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Responsabilidade Civil dos médicos nos casos de violência obstétrica praticada na rede pública de saúde no Brasil. Civil liability of doctors in cases of obstetric violence practiced in the public health network. Nome completo do autor: Thaysa de Oliveira Mancinelli Vilar 1. Acadêmica do curso de direito 2. Juliana da Silva Felipe orientadora, professora (mestranda) do Curso de Direito do Centro Universitário ICESP de Brasília. Resumo: O presente estudo tem por finalidade analisar como o ordenamento jurídico e a jurisprudência do Brasil atribui a Responsabilidade Civil aos médicos que praticam violência obstétrica na rede pública de saúde, como também responder o seguinte questionamento: Como o ordenamento jurídico do Brasil atribui a Responsabilidade Civil aos médicos que praticam violência obstétrica na rede pública de saúde? Para alcançar o referido objetivo, utilizou-se o método de pesquisa bibliográfica, sendo que, na primeira seção trata-se dos conceitos pertinentes ao tema, na segunda seção trata-se dos Direitos Humanos dos pacientes, na terceira seção trata-se das atribuições da responsabilidade civil do médico em relação à violência obstétrica e por fim, na quarta seção trata-se sobre a análise jurisprudencial do caso concreto, que responderá o questionamento levantado. Esse trabalho é de grande importância, pois vai direcionar os médicos, as mulheres afetadas com a violência obstétrica, operadores do direito e acadêmicos a elucidar e refletirem sobre o questionamento levantado. Palavras-chave: Responsabilidade Civil do médico; Violência Obstétrica; Direitos Humanos. Abstract:: The present study aims to analyze how the legal system and jurisprudence of Brazil assign Civil Liability to physicians who practice obstetric violence in the public health network, as well as to answer the following question: How does the legal system of Brazil assign Civil Liability to physicians who practice obstetric violence in the public health network? To achieve this objective, the bibliographic research method was used, and in the first chapter it is the concepts relevant to the theme, in the second chapter it is about the Human Rights of patients, in the third chapter it is about the attributions of the physician's civil responsibility in relation to obstetric violence and finally, in the fourth chapter it is about the jurisprudential analysis of the specific case , who will answer the question raised. This work is of great importance, as it will direct physicians, women affected by obstetric violence, law workers and academics to elucidate and reflect on the question raised. Keywords:Medical liability; Obstetric Violence; Human Rights. Sumário: Introdução. 1. Conceito de responsabilidade. 1.1 Responsabilidade Civil. 1.2 Responsabilidade Civil do Médico.1.3 Violência Obstétrica 2. Direitos Humanos dos pacientes. 3. Atribuição da Responsabilidade Civil do Médico. 4 Análise jurisprudencial dos casos concretos. Considerações finais. Referencial bibliográfico. Introdução A violação da integridade física e moral no momento do parto é muito comum no Brasil. Essas violações contra a integridade da mulher são cometidas por parte dos profissionais de saúde como: os médicos, enfermeiros, entre outros envolvidos no processo do parto. Quando tal ato é prejudicial pode ocasionar prejuízos materiais e morais, por tanto, a fim de retomar o equilíbrio harmônico social o autor do dano causado deverá repará-lo. (GONÇALVES, 2017, p.49) Esse trabalho é importante, porque vai direcionar os médicos, as mulheres afetadas com a violência obstétrica, operadores do direito e acadêmicos a elucidar e refletirem sobre o seguinte questionamento: Como o ordenamento jurídico do Brasil atribui a Responsabilidade Civil aos médicos que praticam violência obstétrica na rede pública de saúde? Este trabalho tem como objetivo