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Fraturas expostas Fraturas expostas são aquelas cujo hematoma da fratura ou o osso se comunicam com o meio externo, podendo ser de fácil diagnóstico ou uma fratura não tão evidente, na qual a avaliação precisa ser mais cuidadosa. Nesses casos há perda do hematoma fraturário, contaminação bacteriana sempre presente e perda óssea em potencial. Além disso, ocorre lesão de partes moles, que é a grande chave do tratamento dessas fraturas, pois as consequências dessas lesões incluem diminuição da resistência à infecção e do potencial de consolidação. O prognóstico da fratura exposta será proporcional ao nível de energia que causou o trauma e sua evolução será determinada pela extensão dos tecidos desvitalizados. Etiologia Os ambientes clássicos para a ocorrência dessas fraturas são o trânsito, com traumas de alta energia e alta velocidade (as fraturas expostas são mais comuns no atropelamento, pelo contato com o para choque, na queda ou colisão de motocicleta e nas colisões de automóveis), os acidentes de trabalho, que acometem mais as mãos, principalmente as pontas dos dedos, e os esportes, principalmente os de maior velocidade, como skate e paraquedismo. Quanto aos mecanismos de trauma, no trauma direto é mais frequente pela maior energia e maior lesão de partes moles, mas pode ocorrer também no trauma indireto, como rotações nos esportes*. Patologia Nos traumas de alta energia, ocorre lesão óssea, de partes moles e de estruturas vitais, como vasos e nervos, exigindo uma investigação clínica mais minuciosa, visto que as lesões associadas podem ser mais graves do que a própria lesão óssea. Fraturas expostas associadas à lesão arterial podem levar à morte por hemorragia e a fratura exposta associada à lesão do nervo tibial muitas vezes é indicação de amputação, pois mesmo após a consolidação da lesão óssea não haverá função útil do membro sem a inervação plantar. Toda fratura exposta deve ser considerada contaminada. É considerada contaminação, ou seja, presença de bactérias, após 6h de lesão. Após esse período, considera-se a fratura como infectada, ou seja, há proliferação e invasão bacteriana nos tecidos. Classificação A classificação reflete a quantidade de energia transmitida e, consequentemente, o prognóstico. Só é possível realizar a classificação da fratura após o completo desbridamento. A classificação mais utilizada, de Gustillo e Anderson (1976), auxilia a estimar o risco de infecção e leva em consideração o tamanho da ferida, o nível de contaminação, a extensão das lesões de partes moles e a configuração da fratura. Quando a lesão é provocada por projétil de arma de fogo ou ocorreu em ambiente rural, a classificação sempre é do grau III. Grau I Ferida < 1 cm Relativamente limpa Mínimas lesões de partes moles Lesões de dentro para fora Fraturas de baixa energia Fraturas de traço simples Cefalosporina de 1ª geração (cefazolina) Grau II Ferida de 1 a 10 cm Moderada contaminação Moderada lesão de partes moles Grau III Ferida > 10 cm Contaminação severa Lesões extensas de partes moles Trauma de alta energia Fraturas multifragmentares (cominuitivas) ou segmentares Associação de cefalosporina de 1ª geração com aminoglicosídeo ou cefalosporina de 3ª geração. Em ambiente rural, adicionar penicilina. Grau IIIA Cobertura cutânea adequada Fraturas segmentares Perda óssea Fraturas negligenciadas > 6h Grau IIIB Cobertura cutânea inadequada Fratura em solo contaminado Grau IIIC Lesão vascular Lesão nervosa Amputação traumática Diagnóstico 30% dos pacientes com fratura são politraumatizados, tornando necessária a procura por lesões associadas que coloquem em risco a vida do paciente. Deve-se avaliar cuidadosamente o status neurovascular. A realização de radiografia deve ser feita em pelo menos duas incidências, incluindo articulações proximais e distais, mas apenas após a estabilização clínica do paciente. Pacientes instáveis ou com risco de morte devem ter o exame de imagem realizado no centro cirúrgico. O diagnóstico pode ser difícil de ser realizado e é clínico. Avaliar comunicação da fratura com o meio externo, presença de ferida cutânea e sangramento com gotículas de gordura, que geralmente não coagula. 