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@literidica George Orwell escreveu em sua magnitude intelectual a obra a revolução dos bichos e nela pode-se notar vestígios da teoria marxista, uma vez que a obra permite a reflexão de que o ser humano faz uso dos animais para obter produções, justamente por eles não terem consciência de que sua força é maior que a humana. Essa relação estabelecida metaforicamente na obra demonstra a semelhança que o proletário tem com os animais, que são constantemente explorados justamente por estarem sendo dominados, subjugados por uma força burguesa que o objetifica e o transforma em uma mera mercadoria. Sendo assim, a vida é transformada em algo miserável e trabalhoso, em que os que possuem forças para trabalhar o fazem até que as mesmas tenham se esgotado, e no instante em que o indivíduo se torna inútil, o mesmo é massacrado. A crítica discorrida ao longo do livro de Orwell permite a observação do modo em que as classes são subjugadas e como o desejo pelo poder influência nas decisões sociais mesmo elas buscando constantemente a igualdade coletiva. É notório na obra que mesmo após uma revolução, que visa mudanças, a mentalidade humana fará o objetivo retroceder e voltar ao que era antes. Ademais, convém expor aqui os ideários do célebre Karl Marx, que com suas ideias influenciou gerações, inclusive permitiu Orwell expô-las. Assim como suas críticas se fazem tão reais mesmo tendo se passados anos após tê-las concebido. Uma crítica calcada na razão que nada mais é do que um mecanismo de percepção do real, ou seja, um meio de tirar as traves dos olhos humanos e permitir uma análise mais crítica e criteriosa do universo ao redor do indivíduo. A razão, portanto, é o motor da busca por igualdade, que constantemente instigará o desejo por mudanças sociais. Uma das grandes influências na produção de Marx foi Friedrich Hegel, esse por sua vez possuía a visão de que as alterações socias ocorrem constantemente, de maneira fluída com o passar do tempo, como um manifesto da razão humana. Mas, o ser humano perdia em dados momentos o autocontrole, devido ao mundo material e as suas construções, como por exemplo o “vir a ser” da dialética hegeliana, era perdido quando a família entrava em conflito com o Estado, uma vez que não haveria espaço para uma nova mudança devido a mentalidade subjugada. Nesse interim, a concepção de Hegel era completamente idealista, pois acreditava que a razão era determinante da realidade social, mas o que se estabelecia no mundo era completamente diferente, ou seja, as necessidades de sobrevivência e as relações interpessoais determinavam a realidade e não eram condicionadas pela razão. Em outras palavras a história do desenvolvimento do espírito não eram condicionantes da história humana, mas sim a existência humana. É essa necessidade de existência humana que para Marx possibilita a exploração capitalista. Pois veja: o ser humano necessita de sobreviver, então para isso o mesmo estabelece meios de produção, sendo esses condicionantes de uma vida material que regerá toda a estrutura social. Partindo dessa premissa, pode-se acrescentar o objetivo defendido pelos animais em “A Revolução dos Bichos” que nada mais era do que poder viver uma vida tranquila e trabalhar apenas para sua sobrevivência, ou seja viver em um estado natural. Sendo assim, tem-se a exemplificação perfeita do que o homem é, um animal que possui o desejo de viver tranquilamente e de sobreviver gozando plenamente de tudo o que tem direito. No entanto, essa liberdade faz-se ilusória, sendo a mesma apenas um objetivo final, na qual é utilizado muitas vezes como mecanismo de opressão por parte da burguesia. Sendo essa por sua vez, necessitada de mão de obra para garantir sua hegemonia. Parafraseando o próprio Marx, a produção transforma a todos em consumidores, e é justamente essa relação de consumismo que estabelece o sistema que insiste em massacrar a igualdade e a liberdade. Afinal, quando se tem a necessidade de produzir para suprir o anseio natural, acaba sendo desenvolvido mecanismos cada vez mais avançados conforme o grau de civilidade. Tais mecanismos vão evoluindo com o passar do tempo e das gerações e consequentemente substituem algumas funções que existiam anteriormente. Um exemplo da afirmação é o desenvolvimento industrial, que com sua modernização foi tomando espaço de homens que as executavam anteriormente. Esse avanço das mudanças, no caso a tecnológica, para Marx são fundamentos causadores do desemprego estrutural, que alimenta ainda mais o grande exército de reserva do mercado. Que em um sistema cíclico, alimenta a mais valia, ou seja, o sistema de lucratividade da burguesia. Um ponto a ser acrescentado, é o gigante mercado alimentado por um exército de desempregados necessitados de alimentar a si e a sua família. É nesse exército que está a pressão operária que tem constantemente a necessidade de se submeter aos desejos do patrão a fim de manter o seu emprego, pois se não o