geral, analisar como o ordenamento jurídico e a jurisprudência do Brasil atribuem a Responsabilidade Civil aos médicos que praticam violência obstétrica na rede pública de saúde. E para responder à pergunta, este trabalho pretende, primeiramente, identificar os conceitos pertinentes ao tema, em seguida, verificar os tipos de responsabilidade aplicadas aos médicos que praticam a violência obstétrica e compreender as decisões judiciais mais relevantes aplicadas aos casos que envolvem o tema até o momento. A metodologia aplicada é pesquisa bibliográfica, onde tem como base livros, artigos, jurisprudências e decisões judiciais. Este artigo, primeiramente, será dedicado à conceituação dos elementos importantes para análise do objeto a ser estudado, como a responsabilidade, a responsabilidade civil, a responsabilidade civil do médico e a violência obstétrica. Em seguida, será abordada a questão dos Direitos Humanos dos pacientes e também sobre a atribuição da responsabilidade civil do médico. Por fim, fazer uma análise de jurisprudências e decisões judiciais pertinentes ao tema. 1. Conceito de responsabilidade A palavra responsabilidade vem do latim “respondere”, significa responder por alguém, prometer, garantir. (NADER, 2016, p.33). Nesta linha, o significado responder por alguém, traz uma conotação de que o objeto da responsabilidade é o cuidado com outro, com sua vulnerabilidade e fragilidade, sendo que será possível responsabilizar alguém, por seus atos, pois somos responsáveis pelo que fazemos, podendo escolher a moral e a virtude, sob pena de ser responsabilizado por não ter o cuidado e precaução devida (FARIAS, 2017, p.36). 1.1 Responsabilidade Civil É objeto também da Moral, a ideia de dever. Responsável é a pessoa que descumpre um dever, que deveria garantir, proteger, mas que não o faz. A exemplo do motorista no trânsito, responsável por conduzir o veículo com prudência e perícia, e ao deixar de observar o dever de cuidado, comete ato ilícito, causando danos, ele responderá pelos danos causados. Pode-se dizer que se o motorista agiu sempre com responsabilidade, dar-se-á a entender que ele cumpriu com o seu dever. (NADER, 2016, p.33). A responsabilidade está ligada à conduta que provoca danos às outras pessoas. Sendo que, aquele que sofreu o dano tem que ser indenizado (PINTO, 2016, p.313). Pois, aquele que acarreta prejuízo tem o dever de indenizar, sendo assim, a responsabilidade traz uma ideia de Restauração de equilíbrio, de contraprestação, de reparação de dano, voltando o status quo ante. (GONÇALVES, 2017, p.44). O art. 186 do Código Civil diz que “Todo aquele que violar direito e causar dano a outrem comete ato ilícito”, em complemento a este artigo, o código ainda dispõe no seu art. 927 que: “Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo” (GONÇALVES, 2017, p.49). A responsabilidade civil tem, como um de seus pressupostos a violação do dever jurídico e o dano. Existindo um dever jurídico originário (obrigação), sua violação gerará um dever jurídico sucessivo (responsabilidade), que é o dever de indenizar os prejuízos causados. (GONÇALVES, 2017, p.45). O Código Civil de 1916 adotou a teoria subjetiva, mantendo o princípio com base na culpa, necessita da demonstração de culpa ou dolo de quem causou o prejuízo, ou seja, o dano, para que seja obrigado a repará – lo. Essa teoria diz que a reparação do dano tem como pressuposto a prática de um ato ilícito. Sem prova de culpa, inexiste a obrigação de reparar o dano. (GONÇALVES, 2017, p.42). De acordo com o Dicionário Jurídico” dolo é o artifício utilizado com base na má-fé intencionandolevar outrem à prática de um ato que configure prejuízo a si mesmo” e a “culpa é a ação que ocasiona propositalmente danos a outrem”. É o ânimo consciente de agir de forma ilícita para prejudicar ou violar direito alheio. Contudo, mesmo com o Código Civil mantendo a responsabilidade com base na culpa, o art. 927, depois de estabelecer, no caput, que “aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, é obrigado a repará-lo”, dispõe, no parágrafo único, verbis: “Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem”. Tem ganhado grande espaço a chamada Teoria do Risco, uma tendência bem frequente nos últimos tempos, não substituindo a teoria da culpa, mas abarca muitas hipóteses em que a regra tem se revelado insuficiente na proteção do prejudicado. (GONÇALVES, 2017, p.49). 