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Bianca Rocha NACIF 2018/2 Direito de Família e Sucessões DIR 317 ________________________________________________________________________________ Novo Curso de Direito Civil, Vol.6. Pablo Stolze Gagliano & Rodolfo Pamplona Filho (2018). Caio Mário da Silva Pereira: Instituições de Direito Civil. Vol. 5 (2017). ________________________________________________________________________________ PARTE PRIMEIRA: DIREITO DE FAMÍLIA ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ 0) NOÇÕES PARA COMPREENSÃO DO DIREITO DE FAMÍLIA ________________________________________________________________________________ SENSO COMUM E COMPLEXIDADE Crenças e Mitos A primeira dificuldade enfrentada é: boa parte dos estudantes já tem alguma opinião formada sobre o tema. Nesse sentido, tendem a se fechar a novos conhecimentos novos por crer já saber as respostas para as questões, como óbvio. Isso acontece porque o aluno cria, com o pouco que sabe, uma quantidade de crenças e mitos, e traz para dentro da ciência, bloqueando os novos ensinamentos dados a ele. Essa forma anterior de perceber o mundo é uma crença, um mito, construído através de um modelo de mundo baseado em concepções recebidas por familiares, amigos, etc. Isso compõe a moral, trazida por esse grupo seleto de convivência. Vide exemplo: “O meu grupo todo é a favor da legalização da maconha, por que eu seria contra?”. Para entender direito de família nós temos que desconstruir, para depois construir. Devemos aprender a pensar como direito de família, em que tratamos de uma outra estrutura do direito que é bastante diferente do estudado até agora, pois o direito aqui é pautado no afeto, não de um contrato, não de uma obrigação, nem de uma oponibilidade erga omnes. Daniel Kahnmannam: Duas Formas de Pensar Sistema 1 de raciocínio: A primeira é a forma rápida, por exemplo, estou atravessando a rua, mas escuto o barulho de freio de um carro e eu corro, pois isso indica que um carro vem em minha direção e eu tenho que sair dali urgentemente. Pensar rápido é uma reação essencial para a sobrevivência. A forma rápida é chamada de sistema 1 de raciocínio. Sistema 2 de raciocínio: Mas nem tudo pode ser solucionado através dessa forma de pensar, imagine se me perguntam se eu sou a favor da descriminalização da maconha e prontamente eu respondo que não, sem uma reflexão acerca do tema? Isso é um mal, pois tem coisas que devemos parar para pensar sobre. E quando o pensamento se dá mediante uma reflexão caracteriza-se a forma devagar. Corresponde ao Sistema 2 de raciocínio, um pensamento reflexivo. A forma rápida de dar uma resposta conforme a sua visão de mundo, vai àquela questão de que para todo problema complexo existe uma solução fácil, porém muitas vezes errada. Como enfrentar cada um desses problemas? A primeira forma é dar a opinião que é particular a mim, e essa devemos evitar: a de dar respostas pré-prontas na sua cabeça, porque estas podem ser lapidadas. Essa visão pessoal corresponde a uma ilusão da verdade, construída com os conceitos de vida trazidos pela experiência de cada um. A dignidade da pessoa humana se resume ao livre desenvolvimento da personalidade (deixa eu ser o que eu quero ser). Aonde achar a solução? O direito não vai dar a resposta, ele tem a tendência muito grande a ser autopoiético — sistema que se cria, se distingue por si mesmo — e não consigo ter um bom direito sem refletir esses problemas na sociedade, e nos ramos de estudo em que mais isso diz respeito. “Quem conhece só direito, nem o direito conhece”. O viés: Já o viés diz respeito a tendência que temos de utilizar o sistema 1, quando a situação mereceria, na verdade, a utilização dos sistema 2. É aquela opinião pré-julgada, um pré- juízo, sobre todas as questões da vida, e há quem não mude isso nunca, nem se for demonstrado o contrário. As pessoas se fecham dentro dessa redoma, porque, se o mundo faz sentido com a história coerente que estamos contando, para que mudar? É o conservadorismo. O problema é que estar funcionando “bem” (para você) não significa que seja certo. É preciso abandonar esse tipo de posição para evoluir, e se dispor a reflexões até acerca das temáticas tidas como certas. BIANCA ROCHA DIR 317 AULAS 1 - 14 P. !2 A Liberdade: Somente com o reconhecimento de nós como seres humanos falíveis, é que alcançamos um padrão de liberdade. O método a ser discutido é bem psicanalítico. A liberdade pela construção trinitária tinha a ideia de livre arbítrio. Nessa estrutura cristã nasce o indivíduo, que é ímpar, único, pois todos, e cada um tem o desígnio enviado de Deus. Isso é poderoso, cada um poder-ser do jeito que quiser. A individualização da pessoa aqui deságua na concepção da liberdade como condição essencial da elaboração dos valores morais. Então a liberdade passa, pela necessidade de confrontar racionalmente os argumentos, todos eles baseados na razão, a aceitar a diferença e a diversidade. Numa sociedade democrática, não se admite nenhum cerceamento às liberdades, especialmente à liberdade de expressão e à liberdade de viver conforme a minha visão de mundo (cosmogonia). Daí vem Kant, e diz que isso não é bem assim. Por exemplo, Nacif não poderia dar aula tomando um uísque ou fumando maconha, pois ele não pode deixar que a sua vontade reine sobre os seus atos. Já para Freud a vontade é o id – uma parte do nosso psiqué, e ele influencia na outra parte do nosso psique que é o ego. O que freia Nacif é uma força supressora, que se chama super ego, que o impede de fazer qualquer das suas vontades a todo momento. Esse “viver conforme a minha visão de mundo” – qual é seu limitador? O meu direito termina onde começa o do outro (autonomia privada). Essa autonomia privada é trazida como princípio para o direito civil, que é o meu impulso ao ato cerceado pelo direito privado. Eu posso fazer tudo, desde que a lei não me proíba. Quando a gente entra no direito de família entram outras forças, que não sejam somente as forças da racionalidade, porque isso envolve afeto, e consequentemente: minha moral, religião, amigos. Isso é mais complicado. ________________________________________________________________________________ BIANCA ROCHA DIR 317 AULAS 1 - 14 P. !3 1) A FAMÍLIA ________________________________________________________________________________ 1.1 Objetivos Uma família pode se formar por vários motivos: (a) afetividade; (b) sexo; (c) ter um futuro juntos e conhecimento pessoal; (d) paz, tranquilidade e segurança. O sexo e a afetividade tendem a diminuir com o tempo, e consequentemente a não ser suficientes para uma família duradoura. Para que perdure é preciso haver um projeto de vida em comum. Para o direito é essencial detectar os projetos de vida em comum para a diferenciação de um mero namoro e a constatação da existência de uma união estável. Exemplo: um casal de namorados mora junto em Viçosa, e um deles ganha um prêmio da mega-sena, o outro não teria direito. Pois não existe uma exteriorização da posse que se altere a de uma relação de namorados que apenas moram juntos para uma situação factual de união estável. Eu tenho que conseguir distinguir se havia ali a intenção de formar uma família. Não vai ser o sexo nem a afetividade que vai mostrar isso, mas o projeto de vida juntos. Objetivamente: se você identifica os objetivos da família, você identifica que ali houve uma família, e se o prêmio da mega-sena foi adquirido por um dos companheiros, e se for comprovado que ali tinha um interesse de família, o prêmio deverá ser dividido entre o casal. Exemplos de ações que demonstram interesse em formar uma família: (1) conta conjunta no banco, (2) comprar casa financiada junto, (3) conta de clube onde um coloca o outro como dependente, (4) seguro de vida em nome do outro, (5) tratamento contra infertilidade,(6) plano de saúde. Mas esse rol não é taxativo, por isso é complexo. Os objetivos de família devem ser identificados objetivamente. 1.2 Paradigma Definição: muito básica, um paradigma é o prisma pelo qual eu enxergo o mundo. Já para a ciência, o paradigma tem uma outra concepção, criada por Thomas Kuhn: para ele, esse prisma vai me mostrando como que o mundo funciona e eu vou adaptar a história que eu conto do mundo através daquele prisma, alterando ele. Até que chega o momento em que aquele paradigma não explica mais o mundo e a partir daí, eu excluo esse prisma, mudando de paradigma. 1. ROMA: em direito de família, nosso primeiro paradigma vem de Roma: estruturas como por exemplo, o pater familias, a adoção, o casamento, a união estável, já estavam presentes no direito romano. 2. RELIGIÃO: o segundo prisma será a religião, quando a Igreja Católica consubstancia o sexo apenas ao casamento (e com isso ganha dinheiro). A família só se constituía pelo matrimônio, e fora dele não existia ninguém, não existia nem filho. A religião dominou o direito de família no Brasil até 1988, quando da constituição federal. Em alguns lugares do mundo a religião ainda manda no direito de família. ✦ 1977: Esse paradigma religioso foi “extinto” do direito brasileiro porque houve uma evolução no país, especialmente nas décadas de 60 a 80. Até 1977 não existia o divórcio, casar era para sempre, e as pessoas ficavam num limbo jurídico chamado desquitado — esse termo era até pejorativo. A partir de 1977 veio a lei de divórcio e foi preciso mudar a constituição. 