60-70% das fraturas apresentam crescimento bacteriano, por isso as culturas de rotina não são mais realizadas, pois as positivas não são preditivas de infecção. A fratura exposta pode ser oculta, como a de pelve, portanto é necessária a realização de toque retal e vaginal. Tratamento Medidas para preservação da vida: diagnosticar e tratar lesões que coloquem a vida do paciente em risco e diagnosticar e tratar as emergências ortopédicas. O primeiro passo é a realização da sequência do ATLS, já que grande parte dos pacientes é politraumatizado. Toda fratura exposta é uma urgência. Deve-se avaliar lesões associadas, realizar desbridamento e irrigação adequados, estabilizar a fratura, antibioticoterapia adequada, profilaxia de tétano, cobertura cutânea, imobilização e enxerto ósseo. A monitorização das fraturas deve ser realizada em dias a semanas e a reabilitação e o tratamento das complicações são feitos de semanas a meses. • Primeiro atendimento Controlar sangramento com compressão local e realizar imobilização, que evita lesões de partes moles e diminui a dor. Avaliar lesões associadas, remover sujeiras grosseiras, realizar lavagem da ferida se possível, curativo estéril, imobilização provisória, profilaxia de tétano, antibiótico (em até 3h) e avaliação de pulsos periféricos/perfusão. Se possível, documentar com fotos, para evitar que o curativo tenha que ser retirado para avaliação de diferentes especialistas. Para fraturas dos tipos I e II utiliza-se cefalosporina de primeira geração: 2g de dose de ataque e 1g de 8/8h (como a lesão ocorreu de dentro pra fora, é mais comum que a contaminação seja por bactérias gram positivas já presentes na pele). Já para as fraturas do tipo III, deve-se adicionar aminoglicosídeos (a adição ocorre, pois nesses casos geralmente ocorre lesão das partes moles antes da lesão óssea, pelo alto grau de energia do trauma). A antibioticoterapia deve ser realizada por 48-72h em casos ideias e até 2 semanas caso o tratamento para a fratura tenha sido demorado (realização de cirurgia após 4-6h). A sala de trauma não é ideal para a abordagem da fratura exposta, por ser um local contaminado. Após a realização do curativo estéril, para proteger o tecido ósseo, é necessário realizar a imagem radiológica e encaminhar para o centro cirúrgico. • Centro cirúrgico No centro cirúrgico, após anestesia, assepsia e anti- sepsia, é possível explorar a ferida. A limpeza mecânica cirúrgica deve ocorrer, de preferência, nas primeiras seis horas. A lavagem e o desbridamento devem ser exaustivos. Inicia-se com escovação para remoção da sujeira e muita irrigação. O objetivo da limpeza é a remoção mecânica das bactérias. O desbridamento deve ser agressivo. Pode ser difícil identificar quais músculos estão viáveis e quais não estão. Para isso, utiliza-se os 4C: coloração, contratilidade, consistência e circulação. Após realizada a lavagem, deve-se excisar a borda da ferida. Posteriormente, amplia-se a extensão da ferida, antecipando incisões para estabilização óssea e reconstrução de partes moles. Deve-se evitar incisões que possam comprometer a viabilidade da pele. A irrigação melhora a visibilidade, retira tecido necrosado e sujeira e redução população bacteriana, sendo o ato mais importante no tratamento. A estabilização da fratura reduz o risco de infecção. Para isso, são mais utilizados fixadores externos, hastes intramedulares e placas. Os fixadores externos tem uma técnica simples, que permitem um fácil manejo de partes moles, minimizam traumas futuros, garantem estabilidadesuficiente para permitir reabilitação precoce e restauram a anatomia de forma mais imediata. Hastes intramedulares geralmente são utilizadas até fraturas IIIA. Complicações As complicações imediatas incluem infecção superficial ou profunda, choque hipovolêmico, síndrome compartimental, embolia gordurosa e síndrome da angústia respiratória. As tardias são retardo de consolidação, pseudoartrose, consolidação viciosa, falência de material de síntese e infecção. Pode haver uma associação dessas complicações.
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