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Direito_de_Familia_e_Sucessoes_PARTE_PRI

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Bianca Rocha 
NACIF 
2018/2
Direito de Família e Sucessões 
DIR 317 
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Novo Curso de Direito Civil, Vol.6. Pablo Stolze Gagliano & Rodolfo Pamplona Filho (2018). 
Caio Mário da Silva Pereira: Instituições de Direito Civil. Vol. 5 (2017). 
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PARTE PRIMEIRA: DIREITO DE FAMÍLIA 
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0) NOÇÕES PARA COMPREENSÃO DO DIREITO DE FAMÍLIA 
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SENSO COMUM E COMPLEXIDADE 
Crenças e Mitos 
A primeira dificuldade enfrentada é: boa parte dos estudantes já tem alguma opinião formada 
sobre o tema. Nesse sentido, tendem a se fechar a novos conhecimentos novos por crer já saber as 
respostas para as questões, como óbvio. Isso acontece porque o aluno cria, com o pouco que sabe, 
uma quantidade de crenças e mitos, e traz para dentro da ciência, bloqueando os novos 
ensinamentos dados a ele. 
Essa forma anterior de perceber o mundo é uma crença, um mito, construído através de um 
modelo de mundo baseado em concepções recebidas por familiares, amigos, etc. Isso compõe a 
moral, trazida por esse grupo seleto de convivência. 
Vide exemplo: “O meu grupo todo é a favor da legalização da maconha, por que eu seria 
contra?”. Para entender direito de família nós temos que desconstruir, para depois construir. 
Devemos aprender a pensar como direito de família, em que tratamos de uma outra estrutura 
do direito que é bastante diferente do estudado até agora, pois o direito aqui é pautado no 
afeto, não de um contrato, não de uma obrigação, nem de uma oponibilidade erga omnes. 
Daniel Kahnmannam: Duas Formas de Pensar 
Sistema 1 de raciocínio: A primeira é a forma rápida, por exemplo, estou atravessando a 
rua, mas escuto o barulho de freio de um carro e eu corro, pois isso indica que um carro vem em 
minha direção e eu tenho que sair dali urgentemente. Pensar rápido é uma reação essencial para a 
sobrevivência. A forma rápida é chamada de sistema 1 de raciocínio. 
Sistema 2 de raciocínio: Mas nem tudo pode ser solucionado através dessa forma de 
pensar, imagine se me perguntam se eu sou a favor da descriminalização da maconha e 
prontamente eu respondo que não, sem uma reflexão acerca do tema? Isso é um mal, pois tem 
coisas que devemos parar para pensar sobre. E quando o pensamento se dá mediante uma reflexão 
caracteriza-se a forma devagar. Corresponde ao Sistema 2 de raciocínio, um pensamento reflexivo. 
A forma rápida de dar uma resposta conforme a sua visão de mundo, vai àquela questão de 
que para todo problema complexo existe uma solução fácil, porém muitas vezes errada. Como 
enfrentar cada um desses problemas? A primeira forma é dar a opinião que é particular a mim, e 
essa devemos evitar: a de dar respostas pré-prontas na sua cabeça, porque estas podem ser 
lapidadas. Essa visão pessoal corresponde a uma ilusão da verdade, construída com os conceitos de 
vida trazidos pela experiência de cada um. A dignidade da pessoa humana se resume ao livre 
desenvolvimento da personalidade (deixa eu ser o que eu quero ser). Aonde achar a solução? O 
direito não vai dar a resposta, ele tem a tendência muito grande a ser autopoiético — sistema que se 
cria, se distingue por si mesmo — e não consigo ter um bom direito sem refletir esses problemas na 
sociedade, e nos ramos de estudo em que mais isso diz respeito. “Quem conhece só direito, nem o 
direito conhece”. 
O viés: Já o viés diz respeito a tendência que temos de utilizar o sistema 1, quando a 
situação mereceria, na verdade, a utilização dos sistema 2. É aquela opinião pré-julgada, um pré-
juízo, sobre todas as questões da vida, e há quem não mude isso nunca, nem se for demonstrado o 
contrário. As pessoas se fecham dentro dessa redoma, porque, se o mundo faz sentido com a história 
coerente que estamos contando, para que mudar? É o conservadorismo. O problema é que estar 
funcionando “bem” (para você) não significa que seja certo. É preciso abandonar esse tipo de 
posição para evoluir, e se dispor a reflexões até acerca das temáticas tidas como certas. 
BIANCA ROCHA DIR 317 AULAS 1 - 14 P. !2
A Liberdade: Somente com o reconhecimento de nós como seres humanos falíveis, é que 
alcançamos um padrão de liberdade. O método a ser discutido é bem psicanalítico. 
A liberdade pela construção trinitária tinha a ideia de livre arbítrio. Nessa estrutura cristã 
nasce o indivíduo, que é ímpar, único, pois todos, e cada um tem o desígnio enviado de Deus. Isso é 
poderoso, cada um poder-ser do jeito que quiser. A individualização da pessoa aqui deságua na 
concepção da liberdade como condição essencial da elaboração dos valores morais. Então a 
liberdade passa, pela necessidade de confrontar racionalmente os argumentos, todos eles baseados 
na razão, a aceitar a diferença e a diversidade. Numa sociedade democrática, não se admite 
nenhum cerceamento às liberdades, especialmente à liberdade de expressão e à liberdade de viver 
conforme a minha visão de mundo (cosmogonia). 
Daí vem Kant, e diz que isso não é bem assim. Por exemplo, Nacif não poderia dar aula 
tomando um uísque ou fumando maconha, pois ele não pode deixar que a sua vontade reine sobre 
os seus atos. Já para Freud a vontade é o id – uma parte do nosso psiqué, e ele influencia na outra 
parte do nosso psique que é o ego. O que freia Nacif é uma força supressora, que se chama super ego, 
que o impede de fazer qualquer das suas vontades a todo momento. 
Esse “viver conforme a minha visão de mundo” – qual é seu limitador? 
O meu direito termina onde começa o do outro (autonomia privada). Essa autonomia privada 
é trazida como princípio para o direito civil, que é o meu impulso ao ato cerceado pelo direito 
privado. Eu posso fazer tudo, desde que a lei não me proíba. Quando a gente entra no direito de 
família entram outras forças, que não sejam somente as forças da racionalidade, porque isso envolve 
afeto, e consequentemente: minha moral, religião, amigos. Isso é mais complicado. 
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1) A FAMÍLIA 
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1.1 Objetivos 
Uma família pode se formar por vários motivos: (a) afetividade; (b) sexo; (c) ter um futuro 
juntos e conhecimento pessoal; (d) paz, tranquilidade e segurança. 
O sexo e a afetividade tendem a diminuir com o tempo, e consequentemente a não ser 
suficientes para uma família duradoura. Para que perdure é preciso haver um projeto de vida em 
comum. Para o direito é essencial detectar os projetos de vida em comum para a 
diferenciação de um mero namoro e a constatação da existência de uma união estável. 
Exemplo: um casal de namorados mora junto em Viçosa, e um deles ganha um prêmio da 
mega-sena, o outro não teria direito. Pois não existe uma exteriorização da posse que se altere a de 
uma relação de namorados que apenas moram juntos para uma situação factual de união estável. 
Eu tenho que conseguir distinguir se havia ali a intenção de formar uma família. Não vai ser o sexo nem a afetividade 
que vai mostrar isso, mas o projeto de vida juntos. Objetivamente: se você identifica os objetivos da família, 
você identifica que ali houve uma família, e se o prêmio da mega-sena foi adquirido por um dos 
companheiros, e se for comprovado que ali tinha um interesse de família, o prêmio deverá ser 
dividido entre o casal. 
Exemplos de ações que demonstram interesse em formar uma família: 
(1) conta conjunta no banco, (2) comprar casa financiada junto, (3) conta de clube onde um 
coloca o outro como dependente, (4) seguro de vida em nome do outro, (5) tratamento contra 
infertilidade,(6) plano de saúde. Mas esse rol não é taxativo, por isso é complexo. 
Os objetivos de família devem ser identificados objetivamente. 
1.2 Paradigma 
Definição: muito básica, um paradigma é o prisma pelo qual eu enxergo o mundo. 
Já para a ciência, o paradigma tem uma outra concepção, criada por Thomas Kuhn: para 
ele, esse prisma vai me mostrando como que o mundo funciona e eu vou adaptar a história que eu 
conto do mundo através daquele prisma, alterando ele. Até que chega o momento em que aquele 
paradigma não explica mais o mundo e a partir daí, eu excluo esse prisma, mudando de paradigma. 
1. ROMA: em direito de família, nosso primeiro paradigma vem de Roma: estruturas 
como por exemplo, o pater familias, a adoção, o casamento, a união estável, já estavam 
presentes no direito romano. 
2. RELIGIÃO: o segundo prisma será a religião, quando a Igreja Católica consubstancia o 
sexo apenas ao casamento (e com isso ganha dinheiro). A família só se constituía pelo 
matrimônio, e fora dele não existia ninguém, não existia nem filho. A religião dominou o 
direito de família no Brasil até 1988, quando da constituição federal. Em alguns lugares do 
mundo a religião ainda manda no direito de família. 
✦ 1977: Esse paradigma religioso foi “extinto” do direito brasileiro porque houve uma 
evolução no país, especialmente nas décadas de 60 a 80. Até 1977 não existia o divórcio, casar 
era para sempre, e as pessoas ficavam num limbo jurídico chamado desquitado — esse termo 
era até pejorativo. A partir de 1977 veio a lei de divórcio e foi preciso mudar a constituição. 
3. CRFB/88: Esse processo de mudança de paradigmas foi gradual, e a partir da 
Constituição de 1988, surge novo paradigma orientador. 
BIANCA ROCHA DIR 317 AULAS 1 - 14 P. !4
✴TRANSPESSOALIDADE: interesses e dimensão da instituição famílias tem primazia, de modo que 
ante choque entre interesses eventuais de algum de seus membros componentes (ou que poderiam vir a 
compô-la) e ‘interesse familiar’, prevaleceriam os interesses da família. Por exemplo, se um homem casado 
engravidasse uma mulher solteira na década de 50/60, esse filho seria um bastardo não reconhecido. A mulher não tinha sequer 
o direito de pedir uma investigação de paternidade de um homem casado, pois aquilo poderia vir a destruir a família. 