3. CRFB/88: Esse processo de mudança de paradigmas foi gradual, e a partir da Constituição de 1988, surge novo paradigma orientador. BIANCA ROCHA DIR 317 AULAS 1 - 14 P. !4 ✴TRANSPESSOALIDADE: interesses e dimensão da instituição famílias tem primazia, de modo que ante choque entre interesses eventuais de algum de seus membros componentes (ou que poderiam vir a compô-la) e ‘interesse familiar’, prevaleceriam os interesses da família. Por exemplo, se um homem casado engravidasse uma mulher solteira na década de 50/60, esse filho seria um bastardo não reconhecido. A mulher não tinha sequer o direito de pedir uma investigação de paternidade de um homem casado, pois aquilo poderia vir a destruir a família. ✴✴ EUDEMONISTA: é a doutrina que considera a busca de uma vida feliz, seja em âmbito individual seja coletivo, o princípio e fundamento dos valores morais, julgando eticamente positivas todas as ações que conduzam o homem à felicidade. 1.3 Direito de Família É o efeito da norma jurídica de transformar em fato jurídico a parte do seu suporte fático que o direito considerou relevante para o ingresso no mundo jurídico. Preceito: constitui a parte da norma jurídica em que são prescritos os efeitos atribuídos aos fatos jurídicos. Isso nos leva ao fenômeno da juridicização dos fatos. Juridicização dos fatos: ocorre quando eu percebo que um determinado fato social é juridicamente relevante, e eu crio um preceito — que antes não existia — para aquele fato. Antes da CRFB/88 morar juntos sobre o mesmo teto, mantendo relações sexuais, e objetivos em comum, não era um fato juridicizado. A partir de 88 esse fato passou a se constituir como união estável. Obviamente, isso tem que ser fundado num valor social. Ao mesmo tempo, o direito de família sofreu uma forte desjuridicização, que é a retirada de juridicidade de fatos que já não convém como valor social — foi o caso do adultério, que era considerado um time penal, até que isso foi retirado do código, porque não era relevante judicialmente. A atual discussão sobre a descriminalização do aborto, por exemplo, se aprovado, será uma desjuridicização. 1.3.1 NATUREZA JURÍDICA: CCB 1916 CRFB/88 // CCB 2002 Família só se dava pelo matrimônio. Traz a família monoparental. A formação de família é livre. Família patriarcal. Ou seja, o pai era o chefe de família. Caráter igualitário, fundado no princípio da isonomia. Formação de família era institucionalizada. Havia apenas duas formas de casamento: 1. Religioso 2. Civil A formação de família tem um caráter mais contratual. Traz consigo alguns problemas jurídicos, especialmente a publicidade dos atos jurídicos. Caráter mais público. O Estado vigiava o direito de família. Esse interesse se dava pela herança paradigmática da religião, e pelo conservadorismo (que levava a tratar pessoas com infantilização). Caráter privado. Você casa com quem quiser, desde que não desrespeite os princípios do direito (como não locupletamento, dignidade, proteção dos incapazes, adoção, tutela). Se ofendidos, trazem a proteção do Estado para a formação familiar. Em suma, interfere protetivamente. Característica da transpessoalidade. Quer dizer que o direito de família estava acima dos interesses das pessoas. * Característica eudemonista. ** A partir do momento que CF trouxe princípio da dignidade humana, e isso é captado pelo direito de família, cria condições para que as pessoas busquem ter uma vida feliz, na esfera das suas decisões pessoais. BIANCA ROCHA DIR 317 AULAS 1 - 14 P. !5 Não existe mais a função de cédula básica da sociedade na concepção de uma natureza jurídica de família, essa ideia institucionalizada encontra-se em desuso. Mas nós ainda não temos uma natureza jurídica especifica para a família. No Direito brasileiro ela não é um sujeito de direito, não sendo a família dotada de uma personalidade jurídica. A família hoje é plural, e é um núcleo de afetividade. 1.3.2 CONCEITOS: A doutrina fundamenta família no meu núcleo de afetividade, são as pessoas a quem eu me ligo pelo afeto, e isso gera direitos e deveres, as vezes sem a gente querer, e as vezes por vontade. Em suma: o direito de família são as regras normativas que incidem sobre as relações de afeto. Clóvis Beviláqua(1859/1944): É o complexo de normas que regulam a celebração do casamento, sua validade e os efeitos que dele resultam, as relações pessoais e econômicas da sociedade conjugal, a dissolução desta, as relações entre pais e filhos, o vínculo de parentesco e os institutos complementares da tutela, da curatela, e da ausência. Nessa percepção conceitual de 1916 era muito importante a validade do casamento. Hoje, é o direito pertinente às relações nascidas do núcleo de afetividade do ser humano, bem como os institutos complementares e conexos a ele. 1.3.3 IMPORTÂNCIA O tema do direito de família é importante devido ao impacto na vida pessoal, carregado de interesses das pessoas com seus aspectos psicológicos e sociais. Também é de interesse do estado um núcleo familiar com a função da criação das crianças — provimento aos filhos, e pelo caráter migratório desse direito. É importante ressaltar a importância da publicidade do estado civil, bem como sua importância para os aspectos negociais. 1.4 Características a) De Caráter Privado: normas que permitiam ao indivíduo a consolidação e a estabilidade do seu núcleo de afetividade, com efeito direto sobre sua felicidade, e consequentemente dignidade. b) De Caráter Público: normas que permitem a intervenção do estado onde houverem pessoas hipossuficientes na relação jurídica; por exemplo casamento de maior de 70 anos dever ser por regime de separação de bens. c) Representação: há uma representação imprópria. No direito de família os atos são, via de regra, pessoais. Mas não personalíssimos. Qualquer procuração feita deve conter todas as características dos atos, do representado e do negócio jurídico a ser feito, uma vez que diferente do direito civil, no direito de família o representante não tem margem para negociação. Por exemplo, é possível o casamento por mandato impróprio (contrato pelo qual se outorga outra pessoa poderes para participar ou contrair obrigações). d) Não cabem: termo, ou condição. Em nenhum de seus atos. Condição esta, seja resolutiva ou suspensiva. Não posso casar mediante condição (coação)ou adotar a prazo. Uma situação excepcional é a de doação propter nuptiae. e) Não são aceitas renúncias ou transmissões. A hipótese de renúncia de paternidade por exemplo, é absurda. f) Há intervenção de autoridade pública sempre que determinado por lei. Por exemplo, porque não basta a vontade dos noivos para se casar, é necessário um juiz de paz que os declare marido e mulher. Esse juiz de paz é a autoridade pública, cujo ato dá anuência e BIANCA ROCHA DIR 317 AULAS 1 - 14 P. !6 constituição ao casamento. Outro caso, geralmente situações relacionadas a um menor necessitam autorização, como divórcio quando há filhos que carece de procedimento judicial. 1.5 Princípios do Direito de Família Com a CF o direito de família passou de um caráter predominantemente público para um caráter privado, mas ainda mantém proteção ao incapaz, ao menor, ao idoso. Todo direito civil, na verdade, tem um caráter dúplice, público e privado, o que muda é para onde pende o pêndulo. A CRFB/1988 foi a grande mudança do paradigma transpessoal (família acima de tudo) para o eudemonista (o que importa é ser feliz). Mas não foi apenas a CF, foi uma constituição acompanhada de um comportamento social. O mundo já tinha mudado, as pessoas já tinham mudado e a o direito acompanhou isso. O constitucionalismo alemão pregava que a constituição se dirigia ao legislador e o legislador é que fazia as leis que o povo iria seguir. No entanto, havia pressa, pois tínhamos um código de 1916. Assim, rapidamente, a doutrina e os juízes procuraram um constitucionalismo mais efetivo: o constitucionalismo norte-americano, com a eficácia imediata das normas constitucionais. Fundamento republicano: O primeiro fundamento da CRFB é o princípio da dignidade da pessoa humana. Qual o conteúdo desse fundamento? Não era sabido, teve de ser desenvolvida doutrina amparada no direito norte- americano. Um artigo que definiu muito bem esse conteúdo foi de Paulo Motta Pinto, que definiu o que o conteúdo da dignidade seria: que o Estado me permita viver como eu acho que devo viver. Ou seja, levar a vida conforme a minha cosmogonia, desde que eu não ofenda o outro. É o direito que eu tenho de dar à minha vida os desígnios que achar conveniente. Isso revela um caráter de direito privado. Casamento a três, por exemplo, ainda não é possível nem mesmo no pais mais liberal para o direito de família, que é o EUA. O que os cartórios começaram a fazer era uma pacto de convivência para regulamentar essas situações, de ‘união estável poliafetiva’ mas o CNJ proibiu (em junho de 2018). Agora eles fazem por instrumento particular. Dessa forma, a gente tem que o limite dessa cosmogonia vai ser testado no cotidiano, pois ainda não se sabe até onde podemos ir para atingirmos a nossa felicidade (pelos menos teoricamente, porque na prática essa cosmogonia é criticada socialmente). .1 PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado democrático de direito e tem como fundamentos: III - a dignidade da pessoa humana; CRFB/88 art 1º, III. .2 ISONOMIA: A partir da constituição fica sedimentada a regra de que homens e mulheres são iguais perante a lei. Outra isonomia seria a dos filhos, no CCB anterior havia várias configurações de filhos (legítimos, ilegítimos, legitimados – de pessoas não casadas, adotado (simples, pleno, etc.)). A CRFB acabou com isso: filhos são todos iguais sendo o vínculo afetivo ou jurídico. .3 IGUALDADE: Quando eu tenho pessoas desiguais, eu tenho que tratá-las na medida de sua desigualdade, porque isso se trata então da promoção de uma igualdade material. BIANCA ROCHA DIR 317 AULAS 1 - 14 P. !7 Só que para fazer isso precisamos de alguns parâmetros, e o mais conhecido dentro da doutrina brasileira é o de Celso Bandeira de Mello: “As discriminações devem ser, cumulativamente: (i) ter