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Universidade Federal do Piauí Centro de Educação Aberta e a Distância CUltUrA orgAnizACionAl Francisco Benício Santos de Moraes Trindade Ministério da Educação - MEC Universidade Aberta do Brasil - UAB Universidade Federal do Piauí - UFPi Centro de Educação Aberta e a Distância - CEAD Francisco Benício Santos de Moraes Trindade Cultura organizacional Cleidinalva Maria Barbosa Oliveira Ubirajara Santana Assunção Zilda Vieira Chaves Elis Rejane Silva Oliveira Roberto Denes Quaresma Rêgo Samuel Falcão Silva Everton Oliveira de Araújo Lis Cardoso Marinho Medeiros Genuvina de Lima Melo Neta PRESIDENTE DA REPÚBLICA MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO GOVERNADOR DO ESTADO REITOR DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ SECRETÁRIO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA DO MEC PRESIDENTE DA CAPES COORDENADOR GERAL DA UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL DIRETOR DO CENTRO DE EDUCAÇÃO ABERTA E A DISTÂNCIA DA UFPI Dilma Vana Rousseff Linhares Fernando Haddad Wilson Nunes Martins Luiz de Sousa Santos Júnior Carlos Eduardo Bielshowsky Jorge Almeida Guimarães João Carlos Teatine de S. Clímaco Gildásio Guedes Fernandes CONSELHO EDITORIAL DA EDUFPI Prof. Dr. Ricardo Alaggio Ribeiro ( Presidente ) Des. Tomaz Gomes Campelo Prof. Dr. José Renato de Araújo Sousa Profª. Drª. Teresinha de Jesus Mesquita Queiroz Profª. Francisca Maria Soares Mendes Profª. Iracildes Maria de Moura Fé Lima Prof. Dr. João Renór Ferreira de Carvalho COORDENAÇÃO DE MATERIAL DIDÁTICO TÉCNICOS EM ASSUNTOS EDUCACIONAIS EDIÇÃO PROJETO GRÁFICO EDITORAÇÃO ELETRÔNICA REVISÃO REVISÃO GRÁFICA © 2011. Universidade Federal do Piauí - UFPI. Todos os direitos reservados. A responsabilidade pelo conteúdo e imagens desta obra é do autor. O conteúdo desta obra foi licenciado temporária e gratuitamente para utilização no âmbito do Sistema Universidade Aberta do Brasil, através da UFPI. O leitor se compromete a utilizar o conteúdo desta obra para aprendizado pessoal, sendo que a reprodução e distribuição ficarão limitadas ao âmbito interno dos cursos. A citação desta obra em trabalhos acadêmicos e/ou profissionais poderá ser feita com indicação da fonte. A cópia deste obra sem autorização expressa ou com intuito de lucro constitui crime contra a propriedade intelectual, com sansões previstas no Código Penal. É proibida a venda ou distribuição deste material. EQUIPE DE DESENVOLVIMENTO COORDENADORES DE CURSOS ADMINISTRAÇÃO CIÊNCIAS BIOLÓGICAS FILOSOFIA FÍSICA MATEMÁTICA PEDAGOGIA QUÍMICA SISTEMAS DE INFORMAÇÃO Antonella Maria das Chagas Sousa Maria da Conceição Prado de Oliveira Zoraida Maria Lopes Feitosa Miguel Arcanjo Costa João Benício de Melo Neto Vera Lúcia Costa Oliveira Rosa Lima Gomes do Nascimento Pereira da Silva Luiz Cláudio Demes da Mata Sousa Com a constante evolução das organizações, ocorreram diversas mudanças nas empresas, nos fornecedores, nos clientes externos tornaram-se cada vez mais exigentes, e com os colaboradores acontece a mesma exigência. Ter um bom relacionamento com os colaboradores é papel fundamental das funções de liderança, conhecer seus colaboradores para poder tentar ajudar de alguma forma, fazendo com que o ambiente esteja sempre harmonioso, incentivando as pessoas a trabalharem sempre motivadas e felizes com o papel que elas representam para a organização. Para que este ambiente possa ser harmonioso é preciso conhecer a estrutura, a cultura, os líderes, a motivação e o programa de feedback que a organização oferece para seus colaboradores. O Professor Francisco Benício Santos de Moraes Trindade mostra como transformar o conceito abstrato de cultura em uma ferramenta prática que administradores e estudantes possam usar para entender a dinâmica das organizações e da mudança. Focando as realidades atuais, o autor utiliza ampla pesquisa contemporânea para definir a cultura, oferece novas informações sobre as culturas organizacionais e demonstra o papel crucial que os líderes exercem na aplicação bem-sucedida dos princípios da cultura para atingir metas organizacionais. A elaboração deste fascículo surgiu da convicção de que a comunicação organizacional constitui elemento vital para a construção de um universo simbólico que, aliado às políticas de administração de recursos humanos, contribui para aproximar e integrar os públicos aos princípios e objetivos centrais da organização. Também partiu da perspectiva de que é pela precisão da informação que podemos conhecer e compreender a cultura organizacional, além de captar a lógica das relações internas, suas contradições, suas mediações, para melhor compreender os estágios administrativos, os sucessos e fracassos organizacionais e as facilidades ou dificuldades impostas às mudanças organizacionais. BONS ESTUDOS!!! UniDADE 1 INTRODUÇÃO A CULTURA ORGANIZACIONAL Definição ...................................................................................11 Cultura e poder nas organizações .............................................16 Tipos de cultura organizacinonal ...............................................20 A cultura organizacional em empresas familiares......................26 UniDADE 2 CULTURA ORGANIZACIONAL E CULTURA Distinção ....................................................................................35 UniDADE 3 FORMAS DE MANIFESTAÇÃO DA CULTURA ORGANIZACIONAL Os Ritos nas Organizações .........................................................41 A influência dos traços brasileiros na formação da Cultura Organizacional ...........................................................................44 UniDADE 4 ESTRATÉGIAS, RESPONSABILIDADE SOCIAL E CULTURAS BEM- SUCEDIDAS A Cultura Organizacional na formação da Estratégia Empresarial................................................................................51 Responsabilidade Social: Definições e Evolução Histórica ........55 Cultura organizacional e responsabilidade social ......................57 Estudo de caso da FORD BRASIL.................................................59 09 31 39 49 UniDADE 5 RELAÇÕES ENTRE CLIMA ORGANIZACIONAL E CULTURA ORGANIZACIONAL Comunicação interna como ponto de partida para as transformações da Cultura Organizacional e adoção de novos paradigmas éticos ......................................................................73 Clima organizacional: Indicador de satisfação ...........................76 Estudo de caso – A TAM ............................................................78 Estudo de caso – A MACDONALD...............................................82 UniDADE 6 COMUNICAÇÃO E CULTURA ORGANIZACIONAL Cultura Organizacional e Liderança ...........................................91 O tripé das organizações: pessoas, cultura e organização .........97 O processo comunicacional na Cultura Organizacional e nas relações de trabalho ................................................................105 rEFErÊnCiAS......................................................................112 71 89 UniDADE 01 introdução a Cultura organizacional A unidade I tem por finalidade analisar as questões de poder e cultura nas organizações, de que maneira podem ser trabalhados pelos profissionais de administração nos processos de relação dos colaboradores e como podem influir de forma direta nos resultados da organização. De que forma estão relacionados poder e cultura nas organizações e de que modo ambos interagem. Trata-se de uma análise da influência da cultura organizacional nas organizações e na vida das pessoas e, ainda, das mudanças decorrentes do processo sucessório em empresas familiares que possivelmente provoca transformações em sua cultura. Em uma empresa familiar os valores, comportamentos e a cultura organizacional do fundador se confundem com os da sua família. O autor mostrará como fortalecer a cultura organizacional das empresas familiares. Portanto, a cultura organizacional é de extrema importância e tem que ser levada em conta em períodos de mudança, assim como em ocasiões de conflitose divergências acontecidos no ciclo de vida das empresas – especialmente nas empresas familiares, onde algumas mudanças envolvem a troca de pessoas na direção, e outras envolvem mudanças importantes na estrutura e na cultura empresarial. O autor mostrará também que esse processo de motivação tem como característica, estimular a intensidade dos esforços dos indivíduos em determinada tarefa para atingir as metas propostas, onde os objetivos organizacionais e os objetivos pessoais devem ser alinhados para que os indivíduos bem como as organizações alcancem resultados satisfatórios. resumindo introdução a Cultura organizacional 11 introDUção A CUltUrA orgAnizACionAl Numa análise antropológica, tal como refere Neves (2000), o termo “cultura” começou por ser definido como um componente do sistema social, o qual se manifesta pelo modo de vida e pelos artefatos, onde se incluem o conhecimento, a crença, a arte, a moral, a lei, os costumes, hábitos, assumidos pelo ser humano no ambiente que esteja inserido. O emprego da palavra cultura, no cotidiano, é objeto de estudo de diversas ciências sociais. Para tanto, o pensador francês Félix Guattari (1986), reuniu diferentes significados de “cultura” em três grupos, por ele designados Cultura-valor, ideia de “Cultivar o espírito”. É o que permite estabelecer a diferença entre quem tem cultura e quem não tem, se o indivíduo pertence ao meio culto ou inculto, definindo um julgamento de valor sobre essa situação. Por exemplo: Quem tem ou não cultura clássica, artística ou científica. O segundo, designado cultura-alma coletiva, é sinônimo de “civilização”. Ele expressa a ideia de que todas as pessoas, grupos e povos têm cultura e identidade cultural. Por exemplo: a cultura negra, a cultura chinesa, e a cultura marginal, ou seja, a expressão é para dá sentido para a ação