1.2 Responsabilidade Civil do Médico A Responsabilidade Civil do médico vem da regra geral. Sendo a sua responsabilidade subjetiva. O médico deve estar sempre atento para exercer todos os procedimentos de forma correta, seguindo todos os padrões de cuidado objetivo. Aquele que sofrer um prejuízo, seja ele material, imaterial, patrimonial ou também não patrimonial poderá receber indenização se ele tiver sido sujeito a tratamento médico e por culpa deste tratamento houver culpabilidade médica. Nas palavras de Delton Croce 2002, p. 3 “(...) Se denomina responsabilidade médica situação jurídica que, de acordo com o Código Civil, gira tanto na órbita contratual como na extracontratual estabelecida entre o facultativo e o cliente, no qual o esculápio assume uma obrigação de meio e não de resultado, compromissando-se a tratar do enfermo com desvelo ardente, atenção e diligência adequadas, a adverti-lo ou esclarecê-lo dos riscos da terapia ou da intervenção cirúrgica propostas e sobre a natureza de certos exames prescritos, pelo que se não conseguir curá-lo ou ele veio a falecer, isso não significa que deixou de cumprir o contrato”. Acrescentado por Fabrício Zamprogna Matielo (1998, p.66): “No que concerne à responsabilidade civil dos médicos, segue-se a regra geral da imprescindibilidade da demonstração da culpa do agente, amenizadas as exigências quanto à prova inarredável e profunda de sua ocorrência ante os termos consignados na legislação, quando a natureza da demanda ou as circunstâncias concretas apontarem para a responsabilidade mediante a produção de elementos de convicção mais singelos. (...) Em princípio, a contratação não engloba qualquer obrigação de curar o doente ou de fazer melhorar a qualidade de vida desfrutada, porque ao profissional incumbe a tarefa de empregar todos os cuidados possíveis para a finalidade última – e acima de tudo moral – de todo tratamento, ou seja, a cura seja alcançada. Todavia, a pura e simples falta de concretização do desiderato inicial de levar à cura não induz a existência da responsabilidade jurídica, que não dispensa a verificação da culpa do médico apontado como causador do resultado nocivo”. Em resumo, para que exista alegação de responsabilidade civil como também de erro médico do mesmo, eventuais danos sofridos pelo paciente decorrerão da culpa quando da realização do tratamento médico, em que haja identificação de negligência, imprudência ou imperícia. 1.3. Violência Obstétrica A violência obstétrica define-se quando qualquer profissional de saúde faz ou deixa de fazer algo direta ou indiretamente, em hospitais públicos ou privados, condutas danosas no corpo reprodutivo das mulheres. Com processos e medicamentos que denigrem o corpo humano. Assim pode ocorrer à perda da autonomia e da capacidade para responder sobre seu corpo, atingindo negativamente a qualidade de vida. (VENEZUELA, 2007) Entende-se também que pode ser vista como violência física (a não utilização de medicamentos), violência verbal (gritos, ameaças, tratamento grosseiro) e violência psicológica. (D’OLIVEIRA; DINIZ;SCHRAIBER, 2002). Segundo Garcia, Diaz e Acosta, existe algo em comum entre algumas gestantes: aceitam várias situações constrangedoras na hora do trabalho de parto, pelo receio de fazer perguntas sobre os procedimentos que irão ser desempenhados na evolução do trabalho de parto, como também pela falta de informações