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1 Ester Ratti e Flávia Rocha ATM 25 Edema É o excesso de líquido acumulado no espaço intersticial ou no interior das próprias células. Pode ocorrer em qualquer região do organismo FISIOPATOLOGIA DO EDEMA TROCA DE LÍQUIDOS PLASMÁTICO E INTERSTICIAL Cerca de dois terços da água corporal total está em nível intracelular, enquanto um terço é extracelular. Cerca de um quarto dessa última parte está no plasma, enquanto o restante compreende o líquido intersticial. Há trocas constantes de fluidos entre esses dois compartimentos de líquido extracelular. As 4 forças de Starling determinam essas difusões entre a membrana capilar. Forças que favorecem a reabsorção (difusão do interstício para o plasma) • Pressão hidrostática do liquido intersticial • Pressão coloidosmótica do plasma Forças que favorecem a filtração (sair do capilar para o interstício): • Pressão hidrostática capilar • Pressão coloidosmótica (ou coloidal oncótica) do liquido intersticial Esse movimento em favor da filtração é mais proeminente na origem arterial dos capilares, caindo progressivamente com o declínio na pressão intracapilar e com a elevação na pressão oncótica em direção à extremidade venular. Tendo em vista essas forças e seus valores, a pressão efetiva de filtração na extremidade arterial do capilar é quase o dobro da pressão efetiva de reabsorção na extremidade venosa do capilar. Isso quer dizer que quase metade do volume sanguíneo que passa pela membrana do capilar, ficaria no tecido. Contudo, vale lembrar que existem muito mais capilares venosos e isso leva a 90% de reabsorção do liquido filtrado e além disso, os outros 10% retorna do espaço intersticial para o sistema vascular em grande parte através do sistema linfático. Essas trocas de fluidos são normalmente equilibradas de maneira que os volumes dos compartimentos intravascular e intersticial permaneçam constantes. Resumindo, as forças que regulam a passagem de água e de eletrólitos de um compartimento para outro, são as seguintes: • Pressão hidrostática • Pressão oncótica das proteínas • Permeabilidade da parede capilar • Osmolaridade intra e extravascular • Fluxo linfático. Quando há as seguintes alterações nessas forças, há um movimento de fluidos do espaço intravascular para o intersticial que pode ser responsável pelo desenvolvimento de edema: • aumento na pressão hidrostática intracapilar; • drenagem linfática inadequada; • redução na pressão oncótica do plasma; 2 Ester Ratti e Flávia Rocha ATM 25 • dano à barreira endotelial capilar; • aumentos na pressão oncótica no espaço intersticial. REDUÇÃO DE VOLUME ARTERIAL EFETIVO Em diversos tipos de edema (principalmente nos generalizados), o volume efetivo do sangue arterial, um parâmetro que representa o preenchimento da árvore arterial e que efetivamente perfunde os tecidos, encontra-se reduzido. Isso pode ser causado por uma redução de débito cardíaco e/ou resistência vascular sistêmica, por acúmulo de sangue nas veias esplâncnicas (como na cirrose) e por hipoalbuminemia. Como consequência desse preenchimento insuficiente, é acionada uma série de respostas fisiológicas voltadas para restabelecer o volume arterial efetivo normal. Um elemento-chave dessas respostas é a retenção renal de sódio e, portanto, de água, restaurando, dessa forma, o volume arterial efetivo, porém, algumas vezes, também ocasionando ou intensificando o edema. FATORES RENAIS E O SISTEMA RENINA- ANGIOTENSINA-ALDOSTERONA O fluxo sanguíneo renal diminuído, característico dos estados nos quais o volume de sangue arterial efetivo está reduzido, é traduzido pelas células justaglomerulares em um sinal para maior liberação de renina. A renina é uma enzima que age no seu substrato, o angiotensinogênio, uma α2-globulina sintetizada pelo fígado, para liberar angiotensina I, que, por sua vez, é convertido em angiotensina II (AII). A AII possui propriedades vasoconstritoras generalizadas, particularmente nas arteríolas eferentes