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• Pergunta 1 1 em 1 pontos Atualmente, há diversas polêmicas em relação à demarcação de territórios indígenas. Novos instrumentos legais trouxeram insegurança jurídica no tratamento da temática indígena no que diz respeito ao reconhecimento, demarcação e homologação de suas terras. É correto afirmar que: Resposta Selecionada: a Constituição Federal, por meio do entendimento de que as terras tradicionalmente ocupadas e pleiteadas pelas populações indígenas são imprescindíveis à continuidade de seu modo de vida, define os processos de delimitação dos territórios, necessários à reprodução física e cultural nos marcos da própria Constituição. Resposta Correta: a Constituição Federal, por meio do entendimento de que as terras tradicionalmente ocupadas e pleiteadas pelas populações indígenas são imprescindíveis à continuidade de seu modo de vida, define os processos de delimitação dos territórios, necessários à reprodução física e cultural nos marcos da própria Constituição. Comentário da resposta: Resposta correta: independentemente de qualquer ação no Supremo Tribunal Federal (o chamado “marco temporal”, por exemplo), o que orienta a legislação indigenista é a Constituição Federal, que, nos artigos 231 e 232, reconhece as especificidades e necessidades das populações indígenas, inclusive estabelecendo diferentes atores sociais – do poder público, da sociedade civil organizada e das populações indígenas – como proponentes de ações que visam ao reconhecimento e à efetiva demarcação de terras indígenas. • Pergunta 2 0 em 1 pontos Leia o trecho a seguir, que retrata a presença francesa nos primórdios da colonização do Brasil: “Os franceses – traficantes de especiarias e negociantes de pau-brasil – percorreram desde os primeiros tempos o litoral da América portuguesa. Expedições anteriores haviam deixado alguns homens, conhecidos por truchements, ou seja, intérpretes, entre os indígenas, com os quais faziam alianças, servindo de intermediários para o negócio das especiarias. A expedição de Villegagnon tinha projetos mais duradouros, embora possa ser inserida no mesmo movimento de disputa pelo comércio ultramarino. Eram cerca de 600 colonos, entre mercenários e aventureiros. Entre eles, encontrava-se um ministro católico, André Thevet, que mais tarde escreveria um dos relatos sobre aquela experiência.” (BICALHO, 2008, p. 32) BICALHO, M. F. B. A França Antártica, o corso, a conquista e a “peçonha luterana”. Revista História, São Paulo, v. 27, n. 1, 2008. Nos primeiros anos da presença europeia na América do Sul, naquilo que seria o Brasil, portugueses e franceses travaram uma acirrada disputa pelos territórios sul-americanos (inicialmente, no Rio de Janeiro; depois, no Maranhão). Esse embate alterou o perfil de contato de portugueses com os nativos. A respeito desse conflito entre diferentes potências colonialistas, assinale a alternativa correta. Resposta Selecionada: A colonização francesa da chamada França Antártica só foi possível com o apoio de populações indígenas inimigas dos portugueses. Todavia, devido a conflitos internos, houve um processo de contínuo desmantelamento da colônia e a perda dos importantes aliados indígenas. Resposta Correta: A colonização francesa, mantida pelos tupinambás e tamoios, foi desmantelada pela ação de portugueses e seus aliados tupiniquins. Todavia, mesmo após a expulsão dos franceses da Baía de Guanabara, o conflito entre portugueses e aliados nativos contra os tupinambás e tamoios persistiu mais alguns anos, até sua derrota total e a fundação do núcleo de povoamento que daria na atual cidade do Rio de Janeiro. Comentário da resposta: Resposta incorreta: aconteceram inúmeras tentativas de estabelecimento de colônias francesas na América do Sul. A primeira, na Baía de Guanabara, foi chamada de França Antártica, enquanto a outra, na atual cidade de São Luís, Maranhão, era conhecida como França Equinocial. Franceses comercializavam com nativos de origem tupi, em especial os tupinambás, com os quais tinham estabelecido uma forte aliança, mas foram derrotados e expulsos pelo acordo luso-tupiniquim, o que determinou a ocupação efetiva desse território como colônia portuguesa nas décadas seguintes. • Pergunta 3 0 em 1 pontos Observe a imagem a seguir. Trata-se de um selo comemorativo emitido nos anos 1970 pelo governo militar do Brasil. Fonte: spatuletail, Shutterstock, 2021. A partir da observação dos elementos do