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Paulo Cosmo Jr. - paulocosmojr - bit.ly/CosmoBenedicti Prorrogação de competência Direito Processual Civil A denominada prorrogação da competência, indica os casos em que ela se dá por força da lei, ou em virtude de ato da parte. Ao fixar os critérios determinativos da competência territorial, o Código o faz abstratamente, ou seja, prevê critérios para o ajuizamento, em tese, de uma determinada demanda. Assim - e exemplificativamente - atuam como critérios determinativos, entre outros, o local do domicílio do réu , o da situação do imóvel, do último domicílio do autor da herança, do domicílio da pessoa jurídica de direito público ou do evento. Esses critérios não serão necessariamente observados, no entanto, a conexão, a continência e a eleição de foro, entre outras circunstâncias a seguir examinadas, poderão determinar a fixação, em concreto, da competência de um foro diverso daquele previsto em lei. Assim, um determinado órgão jurisdicional que seja relativamente incompetente à luz dos critérios do Código poderá, em razão da ocorrência de qualquer dos fenômenos aludidos, tornar-se concretamente competente. 1 Pode suceder, ainda, de ações corretamente ajuizadas e processadas perante órgãos competentes pelos critérios legais, ou terem o seu processamento deslocado para apenas um desses órgãos (o prevento), objetivando o seu julgamento simultâneo. Diz-se, então, que se consumou o fenômeno da prorrogação da competência, isto é, um órgão relativamente incompetente tornou-se competente em concreto, ao passo que outro, competente em abstrato, tem sua incompetência agora determinada. Além disso, ocorre também a prorrogação quando se condensa, se consolida em um só órgão jurisdicional a competência exclusiva para o processamento e julgamento de ações que antes competiam a outros órgãos jurisdicionais. A prorrogação atinge ainda a competência de juízo, conforme deflui. Como esclarece CÂNDIDO DINAMARCO: "prorrogação da competência é modificação desta: o órgão judiciário, ordinariamente incompetente para determinado processo, passa a sê-lo em virtude de algum fenômeno a que o direito dá essa eficácia. Ordinariamente, pertencem-lhe os processos que se situam dentro de determinada esfera (que é a sua competência), mas quando ocorre um desses fenômenos essa esfera se alarga (prorroga-se), para abranger um processo que estava fora. A prorrogação não é, assim, mais um critério para a determinação da esfera de competência dos juízes -, mas um motivo de alteração, em casos concretos, dessa esfera (esse é um ensinamento cediço, quase unânime, da doutrina). Considere-se, todavia - e sem prejuízo da lição ora transcrita -, que a prorrogação representa um fenômeno visível sob dois enfoques distintos: a) como causa determinante da atribuição de competência a um órgão que até então não a possuía, em detrimento de outro (ou outros) que era, ao menos em abstrato, competente; 2 b) como fator de aglutinação, perante um só órgão competente, da competência de outro (ou de outros) até então competente. Convém desde logo salientar que o fenômeno ora examinado não terá maior interesse se as ações conexas estiverem sendo processadas perante Justiças diferentes (v.g., estadual e federal), pois nesse caso a competência de uma e outra, por ser absoluta, não estará sujeita a modificação. A prorrogação pode derivar, em primeiro lugar, de imposição da lei, quando é então denominada legal. Opera-se, segundo o Código de Processo Civil - e de acordo com o entendimento predominante em doutrina -, em virtude da conexão ou da continência. Muito embora esses dois fenômenos processuais tenham a natureza de objeções - e sejam, por isso mesmo, cognoscíveis de ofício, a qualquer tempo, ou dedutíveis, pela parte interessada, através de contestação - é bastante comum a oposição equivocada de exceção de incompetência tendo por objeto justamente a relação de conexão ou de continência existente entre determinadas ações; e nesse caso, aliás, o processo sofre uma indevida suspensão, até o julgamento da "exceção" - o que não ocorreria, é claro, se o vínculo conectivo houvesse sido indicado pela via própria. De qualquer modo, operada a prorrogação legal tornar-se-á competente, com exclusividade, o órgão jurisdicional prevento, ou seja, aquele que