✴✴ EUDEMONISTA: é a doutrina que considera a busca de uma vida feliz, seja em âmbito 
individual seja coletivo, o princípio e fundamento dos valores morais, julgando eticamente positivas todas as 
ações que conduzam o homem à felicidade. 
1.3 Direito de Família 
É o efeito da norma jurídica de transformar em fato jurídico a parte do seu suporte fático que 
o direito considerou relevante para o ingresso no mundo jurídico. 
Preceito: constitui a parte da norma jurídica em que são prescritos os efeitos atribuídos aos 
fatos jurídicos. Isso nos leva ao fenômeno da juridicização dos fatos. 
Juridicização dos fatos: ocorre quando eu percebo que um determinado fato social é 
juridicamente relevante, e eu crio um preceito — que antes não existia — para aquele fato. Antes 
da CRFB/88 morar juntos sobre o mesmo teto, mantendo relações sexuais, e objetivos em comum, 
não era um fato juridicizado. A partir de 88 esse fato passou a se constituir como união estável. 
Obviamente, isso tem que ser fundado num valor social. 
Ao mesmo tempo, o direito de família sofreu uma forte desjuridicização, que é a retirada 
de juridicidade de fatos que já não convém como valor social — foi o caso do adultério, que era 
considerado um time penal, até que isso foi retirado do código, porque não era relevante 
judicialmente. A atual discussão sobre a descriminalização do aborto, por exemplo, se aprovado, 
será uma desjuridicização. 
1.3.1 NATUREZA JURÍDICA: 
CCB 1916 CRFB/88 // CCB 2002
Família só se dava pelo matrimônio. Traz a família monoparental. 
A formação de família é livre. 
Família patriarcal. 
Ou seja, o pai era o chefe de família.
Caráter igualitário, fundado no princípio da 
isonomia. 
Formação de família era institucionalizada. 
Havia apenas duas formas de casamento: 
1. Religioso 
2. Civil
A formação de família tem um caráter mais 
contratual. 
Traz consigo alguns problemas jurídicos, especialmente a 
publicidade dos atos jurídicos. 
Caráter mais público. 
O Estado vigiava o direito de família. Esse interesse se 
dava pela herança paradigmática da religião, e pelo 
conservadorismo (que levava a tratar pessoas com 
infantilização). 
Caráter privado. 
Você casa com quem quiser, desde que não desrespeite os 
princípios do direito (como não locupletamento, 
dignidade, proteção dos incapazes, adoção, tutela). Se 
ofendidos, trazem a proteção do Estado para a formação 
familiar. Em suma, interfere protetivamente. 
Característica da transpessoalidade. 

Quer dizer que o direito de família estava acima 
dos interesses das pessoas. * 
Característica eudemonista. ** 
A partir do momento que CF trouxe princípio da 
dignidade humana, e isso é captado pelo direito de 
família, cria condições para que as pessoas busquem ter 
uma vida feliz, na esfera das suas decisões pessoais. 
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Não existe mais a função de cédula básica da sociedade na concepção de uma natureza 
jurídica de família, essa ideia institucionalizada encontra-se em desuso. Mas nós ainda não temos 
uma natureza jurídica especifica para a família. No Direito brasileiro ela não é um sujeito de direito, 
não sendo a família dotada de uma personalidade jurídica. A família hoje é plural, e é um núcleo de 
afetividade. 
1.3.2 CONCEITOS: 
A doutrina fundamenta família no meu núcleo de afetividade, são as pessoas a quem eu me 
ligo pelo afeto, e isso gera direitos e deveres, as vezes sem a gente querer, e as vezes por vontade. Em 
suma: o direito de família são as regras normativas que incidem sobre as relações de afeto. 
Clóvis Beviláqua(1859/1944): É o complexo de normas que regulam a celebração do 
casamento, sua validade e os efeitos que dele resultam, as relações pessoais e econômicas da 
sociedade conjugal, a dissolução desta, as relações entre pais e filhos, o vínculo de parentesco e os 
institutos complementares da tutela, da curatela, e da ausência. 
Nessa percepção conceitual de 1916 era muito importante a validade do casamento. Hoje, é o 
direito pertinente às relações nascidas do núcleo de afetividade do ser humano, bem como os 
institutos complementares e conexos a ele. 
1.3.3 IMPORTÂNCIA 
O tema do direito de família é importante devido ao impacto na vida pessoal, carregado de 
interesses das pessoas com seus aspectos psicológicos e sociais. Também é de interesse do estado um 
núcleo familiar com a função da criação das crianças — provimento aos filhos, e pelo caráter 
migratório desse direito. É importante ressaltar a importância da publicidade do estado civil, bem 
como sua importância para os aspectos negociais. 
1.4 Características 
a) De Caráter Privado: normas que permitiam ao indivíduo a consolidação e a 
estabilidade do seu núcleo de afetividade, com efeito direto sobre sua felicidade, e 
consequentemente dignidade. 
b) De Caráter Público: normas que permitem a intervenção do estado onde houverem 
pessoas hipossuficientes na relação jurídica; por exemplo casamento de maior de 70 anos dever 
ser por regime de separação de bens. 
c) Representação: há uma representação imprópria. No direito de família os atos são, via 
de regra, pessoais. Mas não personalíssimos. Qualquer procuração feita deve conter todas as 
características dos atos, do representado e do negócio jurídico a ser feito, uma vez que diferente 
do direito civil, no direito de família o representante não tem margem para negociação. Por 
exemplo, é possível o casamento por mandato impróprio (contrato pelo qual se outorga outra 
pessoa poderes para participar ou contrair obrigações). 
d) Não cabem: termo, ou condição. Em nenhum de seus atos. Condição esta, seja 
resolutiva ou suspensiva. Não posso casar mediante condição (coação)ou adotar a prazo. Uma 
situação excepcional é a de doação propter nuptiae. 
e) Não são aceitas renúncias ou transmissões. A hipótese de renúncia de paternidade 
por exemplo, é absurda. 
f) Há intervenção de autoridade pública sempre que determinado por lei. Por 
exemplo, porque não basta a vontade dos noivos para se casar, é necessário um juiz de paz que 
os declare marido e mulher. Esse juiz de paz é a autoridade pública, cujo ato dá anuência e 
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constituição ao casamento. Outro caso, geralmente situações relacionadas a um menor 
necessitam autorização, como divórcio quando há filhos que carece de procedimento judicial. 
 
1.5 Princípios do Direito de Família 
Com a CF o direito de família passou de um caráter predominantemente público para um 
caráter privado, mas ainda mantém proteção ao incapaz, ao menor, ao idoso. Todo direito civil, na 
verdade, tem um caráter dúplice, público e privado, o que muda é para onde pende o pêndulo. 
A CRFB/1988 foi a grande mudança do paradigma transpessoal (família acima de tudo) 
para o eudemonista (o que importa é ser feliz). Mas não foi apenas a CF, foi uma constituição 
acompanhada de um comportamento social. O mundo já tinha mudado, as pessoas já tinham 
mudado e a o direito acompanhou isso. 
O constitucionalismo alemão pregava que a constituição se dirigia ao legislador e o 
legislador é que fazia as leis que o povo iria seguir. No entanto, havia pressa, pois tínhamos um 
código de 1916. Assim, rapidamente, a doutrina e os juízes procuraram um constitucionalismo 
mais efetivo: o constitucionalismo norte-americano, com a eficácia imediata das normas 
constitucionais. 
Fundamento republicano: 
O primeiro fundamento da CRFB é o princípio da dignidade da pessoa humana. Qual o conteúdo 
desse fundamento? Não era sabido, teve de ser desenvolvida doutrina amparada no direito norte-
americano. Um artigo que definiu muito bem esse conteúdo foi de Paulo Motta Pinto, que definiu o 
que o conteúdo da dignidade seria: que o Estado me permita viver como eu acho que devo viver. 
Ou seja, levar a vida conforme a minha cosmogonia, desde que eu não ofenda o outro. É o direito 
que eu tenho de dar à minha vida os desígnios que achar conveniente. Isso revela um caráter de 
direito privado. 
	 Casamento a três, por exemplo, ainda não é possível nem mesmo no pais mais liberal para o 
direito de família, que é o EUA. O que os cartórios começaram a fazer era uma pacto de 
convivência para regulamentar essas situações, de ‘união estável poliafetiva’ mas o CNJ proibiu (em 
junho de 2018). Agora eles fazem por instrumento particular. Dessa forma, a gente tem que o limite 
dessa cosmogonia vai ser testado no cotidiano, pois ainda não se sabe até onde podemos ir para 
atingirmos a nossa felicidade (pelos menos teoricamente, porque na prática essa cosmogonia é 
criticada socialmente). 
.1 PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA 
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios 
e do Distrito Federal, constitui-se em Estado democrático de direito e tem como fundamentos: III - a dignidade 
da pessoa humana; CRFB/88 art 1º, III. 
.2 ISONOMIA: 
A partir da constituição fica sedimentada a regra de que homens e mulheres são iguais 
perante a lei. Outra isonomia seria a dos filhos, no CCB anterior havia várias configurações de 
filhos (legítimos, ilegítimos, legitimados – de pessoas não casadas, adotado (simples, pleno, etc.)). A 
CRFB acabou com isso: filhos são todos iguais sendo o vínculo afetivo ou jurídico. 
.3 IGUALDADE: 
Quando eu tenho pessoas desiguais, eu tenho que tratá-las na medida de sua desigualdade, 
porque isso se trata então da promoção de uma igualdade material. 
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Só que para fazer isso precisamos de alguns parâmetros, e o mais conhecido dentro da doutrina 
brasileira é o de Celso Bandeira de Mello: 
“As discriminações devem ser, cumulativamente: (i) ter por base diferenças reais, não sendo dado 
à lei tratar desigualmente os iguais; (ii) não ser especifica a ponto de singularizar uma pessoa; (iii) 
estabelecer um nexo lógico entre as diferenças consideradas pela norma, e pelo tratamento dispensado 
aos diferentes; (iv) somente discriminar para proteger valores privilegiados pelo sistema constitucional 
ou pelo sistema legal.” 
