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Revista Científica do Departamento de Polícia Técnica da Bahia

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REVISTA CIENTÍFICA DO DEPARTAMENTO DE POLÍCIA TÉCNICA
DA SECRETARIA DA SEGURANÇA PÚBLICA DO ESTADO DA BAHIA
SALVADOR - BAHIA
PROVA MATERIAL – Revista Científica do Departamento de Polícia Técnica vinculada à Secretaria da 
Segurança Pública do Estado da Bahia. Av. Centenário, s/nº, Vale dos Barris, Salvador – Bahia, CEP.: 40.100-180. 
Telefone: (71) 3116-8792 / Fax: (71)3116-8787.
Esta revista é um periódico quadrimestral com distribuição gratuita. Os artigos assinados são de inteira 
responsabilidade dos autores. Tiragem desta edição de 1000 exemplares, 27p.
Jaques Wagner
Governador do Estado da Bahia 
Antônio César Fernandes Nunes 
Secretário da Segurança Pública 
Raul Coelho Barreto Filho 
Diretor Geral do Departamento de Polícia Técnica 
Mª de Lourdes Sacramento Andrade 
Chefe de Gabinete
Jorge Braga Barretto 
Corregedor do Departamento de Polícia Técnica 
Aroldo Ribeiro Schindler
Diretor do Instituto Médico Legal Nina Rodrigues 
Iracilda Mª de O. Santos 
Diretora do Instituto de Identificação Pedro Mello
Evandina Cândida Lago
Diretora do Instituto de Criminalística Afrânio Peixoto 
Eliana Araújo Azevedo 
Diretora do Laboratório Central de Polícia Técnica 
Claudemiro Pires Soares Filho 
Diretor do Interior do Departamento de Polícia Técnica 
Editora 
Talita Souza Brito 
Jornalista – DRT-BA nº 2734
Editoração
JM Gráfica e Editora 
Conselho Editorial 
Paulo Araújo Moreira de Souza (IMLNR)
Valdomir Celestino de Oliveira Filho (IMLNR)
Socorro de Mª de Araújo Alves Ferreira (IIPM)
Josemi Carvalho da Ressurreição (IIPM)
Cláudio Fernando Silva Macêdo (ICAP)
Antonio César Morant Braid (ICAP)
Jorge Borges dos Santos (LCPT)
Josenira Matos Andrade (LCPT)
Eunice Moura Vitória (DI)
Lídia Ramos de Araújo – Coordenação de Ensino 
e Pesquisa 
Colaboradores
Jorge Carvalho da Ressurreição
Jorge Braga Barretto
 Prova Material – v. 1 – nº 1 4 – Junho de 2010 – Salvador – Departamento de 
Polícia Técnica, 2010. 
 Quadrimestral 
 