teve a sua competência concretamente determinada em primeiro lugar, valendo lembrar que a prevenção não representa, pelo Código, critério de modificação da competência. Representa, isto sim, um mecanismo de fixação da competência exclusiva de um órgão jurisdicional perante outro (ou outros), acionado pela ocorrência, prevista em lei, de determinados atos processuais. Operada a prorrogação legal da competência, as causas que até então estavam sendo processadas perante órgãos distintos (e competentes, cada 3 qual, para o processamento das respectivas ações perante eles ajuizadas) serão reunidas diante de um só deles, objetivando o julgamento simultâneo de todas, mediante a prolação de uma só sentença - salvo se o estado atual dos processos não mais justificar a reunião (v.g., um deles já se encontra em fase de julgamento, ao passo que o outro só agora teve início). Impõe-se, em decorrência, a existência de um mecanismo legal para a determinação do único juízo competente para o processamento e julgamento conjunto das ações, mecanismo este que é justamente o da prevenção. Prevenir a competência significa, pois, fixar, determinar concreta e exclusivamente a competência de um órgão jurisdicional em confronto com outro (ou outros), perante o qual estava sendo (ou deveria ser, se ainda não ajuizada) processada a ação vinculada por conexão (ou por continência) àquela presidida pelo órgão prevento. Por outras palavras, a reunião de processos pendentes (ou o ajuizamento de ação conexa a outra já sendo processada) far-se-á perante o órgão jurisdicional cuja competência foi estabelecida em primeiro lugar, ou seja, que já esteja prevenida. Segundo o Código de Processo Civil, dois são os atos processuais desencadeantes da prevenção: a citação válida do do réu e o despacho inicial exarado nos autos do processo. Estando as ações conexas (ou ligadas por continência) sendo processadas perante órgãos jurisdicionais com competências territoriais diferentes, o ato de prevenção será a citação válida do réu; vale dizer, um dos efeitos processuais da citação é o de prevenir a competência de um órgão jurisdicional para o processamento e julgamento das ações vinculadas por conexão ou continência, em face de outro ( ou outros) igualmente competente, até então (abstrata ou concretamente), para processar a ação perante si proposta (ou que deveria ordinariamente presidir, tão logo proposta). 4 Se, ao contrário, as ações conexas (ou relacionadas por continência) estão sendo processadas no mesmo foro ( na mesma comarca, no que tange à justiça estadual, ou na mesma seção judiciária, no que se refere à federal), mas perante juízos diferentes (ainda que integrantes dos denominados foros regionais), o ato determinante da prevenção será o despacho inicial exarado nos autos do processo, assim devendo ser entendido aquele que determina a citação do réu. O vínculo conectivo entre duas ou mais demandas representa o primeiro fator de prorrogação legal previsto pelo Código. Correndo em separado ações conexas, cada qual sendo processada perante órgão que, considerado isoladamente, seria, pelos critérios legais, o competente para tanto, apenas um deles (aquele cuja competência esteja prevenida) aglutina em si toda a competência para o processamento e julgamento simultâneos dos respectivos feitos. Explicitando: apenas um dos órgãos jurisdicionais envolvidos com as demandas conexas irá realizar o julgamento conjunto, ao passo que o outro ( ou outros) cuja competência foi derrogada, torna-se, agora incompetente. Esse vínculo existirá sempre que as ações possuam em comum o pedido ou a causa petendi, istoé, sempre que idênticos os seus elementos objetivos e causais. Buscando evitar dois ou mais julgamentos autônomos, eventualmente contraditórios - e geradores, à evidência, de sérios prejuízos às partes e à autoridade dos provimentos judiciais - a lei determina que o órgão com a competência já prevenida julgue os pedidos deduzidos através das ações conexas, atribuindo-lhe, para tanto, uma competência que ordinariamente não lhe seria conferida pelos critérios usuais do Código, abstratamente considerados. Fala-se em ainda em prorrogação legal, por derradeiro, no que pertine à competência dos denominados juízos universais. Decretada a falência ou a insolvência civil do devedor (e instaurado, assim, o