por base diferenças reais, não sendo dado à lei tratar desigualmente os iguais; (ii) não ser especifica a ponto de singularizar uma pessoa; (iii) estabelecer um nexo lógico entre as diferenças consideradas pela norma, e pelo tratamento dispensado aos diferentes; (iv) somente discriminar para proteger valores privilegiados pelo sistema constitucional ou pelo sistema legal.” Toda vez que eu me deparar com um comportamento diferente, eu tenho que procurar um nexo lógico, se eu não fizer isso estarei agindo pelo sistema 1, correspondente ao pensamento rápido. Três questionamentos: (1) Artigo do código de processo civil de 73 fala que nas ações de alimentos em caso de divórcio, a ação poder ser proposta na cidade de domicilio da mulher, mas do homem não pode. Ela está discriminando ou tratando de forma igual? A igualdade formal é utópica, pois no caso concreto isso não se dá. Já a igualdade material implica reconhecimento de que a lei pode e deve tratar desigualmente os desiguais, na medida da sua desigualdade, para corrigi-la. Assim, essa lei busca promover uma igualdade material. (2) O Código civil de 2002 colocava 16 anos para mulher se casar e 18 para os homens (CCB 1517). Isso era justo? (3) Homens e mulheres tem idades diferentes para se aposentar, por que? Porque a mulher tem jornada tripla de trabalho: cuidar da casa, dos filhos e trabalhar fora. Isso é justo? Dentro da sociedade que a gente vive é justo, mas o ideal seria que as mulheres não precisassem desse “beneficio” e que as tarefas fossem divididas igualmente entre o casal. Mas não são todas mulheres que tem essa jornada, por isso é muito difícil lidar com essas questões. Vamos nos lembrar da “regra da igualdade não consiste senão em quinhoar desigualmente aos desiguais, na medida em que se desigualam. (…) Tratar com desigualdade a iguais, ou a desiguais com igualdade, seria desigualdade flagrante, e não igualdade real.” Oração aos moços, Rui Barbosa . .4 OUTROS PRINCÍPIOS Caio Mario traz como princípios: o princípio da equiparação dos filhos; princípio da solidariedade familiar; o princípio jurídico da afetividade jurídica (com ênfase objetiva); o princípio do melhor interesse da criança (norteador principalmente em questões como adoção, visitação, competência da lide, alimentos); o princípio da prioridade absoluta (diz respeito a ECA e ao Estatuto do Idoso); o princípio do cuidado (principalmente no que diz respeito aos filhos); e por fim a diretriz do venire contra facto proprium pautada na boa-fé objetiva. Foi trazida para o curso a leitura da tese de Rodrigo da Cunha Pereira, “Princípios Fundamentais e Norteadores para a Organização Jurídica da Família”. Na qual ele traz os princípios (além dos destacados): da monogamia, igualdade e respeito às diferenças; autonomia e da menor intervenção estatal; da pluralidade das formas de família; da afetividade. ________________________________________________________________________________ BIANCA ROCHA DIR 317 AULAS 1 - 14 P. !8 2) PARENTESCO __________________________________________________________________________ 2.1 Conceito Falamos que o direito civil trata das relações sociais entre pessoas. Essas relações podem ser de direitos reais, obrigacionais ou de direito de família. O direito de família trata de relações de afeto com efeito jurídico. Mas se extende a quem esse vínculo jurídico pelos laços familiares? O que é? “É a relação jurídica congentemente determinada pela lei, que vincula certas pessoas a uma mesma família em função dos elos geracionais havidos entre si. É uma relação de procedência o fator eleito juridicamente para nomear os familiares parentes.” Renata Barbosa COMO ESTABELECER ESSE VÍNCULO? Art. 1.593. O parentesco é natural ou civil, conforme resulte de consangüinidade ou outra origem. ✦ Consanguíneo: basta que eu nasça naquela família para pertencer a ela (nascimento). ✦ Civil: fui eleito judicialmente para compor aquelafamília (como a adoção). ✦ Afinidade: vínculo dado pela lei a partir do casamento. 2.2 Linhas e contagem Art. 1.594. Contam-se, na linha reta, os graus de parentesco pelo número de gerações, e, na colateral, também pelo número delas, subindo de um dos parentes até ao ascendente comum, e descendo até encontrar o outro parente. 1. ASCENDENTE/DESCENDENTE Art. 1.591. São parentes em linha reta as pessoas que estão umas para com as outras na relação de ascendentes e descendentes. Essa linha é ad infinitum. É uma linha reta, que vai considerar partindo de mim todos aqueles que na minha árvore genealógica foram diretamente responsáveis por eu ter sido gerado, e todos os que vou gerar a partir de mim. Meus ascendentes em linha reta são meus pai e mãe, avô e avó, bisavô e bisavó, e assim sucessivamente (parte de pai e de mãe). Meus descendentes são meus filhos, netos, bisnetos. 2. COLATERAIS Art. 1.592. São parentes em linha colateral ou transversal, até o quarto grau, as pessoas provenientes de um só tronco, sem descenderem uma da outra. Não é uma linha infinita, apenas considera-se família para o direito civil, aqueles que são colaterais até quarto grau. Começo a contar sempre a partir do meu vínculo mais próximo, até o parente. Desse modo, meu primo “legítimo" é o único dos primos que é considerado parente, ele é de grau IV assim como meu tio-avô. E por afinidade, como funciona? Art. 1.595. Cada cônjuge ou companheiro é aliado aos parentes do outro pelo vínculo da afinidade. § 1o O parentesco por afinidade limita-se aos ascendentes, aos descendentes e aos irmãos do cônjuge ou companheiro. § 2o Na linha reta, a afinidade não se extingue com a dissolução do casamento ou da união estável. BIANCA ROCHA DIR 317 AULAS 1 - 14 P. !9 Se me casar, eu conto a partir do meu cônjuge quem será meu parente por afinidade. Dessa forma, minha sogra será minha parente em linha reta, por afinidade em grau I. Aqui só posso ter parentes colaterais até o segundo grau. Por exemplo, minha cunhada, será parente colateral por afinidade grau II, já seus filhos, não. Quando finda meu vínculo de por afinidade? Ele cessa com o divórcio. Tanto o divórcio quanto o fim da união estável quanto o falecimento de qualquer parte, extingue o vínculo com o antigo cônjuge e com todos os colaterais. Já em linha reta a afinidade não se extingue, então o vínculo com a sogra e com a enteada não termina com o fim do casamento. 2.3 Espécie Irmãos: Unilaterais (o “meio-irmão") ou bilaterais (germanos). Podendo ser uterinos (parte de mãe) ou fraternais (parte de pai). Legítimo e ilegítimo são termos que não existem mais devido ao princípio da isonomia. ________________________________________________________________________________ BIANCA ROCHA DIR 317 AULAS 1 - 14 P. !10 3) CASAMENTO __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ 3.1 O Casamento na História A noção de família é anterior ao instituto do casamento, porque na antiguidade não se pressupunha necessária ritualização aos núcleos familiares. Já o casamento como instituição, deriva de um estabelecimento de regras formais, de cunho religioso ou laico. As referências ao Direito Romano e ao Direito Canônico se fazem fundamentais para a compreensão do casamento no mundo ocidental. Em Roma havia cinco tipos de casamento. A confarreatio (1), era o casamento dos patrícios, de fundo religioso; a coemptio (2), que era o casamento da plebe; o usus (3) referente a toda vez que você tirava uma mulher de casa e não a devolvia por três noites, era a usurcapio trinoctii; a sine manus (4) era aquele casamento no qual a mulher permanecia na casa paterna, seja porque o marido havia ido para a guerra, ou porque o seu pai era muito rico e podia lhe dar uma vida melhor, assim ainda exigia o poder sobre a filha mesmo depois de casada; e a justae nuptiae (5) que é referente ao casamento informal, matrimônio livre, comparável ao que hoje é a união estável. A concepção se aproximava mais a de negócio jurídico, pela vontade dos nubentes, nuptias consensus facit. Na idade media todo esse sistema ruiu e com a força do Cristianismo no renascimento europeu e a ideia de “um só corpo e um só espírito”, a Igreja percebe que precisa estabelecer o vínculo entre a relação sexual e as pessoas: então a Igreja Católica Sacramentaliza e institucionaliza o casamento, noção que se reafirma em 1545 no Concílio de Trento. Os ritos necessários para tal: proclamas, celebratio, solemnitas; os mesmos ritos ainda são realizados. Países perceberam que dar esse poder a Igreja era muito, e o primeiro a retirar a exclusividade da Igreja nesse poder foi a Inglaterra, onde o primeiro-ministro do rei, Cromwell, apoia o divórcio de Henrique VIII sem necessidade permissão do papa, no século XVI. No Brasil hoje o casamento é civil, uma vez que pressupõe-se o Estado Laico. Mas, até 1861 o casamento só poderia ser feito pela Igreja Católica. Só em 1861 que nós tiramos essa exclusividade da Igreja para o casamento — Lei de 11/09/1861 previa o casamento civil de não católicos. Finalmente, em 1890 é regulamentada a solenidade do casamento civil, que coexistiu paralelamente com o religioso até 1973, ano em que o casamento religioso passou a não bastar, e ter que cumprir requisitos ao registro para reconhecimento dos efeitos civis. 3.2 Conceito Caio Mario trazia uma conceituação ultrapassada: “União de duas pessoas de sexos diferentes, realizando uma integração físiopsíquica permanente”. Essa percepção mudou, foi acrescida do argumento de que sendo a família um organismo em lenta e constante transformação, o casamento que a legitima há de afeiçoar-se às condições ambientes e contemporâneas. “Casamento é um contrato especial de direito de família, por meio do qual os cônjuges formam uma comunidade de afeto e existência, mediante a instituição de direitos e deveres recíprocos e em face dos filhos, permitindo assim a realização dos seus projetos de vida.” Stolze & Pamplona BIANCA ROCHA DIR 317 AULAS 1 - 14 P. !11 Hoje, o casamento não é fim em si mesmo, mas tão somente o locus de realização e busca da felicidade dos seus integrantes (e esta corresponde à função social da família). Já o código, traz também sua própria definição: Art. 1.511. O casamento estabelece comunhão plena de vida, com base na igualdade de direitos e deveres dos cônjuges. 