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Mariana Oliveira Arantes História da América Pré-Colombiana AULA 1 Povoamento da América Dispersão do gênero Homo; Há mais de um século, questiona-se quem foi o primeiro ser humano a pisar na América. No Brasil, as discussões intensificaram-se no ano 2000, por causa das comemorações dos 500 anos de contato entre nativos e europeus. Essas discussões, atualmente, têm muita relevância, pois abordam questões relacionadas ao respeito aos direitos dos povos indígenas. O povoamento da América foi o último grande episódio de colonização do planeta. A história da migração e dispersão do gênero Homo começou no continente africano e se consumou na América. A experiência de ocupação do globo só se repetirá quando colonizarmos outro planeta. O Surgimento do Homem Por muito tempo, os estudos sobre o surgimento e desenvolvimento do homem foram baseados em crenças religiosas, linha de pesquisa que girava em torno do criacionismo. Desde que os europeus chegaram à América, no final do século XV, surgiram especulações sobre a origem dos povos que já habitavam o continente. A partir do movimento racionalista na Europa Ocidental, durante o século XIX, e do enfraquecimento da Igreja Católica, outras teorias evolutivas foram propostas pelos cientistas. Historiadores acreditam que os primeiros humanos surgiram na África e se espalharam pela Europa, Ásia, Oceania e América. O primeiro hominídeo do gênero Homo seria o Homo Habilis, que viveu há 2,4 a 1,5 milhões de anos. Este daria origem ao homem Erectus, que, segundo pesquisas, iniciaria o deslocamento para os outros continentes. Períodos da História Americana O conceito de Pré-História na Europa e na América difere muito, apesar de pesquisadores dos dois lados do Atlântico usarem o mesmo termo: “Pré-História”. Na Europa, a Pré-História foi sempre definida como o período anterior à escrita, estudado pelos “pré-historiadores”. No continente americano, a definição de Pré-História faz referência à chegada dos europeus ao continente. Generalizou- se o uso do termo Pré-História da América para todo o período anterior a 1492, data da chegada de Colombo ao continente. Os nomes utilizados na Pré-História americana são diferentes daqueles utilizados para dividir a pré-história dos outros continentes, que seriam o Paleolítico, Neolítico e Idade dos Metais. Na América, ela é dividida em Paleoíndio, Arcaico e Formativo. Paleolítico Entre 4,4 milhões de anos até 8000 a.C. Os homens viviam em bandos e se ajudavam na obtenção de alimentos através da caça, da pesca e da coleta de frutos, raízes e ovos, o que os obrigava a ter uma vida nômade. Os instrumentos utilizados eram feitos de osso e madeira, e, posteriormente, de lascas de pedra e marfim. Estima-se que o fogo passou a ser controlado pela humanidade há 500 mil anos, na África Oriental. Neolítico Modificações climáticas alteraram a vegetação, dificultando a caça e gerando a necessidade do homem se instalar nas margens dos rios, o que contribuiu para o desenvolvimento da agricultura. Domesticação de alguns animais. Objetos tornaram-se mais bem acabados com o uso da pedra polida. Desenvolveu-se a arte da cerâmica para guardar o excedente da produção agrícola. Apareceram os primeiros trabalhos em metais pouco duros, como o cobre e o ouro. Idade dos Metais O desenvolvimento de técnicas de fundição de metais possibilitou o abandono progressivo dos instrumentos de pedra. Paleoíndio Período de chegada dos primeiros homens à América. Os povoadores eram nômades e viviam da caça e da coleta, além de utilizarem armamentos fabricados a partir da pedra lascada. Durante o Paleoíndio, os povoadores se espalharam por toda a América. Arcaico Começou por volta de 7000 a.C. e durou até 1500 a.C. No período Arcaico, os homens começam a se adaptar às mudanças climáticas da região, como o aumento da temperatura. Nessa época, os povoadores passam a se dedicar à caça de animais menores e às primeiras plantações. Iniciaram a utilização do cobre para a fabricação de armas e utensílios domésticos. Formativo Compreende desde 1500 a.C. até o ano 300 d.C. Sedentarismo e agricultura. Desenvolvimento da metalurgia e aperfeiçoamento do uso da cerâmica. Entre as civilizações que se desenvolveram nesse período, podemos destacar os olmecas, incas, maias e astecas. Teorias do Povoamento Nas últimas décadas, o debate sobre o povoamento das Américas ocorre em torno de quatro áreas do conhecimento: genética, linguística, arqueologia e morfologia craniana e dentária. “Nossa Origem: O povoamento das Américas: visões multidisciplinares", de Hilton P. Silva e Claudia Rodrigues-Carvalho (Orgs.). Até os dias atuais, as polêmicas sobre