,20 esqueletizados, putrefeitos ou carbonizados. Fundamentados nos requisitos de unicidade, imutabilidade, classificabilidade e praticabilidade,os métodos mais utilizados para identificação são a papiloscopia, os exames antropológicos e radiológicos, as análises de DNA e o método odontológico. A escolha da técnica mais adequada dependerá da integridade do corpo ou da 1, 2, 20circunstância em que o indivíduo veio a óbito. Para a determinação da identidade de cadáveres considerados “irreconhecíveis”, como carbonizados, esqueletizados ou em avançado estágio de decomposição, normalmente utiliza-se a 3, 4, 5, 14, 16, 17técnica de identificação odontolegal. A padronização e a disponibilidade de prontuários odontológicos possibilita uma identificação precisa e econômica, podendo dispensar a realização de 3, 14, 20. outros exames e a entrevista com familiares Suas limitações estão associadas à presença de características relevantes nos arcos dentários do cadáver e na documentação odontológica apresentada para confronto, que podem impossibilitar uma comparação e posterior 7, 20identificação do indivíduo. A conclusão quanto ao estabelecimento da identidade e a obtenção da quantidade de pontos convergentes depende fundamentalmente da qualidade do material a ser 16,18periciado em cada caso. A considerável resistência dos dentes e dos materiais restauradores juntamente com suas mudanças morfológicas e particularidades são fatores que viabilizam a utilização do método odontológico nas identificações postmortem, principalmente nos corpos carbonizados e/ou 6, 9, 10, 11, 14, 19 calcinados, putrefeitos e esqueletizados. A gravidade das lesões vai depender do tempo de ação, da quantidade do agente atuante, da extensão 12do agravo e da profundidade das lesões. Estes aspectos são imprescindíveis à determinação da causa da morte e, consequentemente, da maneira da morte (acidental, suicídio ou homicídio), além da 15possibilidade de dissimulação de um homicídio. Encontra-se na literatura vários relatos de laudos periciais identificados em razão da existência do prontuário odontológico, evidenciando a 3, 4, 8, 9, relevância clínica e pericial deste documento. 13, 14, 15, 16, 17 O papel do cirurgião-dentista, além de ter relevância social, serve de auxílio à Justiça ao disponibilizar a documentação odontológica de seus pacientes à perícia, que pode ser fundamental para a comparação e posterior identificação da 13,14,16 vítima. Assim, o presente trabalho tem o objetivo de relatar um caso pericial de identificação positiva de um corpo carbonizado através da avaliação clínica odontológica. RELATO DO CASO Corpo carbonizado, gênero masculino, de 1- Coordenadora do Setor de Odontologia Legal do Instituto Médico Legal Nina Rodrigues Especialista em Odontologia Legal (Universidade Estadual de Feira de Santana – UEFS) 2- Perito Odonto Legal do Instituto Médico Legal Nina Rodrigues Mestre em Odontologia (Universidade Federal da Bahia – UFBA) Especialista em Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofaciais (Hospital Santo Antônio – BA) 3- Aluna do Curso de Especialização em Odontologia Legal da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública (EBMSP) 20 Figura 2: parte do prontuário odontológico. O confronto, neste caso, considerou a presença e o tipo de restaurações, suas localizações nas cinco faces da superfície dentária, a higidez ou não (cárie, fraturas) dos dentes, bem como as ausências destes. Chamou a atenção a presença de uma prótese parcial removível, confeccionada em acrílico incolor, reabilitando o incisivo central superior direito ausente, a qual, não fosse um exame- odontolegal preciso, passaria despercebida, impossibilitando a afirmação da identificação (figuras 3 e 4). Figura 3: prótese parcial removível em acrílico incolor. identidade ignorada, encontrado na região metropolitana de Salvador, deu entrada no Instituto Médico Legal Nina Rodrigues, em outubro de 2007 (figura 1). Devido à