fizer, outros farão e ocuparão a sua vaga. Esse gigante transforma os indivíduos em inimigos que competem incessantemente entre si a fim de obter um salário miserável, que nem se quer corresponde ao seu esforço e ao valor real do trabalho. Embora toda uma produção seja fruto de uma troca recíproca humana, a maneira como é estabelecida não se faz de forma igualitária, pois há uma classe que se beneficia do trabalho da outra, e essas classes estão em constante conflito. Sendo assim, esse conflito é firmado principalmente nas divisões ocorridas na sociedade, sendo essas, a divisão dos equipamentos, produção e produtos do trabalho. Muitas vezes essas divisões demonstram uma problemática ainda pior que a hierarquia de uma produção, pois permitem a visualização de uma desigualdade social que segrega e marginaliza indivíduos. Produzindo por sua vez uma dicotomia entre o rural e o urbano, a produção intelectual e a manual e a maior e mais expressiva delas, a que fundamenta todas as demais, é a dualidade entre os que possuem os meios de produção e os que não possuem. Existe diante desse quadro dicotômico uma exploração, essa por sua vez ocorrida por parte dos detentores dos meios de produção para com os que não possuem, estando esses fadados a limitação que insiste em colocá-los na base de uma pirâmide. Estando os primeiros no topo de uma potência política e espiritual que insiste em desumanizar aqueles que estão abaixo. Essa pirâmide fortalecida pela necessidade humana de sobrevivência, é símbolo de um sistema econômico alicerçado na necessidade humana de conservar sua existência. Para tanto, não se tem mais uma vida, e sim uma mercadoria, que possui valor de uso e valor de troca. O homem não é mais um ser humano, ele é um indivíduo que possui força física capaz de produzir mercadorias, e essas possuem mais valor do que ele mesmo. Diante dessa perspectiva nota-se que o indivíduo vende o seu trabalho, para quando receber o valor do mesmo possa comprar mercadorias necessárias para si e sua família. O mais irônico nessa relação toda é que a mão de obra é a única mercadoria capaz de produzir mais riqueza do que o valor na qual recebe. Para tanto, a teórica relação de igualdade que se estabelece entre o trabalho e o salário são os principais alimentos do capitalismo, uma vez que se vende o esforço e o tempo para se adquirir um produto que servirá como método de troca por outro. É na irônica e sórdida relação de riqueza do trabalho que existe o lucro, pois nunca é valorizado a mão de obra e sim, o que é feito a partir dela. Sendo assim, um indivíduo sempre produzirá mais do que recebe por seu trabalho,e é justamente esse excedente que deveria ser dado ao produtor que é revertido ao burguês em lucro. Sendo assim, além de gerar uma constante máquina de lucro, o proletariado acaba se tornando um robô, completamente sem consciência, programado para exercer sempre a mesma função e sempre exigir de si para fabricar mais. Outrossim, não se trata apenas de uma robotização humana que o transforma em um objeto alienado, trata- se de uma ideologia pregada pela burguesia com o intuito de criar uma ilusão de aprimoramento das atividades, uma vez que se acredita ilusoriamente que a prática constante leva a perfeição. Contudo, não é apenas alienação do proletariado que só sabe exercer uma única função, é a pregação de uma meritocracia que faz gerar lucros e promover o enriquecimento da classe dominante. A burguesia por sua vez possui constantemente tendência a mudanças, sendo essas revolucionárias no quadro social e produtivo que consequentemente as favorece estabelecendo ainda mais o abismo entre ela e o proletariado. O último em decorrência dessas mudanças que fortalece as desigualdades sociais, possui apenas uma alternativa, trabalhar, pois se não o faz, não há alimento, não esperança, ele nem se quer existe. Torna-se então escravo de um salário, de uma força que provem de si mesmo, mas que não o pertence. É justamente para romper esse processo que o sociólogo estabelece a sua política transitória em que o sistema burguês daria vez a uma ditadura do proletariado que em seu estágio final resultaria em uma sociedade sem Estado. O comunismo defendido por Karl Marx faz-se necessário segundo o autor pois ele é o princípio do futuro imediato, que seria a construção consciente da humanidade. A classe trabalhadora que é massacrada por uma minoria dominante, teria o poder de revolucionar e se rebelar, assim como fizeram os bichos de Orwell, que quando se organizaram lutaram e retiraram a minoria do poder, instaurando assim, uma nova organização social. Organização essa, em que cada ser trabalha de acordo com sua capacidade e recebe de acordo com sua necessidade, sendo assim, inexiste propriedade privada. Para tanto com o tempo essa organização se estabeleceria de maneira harmônica e organizada em que não seria mais necessária uma liderança, pois todos estavam unidos em prol de um único objetivo, viver!
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