renais. Esse efeito reduz a pressão hidrostática nos capilares peritubulares, enquanto a fração de filtração aumentada eleva a pressão coloidal osmótica nesses vasos, aumentando, assim, a reabsorção de sal e água nos túbulos proximais, assim como no ramo ascendente da alça de Henle. O sistema renina-angiotensina-aldosterona (SRAA) atua tanto como um sistema hormonal quanto como um sistema parácrino. A sua ativação leva à retenção de sódio e água e, portanto, contribui para a formação de edema. O bloqueio da conversão de angiotensina I em AII e o bloqueio do receptor de AII aumentam a excreção de sódio e água e reduzem vários tipos de edema. A AII que penetra na circulação sistêmica estimula a produção de aldosterona pela zona glomerulosa do córtex suprarrenal. A aldosterona, por sua vez, aumenta a reabsorção de sódio (e a excreção de potássio) pelo túbulo coletor, favorecendo a posterior formação de edema. O bloqueio da ação da aldosterona pela espironolactona ou eplerenona (antagonistas da aldosterona) ou pela amilorida (um bloqueador dos canais epiteliais de sódio) em geral induz uma diurese moderada nos estados edematosos. 3 Ester Ratti e Flávia Rocha ATM 25 ARGININA-VASOPRESSINA A secreção de arginina-vasopressina (AVP) pela glândula hipofisária posterior ocorre em resposta a um aumento da concentração osmolar intracelular e, mediante a estimulação dos receptores V2, a AVP aumenta a reabsorção de água livre nos túbulos distais e ductos coletores dos rins, aumentando, assim, a água corporal total. A AVP circulante fica elevada em muitos pacientes com insuficiência cardíaca, secundariamente a um estímulo não osmótico associado à diminuição do volume arterial efetivo e à complacência reduzida do átrio esquerdo. Tais pacientes deixam de apresentar a redução normal de AVP com uma redução da osmolalidade, contribuindo para a formação de edema e hiponatremia. ENDOTELINA-1 Potente vasoconstritor liberado pelas células endoteliais. Sua concentração no plasma é elevada em pacientes com insuficiência cardíaca grave e contribui para vasoconstrição renal, retenção de sódio e edema. PEPTÍDEOS NATRIURÉTICOS Como o peptídeo natriurético atrial (ANP), liberado pela distensão atrial, e o pré-pró- hormônio peptídeo natriurético cerebral (BNP), armazenado nos miócitos ventriculares sendo liberado quando a pressão diastólica ventricular aumenta. Eles se ligam ao receptor-A natriurético, que causa: • a excreção de sódio e água pelo aumento da taxa de filtração glomerular, inibindo a reabsorção de sódio no túbulo proximal e inibindo a liberação de renina e aldosterona; • dilatação de arteríolas e vênulas antagonizando as ações vasoconstritoras da AII, AVP e estimulação simpática. Portanto, níveis elevados de peptídeos natriuréticos possuem a capacidade de se contrapor à retenção de sódio nos estados hipervolêmicos e edematosos. Embora os níveis circulantes de ANP e BNP encontrem-se elevados na insuficiência cardíaca e na cirrose com ascite, os peptídeos natriuréticos não são suficientemente potentes para prevenir a formação de edema. (inclusive há a resistência à eles) Resumidamente, os fatores que promovem a formação do edema são: EXAME CLINICO DO PACIENTE COM EDEMA ANAMNESE: • Tempo de duração (época e onde apareceu) • Início: súbito ou gradual • Localização (região que predomina, localizado ou generalizado) • Circunstâncias em que ocorre: período do dia, se coincide com uso de medicamentos • Evolução: se há momentos de melhora ou piora, se há alterações de intensidade • Curso: fugaz, persistente ou recorrente • Alterações de cor e temperatura (vermelhidão?, quente?) • Manifestações concomitantes: dor, dispneia, oligúria,sinais inflamatórios No perfil psicossocial, avaliar: • Etilismo e/ou tabagismo 4 Ester Ratti e Flávia Rocha ATM 25 • História epidemiológica • Condições de habitação e saneamento • Hábitos de vida (alimentação, atividades físicas tec.) Exemplos de queixas: • Sensação de peso e tensão • Dificuldade em colocar (sensação de