dos grupos aos quais fazem parte, com o intuito de caracterizá-los e identificá-los. O sentido terceiro, de cultura-mercadoria, corresponde à “cultura de massa”, nesse sentido, a cultura compreende bens ou equipamentos – como os centros culturais, os cinemas, as bibliotecas e as pessoas que trabalham nesses estabelecimentos – e conteúdos teóricos e ideológicos de produtos – como filmes e livros – que estão à disposição de quem quer e pode comprá- los, ou seja, que estão disponíveis no mercado. Portanto, as concepções ora apresentadas de cultura estão presentes em nosso dia a dia, deixando claro entre as pessoas, ou seja, no sentido elitista, entre os que têm e as que não têm uma cultura clássica e erudita, seja no sentido de identificação com unidade 0112 algum grupo específico, seja ainda em relação à possibilidade de consumir bens culturais. Como se fosse específico da área de conhecimento da antropologia o conceito de cultura, vamos dar um passeio com alguns antropólogos, partindo de uma visão universalista para uma visão particularista, segundo Tomazi (2007,p171) em seu livro: Sociologia para o ensino médio destaca que uma das primeiras definições de cultura apareceu na obra do antropólogo inglês Edwrd B. Tylor (1832-1917). A cultura é um conjunto complexo de conhecimento, crenças, arte, moral e direito, além de costumes, hábitos adquiridos pelos indivíduos em uma sociedade. Trata-se de uma definição universalista, ou seja, onde procura expressar a totalidade da vida social humana, a cultura universal. Com uma visão particularista o antropólogo alemão Franz Boas (1858- 1942), que desenvolveu a maior parte de seu trabalho nos Estados Unidos, ele pesquisou as diferentes formas culturais e demonstrou que as diferenças entre os grupos e sociedades humanas eram culturais, e não biológicas. Por isso, recusou qualquer generalização que não pudesse ser demonstrada por meio da pesquisa concreta. Para Claude Lévi-Strauss (1908-2009), antropólogo que nasceu em Bruxelas na Bélgica, mas desenvolveu a maior parte de seu trabalho na França, a cultura deve ser considerada como um conjunto de sistemas simbólicos, entre os quais se incluem a linguagem, as regras matrimoniais, a arte, a ciência, a religião e as normas econômicas, preocupação também em suas pesquisas, foi analisar o que era comum e constante em todas as sociedades, ou seja, as regras universais e os elementos indispensáveis para a vida social. Um desses elementos seria a proibição do incesto (relação sexuais entre irmãos ou entre pais e filhos), presentes em toas as sociedades. Curiosidade: Foto de Lévi-Strauss introdução a Cultura organizacional 13 Nasceu em Bruxelas, na Bélgica. Iniciou estudos jurídicos em Paris, onde fez concurso para lecionar filosofia. Foi convidado para lecionar na Universidade de São Paulo em 1934, durante a permanência no Brasil, até 1937, realizou breves expedições ao interior e publicou seu primeiro trabalho de caráter antropológico, a respeito dos índios bororo. Retornou ao Brasil para visita em 1985. Da sua elevada condecoração científica francesa, destacam- se Tristes Trópicos, As estruturas elementares do parentesco, Antropologia Estrutural (dois volumes), O pensamento Selvagem e Mythologiques (cinco volumes). Lévi-Strauss afirma que a estrutura é a construção teórica capaz de dar sentido aos dados empíricos de uma certa realidade. Utilizando uma metáfora, pode-se dizer que esse conceito, corresponderia à estrutura de um edifício que, mesmo estando oculta, organiza, distribui, relaciona e sustenta todos os elementos observáveis dessa construção – os andares, as unidades habitacionais, as entradas, as saídas e os corredores. Colocar uma foto de um prédio (edifício) de cinco andares em execução para materializar a metáfora (ao lado ou entre outros prontos). Como já citado à medida que um grupo de pessoas profissionais ou não se reúnem para desenvolver uma atividade ou várias com objetividade, dá inicio também a construção de hábitos, uma linguagem própria por não assim dizer a sua cultura, permitindo a capacidade de adaptabilidade na realidade do qual se encontra inserido. A cultura possui três características: ela não é inata, e sim aprendida; suas distintas facetas estão inter-relacionadas; ela é compartilhada e de fato determina os limites dos unidade 0114 distintos grupos. A cultura é o meio de comunicação do homem (HALL,1978,p.80). Entende-se aqui que a cultura é um conjunto complexo de tudo que constitui a vida em comum nos grupos sociais, aprendido o modo de pensar, sentir e agir e partilhado a uma pluralidade de pessoas. A cultura é concebida como um conjunto de valores e pressupostos básicos expresso em elementos simbólicos, que em sua capacidade de ordenar, atribuir significações, construir a identidade organizacional, tanto age como elemento de comunicação e consenso, como oculta e instrumentaliza as relações de dominação (FLEURY e FISCHER,1989,p.117). A cultura da e na organização é fundamental para o sucesso em que essas mesmas se encontram, são mais do que simples recursos financeiros, estruturas físicas, equipamentos, normas e procedimentos. Para tanto, Torres (1996,p.88) afirma que cultura é um sistema de crenças que dá sentido às atividades do homem. Mas elas também governam as relações que mantêm com seus semelhantes, à medida que lhes fornecem modelos de interação, que se cristalizam em instituições. As organizações são também compostas por estruturas humanas e sociais, com vida própria, que crescem, desenvolvem-se e adaptam- se às exigências da envolvente em que se inserem interna e externa, nas perspectivas econômica, tecnológica, cultural, política e demográfica, e de imediata nas áreas de análise do cliente, mercados concorrentes e fornecedores. Os trabalhos sobre cultura são importantes e pesquisados por vários autores que abordam, quer na dimensão nacional, quer organizacional, tais como Hofstede, Ouchi, Pascale e Athos, Peters e Waterman, Ueno e Sekaran, Desphandé, sendo de realçar a opinião de Denison (1990), refere ser comum a todos os componentes dadimensão comportamental da organização, ou seja, a manifestação das crenças, valores e princípios subjacentes, que se revelaram úteis no passado e que perduram em virtude da utilidade presente e futura. introdução a Cultura organizacional 15 Contudo, para maiores esclarecimentos temos que salientar as características chaves que uma organização valoriza segundo Robbins (2005), entre elas a “inovação e tomada de riscos” a que todos os seus colaboradores estejam estimulados a comprometer-se a inovar e assumir riscos, quando necessário, a “atenção a detalhes” dispensada e demonstrada na análise do seu desempenho e na precisão com que é executada, a “orientação para os resultados”, ou seja, o grau com que as administrações se empenham nos resultados ou produção, mais do que nas técnicas e processos usados para a sua obtenção, a “orientação para as pessoas”, ou seja, em que medida as ações e decisões das administrações tem em consideração o seu efeito sobre as pessoas da organização, em termos de resultados esperados, a “orientação para as equipes”, mais do que para as pessoas em termos individuais, a “agressividade” não em termos de sociabilidade, mas de competitividade e por último a “estabilidade” ou grau de ênfase dado à manutenção do status quo em comparação com o crescimento. É com base nestas características que segundo o autor, as organizações definem a sua cultura, podendo cada uma das características variar em escala entre um grau abaixo até um grau elevado, de acordo com a percepção, sentimentos e entendimentos partilhados no ambiente onde se encontram. Quando Robbins (2005) expressa a cultura dominante sendo os valores essenciais compartilhados pela maioria dos membros da organização. E essa visão macro da cultura que confere à organização sua personalidade distinta. Deixando claro que as subculturas tendem a ser desenvolvidas nas grandes organizações para refletir problemas, situações ou experiências comuns a alguns de seus membros. Podendo essas subculturas serem definidas por designações de departamentos e separação geográfica. Por exemplo: o departamento de compras, podendo possuir uma subcultura compartilhada unicamente por seus membros, incluindo os valores essenciais da cultura dominante acrescidos dos valores específicos daquele departamento. Da mesma forma, um escritório ou unidade de trabalho separados fisicamente do restante da organização pode assumir uma personalidade diferente, contudo, os valores essenciais são mantidos, mas eles também são modificados para refletir a situação específica dessa unidade, ou seja, em conformidade com o meio que esses membros estão inseridos, com seus hábitos, costumes e crenças. unidade 0116 A cultura desempenha diversas funções definidas como bem descreve Robbins (2005): 1ª) Tem o papel definidora de fronteiras, ou seja, cria distinções entre uma organização e as outras; 2ª) Proporciona um senso de identidade aos membros da organização; 3ª) Facilita o comprometimento com algo maior do que os interesses individuais de cada um; 4ª) Estimula a estabilidade do sistema social; e 5ª) Serve como sinalizador de sentido e mecanismo de controle que orienta e dá forma às atitudes e comportamentos dos funcionários. Fica clara a importância dessas funções no ambiente de trabalho atual influenciando os profissionais a desenvolverem sua competência em conformidade com a cultura organizacional. DEFINIÇÃO Cultura organizacional Ao pesquisar a bibliografia relacionada à cultura organizacional, verifica-se que, em geral, os conceitos encontrados são muito parecidos ou se complementam. Para se ter uma visão clara da abrangência de Cultura Organizacional segue o conceito de (CHIAVENATO,2004,p.296), É o conjunto de hábitos, crenças, valores e tradições, interações e relacionamentos sociais típicos de cada organização. Representa