concurso universal de 5 credores), o juízo da decretação passa a ter competência para o processamento de ações envolvendo a massa falida, ou a massa do insolvente; por outras palavras, determinadas demandas, que deveriam ser ajuizadas, em abstrato, perante outros órgãos jurisdicionais, serão atraídas para o juízo universal, que passa, por força de tal atração, a ter competência, em concreto, para o seu processamento. Além da prorrogação legal, cuida ainda a doutrina da prorrogação convencional da competência. Apesar de o vocábulo convencional não se mostrar adequado à prorrogação dita tácita, o fato é que ocorre essa modalidade de prorrogação ora por convenção das partes, ora em virtude da não oposição, por qualquer delas, da exceção ritual específica. E tal resulta, na lição de CÂNDIDO DINAMARCO, da dispositividade das regras sobre a competência de foro. Enquanto através da última aglutina-se em um só órgão, com exclusividade, toda a competência para o processamento e julgamento de ações ligadas por conexão ou continência, pela prorrogação convencional um órgão jurisdicional relativamente incompetente torna-se concretamente competente para o julgamento de uma ou mais ações, em prejuízo de outro (ou outros) que seria, segundo os critérios usuais de determinação da competência (enquanto isoladamente considerados), competente para tanto. Tratando-se de competência determinada em razão do valor da causa ou do território (ou seja, relativa), poderão as partes modificá-la mediante convenção. Essa prorrogação voluntária, dita convencional expressa, é feita através de cláusula eletiva de foro, ou seja, as partes fixam o denominado foro de eleição, competente, agora, para o ajuizamento de ações oriundas de direitos e obrigações assumidos por via contratual. Evidente que esse foro eleito nem sempre coincidirá com aquele ordinariamente competente para o processamento e julgamento das aludidas 6 ações, daí a razão pela qual ocorre, através de sua escolha pelas partes, a prorrogação da competência. Nem sempre será possível a eleição de foro. Vale dizer, nem sempre a ação proposta estará sujeita, para fins de determinação da competência territorial, à cláusula eletiva ( v.g., ações tendo por objeto estado civil, parentesco ou capacidade), sendo esta última inoperante, ainda, quando se refira a contratos futuros, indeterminados. Ademais, não é admissível a eleição de juízo (ainda que a competência deste seja relativa) e nem mesmo a dos denominados foros (central e regionais). Outras situações peculiares ao foro de eleição também vêm merecendo apreciação por parte dos tribunais. Também suscita interesse a questão pertinente ao ajuizamento da ação no foro do domicílio do réu, diverso do eleito. Nesse caso só terá sentido o acolhimento da exceção declinatória se e quando o excipiente demonstrar, de modo inequívoco, que o ajuizamento da ação em foro diverso do eleito acarretou-lhe ou poderá acarretar-lhe prejuízo. O foro comum em benefício do réu, deverá prevalecer se o autor, ignorando a cláusula eletiva, optar por atendê-la; e isso decorre da singela circunstância de que, inexistindo prejuízo derivado dessa opção, não teria o réu, em tese, nem mesmo interesse processual em opor a exceção. A denominada prorrogação convencional tácita resulta da não oposição da exceção declinatória de foro, ou de juízo, no caso e prazo legais. Ajuizada a ação perante foro (ou juízo) relativamente incompetente, a parte interessada ( geralmente o réu) têm o ônus de opor a exceção ritual de incompetência, sob pena de, não o fazendo, operar-se a preclusão e prorrogar-se a competência do aludido órgão jurisdicional. Por outras palavras, a sua inércia atesta, ainda que implicitamente, a ausência de prejuízo decorrente do ajuizamento perante órgão relativamente incompetente, já que abriu mão da vantagem processual de ser demandado 7 no foro (ou juízo) legal ou contratualmente previsto; e nada justifica, assim, a manutenção dessa vantagem, passando o órgão jurisdicional a ostentar, em função da prorrogação, plena competência para o processamento da demanda. Essa causa de prorrogação convencional é muito mais abrangente, sem dúvida alguma, que aquela derivada do pacto de eleição de foro. MARCATO, A. C. Prorrogação da competência. 8
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