Toda vez que eu me deparar com um comportamento diferente, eu tenho que procurar um nexo 
lógico, se eu não fizer isso estarei agindo pelo sistema 1, correspondente ao pensamento rápido. 
Três questionamentos: 
(1) Artigo do código de processo civil de 73 fala que nas ações de alimentos em caso de 
divórcio, a ação poder ser proposta na cidade de domicilio da mulher, mas do homem não 
pode. Ela está discriminando ou tratando de forma igual? A igualdade formal é utópica, pois 
no caso concreto isso não se dá. Já a igualdade material implica reconhecimento de que a lei 
pode e deve tratar desigualmente os desiguais, na medida da sua desigualdade, para corrigi-la. 
Assim, essa lei busca promover uma igualdade material. 
(2) O Código civil de 2002 colocava 16 anos para mulher se casar e 18 para os homens 
(CCB 1517). Isso era justo? 
(3) Homens e mulheres tem idades diferentes para se aposentar, por que? 

Porque a mulher tem jornada tripla de trabalho: cuidar da casa, dos filhos e trabalhar fora. Isso 
é justo? Dentro da sociedade que a gente vive é justo, mas o ideal seria que as mulheres não 
precisassem desse “beneficio” e que as tarefas fossem divididas igualmente entre o casal. Mas 
não são todas mulheres que tem essa jornada, por isso é muito difícil lidar com essas questões. 
 Vamos nos lembrar da “regra da igualdade não consiste senão em quinhoar desigualmente 
aos desiguais, na medida em que se desigualam. (…) Tratar com desigualdade a iguais, ou a 
desiguais com igualdade, seria desigualdade flagrante, e não igualdade real.” Oração aos moços, 
Rui Barbosa . 
.4 OUTROS PRINCÍPIOS 
Caio Mario traz como princípios: o princípio da equiparação dos filhos; princípio da 
solidariedade familiar; o princípio jurídico da afetividade jurídica (com ênfase objetiva); o princípio 
do melhor interesse da criança (norteador principalmente em questões como adoção, visitação, 
competência da lide, alimentos); o princípio da prioridade absoluta (diz respeito a ECA e ao 
Estatuto do Idoso); o princípio do cuidado (principalmente no que diz respeito aos filhos); e por fim 
a diretriz do venire contra facto proprium pautada na boa-fé objetiva. 
Foi trazida para o curso a leitura da tese de Rodrigo da Cunha Pereira, “Princípios 
Fundamentais e Norteadores para a Organização Jurídica da Família”. Na qual ele traz os 
princípios (além dos destacados): da monogamia, igualdade e respeito às diferenças; autonomia e da 
menor intervenção estatal; da pluralidade das formas de família; da afetividade. 
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2) PARENTESCO 
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2.1 Conceito 
Falamos que o direito civil trata das relações sociais entre pessoas. Essas relações podem ser de 
direitos reais, obrigacionais ou de direito de família. O direito de família trata de relações de afeto 
com efeito jurídico. Mas se extende a quem esse vínculo jurídico pelos laços familiares? 
O que é? “É a relação jurídica congentemente determinada pela lei, que vincula certas 
pessoas a uma mesma família em função dos elos geracionais havidos entre si. É uma relação de 
procedência o fator eleito juridicamente para nomear os familiares parentes.” Renata Barbosa 
COMO ESTABELECER ESSE VÍNCULO? 
Art. 1.593. O parentesco é natural ou civil, conforme resulte de consangüinidade ou outra origem. 
✦ Consanguíneo: basta que eu nasça naquela família para pertencer a ela (nascimento). 
✦ Civil: fui eleito judicialmente para compor aquelafamília (como a adoção). 
✦ Afinidade: vínculo dado pela lei a partir do casamento. 
2.2 Linhas e contagem 
Art. 1.594. Contam-se, na linha reta, os graus de parentesco pelo número de gerações, e, na colateral, 
também pelo número delas, subindo de um dos parentes até ao ascendente comum, e descendo até encontrar o 
outro parente. 
1. ASCENDENTE/DESCENDENTE 
Art. 1.591. São parentes em linha reta as pessoas que estão umas para com as outras na relação de 
ascendentes e descendentes. 
Essa linha é ad infinitum. É uma linha reta, que vai considerar partindo de mim todos aqueles 
que na minha árvore genealógica foram diretamente responsáveis por eu ter sido gerado, e todos os 
que vou gerar a partir de mim. Meus ascendentes em linha reta são meus pai e mãe, avô e avó, 
bisavô e bisavó, e assim sucessivamente (parte de pai e de mãe). Meus descendentes são meus filhos, 
netos, bisnetos. 
2. COLATERAIS 
Art. 1.592. São parentes em linha colateral ou transversal, até o quarto grau, as pessoas provenientes de 
um só tronco, sem descenderem uma da outra. 
Não é uma linha infinita, apenas considera-se família para o direito civil, aqueles que são 
colaterais até quarto grau. Começo a contar sempre a partir do meu vínculo mais próximo, até o 
parente. Desse modo, meu primo “legítimo" é o único dos primos que é considerado parente, ele é 
de grau IV assim como meu tio-avô. 
E por afinidade, como funciona? 
Art. 1.595. Cada cônjuge ou companheiro é aliado aos parentes do outro pelo vínculo da afinidade. 
§ 1o O parentesco por afinidade limita-se aos ascendentes, aos descendentes e aos irmãos do cônjuge ou 
companheiro. 
§ 2o Na linha reta, a afinidade não se extingue com a dissolução do casamento ou da união estável. 
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Se me casar, eu conto a partir do meu cônjuge quem será meu parente por afinidade. Dessa 
forma, minha sogra será minha parente em linha reta, por afinidade em grau I. Aqui só posso ter 
parentes colaterais até o segundo grau. Por exemplo, minha cunhada, será parente colateral por 
afinidade grau II, já seus filhos, não. Quando finda meu vínculo de por afinidade? Ele cessa com o 
divórcio. Tanto o divórcio quanto o fim da união estável quanto o falecimento de qualquer parte, 
extingue o vínculo com o antigo cônjuge e com todos os colaterais. Já em linha reta a afinidade não 
se extingue, então o vínculo com a sogra e com a enteada não termina com o fim do casamento. 
2.3 Espécie 
Irmãos: Unilaterais (o “meio-irmão") ou bilaterais (germanos). 
Podendo ser uterinos (parte de mãe) ou fraternais (parte de pai). 
Legítimo e ilegítimo são termos que não existem mais devido ao princípio da isonomia. 
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3) CASAMENTO 
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3.1 O Casamento na História 
A noção de família é anterior ao instituto do casamento, porque na antiguidade não se 
pressupunha necessária ritualização aos núcleos familiares. Já o casamento como instituição, deriva 
de um estabelecimento de regras formais, de cunho religioso ou laico. 
As referências ao Direito Romano e ao Direito Canônico se fazem fundamentais para a 
compreensão do casamento no mundo ocidental. 
Em Roma havia cinco tipos de casamento. A confarreatio (1), era o casamento dos patrícios, de 
fundo religioso; a coemptio (2), que era o casamento da plebe; o usus (3) referente a toda vez que você 
tirava uma mulher de casa e não a devolvia por três noites, era a usurcapio trinoctii; a sine manus (4) era 
aquele casamento no qual a mulher permanecia na casa paterna, seja porque o marido havia ido 
para a guerra, ou porque o seu pai era muito rico e podia lhe dar uma vida melhor, assim ainda 
exigia o poder sobre a filha mesmo depois de casada; e a justae nuptiae (5) que é referente ao 
casamento informal, matrimônio livre, comparável ao que hoje é a união estável. A concepção se 
aproximava mais a de negócio jurídico, pela vontade dos nubentes, nuptias consensus facit. 
Na idade media todo esse sistema ruiu e com a força do Cristianismo no renascimento 
europeu e a ideia de “um só corpo e um só espírito”, a Igreja percebe que precisa estabelecer o 
vínculo entre a relação sexual e as pessoas: então a Igreja Católica Sacramentaliza e institucionaliza 
o casamento, noção que se reafirma em 1545 no Concílio de Trento. 
Os ritos necessários para tal: proclamas, celebratio, solemnitas; os mesmos ritos ainda são 
realizados. Países perceberam que dar esse poder a Igreja era muito, e o primeiro a retirar a 
exclusividade da Igreja nesse poder foi a Inglaterra, onde o primeiro-ministro do rei, Cromwell, 
apoia o divórcio de Henrique VIII sem necessidade permissão do papa, no século XVI. 
No Brasil hoje o casamento é civil, uma vez que pressupõe-se o Estado Laico. Mas, até 1861 o 
casamento só poderia ser feito pela Igreja Católica. Só em 1861 que nós tiramos essa exclusividade 
da Igreja para o casamento — Lei de 11/09/1861 previa o casamento civil de não católicos. 
Finalmente, em 1890 é regulamentada a solenidade do casamento civil, que coexistiu paralelamente 
com o religioso até 1973, ano em que o casamento religioso passou a não bastar, e ter que cumprir 
requisitos ao registro para reconhecimento dos efeitos civis. 
3.2 Conceito 
Caio Mario trazia uma conceituação ultrapassada: “União de duas pessoas de sexos diferentes, 
realizando uma integração físiopsíquica permanente”. Essa percepção mudou, foi acrescida do 
argumento de que sendo a família um organismo em lenta e constante transformação, o casamento 
que a legitima há de afeiçoar-se às condições ambientes e contemporâneas. 
“Casamento é um contrato especial de direito de família, por meio do qual os cônjuges 
formam uma comunidade de afeto e existência, mediante a instituição de direitos e deveres 
recíprocos e em face dos filhos, permitindo assim a realização dos seus projetos de vida.” 
Stolze & Pamplona 
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Hoje, o casamento não é fim em si mesmo, mas tão somente o locus de realização e busca da 
felicidade dos seus integrantes (e esta corresponde à função social da família). Já o código, traz 
também sua própria definição: Art. 1.511. O casamento estabelece comunhão plena de vida, com base na 
igualdade de direitos e deveres dos cônjuges. 