aperto): anéis, relógios, roupas, sapatos (à tardinha principalmente) • Pele esticada, sem dobras cutâneas, espessamento EXAME FÍSICO: No exame físico geral, interessa o edema cutâneo, ou seja, a infiltração de liquido no espaço intersticial dos tecidos que constituem a pele e tela subcutânea A técnica para determinar a ocorrência de edema subcutâneo: SINAL DE CACIFO OU SINAL DE GODET: sinal clínico avaliado por meio da pressão com a polpa digital do polegar ou do indicador, faz-se uma compressão, firme e sustentada por pelo menos 5s, de encontro a uma estrutura rígida subjacente à área em exame, pode ser a tíbia, o sacro ou os ossos da face. Havendo edema, ao ser retirado o dedo vê- se uma depressão, no local comprimido, chamada FÓVEA, . Dessa forma, esse sinal é considerado positivo se a depressão ("cacifo") formada não se desfizer imediatamente após a descompressão. O peso corporal pode aumentar até 10% do peso total, mesmo sem o aparecimento de fóvea na pele. Por isso, o aumento brusco de peso levanta a suspeita de retenção líquida, antes de o edema tornar-se clinicamente detectável pela digitopressão. Verificar: • Localização e distribuição • Intensidade • Consistência • Elasticidade • Temperatura da pele circunjacente • Sensibilidade da pele circunjacente • Outras alterações da pele circunjacente LOCALIZAÇÃO E DISTRIBUIÇÃO Localizado ou generalizado? Localizado se restringe a um segmento do corpo, seja um dos membros inferiores, um dos superiores ou qualquer outra área corporal. Ao se excluir essa possibilidade, considera-se generalizado, como nos membros inferiores (o mais frequente), face (especialmente região subpalpebral) e região pré- sacra (acamados, recém-nascidos e lactentes) A distribuição do edema é um indício importante de sua causa. Caso ele seja localizado, devem-se considerar os fenômenos locais que podem ser identificados. Exemplo: edema limitado a uma perna ou a um ou ambos os braços normalmente resulta de obstrução venosa e/ou linfática. No edema generalizado, a retenção de sódio e água constitui um fator importante. Além disso, o acúmulo de líquido não se restringe ao tecido subcutâneo, podendo acumular-se, também, nas cavidades serosas, seja no abdome (ascite), no tórax (hidrotórax), no pericárdio (hidropericárdio), ou na bolsa escrotal. INTENSIDADE A intensidade é dada referindo-se à profundidade da fóvea: +, ++, +++ e ++++ https://pt.wikipedia.org/wiki/Sinal_m%C3%A9dico https://pt.wikipedia.org/wiki/Dedo 5 Ester Ratti e Flávia Rocha ATM 25 Duas outras maneiras podem ser usadas para avaliar a magnitude da retenção hídrica: ■ Pesando-se o paciente diariamente (regra básica para paciente com edema). Variações muito acentuadas do peso traduzem retenção ou eliminação de água. ■ Medindo-se o perímetro da região edemaciada. CONSISTÊNCIA Analisa-se o grau de resistência encontrado ao comprimir a região edemaciada EDEMA MOLE: é facilmente depressível, significa apenas que a retenção hídrica é de duração não muito longa, e o tecido celular subcutâneo está infiltrado de água EDEMA DURO: nesse tipo de edema, encontra-se maior resistência para obter a formação da fóvea. Traduz a existência de proliferação fibroblástica que ocorre nos edemas de longa duração ou que se acompanharam de repetidos surtos inflamatórios ELASTICIDADE Avaliada junto a consistência e a intensidade, ela é indicada não só pela sensação percebida pelo dedo ao comprimir a região, mas principalmente observando a volta da pele à posição primitiva quando se termina a compressão EDEMA ELÁSTICO: a pele retorna imediatamente à sua situação normal, ou seja, a fóvea perdura pouquíssimo tempo. O edema elástico é típico do edema inflamatório EDEMA INELÁSTICO: é aquele em que a pele comprimida demora a voltar à posição primitiva, ou seja, a depressão persiste por certo tempo TEMPERATURA DA PELE CIRCUNJACENTE Usa-se o dorso dos dedos ou as costas das mãos, comparando-se com a pele da vizinhança e da região homóloga. Há três possibilidades: Pele de temperatura