a maneira costumeira de pensar e fazer as coisas, e que é compartilhada por todos os membros da organização. A cultura organizacional envolve as normas informais e não escritas que orientam o comportamento dos membros da organização no cotidiano e direciona suas ações para a realização dos objetivos organizacionais. Cada organização tem sua própria cultura corporativa. Uma imagem que traga diversas culturas em quadro só, simbolizando, organização, raça, crença, pessoas(Fig. 1) introdução a Cultura organizacional 17 Embora, as organizações estejam inseridas em meios a contextos semelhantes como sócio-econômico-cultural, apresentam suas particularidades em suas características, em decorrências de variáveis, como por exemplo: o modelo de gestão que cada uma recebe; o tipo de liderança que predomina; o comportamento de seus colaboradores com suas subculturas locais. De acordo com Vergasta (2001), A cultura organizacional não é algo pronto e acabado, mas estão em constante transformação, de acordo com sua história, os seus atores e com a conjuntura. (imagem também mostrando mudanças Crianças brincando criando objetos de madeira e posteriormente esse objeto transformado) e/ou Estado para o outro em mudança de hábitos ou cultural) Alguns autores como (CHIAVANATO, 2000; NASSAR, 2000; VERGASTA, 2001) afirmam que a cultura organizacional pode sofrer mudanças ao longo do tempo, dependendo de condições internas ou externas, não é estática nem permanente, mesmo que a organização resista a elas. unidade 0118 Para Chiavenato (2004), a cultura organizacional consiste em padrões explícitos e implícitos de comportamentos adquiridos e transmitidos ao longo do tempo que constituem uma característica própria de cada empresa. Para esse autor a cultura organizacional pode ser dividida em um nível visível e outro invisível. No nível visível, estão os aspectos formais e envolvem as políticas e diretrizes, os métodos e procedimentos, objetivos, estrutura organizacional e a tecnologia adotada pela empresa. No nível como invisível ou aspectos informais que envolvem percepções, sentimentos, atitudes, valores, interações informais e normas grupais. Estes são mais difíceis de sofrerem mudanças. A figura mostra o iceberg da cultura organizacional. Fonte: Livro Teoria Geral da Administração, Chiavenato (2004,p.297) Para sua efetividade deve-se observar que existem culturas consideradas conservadoras que se caracterizam por sua inflexibilidade e rigidez, como também existem outras que aderem a culturas adaptativas flexíveis para obter maior eficiência e eficácia de seus colaboradores e alcançar as inovações necessárias para manter-se no cenário atual, cheios de transformações e mudanças rápidas. Existe ainda a definição da cultura organizacional holística que apresenta uma concepção diferente dos aspectos pragmáticos encontrados na literatura da área administrativa, no entanto concorda com o fato de que a cultura organizacional é mutável. Como se observa na definição: dada por introdução a Cultura organizacional 19 Weil (1995, p.89). Cultura organizacional holística é um conjunto de valores, conhecimentos e costumes ligados a uma visão não-fragmentada do mundo em que a organização é considerada um organismo vivo em constante movimento, constituindo um sistema de eventos com uma constante interação e interdependência de sistemas maiores ou menores. Saiba mais Holística, de holos, grego, que significa inteiro, não fragmentado. Adjetivo ou substantivo significa uma visão não fragmentada do real, em que a sensação, sentimento, razão e intuição se equilibram se reforçam e se controlam reciprocamente, permitindo ao homem uma plena consciência, a cada momento, de todos os fatores envolvidos em cada situação ou evento de sua existência, permitindo-lhe tomar a decisão certa, no momento certo, com sabedoria e amor espontâneo, o que implica a presença de valores éticos de respeito à vida sob todas as suas formas (WEILL, 1995,p.88). No nosso caminhar no dia a dia, ser holístico é buscar incessantemente ouvir as pessoas, conheceros fatos ou os argumentos de outrem para medir a veracidade do que ouve para depois tomar as decisões necessárias e com o mínimo ou nenhuma margem de dúvidas, disseminando entre os demais confianças, integração, segurança e cooperação mútua. Seguindo essa reflexão pode-se concluir que nas organizações a cultura impregna todas as práticas e constitui um conjunto preciso de representações mentais, um complexo muito definido de saberes, adquire uma configuração sistêmica coerente de significações e funciona como uma argamassa unindo todos os membros em torno dos objetivos e dos mesmos modos de agir. A cultura organizacional exprime a identidade da organização. (...) As culturas organizacionais constituem sistemas de referências simbólicas e moldam as ações de seus membros segundo um certo figurino. Ao servir de elo entre passado e presente, contribuem para a permanência e a coesão da organização. E, diante das exigências que o ambiente externo provoca, diante das unidade 0120 necessidades de integração interna que se renovam de maneira incansável, formam um conjunto de soluções relativas à sobrevivência, à manutenção e ao crescimento da organização (SROUR,1998, p.175-6). A dinamicidade das atividades contemporâneas exige conhecimentos, administrativos, jurídicos e políticos, domínio de técnicas e de especialidades que somente quadros universitários e profissionais detêm, ou seja, induzindo à formação de uma burocracia de colaboradores. Na compreensão de cultura organizacional como pressupostos básicos que um grupo descobriu e desenvolveu ao aprender como “lidar com os problemas de adaptação externa e integração interna”, ou seja, funciona o suficiente para serem considerados válidos e ensinados a novos membros como forma correta de perceber, pensar e sentir em relação a esse mesmo problema, segundo conceito de Schein (1985 apud FLEURY, 1987, p.11). Percebe-se, portanto, que o estudo e a análise da cultura organizacional são de grande relevância para a tentativa de mudança organizacional, bem como para a garantia do desempenho desejado. Como a cultura espelha o pensar e o agir de seu corpo organizacional, sabendo que não importa a busca de implantação de tecnologias, sistema novos de gestão se a cultura interna, as pessoas não compartilharem com as mudanças, ou seja, é imprescindível a incorporação do espírito de confiança e ajuda mútua para as inovações possam ser compreendida e aceita pelos profissionais que compõe a organização. Para tanto, a empresa em seu quadro de colaboradores deve haver uma equipe de profissionais, que possuam o poder de persuasão, para juntos efetivarem todo processo de mudança, ou seja, profissionais que saibam sobre a influência do poder nas organizações. CULTURA E PODER NAS ORGANIZAÇÕES As organizações costumavam mudar decorrente das necessidades e urgências impostas pelo meio em que estavam inseridas. Atualmente, essas mudanças são cada vez mais promovidas pelas empresas na busca incessante pela excelência. Com o desafio de conduzir essas transformações de forma eficaz, surgem muitos trabalhos que destacam as dificuldades enfrentadas pelas organizações em um período de mudança. introdução a Cultura organizacional 21 O conceito de cultura organizacional tem sido bastante discutido nos últimos trinta anos. Deal e Kennedy (1982) e Schein (1985), dentre outros, tratam a cultura como um conjunto de valores e crenças compartilhados de maneira homogênea em toda a organização. Segundo esses autores, a cultura pode ser construída e controlada pelos líderes, mediante um sistema de regras formais e informais aplicados a todos os membros da organização. Fleury (1989) concorda que a cultura possa ser controlada, mas com grande dificuldade, principalmente quando se trata de mudança dos padrões culturais vigentes. Fernando e Miguel (1997, p.26) explicitam que o comportamento de executivos e trabalhadores baseia-se em crenças, atitudes e valores, em certa medida, verdadeiros ciclos viciosos de comportamento são causados por crenças, atitudes e valores. E acreditam que as situações administrativas são filtradas pelo conjunto de crenças e atitudes que cada um de nós tem, assim somos os únicos geradores e mantedores da cultura organizacional de nossa própria empresa. Para Aktouf (1994), a cultura pode ser constituída por meio de interações e os gerentes têm um papel fundamental no estabelecimento das condições para essas interações. Porém, o autor critica o caráter generalista e manipulador de que a cultura pode ser decretada ou mudada de acordo com uma vontade, como uma variável dependente. Ele defende que a cultura é algo muito vasto, profundamente relacionada com as estruturas sociais, a história, o inconsciente, a experiência vivida e o vir a ser coletivo humano, não podendo ser tratada de maneira trivial. Outros autores, como Meyerson e Martin (1987), discutem a existência de subculturas na organização no qual valores, comportamentos e interesses são comumente distintos em determinadas áreas ou instâncias de poder. Em situações de mudança, os padrões de interação existentes podem gerar divergência entre essas subculturas, que por sua vez podem acarretar situações de aceitação ou resistência dos membros da organização. Nessa mesma visão, Ranson, Hinings e Greenwood (1980) defendem que a estruturação da organização é um privilégio de poucos atores e a organização é, portanto, composta por um número de grupos divididos por crenças, preferências de valores e interesses, em subdivisões da cultura unidade 0122 organizacional. Esses autores consideram que as estruturas organizacionais são constituídas pela articulação desses valores e interesses de seus membros. Desta forma, as organizações são locais nos quais as negociações, contestações e disputas entre os membros são rotineiras (HARDY; CLEGG, 2001). Nesse contexto, o dissenso