perda dos membros superiores e inferiores, a coleta das impressões digi tais para permit ir a identificação por meio da dactiloscopia não foi possível, tendo sido coletado material para análise de DNA e executado o exame odonto- legal dos arcos dentários, como possibilidades de futura identificação. Figura 1: aspecto buco-facial do cadáver. Após algumas horas, compareceram ao referido Instituto, familiares reclamando o desaparecimento de um ente. Em entrevista a estes, verificou-se que o corpo carbonizado poderia ser do reclamado. Questionados a respeito de assistência odontológica do ente, os familiares relataram que o mesmo havia sido submetido a avaliação dental recente. Com esta informação, os peritos odonto-legais solicitaram à família, toda a documentação odontológica do indivíduo desaparecido, para que se procedesse o confronto com os achados no exame odonto-legal. De posse da documentação, que consistiu em um prontuário bastante detalhado das condições bucais do suposto, o exame comparativo foi realizado, tendo sido encontrados somente pontos coincidentes e nenhum ponto divergente ou discrepante, o que permitiu concluir pela identificação positiva do corpo carbonizado em questão, após somente algumas horas de estudo (figura 2). 21 M A R ÍL IA S A N T O S V IA N A C A M P O S , C H R IS T IA N O S A M P A IO Q U E IO R O Z E N IC O L E P R A T A D A M A S C E N A Figura 4: aspecto buco-facial do cadáver (sem a prótese). DISCUSSÃO No cadáver carbonizado, é frequente um elevado grau de destruição das estruturas faciais impedindo o reconhecimento fisionômico, assim como fica impossibilitada a coleta de impressões digitais pela destruição da pele dos dedos12. Foi o que se observou no caso relatado, em que houve queimadura por chamuscamento, caracterizada pelo contato direto da chama com o corpo, produzindo lesão progressiva da pele até a carbonização. O método odonto- legal para a identificação de corpos carbonizados é bastante útil, devido à grande resistência ao calor, tanto dos elementos dentários como dos materiais utilizados na dentística restauradora12. Estudo sobre materiais dentários e altas temperaturas, mostrou que o amálgama e o óxido de zinco mantêm a sua integridade até 1.200ºC11. Os dentes e as restaurações em amálgama, constatados no cadáver em questão, mostraram-se íntegros, bem como a prótese parcial removível em acrílico, em contraste com o quadro desfigurado geral do corpo, inclusive de suas partes ósseas. O exame dos arcos dentários na identificação humana representa um meio prático, rápido, seguro e econômico12. Para realizar a identificação positiva deste corpo, não foram necessárias mais do que três horas, após o recebimento da documentação odontológica do suposto. Além disso, dispensou-se o método pelo DNA, de custo infinitamente mais elevado do que o método odonto-legal. Um prontuário odontológico bem elaborado é, portanto, ferramenta fundamental neste processo13. O detalhamento encontrado no prontuário apresentado aos peritos odonto- legais que periciaram o corpo estudado foi fator primordial à sua identificação. CONSIDERAÇÕES FINAIS A identificação de corpos carbonizados consiste num dos grandes desafios periciais nos institutos médico legais. A dactiloscopia mostra-se como um método bastante eficiente, quando se consegue colher as impressões digitais. Caso contrário, a iden t i f i cação por es te método f i ca impossibilitada, partindo-se, então, para o método odonto-legal ou para a análise de DNA. Dentre estes dois meios de identificação, o odontológico permite identificar de forma mais rápida e barata, desde que se tenha uma documentação dental ante mortem suficiente e bem elaborada pelo cirurgião dentista assistente. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. BOAZ, K.; GUPTA, C. Dimorphism of maxilary and mandibular canines. J Forensic Dent Sci, v. 1, n. 1, jan./june. 2009. 2. CARVALHO, S. P. M., et al. Use of images for human identification in forensic dentistry. Radiol Bras, v. 42, n. 2, p. 125–130. 