normal: é desprovido de qualquer significado clínico Pele quente: significa edema inflamatório Pele fria: traduz comprometimento da irrigação sanguínea daquela área. SENSIBILIDADE DA PELE CIRCUNJACENTE Faz a digitopressão da área que está sendo investigada. Doloroso é o edema cuja pressão desperta dor, ele indica processo inflamatório, e no indolor isso não ocorre. OUTRAS ALTERAÇÕES DA PELE ADJACENTE Mudança de coloração: • Palidez atinge maior intensidade nos edemas que se acompanham de transtorno da irrigação sanguínea. • Cianose é indicativa de perturbação venosa localizada, mas pode ser parte de uma cianose central ou mista. • Vermelhidão indica processo inflamatório. Textura e a espessura da pele: • pele lisa e brilhante acompanha o edema recente e intenso; • pele espessa é vista nos pacientes com edema de longa duração (a pele adquire o aspecto de “casca de laranja”, indicando espessamento com as retrações puntiformes correspondentes aos folículos pilosos); • pele enrugada aparece quando o edema está sendo eliminado. AS PRINCIPAIS CAUSAS DE EDEMA SÃO: • Síndrome nefrítica • Síndrome nefrótica • Pielonefrite • Insuficiência cardíaca 6 Ester Ratti e Flávia Rocha ATM 25 • Cirrose hepática • Hepatite crônica • Desnutrição proteica • Medicamentos (corticosteroides, anti- inflamatórios, antagonistas do cálcio). • Fenômenos angioneuróticos (edema alérgico) • Gravidez • Toxemia gravídica • Obesidade • Hipotireoidismo EDEMA GENERALIZADO Considerado generalizado o edema que, mesmo aparentemente restrito a uma parte do corpo, tem como causa uma alteração cardíaca, renal, hepática ou nutricional. Inicialmente, “localiza- se” nos membros inferiores nos pacientes que estão deambulando, mas, à medida que se intensifica instala-se nos diferentes segmentos corporais. Um ganho ponderal de vários quilos costuma preceder a manifestação clínica de edema generalizado. Anasarca é um edema maciço e generalizado. Nos edemas generalizados é importante determinar se há hipoalbuminemia grave, por exemplo, albumina sérica < 3,0 g/dL. Em caso positivo, a anamnese, o exame físico, o exame de urina e outros dados laboratoriais ajudarão a avaliar as hipóteses de cirrose, desnutrição grave ou síndrome nefrótica ser a doença básica. Se não houver hipoalbuminemia, deve-se determinar se há evidências de insuficiência cardíaca grave o suficiente para produzir edema generalizado. Finalmente, deve-se verificar se o paciente apresenta ou não um débito urinário adequado ou se há oligúria significativa ou anúria EDEMA RENAL: É um edema generalizado, predominantemente facial, acumulando-se de modo particular nas regiões subpalpebrais. Tal fato torna-se mais evidente no período matutino, e os pacientes costumam dizer que “amanhecem com os olhos empapuçados”. Além disso, o edema renal é mole, inelástico, indolor, e a pele adjacente mantém temperatura normal ou discretamente reduzida. Doenças em que ele é observado: SÍNDROME NEFRÓTICA, o edema é intenso (+ + + a + + + +) e se acompanha frequentemente de derrames cavitários. Encontram no hiperaldosteronismo secundário e na hipoproteinemia sua principal explicação fisiopatológica. Já na SÍNDROME NEFRÍTICA, é discreto ou moderado (+ a + +). Na formação do edema da síndrome nefrítica, além da retençãode sódio e água por desequilíbrio glomerulotubular, o outro fator que se destaca é o aumento da permeabilidade capilar. Na PIELONEFRITE, é discreto ou moderado (+ a + +) EDEMA CARDÍACO: O edema constitui um dos sinais cardeais da INSUFICIÊNCIA CARDÍACA congestiva e se caracteriza por ser generalizado, é normalmente simétrico bilateral, começando primeiro nos membros inferiores, pela ação da gravidade, iniciando-se em torno dos maléolos. À medida que vai progredindo, acomete pernas e coxas, podendo alcançar a raiz dos membros inferiores. Nos pacientes que permanecem acamados, o edema localiza-se predominantemente nas regiões pré sacra, glútea e parede abdominal. Ele pode ser assimétrico, isto é, mais intenso em um dos membros inferiores, o que indica, quase sempre, a existência de outra doença associada, como, por exemplo, varizes ou trombose venosa em uma das pernas. 