prestadas pelos profissionais de saúde. (GARCIA; DIAZ; ACOSTA, 2013) De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), gestantes do mundo todo na hora do trabalho de parto, sofrem maus- tratos, abusos e negligências nas instituições de saúde. E se tratando de um momento vulnerável na vida da mulher, essas práticas podem acarretar negativamente em consequências adversas para mãe e para o bebê. (OMS, 2014) 2. Direitos Humanos dos pacientes O conceito de Direitos Humanos dos pacientes ainda é pouco conhecido no Brasil, porém pode contribuir para a sociedade na formação da saúde (entrevista). Os Direitos Humanos são os direitos indispensáveis para a vida humana, baseada na igualdade, liberdade e dignidade. Assim, os Direitos Humanos são essenciais e indispensáveis para a dignidade humana. “No Brasil, as primeiras regulações acerca dos direitos dos pacientes datam dos anos 1990, contudo, nunca houve a adoção de uma carta nacional dos direitos dos pacientes com força de lei, ainda que importantes iniciativas no campo precisam ser registradas. Sob o prisma legislativo, alguns estados-membros possuem legislações relevantes sobre os direitos dos pacientes. O estado de São Paulo, no ano de 1995, passou a contar com um Código de Saúde, no qual constam previsões acerca dos direitos dos pacientes, como o direito de decidir, livremente, sobre a aceitação ou recusa da prestação da assistência à saúde, salvo nos casos de iminente perigo de vida; o direito de ser informado sobre o seu estado de saúde e as alternativas possíveis de tratamento; e o direito de ter respeitado o sigilo sobre os dados pessoais”. (RAMOS, 2019, p.42) Está em análise na Câmara dos deputados um Projeto de Lei 5559/16 que se trata da carta na citação acima de elaboração do deputado federal e médico Pepe Vargas. Esse projeto de lei assegura vários direitos humanos aos pacientes, exemplo: que seja propriedade do paciente o conteúdo do prontuário médico; que o paciente tenha o poder de decidir e mudar de ideia sobre a conduta médica a qualquer momento como também, que o paciente esteja ciente de todos os procedimentos; a presença de um acompanhante para todo paciente; acesso ao cuidado paliativos, pelo qual a dignidade do paciente seja preservada em todas as fases do tratamento; entre outras formas. Assim concatenando os fatos na área da saúde, em específico os pacientes, pois devem defender os direitos humanos, o que difere de consumidores ou usuários (entrevista). De acordo com Aline Albuquerque existe distinção entre consumidor, usuário e paciente, segundo ela o termo paciente é o mais conveniente, porque há uma relação entre duas pessoas, sendo elas o doente e o profissional da área de saúde. Assim o paciente é o integrante principal no tratamento. Logo essa relação decorre entre o profissional da área de saúde e o paciente ( ALBUQUERQUE, 2016, p.43). Com relação ao usuário que se trata de uma relação impessoal, pois se refere à pessoa que faz uso do serviço e não com a pessoa que presta o serviço. Dessa forma o termo usuário difere-se do termo paciente. E se tratando do termo consumidor também é inadequado, pois não engloba a ideia do sistema coletivo de saúde, portanto segundo a autora, os serviços de saúde não poderão ser tratados como um objeto. Assim sob o ponto de vista dos direitos humanos, estabelecidos por bases universais, sendo o auto interesse,o único amparo ao acesso aos serviços de saúde. Deve haver a distribuição dos recursos da saúde para todos. Por esse motivo os pacientes que se encontram no sistema Único de Saúde não se aplicam os direitos do consumidor, na forma em que seus serviços são de acesso para todos, não pleiteando a compensação financeira.