entre esses grupos em situações de mudanças estruturais pode acarretar não apenas divergências culturais, mas também alterações nas dependências de poder. Recomenda-se que a forma de planejar e monitorar a implantação de uma mudança organizacional seja cuidadosamente elaborado. As organizações também influenciam os valores, crenças e interesses, atuando no comportamento dos seus membros. Nessa perspectiva, será abordada nesse estudo a influência da cultura organizacional e das relações de poder numa situação de mudança estrutural. Pettigrew (1987) observa também que tanto a cultura quanto o poder devem ser considerados numa situação de mudança organizacional. Ele tem como referência na discussão de mudança estratégica a visão de processo combinando elementos políticos e culturais, apesar de normalmente expressar em termos analíticos e racionais, sendo a mudança estratégica o produto da legitimação dessas considerações. Para esse autor, estrutura, cultura e estratégia não devem ser tratadas de maneira neutra, mas vistas como capazes de proteger os interesses dos grupos dominantes, então, pode haver reflexos na articulação entre os padrões culturais e os padrões políticos, ou seja, entre os valores e os interesses. Assim, o estudo do sistema de poder vai além da análise da hierarquia defendida por alguns autores numa visão mecanicista. Nessa discussão de poder, Foucault (1976; apud MACHADO, 2003) rompe com a noção de poder com a visão mecanicista. Para ele, o estudo das ciências humanas não é consequente do progresso da racionalidade das ciências exatas, pois são dois tipos de discursos heterogêneos. As ciências exatas defendem a organização do direito em torno da soberania, e as ciências humanas defendem o mecanismo das coerções exercidas pela disciplina. O poder deve, então, ser exercido através deste direito e desta disciplina. O poder é muitas vezes sutil ou imperceptível e por isso não é questionado. O poder pode ser visto em duas dimensões, a superficial e a profunda. A primeira pode ser facilmente observada (explícita),como introdução a Cultura organizacional 23 em situações de decisão e negociação, através de estruturas formais de autoridade e regras. A segunda é implícita, atuando sobre o pensamento e comportamento dos indivíduos sem serem reconhecidas. Ela está embutida na estrutura, na criação das crenças e significados. Essas duas dimensões coexistem e definem o poder e sua atuação. Hardy e Clegg (2001) discutem poder e resistência como situações de dominação e liberação. Seguindo a visão do poder colocado como elemento político e de interesses, concordam que a política é um meio de alcançar e também de escapar do poder. Em situações de mudança, principalmente estrutural, as chances de divergências nessa relação de dominação e liberação tende a ser maior e mais evidente. A manutenção ou busca da autonomia se contrapõe à fuga da responsabilidade. Nesse contexto, o sucesso na implantação da mudança numa organização vai depender do grau de aceitação ou resistência de seus integrantes, que poderá ser maior ou menor conforme a compatibilidade com os seus valores, crenças ou interesses. Por sua vez, essa compatibilidade será o resultado da influência da cultura e dependências de poder da organização, e também das práticas por ela adotada para a implantação da mudança. TIPOS DE CULTURA ORGANIZACIONAL Existem diversos tipos de lugares onde podemos encontrar uma cultura, falarei um pouco sobre a das organizações. De forma básica, a cultura organizacional são os deveres que os colaboradores devem cumprir em relação ao seu local de trabalho, ou mesmo local de estudo, dotada de valores éticos, morais e de princípios, crenças, políticas internas e externas, sistema e clima organizacional é um tipo de organização que traz, apresenta conscientização e responsabilidades. Empresas como a IBM, por exemplo, que tem uma das culturas organizacionais mais bem elaboradas e ativas, possui padrões ótimos de comportamento, crenças e valores verdade para com seus colaboradores. A cultura organizacional de uma empresa deve envolver normas, regulamentos, costumes, políticas administrativas, padrões, tradições, tipos de liderança, máquinas, equipamentos, caráter, e mais alguns itens, tudo aquilo que está presente em uma empresa. A cultura organizacional se refere unidade 0124 a um sistema de valores, compartilhado pelos membros de uma organização e que a difere de uma para a outra. (ROBBINS, 2002). O comportamento humano nas empresas vem sendo objeto de estudos científicos há bastantes tempos, porque ele se tornou fundamental nas relações empregatícias e nas relações de contratos de terceirizados, assim como no relacionamento com os clientes. Quando as regras, processos estão alinhados adequadamente, o cliente percebe no atendimento exemplar, e isto acontece de forma natural por parte da gestão, pois as engrenagens funcionarem bem e de forma transparente. A administração empresarial ideal é aquela que consegue atingir seus clientes, até mesmo sem conhecê-los, pois ela estará trabalhando de forma 100% alinhada com seus negócios, começando no primeiro contato com os colaboradores de entrada. Algumas falhas inadmissíveis que existem em muitas empresas latino-americanas: - Comunicação precária: os acionistas têm objetivos ambiciosos e visão clara do futuro, porém não há a comunicação ao restante da organização; - Processos: não são estabelecidos processos sistemáticos e confiáveis pra converter oportunidades e idéias em novos negócios e - Cultura: não há esforços para se construir uma cultura organizacional forte. Componentes da Cultura Organizacional Toda cultura se apresenta em três diferentes níveis: artefatos, valores compartilhados e pressuposições básicas. Os artefatos são as coisas concretas e palpáveis que podem ser capturadas pelos sentidos quando cada pessoa se depara com uma organização. Acrescentando os produtos, serviços, e os meios padronizados que se comportam os membros da organização. Dentre os três, este é o primeiro nível de cultura de uma organização. Ao percorrer alguma parte de qualquer organização, nota-se como é o estilo que as pessoas se vestem, estilos e sotaques ao falar, os assuntos que as pessoas conversam, seus comportamentos, quais são suas prioridades e o que é relevante para elas. Os artefatos são todos e quaisquer eventos que podem nos indicar como é a cultura da organização. Os símbolos, as palestras, as histórias, os ícones, os introdução a Cultura organizacional 25 lemas, as cerimônias anuais, etc. são exemplos de artefatos. Constitue valores compartilhados, o segundo nível da cultura de uma organização, são valores relevantes, ou seja, as crenças que definem os porques das pessoas fazerem o que fazem dentro das organizações. Funcionam como justificativas aceitas e como uma veracidade adotada por todos os membros no qual vem definido desde a origem da empresa e consequentemente da cultura. As Pressuposições Básicas é o nível mais intrínseco e profundo da cultura organizacional que são as crenças internalizadas no nosso inconsciente, é tudo que percebemos, sentimos e pressupomos, ou seja, tudo que acreditamos. A cultura descreve as maneiras de fazer as coisas em prol da organização, através do uso do bom senso onde nem se precisa falar para que possamos realmente fazer as coisas. Os colaboradores aprendem a cultura organizacional através de várias formas, como histórias de contos e passagens sobre o fundador da companhia, lembranças, sobre a dificuldade ou eventos especiais, regras de conduta e acertos e erros, que geralmente serve de base sólida para legitimar as práticas no presente. Os rituais e cerimoniais são sequências repetitivas de atividades que expressam e reforçam os valores principais da organização. Por exemplo: as cerimônias de fim de ano e as comemorações do aniversário da organização são rituais que reúnem e aproximam os colaboradores para motivar e reforçar os aspectos culturais da organização, ou seja, contribuindo para minimização e/ou eliminação de conflitos, mantendo o foco principal da organização que são seus objetos e metas. Quanto a símbolos materiais constituindo a comunicação não verbal como,a arquitetura do edifício, as salas e mesas, o tamanho e arranjo físico dos escritórios constituem símbolos materiais que definem o grau de igualdade ou diferenciação entre as pessoas e o tipo de comportamento (como assumir riscos ou seguir a rotina, autoritarismo ou espírito democrático, estilo participativo ou individualismo, atitude conservadora ou inovadora) desejado pela organização. Portanto, dentro das organizações é essencial a utilização da linguagem como meio de identificar membros de uma cultura ou subcultura. Ao aprender a linguagem, o membro confirma a aceitação da cultura e ajuda a preservá-la. As organizações desenvolvem termos singulares para descrever equipamentos, escritórios, pessoas - chaves, fornecedores, concorrentes e unidade 0126 clientes. A cultura organizacional se caracteriza pela sua aceitação implícita pelos seus membros. Ela é também reforçada pelo próprio processo de seleção, que elimina as pessoas com características discrepantes com os padrões estabelecidos e ajuda a preservar a cultura. Motivação e Cultura Organizacional Motivação é um tema muito escrito e estudado, existem diferentes modelos e propostas: grupos de apoio, premiações, um bom clima organizacional, boa liderança, oportunidade de crescimento, participação nos lucros e muitos outros. Mas quantas empresas já não tentaram diferentes soluções? Quantas dessas empresas descobriram que depois de um tempo a eficácia diminui e é preciso uma nova ferramenta? Quantas empresas simplesmente não conseguem motivar seus funcionários? Quantas empresas estão gastando uma fortuna com o intuito de elevar a motivação e, consequentemente, a produtividade de seus funcionários? A motivação deve ser a manutenção