3.3 Tipicidade do Ato 
O ato é típico, na medida que exige uma celebração conforme estipulado na lei. Tem que 
seguir os seguintes passos, na ordem: habilitação, proclamas, celebração, atermação e certificação. 
3.4 Natureza Jurídica 
Casamento é o ato de maior solenidade do direito civil a partir do qual se forma uma família. 
Antes o casamento era uma verdadeira instituição, tinha uma característica publicista, mas a partir 
da CRFB/88 tomamos outro caminho, o privatista, que deixa que as pessoas tomem a rédea da sua 
própria vida afetiva. 
Qual será a natureza jurídica do casamento? 
Não é mais instituição pura, agora tem um caráter contratual, que se volta para o direito 
privado, à autonomia da vontade. Não é apenas um contrato, mas como tem esse caráter 
contratual, privatista, não pode mais ser encarado como uma instituição pura. 
Caio Mário considera o casamento como um contrato especial, e pontifica: o que se deve 
entender ao assegurar a natureza do matrimônio, é que se trata de contrato especial dotado de 
consequências peculiares, mais profundas e extensas do que as convenções de efeitos puramente 
econômicos, ou contrato de direito de família, em razão das razoes específicas por ele criadas. 
Art. 1.514. O casamento se realiza no momento em que o homem e a mulher manifestam, perante o 
juiz, a sua vontade de estabelecer vínculo conjugal, e o juiz os declara casados. 
As pessoas declaram sua vontade para selar o casamento; e o juiz de paz deveter a última 
fala, como chancelar do estado. Então em qual desses momentos o casamento se realiza? 
A partir disso, temos três teorias: 
✦ Corrente Supra-individualista: ou institucionalista, o casamento é uma instituição 
social que nasce da vontade dos contraentes, mas que da autoridade da lei recebe sua forma, suas 
normas e seus efeitos. 
✦ Corrente Individualista: também chamada de corrente clássica, ou contratualista, 
para qual o casamento é um contrato. 
✦ Corrente Eclética: casamento é um ato complexo. Precisa da manifestação de vontade 
das partes & da chancela estatal. É esse o entendimento que prevalece hoje. 
Qual a consequência prática dessa estrutura? 
Antes de 1977 com o casamento como instituição, não havia outra maneira de formar uma 
família, o que deus uniu o homem não separa, era um sacramento. Nessa instituição, sacramental ou 
estatal, não cabe renúncia, o laço era indissolúvel. Contudo, muda-se a sociedade. 
Em 1977 surge o divórcio (infra) — era possível celebrar um divórcio apenas, depois de 5 anos 
de casamento, o juiz deveria ser convencido e no processo deveria haver um culpado, que sofreria 
BIANCA ROCHA DIR 317 AULAS 1 - 14 P. !12
consequências em face de sua responsabilidade pelo término dessa relação conjugal — e desde 
então, houve uma série de degraus no caminho, mas hoje há um avanço na esfera privada, com 
vários divórcios, e podendo ser celebrado a qualquer tempo. 
3.5 Caracteres do Casamento (Caio Mário) 
O casamento é ato solene, ritualístico; 
Suas características: 
(A) Solenidade; 
(B)desconsiderado; 
(C)Dissolubilidade, desde a Lei 6.512 que regulamentou o divórcio em1977. 
________________________________________________________________________________ 
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4) ESPONSAIS 
________________________________________________________________________________ 
4.1 Promessa de Casamento e Responsabilidade Civil por Ruptura de Noivado 
O que é o noivado? É um resquício da promessa de contratação. 
E o que é o anel de noivado? 
Lembre de arras, que é o valor entregue para garantir que aquele contrato vai ser feito, se o 
contrato não fosse concretizado por quem entregou esse arras, ele o perdia, e se for quebrado pela 
parte que recebeu, deveria devolver esse valor em dobro. O anel de noivado poderia ser equiparado 
a esse arras, a partir da entrega desse anel esperava-se que esse casamento ia de fato acontecer, e daí 
costumava-se marcar a data. 
Bifurcando esse raciocínio, qual a natureza do anel de noivado? É uma doação propter nuptiae, 
carregando consigo uma condição suspensiva. Então não posso dizer ser um arras? Essa é uma 
discussão acadêmica. Tenho esses dois caminhos para desenvolver meu argumento, a depender de 
quem eu estiver defendendo. 
Qual o efeito jurídico da ruptura de um noivado? 
Atualmente nenhum. No direito imperial, ainda tinha. Hoje não há, entretanto, como todo 
contrato, quando você cria falsa expectativa na outra parte isso pode acarretar em ausência de boa-
fé objetiva, portanto “é melhor cuidar para encontrar a melhor maneira de desistir do casamento, 
sempre atuando conforme o princípio da eticidade, para minorar ou evitar os efeitos da ruptura, sob 
pena de responsabilidade civil” (S & P). 
Qualquer um dos nubentes pode, até o último minuto, desistir do casamento, mas é evidente 
que um ato desse gera danos. Que tipo de dano posso ter na não conclusão de um casamento tão de 
última hora? Com certeza danos materiais, de tudo que foi investido (festa, etc). 
Desistir do casamento é uma potestividade: se não quero, não sou obrigado. Entretanto, todo 
contratante deve se pautar pela boa-fé objetiva, que diz respeito a manter-se em relação ao outro 
contratante de forma honesta, transparente. Se estiver conforme a boa-fé objetiva, eu tenho 
responsabilidade acerca do dano material, mas o dano moral só será indenizável se for observada 
ausência de boa-fé objetiva, ou pior, se o agente atuou com manifesta má-fé subjetiva. 
4.2 Danos morais nos esponsais: 
Os danos morais para rompimento de noivado, conforme explicação supra, não existem mais 
como regra própria, podendo ser aplicadas: 
✦ As regras gerais para o dever de não causar danos. 
Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar 
dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. 
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito, causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo. 
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos 
especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua 
natureza, risco para os direitos de outrem. 
BIANCA ROCHA DIR 317 AULAS 1 - 14 P. !14
✦ Observância à situação de doação em contemplação a casamento futuro, propter nuptiae, e o efeito 
suspensivo. 
Art. 546. A doação feita em contemplação de casamento futuro com certa e determinada pessoa, quer 
pelos nubentes entre si, quer por terceiro a um deles, a ambos, ou aos filhos que, de futuro, houverem um do 
outro, não pode ser impugnada por falta de aceitação, e só ficará sem efeito se o casamento não se realizar. 
Art. 125. Subordinando-se a eficácia do negócio jurídico à condição suspensiva, enquanto esta se não 
verificar, não se terá adquirido o direito, a que ele visa. 
✦ A aplicação de regras jurídicas sobre os esponsais e a indenização em caso de descumprimento da promessa 
de casamento deve ser considerada em relação ao meio social em que vivem os nubentes. 
Em comunidades interioranas, e mais humildes, algumas dessas virtudes ainda são bastante 
cultivadas, ou seja, os costumes são diferentes e o juiz tem que olhar as pessoas e o tamanho do 
dano que vão sofrer diante disso. 
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BIANCA ROCHA DIR 317 AULAS 1 - 14 P. !15
5) HABILITAÇÃO PARA O CASAMENTO 
________________________________________________________________________________ 
Stolze & Pamplona 
Conceito: É um procedimento administrativo, disciplinado pelo CCB e pela Lei de Registros 
Públicos, pelo qual as partes se habilitam a um casamento, quando o Oficial do Registro Civil afere 
os pressupostos de existência e validade do ato matrimonial. Transcorre no Registro Civil de Pessoas 
Naturais do local de residência de um dos nubentes. Ao final, resulta em emissão de certificado para 
que as partes se casem em 90 dias. 
OBS.: Art. 1.512. Parágrafo único. A habilitação para o casamento, o registro e a primeira certidão serão 
isentos de selos, emolumentos e custas, para as pessoas cuja pobreza for declarada, sob as penas da lei. 
5.1 Requerimento da Habilitação 
O pedido deverá ser dirigido ao Oficial da Comarca de residência de um dos nubentes 
(para que haja uma maior publicidade ao ato) contudo se o processo for tramitado em lugar diverso, 
mas sem impedimento ou prejuízo aferido, há convalescimento do defeito. Não precisa mais de 
homologação da habilitação pelo juiz, processando-se direta e imediatamente perante o oficial do 
Registro. 
Art. 1.525. O requerimento de habilitação para o casamento será firmado por ambos os nubentes, de 
próprio punho, ou, a seu pedido, por procurador, e deve ser instruído com os seguintes documentos: 
I - certidão de nascimento ou documento equivalente; 
II - autorização por escrito das pessoas sob cuja dependência legal estiverem, ou ato judicial que a supra; 
III - declaração de duas testemunhas maiores, parentes ou não, que atestem conhecê-los e afirmem não 
existir impedimento que os iniba de casar; 
IV - declaração do estado civil, do domicílio e da residência atual dos contraentes e de seus pais, se forem 
conhecidos; 
V - certidão de óbito do cônjuge falecido, de sentença declaratória de nulidade ou de anulação de 
casamento, transitada em julgado, ou do registro da sentença de divórcio. 
Preparada a habilitação, os autos serão remetidos ao MP. 
(Nostermos da Lei 12.133/2009) 
Art. 1.526.  A habilitação será feita pessoalmente perante o oficial do Registro Civil, com a audiência do 
Ministério Público.                         
Parágrafo único.  Caso haja impugnação do oficial, do Ministério Público ou de terceiro, a habilitação será 
submetida ao juiz.       
  
5.2 Edital de proclamas                  
É o ato administrativo expedido por oficial do cartório em que tramita a habilitação, por meio 
do qual os nubentes são qualificados e é anunciado o casamento para a sociedade. 
Art. 1.527. Estando em ordem a documentação, o oficial extrairá o edital, que se afixará durante quinze dias 
nas circunscrições do Registro Civil de ambos os nubentes, e, obrigatoriamente, se publicará na imprensa 
local, se houver. 
Parágrafo único. A autoridade competente, havendo urgência, poderá dispensar a publicação. 