( ALBUQUERQUE, 2016, p.45). De acordo com o Dr. Allex Jardim, médico oncologista do Hospital de Roraima, cita como exemplo da comunicação do paciente com o médico em que diversas vezes é falha. Afirma também que ao se tratar da população indígena do estado de Roraima onde proporcionalmente é o estado que mais se tem indígenas do país, eles se comunicam através de sinais, porque o hospital não tem nenhum tipo de serviço de intérprete para a língua que os indígenas falam. Logo, por não haver uma comunicação acessível em sua própria linguagem os pacientes encontram-se vulneráveis, e pode assim ser submetidos a tratamentos invasivos e complexos (entrevista). Ainda sobre o assunto, Albuquerque salienta que há uma falta de prestação do serviço de qualidade muito grande no atendimento ao paciente. Assim, precisa-se de mais profissionais especializados, exemplo: servidores da área social, que valorizem os direitos humanos dos pacientes e seus familiares. 3. Atribuição da responsabilidade civil do médico. É inevitável observar que entre o médico e o cliente, existe uma verdadeira relação contratual, pode-se dizer que em tese, não cumprindo o contrato houve uma inexecução de uma obrigação, ou seja, um inadimplemento, se o médico não obtém a cura do doente, ou se os recursos utilizados não satisfazem o cliente. Porém, mesmo o fato sendo considerado como uma relação contratual, na responsabilidade do médico, não pode –se presumir que haja culpa (GONÇALVES,2017, p.178). O art. 14, § 4o do Código de Defesa do Consumidor diz que: “A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante a verificação de culpa” O Código consumerista adota a teoria objetiva para os consumidores, mas aqui ele abre uma exceção para os profissionais liberais, dizendo que para eles a responsabilidade será apurada através da verificação de culpa, adotando a responsabilidade subjetiva (GARCIA, 2017, p. 99). Por que não é adotada a teoria objetiva na responsabilidade civil dos médicos? O legislador aqui buscou a proteção a esta classe em não adotar a teoria objetiva. Imagine pacientes portadores de doenças graves, onde o risco de morte é inevitável, existiria um desestímulo dos médicos ao tratamento clínico ou cirúrgico desses pacientes, que muitas vezes requer coragem do médico, pois se o paciente viesse a óbito o médico sempre responderia por algo que foge ao seu controle (NADER, 2016, p.496). A responsabilidade do médico em regra é subjetiva, mas existe uma exceção, no caso de vítima de erro médico for paciente de hospital público, aqui a responsabilidade é objetiva, devendo o Estado responder pelos atos praticados pelo por seus agentes, cabendo-lhe o direito de regresso em face dos responsáveis diretos. (NADER, 2016, p.180). Contudo, a obrigação que esses profissionais assumem é uma obrigação de meio, e não de resultado. O objetivo do contrato cliente e médico não é a cura, mas sim aplicar todos os meios e recurso necessários para conseguir a cura, não se obrigando, a curar o paciente. (GONÇALVES, 2017, p.178). Os médicos por serem profissionais liberais, respondem por culpa subjetiva (negligência, imprudência e imperícia) necessitam da demonstração de culpa ou dolo para que sejam obrigados a reparar o dano. O art. 951 do Código Civil, assim dispõe “No caso de indenização devida por aquele que, no exercício de atividade profissional, por negligência, imprudência ou imperícia, causar a morte do paciente, agravar-lhe o mal, causar-lhe lesão, ou inabilitá-lo para o trabalho”. (NADER,2016, p.496). A Culpa médica é auferida por negligência, imprudência e imperícia. A negligência é quando o médico se omite no tratamento, comprometendo com sua conduta a vida ou a saúde do paciente, a exemplo do profissional que abandona o paciente em hospital, causando – lhe danos. Abandonar significa descaso, na negligência o agente deixa de agir no momento em que deveria fazê-lo (NADER,2016, p.498). Na imprudência o profissional provoca lesões por imprudência, quando toma iniciativas precipitadas, sem a devida cautela, sem o devido cuidado, aqui ele age, quando na verdade deveria se omitir (NADER, 2016, p.498). Carlos Roberto Gonçalves diz que “A conduta imprudente consiste em agir o sujeito sem as cautelas necessárias, com açodamento e arrojo, e implica sempre pequena consideração pelos interesses alheios.” (GONÇALVES, 2017, p.). A imperícia ocorre, quando o profissional não aplica os Conhecimentos científicos ou os métodos adequados e recomendáveis para aquele problema específico (NADER, 2016, p.498). Consiste também na falta de aptidão técnica, de conhecimentos necessários para praticar aquele ato. (GONÇALVES, 2017, p.). A culpa do médico não é de fácil constatação, os tribunais têm reconhecido apenas em casos grosseiros de erro médico, mas para isso é necessário a demonstração do nexo de causalidade entre a conduta e o dano, e a peça fundamental para demonstrar isso é o laudo pericial do especialista indicado pelo juiz, reconhecendo a existência do nexo causal, entre a conduta do agente e o dano causado, o médico será responsabilizado pelo ato ilícito praticado (NADER,2016, p.498). O médico não responde apenas pelos seus atos praticados, mas por atos danosos praticados por terceiros que estejam diretamente ligados ao médico e sob suas ordens (LENZA,2016, p.180) Além disso, de acordo com o que dispõe o art. 6o, III, do CDC, que diz que o fornecedor tem o dever de prestar todas as informações necessárias relativo ao produto, este conceito está atrelado ao princípio da transparência.O fornecedor tem que prestar as informações corretas, claras e precisas sobre os serviços (LENZA, 2016, p.180). 4. Análise jurisprudencial dos casos concretos: Indicar-se-ão a seguir exemplos de alguns casos concretos de atuação do judiciário com relação ao tema abordado. No caso concreto, o judiciário entende que a Responsabilidade Civil do médico é subjetiva, fundamentada na teoria ”falta do serviço”, mas foi comprovada a conduta imprudente e negligente do médico. Logo, foi configurada a Responsabilidade Civil do Estado em relação à falha médica e consequentemente será estabelecida uma indenização conforme segue ementa da Apelação Cível: DIREITO CIVIL E ADMINISTRATIVO. COMPENSAÇÃO POR DANOS MORAIS. MORTE DE FETO. ERRO MÉDICO. VERIFICAÇÃO. CORPO DO FETO ACIDENTALMENTE INCINERADO COM PLACENTA. DOR MORAL CONSTATADA. RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA DO ESTADO E SEUS AGENTES. FIXAÇÃO DO QUANTUM. RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE. MANUTENÇÃO. 1. Na hipótese de erro médico ocorrido na prestação de serviços públicos concernentes à rede de saúde do Estado, a responsabilidade estatal é subjetiva, fundada na teoria da "falta do serviço", sendo imprescindível a comprovação da conduta imprudente, negligente ou inábil do profissional para justificar o dever de reparar os danos eventualmente causados aos pacientes. 2. Diante das queixas de perdas de líquidos no final da gestação, acompanhada da morte do feto, configura-se a responsabilidade civil do Estado em decorrência de falha médica em não prescrever a realização de outros exames, notadamente para afastar a possibilidade da perda de líquido amniótico. 3. Não bastasse a perda culposa do feto, a incineração do corpo, ainda que por engano, retirou da família a possibilidade de prestar as homenagens póstumas,circunstância que se soma à primeira para determinar a responsabilidade exasperada do Estado, na dupla falha com a qual se deu a prestação do serviço. O valor a ser fixado pelos danos morais deve ser informado por critérios de proporcionalidade e razoabilidade, observando-se as condições econômicas das partes envolvidas, a natureza e a extensão do dano. 4. Recurso conhecido e desprovido. (Acórdão 1257197, 00254271720168070018, Relator: CARLOS RODRIGUES, 1a Turma Cível, data de julgamento: 24/6/2020, publicado no PJe: 29/6/2020. Pág.: Sem Página Cadastrada.) No caso abaixo, foi demonstrada a Responsabilidade Civil dos médicos em relação à violência