3.3 Tipicidade do Ato O ato é típico, na medida que exige uma celebração conforme estipulado na lei. Tem que seguir os seguintes passos, na ordem: habilitação, proclamas, celebração, atermação e certificação. 3.4 Natureza Jurídica Casamento é o ato de maior solenidade do direito civil a partir do qual se forma uma família. Antes o casamento era uma verdadeira instituição, tinha uma característica publicista, mas a partir da CRFB/88 tomamos outro caminho, o privatista, que deixa que as pessoas tomem a rédea da sua própria vida afetiva. Qual será a natureza jurídica do casamento? Não é mais instituição pura, agora tem um caráter contratual, que se volta para o direito privado, à autonomia da vontade. Não é apenas um contrato, mas como tem esse caráter contratual, privatista, não pode mais ser encarado como uma instituição pura. Caio Mário considera o casamento como um contrato especial, e pontifica: o que se deve entender ao assegurar a natureza do matrimônio, é que se trata de contrato especial dotado de consequências peculiares, mais profundas e extensas do que as convenções de efeitos puramente econômicos, ou contrato de direito de família, em razão das razoes específicas por ele criadas. Art. 1.514. O casamento se realiza no momento em que o homem e a mulher manifestam, perante o juiz, a sua vontade de estabelecer vínculo conjugal, e o juiz os declara casados. As pessoas declaram sua vontade para selar o casamento; e o juiz de paz deveter a última fala, como chancelar do estado. Então em qual desses momentos o casamento se realiza? A partir disso, temos três teorias: ✦ Corrente Supra-individualista: ou institucionalista, o casamento é uma instituição social que nasce da vontade dos contraentes, mas que da autoridade da lei recebe sua forma, suas normas e seus efeitos. ✦ Corrente Individualista: também chamada de corrente clássica, ou contratualista, para qual o casamento é um contrato. ✦ Corrente Eclética: casamento é um ato complexo. Precisa da manifestação de vontade das partes & da chancela estatal. É esse o entendimento que prevalece hoje. Qual a consequência prática dessa estrutura? Antes de 1977 com o casamento como instituição, não havia outra maneira de formar uma família, o que deus uniu o homem não separa, era um sacramento. Nessa instituição, sacramental ou estatal, não cabe renúncia, o laço era indissolúvel. Contudo, muda-se a sociedade. Em 1977 surge o divórcio (infra) — era possível celebrar um divórcio apenas, depois de 5 anos de casamento, o juiz deveria ser convencido e no processo deveria haver um culpado, que sofreria BIANCA ROCHA DIR 317 AULAS 1 - 14 P. !12 consequências em face de sua responsabilidade pelo término dessa relação conjugal — e desde então, houve uma série de degraus no caminho, mas hoje há um avanço na esfera privada, com vários divórcios, e podendo ser celebrado a qualquer tempo. 3.5 Caracteres do Casamento (Caio Mário) O casamento é ato solene, ritualístico; Suas características: (A) Solenidade; (B)desconsiderado; (C)Dissolubilidade, desde a Lei 6.512 que regulamentou o divórcio em1977. ________________________________________________________________________________ BIANCA ROCHA DIR 317 AULAS 1 - 14 P. !13 4) ESPONSAIS ________________________________________________________________________________ 4.1 Promessa de Casamento e Responsabilidade Civil por Ruptura de Noivado O que é o noivado? É um resquício da promessa de contratação. E o que é o anel de noivado? Lembre de arras, que é o valor entregue para garantir que aquele contrato vai ser feito, se o contrato não fosse concretizado por quem entregou esse arras, ele o perdia, e se for quebrado pela parte que recebeu, deveria devolver esse valor em dobro. O anel de noivado poderia ser equiparado a esse arras, a partir da entrega desse anel esperava-se que esse casamento ia de fato acontecer, e daí costumava-se marcar a data. Bifurcando esse raciocínio, qual a natureza do anel de noivado? É uma doação propter nuptiae, carregando consigo uma condição suspensiva. Então não posso dizer ser um arras? Essa é uma discussão acadêmica. Tenho esses dois caminhos para desenvolver meu argumento, a depender de quem eu estiver defendendo. Qual o efeito jurídico da ruptura de um noivado? Atualmente nenhum. No direito imperial, ainda tinha. Hoje não há, entretanto, como todo contrato, quando você cria falsa expectativa na outra parte isso pode acarretar em ausência de boa- fé objetiva, portanto “é melhor cuidar para encontrar a melhor maneira de desistir do casamento, sempre atuando conforme o princípio da eticidade, para minorar ou evitar os efeitos da ruptura, sob pena de responsabilidade civil” (S & P). Qualquer um dos nubentes pode, até o último minuto, desistir do casamento, mas é evidente que um ato desse gera danos. Que tipo de dano posso ter na não conclusão de um casamento tão de última hora? Com certeza danos materiais, de tudo que foi investido (festa, etc). Desistir do casamento é uma potestividade: se não quero, não sou obrigado. Entretanto, todo contratante deve se pautar pela boa-fé objetiva, que diz respeito a manter-se em relação ao outro contratante de forma honesta, transparente. Se estiver conforme a boa-fé objetiva, eu tenho responsabilidade acerca do dano material, mas o dano moral só será indenizável se for observada ausência de boa-fé objetiva, ou pior, se o agente atuou com manifesta má-fé subjetiva. 4.2 Danos morais nos esponsais: Os danos morais para rompimento de noivado, conforme explicação supra, não existem mais como regra própria, podendo ser aplicadas: ✦ As regras gerais para o dever de não causar danos. Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. Art. 927. Aquele que, por ato ilícito, causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo. Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem. BIANCA ROCHA DIR 317 AULAS 1 - 14 P. !14 ✦ Observância à situação de doação em contemplação a casamento futuro, propter nuptiae, e o efeito suspensivo. Art. 546. A doação feita em contemplação de casamento futuro com certa e determinada pessoa, quer pelos nubentes entre si, quer por terceiro a um deles, a ambos, ou aos filhos que, de futuro, houverem um do outro, não pode ser impugnada por falta de aceitação, e só ficará sem efeito se o casamento não se realizar. Art. 125. Subordinando-se a eficácia do negócio jurídico à condição suspensiva, enquanto esta se não verificar, não se terá adquirido o direito, a que ele visa. ✦ A aplicação de regras jurídicas sobre os esponsais e a indenização em caso de descumprimento da promessa de casamento deve ser considerada em relação ao meio social em que vivem os nubentes. Em comunidades interioranas, e mais humildes, algumas dessas virtudes ainda são bastante cultivadas, ou seja, os costumes são diferentes e o juiz tem que olhar as pessoas e o tamanho do dano que vão sofrer diante disso. ________________________________________________________________________________ BIANCA ROCHA DIR 317 AULAS 1 - 14 P. !15 5) HABILITAÇÃO PARA O CASAMENTO ________________________________________________________________________________ Stolze & Pamplona Conceito: É um procedimento administrativo, disciplinado pelo CCB e pela Lei de Registros Públicos, pelo qual as partes se habilitam a um casamento, quando o Oficial do Registro Civil afere os pressupostos de existência e validade do ato matrimonial. Transcorre no Registro Civil de Pessoas Naturais do local de residência de um dos nubentes. Ao final, resulta em emissão de certificado para que as partes se casem em 90 dias. OBS.: Art. 1.512. Parágrafo único. A habilitação para o casamento, o registro e a primeira certidão serão isentos de selos, emolumentos e custas, para as pessoas cuja pobreza for declarada, sob as penas da lei. 5.1 Requerimento da Habilitação O pedido deverá ser dirigido ao Oficial da Comarca de residência de um dos nubentes (para que haja uma maior publicidade ao ato) contudo se o processo for tramitado em lugar diverso, mas sem impedimento ou prejuízo aferido, há convalescimento do defeito. Não precisa mais de homologação da habilitação pelo juiz, processando-se direta e imediatamente perante o oficial do Registro. Art. 1.525. O requerimento de habilitação para o casamento será firmado por ambos os nubentes, de próprio punho, ou, a seu pedido, por procurador, e deve ser instruído com os seguintes documentos: I - certidão de nascimento ou documento equivalente; II - autorização por escrito das pessoas sob cuja dependência legal estiverem, ou ato judicial que a supra; III - declaração de duas testemunhas maiores, parentes ou não, que atestem conhecê-los e afirmem não existir impedimento que os iniba de casar; IV - declaração do estado civil, do domicílio e da residência atual dos contraentes e de seus pais, se forem conhecidos; V - certidão de óbito do cônjuge falecido, de sentença declaratória de nulidade ou de anulação de casamento, transitada em julgado, ou do registro da sentença de divórcio. Preparada a habilitação, os autos serão remetidos ao MP. (Nostermos da Lei 12.133/2009) Art. 1.526. A habilitação será feita pessoalmente perante o oficial do Registro Civil, com a audiência do Ministério Público. Parágrafo único. Caso haja impugnação do oficial, do Ministério Público ou de terceiro, a