 ISSN 1679-818X 
 
1. Criminalística – Bahia – Periódico 
 CDU 343.9 (813.8) (05)
EDITORIAL 
ERRO e FRAUDE CONTÁBEIS - Artigo Original 
Sérgio Pastori de Figueiredo
 - - 
Problemática do Chumbinho na Bahia - Exemplo de identificação de 
Aldicarbe em material de perícia - Relato de Caso - Maiana de A. Teixeira 
Solange P. Soares e Ricardo L. Cunha
Identificação Odonto-legal de Corpo Carbonizado - Relato de Caso
Marília Santos Viana Campos, Christiano Sampaio Queioroz e Nicole Prata Damascena
Perfil do suicídio em Salvador e a Incidência de genero e faixa etária
um estudo no Imlnr/Salvador/Ba - Comunicação - Telma de Cássia
Pinheiro Bispo Conceição
Normas para Publicação
Parâmetros para Análise perceptual de Imagens Relacionadas a Abuso sexual e 
Exploração de Crianças e Adolescentes Artigo de Revisão Fernando Luiz Pinheiro
de Amorim
Abordagem Multidisciplinar na identificação de Gênero - Relato de caso: 
Deficiência de 5 Alfa-Reductase Tipo 2 - Daysi Maria de Alcântara Jones,
Larissa de Amorim Cavalcanti, Thomaz Rodrigues Porto da Cruz 
e Raul Coelho Barreto Filho 
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Nascida na cidade de Atalaia, interior de novas tecnologias e 
Alagoas, no dia 2 de setembro de 1928, Maria atendesse a demanda de 
Thereza de Medeiros Pacheco viveu parte de uma Bahia em constante 
sua infância nos municípios de São Miguel dos crescimento. Assim, em 
Campos e Penedo. Alagoana de nascimento e parceria com outros 
baiana de coração, em 1948, Maria Thereza profissionais da época, 
veio para Salvador onde ingressou na idealizou, planejou e 
Universidade Federal da Bahia no Curso de construiu o atual Com-
Medicina. Especializada em ginecologia e plexo do Departamento 
obstetrícia trabalhou na Maternidade Nita de Pol íc ia Técnica 
Costa e no Hospital Santa Isabel. Em 1954 foi inaugurado em janeiro de 1979. Entre os anos de 1991 e 
convidada pelo Prof. Estácio de Lima para 1999 atuou como Diretora Geral do Departamento de 
atender crianças, mulheres e adolescentes Polícia Técnica. Além de sua atuação na Secretaria de 
vítimas de violência sexual no Instituto Médico Segurança Pública, Dra. Maria Thereza foi ainda 
Legal Nina Rodrigues. Depois de apresentar Professora da Universidade Federal da Bahia, da Escola 
tese no curso de Docência Livre da Bahiana de Medicina e Saúde Pública, da Universidade 
Universidade Federal da Bahia interessou-se Católica e da Academia de Polícia Militar. Autora de 
definitivamente pela Medicina Legal e se artigos na área da medicina legal e pesquisadora, a 
tornou a primeira mulher Médica Legista do professora dedicou toda sua vida ao desenvolvimento da 
País. medicina legal no País. 
Assumiu a direção do IMLNR entre os anos de 
1972 e 1987. No meio de sua gestão iniciou os O Departamento de Polícia Técnica, em nome da 
trabalhos para a construção de um novo e Medicina Legal, agradece por toda contribuição dada a 
moderno complexo que comportassem as esta nobre ciência e dedicação a esta Instituição. 
MARIA THEREZA DE MEDEIROS PACHECO:
 UMA VIDA DEDICADA A MEDICINA LEGAL DA BAHIA 
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RESUMO
Este trabalho tem como objetivo estabelecer um 
paralelo entre as práticas do erro e da fraude 
contábeis ressaltando a importância dos controles 
internos e a atuação do perito contador. 
Inicialmente, apresentam-se os conceitos, as 
espécies, as características, causas e exemplos de 
erro e de fraude. Em seguida, descrevem-se os 
sistemas de controles internos administrativos – 
contábeis, o perfil dos fraudadores e a atuação do 
perito contador na detecção e no combate às fraudes 
contábeis. Por fim, apresenta-se sua relação com os 
controles internos. Dentro desse contexto, este 
trabalho foi desenvolvido tendo por base a leitura 
analítica e a interpretação da Norma Brasileira de 
Contabilidade (NBC), Resolução CFC nº 836/99, de 
22/02/99 e dos textos legais pertinentes ao tema, 
começando pelo Código Penal Brasileiro (CPB) e 
em seguida pelo Código de Processo Penal (CPP). 
Assim, o estudo permite concluir que, se nas 
entidades públicas ou privadas a prática de fraudes 
contábeis não pode ser evitada na sua plenitude, 
ainda assim pode ser controlada e bastante 
minimizada a partir da adoção de eficientes sistemas 
de controles internos, de um departamento de 
auditoria interna muito bem estruturado e da atuação 
eficiente do perito contador. 
ABSTRACT
This paper has the purpose of establishing a 
comparison between accounting error and fraud 
emphasizing the importance of internal control and 
the role of the accountant expert. To begin with, it 
presents concepts, types, characteristics, causes and 
examples of both error and fraud. After that, it 
describes the administrative and accounting internal 
control systems, the profile of fraudsters and the 
roles of the accountant expert in identifying and 
combating accounting frauds. Finally, it deals with 
the relationship between accounting expert and 
internal control. Within this concept, this paper was 
developed based on the analytic reading and 
interpretation of the Normas Brasileiras de 
Contabilidade (NBC), Resolution CFC nº 836/99, 
of 02/222/99 and Legaltexts pertaining to the 
subject, starting with the Código Penal Brasileiro 
(CPB) followed by the Código de Processo Penal 
(CPP). Therefore, the study allows the conclusion 
that, if the practice of fraudulent accounting within 
private or public entities cannot be totally avoided, it 
may nevertheless be controlled and reasonably 
minimized by adopting a well-structured auditing 
department, which should use an efficient control 
system and support of a competent accounting 
expert.
PALAVRAS-CHAVE: erro, fraude, crime, 
controles internos, fraudador, perito contador. 
KEY WORDS: error, fraud, crime, internal control, 
fraudster, accounting expert.
INTRODUÇÃO: Este trabalho tem como objetivo 
conceituar o erro e a fraude contábeis, mostrar suas 
causas, seus tipos, suas características e o perfil do 
fraudador, ressaltando os controles internos e o papel 
do perito contador. Neste compasso, o trabalho 
apresenta um paralelo entre estas espécies de 
incorreções com destaque para a fraude contábil. 
O erro é ato não intencional que leva a incorreções. 
No ambiente contábil, o erro é a inexatidão quando 
dos registros na escrituração contábil e na elaboração 
das Demonstrações Contábeis. São três as espécies 
de erros contábeis, duas as suas principais causas, 
com predominância da causa na pessoa física do 
executante, ressaltando que o Conselho Federal de 
Contabilidade prevê três formas de Retificação dos 
seus Lançamentos, a partir de certas exigências.
A fraude é dano intencional feito a alguém. No 
ambiente contábil, a fraude é a modificação 
intencional dos registros e das Demonstrações 
Contábeis. São várias as suas espécies e causas, 
predominando a causa na pessoa jurídica, pois 
mesmo possuindo funcionários com perfil de 
fraudador, difícil será a prática deste delito se a 
empresa dispuser de um bom sistema de controles 
internos. Controles Internos são um conjunto de 
medidas adotadas na empresa para salvaguardar seu 
patrimônio e que se forem eficazes reduzem a 
probabilidade de ocorrer distorções nas 
ERRO e FRAUDE CONTÁBEIS
Artigo Original 
Sérgio Pastori de Figueiredo
Perito Criminal Instituto de Criminalística Afrânio Peixoto - DPT/BA
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Demonstrações Contábeis devido a fraude ou a 
erro, apesar da existência do risco de que não 
funcionem a contento. 
Os fraudadores têm como perfil ser pessoas 
inteligentes, solícitas, bajuladoras, chantagistas 
emocionais, que exploram erros prévios.
Os peritos contadores no combate às fraudes 
contábeis e na sua prevenção, antes de tudo, 
devem conhecê-la bem, possuir conhecimentos 
contábeis acurados, funcionar como um policial 
investigador e ser um pesquisador do tema. 
Atuam na área cível e na área criminal, estão 
sujeitos às exigências de ordem legal, 
profissional, moral e ética contidas nas Normas 
Brasileiras de Contabilidade e nas legislações 
pertinentes. 
Os casos mais comuns de fraudes contábeis têm 
como causa e envolvem a pessoa jurídica 
fraudada, e estão tipificados no Código Penal 
como estelionato, duplicata simulada, 
apropriação indébita, falsidade documental e 
falsidade ideológica envolvendo empresa de 
fachada, empresa de intermediação, 
pagamento/ressarcimento e compras pessoais 
tendo como seus pilares a oportunidade, as 
pressões e a racionalidade. 
MATERIAL E MÉTODOS: A metodologia da 
pesquisa foi a comparativa através dos 
procedimentos da leitura analítica e da 
interpretação da bibliografia, das Normas 
Brasileiras de Contabilidade (NBC), 
Resoluções nº. 836/99, nº. 1.243/09 e nº. 
1.244/09 e dos textos legais pertinentes ao tema, 
começando pelo Código Penal Brasileiro e em 
seguida pelo Código de Processo Penal.
RESULTADOS: Os principais resultados 
alcançados com a pesquisa foram as 
peculiaridades, as causas, as espécies, as 
diferenças e as semelhanças do erro e da fraude 
em contabilidade; o perfil dos que praticam a 
fraude; a participação do perito contador e a 
eficiência dos controles internos na prevenção 
ao cometimento de fraudes contábeis. 
DISCUSSÃO
1. O ERRO CONTÁBIL
 O Erro é ato sem intenção que leva a resultados 
incorretos. De acordo com o Conselho Federal 
de Contabilidade (CFC) a NBC T 11, Resolução 
nº. 820/97, item 14.1.4, inciso 'a', o Erro 
Contábil é: o ato não-intencional resultante de 
omissão, desatenção ou má interpretação de 
fatos na elaboração de registros e das 
Demonstrações Contábeis. Os erros em 
contabilidade vêm sempre seguidos de falhas, 
ficando evidente a sua ocorrência, daí ser mais 
simples detectá-los devido à ignorância, ao 
desconhecimento por parte de quem o efetuou ou 
o desenvolveu.
Nos termos do item 3 da Resolução nº. 836/99, 
suas espécies são: (a) aritméticos; (b) aplicação 
incorreta das normas contábeis e (c) 
interpretação errada das variações patrimoniais.
 As causas da prática de erros contábeis podem 
estar na pessoa física do executante ou na pessoa 
jurídica da entidade. Dentre as atribuídas ao 
executante destacam-se: formação profissional 
insuficiente ou inexistente, negligência, 
desinteresse, imprudência, incompetência, 
inexperiência, inabilidade. Para as atribuídas à 
entidade na qual o executante efetua o erro, 
destacamos as ausências de: educação 
continuada, reconhecimento profissional, 
estímulos, incentivos. 
Da interpretação conjunta das espécies de erro 
contábil com as suas causas, percebe-se que as 
três espécies podem ter como causa a pessoa 
física do praticante e a aplicação incorreta das 
normas contábeis.
A Resolução nº. 596/85, prevê a ocorrência do 