obstétrica e comprovado nos autos que houve violências físicas e psicológicas em consequência do procedimento obstétrico. Sendo assim foi decidido em sentença o pagamento para os autores no valor de R$ 200.000,00 (Duzentos mil reais), como forma de indenização. Veja-se ementa : PROCESSO CIVIL. DANOS MORAIS. PRELIMINAR. TEMPESTIVIDADE DO RECUSO ADESIVO. É tempestivo o recurso adesivo interposto no décimo sexto dia, haja vista que no dia anterior os serviços de 1a instância se encontravam paralisados. Preliminar rejeitada. PROCEDIMENTO OBSTÉTRICO. COMPLICAÇÕES. NEGLIGÊNCIA. NEXO CAUSAL. Constatadas que as lesões físicas e psicológicas, decorrente de procedimento obstétrico, experimentadas diretamente pela autora e indiretamente pelo seu esposo decorreram da negligência e da imprudência dos médicos da recorrente, restou patente o nexo causal legitimador da indenização pleiteada. VALOR DA INDENIZAÇÃO. MAJORAÇÃO. Diante da finalidade compensatória da indenização pleiteada, que tem o intuito de minimizar o sofrimento do casal, o quantum arbitrado pelo r. sentenciante mostra-se reduzido cabendo a sua majoração para R$ 100.000,00 (cem mil reais) para cada um dos autores, não constituindo tal valor enriquecimento derivado de vantagem indevida. Sua finalidade não é a reparação integral do dano ocasionado, porque impossível, mas sobretudo servir como medida educativa e preventiva para que a rede pública adote os meios indispensáveis para que tais acontecimentos sejam evitados. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. Os dispositivos legais aplicáveis à hipótese dos autos estabelecem que os honorários advocatícios devem ser arbitrados mediante a apreciação eqüitativa do juiz (CPC, art. 20, § 4o), levando-se em consideração os parâmetros descritos pelo § 3o. Sob essa ótica, pautando-se o juiz pelo prudente arbítrio, em consonância com o critério de eqüidade, a verba advocatícia restou fixada em valor justo, haja vista não se tratar de matéria de alta complexidade, cujo deslinde tenha encontrado maiores óbices para o seu termo. (Acórdão 133081, 19980110317887APC, Relator: JERONYMO DE SOUZA, , Revisor: VASQUEZ CRUXÊN, 3a Turma Cível, data de julgamento: 20/11/2000, publicado no DJU SEÇÃO 3: 1/3/2001. Pág.: 40) No exemplo a seguir, o Judiciário entende que se tratando de erro médico será subjetiva, em regra, a Responsabilidade Civil do Estado. O pedido foi negado por entender também que, ”As complicações fazem parte do risco do trabalho de parto” nos termos da Apelação Cível apresentado ao TJ-DFT: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. RESPONSABILIDADE DO ESTADO. PARTO. DISTOCIA DE OMBRO. ERRO MÉDICO. NEGLIGÊNCIA. LESÕES. SEQUELAS NEUROLÓGICAS. TRAUMATISMO OBSTÉTRICO. NEXO CAUSAL. NÃO COMPROVAÇÃO. 1. A responsabilidade do Estado por erro médico é, em regra, subjetiva, sendo indispensável a prova de que, por inobservância do dever de cuidado objetivo, os profissionais de saúde do Poder Público deixaram de adotar as técnicas adequadas para o melhor tratamento da saúde dos pacientes. 2. As complicações fazem parte do risco do trabalho de parto, sobretudo quando constatada distócia de ombro, sendo passíveis de ocorrer, sem que isso configure erro médico. 3. No caso em concreto, quando as provas pericial, documental e testemunhal são harmônicas no sentido de que, dada a imprevisibilidade da distócia de ombro, e considerando a gravidade dos efeitos decorrentes, os procedimentos e manobras adotados pela equipe médica foram adequados, não se tem por configurada a ilicitude caracterizadora da responsabilidade civil do Estado em relação ao nascimento da criança com fratura de ombro, restando improcedente o pedido indenizatório formulado na inicial. 4. Apelação conhecida e provida.