selo e de seus conhecimentos a respeito da temática indígena em nosso país, pode-se afirmar que a comemoração em função da qual o selo foi emitido tem relação com: Resposta Selecionada: a diversidade das populações brasileiras, incluindo aqui a importante contribuição indígena na construção da nacionalidade brasileira. Resposta Correta: o fato de que os militares brasileiros comemoravam o país que “ia para frente”, que se desenvolvia e deixava para trás seu passado colonial. Comentário da resposta: Resposta incorreta: não havia, na concepção militar e autoritária do país, a exaltação da sociodiversidade brasileira e a defesa dos territórios ancestrais indígenas. Sua demarcação e gestão autônoma só foram garantidas, na forma da lei, pela Constituição de 1988, com a redemocratização de nosso país. A comemoração do dia do índio ou de qualquer outra festividade cívica com essa característica (como o 13 de maio) só ocorria de forma genérica e exaltando os valores da mestiçagem e da “democracia racial”, bases da construção de um imaginário nacional autoritário e hierárquico. • Pergunta 4 0 em 1 pontos Em 1906, há a criação do Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio, o MAIC. Naquela época, foi idealizada a criação de um serviço, dentro desse ministério, que contemplasse a temática dos autóctones ou silvícolas, como eram chamadas as populações indígenas naquele momento. O objetivo era retirar de agentes privados e das missões religiosas a prerrogativa do contato, assimilação e gestão dessas populações pelo Estado nacional. Diante das discussões a respeito das possibilidades de assimilação e civilização dos indígenas, surgiu uma figura paradigmática na história do indigenismo oficial brasileiro, o Marechal Cândido Rondon. O órgão criado e a ação indigenista naquele momento foram definidos como: Resposta Selecionada: Serviço de Proteção ao Índio (SPI), atual Funai, que visava, de forma extremamente vanguardista, garantir a todas as populações indígenas o acesso às terras tradicionais que ocupassem e seu usufruto, de modo a protegê-las, com a salvaguarda da Constituição, de qualquer agressão de setores da sociedade mais abrangente. Resposta Correta: Serviço de Proteção ao Índio (SPI), atual Funai, cujo objetivo era fixar o indígena à terra e protegê-lo com o trabalho agrícola, de maneira a aumentar as possibilidades de sua inserção na civilização. Comentário da resposta: Resposta incorreta: embora houvesse inúmeras tendências de que o indígena fosse utilizado como “guardiães” das fronteiras nacionais, nenhum desses projetos foi realizado, pois se pensava que por meio do trabalho – em especial, o agrícola – fosse possível a progressiva incorporação do indígena na sociedade, em um processo que o faria abandonar seus hábitos selvagens e tribais por meio da valorização de seu trabalho. Naquele momento, não havia a percepção de que as populações indígenas compusessem uma experiência civilizacional humana distinta daquela observada no Ocidente e nas regiões que o europeu colonizou, tampouco que essas populações deveriam ser protegidas e, ao mesmo tempo, deixadas em territórios onde pudessem perpetuar seu antigo modo de vida, sua língua – enfim, sua cultura –, uma vez que havia a nítida ideia de que esses costumes seriam inferiores aos da sociedade brasileira.• Pergunta 5 1 em 1 pontos Considere a definição de um dos mais importantes conceitos das ciências humanas e sociais, a noção de cultura, presente na obra Cultura, um conceito antropológico, de Roque de Barros Laraia (2001). Agora, analise as afirmações a seguir. I. A cultura, um fenômeno humano, está presente nas mais diferentes sociedades no tempo e no espaço. É impossível para os demais seres vivos animais desenvolver a faculdade de simbolizar e transmitir esses símbolos com a mesma complexidade e diversidade com que o fazem os diferentes seres humanos. II. A cultura é um fenômeno variado nas diversas sociedades humanas, daí sua principal característica: sua diversidade. Seu grau de originalidade e de síntese, com sua consequente pluralidade, depende da forma como foi elaborada e recriada, ao longo do tempo e do espaço, em diferentes sociedades, naquilo que chamamos de ação do homem em transformar a natureza (ação antrópica). III. A cultura é um fenômeno que varia conforme o favorecimento de características biológicas e geográficas, que determinam, por assim dizer, diferentes sociedades e etnias. Desse modo, a diversidade cultural e