erro contábil e a consequente Retificação dos 
respectivos Lançamentos. A Retificação é o 
processo técnico de correção de um registro 
contábil errado. Existem três formas de 
Retificação: (i) o Estorno é o lançamento inverso 
anulando o errado; (ii) a Transferência é a 
transposição para a conta adequada dos valores 
errados registrados como débito ou como crédito 
em conta inadequada e (iii) na Complementação, 
posteriormente complementa-se para mais ou 
para menos o valor anteriormente registrado.O 
Histórico da Retificação exige:[a] a sua 
motivação,[b] a data e [c] a localização do 
lançamento de origem. 
2. A FRAUDE CONTÁBIL
A origem latina do termo fraude é “fraus”, 
”fraudis”, significando dano feito a alguém, 
crime - fato típico, antijurídico e culpável pela lei 
penal - ou delito - fato que a lei declara punível.
A fraude é toda forma de lesão 
premeditada ao direito de terceiros, tramada por 
meio de artifícios e executada através de 
métodos e práticas desonestas. A fraude é sempre 
um erro, porém nem todo erro é uma fraude, 
então a fraude é um erro proposital para 
prejudicar alguém. 
No ambiente contábil, a fraude é 
conceituada como ato intencional de omissão 
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e/ou de manipulação de transações e de 
adulteração de documentos, de registros e/ou de 
Demonstrações Contábeis. Dentre as 
características da Fraude Contábil destacamos: 
(1) a falta de intenção anula a fraude, mas não 
elimina o erro; (2) é tanto mais perigosa quanto 
mais sofisticado for o modus operandi usado 
para praticá-la; (3) meio enganoso capaz de 
iludir a vigilância da vítima e permitir maior 
facilidade na subtração do bem material; (4) 
altera e/ou modifica dados, informações, 
palavras, números; (5) qualifica o furto por isso 
é delito desta espécie.
O Furto está previsto no artigo 155 do 
Código Penal que o define como, subtrair, para 
si ou para outrem, coisa alheia móvel e o Furto 
Qualificado no inciso II como sendo aquele com 
abuso de confiança, ou mediante fraude e no 
inciso IV como sendo mediante concurso de 
d u a s o u m a i s p e s s o a s . A s p e n a s , 
respectivamente são: reclusão, de um a quatro 
anos, e multa se o crime é de furto, e reclusão de 
dois a oito anos, e multa se o furto for 
qualificado.
Já a citada Resolução nº. 836/99, no 
item 2, caracteriza a fraude como: (a) 
manipulação, falsificação ou alteração deregistros ou documentos, de modo a modificar 
os registros de ativos, passivos e resultados; (b) 
apropriação indébita de ativos; (c) é supressão 
ou omissão de transações nos registros 
contábeis; (d) registro de transações sem 
comprovação; (e) aplicação de práticas 
contábeis indevidas.
As possíveis razões para o fraudador 
praticar as fraudes são: [1] perda de valores 
éticos, morais e sociais; [2] insuficiência nos 
controles internos; [3] impunidade; [4] a própria 
natureza humana; [5] pressões econômicas; [6] 
fruto de oportunidades; [7] perdas em jogos; [8] 
gastos com mulheres; [9] infortúnio; [10] 
concupiscência; [11] megalomania; [12] 
cleptomania.
Tanto o erro quanto a fraude contábeis 
não surgem do nada, ou seja, precisam de um 
ambiente propício e fecundo para a sua 
germinação e nascimento. Como causas 
comuns de suas práticas relacionamos: 
Estrutura Inadequada, Atuações Inadequadas, 
Pressões Internas, e Pressões Externas.
Dentre os principias tipos de fraudes 
contábeis destacamos o grupo das Falsidades e o 
grupo das Burlas.São exemplos de Falsidades: 
[1] Falsa Intitulação, conta com nomenclatura 
inadequada; [2] Falsa Avaliação, registro, para 
mais ou para menos, de quantum monetário 
falso; [3] Falsa Apuração, maquiagem de 
resultado contábil, quer pelo aumento dos gastos 
quer pela diminuição de receitas; [4] Falso 
Transporte, transcrição proposital de valor 
errado através da troca de números; [5] 
Lançamento Duplo, registro contábil repetido; 
[6] Lançamento Omisso, exclusão ou registro 
incompleto de fato contábil; [7] Lançamento 
Parcial, apenas parte do fato contábil é 
registrado. 
Os fraudadores usam a empresa fraudada como 
pano de fundo praticando uma das quatro 
maneiras de fraudar. [1] nas Empresas de 
Fachada os empregados desonestos utilizam 
uma empresa falsa para fornecer, de maneira 
fictícia, bens ou serviços e desviam os 
pagamentos para si; [2] nas Empresas de 
Intermediação utilizando uma empresa de 
fachada, o empregado do departamento de 
compras de uma empresa compra bens e serviços 
superfaturados para a empresa em que trabalha e 
os vende para a própria empresa através da 
empresa de fachada; [3] o Pagamento e 
Ressarcimento envolvem um empregado que 
propositalmente realiza um pagamento a maior a 
um legítimo fornecedor. Quando o fornecedor 
devolve para a empresa o valor pago a maior o 
empregado desvia o reembolso e [4] Compras 
Pessoais consistem na compra de produtos pelos 
empregados, faturando-os como sendo para a 
empresa em que trabalham.
3. OS SISTEMAS DE CONTROLES 
INTERNOS
Controles Internos são os planos e todos 
os métodos e medidas adotados de forma 
coordenada, com o objetivo de proteger o 
patrimônio e promover a eficiência operacional 
da empresa. Têm como finalidades verificar a 
exatidão e a fidelidade dos dados contábeis; 
desenvolver as eficiências nas operações e 
estimular que se siga e obedeça a política 
administrativa prescrita nos manuais internos. 
Para confiar-se nos controles internos, 
previamente são necessários o seu conhecimento 
e sua avaliação. Portanto, numa empresa que 
possua bons Sistemas de Controles Internos 
torna-se mais difícil a ocorrência de fraudes. 
A falta de controles internos ou sua 
deficiência estimula desfalques, dificulta sua 
constatação e representa mais da metade das 
causas do cometimento de fraudes contábeis. 
Portanto, para evitar sua prática, as entidades 
devem adotar medidas de controle, possuir bons 
Sistemas de Controles Internos, minimizar os 
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riscos de ocorrência de fraudes, possuir um 
manual de ética com direitos e deveres dos seus 
executivos e funcionários, disponibilizar um 
canal que assegure confidencialidade para a 
comunicação de eventuais fraudes e aplicar 
medidas disciplinares rígidas.
Bons controles internos indicam de 
forma mais rápida a necessidade da adoção de 
medidas preventivas e/ou corretivas, que visem 
a maximização dos lucros e a minimização de 
perdas decorrentes de ineficiências e/ou de 
desvios. A existência de controles internos 
eficazes reduz a probabilidade de distorções nas 
Demonstrações Contábeis devido a fraude/erro, 
todavia haverá sempre algum risco dos 
controles in ternos não funcionarem 
satisfatoriamente e como planejado. Ressalte-se 
ainda que quaisquer controles internos tornam-
se ineficazes no combate às fraudes contábeis 
que envolvam conluio entre empregados ou que 
seja cometida pela alta administração da 
entidade, pois certos níveis da administração 
podem burlar os sistemas de controles internos 
que previnam tais cometimentos de fraudes por 
parte de outros empregados de uma entidade. Na 
grande maioria dos casos a entidade fraudada 
não recupera o dinheiro subtraído.
Como as fraudes contábeis envolvem 
atos planejados para ocultá-las, o risco de sua 
não detecção é maior do que o de não detecção 
da prática do erro. Portanto, deve-se avaliar 
criticamente sua concepção e como estão 
funcionando, pois como a responsabilidade 
primária de prevenção e de identificação de 
fraudes e/ou de erros é da administração da 
entidade in casu, então a manutenção de um 
adequado sistema de controles internos não 
elimina o risco de suas ocorrências. 
As fraudes contábeis corporativas 
aumentam a cada ano e, consequentemente, 
cresce também o número de executivos que 
perdem seus cargos por envolvimento em tal 
delito, pois como na grande maioria dos casos, 
numa organização pública ou privada a fraude 
começa de cima para baixo e inicialmente é 
praticada por aquele que exerce a função mais 
humilde na empresa, então se deve avaliar a 
probabilidade do envolvimento da alta 
administração da entidade objeto da perícia 
contábil. E em havendo dúvidas, é de bom 
alvitre, que, antes de qualquer conclusão 
formal, se avalie mais aprimoradamente as 
circunstâncias do fato. E ainda, no mundo 
empresarial, as entidades que fraudam o fisco, 
seus clientes ou seus fornecedores, criam um 
ambiente estimulante para seus funcionários 
praticarem-na internamente e, daí, essas 
entidades não conseguem puni-los. 
Destacamos a seguir os principais pontos de um 
sistema de controles internos contábeis para uma 
entidade: [1] segregação de funções; [2] 
integração dos custos ao setor contábil; [3] 
emissão de documentos comprobatórios; [4] 
contagem rotativa dos estoques e seu inventário 
físico; [5] regularidade de escrituração; [6] 
organização das informações sobre os 
funcionários; [7] aprovação dos pagamentos e 
dupla assinatura nos cheques sempre nominais; 
[8] uma pessoa confere o trabalho da outra sem 
executá-lo; [9] valor baixo como limite para 
pagamentos em espécie. 
4. O PERFIL DOS FRAUDADORES
Geralmente os fraudadores são pessoas 
inteligentes, sem interesses aparentes, solícitos, 
eficientes, minuciosos, preservam-se de 
quaisquer suspeitas; estão sempre preocupados 
em justificar o que fazem; ocupam cargos pouco 
elevados; são funcionários de confiança, com 
algum tempo de “casa” e num cargo com 
autoridade; exploram erros prévios; utilizam as 
facilidades tecnológicas; estão familiarizados 
com os mecanismos da empresa; quase sempre, 
antes de praticar a fraude, experimentam-na 
para, paulatinamente implementarem-na; são 
bajuladores, supervenientes, chantagistas 
emocionais; nada criticam; externalizam 
gratidão exagerada; mostram-se competentes, 
ganham confiança e obtêm poder. 
5. O PERITO CONTADOR
Para detectar fraude contábil, assim 
como proteger a sociedade dela, este profissional 
deve conhecê-la bem, enfrentá-la aplicando 
critérios técnicos acurados, pois o leigo, o 
desprovido de conhecimentos contábeis 
pertinentes à matéria, não identificará os seus 
indícios, pois se ele não conhece como a 
praticam, tem sua capacidade reduzida para 
detectá-la ou encontrar os seus indícios. O 
conhecimento das espécies de fraudes contábeis, 
além de ser uma das culturas básicas da sua 
formação, é o caminho mais curto e seguro para a 
detecção dos seus indícios. 
Ressalte-seainda que na Perícia Contábil 
o estudo desta espécie de crime é condição 
essencial para a cultura deste expert, cuja função 
é a de um pesquisador de fraudes contábeis e não 
pode ser exercida com eficiência se não estiver 
submetida a uma metodologia analítica da 
possibilidade também de ocorrência de erros. 
Quando da realização dos seus trabalhos 
 