(Acórdão 1193613, 00051144020138070018, Relator: ANA CANTARINO, 8a Turma Cível, data de julgamento: 7/8/2019, publicado no DJE: 19/8/2019. Pág.: Sem Página Cadastrada.) Observa-se que, em determinados casos o Judiciário reconhece o direito em responsabilizar o médico civilmente nos casos de violência obstétrica, mediante comprovação por meio de provas que atestem inobservância do dever de cuidado objetivo, deferindo o pedido. Entretanto, em outras diversas situações, indefere-se o pedido fundamentando ser a Responsabilidade do médico subjetiva e também a não comprovação por insuficiência de provas. Considerações finais Concluiu-se que a violência obstétrica define-se quando qualquer profissional de saúde faz ou deixa de fazer algo direta ou indiretamente, em hospitais públicos ou privados, condutas danosas no corpo reprodutivo das mulheres, com medicamentos que denigrem o corpo humano e até mesmo a violência física, verbal e a psicológica. Assim ocorre a dificuldade de se reunir provas suficientes e incontestáveis da culpa do médico em casos de violência obstétrica, especialmente as violências verbais e emocionais. Logo, pode ocorrer a perda da autonomia e da capacidade para responder sobre seu corpo, atingindo negativamente a qualidade de vida. Constatou-se que, os Direitos Humanos são os direitos indispensáveis para a vida humana baseada na igualdade, liberdade e dignidade. Logo, os Direitos Humanos são essenciais e indispensáveis para a dignidade humana. Constatou-se também que, há uma falta de prestação do serviço de qualidade muito grande no atendimento ao paciente. Precisando assim, de mais profissionais especializados, exemplo: servidores da área social, que valorizem os direitos humanos dos pacientes e seus familiares. Logo, a pessoa que cometer ato ilícito e causar dano a outrem, será obrigado a repará- lo. Os médicos por serem profissionais liberais, respondem por culpa subjetiva (negligência, imprudência e imperícia) necessitam de demonstração de culpa ou dolo para que sejam obrigados a reparar o dano. O médico não responde apenas pelos seus atos praticados, mas por atos danosos praticados por terceiros que estejam diretamente ligados ao médico e sob a suas ordens. Em uma análise jurisprudencial dos casos concretos concluiu-se que, em determinados casos o Judiciário reconhece o direito em responsabilizar o médico civilmente nos casos de violência obstétrica, mediante provas que comprovem a inobservância do dever de cuidado objetivo, deferindo o pedido. Entretanto, em outras diversas situações, indefere-se o pedido fundamentando ser a Responsabilidade do médico subjetiva e também por não conseguir a comprovação do que se pede, por meio das provas apresentadas. Referências Albuquerque A. Direitos Humanos dos Pacientes. Curitiba: Juruá; 2016. 287 páginas. ISBN 978 -85-362-5519-4 BRASÍLIA-DF, Apelação Cível. Ação De Indenização Por Danos Morais. Responsabilidade Do Estado. Parto. Distocia De Ombro. Erro Médico. Negligência.Lesões. Sequelas Neurológicas. Traumatismo Obstétrico. Nexo Causal. Não Comprovação, Acórdão 1193613, 00051144020138070018, Relator: ANA CANTARINO, 8a Turma Cível, data de julgamento: 7/8/2019, publicado no DJE: 19/8/2019. Pág.: Sem Página Cadastrada. Disponível em: <https://pesquisajuris.tjdft.jus.br/IndexadorAcordaos-web/sistj> , Acesso em: 03 de julho 2020. BRASÍLIA-DF, Direito civil e administrativo. compensação por danos morais. morte de feto. erro médico. verificação. corpo do feto acidentalmente incinerado com placenta. dor moral constatada. responsabilidade civil objetiva do estado e seus agentes. fixação do quantum. razoabilidade e proporcionalidade. manutenção, Acórdão 1257197, 00254271720168070018, Relator: CARLOS RODRIGUES, 1a Turma Cível, data de julgamento: 24/6/2020, publicado no PJe: 29/6/2020. Pág.: Sem Página Cadastrada. Disponível em: <https://pesquisajuris.tjdft.jus.br/IndexadorAcordaos-web/sistj>, Acesso em: 03 de julho de 2020. BRASÍLIA-DF, Processo Civil. Danos Morais. Preliminar. 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