a existência de culturas superiores e inferiores dependem da maior capacidade de simbolizar e internalizar o meio ambiente por meio da capacidade criadora da espécie humana. IV. A cultura, mesmo sendo universal, manifesta-se em cada sociedade de maneira particular, sendo constituída por sistemas simbólicos que variam. Todavia, esse sistema simbólico universal – e, em sua manifestação, diverso –ocorre em um ser vivo dotado de unidade biológica, o gênero homo sapiens sapiens. Por isso, ao nascer, todo ser humano está biologicamente apto para ser socializado em qualquer cultura humana, não importando se o seu processo de socialização tenha sido iniciado em uma sociedade ameríndia, africana ou no Ocidente. Estão corretas: Resposta Selecionada: I, II e IV. Resposta Correta: I, II e IV. Comentário da resposta: Resposta correta: a cultura é um elemento universal; portanto, inerente a todo grupo humano e se manifesta de forma particular nos sujeitos e grupos nos quais circulam. São sistemas simbólicos arbitrários que condicionam nossa forma de perceber o mundo ao nosso redor, o que acontece devido à aprendizagem nesses mesmos sistemas de valores nos quais crescemos e do qual somos indissociáveis. Os fenômenos culturais se manifestam em um ser dotado de unicidade física e biológica, embora apresente características genéticas e fenótipos distintas. Sendo assim, não há fenômeno humano que não seja permeado por tais símbolos, ou sujeitos que se tornem humanos sem sua inserção nessa enorme e complexa cadeia de significados. Esses fenômenos são ainda variáveis, pois dependem de condições materiais concretas para a sua urgência, e se dão pela forma como transformamos a natureza a partir de nossos valores e trabalho. • Pergunta 6 1 em 1 pontos As organizações não governamentais (ONGs), articuladas a outras entidades, como sindicatos e comunidades eclesiais com base na Igreja Católica, realizam inúmeros tipos de atividades e ações. Analise as afirmações a seguir, que tratam dessas organizações. I. Pressionam governos, instituições e empresas na função de agentes mediadores; interagem com a opinião pública, intermedeiam discussões e atuam na divulgação de conhecimento científico nas áreas em que trabalham. II. Constituem parte do chamado terceiro setor, agindo tanto como fiscais das atividades do Estado e como da iniciativa privada. Na área indigenista, atuam na promoção do debate acerca dos coletivos indígenas, de sua diversidade e de sua inestimável importância enquanto atores sociais portadores de direitos específicos – entre eles, o direito à diferença e às suas territorialidades ancestrais. III. Agem de forma participativa no quadro político mundial pressionando empresas e Estado em prol de seus objetivos específicos. Atuam, por exemplo, nas áreas de patrimônios ecológicos, direitos da criança, educação e pesquisa, defesa das populações vulneráveis, divulgação da ciência e da tecnologia etc. IV. Com fins lucrativos, voltam-se ao desenvolvimento socioeconômico, político e ou cultural dos grupos que as organizam, esquecendo-se das populações que pretendem atender. Está correto o que se afirma em: Resposta Selecionada: I, II e III. Resposta Correta: I, II e III. Comentário da resposta: Resposta correta: as ONGs, parte do universo do terceiro setor, são entidades sem fins lucrativos voltadas ao atendimento, execução e prestação de serviços em áreas de interesse público, mas sem a efetiva participação do Estado. Elas revelam uma importante atuação da sociedade civil organizada em prol dos mais variados interesses públicos e sociais. No caso das entidades indigenistas, elas atuam como interlocutoras, assessoras jurídicas e promotoras de suas causas, de modo a levar ao conhecimento público os dilemas e desafios que acometem os mais diferentes povos indígenas brasileiros. Também operam como entidades que pressionam governos e empresas a desenvolverem atividades mais responsáveis frente à comunidade, com o uso consciente dos recursos e pensando no desenvolvimento sustentável das populações vulneráveis. • Pergunta 7 0 em 1 pontos Leia os diferentes depoimentos, cujas fontes foram omitidas propositadamente. Os testemunhos tratam da questão fundiária, seguidos de artigos da Constituição da República Federativa do Brasil (1988). Depoimento 1 – proprietário de uma fazenda em Mato Grosso do Sul A minha propriedade foi conseguida com muito sacrifício pelos meus antepassados. Não admito invasão. Essa gente não sabe