Art. 1.528. É dever do oficial do registro esclarecer os nubentes a respeito dos fatos que podem 
ocasionar a invalidade do casamento, bem como sobre os diversos regimes de bens. — O não 
esclarescimento, para S&P poderia acarretar em falha do oficial, e até mesmo ser argumento pró manutenção em 
casos de invalidação. 
BIANCA ROCHA DIR 317 AULAS 1 - 14 P. !16
5.3 Oposição à Habilitação 
Art. 1.529. Tanto os impedimentos quanto as causas suspensivas serão opostos em declaração escrita e 
assinada, instruída com as provas do fato alegado, ou com a indicação do lugar onde possam ser obtidas. 
Art. 1.530. O oficial do registro dará aos nubentes ou a seus representantes nota da oposição, indicando os 
fundamentos, as provas e o nome de quem a ofereceu. 
Parágrafo único. Podem os nubentes requerer prazo razoável para fazer prova contrária aos fatos alegados, 
e promover as ações civis e criminais contra o oponente de má-fé. 
5.4 Certificado de Habilitação 
Art. 1.531. Cumpridas as formalidades dos arts. 1.526 e 1.527 e verificada a inexistência de fato obstativo, 
o oficial do registro extrairá o certificado de habilitação. 
Art. 1.532. A eficácia da habilitação será de noventa dias, a contar da data em que foi extraído o 
certificado. 
________________________________________________________________________________ 
BIANCA ROCHA DIR 317 AULAS 1 - 14 P. !17
6) CELEBRAÇÃO DO CASAMENTO 
________________________________________________________________________________ 
Art. 1.512. O casamento é civil e gratuita a sua celebração — essa gratuidade é para celebração no RCPN. 
Reverte-se de enorme importância a solenidade de realização do casamento. Assim, a lei a 
reveste de solenidades especiais, publicidade ostensiva e gravidade notória. Daí uma indagação 
doutrinária: o matrimônio considera-se realizado no momento em que o juiz pronuncia a 
declaração, ou naquele em que lhe respondem os contraentes à indagação? 
MOMENTO 
Temos duas teorias sobre isso. 
Art. 1.535. Presentes os contraentes, em pessoa ou por procurador especial, juntamente com as 
testemunhas e o oficial do registro, o presidente do ato, ouvida aos nubentes a afirmação de que pretendem casar 
por livre e espontânea vontade, declarará efetuado o casamento, nestes termos:"De acordo com a vontade que 
ambos acabais de afirmar perante mim, de vos receberdes por marido e mulher, eu, em nome da lei, vos declaro 
casados.” 
I. Pela corrente do casamento como uma instituição, sobre esse aspecto o momento do 
casamento será o momento em que a autoridade competente, ou seja, o juiz de paz, vai proferir 
aquela frase “De acordo com a vontade que ambos acabais de afirmar perante mim, de vos 
receberdes por marido e mulher, eu, em nome da lei, vos declaro casados”. 
II. Se a corrente for a de que o casamento é um contrato, o momento de celebração do 
casamento se dá quando da manifestação da vontade, ou seja, o ‘sim’. 
Art. 1.533. Celebrar-se-á o casamento, no dia, hora e lugar previamente designados pela autoridade que 
houver de presidir o ato, mediante petição dos contraentes, que se mostrem habilitados com a certidão do art. 
1.531 — ou seja, munido de certificado de habilitação. 
LOCAL DA CELEBRAÇÃO 
No registro civil aonde houver, a princípio, sido a habilitação. Que pode ser: no local de 
residência de qualquer um dos nubentes. Se houver mais de um cartório na minha cidade, eu só 
posso me casar na circunscrição do meu registro de habilitação. 
Art. 1.534. A solenidade realizar-se-á na sede do cartório, com toda publicidade, a portas abertas, 
presentes pelo menos duas testemunhas, parentes ou não dos contraentes, ou, querendo as partes e 
consentindo a autoridade celebrante, noutro edifício público ou particular. 
§ 1o Quando o casamento for em edifício particular, ficará este de portas abertas durante o ato. 
§ 2o Serão quatro as testemunhas na hipótese do parágrafo anterior e se algum dos contraentes não souber 
ou não puder escrever. 
Dentro da circunscrição o juiz de paz pode celebrar o casamento em qualquer imóvel, 
sendo obrigatório que se mantenham as portas abertas — porque é um ato público contra o qual 
podem ser opostas objeções. 
Além disso é possível o casamento nos consulados brasileiros. OBS.: qual a diferença entre 
uma embaixada e um consulado? Só tenho uma embaixada por país, e consulado é elemento de 
conexão entre o estrangeiro e o direito do seu país, então posso ter vários consulados brasileiros nos 
EUA, são como se fosse um cartório, só que naquele país. 
BIANCA ROCHA DIR 317 AULAS 1 - 14 P. !18
 E se a pessoa quiser se casar em algum lugar aleatório? Ela pode se casar, faz 
habilitação na sua cidade, e quem fará a cerimônia será um ministro da sua igreja, cuja celebração 
vai gerar uma certidão. 
Mas em regra: o casamento é civil e a celebração será feita pelo juiz de paz, vide art. 98, II da 
CRFB, da circunscrição onde ocorreu a habilitação. A celebração fora da circunscrição é 
incompetência ratione loci o que torna o casamento nulo, fora se dele resultou a atermação nos livros 
públicos. Ou seja, o casamento feito por autoridade incompetente é nulo. Entretanto, se o juiz de 
paz fez esse casamento fora da sua circunscrição, mas desse casamento resultou uma atermação 
nesse caso o casamento será nulo, porém válido. A eficácia do ato retroage à data da celebração. 
Art. 1.538. A celebração do casamento será imediatamente suspensa se algum dos contraentes: 
I - recusar a solene afirmação da sua vontade; — ou permanecer em silêncio gélido. 
II - declarar que esta não é livre e espontânea; 
III - manifestar-se arrependido. 
Parágrafo único. O nubente que, por algum dos fatos mencionados neste artigo, der causa à suspensão do 
ato, não será admitido a retratar-se no mesmo dia. 
Por fim, completando o ciclo formal de realização do casamento é feita atermação. O termo 
circunstanciado perpetua o ato e dele constitui prova (apesar de a falta do termo não macular a 
validade do casamento). 
Art. 1.536. Do casamento, logo depois de celebrado, lavrar-se-á o assento no livro de registro. No 
assento, assinado pelo presidente do ato, pelos cônjuges, as testemunhas, e o oficial do registro, serão 
exarados: 
I - os prenomes, sobrenomes, datas de nascimento, profissão, domicílio e residência atual dos cônjuges; 
II - os prenomes, sobrenomes, datas de nascimento ou de morte, domicílio e residência atual dos pais; 
III - o prenome e sobrenome do cônjuge precedente e a data da dissolução do casamento anterior; 
IV - a data da publicação dos proclamas e da celebração do casamento; 
V - a relação dos documentos apresentados ao oficial do registro; 
VI - o prenome, sobrenome, profissão, domicílio e residência atual das testemunhas; 
VII - o regime do casamento, com a declaração da data e do cartório em cujas notas foi lavrada a escritura 
antenupcial, quando o regime não for o da comunhão parcial, ou o obrigatoriamente estabelecido. 
Finalmente, frisamos que o registro de casamento religioso com efeitos civis opera-se de forma 
semelhante, mas diferencia-se pela circunstância da autoridade celebrante, que nesse caso é uma 
autoridadereligiosa, ministro representante da religião seguida ou acolhida pelos nubentes. Nesse 
contexto, os art. 71 a 75, em especial art. 74 da Lei de Registros Públicos, e os art. 4, 5, e 6 da Lei 
1.110/1950. 
Art. 1.515. O casamento religioso, que atender às exigências da lei para a validade do casamento civil, 
equipara-se a este, desde que registrado no registro próprio, produzindo efeitos a partir da data de sua 
celebração. 
Art. 1.516. O registro do casamento religioso submete-se aos mesmos requisitos exigidos para o casamento 
civil. 
§ 1o O registro civil do casamento religioso deverá ser promovido dentro de noventa dias de sua realização, 
mediante comunicação do celebrante ao ofício competente, ou por iniciativa de qualquer interessado, desde 
que haja sido homologada previamente a habilitação regulada neste Código. Após o referido prazo, o 
registro dependerá de nova habilitação. 
§ 2o O casamento religioso, celebrado sem as formalidades exigidas neste Código, terá efeitos civis se, a 
requerimento do casal, for registrado, a qualquer tempo, no registro civil, mediante prévia habilitação 
perante a autoridade competente e observado o prazo do art. 1.532. 
§ 3o Será nulo o registro civil do casamento religioso se, antes dele, qualquer dos consorciados houver 
contraído com outrem casamento civil. 
BIANCA ROCHA DIR 317 AULAS 1 - 14 P. !19
Dessa forma, há duas opções. A primeira é fazer a habilitação antes da celebração, regra geral 
do casamento civil, assim como opção de reconhecimento civil do casamento religioso. E tenho a 
segunda opção, pela qual eu resolvo me casar antes de fazer a habilitação. 
Celebro um casamento religioso, ele é válido? Por enquanto, não tem efeito civil. Poderia 
eventualmente ter o efeito de prova para o início de uma união estável, por exemplo, mas para um 
casamento não. O que fazer? Eu vou ter que abrir um processo de habilitação a partir daqui, aberto 
no RCPN — domicílio de um dos nubentes. Com a habilitação pronta, insere-se a celebração 
anterior (aquela do religioso) como prova. Isso acontece porque casamento religioso não tem 
validade sozinho, para ter efeitos civis deve passar pelo reconhecimento. 
Em suma: a celebração religiosa do casamento (casamento religioso com efeitos civis) pode ter 
a sua habilitação prévia ou posterior à celebração. Havendo celebração mas não havendo registro 
civil, o ato poderá servir de prova de uma união estável. 
6.1 Formas Especiais de Casamento 
.1 CASAMENTO URGENTE 
Em caso de moléstia grave de um dos nubentes o presidente do ato faz esse casamento no 
local necessário, qualquer que seja, independente da circunscrição, na frente de duas testemunhas 
que saibam ler e escrever. 