da empresa no mercado, mas, sobretudo, o desejo de realização doscolaboradores por fazer o que faz com prazer, em assegurar a razão da existência e da sobrevivência da organização são seus clientes. A motivação maior que a empresa pode proporcionar a seus colaboradores é elaborar uma seleção de pessoal em que contrate pessoas que se sintam bem com a cultura da sua empresa. Simples, porém, dificilmente aplicável na maioria das empresas, já que pouquíssimas se preocupam em gerenciar a sua cultura. Em um estudo de cinco anos um professor de Standord, Jim Collins, descobriu que algumas empresas não precisavam motivar seus funcionários e eles consideravam a sua organização a melhor do mundo para trabalhar. Contudo, segundo os empregados, a empresa era a melhor, caso você concordasse e se identificasse com a cultura dela. Caso contrário, seria o pior lugar do mundo. Foi preciso um estudo para mostrar o óbvio: se você está em um lugar no qual gosta, acredita e se sente bem não há necessidade de motivação além dessa. Veja o caso da Nordstrom (empresa de departamentos norte-americana): seus funcionários são tão apaixonados por ela que se autointitulam nordies e são capazes de fazer qualquer coisa por um bom atendimento (que é um valor importantíssimo para a empresa): introdução a Cultura organizacional 27 • Uma funcionária fez, pessoalmente, um cachecol para uma cliente que precisava do tamanho exato para que ele não agarrasse no aro da cadeira de rodas. • Outro esquentava o carro dos clientes no inverno. • Outro nordie aceitou uma devolução de uma corrente antiderrapante. O detalhe é que a Nordstrom não vende este tipo de produto. Além disso, esta empresa tem um sistema de metas muito interessante: você deve escolher uma meta muito alta e depois conseguir ir além dela. E ninguém reclama. Quem está lá ama o que faz, sente que lá é o seu lugar: a melhor empresa do mundo para trabalhar. A Nordstrom não precisa se preocupar em motivar seus funcionários, eles já estão motivados o tempo todo. Ela faz isso através de um excelente gerenciamento da cultura e um rigorosíssimo processo seletivo e acompanhamento ao longo do primeiro ano. Se o funcionário se identifica 100% ele fica, senão, rua. Eles possuem uma taxa de 50% de demissões e abandono no primeiro ano. Resumindo, só fica quem realmente quer. E não pense que isso existe apenas em outro país, já conheci empresas brasileiras que fazem isso. É assim que se motiva internamente: contrate aqueles que se sentirão motivados simplesmente por trabalharem na sua empresa. Ok, eu sei que é lindo no papel, mas e na prática? Gerencie sua cultura. Esse é um aspecto que vejo em pouquíssimas empresas, algumas até tentam gerenciar sua cultura, mas infelizmente fazem de forma artificial. E esta não é uma tarefa fácil. A cultura é algo muito amplo e antes de você pensar em ferramentas para mensurá-la já digo de antemão, não o faça. O resultado será parcial e trará mais estereótipos do que clareza. A cultura organizacional é complexa e abrangente demais para ser mensurada por um instrumento. A melhor forma de gerenciá-la é conhecer primeiro o que é cultura, como se forma, como muda, como evolui, como se transmite, como identificar alguns elementos e como a liderança pode influenciá-la positivamente. É conhecimento na área de gestão cultural, já que um gerenciamento mal estruturado pode ser tão prejudicial quanto não fazer nada. A CULTURA ORGANIZACIONAL EM EMPRESAS FAMILIARES A cultura organizacional das empresas familiares centra-se, unidade 0128 primordialmente, na figura de seu fundador, que inculca seus próprios valores e comportamentos e os da família na empresa e nos negócios. No estágio inicial de uma empresa familiar são, assim, lançadas as bases para a formação e desenvolvimento de sua cultura. O processo sucessório acarreta, entretanto, o surgimento de novas lideranças que por vezes apresentam padrões simbólicos, crenças e valores distintos daqueles que até então vigoravam na organização, o que pode acarretar mudanças no estilo de condução dos negócios, na estrutura da empresa e em sua cultura. Em outras palavras, as mudanças decorrentes do processo sucessório em empresas familiares provavelmente implicam transformações em sua cultura. Nesse sentido, assinala-se que as crises provocadas pela sucessão nas empresas familiares têm como ponto de partida o sucedido, com sua própria imagem na família e na empresa, seu estilo de vida e de relacionamento com a comunidade externa, valores estes que constituem a própria cultura da organização e que são difíceis de serem assimilados pelo sucessor. Por essa razão, o sucessor, seja ele membro da família ou pessoa independente, deve ser escolhido com o maior cuidado, de modo que não pairem dúvidas sobre sua capacidade de manter, na medida do possível, os valores esposados pelo sucedido, o que poderá assegurar uma transição harmoniosa e sem prejuízos para a organização, muito embora o processo sucessório sempre acarrete alterações nos componentes culturais da empresa. É fundamental que a cultura organizacional seja levada em conta em períodos de mudança, assim como em períodos de conflitos e diversificações ocorridos no ciclo de vida das organizações, por outro lado, referindo-se especificamente às empresas familiares, ponderam que “algumas transições de liderança envolvem somente uma troca de pessoas na direção da empresa, mas outras envolvem mudanças essenciais na estrutura e na cultura dela”. Desse modo, defendem que as famílias, ao vislumbrarem a possibilidade de se engajarem em uma estrutura organizacional diferente daquela com a qual estão acostumadas, devem levar em consideração as implicações da mudança, entre as quais se insere, necessariamente, a fundamental transformação da cultura empresarial, em que pesem tais considerações, a análise da literatura nacional e estrangeira revela que as discussões a respeito das possíveis influências da sucessão na cultura de empresas familiares têm se restringido ao plano teórico, conforme se evidencia nas posições dos autores supracitados, não tendo sido encontrados estudos introdução a Cultura organizacional 29 destinados a testar diretamente tal relação. Desse modo, as investigações que mais se aproximam dessa questão têm se limitado a abordar as consequências que as mudanças na organização trazem para a sua cultura, embora tais mudanças não estivessem diretamente relacionadas ao processo sucessório. Ao levantar estudos que visavam caracterizar a cultura de organizações familiares no Brasil, verificou-se que: 1. Superestimam-se as relações afetivas em detrimento de vínculos organizacionais, com uma freqüente valorização da confiança mútua, independente de vínculos familiares; 2. Há uma grande valorização da antigüidade, considerada como um atributo que supera a exigência de eficácia ou competência; 3. Há uma exigência de dedicação, postura de austeridade e expectativa de alta fidelidade em relação à organização; 4. É comum prevalecer ou se superestimar aspectos emocionais quando decisões têm que ser tomadas; 5. O autoritarismo e o paternalismo estão presentes nas relações entre chefias e seus subordinados; 6. Há preferência pela comunicação verbal e pelos contatos pessoais; 7. O processo decisório tende a ser centralizado, residindo no chefe à última instância para a tomada de decisões; 8. O processo decisório do dirigente brasileiro tende a um padrão mais espontâneo, improvisado e por impulso; 9. A provisão de cargos, promoções e premiações geralmente observam critérios de confiança, lealdade e antiguidade dos trabalhadores, em detrimento de sua produtividade ou da qualidade do serviço prestado. O impacto que a cultura familiar provoca nos processos decisórios da empresa. Em seu clássico modelo de cultura organizacional separa crenças, valores, ritos, rituais e artefatos, nessa ordem, numa escala crescente de visibilidade. Nela, as crenças (natureza humana, justiça, e igualdade) são os aspectos menos visíveis de uma culturaorganizacional, e os artefatos (decoração, uso do tempo e do espaço), os aspectos mais visíveis. Acreditamos que mais fortes até do que as crenças de uma organização familiar são os processos emocionais inerentes a esse tipo de empresa. Em qualquer organização, padrões aceitáveis de comportamento unidade 0130 são desenvolvidos ao longo do tempo e ensinados como a forma correta de pensar, perceber e sentir. Quando a família está envolvida na empresa, esses padrões dependem fortemente dos processos emocionais dos familiares: a cultura da família acaba se tornando a cultura da empresa e a estrutura (hierarquias, autoridades, responsabilidades) e os papéis na família (o filho com mais poder, por exemplo) transbordam para o ambiente de negócios. A análise da cultura de uma empresa familiar deverá levar em conta que ela se articula sobre as seguintes premissas: • Toda cultura tem seus valores relacionados com o dinheiro, o poder, o prazer, o êxito e a eficácia; • A cultura em uma empresa funciona como cimento e substrato de sua estratégia, de sua estrutura de responsabilidades e dos sistemas de direção que configuram sua organização; • Suas forças mais básicas são a unidade e o compromisso dos integrantes da família que nela trabalham. Pensando no sucesso, a empresa familiar levaria uma interessante vantagem uma vez que sua “familiaridade”, ou seja, o recurso intangível resultante do envolvimento familiar lhe confere importante diferenciação de seus concorrentes. Desde meados da década de 1980, o campo de estudos em empresas familiares evoluiu significativamente no entendimento de que tanto a composição organizacional como as capacitações de empresas familiares são diferentes das não-familiares. O negócio familiar tem sido descrito como apresentando um ambiente de trabalho único, que inspira um maior cuidado e lealdade dos funcionários. As relações familiares gerariam motivações não