de nada. Estão sendo manipulados pelos comunistas. Minha resposta será à bala. Esse povo tem que saber que a Constituição do Brasil garante a propriedade privada. Além disso, se esse governo quiser as minhas terras para a reforma agrária, terá que pagar, em dinheiro, o valor que eu quero. Depoimento 2 – integrante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) Sempre lutei muito. Minha família veio para a cidade porque fui despedido quando as máquinas chegaram lá na usina. Seu moço, acontece que eu sou um homem da terra. Olho pro céu, sei quando é tempo de plantar e de colher. Na cidade não fico mais. Eu quero um pedaço de terra, custe o que custar. Hoje eu sei que não sou sozinho. Aprendi que a terra tem um valor social. Ela é feita para produzir alimento. O que o homem come vem da terra. O que é duro é ver que aqueles que possuem muita terra e não dependem dela para sobreviver pouco se preocupam em produzir nela. Depoimento 3 – professor indígena kaiowá O que a gente sente é tristeza – me dizia [...] um professor indígena do tekoha Guaivyry. – Vocês chegaram aqui em cima dessa terra, dessa nossa casa, a gente chama tekoha porque quer ver ela demarcada. Ñande ypy tekoha [“nossa terra original”], ñanderamoi ñoñotyhague [“o lugar onde foram enterrados nossos antepassados”]. Cemitério é sinônimo de tekoha porque para o Kaiowá a morte tem significado! O branco não entende, essa é a essência do humano. A gente precisa da terra pra cuidar da morte, precisa lembrar do parente. Art. 184 – Compete à União desapropriar por interesse social, para fins de reforma agrária, o imóvel rural que não esteja cumprindo sua função social, mediante prévia e justa indenização em títulos da dívida agrária, com cláusula de preservação do valor real, resgatáveis no prazo de até vinte anos, a partir do segundo ano de sua emissão, e cuja utilização será definida em lei. Art. 231 – São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens. BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituiçãoda República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Presidência da República, [2020]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/ Constituiçao.htm. Acesso em: 13 jan. 2021. Em disputa de terras, em Mato Grosso do Sul (MS), três depoimentos foram destacados: o de um fazendeiro, o de um integrante de do MST e o de um professor indígena do coletivo kaiowá. A partir da leitura dos testemunhos e dos artigos da Constituição Federal, julgue os itens a seguir. I. A Constituição do país garante o direito à propriedade privada. Portanto, invadir terras e ocupá-las sem a devida observação desse preceito constitucional é crime, ferindo o direito de possuir propriedades e nelas empreender como assim o desejar. II. O MST é um movimento controlado por partidos políticos de esquerda cujo objetivo é a desestabilização do governo pela invasão de terras, em especial aquelas que contribuem, decididamente, pelo desenvolvimento econômico do país. III. As terras são fruto do árduo trabalho das famílias que a possuem, sendo passadas exclusivamente de geração para geração, principalmente aquelas que atendem à noção de função social da propriedade. IV. A intensa mecanização do campo, visando ao abastecimento dos mercados internacionais e o nacional, torna possível que um proprietário rural venha a se tornar um empresário do agronegócio, importante segmento econômico brasileiro e líder nas exportações. V. Para as populações indígenas, a terra não é algo que pode ser “possuído”, sendo um bem intransferível, completamente fora da lógica mercantilista Ocidental. Ela tem atributos sagrados e compõe parte da cosmologia que liga os vivos aos deuses e ancestrais. Nesse sentido, falar em propriedade, mesmo que voltada à subsistência de famílias camponesas, podendo vir a ser transferida em um documento de compra e venda, é uma noção estranha ao universo coletivista de várias etnias indígenas. Está correto o que se afirma em: Resposta Selecionada: I, II e III. Resposta Correta: I, IV e V. Comentário da resposta: Resposta incorreta: toda terra no nosso país deve atender ao dispositivo constitucional, que objetiva torná-la uma propriedade privada. Existem terras passadas por herança, mas essa não é a única forma de se aquisição. Além disso, as terras herdadas não atendem unicamente à função social da propriedade. Os movimentos sociais que lutam pela reforma agrária no nosso país, em especial o MST, não constituem em braço de ação