2009. 3. CEVALLOS, L. B.;GALVÃO, M. F.; SCORALICK, R. A. Identificação humana por documentação odontológica: carbonização subsequente a impacto de helicóptero no solo. Rev. Conexão SIPAER, v. 1, n. 1, nov. 2009. 4. GOODMAN, N. R.; HIMMELBERGER, L. K. Identifying skeletal remains found in a sewer J Am Dent Assoc, v. 133, p. 1508-1513. 2002. 5. GRUBER, J.; KAMEYAMA, M. M. O papel da Radiologia em Odontologia Legal. Pesqui Odontol Bras, v. 15, n. 3, p. 263-268, jul./set. 2001. 6. JADHAV, K., et al. Effects of acids on teeth. J Forensic Dent Sci, v. 1, n. 2, july/dec. 2009. 7. KAVITHA, B. et al. Limitations in forensic odontology. J Forensic Dent Sci., v. 1, n. 1, jan./june. 2009. 8. LEE, S. S., et al. The Diversity of Dental Patterns in the Orthopantomography and Its Significance in Human Identification. J Forensic Sci, v. 49, n. 4, july. 2004. 9. LEWIS, J. A. Jr., et al. Recovery and Identification of the Victims of the Ehime 22 ID E N T IF IC A Ç Ã O O D O N T O -L E G A L D E C O R P O C A R B O N IZ A D O Maru/USS Greeneville Collision at Sea. J Forensic Sci, v. 49, n. 3, may. 2004. 10. MAZZA, A., et al. Observations on Dental Structures when Placed in Contact with Acids: Experimental Studies to Aid Identification Processes. J Forensic Sci, v. 50, n. 2, mar. 2005. 11. MORENO, S., et al. Dental identification and temperature changes. J Forensic Dent Sci, v. 1, n. 1., jan./june. 2009. 12. PAIVA, L. A. S. Patologia forense nas mortes com evidente ação do fogo. Saúde, Ética & Justiça, v. 11, n. 1/2, p. 1-7. 2006. 13. PARANHOS, L. R., et al. A importância do prontuário odontológico nas perícias de identificação humana. RFO, v. 14, n. 1, p. 14- 17, jan./abr. 2009. 14. SHEKAR, B. R. C.; REDDY, C. V. K. Role of dentist in person identification. Indian J Dent Res, v. 20, n. 3. 2009. 15. SILVA, H. X.; GOMES, C. J. O. Estudo retrospectivo dos exames necroscópicos em carbonizados realizados no Instituto Médico- Legal Nina Rodrigues. Saúde, Ética & Justiça, v. 4, n. 1/2, p. 19-32. 1999. 16. SILVA, R. F., et al. Identificação de cadáver carbonizado utilizando documentação odontológica. Rev. odonto ciênc., v. 23, n. 1, p. 90-93. 2008. 17. SILVA, R. F., et al. Radiografias odontológicas: Fonte de informação para a identificação humana. Odontologia. Clín.- Científ., Recife, v. 5, n. 3, p. 239-242, jul./set. 2006. 18. SILVA, R. F., et al. Quantos pontos de concordância são necessários para se obter uma identificação odontolegal positiva? Revista de Odontologia da Universidade Cidade de São Paulo, v. 21, n. 1, p. 63-8, jan./abr. 2009. 19. SPADÁCIO, C. Análise dos principais materiais dentários restauradores submetidos à ação do fogo e sua importância no processo de identificação. 2007. 83 f. Tese (Doutorado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Odontologia de Piracicaba, Piracicaba. 2007. 20. STAVRIANOS, C., et al. Methods for human identification in Forensic Dentistry: A Review. The Internet Journal of Forensic Science, v. 4, n. 1, p. 5-5. 2009. 23 M A R ÍL IA S A N T O S V IA N A C A M P O S , C H R IS T IA N O S A M P A IO Q U E IO R O Z E N IC O L E P R A T A D A M A S C E N A Perfil do Suicídio em Salvador e a Incidência de Gênero e Faixa Etária Um Estudo no Imlnr/Salvador/Ba Comunicação Telma de Cássia Pinheiro Bispo Conceição Instituto Médico Legal Nina Rodrigues RESUMO Este trabalho tem como objetivo traçar o perfil do suicídio na cidade do Salvador, quanto a incidência de Gênero e Faixa Etária: estudo realizado IMLNR/Salvador/Ba. Através de análise documental post mortem, quantificou-se o número de mortes no período de nove anos de estudo, identificou-se o Gênero e a Faixa Etária das vítimas. A análise traz o coeficiente médio de mortalidade, o percentual correspondente ao Gênero, a Faixa Etária e os Meses com maiores incidências de mortalidades (no período de 2000 a 2008). Palavras–Chave: Suicídio; Indivíduo; Gênero- Faixa