Art. 1.539. No caso de moléstia grave de um dos nubentes, o presidente do ato irá celebrá-lo onde se 
encontrar o impedido, sendo urgente, ainda que à noite, perante duas testemunhas que saibam ler e 
escrever. 
§ 1o A falta ou impedimento da autoridade competente para presidir o casamento suprir-se-á por qualquer 
dos seus substitutos legais, e a do oficial do Registro Civil por outro ad hoc, nomeado pelo presidente do 
ato. 
§ 2o O termo avulso, lavrado pelo oficial ad hoc, será registrado no respectivo registro dentro em cinco 
dias, perante duas testemunhas, ficando arquivado. 
.2 CASAMENTO NUNCUPATIVO 
É aquele realizado in extremis momento vitae, ou seja, em momento extremo da vida. 
Art. 1.540. Quando algum dos contraentes estiver em iminente risco de vida, não obtendo a presença da 
autoridade à qual incumba presidir o ato, nem a de seu substituto, poderá o casamento ser celebrado na presença 
de seis testemunhas, que com os nubentes não tenham parentesco em linha reta, ou, na colateral, até segundo 
grau. 
É aquele contraído por nubente que se encontra moribundo. Nesse caso, o casamento poderá 
ser celebrado na presença de 6 testemunhas que com os nubentes não tenham parentesco em linha 
reta, ou colateral em segundo grau. 
Dois detalhes: 
(1) não se falou em autoridade celebrante, o nuncupativo é autocelebrado; 
(2) essa regra de parentesco é uma regra geral das testemunhas para o direito civil, vide art. 
228, excepcionalmente para efeitos de direito de família, que preza o afeto, as testemunhas 
podem ser parentes, e é até aconselhável que as testemunhas apresentadas pelo casamento na 
habilitação sejam, isto posto esse caso de “não poder ser parente” no nuncupativo é a exceção 
da exceção. 
BIANCA ROCHA DIR 317 AULAS 1 - 14 P. !20
Art. 1.541. Realizado o casamento, devem as testemunhas comparecer perante a autoridade 
judicial mais próxima, dentro em dez dias, pedindo que lhes tome por termo a declaração de: 
I - que foram convocadas por parte do enfermo; 
II - que este parecia em perigo de vida, mas em seu juízo; 
III - que, em sua presença, declararam os contraentes, livre e espontaneamente, receber-se por marido e 
mulher. 
§ 1o Autuado o pedido e tomadas as declarações, o juiz procederá às diligências necessárias para verificar se 
os contraentes podiam ter-se habilitado, na forma ordinária, ouvidos os interessados que o requererem, 
dentro em quinze dias. 
§ 2o Verificada a idoneidade dos cônjuges para o casamento, assim o decidirá a autoridade competente, 
com recurso voluntário às partes. 
§ 3o Se da decisão não se tiver recorrido, ou se ela passar em julgado, apesar dos recursos interpostos, o juiz 
mandará registrá-la no livro do Registro dos Casamentos. 
§ 4o O assento assim lavrado retrotrairá os efeitos do casamento, quanto ao estado dos cônjuges, à data da 
celebração. 
§ 5o Serão dispensadas as formalidades deste e do artigo antecedente, se o enfermo convalescer e puder 
ratificar o casamento na presença da autoridade competente e do oficial do registro. 
Realizado o casamento, as testemunhas devem fazer o registro. Instaura-se assim 
procedimento de jurisdição voluntária com participação do MP. A ausência desse registro implicará 
a nulidade absoluta do matrimônio contraído. 
.3 CASAMENTO POST MORTEM 
Não é possível no direito brasileiro. Existe no direito francês, em respeito a seus veteranos de 
guerra, que é o contexto em que esse tipo de casamento faz mais sentido. Como funciona? Precisa 
que uma das pessoas tenha se manifestado inegável direito de casar e um dos cônjuges tenha 
falecido a serviço da pátria. Ao final do processo, o casamento é celebrado pelo presidente. Existe 
no direito francês, em respeito a seus veteranos de guerra, que é o contexto em que esse tipo de 
casamento faz mais sentido. 
.4 CASAMENTO REALIZADO FORA DO PAÍS (S&P) 
Perante autoridade diplomática brasileira: na forma do art. 18 da LINDB. Deve ser 
registrado em até 180 dias a contar da volta (com animus de permanência) de um, ou ambos, 
cônjuges ao Brasil, no cartório de seu domícilio, ou no 1º Ofício da Capital do Estado que passarem 
a residir. Esse prazo é decadencial. 
Perante autoridade estrangeira: no caso de brasileiros entre si, ou brasileiro com 
estrangeiro, para que possa produzir os efeitos civis correspondentes no território brasileiro, deve 
tomar as providencias como se tratasse de qualquer matrimônio civil realizado no estrangeiro, 
devendo ser autenticado em Consulado brasileiro do país, traduzido por tradutor juramentado para 
que possa ser registrado no Brasil. 
OBS.: PROVA: Art. 1.544. O casamento de brasileiro, celebrado no estrangeiro, perante as respectivas 
autoridades ou os cônsules brasileiros, deverá ser registrado em cento e oitenta dias, a contar da volta de um ou de 
ambos os cônjuges ao Brasil, no cartório do respectivo domicílio, ou, em sua falta, no 1o Ofício da Capital do 
Estado em que passarem a residir. 
	 
.5 CASAMENTO POR PROCURAÇÃO 
Preciso estar lá para casar? Não, posso casar por MANDATO. 
Ou seja, através de um contrato de representação voluntária (a procuração é configurada 
apenas como instrumento delimitador dos poderes do procurador ou mandatário). 
BIANCA ROCHA DIR 317 AULAS 1 - 14 P. !21
Art. 1.542. O casamento pode celebrar-se medianteprocuração, por instrumento público, com 
poderes especiais. 
§ 1o A revogação do mandato não necessita chegar ao conhecimento do mandatário; mas, celebrado o 
casamento sem que o mandatário ou o outro contraente tivessem ciência da revogação, responderá o 
mandante por perdas e danos. 
§ 2o O nubente que não estiver em iminente risco de vida poderá fazer-se representar no casamento 
nuncupativo. 
§ 3o A eficácia do mandato não ultrapassará noventa dias. 
§ 4o Só por instrumento público se poderá revogar o mandato. 
Mas o documento lavrado tem que conter todos os elementos necessários para o ato em si: 
nome do cônjuge, regime de bens adotado, data provável para o casamento, local onde se processa a 
habilitação, etc. Isso porque o mandatário não pode negociar. 
Chamamos esse tipo de mandato de mandato impróprio. Seu funcionamento é em quase 
tudo idêntico aos demais, exceto por uma circunstância, sua revogação é diferente. 
O mandato público serve também para mandatos particulares, mas um mandato particular 
nunca serve para atuar para um ato público. Para um mandato público, a sua revogação também 
deve ser pública. Por exemplo, se o mandato de alguém comprar algo para mim é público, sua 
revogação deve ser pública também. Mas veja bem, fiz mandato para que terceiro realizasse compra 
e venda por mim. Mas depois desisti, e revoguei o mandato — fiz isso ontem, na hora que o cartório 
estava fechando. Hoje de manhã, a pessoa assina uma compra e venda, dependendo de uma 
revogação que eu assinei ontem, é válido? Sim. Porque a revogação que ainda não teve tempo de ter 
publicidade eficiente não é eficaz. No caso do casamento não é assim. 
O casamento por mandato precisa do documento que é público, na figura de mandato 
impróprio e esse mandato pode ser revogado. Mas e se esse casamento está acontecendo no interior 
de Portugal e o representante do noivo não sabe que esse mandato foi revogado? A celebração não 
será válida, e o casamento será tido como inexistente. Por que isso? Porque aqui, ao contrário da 
regra, a revogação não precisa ser eficaz para que ela tenha validade. 
No direito de família as coisas funcionam diferente: casamento nulo feito por autoridade 
incompetente pode convalescer se dele resultar registro; e um casamento feito com mandato 
revogado, ainda que sem publicidade adequada, torna inexistente o ato jurídico, se não sobrevier 
convivência dos nubentes (de maneira pouco ortodoxa, é como se o encontro sexual 
convalidasse o ano anulável). 
 
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7) PROVA DO CASAMENTO 
________________________________________________________________________________ 
Como todo ato jurídico o casamento está sujeito à comprovação, pela necessidade de 
demonstrar o estado civil. Mas como provar um casamento? O meio prioritário de prova se dá pela 
certidão de casamento emitida no Registro Civil. Pode faltar, contudo, esse meio probatório. 
Art. 1.543. O casamento celebrado no Brasil prova-se pela certidão do registro. 
Parágrafo único. Justificada a falta ou perda do registro civil, é admissível qualquer outra espécie de 
prova. 
Os artigos que se seguem falam de “casamento de pessoas na posse de estado de casadas”. 
Art. 1.545. O casamento de pessoas que, na posse do estado de casadas, não possam manifestar 
vontade, ou tenham falecido, não se pode contestar em prejuízo da prole comum, salvo mediante certidão 
do Registro Civil que prove que já era casada alguma delas, quando contraiu o casamento impugnado. 
Art. 1.547. Na dúvida entre as provas favoráveis e contrárias, julgar-se-á pelo casamento, se os cônjuges, 
cujo casamento se impugna, viverem ou tiverem vivido na posse do estado de casados. 
O que é posse? 
A exteriorização, que pela teoria da aparência vejo nos olhos de quem vê. É a posse de 
Ihering, cuja teoria venceu a posse de Savigny no nosso ordenamento — a de Savigny era o corpus + 
animus. Animus quer dizer alma, é o elemento subjetivo. Só que esse artigo e diz “posse de estado”. 
E como tenho a posse de num estado? 
A partir do momento que aos olhos de outras pessoas eu me comporto como tal, ou seja, me 
comporto como se casado fosse. Percebam que pode haver um engano aqui. 
Por exemplo, posso ter um vizinho de porta que vive com uma mulher. Conheço o vizinho, 
mas o que eu sei sobre essa mulher? Que parece ser esposa dele. Contudo, para que essa posse de 
estado se concretize, eu não posso apenas achar, mas a pessoa em questão tem que confirmar sua 
intenção, a sua verdade. 