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periciais, ele não pode desconsiderar a hipótese 
da conivência ativa, aliada às prerrogativas 
previstas na NBC, PP01, Resolução nº. 
1.244/09, no Código de Processo Penal e no 
Código de Processo Civil.
Tanto na área cível como criminal este 
profissional deve possuir qualidades de ordem 
legal, profissional, ética e moral, deve 
desenvolver os seus trabalhos periciais 
contábeis sob a égide do zelo, do sigilo, da 
responsabilidade, da competência, da 
independência, da clareza, da exatidão e da 
diligência. Qualidades e exigências contidas nas 
NBC's, emanadas do CFC, e nas legislações 
pertinentes, além de estarem sujeitos às 
Responsabilidades Administrativa, Civil e 
Criminal. 
CONCLUSÃO 
Das diferenças entre a fraude e o erro 
destaca-se a intenção em praticar e a 
semelhança é que ambos os atos são erros. O 
erro por ser não intencional decorre da formação 
profissional insuficiente, da negligência, da 
incompetência do executante. A fraude por sua 
vez, como ato intencional com a finalidade de 
subtrair bens, visa lesar terceiros. 
O erro e a fraude contábeis têm como 
causas semelhantes tanto a pessoa física do 
executante quanto a pessoa jurídica lesada, 
todavia a causa pessoa física predomina na 
prática dos erros contábeis e aquela outra causa 
predomina na prática das fraudes contábeis. 
Estas últimas, no Código Penal, estão 
tipificadas como crime do tipo furto, como 
crime contra a fé pública, no rol daqueles contra 
o patrimônio e como apropriação indébita.
Mesmo que a entidade tenha em seus 
quadros funcionários cleptomaníacos, 
concupiscentes, megalomaníacos ou com perfil 
típico de fraudador, controles internos 
eficientes, aliados a uma auditoria interna 
independente e bem estruturada, não só 
previnem como evitam a prática de fraudes 
contábeis, pois tais controles, a exemplo da 
segregação de funções, da contagem rotativa 
dos estoques, da dupla assinatura em cheques 
nominais, de informações organizadas sobre 
seus empregados, buscam a confiabilidade dos 
seus registros contábeis, evitam uma empresa 
com estrutura inadequada e dificultam atuações 
indevidas da sua administração e a ação de 
pressões internas e externas. 
E ainda, para combater ou descobrir a 
prática de fraudes contábeis, necessário se faz a 
atuação de peritos contadores, cíveis ou 
 