habilitação será submetida ao juiz. 5.2 Edital de proclamas É o ato administrativo expedido por oficial do cartório em que tramita a habilitação, por meio do qual os nubentes são qualificados e é anunciado o casamento para a sociedade. Art. 1.527. Estando em ordem a documentação, o oficial extrairá o edital, que se afixará durante quinze dias nas circunscrições do Registro Civil de ambos os nubentes, e, obrigatoriamente, se publicará na imprensa local, se houver. Parágrafo único. A autoridade competente, havendo urgência, poderá dispensar a publicação. Art. 1.528. É dever do oficial do registro esclarecer os nubentes a respeito dos fatos que podem ocasionar a invalidade do casamento, bem como sobre os diversos regimes de bens. — O não esclarescimento, para S&P poderia acarretar em falha do oficial, e até mesmo ser argumento pró manutenção em casos de invalidação. BIANCA ROCHA DIR 317 AULAS 1 - 14 P. !16 5.3 Oposição à Habilitação Art. 1.529. Tanto os impedimentos quanto as causas suspensivas serão opostos em declaração escrita e assinada, instruída com as provas do fato alegado, ou com a indicação do lugar onde possam ser obtidas. Art. 1.530. O oficial do registro dará aos nubentes ou a seus representantes nota da oposição, indicando os fundamentos, as provas e o nome de quem a ofereceu. Parágrafo único. Podem os nubentes requerer prazo razoável para fazer prova contrária aos fatos alegados, e promover as ações civis e criminais contra o oponente de má-fé. 5.4 Certificado de Habilitação Art. 1.531. Cumpridas as formalidades dos arts. 1.526 e 1.527 e verificada a inexistência de fato obstativo, o oficial do registro extrairá o certificado de habilitação. Art. 1.532. A eficácia da habilitação será de noventa dias, a contar da data em que foi extraído o certificado. ________________________________________________________________________________ BIANCA ROCHA DIR 317 AULAS 1 - 14 P. !17 6) CELEBRAÇÃO DO CASAMENTO ________________________________________________________________________________ Art. 1.512. O casamento é civil e gratuita a sua celebração — essa gratuidade é para celebração no RCPN. Reverte-se de enorme importância a solenidade de realização do casamento. Assim, a lei a reveste de solenidades especiais, publicidade ostensiva e gravidade notória. Daí uma indagação doutrinária: o matrimônio considera-se realizado no momento em que o juiz pronuncia a declaração, ou naquele em que lhe respondem os contraentes à indagação? MOMENTO Temos duas teorias sobre isso. Art. 1.535. Presentes os contraentes, em pessoa ou por procurador especial, juntamente com as testemunhas e o oficial do registro, o presidente do ato, ouvida aos nubentes a afirmação de que pretendem casar por livre e espontânea vontade, declarará efetuado o casamento, nestes termos:"De acordo com a vontade que ambos acabais de afirmar perante mim, de vos receberdes por marido e mulher, eu, em nome da lei, vos declaro casados.” I. Pela corrente do casamento como uma instituição, sobre esse aspecto o momento do casamento será o momento em que a autoridade competente, ou seja, o juiz de paz, vai proferir aquela frase “De acordo com a vontade que ambos acabais de afirmar perante mim, de vos receberdes por marido e mulher, eu, em nome da lei, vos declaro casados”. II. Se a corrente for a de que o casamento é um contrato, o momento de celebração do casamento se dá quando da manifestação da vontade, ou seja, o ‘sim’. Art. 1.533. Celebrar-se-á o casamento, no dia, hora e lugar previamente designados pela autoridade que houver de presidir o ato, mediante petição dos contraentes, que se mostrem habilitados com a certidão do art. 1.531 — ou seja, munido de certificado de habilitação. LOCAL DA CELEBRAÇÃO No registro civil aonde houver, a princípio, sido a habilitação. Que pode ser: no local de residência de qualquer um dos nubentes. Se houver mais de um cartório na minha cidade, eu só posso me casar na circunscrição do meu registro de habilitação. Art. 1.534. A solenidade realizar-se-á na sede do cartório, com toda publicidade, a portas abertas, presentes pelo menos duas testemunhas, parentes ou não dos contraentes, ou, querendo as partes e consentindo a autoridade celebrante, noutro edifício público ou particular. § 1o Quando o casamento for em edifício particular, ficará este de portas abertas durante o ato. § 2o Serão quatro as testemunhas na hipótese do parágrafo anterior e se algum dos contraentes não souber ou não puder escrever. Dentro da circunscrição o juiz de paz pode celebrar o casamento em qualquer imóvel, sendo obrigatório que se mantenham as portas abertas — porque é um ato público contra o qual podem ser opostas objeções. Além disso é possível o casamento nos consulados brasileiros. OBS.: qual a diferença entre uma embaixada e um consulado? Só tenho uma embaixada por país, e consulado é elemento de conexão entre o estrangeiro e o direito do seu país, então posso ter vários consulados brasileiros nos EUA, são como se fosse um cartório, só que naquele país. BIANCA ROCHA DIR 317 AULAS 1 - 14 P. !18 E se a pessoa quiser se casar em algum lugar aleatório? Ela pode se casar, faz habilitação na sua cidade, e quem fará a cerimônia será um ministro da sua igreja, cuja celebração vai gerar uma certidão. Mas em regra: o casamento é civil e a celebração será feita pelo juiz de paz, vide art. 98, II da CRFB, da circunscrição onde ocorreu a habilitação. A celebração fora da circunscrição é incompetência ratione loci o que torna o casamento nulo, fora se dele resultou a atermação nos livros públicos. Ou seja, o casamento feito por autoridade incompetente é nulo. Entretanto, se o juiz de paz fez esse casamento fora da sua circunscrição, mas desse casamento resultou uma atermação nesse caso o casamento será nulo, porém válido. A eficácia do ato retroage à data da celebração. Art. 1.538. A celebração do casamento será imediatamente suspensa se algum dos contraentes: I - recusar a solene afirmação da sua vontade; — ou permanecer em silêncio gélido. II - declarar que esta não é livre e espontânea; III - manifestar-se arrependido. Parágrafo único. O nubente que, por algum dos fatos mencionados neste artigo, der causa à suspensão do ato, não será admitido a retratar-se no mesmo dia. Por fim, completando o ciclo formal de realização do casamento é feita atermação. O termo circunstanciado perpetua o ato e dele constitui prova (apesar de a falta do termo não macular a validade do casamento). Art. 1.536. Do casamento, logo depois de celebrado, lavrar-se-á o assento no livro de registro. No assento, assinado pelo presidente do ato, pelos cônjuges, as testemunhas, e o oficial do registro, serão exarados: I - os prenomes, sobrenomes, datas de nascimento, profissão, domicílio e residência atual dos cônjuges; II - os prenomes, sobrenomes, datas de nascimento ou de morte, domicílio e residência atual dos pais; III - o prenome e sobrenome do cônjuge precedente e a data da dissolução do casamento anterior; IV - a data da publicação dos proclamas e da celebração do casamento; V - a relação dos documentos apresentados ao oficial do registro; VI - o prenome, sobrenome, profissão, domicílio e residência atual das testemunhas; VII - o regime do casamento, com a declaração da data e do cartório em cujas notas foi lavrada a escritura antenupcial, quando o regime não for o da comunhão parcial, ou o obrigatoriamente estabelecido. Finalmente, frisamos que o registro de casamento religioso com efeitos civis opera-se de forma semelhante, mas diferencia-se pela circunstância da autoridade celebrante, que nesse caso é uma autoridadereligiosa, ministro representante da religião seguida ou acolhida pelos nubentes. Nesse contexto, os art. 71 a 75, em especial art. 74 da Lei de Registros Públicos, e os art. 4, 5, e 6 da Lei 1.110/1950. Art. 1.515. O casamento religioso, que atender às exigências da lei para a validade do casamento civil, equipara-se a este, desde que registrado no registro próprio, produzindo efeitos a partir da data de sua celebração. Art. 1.516. O registro do casamento religioso submete-se aos mesmos requisitos exigidos para o casamento civil. § 1o O registro civil do casamento religioso deverá ser promovido dentro de noventa dias de sua realização, mediante comunicação do celebrante ao ofício competente, ou por iniciativa de qualquer interessado, desde que haja sido homologada previamente a habilitação regulada neste Código. Após o referido prazo, o registro dependerá de nova habilitação. § 2o O casamento religioso, celebrado sem as formalidades exigidas neste Código, terá efeitos civis se, a requerimento do casal, for registrado, a qualquer tempo, no registro civil, mediante prévia habilitação perante a autoridade competente e observado o prazo do art. 1.532. § 3o Será nulo o registro civil do casamento religioso se, antes dele, qualquer dos consorciados houver contraído com outrem casamento civil. BIANCA ROCHA DIR 317 AULAS 1 - 14 P. !19 Dessa forma, há duas opções. A primeira é fazer a habilitação antes da celebração, regra geral do casamento civil, assim como opção de reconhecimento civil do casamento religioso. E tenho a segunda opção, pela qual eu resolvo me casar antes de fazer a habilitação. Celebro um casamento religioso, ele é válido? Por enquanto, não tem efeito civil. Poderia eventualmente ter o efeito de prova para o início de uma união estável, por exemplo, mas para um casamento não. O que fazer? Eu vou ter que abrir um processo de habilitação a partir daqui, aberto no RCPN — domicílio de um dos nubentes. Com a habilitação pronta, insere-se a celebração anterior (aquela do religioso) como prova. Isso acontece porque casamento religioso não tem validade sozinho, para ter efeitos civis deve passar pelo reconhecimento. Em suma: a celebração religiosa do casamento (casamento religioso com efeitos civis) pode ter a sua habilitação prévia ou posterior à celebração. Havendo celebração mas não havendo registro civil, o ato poderá servir de prova de uma união estável. 