Ou seja, a posse de Estado é uma concessão do direito brasileiro à posse de Savigny, 
porque nesse caso não basta apenas o corpus, eu preciso do {corpus + animus}. 
Caio Mário coloca três itens para que se comprove a posse de estado. 
(1) Nome: ou seja, um trazer o nome do outro. 
(2) Tratactus: tratar um ao outro como casal. 
(3) Fama: ser tido na sociedade como tal. 
O que o juiz vai procurar para confirmar a existência de uma família? 
Ele tem que procurar um elemento objetivo. Por exemplo, para confirmar uma União Estável 
no caso de alguém que ganhou na loteria, como distinguir um casal de namorados que mora juntos 
de um casal em união estável fática? Tenho que ir atrás dos elementos objetivos, que estão no 22, 
§3º, DEC-Lei 3.048/99. Devem ser levados pelo menos três dentre os presentes no rol: 
BIANCA ROCHA DIR 317 AULAS 1 - 14 P. !23
§ 3º  Para comprovação do vínculo e da 
dependência econômica, conforme o caso, devem 
ser apresentados no mínimo três dos 
seguintes documentos: 
        I - certidão de nascimento de filho havido 
em comum; 
        II - certidão de casamento religioso; 
        III - declaração do imposto de renda do 
segurado, em que conste o interessado como seu 
dependente; 
        IV - disposições testamentária. 
        VI - declaração especial feita perante 
tabelião; 
        VII - prova de mesmo domicílio; 
        VIII - prova de encargos domésticos 
evidentes e existência de sociedade ou comunhão 
nos atos da vida civil; 
        IX - procuração ou fiança reciprocamente 
outorgada; 
        X - conta bancária conjunta; 
        XI - registro em associação de qualquer 
natureza, onde conste o interessado como 
dependente do segurado; 
        XII - anotação constante de ficha ou livro de 
registro de empregados; 
        XIII - apólice de seguro da qual conste o 
segurado como instituidor do seguro e a pessoa 
interessada como sua beneficiária; 
        XIV - ficha de tratamento em instituição de 
assistência médica, da qual conste o segurado 
como responsável; 
        XV - escritura de compra e venda de imóvel 
pelo segurado em nome de dependente; 
        XVI - declaração de não emancipação do 
dependente menor de vinte e um anos; ou 
        XVII - quaisquer outros que possam levar à 
convicção do fato a comprovar. 

A lógica do direito civil é diferente da do direito previdenciário. O direito previdenciário 
identifica os direitos a partir do dependência financeira, dessa forma ele anda na frente da 
constituição da família, porque ele não fica procurando afeto ou vontade de um futuro comum. O 
direito previdenciário foi o primeiro a reconhecer direitos numa união estável; chamo esse tipo de 
situação de decisão de plano, em que aplico o direito num caso determinado. O direito 
previdenciário foi alimentando um valor social que deu origem a uma decisão de fundo — como a 
lei que autorizou o casamento homoafetivo. 
Por fim. 
Art. 1.546. Quando a prova da celebração legal do casamento resultar de processo judicial, o registro da 
sentença no livro do Registro Civil produzirá, tanto no que toca aos cônjuges como no que respeita aos filhos, 
todos os efeitos civis desde a data do casamento. 
__________________________________________________________________ 
BIANCA ROCHA DIR 317 AULAS 1 - 14 P. !24
8) CAPACIDADE PARA O CASAMENTO 
________________________________________________________________________________IDADE NÚBIL: 16. 
É a idade em que as pessoas podem se casar. No direito brasileiro, como é ato para vida civil 
pressupõe-se que a capacidade para os demais atos é a mesma capacidade que para os atos do 
casamento. Como funciona? Tenho a faixa dos dos 16 aos 18. 
✦Antes dos 16: sou incapaz. Casamento: excepcionalmente, vide autorização judicial. 
Art. 1.520. Excepcionalmente, será permitido o casamento de quem ainda não alcançou a idade núbil 
(art. 1517), para evitar imposição ou cumprimento de pena criminal ou em caso de gravidez. 
✦Dos 16 aos 18: sou relativamente incapaz, preciso de representação. — casamento apenas 
com autorização dos responsáveis. 
✦Dos 18 em diante: capacidade civil plena. 
Art. 1.517. O homem e a mulher com dezesseis anos podem casar, exigindo-se autorização de ambos 
os pais, ou de seus representantes legais, enquanto não atingida a maioridade civil. 
Parágrafo único. Se houver divergência entre os pais, aplica-se o disposto no parágrafo único do art. 1.631. 
Para o menor na faixa de 16 e 17 anos, a autorização concedida é revogável a qualquer tempo 
até o casamento, a do juiz também. 
Art. 1.518.  Até a celebração do casamento podem os pais ou tutores revogar a autorização. 
E se um pai concorda e o outro não? 
Precisamos então de intervenção judicial. No código de 1916 não tinha como um pai 
autorizar e o outro não por essa ideia de unicidade do poder familiar se situava na figura do pai. 
Contudo a partir do novo código o poder passou a ser de ambos os pais. Ou seja: precisa da 
autorização de AMBOS. 
Art. 1.631. Parágrafo único. Divergindo os pais quanto ao exercício do poder familiar, é assegurado a 
qualquer deles recorrer ao juiz para solução do desacordo. 
O juiz vai analisar esse caso como? O juiz vai avaliar a permissão dos dois pais, então vai 
decidir se a negativa dos pais foi injusta ou não para decidir. 
Art. 1.519. A denegação do consentimento, quando injusta, pode ser suprida pelo juiz. 
Toda vez que o juiz atuar, em regra se aplica: 
Art. 1.641. É obrigatório o regime da separação de bens no casamento: III - de todos os que dependerem, 
para casar, de suprimento judicial. 
A jurisprudência aceita como justificativa para negativa: 
i. Costumes desregrados ou mal procedimento do pretendente; 
ii. Não ter aptidão para sustentar a família; 
iii. Grave risco de saúde para incapaz. 
iv. Rapto e condução à casa de tolerância (lupanar; casa de prostituição). 
Essa obrigatoriedade será atenuada vide Súmula 377 STF: No regime de separação legal de bens, 
comunicam-se os adquiridos na constância do casamento.  
Quem se casa entre os 16 e 18 anos, obtém no casamento a emancipação. 
Quem casa antes dos 16? Não se emancipa, porque não completou a idade núbil, nesse caso 
não há a maioridade e o infante deve permanecer na casa dos pais até os 16 anos, mesmo casado. 
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9) IMPEDIMENTOS 
________________________________________________________________________________ 
9.1 Permissões Especiais 
A ninguém é dado o direito de interferir nos projetos de vida de outras pessoas, e o casamento 
é um projeto de vida. No 1513 eu tenho o início dessa ideia: 
Art. 1.513. É defeso a qualquer pessoa, de direito público ou privado, interferir na comunhão de vida 
instituída pela família. 
Não se permite interferir na comunhão de vida instituída pela família, não sendo permitido 
por exemplo ter um contrato de trabalho que te impeça de casar. Contudo, há aqueles que só 
podem casar mediante autorização especial, e são dois os casos: 
I. LEI 11.440/2006 - Art. 33-34: Diplomatas não podem se casar com pessoas estrangeiras, 
exceto com expressa autorização do ministro das relações exteriores, sob pena de demissão. 
II. LEI 6.880/1980 que diz respeito a militares de determinada patente, por exemplo os 
cadetes, que não podem se casar com ninguém; e oficiais militares não podem se casar com 
estrangeiros exceto com autorização do ministro da defesa. 
Por que? Há um interesse público gritante na ocupação desses cargos. 
OBS.: Há algumas outras profissões que geralmente não contratam casados, e há outras que 
só aceitam casados, mas isso se dá por tradição, não havendo proibições, ou vedações expressas, vide 
conformidade com o disposto no art. 1513. Por exemplo, mergulhadores de grandes profundidades 
são tradicionalmente solteiros, miss não pode ser casada, e o AETQ, pessoa qualificada para lidar 
com finanças, é comumente casado. 
9.2 Impedimentos 
Apesar do 1513, há aqueles que são impedidos de casar. 
Dirimentes: interesses protegidos que podem ser públicos ou privados. 
.1 IMPEDIMENTOS DIRIMENTES PÚBLICOS 
São aqueles sobre os quais eu não posso negociar, não posso ultrapassar, estão elencados no 
quadro. A consequência desse casamento é de que ele é NULO. Ou seja, se acontecer, vai causar 
uma nulidade. 
Art. 1.521. Não podem casar: 
I - os ascendentes com os descendentes, seja o parentesco natural ou civil; 
II - os afins em linha reta; 
III - o adotante com quem foi cônjuge do adotado e o adotado com quem o foi do adotante; 
IV - os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, até o terceiro grau inclusive; — o DEC-LEI 
3200/1941 permite o casamento entre parentes colaterais em 3º grau desde que haja um exame pré-nupcial. Getúlio 
Vargas, ideologia alinhada com fascismo, preocupações da época eram de eugenia, ou seja interessante evitar doenças 
geneticamente transmissíveis. Esse decreto nunca foi revogado. 
V - o adotado com o filho do adotante; 
VI - as pessoas casadas; 
VII - o cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio ou tentativa de homicídio contra o seu 
consorte — Em ambos os casos, evidentemente doloso, e exige a condenação. E se for culposo? Aí pode. 
BIANCA ROCHA DIR 317 AULAS 1 - 14 P. !26
Pelo art. 1522, qualquer pessoa pode se opor apresentando algum desses impedimentos até o 
casamento ser celebrado. 
Art. 1.548. É nulo o casamento contraído: II - por infringência de impedimento. 
Passado o casamento, só quem pode se manifestar é interessado, ou Ministério Público. Essa 
oposição é feita em declaração assinada. 