criminais, habilitados, pesquisadores e 
competentes no tema fraudes contábeis e 
possuidores de qualidades de ordem legal, 
profissional, ética e moral.
Por conseguinte, a ciência contábil pode 
e deve ser usada para fins de detecção das 
fraudes contábeis, pois em tese, com o auxílio da 
tecnologia contábil, os seus indícios podem ser 
percebidos pelo perito contador cível ou 
criminal. 
REFERÊNCIAS
 4.1. CÓDIGO DE PROCESSO 
PENAL. Decreto - Lei nº. 3.689/41, de 03/10/41.
 4.2. CÓDIGO DE PROCESSO 
CIVIL. Lei nº. 5.869/73, de 11/01/73.
 4.3. CÓDIGO PENAL. Decreto - Lei 
nº. 2.848/40, de 07/12/40.
 4.4.CONSELHO FEDERAL DE 
CONTABILIDADE. Código de Ética 
Profissional do Contabilista – CEPC, Resolução 
CFC nº. 803/96, de 10/10/96.
______ Perícia Contábil, NBC TP01, 
Resolução CFC nº. 1.243/09, de 10/12/09.
______ Perito Contábil, NBC PP01, 
Resolução CFC nº. 1.244/09, de 10/12/09.
______ Fraude e Erro, IT 03, Resolução 
CFC nº. 836/99, de 22/02/99.
______ Retificação de Lançamentos, 
NBC T2. 4, Resolução CFC nº. 596/85, de 
14/06/85. 
_ _ _ _ _ _ N o r m a s d e A u d i t o r i a 
Independente das Demonstrações Contábeis, 
NBC T 11, Resolução CFC nº. 820/97, de 
17/12/97.
 4.5. D'ÁUREA, Francisco. Revisão e 
Perícia Contábil. 3. ed. São Paulo: Nacional, 
1962.
 4.6. DECRETO-LEI nº. 9.295/46, de 
27/05/46, artigo 25c.
 4.7. FIGUEIRÊDO, Sérgio Pastori de. 
Perícia x Auditoria. 1. ed. Salvador: Eduneb, 
2008. 
 4.8. MORAIS, Antônio Carlos & 
FRANÇA, José Antônio. Perícia Judicial e 
Extrajudicial. 1. ed.Brasília: Intertexto, 2000.
 4.9. SÁ, Antônio Lopes de. Perícia 
contábil. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2002. 
 ______ Fraudes Contábeis. 2. ed. São 
Paulo: Ediouro, 1982.
 4.10. O Barulho da Fraude. Disponível 
em: http:// em: em 12/10/2003.
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RESUMO
O número de requisições direcionadas para a 
Coordenação de Perícias em Audiovisuais, 
emanadas através da autoridade, concernentes à 
verificação de conteúdo e autenticidade das 
infrações penais relativas à pedofilia têm crescido de 
forma considerável. Na maior parte dos casos, o 
material submetido a análise consiste de milhares de 
registros de imagens e vídeos armazenados em 
mídia ótica e/ou aparelhos celulares. Para proceder 
aos exames de verificação de conteúdo mais preciso, 
faz-se necessária a utilização de uma metodologia 
que permita ao perito criminal identificar, dentre as 
cenas a serem analisadas, os atos de pedofilia 
criminalizados, bem como a faixa etária dos atores 
participantes. Este trabalho possui como objetivo 
apresentar esta metodologia.
ABSTRACT: The number of requests addressed 
to the Coordination of Audio-Visual Forensic 
Exams concerning to the examination of content and 
authenticity of law infringements related to 
pedophilia has grown considerably. In most of the 
cases, the material undergone analysis consists of 
thousands of recordings of images and videos stored 
on optical media and/or cell phones. In order to do 
verification examinations of more precise content, it 
is necessary the usage of a methodology which 
enables the forensic expert identify, among the 
scenes to be analyzed, the criminalized pedophilia 
acts, as well as, the age group of the participant 
actors. This paper aims to present this methodology.
Key words: sexual abuse of children and 
ado lescen t s ; Au then t i c i ty ve r i f i ca t ion ; 
methodology; perceptual analysis.
PALAVRAS CHAVE: Abuso sexual de crianças e 
adolescentes; Verificação de autenticidade; 
metodologia; Análise perceptual.
1. INTRODUÇÃO
A questão da violência contra as crianças e 
adolescentes tem sido uma preocupação em nível 
mundial, ocupando um dos oito temas principais da 
agenda de discussões do 12º Congresso das Nações 
Unidas sobre Prevenção ao Crime e Justiça Criminal, 
realizado em Salvador-Ba, no período de 12 a 19 de 
abril de 2010. Para combater o tipo de violência, 
representado pelo abuso e exploração de crianças e 
adolescentes, durante a Convenção sobre Proteção de 
Crianças Contra o abuso e exploração de criança foi 
definido um conjunto de protocolos a serem seguidos 
pelos estados membros da ONU, que, em linhas 
gerais, consiste: a) na criminalização do abuso, 
exploração e pornografia envolvendo crianças e 
adolescentes; b) medidas preventivas, incluindo 
educação de crianças vulneráveis a práticas de abuso 
e exploração sexual por meio de novas tecnologias; 
c) cooperação internacional através de programas de 
capacitação dos agentes da lei. 
A lei brasileira estabelece vários crimes para a 
punição de abuso sexual. Recentemente, foi 
sancionada a lei nº 11.829/2008 (elaborada pela CPI 
da Pedofilia), a qual modificou o Estatuto da Criança 
e do Adolescente, estabelecendo novos tipos de 
crimes e melhorando o combate à pornografia 
infantil na internet.
As perícias em registros de vídeo e imagens 
precisam utilizar como suporte de análise um 
conjunto de parâmetros para representar, com maior 
grau de precisão, as condutas tipificadas em lei. O 
modelo de análise perceptual apresentado a seguir 
consiste da utilização dos artigos da legislaçãobrasileira para selecionar as cenas cujas condutas são 
tipificadas em lei, bem como, também, da utilização 
dos critérios de Tanner, Bonjardim e Hegg, que 
servem para verificar a presença de crianças e 
adolescentes nestas cenas. r.”
2. O MATERIAL
A legislação brasileira que tipifica os atos de 
pedofilia constitui-se em importante referencial para 
selecionar dentre o material enviado para ser 
periciado, aqueles que são objeto da perícia: Código 
Penal; o Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA 
- Lei 11.829 -, de 13 de julho de 1990, e a Lei 11.829, 
de 25 de novembro de 2008, que modificou o ECA. 
Em relação ao Código Penal, os crimes de estupro 
(art. 213) e corrupção de menores (Art.218), quando 
praticados contra criança ou adolescente, têm a pena 
agravada (art. 61, II, h, do Código Penal). 
Parâmetros para Análise perceptual de Imagens Relacionadas a Abuso sexual e 
Exploração de Crianças e Adolescentes 
 