6.1 Formas Especiais de Casamento .1 CASAMENTO URGENTE Em caso de moléstia grave de um dos nubentes o presidente do ato faz esse casamento no local necessário, qualquer que seja, independente da circunscrição, na frente de duas testemunhas que saibam ler e escrever. Art. 1.539. No caso de moléstia grave de um dos nubentes, o presidente do ato irá celebrá-lo onde se encontrar o impedido, sendo urgente, ainda que à noite, perante duas testemunhas que saibam ler e escrever. § 1o A falta ou impedimento da autoridade competente para presidir o casamento suprir-se-á por qualquer dos seus substitutos legais, e a do oficial do Registro Civil por outro ad hoc, nomeado pelo presidente do ato. § 2o O termo avulso, lavrado pelo oficial ad hoc, será registrado no respectivo registro dentro em cinco dias, perante duas testemunhas, ficando arquivado. .2 CASAMENTO NUNCUPATIVO É aquele realizado in extremis momento vitae, ou seja, em momento extremo da vida. Art. 1.540. Quando algum dos contraentes estiver em iminente risco de vida, não obtendo a presença da autoridade à qual incumba presidir o ato, nem a de seu substituto, poderá o casamento ser celebrado na presença de seis testemunhas, que com os nubentes não tenham parentesco em linha reta, ou, na colateral, até segundo grau. É aquele contraído por nubente que se encontra moribundo. Nesse caso, o casamento poderá ser celebrado na presença de 6 testemunhas que com os nubentes não tenham parentesco em linha reta, ou colateral em segundo grau. Dois detalhes: (1) não se falou em autoridade celebrante, o nuncupativo é autocelebrado; (2) essa regra de parentesco é uma regra geral das testemunhas para o direito civil, vide art. 228, excepcionalmente para efeitos de direito de família, que preza o afeto, as testemunhas podem ser parentes, e é até aconselhável que as testemunhas apresentadas pelo casamento na habilitação sejam, isto posto esse caso de “não poder ser parente” no nuncupativo é a exceção da exceção. BIANCA ROCHA DIR 317 AULAS 1 - 14 P. !20 Art. 1.541. Realizado o casamento, devem as testemunhas comparecer perante a autoridade judicial mais próxima, dentro em dez dias, pedindo que lhes tome por termo a declaração de: I - que foram convocadas por parte do enfermo; II - que este parecia em perigo de vida, mas em seu juízo; III - que, em sua presença, declararam os contraentes, livre e espontaneamente, receber-se por marido e mulher. § 1o Autuado o pedido e tomadas as declarações, o juiz procederá às diligências necessárias para verificar se os contraentes podiam ter-se habilitado, na forma ordinária, ouvidos os interessados que o requererem, dentro em quinze dias. § 2o Verificada a idoneidade dos cônjuges para o casamento, assim o decidirá a autoridade competente, com recurso voluntário às partes. § 3o Se da decisão não se tiver recorrido, ou se ela passar em julgado, apesar dos recursos interpostos, o juiz mandará registrá-la no livro do Registro dos Casamentos. § 4o O assento assim lavrado retrotrairá os efeitos do casamento, quanto ao estado dos cônjuges, à data da celebração. § 5o Serão dispensadas as formalidades deste e do artigo antecedente, se o enfermo convalescer e puder ratificar o casamento na presença da autoridade competente e do oficial do registro. Realizado o casamento, as testemunhas devem fazer o registro. Instaura-se assim procedimento de jurisdição voluntária com participação do MP. A ausência desse registro implicará a nulidade absoluta do matrimônio contraído. .3 CASAMENTO POST MORTEM Não é possível no direito brasileiro. Existe no direito francês, em respeito a seus veteranos de guerra, que é o contexto em que esse tipo de casamento faz mais sentido. Como funciona? Precisa que uma das pessoas tenha se manifestado inegável direito de casar e um dos cônjuges tenha falecido a serviço da pátria. Ao final do processo, o casamento é celebrado pelo presidente. Existe no direito francês, em respeito a seus veteranos de guerra, que é o contexto em que esse tipo de casamento faz mais sentido. .4 CASAMENTO REALIZADO FORA DO PAÍS (S&P) Perante autoridade diplomática brasileira: na forma do art. 18 da LINDB. Deve ser registrado em até 180 dias a contar da volta (com animus de permanência) de um, ou ambos, cônjuges ao Brasil, no cartório de seu domícilio, ou no 1º Ofício da Capital do Estado que passarem a residir. Esse prazo é decadencial. Perante autoridade estrangeira: no caso de brasileiros entre si, ou brasileiro com estrangeiro, para que possa produzir os efeitos civis correspondentes no território brasileiro, deve tomar as providencias como se tratasse de qualquer matrimônio civil realizado no estrangeiro, devendo ser autenticado em Consulado brasileiro do país, traduzido por tradutor juramentado para que possa ser registrado no Brasil. OBS.: PROVA: Art. 1.544. O casamento de brasileiro, celebrado no estrangeiro, perante as respectivas autoridades ou os cônsules brasileiros, deverá ser registrado em cento e oitenta dias, a contar da volta de um ou de ambos os cônjuges ao Brasil, no cartório do respectivo domicílio, ou, em sua falta, no 1o Ofício da Capital do Estado em que passarem a residir. .5 CASAMENTO POR PROCURAÇÃO Preciso estar lá para casar? Não, posso casar por MANDATO. Ou seja, através de um contrato de representação voluntária (a procuração é configurada apenas como instrumento delimitador dos poderes do procurador ou mandatário). BIANCA ROCHA DIR 317 AULAS 1 - 14 P. !21 Art. 1.542. O casamento pode celebrar-se medianteprocuração, por instrumento público, com poderes especiais. § 1o A revogação do mandato não necessita chegar ao conhecimento do mandatário; mas, celebrado o casamento sem que o mandatário ou o outro contraente tivessem ciência da revogação, responderá o mandante por perdas e danos. § 2o O nubente que não estiver em iminente risco de vida poderá fazer-se representar no casamento nuncupativo. § 3o A eficácia do mandato não ultrapassará noventa dias. § 4o Só por instrumento público se poderá revogar o mandato. Mas o documento lavrado tem que conter todos os elementos necessários para o ato em si: nome do cônjuge, regime de bens adotado, data provável para o casamento, local onde se processa a habilitação, etc. Isso porque o mandatário não pode negociar. Chamamos esse tipo de mandato de mandato impróprio. Seu funcionamento é em quase tudo idêntico aos demais, exceto por uma circunstância, sua revogação é diferente. O mandato público serve também para mandatos particulares, mas um mandato particular nunca serve para atuar para um ato público. Para um mandato público, a sua revogação também deve ser pública. Por exemplo, se o mandato de alguém comprar algo para mim é público, sua revogação deve ser pública também. Mas veja bem, fiz mandato para que terceiro realizasse compra e venda por mim. Mas depois desisti, e revoguei o mandato — fiz isso ontem, na hora que o cartório estava fechando. Hoje de manhã, a pessoa assina uma compra e venda, dependendo de uma revogação que eu assinei ontem, é válido? Sim. Porque a revogação que ainda não teve tempo de ter publicidade eficiente não é eficaz. No caso do casamento não é assim. O casamento por mandato precisa do documento que é público, na figura de mandato impróprio e esse mandato pode ser revogado. Mas e se esse casamento está acontecendo no interior de Portugal e o representante do noivo não sabe que esse mandato foi revogado? A celebração não será válida, e o casamento será tido como inexistente. Por que isso? Porque aqui, ao contrário da regra, a revogação não precisa ser eficaz para que ela tenha validade. No direito de família as coisas funcionam diferente: casamento nulo feito por autoridade incompetente pode convalescer se dele resultar registro; e um casamento feito com mandato revogado, ainda que sem publicidade adequada, torna inexistente o ato jurídico, se não sobrevier convivência dos nubentes (de maneira pouco ortodoxa, é como se o encontro sexual convalidasse o ano anulável). __________________________________________________________________________ BIANCA ROCHA DIR 317 AULAS 1 - 14 P. !22 7) PROVA DO CASAMENTO ________________________________________________________________________________ Como todo ato jurídico o casamento está sujeito à comprovação, pela necessidade de demonstrar o estado civil. Mas como provar um casamento? O meio prioritário de prova se dá pela certidão de casamento emitida no Registro Civil. Pode faltar, contudo, esse meio probatório. Art. 1.543. O casamento celebrado no Brasil prova-se pela certidão do registro. Parágrafo único. Justificada a falta ou perda do registro civil, é admissível qualquer outra espécie de prova. Os artigos que se seguem falam de “casamento de pessoas na posse de estado de casadas”. Art. 1.545. O casamento de pessoas que, na posse do estado de casadas, não possam manifestar vontade, ou tenham falecido, não se pode contestar em prejuízo da prole comum, salvo mediante certidão do Registro Civil que prove que já era casada alguma delas, quando contraiu o casamento impugnado. Art. 1.547. Na dúvida entre as provas favoráveis e contrárias, julgar-se-á pelo casamento, se os cônjuges, cujo casamento se impugna, viverem ou tiverem vivido na posse do estado de casados. O que é posse? A exteriorização, que pela teoria da aparência vejo nos olhos de quem vê. É a posse de Ihering, cuja teoria venceu a posse de Savigny no nosso ordenamento — a de Savigny era o corpus + animus. Animus quer dizer alma, é o elemento subjetivo. Só que esse artigo e diz “posse de estado”. E como tenho a posse de num estado? A partir do momento que aos olhos de outras pessoas eu me comporto como tal, ou seja, me comporto como se casado fosse. Percebam que pode haver um engano aqui. Por exemplo, posso ter um vizinho de porta que vive com uma mulher. Conheço o vizinho, mas o que eu sei sobre essa mulher? Que parece ser esposa dele. Contudo, para que essa posse de estado se concretize, eu não posso apenas achar, mas a pessoa em questão tem que confirmar sua intenção, a sua verdade. Ou seja, a posse de Estado é uma concessão do direito brasileiro à posse de Savigny, porque nesse caso não basta apenas o corpus, eu preciso do {corpus + animus}. Caio Mário coloca três itens para que se comprove a posse de estado. (1) Nome: ou seja, um trazer o nome do outro. (2) Tratactus: tratar um ao outro como casal. (3) Fama: ser tido na sociedade como tal. O que o juiz vai procurar para confirmar a existência de uma família? Ele tem que procurar um elemento objetivo. Por exemplo, para confirmar uma União Estável no caso de alguém que ganhou na loteria, como distinguir um casal de namorados que mora juntos de um casal em união estável fática? Tenho que ir atrás dos elementos objetivos, que estão no 22, §3º, DEC-Lei 3.048/99. Devem ser levados pelo menos três dentre os presentes no rol: BIANCA ROCHA DIR 317 AULAS 1 - 14 P. !23 § 3º Para comprovação do vínculo e da dependência econômica, conforme o caso, devem ser apresentados no mínimo três dos seguintes documentos: I - certidão de nascimento de filho havido em comum; II - certidão de casamento religioso; III - declaração do imposto de renda do segurado, em que conste o interessado como seu dependente; IV - disposições testamentária. VI - declaração especial feita perante tabelião; VII - prova de mesmo domicílio; VIII - prova de encargos domésticos evidentes e existência de sociedade ou comunhão nos atos da vida civil; IX - procuração ou fiança reciprocamente outorgada; X - conta bancária conjunta; XI - registro em associação de qualquer natureza, onde conste o interessado como dependente do segurado; XII - anotação constante de ficha ou livro de registro de empregados; XIII - apólice de seguro da qual conste o segurado como instituidor do seguro e a pessoa interessada como sua beneficiária; XIV - ficha de tratamento em instituição de assistência médica, da qual conste o segurado como responsável; XV - escritura de compra e venda de imóvel pelo segurado em nome de dependente; XVI - declaração de não emancipação do dependente menor de vinte e um anos; ou XVII - quaisquer outros que possam levar à convicção do fato a comprovar. A lógica do direito civil é diferente da do direito previdenciário. O direito previdenciário identifica os direitos a partir do dependência financeira, dessa forma ele anda na frente da constituição da família, porque ele não fica procurando afeto ou vontade de um futuro comum. O direito previdenciário foi o primeiro a reconhecer direitos numa união estável; chamo esse tipo de situação de decisão de plano, em que aplico o direito num caso determinado. O direito previdenciário foi alimentando um valor social que deu origem a uma decisão de fundo — como a lei que autorizou o casamento homoafetivo. Por fim. Art. 1.546. Quando a prova da celebração legal do casamento resultar de processo judicial, o registro da sentença no livro do Registro Civil produzirá, tanto no que toca aos cônjuges como no que respeita aos filhos, todos os efeitos civis desde a data do casamento. __________________________________________________________________ BIANCA ROCHA DIR 317 AULAS 1 - 14 P. !24 8) CAPACIDADE PARA O CASAMENTO ________________________________________________________________________________IDADE NÚBIL: 16. É a idade em que as pessoas podem se casar. No direito brasileiro, como é ato para vida civil pressupõe-se que a capacidade para os demais atos é a mesma capacidade que para os atos do casamento. Como funciona? Tenho a faixa dos dos 16 aos 18. ✦Antes dos 16: sou incapaz. Casamento: excepcionalmente, vide autorização judicial. Art. 1.520. Excepcionalmente, será permitido o casamento de quem ainda não alcançou a idade núbil (art. 1517), para evitar imposição ou cumprimento de pena criminal ou em caso de gravidez. ✦Dos 16 aos 18: sou relativamente incapaz, preciso de representação. — casamento apenas com autorização dos responsáveis. ✦Dos 18 em diante: capacidade civil plena. Art. 1.517. O homem e a mulher com dezesseis anos podem casar, exigindo-se autorização de ambos os pais, ou de seus representantes legais, enquanto não atingida a maioridade civil. Parágrafo único. Se houver divergência entre os pais, aplica-se o disposto no parágrafo único do art. 1.631. Para o menor na faixa de 16 e 17 anos, a autorização concedida é revogável a qualquer tempo até o casamento, a do juiz também. Art. 1.518. Até a celebração do casamento podem os pais ou tutores revogar a autorização. E se um pai concorda e o outro não? Precisamos então de intervenção judicial. No código de 1916 não tinha como um pai autorizar e o outro não por essa ideia de unicidade do poder familiar se situava na figura do pai. Contudo a partir do novo código o poder passou a ser de ambos os pais. Ou seja: precisa da autorização de AMBOS. Art. 1.631. Parágrafo único. Divergindo os pais quanto ao exercício do poder familiar, é assegurado a qualquer deles recorrer ao juiz para solução do desacordo. O juiz vai analisar esse caso como? O juiz vai avaliar a permissão dos dois pais, então vai decidir se a negativa dos pais foi injusta ou não para decidir. Art. 1.519. A denegação do consentimento, quando injusta, pode ser suprida pelo juiz. Toda vez que o juiz atuar, em regra se aplica: Art. 1.641. É obrigatório o regime da separação de bens no casamento: III - de todos os que dependerem, para casar, de suprimento judicial. A jurisprudência aceita como justificativa para negativa: i. Costumes desregrados ou mal procedimento do pretendente; ii. Não ter aptidão para sustentar a família; iii. Grave risco de saúde para incapaz. iv. Rapto e condução à casa de tolerância (lupanar; casa de prostituição). Essa obrigatoriedade será atenuada vide Súmula 377 STF: No regime de separação legal de bens, comunicam-se os adquiridos na constância do casamento. Quem se casa entre os 16 e 18 anos, obtém no casamento a emancipação. Quem casa antes dos 16? Não se emancipa, porque não completou a idade núbil, nesse caso não há a maioridade e o infante deve permanecer na casa dos pais até os 16 anos, mesmo casado. ________________________________________________________________________________ BIANCA ROCHA DIR 317 AULAS 1 - 14 P. !25 9) IMPEDIMENTOS ________________________________________________________________________________ 9.1 Permissões Especiais A ninguém é dado o direito de interferir nos projetos de vida de outras pessoas, e o casamento é um projeto de vida. No 1513 eu tenho o início dessa ideia: Art. 1.513. É defeso a qualquer pessoa, de direito público ou privado, interferir na comunhão de vida instituída pela família. Não se permite interferir na comunhão de vida instituída pela família, não sendo permitido por exemplo ter um contrato de trabalho que te impeça de casar. Contudo, há aqueles que só podem casar mediante autorização especial, e são dois os casos: I. LEI 11.440/2006 - Art. 33-34: Diplomatas não podem se casar com pessoas estrangeiras, exceto com expressa autorização do ministro das relações exteriores, sob pena de demissão. II. LEI 6.880/1980 que diz respeito a militares de determinada patente, por exemplo os cadetes, que não podem se casar com ninguém; e oficiais militares não podem se casar com estrangeiros exceto com autorização do ministro da defesa. Por que? Há um interesse público gritante na ocupação desses cargos. OBS.: Há algumas outras profissões que geralmente não contratam casados, e há outras que só aceitam casados, mas isso se dá por tradição, não havendo proibições, ou vedações expressas, vide conformidade com o disposto no art. 1513. Por exemplo, mergulhadores de grandes profundidades são tradicionalmente solteiros, miss não pode ser casada, e o AETQ, pessoa qualificada para lidar com finanças, é comumente casado. 9.2 Impedimentos Apesar do 1513, há aqueles que são impedidos de casar. Dirimentes: interesses protegidos que podem ser públicos ou privados. .1 IMPEDIMENTOS DIRIMENTES PÚBLICOS São aqueles sobre os quais eu não posso negociar, não posso ultrapassar, estão elencados no quadro. A consequência desse casamento é de que ele é NULO. Ou seja, se acontecer, vai causar uma nulidade. Art. 1.521. Não podem casar: I - os ascendentes com os descendentes, seja o parentesco natural ou civil; II - os afins em linha reta; III - o adotante com quem foi cônjuge do adotado e o adotado com quem o foi do adotante; IV - os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, até o terceiro grau inclusive; — o DEC-LEI 3200/1941 permite o casamento entre parentes colaterais em 3º grau desde que haja um exame pré-nupcial. Getúlio Vargas, ideologia alinhada com fascismo, preocupações da época eram de eugenia, ou seja interessante evitar doenças geneticamente transmissíveis. Esse decreto nunca foi revogado. V - o adotado com o filho do adotante; VI - as pessoas casadas; VII - o cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio ou tentativa de homicídio contra o seu consorte — Em ambos os casos, evidentemente doloso, e exige a condenação. E se for culposo? Aí pode. BIANCA ROCHA DIR 317 AULAS 1 - 14 P. !26 Pelo art. 1522, qualquer pessoa pode se opor apresentando algum desses impedimentos até o casamento ser celebrado. Art. 1.548. É nulo o casamento contraído: II - por infringência de impedimento. Passado o casamento, só quem pode se