7 Ester Ratti e Flávia Rocha ATM 25 Além disso, por influência da gravidade, o edema cardíaco intensifica-se com o decorrer do dia, chegando à máxima intensidade no período da tarde; daí a denominação de EDEMA VESPERTINO. Ele diminui ou desaparece com o repouso noturno. Com o agravamento da função cardíaca, o edema pode se tornar generalizado, ou seja, acomete o corpo todo, inclusive o rosto. A esta condição, denomina-se anasarca. Na Anamnese, os pacientes relatam dispneia com desconforto notável e muito associada a ortopneia ou dispneia paroxística noturna. No exame físico, encontram-se outros sinais de insuficiência ventricular direita, ou seja, ingurgitamento das jugulares, refluxo hepatojugular e hepatomegalia. O edema cardíaco varia de intensidade (+ a + + + +), é mole, inelástico, indolor, e a pele adjacente pode apresentar-se lisa e brilhante. Nos casos em que há lesão da valva tricúspide e na pericardite constritiva, a ascite predomina sobre o edema das extremidades causado pela Insuficiência ventricular direita (principal causa de edema cardiogênico) Formação desse tipo de edema: A elevação da pressão venosa central é o fator determinante do aumento da pressão hidrostática nos capilares venosos, aumentando a passagem de água para o interstício, o que é evidenciado clinicamente pelo aumento do peso corporal e pelo aparecimento de edema. Outro fator importante na gênese do edema cardíaco é a ativação do sistema renina- angiotensina-aldosterona, que vai determinar a retenção de sódio e a eliminação de potássio. A diminuição do volume sanguíneo circulante, pelo extravasamento de liquido intravascular para o interstício, ativa receptores de volume presentes na arvore arterial, o que constitui também estímulo para secreção de aldosterona, a qual provoca retenção ativa de sódio pelos rins. O sódio aumenta a hipertonia intravascular, à qual são sensíveis os osmorreceptores hipotalâmicos, que, por sua vez, provocam a produção de hormônio antidiurético, responsável pela retenção de água pelos rins para restabelecer o volume sanguíneo circulante. Deste modo, ao lado da elevação da pressão hidrostática, a retenção de sódio tem papel importante na formação do edema cardíaco. Na verdade, o edema da insuficiência ventricular direita é, inicialmente, o mecanismo de defesa de que o organismo dispõe para garantir uma adequada perfusão dos tecidos, quando o ventrículo direito se torna insuficiente. Acontece que as alterações dinâmicas que dão início à formação de edema, à medida que a retenção de líquido aumenta, vão desencadeando outras modificações do equilíbrio hidreletrolítico, que culminam em um círculo vicioso, tendendo a aumentar cada vez mais o edema. EDEMA DE ORIGEM HEPÁTICA A cirrose hepática caracteriza-se em parte por obstrução do fluxo venoso hepático, que, por sua vez, expande o volume sanguíneo esplâncnico e aumenta a formação hepática de linfa. A hipertensão intra-hepática atua como um estímulo à retenção renal de sódio e causa uma redução do volume sanguíneo arterial efetivo. Essas alterações são frequentemente complicadas pela hipoalbuminemia secundária à redução da síntese hepática de albumina, assim como pela vasodilatação arterial periférica. Esses efeitos reduzem o volume sanguíneo arterial efetivo, levando à ativação dos mecanismos de retenção de sódio e água. A concentração de aldosterona circulante mostra-se frequentemente elevada pela incapacidade do fígado de metabolizar esse hormônio. Inicialmente, o excesso de fluido intersticial se 8 Ester Ratti e Flávia Rocha ATM 25 localiza preferencialmente em nível proximal em relação ao sistema venoso portal congestionado, causando ascite. Nos estágios avançados, particularmente quando há hipoalbuminemia grave, pode ocorrer edema periférico. Um acúmulo considerável de líquido ascítico pode aumentar a pressão intra-abdominal