usuais, estimulariam melhor comunicação (pela linguagem da família) e maior confiança. Adicionalmente, o processo decisório seria mais rápido por estar centralizado nos membros da família, e geraria menores custos de transação. Por fim, haveria ainda a questão do eventual prestígio e reputação do nome da família no Estado, na região de sua atuação ou, em alguns casos, no próprio país de sua sede, funcionando como uma cobertura econômica e política. Existe considerável material acadêmico mostrando que empresas familiares objetivam uma combinação de interesses financeiros e não financeiros. O equilíbrio entre interesses familiares e não-familiares parece introdução a Cultura organizacional 31 ser uma busca constante nessas empresas. Dependendo da indústria e do momento econômico vivido, o grau de atenção dada pelo proprietário à família e atenção dada aos negócios poderia determinar um maior ou menor sucesso. Quando consultadas sobre seus principais objetivos, empresas familiares parecem apontar para alvos similares aos de qualquer empreendimento com fins lucrativos. Cultura na Média Empresa Familiar: Família X Negócios As empresas familiares são predominantes no Brasil e, dentro da realidade dos pequenos municípios, elas estão ainda mais presentes. As micro e pequenas empresas, das quais, segundo pesquisas do SEBRAE (PESQUISA ..., 2007), 73% são familiares, também são grandes geradoras de empregos e de benefícios sócio-econômicos. Esse tipo de empresa possui características positivas em sua cultura, que compensam suas fraquezas, como por exemplo, a forte valorização da confiança, expectativa de alta fidelidade, e nível de dedicação do funcionário à empresa – valores que chegam a se sobrepor à eficiência e eficácia profissional. Nestas empresas, o crescimento é visto como resultados e não como metas. As empresas familiares bem sucedidas que tem observado, Lansberg (1999) cita que investem muito tempo e esforço, estimulando o espírito de cooperação, e preservando a harmonia entre os seus membros. Cada um desenvolve um forte compromisso pessoal de fazer a sua parte, para apoiar os padrões estabelecidos e manter o nível de confiança no grupo. Na Plásticos Borsato, a cultura de empresa familiar está presente, revelando características peculiares de média empresa, como o fato do ambiente de 19 trabalho se tornar parecido com o da família. A empresa tem valores coincidentes com os de uma família (VENTURA apud REFERENCIAL, 2007). O especialista em empresas familiares, Ward (2007), observa que o sucesso de um negócio familiar deve se apoiar em um efetivo planejamento, que oriente os gestores a pensar em seus desafios futuros, e que seja fundamentado, principalmente em três premissas: - a maioria das empresas atravessa ciclos de vida evolutivos e previsíveis; unidade 0132 - pode-se aprender muito com as experiências de outras empresas e famílias; - a cultura da empresa familiar, sua direção e sua organização têm uma influência muito maior nos lucros da empresa do que qualquer outro fator. Como se observa, faz-se necessário que, na Plásticos Borsato, esses valores sejam ressaltados. O processo de comunicação a ser estabelecido deve levar em consideração essas peculiaridades de empresa média e familiar, e se adequar a este contexto. Dessa forma, torna-se importante, também, o estudo do clima organizacional, para conhecer a realidade da empresa. EXERCÍCIO 1) Escolha uma empresa qualquer e faça uma análise de sua cultura, das suas relações de poder bem como a estrutura organizacional adotada. Quais as propostas de mudanças você indicaria para aumentar a performance da organização analisada? 2) Você acredita que as pessoas são a peça chave do sucesso de uma organização? Justifique a sua resposta. 3) Relate uma experiência real onde a cultura e/ou as pessoas da organização influenciaram a gestão organizacional. UniDADE 02 Cultura organizacional e Cultura Na unidade II o objetivo é procurar compreender a influência da cultura organizacional nas organizações e na vida das pessoas, bem como o entendimento da presença do ‘jeitinho brasileiro’ nas organizações brasileiras, das tipologias comparativas de culturas, a influência da cultura organizacional no comportamento dos indivíduos e os efeitos positivos e negativos de sua presença ou ausência. Dessa forma, serão comentados vários assuntos abordando a cultura organizacional, a cultura brasileira e os estereótipos culturais, para que o tema desse texto seja desenvolvido e entendido da melhor maneira possível. resumindo Cultura organizacional e Cultura 35 CUltUrA orgAnizACionAl E CUltUrA DISTINÇÃO A Cultura organizacional assumiu-se como um conceito essencial à compreensão das estruturas organizativas. Segundo Infestas Gil (1991), aquela permite relacionar e aplicar variadas noções que até muito pouco tempo eram consideradas fatores passivos: os valores, a qualidade de vida local de trabalho, a identidade. A cultura de uma organização será, pois um conjunto de características que a individualiza e a torna única perante qualquer outra. Assume-se como um sistema de valores, expressos através de rituais, mitos, hábitos e crenças comuns aos membros de uma instituição, que assim produzem normas de comportamento genericamente aceitas por todos. A cultura organizacional compreende um conjunto de forças importantes que influenciam o comportamento organizacional. Compreende, além das normas formais, também o conjunto de regras não escritas, um padrão de crenças e expectativas compartilhadas pelos funcionários que produzem normas inconscientes. Estas por sua vez, podem moldar poderosamente o comportamento dos indivíduos e grupos dentro das empresas. Para Bilhim (1996), a cultura significa mais do que as normas ou valores do grupo, traduzindo-se sim numa resposta genérica aos problemas que podem surgir baseadas em sucessos conseguidos perante situações passadas. Formada por um conjunto de características que não são inatas, e que se criam ese preservam através da comunicação e cooperação entre indivíduos numa sociedade, dessa forma, pode-se concluir que a cultura é transmitida ao longo do tempo. unidade 0236 A cultura organizacional se refere a um sistema de valores, compartilhado pelos membros de uma organização e que a difere de uma para a outra. (ROBBINS, 2002). Cultura Organizacional e “Jeitinho Brasileiro” Um dos temas mais discutidos na atualidade na literatura brasileira sobre cultura organizacional diz respeito ao ‘jeitinho brasileiro’ e sua interferência nas organizações. Um conceito comum de ‘jeitinho brasileiro’ oferecido pelos autores nesta tradição é: “o genuíno processo brasileiro de uma pessoa atingir objetivos a despeito de determinações (leis, normas, regras, e ordens) contrárias” (MOTTA e ALCADIPANI, 1999, p. 9). Para a maioria das pessoas o ‘jeitinho brasileiro’ é visto como um método de driblar as regras e leis que são impostas e como uma ferramenta de esperança diante as dificuldades, um jeito simpático, bem humorado e criativo. Há vários anos o povo brasileiro tem uma fascinação pelo que vem de fora, fato este que já está presente no dia-a-dia das pessoas. Em outros países de Terceiro mundo ainda contemplam dessa mesma ideia, onde num complexo de inferioridade todos acham que tudo que é estrangeiro é melhor em termos de qualidade de produto e/ou serviços e segurança. O “jeitinho brasileiro”, como define Motta (1997), “é uma prática cordial que implica personalizar relações por meio da descoberta de um time de futebol ou de uma cidade natal, ou qualquer interesse comum”. É uma maneira de conseguir driblar normas através da simpatia, da criatividade e sensibilidade que são características presentes no cerne da sociedade brasileira. É uma prática menos agressiva que apelar para o prestígio de algum amigo ou parente. A globalização é a grande exigência do mercado atual têm obrigado as organizações a se adaptarem rapidamente às novas maneiras de administrar. Para isso, é necessário conhecer suas raízes e características pessoais para adaptá-las a esse processo de transformação. É no cotidiano organizacional que podemos encontrar explicações para certas atitudes e problemas através dos traços da cultura nacional. Cultura organizacional e Cultura 37 Aspectos positivos da influência da Cultura Organizacional Os impactos positivos são produzidos na medida em que se percebe que a cultura é manejável no sentido de produzir a otimização dos resultados organizacionais. A produção de comportamentos funcionais que contribuem para que se possa alcançar as metas organizacionais; distinguindo a organização dentre as demais existentes, a cultura permite o desenvolvimento da identidade externa; servindo também de mecanismo de controle social, pois define a realidade com a qual os membros irão viver. A cultura proporciona para seus membros um esquema interpretativo, ou a maneira de se fazer senso com os arranjos de posições e atividades em uma organização, sendo assim uma fonte de alta confiabilidade nas organizações (WEICK,1995, pag. 1-82). Aspectos negativos da influência da Cultura Organizacional O conflito ainda existe em torno da possibilidade de se mudar ou não uma cultura não permeia o esfriamento do ânimo e do entusiasmo daqueles que acreditam, e defendem que a cultura não só muda como isso só pode ocorrer de forma planejada. Ainda que o planejamento seja assumido como possível, é consenso entre os adeptos dessa corrente que o processo não é simples, não é barato e não se faz sem provocar alguns traumas como efeito colateral. Existem ainda outros fatores que apontam que a cultura está conectada com outros elementos que sofrerão alterações, tais como estratégia, estruturas, sistemas de recompensas, habilidades e procedimentos, dentre outros. Tal pensamento ainda semeia que não é qualquer mudança de comportamento que implica mudança cultural. Conflitos internos, resistência à mudança e