manifestar é interessado, ou Ministério Público. Essa oposição é feita em declaração assinada. Art. 1.549. A decretação de nulidade de casamento, pelos motivos previstos no artigo antecedente, pode ser promovida mediante ação direta, por qualquer interessado, ou pelo Ministério Público .2 IMPEDIMENTOS DIRIMENTES PRIVADOS Nesses casos do quadro a seguir, o casamento feito não é nem nulo nem anulável, mas gera a mesma penalidade contida no Art. 1641, I - das pessoas que o contraírem com inobservância das causas suspensivas da celebração do casamento; o regime obrigatório da separação de bens. Art. 1.523. Não devem casar: I - o viúvo ou a viúva que tiver filho do cônjuge falecido, enquanto não fizer inventário dos bens do casal e der partilha aos herdeiros; II - a viúva, ou a mulher cujo casamento se desfez por ser nulo ou ter sido anulado, até dez meses depois do começo da viuvez, ou da dissolução da sociedade conjugal; — Turbatio Sanguinis: para evitar que houvesse dúvida quanto a paternidade, presume-se a paternidade do falecido. III - o divorciado, enquanto não houver sido homologada ou decidida a partilha dos bens do casal; IV - o tutor ou o curador e os seus descendentes, ascendentes, irmãos, cunhados ou sobrinhos, com a pessoa tutelada ou curatelada, enquanto não cessar a tutela ou curatela, e não estiverem saldadas as respectivas contas. — esse caso busca evitar um conflito de interesses. Parágrafo único. É permitido aos nubentes solicitar ao juiz que não lhes sejam aplicadas as causas suspensivas previstas nos incisos I, III e IV deste artigo, provando-se a inexistência de prejuízo, respectivamente, para o herdeiro, para o ex-cônjuge e para a pessoa tutelada ou curatelada; no caso do inciso II, a nubente deverá provar nascimento de filho, ou inexistência de gravidez, na fluência do prazo. No casodo 1523, as partes podem pedir ao juiz que não aplique a penalidade, demonstrando que não houve prejuízo aos filhos ou a terceiros. A preocupação desse artigo é, por exemplo, uma vez que exista um viúvo com filhos qual obrigação ele tem? Fazer a partilha dos bens, entregando a meação do cônjuge falecido aos seus filhos, a lei tenta evitar que essa pessoa case de novo e leve esse patrimônio que na verdade pertence aos seus filhos para um novo patrimônio, privando seus filhos disso. Como se prova que não vai causar prejuÍzos? Provando que o falecido não deixou bem nenhum, e isso se faz através de um inventário negativo, que na verdade é mera declaração daquele cônjuge de que não existe patrimônio a ser inventariado (demonstração dada ao oficial é suficiente). ________________________________________________________________________________ BIANCA ROCHA DIR 317 AULAS 1 - 14 P. !27 10) PLANO DE VALIDADE DO CASAMENTO: INVALIDADES ________________________________________________________________________________ 10.1 Casamento Inexistente Ocorre somente a aparência do negócio jurídico, em casos onde exista a ausência de um requisito essencial. Caio Mario traz dois: (1) falta de celebração, (2) ausência total de consentimento e adicionamos um terceiro, (3) ausência da autoridade competente. Se o casamento inexistente deixar rastro material, o direito deve se encarregar de normalizar a situação. 10.2 Invalidades Para o direito de família, a teoria das nulidades de direito civil procede? NÃO. Então como o ato jurídico do casamento sofre alguma invalidação? Vamos começar pela análise do direito civil. Teoria das nulidades do direito civil: ✦Ato Inexistente: não gera efeitos, porque é um ato que não ocorreu. ✦Ato Nulo: aquele com infringência dos impedimentos dirimentes, ou quando a solenidade for ausente, portanto nula. Qual efeito de um ato nulo? Efeito zero, ou seja, efeito ex tunc. ✦Ato anulável: gera efeitos, efeitos ex nunc — gerou efeitos até a anulação. Já no direito de família os atos nulos, anuláveis e até mesmo inexistentes PODEM GERAR EFEITOS SIM, fundamentados em outros princípios gerais de direito civil, como o principio da boa-fé, da confiança e o princípio do não locupletamento. Então como vou saber quando um ato sofreu efeito ou não? É argumentativo, assim tenho que saber argumentar que baseado nesses princípios aquele ato gerou efeitos. Ou seja, até mesmo o casamento nulo, em determinadas circunstâncias vira casamento. Sendo assim, é uma teoria das nulidades completamente independente da apresentada pela Teoria Geral de Direito Civil. NULIDADES & ANULABILIDADES Hipóteses destacáveis: (1) O art 1554 traz exceção: é o casamento nulo que vale, já previsto no código. Diz respeito à incompetência em razão do local (rationi loci); ou por rationi materiae. (2) Pessoa que revoga o mandato para o casamento antes do casamento mas ocorre a celebração assim mesmo. Esse casamento é nulo, porque não se exige a eficácia. Por que? Pelo direito de família, ainda que nulo, se os nubentes coabitarem ele é válido. As anulabilidades se dão naqueles casos em que é possível uma correção do ato mantendo assim a integridade do negócio jurídico — do casamento. Hipóteses: os casos gerais do art. 171, e coação via art. 151 e 156. CASAMENTO NULO CASAMENTO ANULÁVEL Interesse público Interesse privado Imprescritível Prescritível Não cabe retificação Cabe retificação. BIANCA ROCHA DIR 317 AULAS 1 - 14 P. !28 10.3 CASAMENTO ANULÁVEL A) REGRA GERAL: Art. 1.558. É anulável o casamento em virtude de coação, quando o consentimento de um ou de ambos os cônjuges houver sido captado mediante fundado temor de mal considerável e iminente para a vida, a saúde e a honra, sua ou de seus familiares. OBS.: Não se admite o mero temor reverencial. B) ERRO ESSENCIAL: É a falsa ideação sobre aspectos importantes ou preponderantes do negócio jurídico. Art. 1.557. Considera-se erro essencial sobre a pessoa do outro cônjuge: I - o que diz respeito à sua identidade, sua honra e boa fama, sendo esse erro tal que o seu conhecimento ulterior torne insuportável a vida em comum ao cônjuge enganado; — Erro quanto à boa fama: é a estima social de que goza a pessoa. Além disso, a jurisprudência aceita o débito conjugal. Homoafetividade do cônjuge em um casamento heteroafetivos (e vice versa) pode ser erro essencial? Eu casei com uma pessoa acreditando que a sua orientação sexual era uma, e descobri depois que na realidade é outra, é erro essencial em relação a pessoa? Não existe nenhuma decisão nesse sentido, mas é plausível a persistência desse aspecto. Também se fala em nubente estelionatário; perversão do instinto sexual (muito relativo, evidentemente nem toda perversão é aceita pela outra parte, justificaria desde que aquela prática existisse antes do casamento e foi ocultada); induzimento ao casamento pela afirmação de paternidade frente a gravidez da mulher e posterior paternidade excluída por perícia; união inspirada por amigos com açodamento das partes — comum em grupos muito fechados, especialmente grupos religiosos, o próprio grupo força de alguma maneira esse casamento entre membros participantes; atividade de meretriz anterior ao casamento; simulação de gravidez. Não são aceitos: crença religiosa, cônjuge que se casa sem dar ouvidos a relatos desamoradores. Requisitos: 1. Devem ser desconhecidos quando do casamento. 2. Devem ser anteriores ao casamento. 3. Devem afetar o cônjuge, não sendo cabíveis à sua família. II - a ignorância de crime, anterior ao casamento, que, por sua natureza, torne insuportável a vida conjugal; — Exceção: se o crime foi cometido por menor de 18 anos, tornando-o criminalmente inimputável não se aperfeiçoa a hipótese legal (distinção demasiado legalista). III - a ignorância, anterior ao casamento, de defeito físico irremediável — como deformações genitais, infantilismo ou gigantismo sexual; casos de impotência* coeundi, instrumental — que não caracterize deficiência ou de moléstia grave e transmissível, por contágio ou por herança, capaz de pôr em risco a saúde do outro cônjuge ou de sua descendência; Legitimidade ad causam: Texto do Art. 1.559.: Somente o cônjuge que incidiu em erro, ou sofreu coação, pode demandar a anulação do casamento; mas a coabitação, havendo ciência do vício, valida o ato, ressalvadas as hipóteses dos incisos III e IV do art. 1.557. Prazos: Art. 1.560. O prazo para ser intentada a ação de anulação do casamento, a contar da data da celebração, é de: I - cento e oitenta dias, no caso do inciso IV do art. 1.550; — incapaz que não manifestou consentimento. II - dois anos, se incompetente a autoridade celebrante; III - três anos, nos casos dos incisos I a IV do art. 1.557; IV - quatro anos, se houver coação. BIANCA ROCHA DIR 317 AULAS 1 - 14 P. !29 § 1o Extingue-se, em cento e oitenta dias, o direito de anular o casamento dos menores de dezesseis anos, contado o prazo para o menor do dia em que perfez essa idade; e da data do casamento, para seus representantes legais ou ascendentes. § 2o Na hipótese do inciso V do art. 1.550 — mandatário sem que ele ou o contraente soubesse da revogação do mandato — , o prazo para anulação do casamento é de cento e oitenta dias, a partir da data em que o mandante tiver conhecimento da celebração. 10.4 CASAMENTO PUTATIVO É um dos casos de nulidade do casamento. Putativo é o que parece mas não é. Ou seja, é um casamento que existiu, mas não existiu. Quando isso pode acontecer? Principalmente quando o casamento ou união estável decorre de uma formação de família em violação ao art. 1521, ou seja, as hipóteses de impedimento dirimente público. A nulidade não é afetada pela boa-fé ou má-fé dos contraentes, isso porque o art. 1521 diz respeito a um interesse público. Temos duas opções nesse casamento: I. Todos estão cientes e então o casamento não vai se realizar; ambos estão de boa fé
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