Fernando Luiz Pinheiro de Amorim
Perito Criminalístico
Bacharel em Matemática UFBA / Mestre em Redes de Computadores - UNIFACS
Artigo de Revisão
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Em relação ao ECA, o Estatuto tipifica os 
seguintes crimes:
a) Artigo 240 - A produção de qualquer 
tipo de pornografia envolvendo criança ou 
adolescente, bem como pune aqueles que 
agenciam, de qualquer forma, e, também, os que 
com esse contracenam;
b) Artigo – 241 - Vender ou expor à 
venda, por qualquer meio, inclusive da internet, 
registros de imagem com teor pornográfico ou 
cenas de sexo explícito envolvendo crianças ou 
adolescentes.
Por sua vez, o ECA alterado criou novos 
tipos de crimes no sentido de combater os atos 
criminalizados de pedofilia, definindo, 
inclusive, o significado da expressão “cena de 
sexo explícito e pornográfica”, que representa 
qualquer situação que envolva criança ou 
adolescente em atividades sexuais explícitas, 
reais ou simuladas, ou exibição dos órgãos 
genitais de criança ou adolescente, para fins 
primordialmente sexuais”:
a) Artigo 241 – A. Oferecer, trocar, 
disponibilizar, transmitir, distribuir, publicar ou 
divulgar por qualquer meio, inclusive por meio 
de sistema de informática ou telemático, 
fotografia, vídeo ou outro registro que contenha 
cena de sexo explícito ou pornográfica, 
envolvendo criança ou adolescente;
b) Artigo 241 – B. Adquirir, possuir ou 
armazenar, por qualquer meio, fotografia, vídeo 
ou outra forma de registro que contenha cena de 
sexo explícito ou pornográfica, envolvendo 
criança ou adolescente;
c) Artigo 241 – C. Simular a participação 
de criança ou adolescente em cena de sexo 
explícito ou pornográfica, por meio de 
adulteração, montagem ou modificação de 
fotografia, vídeo ou qualquer outra forma de 
representação visual;
d) Artigo 241 – D. Aliciar, assediar, 
instigar ou constranger, por qualquer meio de 
comunicação, criança, com o fim de com ela 
praticar ao libidinoso.
Assim como a legislação brasileira serve 
de importante fonte de consulta para selecionar 
as cenas de interesse pericial, os critérios de 
Tanner, Bonjardim e Hegg servem para verificar 
a presença de crianças ou adolescentes nas 
cenas pré-selecionadas. Tanner considera os 
estágios de desenvolvimento puberal masculino 
(genitália e pelos pubianos) e feminino (pelos 
pubianos e mamas) em estágios de I a V: 
(CADERNETA de Saúde do Adolescente – 
Meninos, 2009) e (CADERNETA de Saúde do 
Adolescente – Meninas, 2009), cujas figuras 
ilustrativas integram o item 2.0 dos documentos 
anexos a este laudo pericial, sob o título 
“Estágios de Tanner”. Por sua vez, Bonjardim e 
Hegg propuseram uma classificação para 
representar este desenvolvimento em fases pré-
púbere, púbere e pós-púbere. 
2.1 Composição dos critérios de Tanner, 
Bonjardim e Hegg
2.1.1 Sexo feminino: 
Evolução das mamas
M1 – Estágio Pré-púbere (menor que 8 anos)
Classificado como estágio I, apresenta 
mamas infantis, com elevação somente dos 
mamilos, formadas por uma aréola pequena e 
plana de cor rosada; 
Estágio púbere (8 a 15 anos)
a) M2 – Broto mamário ou areolar: 
surgimento do primeiro broto mamário, a aréola 
se eleva e forma com o mamilo um pequeno cone 
semelhante a um botão de uma flor. 
b) M3 – Mama cônica pré-adolescente: 
inicia-se o acúmulo de tecido adiposo debaixo da 
aréola tornando-se cada vez mais proeminente. 
O mamilo se agiganta e adota um aspecto 
coniforme. Observa-se maior aumento da mama 
e aréola, sem separação de seus contornos.
c) M4 – Mama adolescente: o tecido 
adiposo aumenta, observando-se a projeção da 
aréola e da papila, formando uma pequena 
elevação acima do nível da mama. A mama 
assume a forma de uma semi-esfera, em cuja 
saliência se destaca outra saliência formada pela 
aréola aumentada e pigmentada. 
Estágio Pós-Púbere (13 a 18 anos)
M5 – Maturidade das mamas: as mamas 
alcançam o aspecto adulto e são redondas de 
maior tamanho, a aréola se retrai em função do 
desaparecimento da junção entre a aréola e o 
contorno das mamas, sobressaindo-se deste 
contorno somente o mamilo.
Evolução dos pelos pubianos
Estágio Pré-púbere (menor que 9 anos)
P1 – Não há pelugem;
Estágio Púbere (9 a 15 anos) 
a) P2 – Presença de pelos longos, macios, 
ligeiramente pigmentados, distribuídos ao longo 
dos grandes lábios;
b) P3 – Os pelos tornam-se mais escuros 
e ásperos sobre o púbis;
c) P4 – O pêlo já está com características 
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adultas, mas cobre uma área consideravelmente 
menor que na maioria dos adultos. O pêlo não 
atinge a fase medial das coxas;
Estágio Pós-púbere (12 a 16,5 anos)
P5 – O pêlo já está distribuído, na mulher sob a 
forma de um triângulo invertido com base 
superior, cobrindo todo o púbis e virilha, e 
atinge a face medial das coxas. 
2.1.2 Sexo masculino
Desenvolvimento dos órgãos do genital externo 
(escroto e pênis):
· G1 - Fase Pré-púbere (menor que 9,5 
anos): considerada também como fase infantil, 
persiste desde o nascimento até o começo da 
puberdade; 
Fase púbere ( 9,5 a 16 anos)
a) G2 – Aumento do escroto e dos 
testículos, sem aumento do pênis;
b) G3 - O pênis aumenta, inicialmente 
em toda a sua extensão. Continua a haver 
crescimento do escroto;
c) G4 – Aumento do diâmetro do pênis e 
da glande, crescimento dos testículos e escroto, 
com escurecimento da pele deste último;
· G5 - Fase pós-púbere (12,5 a 17 anos): 
corresponde ao estágio V.
Os órgãos do genital externo assumem a 
forma adulta em tamanho e forma. 
Evolução dos pelos pubianos 
· P1 - Fase pré-púbere ou pré-
adolescência (menor que 11 anos): nesta fase, 
não existem pêlos púbicos verdadeiros; pode-se 
encontrar uma fina e macia penugem sobre o 
púbis, semelhantes à de outras partes do 
abdômen;
Fase púbere: (11 a 16 anos)
a) P2 (11-15,5 anos): presença de pêlos 
longos, finos e lisos e ligeiramente pigmentados 
na base do pênis; 
b) P3 (11,5-16 anos) – existência de 
pêlos mais escuros, espessos e encaracolados 
sobre o púbis. 
c) P4 (12-16, 5 anos) – presença de pelos 
escuros, espessos e encaracolados, cobrindo 
totalmente o púbis, sem atingir as raízes das 
coxas; 
Fase Pós-púbere: P5 (13-17 anos) - pelugem 
do tipo adulto, estendendo- até as raízes e face 
interna das coxas.
3. O MÉTODO
A metodologia empregada para realizar 
os exames periciais consiste da seguinte 
seqüência de procedimentos: 1) Identificação 
das características e identificações externas 
ap re sen tadas a t r avés dos me ios de 
armazenamento dos registros de imagens e 
vídeo; 2) Verificação quanto à estrutura, 
disposição, tipo e características dos registros de 
imagem e/ou vídeo armazenados; 3) 
Recuperação de registros apagados, mas ainda 
não sobrepostos, nos meios de armazenamentos 
possíveis de efetuar tal recuperação, a exemplo 
de: chipsde aparelhos celulares, cartão de 
memória da máquina fotográfica etc; 3) 
Transferência dos arquivos armazenados para o 
computador com a finalidade de preservar as 
informações originais e propiciar a utilização do 
instrumental de suporte das análises periciais; 4) 
Reprodução e seleção dos registros de vídeo e/ou 
de imagens para a realização das análises 
perceptuais; 5) Realização das análises 
perceptuais, dos arquivos selecionados, que 
consiste em verificar, através dos registros de 
imagens e/ou vídeo a participação de criança 
e/ou adolescente em cena de sexo explícito ou 
pornográfica, considerando-se criança a pessoa 
de até 12 (doze) anos de idade incompletos, e 
adolescente a pessoa de 12 (doze) anos 
completos a 18 (dezoito) anos incompletos, de 
acordo com os termos do art. 2º da Lei 8.069/90 ( 
Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA). 
4. CONCLUSÃO
A utilização da legislação e dos critérios 
de conduta dos atos de pedofilia tipificados em 
lei e dos critérios Tanner, Bonjardim e Hegg 
norteia as análises de verificação de conteúdo 
dos exames periciais; no entanto não esgotam 
todas as possibilidades. Os resultados 
decorrentes da investigação policial poderão 
ampliar o conjunto probatório, como, por 
exemplo, verificar através dos bancos de dados 
de imagens existentes na INTERPOL, se as 
imagens periciadas foram divulgadas através de 
outros países. 
 