Art. 1.549. A decretação de nulidade de casamento, pelos motivos previstos no artigo antecedente, 
pode ser promovida mediante ação direta, por qualquer interessado, ou pelo Ministério Público 
.2 IMPEDIMENTOS DIRIMENTES PRIVADOS 
Nesses casos do quadro a seguir, o casamento feito não é nem nulo nem anulável, mas gera a 
mesma penalidade contida no Art. 1641, I - das pessoas que o contraírem com inobservância das causas 
suspensivas da celebração do casamento; o regime obrigatório da separação de bens. 
Art. 1.523. Não devem casar: 
I - o viúvo ou a viúva que tiver filho do cônjuge falecido, enquanto não fizer inventário dos bens do casal e der 
partilha aos herdeiros; 
II - a viúva, ou a mulher cujo casamento se desfez por ser nulo ou ter sido anulado, até dez meses depois do 
começo da viuvez, ou da dissolução da sociedade conjugal; — Turbatio Sanguinis: para evitar que houvesse dúvida quanto a 
paternidade, presume-se a paternidade do falecido. 
III - o divorciado, enquanto não houver sido homologada ou decidida a partilha dos bens do casal; 
IV - o tutor ou o curador e os seus descendentes, ascendentes, irmãos, cunhados ou sobrinhos, com a pessoa 
tutelada ou curatelada, enquanto não cessar a tutela ou curatela, e não estiverem saldadas as respectivas contas. — esse 
caso busca evitar um conflito de interesses. 
Parágrafo único. É permitido aos nubentes solicitar ao juiz que não lhes sejam aplicadas as causas suspensivas 
previstas nos incisos I, III e IV deste artigo, provando-se a inexistência de prejuízo, respectivamente, para o herdeiro, 
para o ex-cônjuge e para a pessoa tutelada ou curatelada; no caso do inciso II, a nubente deverá provar nascimento de 
filho, ou inexistência de gravidez, na fluência do prazo. 
No casodo 1523, as partes podem pedir ao juiz que não aplique a penalidade, demonstrando 
que não houve prejuízo aos filhos ou a terceiros. A preocupação desse artigo é, por exemplo, uma 
vez que exista um viúvo com filhos qual obrigação ele tem? Fazer a partilha dos bens, entregando a 
meação do cônjuge falecido aos seus filhos, a lei tenta evitar que essa pessoa case de novo e leve esse 
patrimônio que na verdade pertence aos seus filhos para um novo patrimônio, privando seus filhos 
disso. Como se prova que não vai causar prejuÍzos? Provando que o falecido não deixou bem 
nenhum, e isso se faz através de um inventário negativo, que na verdade é mera declaração daquele 
cônjuge de que não existe patrimônio a ser inventariado (demonstração dada ao oficial é suficiente). 
________________________________________________________________________________ 
BIANCA ROCHA DIR 317 AULAS 1 - 14 P. !27
10) PLANO DE VALIDADE DO CASAMENTO: INVALIDADES 
________________________________________________________________________________ 
10.1 Casamento Inexistente 
Ocorre somente a aparência do negócio jurídico, em casos onde exista a ausência de um 
requisito essencial. Caio Mario traz dois: (1) falta de celebração, (2) ausência total de consentimento 
e adicionamos um terceiro, (3) ausência da autoridade competente. Se o casamento inexistente 
deixar rastro material, o direito deve se encarregar de normalizar a situação. 
10.2 Invalidades 
Para o direito de família, a teoria das nulidades de direito civil procede? NÃO. 
Então como o ato jurídico do casamento sofre alguma invalidação? 
Vamos começar pela análise do direito civil. 
Teoria das nulidades do direito civil: 
✦Ato Inexistente: não gera efeitos, porque é um ato que não ocorreu. 
✦Ato Nulo: aquele com infringência dos impedimentos dirimentes, ou quando a solenidade 
for ausente, portanto nula. Qual efeito de um ato nulo? Efeito zero, ou seja, efeito ex tunc. 
✦Ato anulável: gera efeitos, efeitos ex nunc — gerou efeitos até a anulação. 
Já no direito de família os atos nulos, anuláveis e até mesmo inexistentes PODEM GERAR 
EFEITOS SIM, fundamentados em outros princípios gerais de direito civil, como o principio da 
boa-fé, da confiança e o princípio do não locupletamento. 
Então como vou saber quando um ato sofreu efeito ou não? É argumentativo, assim tenho que 
saber argumentar que baseado nesses princípios aquele ato gerou efeitos. Ou seja, até mesmo o 
casamento nulo, em determinadas circunstâncias vira casamento. Sendo assim, é uma teoria das 
nulidades completamente independente da apresentada pela Teoria Geral de Direito Civil. 
NULIDADES & ANULABILIDADES 
Hipóteses destacáveis: (1) O art 1554 traz exceção: é o casamento nulo que vale, já 
previsto no código. Diz respeito à incompetência em razão do local (rationi loci); ou por rationi 
materiae. (2) Pessoa que revoga o mandato para o casamento antes do casamento mas ocorre a 
celebração assim mesmo. Esse casamento é nulo, porque não se exige a eficácia. Por que? Pelo 
direito de família, ainda que nulo, se os nubentes coabitarem ele é válido. 
As anulabilidades se dão naqueles casos em que é possível uma correção do ato mantendo 
assim a integridade do negócio jurídico — do casamento. Hipóteses: os casos gerais do art. 171, e 
coação via art. 151 e 156. 
CASAMENTO NULO CASAMENTO ANULÁVEL 
Interesse público Interesse privado 
Imprescritível Prescritível 
Não cabe retificação Cabe retificação. 
BIANCA ROCHA DIR 317 AULAS 1 - 14 P. !28
10.3 CASAMENTO ANULÁVEL 
A) REGRA GERAL: 
Art. 1.558. É anulável o casamento em virtude de coação, quando o consentimento de um ou de ambos os 
cônjuges houver sido captado mediante fundado temor de mal considerável e iminente para a vida, a saúde 
e a honra, sua ou de seus familiares. 
OBS.: Não se admite o mero temor reverencial. 
B) ERRO ESSENCIAL: 
É a falsa ideação sobre aspectos importantes ou preponderantes do negócio jurídico. 
Art. 1.557. Considera-se erro essencial sobre a pessoa do outro cônjuge: 
I - o que diz respeito à sua identidade, sua honra e boa fama, sendo esse erro tal que o seu 
conhecimento ulterior torne insuportável a vida em comum ao cônjuge enganado; — Erro quanto à boa fama: é a 
estima social de que goza a pessoa. 
Além disso, a jurisprudência aceita o débito conjugal. Homoafetividade do cônjuge em um 
casamento heteroafetivos (e vice versa) pode ser erro essencial? Eu casei com uma pessoa acreditando que a 
sua orientação sexual era uma, e descobri depois que na realidade é outra, é erro essencial em relação a pessoa? Não 
existe nenhuma decisão nesse sentido, mas é plausível a persistência desse aspecto. Também se fala 
em nubente estelionatário; perversão do instinto sexual (muito relativo, evidentemente nem toda 
perversão é aceita pela outra parte, justificaria desde que aquela prática existisse antes do casamento 
e foi ocultada); induzimento ao casamento pela afirmação de paternidade frente a gravidez da 
mulher e posterior paternidade excluída por perícia; união inspirada por amigos com açodamento 
das partes — comum em grupos muito fechados, especialmente grupos religiosos, o próprio grupo 
força de alguma maneira esse casamento entre membros participantes; atividade de meretriz 
anterior ao casamento; simulação de gravidez. Não são aceitos: crença religiosa, cônjuge que se 
casa sem dar ouvidos a relatos desamoradores. 
Requisitos: 
1. Devem ser desconhecidos quando do casamento. 
2. Devem ser anteriores ao casamento. 
3. Devem afetar o cônjuge, não sendo cabíveis à sua família. 
II - a ignorância de crime, anterior ao casamento, que, por sua natureza, torne insuportável a vida 
conjugal; — Exceção: se o crime foi cometido por menor de 18 anos, tornando-o criminalmente inimputável não se 
aperfeiçoa a hipótese legal (distinção demasiado legalista). 
III - a ignorância, anterior ao casamento, de defeito físico irremediável — como deformações genitais, 
infantilismo ou gigantismo sexual; casos de impotência* coeundi, instrumental — que não caracterize deficiência ou 
de moléstia grave e transmissível, por contágio ou por herança, capaz de pôr em risco a saúde do outro cônjuge ou 
de sua descendência;     
Legitimidade ad causam: 
Texto do Art. 1.559.: Somente o cônjuge que incidiu em erro, ou sofreu coação, pode 
demandar a anulação do casamento; mas a coabitação, havendo ciência do vício, valida o ato, ressalvadas as hipóteses 
dos incisos III e IV do art. 1.557. 
Prazos: 
Art. 1.560. O prazo para ser intentada a ação de anulação do casamento, a contar da data da celebração, 
é de: 
I - cento e oitenta dias, no caso do inciso IV do art. 1.550; — incapaz que não manifestou consentimento. 
II - dois anos, se incompetente a autoridade celebrante; 
III - três anos, nos casos dos incisos I a IV do art. 1.557; 
IV - quatro anos, se houver coação. 
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§ 1o Extingue-se, em cento e oitenta dias, o direito de anular o casamento dos menores de dezesseis anos, 
contado o prazo para o menor do dia em que perfez essa idade; e da data do casamento, para seus 
representantes legais ou ascendentes. 
§ 2o Na hipótese do inciso V do art. 1.550 — mandatário sem que ele ou o contraente soubesse da revogação do mandato 
— , o prazo para anulação do casamento é de cento e oitenta dias, a partir da data em que o mandante 
tiver conhecimento da celebração. 
10.4 CASAMENTO PUTATIVO 
É um dos casos de nulidade do casamento. 
Putativo é o que parece mas não é. Ou seja, é um casamento que existiu, mas não existiu. 
Quando isso pode acontecer? Principalmente quando o casamento ou união estável decorre de uma 
formação de família em violação ao art. 1521, ou seja, as hipóteses de impedimento dirimente 
público. A nulidade não é afetada pela boa-fé ou má-fé dos contraentes, isso porque o art. 1521 diz 
respeito a um interesse público. Temos duas opções nesse casamento: 
I. Todos estão cientes e então o casamento não vai se realizar; ambos estão de 
boa fé

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