e impedir o retorno venoso dos membros inferiores e contribuir para o acúmulo de edema. Dessa forma, na cirrose hepática, o edema é generalizado, mas quase sempre discreto (+ a + +). Predomina nos membros inferiores, e é habitual a ocorrência de ascite concomitante. É mole, inelástico e indolor. EDEMA NUTRICIONAL Uma dieta francamente pobre em calorias e particularmente em proteínas durante um período prolongado pode produzir hipoproteinemia e edema. Considera-se fator primordial na sua produção a diminuição da pressão osmótica das proteínas plasmáticas, uma decorrência da ingestão reduzida dessas substâncias. Além da hipoproteínemia, a hipopotassemia e o déficit calórico podem estar envolvidos no edema da desnutrição. Por isso, é designado também edema da fome crônica ou edema da desnutrição proteica ou edema carencial. Esse edema é generalizado, predominando nos membros inferiores. É mole, inelástico, indolor e não costuma ser de grande intensidade (+ a + +). Além disso, o edema pode ser intensificado pelo desenvolvimento da cardiopatia por beribéri, que também é de origem nutricional, em que múltiplas fístulas arteriovenosas periféricas reduzem a perfusão sistêmica e o volume sanguíneo arterial efetivos, aumentando, desse modo, a formação de edema. O edema ocorre ou pode agravar-se quando indivíduos desnutridos recebem pela primeira vez uma dieta adequada. A ingestão de mais alimentos pode aumentar a quantidade de sódio ingerida, que é, então, retida em conjunto com a água. O chamado edema de realimentação também pode estar relacionado com um aumento da liberação de insulina, que aumenta diretamente a reabsorção tubular de sódio. EDEMA MEDICAMENTOSO Um grande número de fármacos amplamente utilizados pode provocar edema. Os mecanismos consistem em vasoconstrição renal (AINEs e ciclosporina), dilatação arteriolar (vasodilatadores), lesão capilar e principalmente pelo aumento da reabsorção renal de sódio (hormônios esteroides). Esse tipo de edema predomina nos membros inferiores, mas, quando é mais intenso, pode ser facial EDEMA ALÉRGICO Acompanha os fenômenos angioneuróticos. Da reação antígeno-anticorpo surgem diferentes substâncias, entre as quais a histamina e as cininas que, agindo ao nível do capilar, alteram sua permeabilidade. Tal alteração permite a passagem de água para o interstício entre as células. Esse tipo de edema pode ser generalizado, mas costuma restringir-se a determinadas áreas, principalmente a face. Instala-se de modo súbito e rápido, e a pele, por esse motivo, torna-se lisa e brilhante, podendo também apresentar-se com a temperatura aumentada e a coloração avermelhada. Trata-se de um edema mole e elástico. GRAVIDEZ Na gravidez normal, não é raro aparecer um discreto edema, principalmente nos membros inferiores. Todavia, nas TOXEMIAS GRAVÍDICAS o 9 Ester Ratti e Flávia Rocha ATM 25 edema quase sempre é intenso, e sua explicação fisiopatológicareside nas alterações renais – nefropatia gravídica – combinadas com as modificações hormonais advindas da própria gravidez. EDEMA PRÉ-MENSTRUAL surge na semana que antecede a menstruação, segue as alterações que acompanham o climatério. MIXEDEMA: Edema observado na hipotireoide. Não se trata de uma retenção hídrica conforme ocorre nos edemas de uma maneira geral. No mixedema, há deposição de substância mucopolissacarídica (glicoproteínas) no espaço intersticial, o que aumenta a pressão osmótica tecidual e resulta em uma certa retenção de água. É um edema pouco depressível, inelástico, não muito intenso, e a pele apresenta as alterações próprias da hipofunção tireoidiana, como pele seca e fria. Indivíduos com mixedema apresentam edemas na face e nas pálpebras formando “bolsas” sob os olhos. EDEMA LOCALIZADO As principais causas de edema localizado são: • Varizes • Flebites e trombose venosa • Processos inflamatórios • Postura. • Afecções dos linfáticos EDEMA VARICOSO O edema varicoso se localiza nos membros inferiores, preponderando em uma ou outra perna: acentua-se