social de partidos de esquerda, embora algumas campanhas políticas declarem abertamente apoiar algumas iniciativas. O objetivo do movimento é a luta pela terra, que deve ser democratizada e atender a interesses sociais da maioria dos brasileiros, voltada à produção agrícola que satisfaça o mercado interno e os interesses dos pequenos proprietários rurais. • Pergunta 8 0 em 1 pontos Leia a seguir duas afirmações do Barão de Montesquieu (1689-1755) a respeito da escravidão, extraídas de seu livro O espírito das leis: “[...] A escravidão não é boa por natureza; não é útil nem ao senhor, nem ao escravo: a este porque nada pode fazer por virtude; àquele, porque contrai com seus escravos toda sorte de maus hábitos e se acostuma insensivelmente a faltar contra todas as virtudes morais: torna-se orgulhoso, brusco, duro, colérico, voluptuoso, cruel.” “[...] Se eu tivesse que defender o direito que tivemos de tornar escravos os negros, eis o que eu diria: tendo os povos da Europa exterminado os da América, tiveram que escravizar os da África para utilizá-los para abrir tantas terras. O açúcar seria muito caro se não fizéssemos que escravos cultivassem a planta que o produz.” (MONTESQUIEU, 1997) MONTESQUIEU. O espírito das leis. São Paulo: Nova Cultural, 1997. Agora, analise as afirmações a seguir. I. A despeito de um amplo e poderoso fundamento moral e ético, alguns valores são desconsiderados em razão da influência e do poder econômico, relativizando as experiências humanas que desqualifica ao mesmo tempo que explora. II. O convívio com os europeus foi positivo tanto para as populações indígenas quanto para os segmentos afrodiaspóricos. Esse relacionamento atualizou suas civilizações na história da humanidade, tornando-as parte significativa dos principais eventos da principal civilização do globo, a europeia, e seu esforço de propagar os valores humanos por todo o planeta. III. A escravidão indígena, amplamente praticada entre os séculos XVI e XVIII, e a africana, comum a todo o período colonial e no Império, eram indefensáveis do ponto de vista filosófico, restando argumentos econômicos para sua relativização e aceitação, mesmo no alvorecer do século das luzes. IV. Os desígnios econômicos das nações surgidas do colonialismo, tanto na Europa como nas Américas, a partir do fim do século XVIII e no XIX, justificavam a contínua servidão de descendentes das populações ameríndias e a escravidão de africanos e seus descendentes, abrindo amplas possibilidades para uma cruel exploração do homem por seu semelhante. V. O preconceito e o racismo contra membros de coletividades indígenas ou descendentes afrodiaspóricos foi controlada, até os nossos dias, pela moral religiosa e pelas discussões filosóficas, em especial aquelas do Iluminismo sobre a natureza de todos os seres humanos, independentemente se estes nasceram sob o jugo da escravidão ou vivenciarem sua “liberdade natural”. Está correto o que se afirma em: Resposta Selecionada: IV e V. Resposta Correta: I, III e IV. Comentário da resposta: Resposta incorreta: a civilização ocidental, diante dos desígnios hegemônicos da economia, permitiu a perpetuação da servidão indígena, da escravidão africana e, no alvorecer da Revolução Industrial, do trabalho em condições precárias e insalubres do proletariado europeu. Isso aconteceu mesmo diante das inúmeras discussões filosóficas e jurídicas suscitadas pelo século das luzes, os valores morais humanistas (em expansão para abarcar parte significativa da humanidade) e os preceitos filosóficos éticos, contrários a qualquer submissão do homem pelo homem, • Pergunta 9 1 em 1 pontos Leia o trecho a seguir. “[...] Entre os Guarani-mbya foi possível observar que a relação que estabelecem entre ambiente e espaço está intimamente ligada a categorias e conceitos específicos implicados com uma dinâmica de controle social e apreensão territorial que extrapola os limites físicos das aldeias e mesmo de um complexo regional geográfico. Pesquisas localizadas em algumas aldeias ou regiões, abrangendo aspectos econômicos, fundiários e culturais relativos aos grupos locais Guarani, têm sido produzidas. Mas, para verificar como os Guarani, enquanto sociedade, operam suas concepções geográficas e espaciais, é preciso observar como eles pensam e exercem sua ocupação em áreas e circunstâncias diversas. Especialmente no caso dos Guaranimbya, porque os grupos familiares que vão se compondo vão agregando pessoas de regiões, de origens e