a ORIGEM, COMO, POR QUAL ROTA e, principalmente, QUANDO o homem teria chegado à América ensejam acirrados debates dentro da comunidade científica. Ou seja, não há consenso, não há certezas e nem verdades absolutas. A cronologia é uma das questões mais debatidas e que suscita menos consenso. Uma acirrada disputa sobre a antiguidade da espécie humana no Novo Mundo mobilizou, por um tempo considerável, a comunidade científica e as sociedades em geral, instalada em um clima de exacerbada e competitiva busca ao “primeiro” e ao “mais antigo” (LIMA, Tânia Andrade. In: CARVALHO; SILVA, 2006, p. 78). Segundo Lima, todas as atenções da arqueologia americana estiveram voltadas, até recentemente, para a compreensão do momento em que o processo colonizatório teve início, quando, na verdade, seria muito mais frutífero e produtivo procurar compreender as forças biológicas e culturais que teriam impelido esses primeiros imigrantes para um território novo e despovoado (LIMA, Tânia Andrade. In: CARVALHO; SILVA, 2006). Essa ênfase equivocada nos aspectos cronológicos vem sustentando o debate apenas com dados obtidos em sítios isolados, de forma que a discussão tem ficado restrita ao individualismo das ocorrências potencialmente capazes de fornecer datas mais antigas. Desse modo, fica difícil transcender descrições biográficas de sítios para responder a questões mais amplas. O problema vem sendo discutido mais do ponto de vista técnico do que teórico (LIMA, Tânia Andrade. In: CARVALHO; SILVA, 2006). Teorias do aloctonismo Corrente conservadora, ortodoxa e coesa que admite a presença humana na América apenas em torno de 12 mil anos. Corrente heterodoxa e heterogênea, entendendo que a colonização ocorreu antes disso. Varia entre aqueles que admitem a existência de sítios mais antigos que 12 mil anos, até alguns poucos que defendem mais de 100 mil anos. Teoria do Povoamento pelo Estreito de Bering A maioria dos pesquisadores admite a procedência asiática das populações fundadoras que, muito provavelmente, teriam penetrado no continente americano pela região de Bering. http://www.geografia.seed.pr.gov.br/modules/galeria/detalhe.php?foto=558&evento=6 Teoria do Povoamento pelo Estreito de Bering Ao longo da última glaciação (Wisconsin), a retenção das águas nas grandes geleiras continentais fez baixar o nível global dos oceanos em cerca de 120 metros abaixo do nível atual, deixando emersas amplas superfícies antes submersas. A região do Estreito de Bering, pouco profunda, foi dessecando até se tornar uma extensa planície com aproximadamente 1500 km de largura, unindo o continente asiático ao americano. Convencionou-se denominar esta área, que inclui o nordeste da Sibéria e porções centrais não geladas do Alaska e do Yukon, como Beríngia. https://pt.wikipedia.org/wiki/Ber%C3%ADngia#/media/File:Poblamiento_de_America _-_Teor%C3%ADa_P_Tard%C3%ADo.png Teoria do Povoamento pelo Estreito de Bering Uma vez em território americano, 3 rotas de dispersão foram possíveis a partir do Alaska: • Pelo litoral setentrional, alcançando o rio Mackenzie e, após, em direção ao Sul; • Pelo litoral meridional de Beríngia, beirando a costa sudeste do Alaska e descendo pela costado Pacífico; • Pela região central do Alaska, através dos vales, tomando o rumo do Sul. Teoria do Povoamento pelo Estreito de Bering Uma forma possível de estudar essa dispersão é por meio da datação dos sítios arqueológicos existentes ao sul da passagem na Beríngia, que desembocava nas pradarias centrais dos Estados Unidos. Os vários sítios lá existentes correspondem a acampamentos temporários de bem-sucedidos caçadores especializados na captura de grandes mamíferos, com datações de 11500 anos. Teoria do Povoamento pelo Estreito de Bering São basicamente sítios de matança de caça de grande porte, onde aparecem ossos de megafauna extinta associados a um instrumento destinado à sua captura e processamento – pontas de projétil bifaciais finamente lascadas, medindo entre 7 e 15 cm, além de facas, raspadores, bifaces e furadores. Esses vestígios são chamados de “tipo Clovis”, pois aparecem em contextos associados à captura de mamutes, que foram encontrados pela primeira vez no sítio Blackwater Draw, próximo à Clovis, no Novo México. Teoria do Povoamento pelo Estreito de Bering Para a corrente mais conservadora, os versáteis caçadores Clovis, altamente móveis, eficientes e adaptáveis, dispersaram-se com rapidez por uma diversidade notável de ambientes, por toda a costa da América do Norte, descendo até a América Central, sendo os pioneiros da América. Durante vários anos, essa hipótese foi amplamente aceita na comunidade científica, até que a descoberta de fósseis mais antigos abriu caminho