Abordagem Multidisciplinar na identificação de Gênero 
Relato de caso: Deficiência de 5alfa-Reductase Tipo 2
Relato de Caso
Daysi Maria de Alcântara Jones (Perita Médica Legal- Departamento de Polícia Técnica)
Larissa de Amorim Cavalcanti (Acadêmica de Medicina - UFBA)
Raul Coelho Barreto Filho (Perito Médico Legal – Departamento de Polícia Técnica).
RESUMO
 É relatada a perícia de um caso de genitália 
ambígua (hipospádia pseudovaginal períneo 
escrotal), abordando as dificuldades para se 
estabelecer o diagnóstico. A pericianda inicialmente 
criada como menina, aos cinco anos dá sinais 
fenotípicos de masculinização e isso mobiliza os 
pais a procurarem a justiça para elucidação do seu 
gênero. O sexo genético foi identificado como sendo 
masculino (cromatina sexual negativa) e o sexo 
genotípico também masculino (presença de 
testículos). Após a confirmação de que se tratava de 
um caso de deficiência parcial da enzima 5 alfa - 
reductase 2 e de que a evolução da menor seria para 
uma masculinização progressiva, os pais 
concordaram com a mudança do sexo social. O sexo 
fenotítpico não foi tratado cirurgicamente e utilizou-
se terapia hormonal para atenuar a hispospádia. O 
sexo legal foi mudado para o masculino. A 
pericianda e sua família receberam apoio 
psicológico e a atenção de uma equipe 
multidisciplinar para aceitação da nova condição. 
Palavras-chaves: Determinação de gênero, 
hermafroditismo, antropologia legal.
INTRODUÇÃO
A determinação do sexo se constitui numa das 
tarefas mais desafiantes da antropologia forense. 
No morto, medidas osteométricas e índices auxiliam 
nesse mister. No vivo, essa tarefa é bem mais 
desafiadora porque transcende a necessidade de 
fazer a diferença biológica através da caracterização 
genética e anátomo – fisiológica do indivíduo 
(FRANÇA, 2008). Busca-se estudar os aspectos 
culturais e psicológicos que fazem a construção 
social do sexo e atribuições do sexo legal, ou seja, o 
gênero. Segundo Carloto (2001), “a construção dos 
gêneros se dá através da dinâmica das relações 
sociais” em que “os seres humanos só se constroem 
como tal em relação com os outros”. Reconhece-se a 
importância de tal definição no âmbito biológico por 
conta das diferentes atribuições e características 
físicas associadas com cada um dos gêneros 
sexuais. 
Nos jogos olímpicos de 1968, no México, 
começou-se a realizar exames para determinação de 
sexo, quando alguns dos competidores, que criados 
como sendo do gênero feminino, após testes, 
constatou-se tratar-se do sexo oposto, o que 
repercutia no seu desempenho durante as provas, já 
que possuíam maior força muscular que as atletas do 
genótipo feminino confirmadas laboratorialmente. 
Recentemente, nas Olimpíadas de Pequim, em 
2008, foram realizados exames físicos, dosagens 
hormonais e avaliação da cromatina sexual nas 
atletas suspeitas de possuírem alguma ambiguidade 
sexual. Isso criou uma grande polêmica, pois de fato 
a questão do gênero envolve aspectos outros, como 
a forma do indivíduo enxergar-se a si mesmo (sexo 
psíquico). 
No âmbito penal, até o ano 2009, antes da 
nova lei dos crimes contra a dignidade sexual, de nº 
12.015, publicada em 10 de agosto deste mesmo 
ano, o homem não era considerado também um 
sujeito passivo, havendo distinção na aplicação das 
penas entre os gêneros. Hoje, ainda permanecem 
leis de aplicação apenas a um deles, como a Lei 
Maria da Penha, que trata da violência à mulher.
À medida que o conhecimento científico 
avançou nas áreas de genética e endocrinologia, 
mais se percebeu o quanto se deve valorar 
determinadas diferenças sexuais, para que através 
de um diagnóstico correto, possa-se promover um 
melhor ajuste social da pessoa em estudo. Além do 
mais, pessoas com anomalias da genitália externa 
têm maior chance de sofrer morte súbita por 
desequilíbrio hidro-eletrolítico que aquelas com 
genitália normal, o que, com o conhecimento, pode 
ser evitado.
A determinação do gênero no indivíduo vivo 
encontra sua problemática nos casos em que há 
presença de anomalias de diferenciação gonadal, e o 
indivíduo pode ter um sexo genético diverso do 
fenotípico, e os pais detectando a anomalia logo 
13
após o nascimento, fazem a opção de criá-lo em 
um ou outro sexo (sexo social), a depender de 
qual sexo a genitália externa mais se aproxime, 
morfologicamente. Portanto, a elucidação 
diagnóstica do gênero na antropologia forense 
exige uma abordagem multidisciplinar que 
envolve o obstetra, o neonatologista, o 
geneticista, o endocrinologista, o cirurgião 
(urologista ou ginecologista), além de apoio 
psicológico a ser dispensado à família e ao 
paciente durante todo o processo investigativo e 
depois, quando definido o gênero que mais for 
adequado ao paciente, possa a autoridade 
jurídica estabelecer o sexo legal. 
Noções gerais sobre genitália ambígua
O processo de diferenciação sexual 
divide-se em dois momentos distintos: a 
determinação gonadal, que é a transformação da 
gônada bipotencial, indiferenciada, em 
testículo ou em ovário, e depois, a diferenciação 
sexual, que ocorre a partir da gônada 
diferenciada e que vai levar o indivíduo ao seu 
fenótipo final, incluindo ductos internos e 
genitália externa.
Existe uma tendência “intrínseca” das 
estruturas tanto gonadais, quanto dos ductos 
internos e da genitália externa, a seguirem um 
caminho para o sexo feminino. Assim, a 
diferenciação para o sexo masculino exige a 
atuação ativa de fatores envolvidos no processo 
de diferenciação sexual. Uma pequena região 
no cromossoma Y chamada SRY, determina o 
sexo masculino humano. A partir da 
diferenciação testicular, as células de Sertoli 
secretam o hormônio antimülleriano (AMH), 
cujo papel, nesse momento (8 a 12 semanas de 
vida intra-uterina), é promover apoptose das 
células dos ductos de Müller e evitar que se 
diferenciem a fímbrias, trompas de Fallópio, 
útero e terço proximal da vagina. Já as células de 
Leydig iniciam a produção de testosterona (T), 
responsável, através de ação parácrina, pelo 
desenvolvimento dos ductos de Wolff, que 
darão origem aos ductos deferentes, epidídimo, 
vesículas seminais e ductos ejaculatórios. A 
masculinização da genitália externa depende da 
conversão da T a diidrotestosterona (DHT), que 
ocorre nas células da genitália externa pela ação 
da enzima 5alfa-redutase 2.
As anomalias da diferenciação sexual 
podem ser classificadas em cinco categorias 
distintas, a saber: pseudo-hermafroditismo 
feminino, pseudo-hermafroditismo masculino, 
hermafroditismo verdadeiro, disgenesia 
gonadal e defeitos embriogenéticos não 
atribuíveisa gônadas ou hormônios ou a 
a l t e rações ca r io t íp icas . No pseudo-
hermafroditismo masculino (PHM), o cariótipo 
é 46,XX, desenvolvem-se testículos bilaterais, 
mas alguma ou alguns dos passos necessários 
para completar a diferenciação da genitália 
externa não ocorreram de forma adequada, 
originando ambigüidade. Entre as possíveis 
causas de PHM, encontra-se a deficiência de 
5alfa-redutase 2, em que há conversão 
insuficiente de T a DHT, levando a uma 
deficiência na diferenciação da genitália 
externa. A DHT é o hormônio que induz a 
virilização da genitália externa, formando o 
pênis, a uretra, a próstata e a bolsa escrotal 
durante a vida fetal e atua no desenvolvimento 
dos caracteres sexuais secundários durante a 
puberdade. 
Procede-se o relato de um caso de pseudo-
hermafroditismo masculino secundário a 
deficiência de 5alfa-redutase 2, com 
contribuições da endocrinologia, da genética, da 
ginecologia, da pediatria e da cirurgia.
RELATO DE CASO
L.S., apresentou desde o nascimento 
genitália externa ambígua mas foi reconhecida e 
criada pela sua família como sendo do gênero 
feminino. Aos cinco anos de idade foi trazida do 
interior, pelos genitores aflitos para entender 
porque a mesma se parecia cada vez mais com 
um menino. Exibia pele áspera, ressecada e 
hipertrofia muscular generalizada, além de 
aumento do phalus. Exame da genitália externa 
r e v e l o u h i p o s p á d i a p s e u d o v a g i n a l 
perineoescrotal (HPVPS). Segundo a 
classificação de Prader (1954), utilizada hoje 
para diversos casos de ambigüidade sexual, o 
grau de virilização da criança era o IV, em que há 
presença de um clitóris fálico com abertura 
urogenital em forma de fenda na base do falo, 
indicando virilização ocorrida com 12-13 
semanas de vida intra-uterina (VIU). 
O estudo citogenético revelou cromatina 
sexual negativa, tratando-se de um cariótipo 
46,XY. Dosagem de 17 OH e 17 KS (metabólitos 
adrenais), Sulfato de dehidroepiandrosterona, 
androstenediona, e 17 OH Progesterona se 
revelaram normais, excluindo a hipótese de uma 
disormonogênese supra-renal. Testosterona, 
estradiol, além de FSH e LH estavam 
discretamente elevados, o que excluiu um 
defeito de produção hormonal a nível testicular e 
hipofisário, respectivamente. Prolactina e DHT 
foram normais. Estudo radiológico revelou 
vagina em fundo cego, ausência de útero, e 
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massas inguinais (testículos). Suspeitou-se 
então de feminização testicular incompleta ou 
deficiência de 5alfa-reductase 2.
Procedeu-se o teste de estímulo com 
gonadotrofina coriônica humana na dose de 
1000U/d, via intramuscular, por cinco dias, 
dosando-se os hormônios androgênicos antes, 
durante e depois do estímulo. A tabela 1 mostra 
que os níveis de testosterona elevaram-se de 
2ng/dl para 157ng/dl, a relação T/DHT 
aumentou para 22, entretanto a DHT 
praticamente não se alterou. Considera-se como 
normal para a relação T/DHT, após o estímulo 
com HCG, um valor de 12 +/- 3 ng/dl. Uma 
relação superior a 35-40 ng/dl firma o 
diagnóstico de deficiência de 5alfa-reductase 2. 
No presente caso, considera-se uma deficiência 
parcial da enzima de conversão a DHT.
Este caso evidencia as dificuldades no 
diagnóstico diferencial entre as formas de 
pseudo-hermafroditismo masculino, o qual 
deve ser preciso, posto que a evolução 
fenotípica das suas formas é bem diferente: 
enquanto a deficiência da 5 alfa-reductase 
evolui, durante a puberdade, para o sexo 
masculino com masculinização bastante 
exacerbada, as outras formas evoluem para o 
sexo feminino.
Reuniões com as mais diversas 
especialidades (ginecologista, pediatra, 
endocrinologista, geneticista, urologista, perito 
médico legal) foram feitas para adotar 
procedimentos médicos e padronizá-los para 
outros casos que venham a ocorrer no serviço. 
Firmado o diagnóstico, passada a informação de 
que o menor em estudo teria cada vez mais 
características físicas masculinas, os pais do 
mesmo, o próprio paciente e toda a equipe 
concordaram que se devia deixar evoluir esses 
caracteres sexuais secundários, e estimular 
através de uso de hormônios o desenvolvimento 
de outros caracteres que possivelmente estariam 
atrofiados. A ausência de próstata e vesículas 
seminais o tornariam infértil, mas se 
prognostica uma vida sexual normal.
O sexo legal foi mudado para o 
masculino, foi administrada testosterona, 
corrigindo progressivamente a hipospádia, e o 
uso de DHT em creme foi utilizado para 
desenvolver o pênis. Um suporte psicológico foi 
dado durante todo o processo investigativo, ao 
menor e à seus pais, para aceitação da nova 
condição. Solicitado encaminhamento jurídico 
para reconhecimento do novo sexo legal do 
periciando.
CONCLUSÃO
Os autores chamam a atenção de que todo 
o conhecimento médico pode e deve ser 
colocado em auxílio à demanda da justiça e nesse 
particular, várias especialidades médicas 
necessitam dar suporte ao perito médico legal 
que se vê desafiado a tão complexa investigação, 
para determinação do gênero de uma pessoa.
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FIGURA 2
Aspecto da genitália externa de menor (5 anos). 
Após testes genéticos e hormonais, constatou-se 
tratar-se de periciando de sexo genético 
(cromatina negativa) e genotípico masculino ( 
testículos palpáveis em grandes lábios - bolsas 
escrotais).
9- ________. Lei n.º 113/2009 de 17 de 
setembro, que estabelece medidas de proteção 
de menores, em cumprimento do artigo 5.º da 
Convenção do Conselho da Europa contra a 
Exploração Sexual e o Abuso Sexualde 
Crianças, e procede à segunda alteração à Lei n.º 
57/98, de 18 de Agosto. Brasília: Assembléia da 
República, 2009. Disponível em URL: 
http://www.dre.pt/pdf1s/2009/09/18100/06620
06621.pdf Acessado em: 02/03/10, às 
14hs50min.
FIGURA 1
Exame de imagem de menor com genitália 
ambígua revela ausência de útero, ovários e 
vagina em fundo cego
TABELA 1
Teste de estímulo com gonadotrofina coriônica 
humana mostrando resposta exacerbada da T e 
resposta parcial da DHT.
Legenda: T- Testosterona, DHT - Dihidrotestosterona, ∆ 4 –Androstenediona, DHEA- Dehidroepiandrosterona,
17 OHP – 17 Hidroxi progesterona, E2- Estradiol.
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 2
INTRODUÇÃO
O Aldicarbe é um inseticida, nematicida e 
acaricida, pertencente ao grupo dos carbamatos, 
comumente utilizado na agricultura baiana 
especialmente no cultivo de batata, feijão, cana-de-
açúcar e banana. Esta substância, cuja molécula está 
apresenada na Ilustração 1, atua como inibidor 
reversível da enzima acetilcolinesterase e sua ação 
tóxica deve-se à depressão central provocada pelo 
aumento da acetilcolina na fenda sináptica o que se 
ref lete em efei tos agudos de paral is ia 
neuromuscular, excitabilidade e aumento da 
salivação são os sintomas mais frequentes em casos 
de intoxicação por este agente.
Ilustração 1 - Estrutura molecular do Aldicarbe.
Esta substância é utilizada na agricultura 
principalmente como inseticida sob a apresentação 
de TEMIK150®, que contém 15% do princípio 
ativo, na forma de grânulos e fracionado em grandes 
quantidades. A Agência Nacional de Vigilância 
Sanitária (ANVISA) classificada o Aldicarbe como 
substância de nível toxicológico 1, extremamente 
tóxico e apresenta toxicidade aguda expressa por 
DL50 de 0,9 mg.Kg-1, o que significa que apenas 
0,4g dos grânulos é suficiente para levar ao óbito um 
indivíduo de 70Kg. Seu uso clandestino, também na 
forma de pequenos grânulos de coloração cinza 
escuro, se dá pelo fracionamento em pequenas 
quantidades e comercialização em feiras livres e 
Problemática do Chumbinho na Bahia
Exemplo de identificação de Aldicarbe em material de perícia
Relato de Caso
Maiana de A. Teixeira (maiana.teixeira@gmail.com); 
Solange P. Soares; Ricardo L. Cunha.
Laboratório Central de Polícia Técnica, Departamento de Polícia Técnica, SSP-BA
comércio ambulante como rodenticida de forma 
imprópria, sob a denominação de “chumbinho”, 
conforme Ilustração 2. 
Ilustração 2 - Foto dos grânulos popularmente conhecidos por 
"chumbinho".
Nos últimos anos a Coordenação de Toxicologia 
Forense do Laboratório Central de Polícia Técnica 
da Bahia tem registrado um aumento do número de 
casos de perícias relacionadas a “chumbinho”. 
Conforme demonstrado no Gráfico 1, foram 134 
casos positivos para chumbinho em 2003 crescendo 
para 244 em 2008. Dentre os ingredientes ativos 
presentes no chumbinho encontram-se, além do 
Aldicarbe, outras substâncias como Carbofuran, 
Forato e Terbufós.
Gráfico 2 - Número de casos relacionados a chumbinho no período de 
2003 a 2008
17
18
produto de oxidação aldicarbe sulfóxido em 
material de uso hospitalar enviado para exame 
pericial conforme demonstrado na Ilustração 3, 
empregando extração líquido-líquido e 
Cromatografia Líquida de Alta Eficiência com 
Detector de Arranjo de Diodos (CLAE-DAD). 
Dessa forma, a avaliação da presença de 
aldicarbe em materiais relacionados a locais de 
crime se faz necessária dentro de um contexto de 
uso irregular e indiscriminado em tentativas de 
homicídios e suicídios, devido à facilidade do 
acesso da população a este tipo de produto.
Objetivo
Este trabalho teve por objetivo a 
identificação do carbamato aldicarbe e de um 
Durante o processo de extração dos analitos, 
buscou-se sempre utilizar a menor quantidade de 
amostra possível, uma vez que a quantidade de 
material disponível era muito pequena 
(aproximadamente 1,5mL). 
Metodologia
As amostras per ic iadas foram 
submetidas a tratamento prévio com reagentes 
conforme esquema apresentado na Ilustração 4. 
Ilustração 3 - Foto do material de uso hospilatar periciado. A: seringa de 20mL 
contendo líquido escuro. B: agulha revestida por capa plástica, C: seringa de 5 mL ; 
e D: equipo de acesso contendo líquido escuro.
 