fortalecimento de uma subcultura, que pode ser desenvolver em outras unidades da organização, resultando em falta de coordenação interna que atinge direta e adversamente as relações externas. unidade 0238 PARA REFLEXÃO Para finalizar, segue um exercício de fixação para entender de forma clara um processo de sinergia no ambiente de trabalho. Realize entre amigos a brincadeira “Escravos de Jó”, por meio desta atividade antiga que está atualmente na mesa de grandes empresas, aprendemos que no clima organizacional não adianta querer ganhar sozinho, para ter sucesso e chegar ao ápice da carreira precisamos fazer com que todos caminhem em sinergia. O seu sucesso é saber que num clima organizacional você contribui para o sucesso de muitos, o seu destaque foi a forma que você enfrentou os desafios e apoiou sua equipe, esta atitude faz de você um líder de sucesso e um destaque perante os outros pela sua contribuição no clima organizacional. UniDADE 03 Formas de Manifestação da Cultura organzacional Na unidade III a cultura nacional brasileira é abordada como um fator de grande influência em cada organização e por isso se torna absolutamente necessário conhecer o contexto em que os sistemas sociais produtivos estão inseridos com destaques para os traços brasileiros na formação da cultura organizacional. resumindo Formas de Manifestação da Cultura organizacional 41 ForMAS DE MAniFEStAção DA CUltUrA orgAnizACionAl OS RITOS NAS ORGANIZAÇÕES Somente o uso da palavra ritual no ambiente das organizações já pode causar estranhamento, a princípio, para pessoas que as desconhecem. No entanto, as organizações, enquanto estruturas sócioculturais, são locais propícios à observação das transformações que acontecem na sociedade contemporânea. Elas acompanham de forma própria e múltipla as alterações dos paradigmas científicos. O pensamento moderno, que atribuía à razão a capacidade de gerar um progresso científico absoluto, suficiente para responder a todos os anseios humanos, fracassa; percebe-se que a ciência concreta não explica sozinha toda a realidade; o conhecimento não é inabalável como se esperava. Como consequência tem-se a pósmodernidade, que não representa um período histórico posterior, mas sim uma reflexão sobre esta visão de mundo mecanicista. Assim, o velho paradigma baseado na certeza do conhecimento científico como verdade que, para ser descoberta independe do observador e de um processo de conhecimento, é substituído pelo novo paradigma que reconhece as teorias científicas como válidas, porém limitadas. Com os conceitos relativizados na sua função de descrever o real, é preciso ir além deles, é necessário acrescentar a subjetividade dos intérpretes que contribuem com suas experiências de vida, emoções, sentimentos, percepções. O conhecimento passa a ser visto como uma rede de interpretações humanas, em constante processo de transformação, de aprimoramento, ou seja, é algo inacabável. Esta tendência intelectual, representa a quebra de um paradigma social, já que seu impacto abrangente não fica restrito ao mundo acadêmico unidade 0342 e reflete diretamente nas instituições da sociedade, portanto, também nas empresas. Desta forma o universo do saber e o do humano são potencialmente complexificados; a compreensão de ambos pode tornar-se fragmentada, reducionista ou míope se for vista como passível de conceituação, ou seja, há que se considerar para este intento, possíveis interpretações que precisam combinar várias perspectivas de conhecimento, além de estarem sempre em construção. Para isso, várias ciências humanas unem-se à administração, contribuindo para a compreensão do Ser no ambiente do trabalho. O que tem início com as contribuições teóricas e práticas das ciências do comportamento organizacional, que orientam as empresas no desenvolvimento de uma melhor compreensão do comportamento humano, aliadas ao processo de aprendizagem contínuo que é desencadeado no mundo dos negócios, avança com os estudosda cultura organizacional (que) lançaram luz sobre a organização como um sistema epistemológico. Além disso, destacaram a importância dos fatores humanos como por exemplo valores, significados, compromissos, símbolos e crenças, abrindo caminho para o [...] aspecto tácito do conhecimento. E mais, reconheceram que a organização, como um sistema de significado compartilhado, pode aprender, mudar e evoluir ao longo do tempo através da interação social entre seus membros e entre si mesma e o ambiente. (NONAKA, 1997, p. 49). Neste processo interno e sistêmico pelo qual passam as empresas, que reconhece a importância do humano como agente do conhecimento, potencializa-se o recurso simbólico para a compreensão e comunicação entre as pessoas, afim de se atingir, por meio dos ideais compartilhados, a eficácia necessária. Entretanto, a esfera simbólica não é novidade no meio organizacional, sempre esteve presente no âmbito do trabalho humano, conferindo-lhe um sentido que ultrapassa o econômico. Contudo, na contemporaneidade, com um mercado globalizado e altamente competitivo, em que as organizações para existirem priorizam seus recursos intangíveis provenientes das pessoas, além de conviverem com frequentes mudanças pelas quais passam necessariamente, mudam o conceito de trabalho, que passa a ter um sentido Formas de Manifestação da Cultura organizacional 43 mais cognitivo e intangível, não só para as empresas, mas também para os trabalhadores. Assim, surge uma nova organização-empresa (que) é não somente um lugar onde o trabalho é fonte de identidades profissionais e onde se observa uma regulação cultural, mas também se transformou num ator maior da definição de nossas sociedades modernas. E é neste contexto que a esfera simbólica ganha dimensão fundamental para se compreender as relações humanas no ambiente do trabalho. Esta perspectiva mostra que as práticas de gestão ultrapassam a sua função administrativa, transformando-se em verdadeiros rituais, ou melhor, vivências organizacionais, que têm a finalidade de oferecer aos participantes um sentido que está além do material, e que é indispensável para esta nova “sociedade do conhecimento”. Isto, em parte, pode ser explicado pelas capacidades (históricas e sociais) que os ritos têm de “refazer e reforçar laços, mesmo que expressando seus conflitos [...], renovar e revivificar crenças, propagar as ideias de uma cultura [...], (além) de dar-lhe uma forma, delimitar papéis e tentar estruturar nos comportamentos a maneira pela qual uma sociedade ou grupo social se pensa” (Riviére, 1989, p. 151). Entretanto, e principalmente, é preciso enfatizar que sua relevância à cultura organizacional deve ultrapassar esta significação, que já os revela como diferentes de outras ações estereotipadas. Isto só é possível quando se compreende que os ritos contêm significados que os ligam a uma determinada cosmologia, o que determina sua sacralidade e, consequentemente, a sacralização das tarefas executadas por eles, ou seja, “eles dão a impressão de uma vida mais intensa assim como de uma espécie de engrandecimento dos sentimentos e do poder do homem” (RIVIÉRE, 1989, p. 154). A eficácia dos ritos é determinada pela condição, que lhes é possível, de conseguirem a integração das diferenças, eles permitem por meio desta ambiguidade que o ambiente organizacional, cada vez mais propício ao confronto de diversas culturas provenientes da heterogeneidade competitiva de seus integrantes, torne-se coeso a um ideal organizacional, o qual transcende os interesses individuais em prol da coletividade, a empresa. No entanto, isto não os coloca sempre a favor do “status quo”, os ritos operam mudanças, que são reais e não simbólicas, numa realidade que é constantemente negociada. Aliás, eles sempre transformam a realidade porque permitem as passagens e mudanças necessárias ao desenvolvimento da vida social, o unidade 0344 que reafirma sua eficácia para o ambiente organizacional contemporâneo. Enfim, estas “organizações-empresa” estão inseridas numa economia (pós)- capitalista, em que o capitalismo do tipo empreendedor, entre outros, é o valorizado pela cultura empresarial que para tornar-se empreendedora precisa desenvolver atitudes, valores e formas de atuação empreendedoras nas pessoas. Como consequência “a cultura das empresas está sendo elevada ao nível de virtudes e transformada em valores “nacionais” no mundo ocidental” (BARBOSA, 2002, p. 40). Portanto, é este contexto de privilegiamento epistemológico da esfera produtiva que requer um maior desenvolvimento do conhecimento, principalmente sobre os diferentes significados das diferentes éticas sobre o trabalho nas organizações, sobre o processo de mudança organizacional, e outros aspectos da vida empresarial (BARBOSA, 2002). Para isso, acredita-se na relevância da observação dos rituais, por meio deles, não se desvelaram significados absolutos, mas com certeza, muitos virão à tona, revelando diferentes sentidos e valores, que compõem este ambiente complexo das empresas contemporâneas. Entretanto, vale lembrar, que ao proceder a investigação desta realidade, não se pode esquecer de manter um distanciamento crítico, grande lição que ensinou a modernidade. A INFLUÊNCIA DOS TRAÇOS BRASILEIROS NA FORMAÇÃO DA CULTURA ORGANIZACIONAL Nesta tentativa de compreender a cultura de uma organização faz-se necessário observar questões macro-ambientais que permeiam a composição cultural. Os traços característicos da sociedade brasileira formam um quadro cultural que está presente nas organizações, mesmo nas multinacionais, já que essas são parte da sociedade e a grande maioria das pessoas que atuam nelas foi criada, vive e solidifica a própria cultura brasileira. Nesta linha de pensamento Srour (2000, pag, 139) ressalta que “as formas de gestão capitalistas têm caráter universal. Mas a maneira delas se realizarem ou adquirirem corpo assume feições peculiares segundo os países”. Hoje, já