com a longa permanência na posição de pé ou sentada; não é muito intenso (+ a + +); a princípio é de consistência mole, porém, nos casos muito antigos, torna-se cada vez mais duro; é inelástico, e, com o passar do tempo, a pele vai alterando sua coloração, até adquirir tonalidade castanha ou mesmo mais escura. Pode tornar-se espessa e de textura mais grosseira. EDEMA DA TROMBOSE VENOSA O edema da trombose venosa é mole, pode ser intenso, e a pele costuma estar pálida. Em certos casos, adquire tonalidade cianótica. O mecanismo básico na formação do edema varicoso e da trombose venosa encontra-se no aumento da pressão hidrostática, seja por insuficiência das valvas das veias, seja por oclusão do próprio vaso. EDEMA DA FLEBITE Decorre do componente inflamatório que aumenta a permeabilidade capilar e também aumento da pressão hidrostática, seja por insuficiência das valvas das veias, seja por oclusão do próprio vaso. Caracteriza-se por ser localizado, de intensidade leve a mediana (+ a + +), elástico, doloroso, com a pele adjacente se apresentando lisa, brilhante, vermelha e quente. EDEMA POSTURAL É o que ocorre nos membros inferiores das pessoas que permanecem por longo tempo na posição de pé ou que ficam com as pernas pendentes por várias horas, como acontece em viagens longas. Decorre de aumento da pressão hidrostática. É localizado, discreto (+ a + +), mole, indolor e desaparece rapidamente na posição deitada. EDEMA DA INSUFICIÊNCIA VENOSA CRÔNICA Costuma surgir no período vespertino e desaparece com o repouso, sendo mais intenso em pessoas que permanecem muito tempo sentadas, com os pés pendentes. Tal fato torna- se bem evidente ao final de viagens longas. O edema é mole e depressível. Na síndrome pós-trombótica, quando o edema se torna permanente, há aumento global do volume 10 Ester Ratti e Flávia Rocha ATM 25 do pé, da perna e até da coxa, sem que aparentem estar edemaciados. O edema da insuficiência venosa crônica quase sempre predomina de um lado, naquele em que o retorno do sangue estiver mais prejudicado. Quando o edema não regride com o repouso, é necessário procurar outra etiologia além de insuficiência venosa. O mecanismo de formação do edema da insuficiência venosa é o aumento da pressão no interior das veias, das vênulas e dos capilares venosos, fato que ocasiona a saída de líquido para o espaço intersticial EDEMA LINFÁTICO OU LINFEDEMA Linfedema é a designação que se dá para o edema originado nas afecções dos vasos linfáticos. O edema linfático pode ser ocasionado por bloqueio no linfonodo ou nos coletores linfáticos como consequência de processo neoplásico, inflamatório (pós-erisipela, linfangite), parasitário (filariose) e após cirurgia de esvaziamento de cadeia de linfonodos. O bloqueio ocorre com frequência nas metástases neoplásicas, acompanhando-se de edema unilateral, de evolução rápida, acometendo todo o membro. A princípio, o edema é mole, depressível, mas vai se tornando cada vez mais duro com o passar dos dias. A pele é fria e o edema não regride significativamente com o repouso, mesmo quando o paciente eleva o membro comprometido. O edema resultante do comprometimento de coletores linfáticos é de instalação insidiosa, iniciando-se pela extremidade do membro afetado, ascendendo lentamente com o passar de meses ou anos. É duro, não depressível, frio, leva à deformidade do membro e não diminui substancialmente com o repouso, mesmo com a elevação do membro. Basicamente, o edema linfático se caracteriza semiologicamente por ser localizado, duro, inelástico, indolor, e com francas alterações da textura e da espessura da pele, que se torna grossa e áspera. Devido à consistência do edema, a pele dos pododáctilos fica difícil de ser pinçada entre os dedos, e o não pregueamento da pele do segundo pododáctilo constitui o SINAL DE STEMMER. Quando ocorre, é patognomônico do linfedema. Em geral, o edema de longa duração produz hiperqueratose da pele e lesões verrucosas que caracterizam o quadro denominado