500mL de amostra
 
100mL de HCl 1M
 
400mL diclorometano
 
“
 
“
 
”
 
”
 
Agitação por 1 min 
 
Centrifugação por 5min 
 
Injeção de 50mL
 
Transferência de 
 
200mL da fase orgânica
 
Secagem em N2 e ressuspensão 
com 100mL da fase móvel
 
CLAE -DAD 
 
Ilustração 4 - Esquema da metodologia utilizada no exame pericial.
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Os extratos foram injetados no 
Cromatógrafo Líquido de Alta Eficiência com 
Detecção por Arranjo de Diodos (CLAE-DAD) 
e os cromatogramas e os espectros UV (195-
380nm) foram comparados à biblioteca de 
espectros UVTOX-Class VP e aos materiais de 
referência. O aldicarbe sulfóxido foi preparado 
através de reação de oxidação do aldicarbe com 
peróxido de hidrogênio 30% em excesso e 
aquecimento de 84°C por 5min.
Resultados
As amostras analisadas apresentaram 
picos cromatográficos com tempos de retenção 
compatíveis com os materiais de referência de 
aldicarbe e aldicarbe sulfóxido injetados nas 
mesmas condições e apresentaram também 
tempos de retenção relativos compatíveis e 
espectros UV com similaridade >0,999 
comparando-os à biblioteca conforme 
Ilustrações 5 e 6, parâmetros que confirmam a 
presença destas substâncias nas amostars 
analisadas. 
Ilustração 5 - Cromatograma de uma das amostras analisadas 
através do CLAE-DAD.
Ilustração 6 - Espectro UV em três dimensões (3D) de uma das 
amostras analisadas.
Conclusões
O método analítico de identificação 
mostrou-se rápido, simples e sensível. A síntese 
do aldicarbe sulfóxido através da oxidação do 
aldicarbe foi primordial para a caracterização do 
mesmo. Intoxicações por agrotóxicos, em 
particular a intoxicação por formulações 
conhecidas como chumbinho, constituem-se 
num grave problema de saúde e segurança 
pública no Estado da Bahia, onde é constatado 
crescimento do número de óbitos relacionados a 
este material. Neste sentido são imperiosas ações 
de fiscalização e repressão por parte dos órgãos 
competentes, bem como utilização de técnicas 
analíticas eficientes, que utilizem a menor 
quantidade de amostra possível, para 
identificação e quantificação dos princípios 
ativos. 
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Identificação Odonto-legal de Corpo Carbonizado
Relato de Caso
Marília Santos Viana Campos¹
Christiano Sampaio Queioroz²
Nicole Prata Damascena³
RESUMO
Este artigo relata um caso de identificação de um 
corpo carbonizado, por meio do exame odonto-
legal.
PALAVRAS CHAVES: odontologia legal, 
identificação.
INTRODUÇÃO
Na Odontologia Legal ou Forense, os 
procedimentos periciais criminais mais efetuados 
incluem as lesões traumáticas que atingem o 
complexo maxilomandibular (agressões, acidentes 
de trânsito) e a identificação de cadáveres 
15,20 esqueletizados, putrefeitos ou carbonizados.
Fundamentados nos requisitos de unicidade, 
imutabilidade, classificabilidade e praticabilidade,os métodos mais utilizados para identificação são a 
papiloscopia, os exames antropológicos e 
radiológicos, as análises de DNA e o método 
odontológico. A escolha da técnica mais adequada 
dependerá da integridade do corpo ou da 
 1, 2, 20circunstância em que o indivíduo veio a óbito.
Para a determinação da identidade de 
cadáveres considerados “irreconhecíveis”, como 
carbonizados, esqueletizados ou em avançado 
estágio de decomposição, normalmente utiliza-se a 
3, 4, 5, 14, 16, 17técnica de identificação odontolegal. A 
padronização e a disponibilidade de prontuários 
odontológicos possibilita uma identificação precisa 
e econômica, podendo dispensar a realização de 
 3, 14, 20. outros exames e a entrevista com familiares
Suas limitações estão associadas à presença de 
características relevantes nos arcos dentários do 
cadáver e na documentação odontológica 
apresentada para confronto, que podem 
impossibilitar uma comparação e posterior 
7, 20identificação do indivíduo. A conclusão quanto 
ao estabelecimento da identidade e a obtenção da 
quantidade de pontos convergentes depende 
fundamentalmente da qualidade do material a ser 
16,18periciado em cada caso.
A considerável resistência dos dentes e dos 
materiais restauradores juntamente com suas 
mudanças morfológicas e particularidades são 
fatores que viabilizam a utilização do método 
odontológico nas identificações postmortem, 
principalmente nos corpos carbonizados e/ou 
6, 9, 10, 11, 14, 19 calcinados, putrefeitos e esqueletizados. 
A gravidade das lesões vai depender do tempo de 
ação, da quantidade do agente atuante, da extensão 
12do agravo e da profundidade das lesões. Estes 
aspectos são imprescindíveis à determinação da 
causa da morte e, consequentemente, da maneira da 
morte (acidental, suicídio ou homicídio), além da 
15possibilidade de dissimulação de um homicídio.
Encontra-se na literatura vários relatos de laudos 
periciais identificados em razão da existência do 
prontuário odontológico, evidenciando a 
 3, 4, 8, 9, relevância clínica e pericial deste documento.
13, 14, 15, 16, 17 O papel do cirurgião-dentista, além de 
ter relevância social, serve de auxílio à Justiça ao 
disponibilizar a documentação odontológica de 
seus pacientes à perícia, que pode ser fundamental 
para a comparação e posterior identificação da 
13,14,16 vítima. Assim, o presente trabalho tem o 
objetivo de relatar um caso pericial de identificação 
positiva de um corpo carbonizado através da 
avaliação clínica odontológica.
RELATO DO CASO
Corpo carbonizado, gênero masculino, de 
1- Coordenadora do Setor de Odontologia Legal do Instituto Médico Legal Nina Rodrigues
Especialista em Odontologia Legal (Universidade Estadual de Feira de Santana – UEFS)
2- Perito Odonto Legal do Instituto Médico Legal Nina Rodrigues 
Mestre em Odontologia (Universidade Federal da Bahia – UFBA)
Especialista em Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofaciais (Hospital Santo Antônio – BA)
3- Aluna do Curso de Especialização em Odontologia Legal da Escola Bahiana de Medicina e
Saúde Pública (EBMSP)
20
Figura 2: parte do prontuário odontológico.
O confronto, neste caso, considerou a 
presença e o tipo de restaurações, suas 
localizações nas cinco faces da superfície 
dentária, a higidez ou não (cárie, fraturas) dos 
dentes, bem como as ausências destes. Chamou 
a atenção a presença de uma prótese parcial 
removível, confeccionada em acrílico incolor, 
reabilitando o incisivo central superior direito 
ausente, a qual, não fosse um exame-
odontolegal preciso, passaria despercebida, 
impossibilitando a afirmação da identificação 
(figuras 3 e 4).
Figura 3: prótese parcial removível em acrílico incolor.
identidade ignorada, encontrado na região 
metropolitana de Salvador, deu entrada no 
Instituto Médico Legal Nina Rodrigues, em 
outubro de 2007 (figura 1). Devido à perda dos 
membros superiores e inferiores, a coleta das 
impressões digi tais para permit ir a 
identificação por meio da dactiloscopia não foi 
possível, tendo sido coletado material para 
análise de DNA e executado o exame odonto-
legal dos arcos dentários, como possibilidades 
de futura identificação.
Figura 1: aspecto buco-facial do cadáver.
Após algumas horas, compareceram ao 
referido Instituto, familiares reclamando o 
desaparecimento de um ente. Em entrevista a 
estes, verificou-se que o corpo carbonizado 
poderia ser do reclamado. Questionados a 
respeito de assistência odontológica do ente, os 
familiares relataram que o mesmo havia sido 
submetido a avaliação dental recente. Com esta 
informação, os peritos odonto-legais 
solicitaram à família, toda a documentação 
odontológica do indivíduo desaparecido, para 
que se procedesse o confronto com os achados 
no exame odonto-legal.
De posse da documentação, que consistiu 
em um prontuário bastante detalhado das 
condições bucais do suposto, o exame 
comparativo foi realizado, tendo sido 
encontrados somente pontos coincidentes e 
nenhum ponto divergente ou discrepante, o que 
permitiu concluir pela identificação positiva do 
corpo carbonizado em questão, após somente 
algumas horas de estudo (figura 2).
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Figura 4: aspecto buco-facial do cadáver (sem a prótese).
DISCUSSÃO
No cadáver carbonizado, é frequente um 
elevado grau de destruição das estruturas 
faciais impedindo o reconhecimento 
fisionômico, assim como fica impossibilitada a 
coleta de impressões digitais pela destruição da 
pele dos dedos12. Foi o que se observou no 
caso relatado, em que houve queimadura por 
chamuscamento, caracterizada pelo contato 
direto da chama com o corpo, produzindo lesão 
progressiva da pele até a carbonização.
O método odonto- legal para a 
identificação de corpos carbonizados é bastante 
útil, devido à grande resistência ao calor, tanto 
dos elementos dentários como dos materiais 
utilizados na dentística restauradora12. Estudo 
sobre materiais dentários e altas temperaturas, 
mostrou que o amálgama e o óxido de zinco 
mantêm a sua integridade até 1.200ºC11. Os 
dentes e as restaurações em amálgama, 
constatados no cadáver em questão, 
mostraram-se íntegros, bem como a prótese 
parcial removível em acrílico, em contraste 
com o quadro desfigurado geral do corpo, 
inclusive de suas partes ósseas.
O exame dos arcos dentários na 
identificação humana representa um meio 
prático, rápido, seguro e econômico12. Para 
realizar a identificação positiva deste corpo, 
não foram necessárias mais do que três horas, 
após o recebimento da documentação 
odontológica do suposto. Além disso, 
dispensou-se o método pelo DNA, de custo 
infinitamente mais elevado do que o método 
odonto-legal.
Um prontuário odontológico bem 
elaborado é, portanto, ferramenta fundamental 
neste processo13. O detalhamento encontrado 
no prontuário apresentado aos peritos odonto-
legais que periciaram o corpo estudado foi fator 
primordial à sua identificação.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A identificação de corpos carbonizados 
consiste num dos grandes desafios periciais nos 
institutos médico legais.
A dactiloscopia mostra-se como um 
método bastante eficiente, quando se consegue 
colher as impressões digitais. Caso contrário, a 
iden t i f i cação por es te método f i ca 
impossibilitada, partindo-se, então, para o 
método odonto-legal ou para a análise de DNA.
Dentre estes dois meios de identificação, o 
odontológico permite identificar de forma mais 
rápida e barata, desde que se tenha uma 
documentação dental ante mortem suficiente e 
bem elaborada pelo cirurgião dentista assistente.
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Perfil do Suicídio em Salvador e a Incidência de Gênero e Faixa Etária
Um Estudo no Imlnr/Salvador/Ba
Comunicação
Telma de Cássia Pinheiro Bispo Conceição
 Instituto Médico Legal Nina Rodrigues
RESUMO
Este trabalho tem como objetivo traçar o perfil 
do suicídio na cidade do Salvador, quanto a 
incidência de Gênero e Faixa Etária: estudo 
realizado IMLNR/Salvador/Ba. Através de análise 
documental post mortem, quantificou-se o número 
de mortes no período de nove anos de estudo, 
identificou-se o Gênero e a Faixa Etária das vítimas. 
A análise traz o coeficiente médio de mortalidade, o 
percentual correspondente ao Gênero, a Faixa 
Etária e os Meses com maiores incidências de 
mortalidades (no período de 2000 a 2008).
Palavras–Chave: Suicídio; Indivíduo; Gênero-
Faixa Etária
INTRODUÇÃO
A sociedade contemporânea tem cada vez 
mais dificuldade em lidar com o fenômeno suicídio 
e mesmo diante de uma extensa vulnerabilidade 
social, os seres humanos que presenciam o 
desamparo e a precariedade da condição humana 
continuam em dificuldades de pensar no assunto e 
nos aspectos contemporâneos. Em face a esta 
situação, ter-se tornado uma sociedade de risco. 
Bauman (2005), afirma que o suicídio ainda é um 
”segredinho sujo” difícil para pensar, para falar, até 
mesmo para se estudar, eis a razão de ainda ser um 
assunto isolado. Hoje, embora os humanos tenham 
adquirido conhecimentos, ainda continua 
inexplicável o fenômeno suicídio. Os achados são 
de fundamental importância por tratar-se de um 
problema de saúde pública.
O SUICÍDIO NO MUNDO E NO BRASIL
Dados da Organização Mundial de Saúde 
(OMS) referem que cerca de 815.000 pessoas se 
mataram no ano de 2000 em todo o mundo, uma taxa 
de 14,5 para cada 100.000 habitantes, significando 
um suicídio a cada 40 segundos. Nos últimos 40 
anos as taxas de suicídio aumentaram em 60% no 
mundo todo. Os dados da OMS referem ainda que o 
suicídio é a 3ª causa de morte entre as idades de 15-
44 anos, em ambos os sexos, sem incluir as 
tentativas de suicídio, que são 20 vezes mais 
frequentes que o suicídio.
Semelhantemente, dados epidemiológicos 
mundiais indicam que os comportamentos suicidas 
constituem um importante problema de saúde 
pública. A estimativa da Organização Mundial de 
Saúde (OMS) é que em 2020, aproximadamente 
1,53 milhões de pessoas morrerão por suicídio no 
mundo. Implica, portanto, que um número 10 a 20 
vezes maior de indivíduos tentará o suicídio. Isso 
representa um caso de morte por suicídio a cada 20 
segundos (BERTOLOTE e FLEISCHMANN, 
(2002) apud MELEIROS, (2008). No Brasil o 
número de suicídios é de 4 indivíduos para uma 
população de 100 mil habitantes. 
A descrição do perfil epidemiológico do suicídio no 
Brasil vem crescendo significativamente nas 
últimas décadas. Em 2005, Mello-Santos et al. 
publicaram um estudo sobre as taxas nacionais de 
morte por suicídio entre os anos de 1980 e 2000. Os 
autores encontraram uma média de três a quatro 
suicídios / 100.000 habitantes no Brasil, sendo a 
incidência quatro vezes maior entre homens e com 
taxas crescentes nas faixas etárias mais jovens. 
O PERFIL DO SUICÍDIO EM SALVADOR/BA, 
( 2000 A 2008)
POPULAÇÃO: Para verificação da estatística dos 
suicídios, as peças de análises foram as guias de 
exames periciais pós-mortem, extraídas do banco de 
dados do Instituto Médico Legal Nina Rodrigues 
(IMLNR), quanto ao gênero e faixa etária e os meses 
com maiores índices, constituindo uma 
representatividade da cidade do Salvador no 
período de (2000 a 2008)
A partir de um estudo no IMLNR, apurou-se a 
mortalidade por atos suicidas, um coeficiente médio 
de 3 a 4 casos/100.000 habitantes, semelhante à 
média brasileira que não passou de quatro óbitos 
para o mesmo índice. Nesta avaliação, a razão entre 
os coeficientes padronizados por Gênero indica 
uma proporção média de 3 casos entre homens e 1 
caso para mulheres, sendo o mesmo também 
encontrado em outros estudos nacionais.
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na faixa entre 16 e 48 anos. A proporção dos 
achados é na média de três a quatro vezes maior 
para os homens. Esses índices foram calculados 
considerando o número de suicídios e a 
quantidade de óbitos apresentados ao IMLNR 
no período estudado.
Na análise estratificada por Faixa Etária, a 
mortalidade por suicídio apresentou índices 
progressivamente mais altos em todos os anos 
estudados e em ambos os sexos (Tabela2). Por 
outro lado, em números absolutos, a maioria 
das mortes continuou entre o sexo masculino, 
Tabela 1 - Mortalidade por suicídio conforme Gênero e nº de Óbitos 
Fonte: IMLNR/DPT/SSP/Salvador/Ba.
Tabela 2 - Mortalidade por suicídio conforme Gênero
Fonte: IMLNR/DPT/SSP/Salvador/BA.
Tabela 3 – Mortalidade por suicídio conforme Faixa Etária e Gênero
Fonte: IMLNR/DPT/SSP/Salvador/Ba
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