para outra possibilidade. Ao que consta, essa nova teoria se sustenta na presença de fósseis humanos tão ou mais antigos do que aqueles inicialmente descobertos na porção norte do continente americano. A partir dessa constatação, uma incógnita se abriu em relação à hipótese da teoria que explica a chegada do homem pelo Estreito de Bering. América do Sul O povoamento inicial da América do Sul não foi um processo homogêneo. Em termos cronológicos, as evidências apontam para a ocupação de diversas regiões da América do Sul já em fins do Pleistoceno e início do Holoceno, com datas anteriores, ou ao menos contemporâneas, ao Horizonte Clovis, na América do Norte. Os defensores dos sítios arqueológicos de Meadowcroft, Pedra Furada e Monte Verde estão questionando o paradigma conservador e indagam se ele não vem levando à rejeição apriorística de evidências legítimas de ocupações pleistocênicas. Estão forçando não só a revisão desse modelo, mas também a revisão de dados que vêm sendo sumariamente descartados, há décadas, como pouco plausíveis e que deveriam ser reavaliados sob uma nova ótica. Pondo em xeque a pesquisa de campo norte-americana, perguntam: por que não são encontrados sítios pré-Clovis na América do Norte? Por que as escavações são em geral interrompidas nos níveis dos caçadores Clovis, sem a retirada de blocos rochosos que podem estar selando ocupações mais antigas? (LIMA, Tânia Andrade. In: CARVALHO; SILVA, 2006). A discussão a favor de novos paradigmas vem sendo cada vez mais suportada por novas evidências possibilitadas por novas técnicas no estudo da história das migrações humanas, como a constatação da presença de morfologias não-mongolóides nas Américas. Sobre o tema destaca-se o crânio encontrado em escavações feitas por A. L. Emperaire, na Lapa Vermelha IV, em Lagoa Santa, no Brasil. Crânio que está, desde 1975, sob a guarda do Museu Nacional/UFRJ e que apresenta características negroides muito semelhantes às de populações australianas e africanas atuais. Segundo Neves, a sua inserção cronológica em torno de 11 mil anos evidencia uma migração não-mongolóide para a América, ao final do Pleistoceno, também através do Estreito de Bering, antecedendo as levas mongoloides, ancestrais das populações indígenas americanas. O material ósseo, resgatado em meados dos anos 1970 pela missão franco-brasileira no sítio da Lapa Vermelha IV, no município de Pedro Leopoldo, pertencera a uma jovem que deve ter morrido com cerca de 20 anos. A camada geológica em que o crânio se encontrava foi datada em cerca de 11 mil anos e os restos da caçadora-coletadora foram apelidados de Luzia. O inglês Richard Neave, especialista forense da Universidade de Manchester, fez uma reconstituição artística para um programa da BBC de como seria a face de Luzia a partir de tomografias do crânio mais antigo das Américas. Luzia – Richard Neave http://revistapesquisa.fapesp.br/2012/08/22/a-am%C3%A9rica-de-luzia/ Todas essas evidências estão mostrando que o processo de colonização inicial do continente americano deve ter sido muito mais complexo do que se supunha, com a participação provável de diferentes grupos de diferentes proveniências e em diferentes momentos (LIMA, Tânia Andrade. In: CARVALHO; SILVA, 2006, p. 95). Teoria Malaio-Polinésia Defendida pelo antropólogo francês Paul Rivet, em 1943, a Teoria Malaio-Polinésia dita que os primeiros homens a chegarem à América vieram da região da Austrália, Beríngia e Melanésia, de ilha em ilha através de canoas rústicas. Teoria do povoamento pelo Oceano Pacífico Em 1972, o arqueólogo Knut Fladmark, da Universidade Simon Fraser, em Vancouver, Canadá, afirmou que os primeiros americanos eram pescadores de embarcações precárias, originários da Polinésia, Ásia ou Austrália, vindos via Oceano Pacífico através de uma longa cadeia de ilhas hoje desaparecidas. Reflexões Finais Muitas perguntas ainda não foram comprovadamente respondidas. No entanto, sabemos, com provas, que há 13000 anos o homem estava presente na América. Porém, tudo leva a crer que, muito antes disso, existiram ondas migratórias distintas e sucessivas. Referências Bibliográficas BUENO, Lucas; DIAS, Adriana. Povoamento inicial da América do Sul: contribuições do contexto brasileiro. Estudos avançados, 29 (83), 2015. CARDOSO, Ciro Flamarion. América pré-colombiana. São Paulo: Brasiliense,1981. CARVALHO, Claudia Rodrigues; SILVA, Hilton P. (Orgs.). Nossa origem: o povoamento das Américas: visões multidisciplinares. Rio de Janeiro: Vieira & Lent, 2006. MEGGERS, Bety; CARVALHO, Eliana Teixeira de. América pré-histórica. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979.
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