de vivências diversas, as quais ampliam suas reflexões a partir das condições locais de existência. Portanto, foram realizados levantamentos em aldeias e regiões de aspectos relativos ao meio físico e social diversificados, a fim de observar como as comunidades compõem seu espaço e se constituem em tekoa (aldeias) – lugar onde podem realizar seu modo de ser. (LADEIRA, 2008, p. 24) LADEIRA, M. I. Espaço geográfico guarani-mbyá: significado, constituição e uso. São Paulo: Eduem/Edusp, 2008. Tendo como base seus conhecimentos e nossas discussões, assinale a alternativa correta em relação aos coletivos guarani Ñandeva e Mbyá, localizados no litoral paulista, no Parque do Jaraguá e na Zona Sul do município de São Paulo. I. Não há nenhuma ligação mística-cosmogônica entre os guaranis do litoral de São Paulo e os remanescentes da Mata Atlântica e da Serra do Mar, sendo que taispopulações ali se encontram por força de aldeamentos que ocorreram sob a supervisão de autoridades civis e eclesiásticas desde os tempos coloniais. II. As populações ou coletivos guaranis são “índios estrangeiros”, oriundos das nações vizinhas, que objetivam ganhos materiais dada a legislação indígena brasileira, a mais avançada da região. III. No litoral paulista e em outras regiões onde há tekoás ou tekoha guarani, há uma íntima ligação entre os seres humanos, os territórios sagrados e sua incessante busca pela Terra sem males. IV. Há uma relação profunda entre as matas remanescentes da Mata Atlântica, a Serra do Mar e o litoral paulista, onde os guaranis buscam exercer seu nhandereko ou modo de vida. Está correto o que se afirma em: Resposta Selecionada: III e IV. Resposta Correta: III e IV. Comentário da resposta: Resposta correta: Yvy marãey, a Terra sem males, é um tema recorrente na cosmovisão guarani. Essa ideia promove parte significativa dos movimentos populacionais e o estabelecimento de comunidades desde o fim do século XIX no litoral paulista, onde a Serra do Mar e a floresta litorânea remanescente, a Mata Atlântica, compõem parte importantíssima de sua relação sagrada com os ancestrais e a vida na Terra. • Pergunta 10 0 em 1 pontos No início do século XIX, o naturalista e médico alemão Carl von Martius (1794-1868) viajava pelo Brasil recém-independente. Em suas viagens, ele observou a fauna e a flora brasileiras e, como era de costume naquele século, realizou observações sobre das populações indígenas com as quais se deparou. Refletindo a respeito o homem americano original, von Martius afirmara: Permanecendo em grau inferior de humanidade, moralmente, ainda na infância, a civilização não o altera, nenhum exemplo o excita e nada o impulsiona para um nobre desenvolvimento progressivo [...]. Esse estranho e inexplicável estado do indígena americano, até o presente, tem feito fracassarem todas as tentativas para conciliá-lo inteiramente com a Europa vencedora e torná-lo um cidadão satisfeito e feliz. (VON MARTIUS, 1982, p. 20) MARTIUS, C. von. O estado do direito entre os autóctones do Brasil. Belo Horizonte/São Paulo: Itatiaia/Edusp, 1982. Com base na reflexão de von Martius a respeito das populações indígenas brasileiras no século XIX, é correto afirmar que o médico: Resposta Selecionada: discriminava as populações do Novo Mundo, em especial as do Brasil, defendendo abertamente o seu extermínio frente às forças mais avançadas da Europa civilizada. Resposta Correta: entendia que as populações indígenas tinham uma história que era impossível determinar, dado o seu estado selvagem e bruto, e desconsiderava os diferentes patrimônios étnicos- culturais dessas sociedades, reforçando a ideia da inevitabilidade de sua extinção e a importância da missão civilizatória europeia em deter, ao menos em parte, tal processo. Comentário da resposta: Resposta incorreta: von Martius não acreditava na continuidade do extermínio físico por parte dos “civilizados”; todavia, entendia que seria inexorável a franca diminuição das populações indígenas, dada sua simplicidade diante do avanço da civilização, cujo sinônimo entendia como a experiência europeia. Desse modo, para além de sua extinção, Martius compreendia a dificuldade de determinar as origens dos homens americanos, assim como a possibilidade de assimilar um maior número possível de indígenas na sociedade mais ampla, dada a dificuldade inata de essas populações se relacionarem com um mundo que viam como mais desenvolvido.
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