constitui senso comum, principalmente entre os países de Primeiro Mundo, empresas multinacionais ou em processo de internacionalização, crer que o sucesso empresarial depende da compreensão das condições locais. As diferenças das culturas nacionais são um dos Formas de Manifestação da Cultura organizacional 45 principais elementos a serem considerados ao se adotar uma nova tecnologia gerencial, principalmente quando o modelo envolve mudanças de valores e crenças fortemente arraigados na cultura do país. O trabalho de Hofstede (1980), uma pesquisa aplicada em 60 países, com mais de 160 mil executivos e empregados de uma grande corporação internacional americana, corrobora a discussão aqui apresentada. Embora se tratasse de uma única organização com filiais, o pesquisador encontrou diferenças significativas entre países, no que se refere ao comportamento e atitude de empregados e executivos. Sua descoberta reporta-se à importância da cultura nacional. Entretanto, é importante advertir que a influência da cultura nacional sobre as organizações pode variar de instituição para instituição, de acordo com características específicas do ramo e do negócio, tais como: força da concorrência, inserção da tecnologia de ponta, origem dos proprietários, tamanho da organização, localização espacial, entre outros (FREITAS, 1997; BORINELLI e FARIA, 1994). No Brasil, ainda são poucos os pesquisadores que estudam a aproximação entre cultura organizacional e cultura brasileira (MOTTA e CALDAS, 1997; BETHLEN, 1999; WOOD JR e CALDAS, 1998; FREITAS, 1991; PRATES e BARROS, 1996). Esses estudos analisam a cultura das empresas no ambiente brasileiro de negócios, levando em consideração as raízes, a formação e os traços atuais da cultura do país. Baseado em obras da sociologia e da antropologia brasileira, especificamente nas obras de Holanda (1995), Chauí (2000), Vianna (2000) e Carvalho (2001) e nos trabalhos sobre cultura organizacional de Wood Jr e Caldas (2000),Prates e Barros (1996) e Freitas (1997) foi possível levantar uma grande gama de traços culturais brasileiros. Estes foram agrupados em vários aspectos, sumarizados a seguir e podem ser úteis para explicar o comportamento organizacional atual. Os autores propõem ser possível encontrar traços da cultura nacional, ressaltados abaixo, senão todos, certamente alguns deles, presentes no cotidiano das organizações brasileiras. Assim, destaca-se: • O personalismo, um dos traços mais marcantes, significa que no Brasil a malha de relações e o poder das ligações estabelecidas pelo indivíduo valem mais do que os direitos definidos por lei, sua competência técnica ou especialização; • A lealdade pessoal, que valoriza mais as necessidades dos unidade 0346 membros de um grupo particular do que a demanda de um sistema maior no qual ele está inserido; • O descompasso entre normas e prática social faz com que a lei só exista para os indiferentes ao sistema ou desconhecidos, isto é, o formalismo “às avessas” do sistema legal, ou seja, a lei que deveria ser igual para todos, acima do arbítrio do governo e do poder privado, tornou-se ao longo da história apenas um instrumento de castigo para ser usado em benefício de alguém. Responsável por esconder a desigualdade social e moral por detrás de uma pretensa igualdade legal; • O “jeitinho brasileiro” e o “quebra-galho” que denota, por um lado, a flexibilidade e a criatividade do povo brasileiro, representando uma saída pessoal para lidar com a rigidez do sistema formal, mas pode redundar em sistema de favorecimento ou mesmo espoliação do patrimônio público e privado; • Forte presença do poder patriarcal de forma que a hierarquia é estruturada com base na concentração do poder de mando e decisão sobre uma única figura que regulará, através do distanciamento nas relações, a grande maioria dos cidadãos da sociedade, pelo temor e submissão; e • Postura de expectador das camadas subalternas da sociedade, característica esta que evidencia relações marcadas pela fuga de conflitos devido a baixa consciência crítica e transferência das dificuldades para a liderança. Spink (2000) e Freitas (1997) argumentam que a cultura deve ser elasticamente tratada, pois os valores existentes na organização encontram um respaldo, uma legitimação e uma sustentação nos valores culturais da sociedade mais ampla, não podendo ser estudados enquanto produções exclusivas das organizações, como se elas atuassem no vácuo. Assim, a escassez de estudos sobre cultura organizacional brasileira aponta para um corpo teórico fragmentado e difícil de ser apreendido integral e consensualmente por faltar uma visualização sóciopolítica da cultura. Deste modo, um cuidado a ser tomado pelas organizações multinacionais que ambicionam alcançar no Brasil os mesmos níveis de qualidade nos projetos e programas de responsabilidade social delineados em outros países, é conhecer os traços da cultura brasileira que poderão Formas de Manifestação da Cultura organizacional 47 impor limites ou facilidades. EXERCÍCIO Preencha os espaços abaixo, inserindo as palavras de acordo com as questões abaixo: A cultura organizacional é constituída pelos valores, ____________, ritos e cerimônias, mitos, ____________ e tabus, predominantes na empresa. Para Schein, a cultura de uma organização pode ser aprendida em vários níveis: nível dos artefatos ____________; nível dos valores que governam o comportamento das ____________; nível dos ___________. O ____________ da dimensão organizacional implica, portanto, na apreensão e compreensão dos aspectos referente ao passado, presente e futuro da vida de uma organização, compondo sua chamada ambiência interna. unidade 0348 UniDADE 04 Estratégias, responsabilidade Social e Culturas Bem- Sucedidas A proposta da unidade IV é abordar a correlação entre as estratégias de negócio, e Cultura Organizacional , demonstrando que apenas com o alinhamento da Cultura Organizacional e da Estratégia de Negócio, agrega-se valor e competitividade para a empresa. O autor enriquece a discussão com o estudo de caso da FORD BRASIL. A unidade IV traz os seguintes tópicos – A cultura organizacional na formação da estratégia empresarial; Responsabilidade social: Definições e evolução histórica; Cultura organizacional e responsabilidade social; e estudo de caso. resumindo Estratégias, responsabilidade Social e Culturas Bem-Sucedidas 51 EStrAtégiAS, rESPonSABiliDADE SoCiAl E Cuturas bem-suCedidas A CULTURA ORGANIZACIONAL NA FORMAÇÃO DA ESTRATÉGIA EMPRESARIAL Sendo a cultura um conjunto de pressupostos básicos respeitados como a maneira correta de perceber e sentir os fatos organizacionais, ela também expressa uma visão existente e a construir pela empresa que afetam os indivíduos e as relações entre eles (FLEURY, 1989). Nesse sentido, recorrer apenas ao mecânico, direto, mensurável e técnico nas definições das estratégias, poderá responder minimamente as necessidades de sobrevivência das empresas no mercado, por não contemplar fatores simbólicos e intangíveis que realçam o lado humano da empresa. Nesse sentido Johnson ressalta que: As influências culturais sobre a estratégia são as formidáveis mãos invisíveis que causam consternação não apenas para muitos gerentes em início de carreira, mas também para alguns gerentes maduros que adotam uma abordagem excessivamente mecanicista no desenvolvimento e execução da estratégia (JOHNSON, 1987,441). Desta forma, problemas internos de tensão surgem nas empresas, quando ideias, comportamentos e valores existentes entram em choque com as estratégias projetadas. Evidencia-se assim a importância do papel exercido pela cultura na formação da estratégia, segundo a concepção de muitos estudiosos (MINTZBERG, et al, 2001; Johnson, 1999; KOTTER e HESKETT, 1994; TOMEI e BRAUNSTEIN, 1993; FREITAS, 1991b; GAJ, 1990), sendo crucial unidade 0452 seu entendimento e a análise de sua compatibilidade com os pressupostos presentes em padrões e metas estratégicas a serem implementados. Assim, destaca Johnson que “as decisões estratégicas são fortemente influenciadas pela história da empresa e pela experiência dos gerentes, que filtram as informações externas e interpretam as capacidades internas” (JOHNSON, 1999:444). Mintzberg et al (2001) ressaltam também a necessidade de haver harmonia entre os pressupostos da cultura organizacional com os princípios exigidos nas estratégias empresariais. É relevante que a estratégia a ser adotada esteja intrinsecamente conectada aos sistemas de valores, crenças e percepções vigentes na empresa. Segundo Johnson (1999:448), “é um erro grave subestimar o poder do paradigma de uma empresa ou simplesmente desprezá-lo como um mero conjunto de crenças e pressupostos abstratos, com poucos efeitos mensuráveis sobre a atuação organizacional”. Deste modo, para que uma empresa consiga realizar profundas mudanças estratégicas, torna-se obrigatório que passe por uma revolução cultural, isto é, que as estratégias idealizadas façam sentido no discurso interno da organização. Caso não sejam anteriormente mudados alguns valores organizacionais fortes, as grandes mudanças estratégicas a serem implementadas não terão base de sustentabilidade cultural, e por isso serão abandonadas, ignoradas, ou repudiadas pelos membros da organização (STONER e FREEMAN, 1998). (...) todas as firmas têm cultura corporativa, embora algumas tenham culturas muito “mais fortes” do que outras; essas culturas exercem efeito poderoso nos indivíduos e no desempenho, em especial em um ambiente competitivo; a sua influência talvez seja maior do que todos os fatores discutidos com maior freqüência na literatura organizacional e empresarial – estratégia, estrutura, sistemas administrativos, instrumentos de análise financeira, liderança (KOTTER e HESKETT 1994, pag. 10). Deste modo, é possível perceber que a conceituação de cultura organizacional
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