elefantíase, que é uma síndrome caracterizada por hiperplasia cutânea regional em decorrência de obstrução da circulação linfática, com represamento de linfa (linfedema) que provocou proliferação fibroblástica intensa. Acomete comumente os membros inferiores. As principais causas são filariose e erisipela EDEMA DE PAPILA É a principal característica fundoscópica maligna da hipertensão arterial. Inicialmente, observa-se hiperemia da papila com desaparecimento do pulso venoso fisiológico. Com a progressão do processo, o limite da papila torna-se impreciso e o diâmetro aparentemente aumentado. EDEMA DO DISCO ÓPTICO É sinônimo de edema de papila, contudo refere- se a hipertensão intracraniana. O acúmulo do fluxo axoplasmático, especialmente o componente ortógrado lento, produz na lâmina crivosa um edema de papila EDEMA DE REINKE/ DA LARINGE Processo inflamatório crônico que acomete a camada superficial da lâmina própria de ambas as pregas vocais, mas de forma assimétrica. Relaciona-se diretamente ao tabagismo, sendo mais frequente em mulheres. 11 Ester Ratti e Flávia Rocha ATM 25 A disfonia é lentamente progressiva, e a voz vai se tornando cada vez mais grave (presença de rouquidão). Alguns casos podem apresentar desconforto respiratório. EDEMA ESCROTAL: Comum em recém-nascidos de partos pélvicos, pois o saco escrotal fica comprimido até passar o canal vaginal, gerando estase sanguínea e linfática. Desaparece espontaneamente após alguns dias de vida. Edema escrotal congênito é encontrado em prematuros durante os 2 primeiros meses de vida, acreditando-se que decorra da atividade dos estrogênios que ultrapassam a barreira placentária. Nos pacientes com cirrose hepática, submetidos à paracentese para retirada de líquido ascítico, pode haver formação de fístula entre o peritônio e o tecido subcutâneo, que origina edema escrotal ANGIOEDEMA/ EDEMA DE QUINCKE LABIAL: É o aumento súbito, de aspecto edematoso, do lábio (macroqueilia), podendo acompanhar-se de macroglossia e urticária. A causa é alérgica. Os aspectos clínicos são edema dos lábios, não depressível à palpação, principalmente o superior, de instalação rápida, mas assintomático O edema angioneurótico de Quincke é observado no choque anafilático desencadeado por uma reação alérgica à picada de insetos, medicamentos e alimentos, podendo levar à obstrução da luz laríngea, necessitando de uma traqueostomia de urgência EDEMA NO INTESTINO DELGADO O edema pode ser visto em várias afecções do intestino delgado, como obstruções, isquemias e inflamações. Manifestaçõesassociadas: diarreia, esteatorreia, dor abdominal ou aos sintomas indicativos de hemorragia digestiva. O edema pode ser intenso, generalizado e acompanhado de derrame peritoneal e pleural, caracterizando o quadro de anasarca. Na linfangiectasia intestinal pode haver concomitância de linfedema, ou seja, edema duro, inelástico, associado a espessamento e endurecimento da pele EDEMA PULMONAR Acúmulo de liquido nos alvéolos e interstícios pulmonares que dificulta as trocas gasosas por diminuir a superfície de contato aumentando a espessura da membrana respiratória. pode ocorrer por aumento da pressão nos capilares pulmonares, ou porque os vasos se tornaram mais porosos e permeáveis, episódios que favorecem a passagem da água para o parênquima pulmonar. Ele pode ser de diferentes tipos: edema agudo de pulmão, edema crônico de pulmão, edema pulmonar de grande altitude, edema pulmonar neurogênico A insuficiência cardíaca é a principal causa do edema pulmonar. Ela se instala, especialmente, quando o comprometimento afeta o lado esquerdo do coração, área responsável pelo bombeamento do sangue arterial vindo dos pulmões para irrigar todo o organismo. Essa perda de função cardíaca favorece o acúmulo de sangue nos vasos capilares dos pulmões e, consequentemente, o aumento da pressão sanguínea dentro deles, eventos que facilitam o extravasamento de líquidos e sua retenção no tecido pulmonar
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