Etária INTRODUÇÃO A sociedade contemporânea tem cada vez mais dificuldade em lidar com o fenômeno suicídio e mesmo diante de uma extensa vulnerabilidade social, os seres humanos que presenciam o desamparo e a precariedade da condição humana continuam em dificuldades de pensar no assunto e nos aspectos contemporâneos. Em face a esta situação, ter-se tornado uma sociedade de risco. Bauman (2005), afirma que o suicídio ainda é um ”segredinho sujo” difícil para pensar, para falar, até mesmo para se estudar, eis a razão de ainda ser um assunto isolado. Hoje, embora os humanos tenham adquirido conhecimentos, ainda continua inexplicável o fenômeno suicídio. Os achados são de fundamental importância por tratar-se de um problema de saúde pública. O SUICÍDIO NO MUNDO E NO BRASIL Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) referem que cerca de 815.000 pessoas se mataram no ano de 2000 em todo o mundo, uma taxa de 14,5 para cada 100.000 habitantes, significando um suicídio a cada 40 segundos. Nos últimos 40 anos as taxas de suicídio aumentaram em 60% no mundo todo. Os dados da OMS referem ainda que o suicídio é a 3ª causa de morte entre as idades de 15- 44 anos, em ambos os sexos, sem incluir as tentativas de suicídio, que são 20 vezes mais frequentes que o suicídio. Semelhantemente, dados epidemiológicos mundiais indicam que os comportamentos suicidas constituem um importante problema de saúde pública. A estimativa da Organização Mundial de Saúde (OMS) é que em 2020, aproximadamente 1,53 milhões de pessoas morrerão por suicídio no mundo. Implica, portanto, que um número 10 a 20 vezes maior de indivíduos tentará o suicídio. Isso representa um caso de morte por suicídio a cada 20 segundos (BERTOLOTE e FLEISCHMANN, (2002) apud MELEIROS, (2008). No Brasil o número de suicídios é de 4 indivíduos para uma população de 100 mil habitantes. A descrição do perfil epidemiológico do suicídio no Brasil vem crescendo significativamente nas últimas décadas. Em 2005, Mello-Santos et al. publicaram um estudo sobre as taxas nacionais de morte por suicídio entre os anos de 1980 e 2000. Os autores encontraram uma média de três a quatro suicídios / 100.000 habitantes no Brasil, sendo a incidência quatro vezes maior entre homens e com taxas crescentes nas faixas etárias mais jovens. O PERFIL DO SUICÍDIO EM SALVADOR/BA, ( 2000 A 2008) POPULAÇÃO: Para verificação da estatística dos suicídios, as peças de análises foram as guias de exames periciais pós-mortem, extraídas do banco de dados do Instituto Médico Legal Nina Rodrigues (IMLNR), quanto ao gênero e faixa etária e os meses com maiores índices, constituindo uma representatividade da cidade do Salvador no período de (2000 a 2008) A partir de um estudo no IMLNR, apurou-se a mortalidade por atos suicidas, um coeficiente médio de 3 a 4 casos/100.000 habitantes, semelhante à média brasileira que não passou de quatro óbitos para o mesmo índice. Nesta avaliação, a razão entre os coeficientes padronizados por Gênero indica uma proporção média de 3 casos entre homens e 1 caso para mulheres, sendo o mesmo também encontrado em outros estudos nacionais. 24 na faixa entre 16 e 48 anos. A proporção dos achados é na média de três a quatro vezes maior para os homens. Esses índices foram calculados considerando o número de suicídios e a quantidade de óbitos apresentados ao IMLNR no período estudado. Na análise estratificada por Faixa Etária, a mortalidade por suicídio apresentou índices progressivamente mais altos em todos os anos estudados e em ambos os sexos (Tabela2). Por outro lado, em números absolutos, a maioria das mortes continuou entre o sexo masculino, Tabela 1 - Mortalidade por suicídio conforme Gênero e nº de Óbitos Fonte: IMLNR/DPT/SSP/Salvador/Ba. Tabela 2 - Mortalidade por suicídio conforme Gênero Fonte: IMLNR/DPT/SSP/Salvador/BA. Tabela 3 – Mortalidade por suicídio conforme Faixa Etária e Gênero Fonte: IMLNR/DPT/SSP/Salvador/Ba 25 T E L M
Compartilhar