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S A Ú D E E M D E B A T E COLETÂNEA DE ARTIGOS MULTITEMÁTICOS VOLUME II Frederico C. Barbosa Editora Conhecimento Livre Frederico Celestino Barbosa Saúde em debate: coletânea de artigos multitemáticos 1ª ed. Piracanjuba-GO Editora Conhecimento Livre Piracanjuba-GO Copyright© 2020 por Editora Conhecimento Livre 1ª ed. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Barbosa, Frederico Celestino B238S Saúde em debate: coletânea de artigos multitemáticos / Frederico Celestino Barbosa. – Piracanjuba-GO Editora Conhecimento Livre, 2020 287 f.: il DOI: 10.37423/2020.edcl73 ISBN: 978-65-86072-91-4 Modo de acesso: World Wide Web Incluir Bibliografia 1. Medicina 2. Enfermagem 3. Fisioterapia 4. Nutrição 5. Psicologia I. Barbosa, Frederico Celestino II. Título CDU: 613 https://doi.org/10.37423/2020.edcl73 O conteúdo dos artigos e sua correção ortográfica são de responsabilidade exclusiva dos seus respectivos autores. EDITORA CONHECIMENTO LIVRE Corpo Editorial Dr. João Luís Ribeiro Ulhôa Dra. Eyde Cristianne Saraiva-Bonatto MSc. Anderson Reis de Sousa MSc. Frederico Celestino Barbosa MSc. Carlos Eduardo de Oliveira Gontijo MSc. Plínio Ferreira Pires Editora Conhecimento Livre Piracanjuba-GO 2020 SUMÁRIO CAPÍTULO 1 .......................................................................................................... 7 SUPLEMENTAÇÃO DE VITAMINA D NA GESTAÇÃO: EVIDÊNCIAS E RECOMENDAÇÕES Tamires Cordeiro Borges Eliane Correa da Silva Alice Ruthe Mazutti Erika Carolina Vieira-Almeida DOI 10.37423/200802293 CAPÍTULO 2 .......................................................................................................... 24 A CORRELAÇÃO ENTRE AS QUEIXAS AUDITIVAS E O COMPORTAMENTO VOCAL EM PROFISSIONAIS DA VOZ CANTADA DEVIDO A EXPOSIÇÃO A RUÍDOS João Vitor Lorite Caroli Carolina Semiguen Enumo Luciana Fracalossi Vieira DOI 10.37423/200802347 CAPÍTULO 3 .......................................................................................................... 41 INTERFACES DA PSICOLOGIA ESCOLAR E O USO E ABUSO DE ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS NA ADOLESCÊNCIA EM UM INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO Jéssica Poliana de Oliveira Souza Layane Machado Buosi Renata Vilela Rodrigues DOI 10.37423/200802359 CAPÍTULO 4 .......................................................................................................... 93 RELAÇÃO DAS CONSULTAS DE PRÉ-NATAL COM CARACTERÍSTICAS DOS DESFECHOS NEONATAIS Heverty Aparecido Ribeiro Diego Alcântara Alves Endi Lanza Galvão Helisamara Mota Guedes DOI 10.37423/200802433 CAPÍTULO 5 .......................................................................................................... 104 TDAH: MITOS E VERDADES Veridiana Catelan Mainardes Mariana Tamy Marciano Harada Sandra Cristina Catelan-Mainardes DOI 10.37423/200802448 SUMÁRIO CAPÍTULO 6 .......................................................................................................... 116 OSTEOARTROSE DO JOELHO Antônio Saraiva da Silva Neto Edite Alves de Souza Viana Flávia Carolina Lasalvia da Silva Ione Cristine Rocha Izídio Jacqueline Iara dos Santos Xavier Lílian Aparecida da Silva Rafaela Gabriela Soares Pedrosa Simes Vanessa Santos da Silva Rodrigues Thiago Ubiratan Lins e Lins DOI 10.37423/200802522 CAPÍTULO 7 .......................................................................................................... 132 MÉTODOS NÃO-FARMACOLÓGICOS NO CONTROLE DA DOR NO TRABALHO DE PARTO E PARTO: UMA AÇÃO DO ENFERMEIRO Viviane Lourenço de Souza Luana de Oliveira Silva Suelen Garcia Marjorie Max Elago Scotti DOI 10.37423/200802532 CAPÍTULO 8 .......................................................................................................... 149 COACHING E PSICOTERAPIA: UMA ANÁLISE SOBRE AS HABILIDADES NECESSÁRIAS A ESSAS PRÁTICAS NA REALIDADE BRASILEIRA Regienne Maria Paiva Abreu Oliveira Peixoto Luane Macedo Souza Pereira DOI 10.37423/200802538 CAPÍTULO 9 .......................................................................................................... 163 TRAUMA DE MAMILO: ORIENTAÇÕES DE ENFERMAGEM NO PRÉ-NATAL E PUERPÉRIO Beatriz Chagas Rodrigues de Almeida, Lenir Honório Soares, Lívia Keismanas de Ávila DOI 10.37423/200802547 CAPÍTULO 10 .......................................................................................................... 166 SOFTWARE PARA SISTEMATIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NA OBSTÉTRICA: INTERFACE DO USUÁRIO ADMINISTRADOR Ana Lúcia de Medeiros Sérgio Ribeiro dos Santos Rômulo Wanderley de Lima Cabral Maria Bernadete Sousa Costa DOI 10.37423/200802569 SUMÁRIO CAPÍTULO 11 .......................................................................................................... 181 A RELAÇÃO MÉDICO-PACIENTE VERSUS A JUDICIALIZAÇÃO DA SAÚDE: ASPECTOS RELACIONADOS A TEMÁTICA Perciliano Dias da Silva Neto Bruno Oscar de Almeida Nogueira Schmidt Ana Tereza Abreu Monteiro Daniel Gustavo Guedes Pereira de Albuquerque Ingridy Thaís Holanda de Almeida Rafaela Leandro de Lima Raphael Edson Dias Reginato Willian Santos Dias DOI 10.37423/200902575 CAPÍTULO 12 .......................................................................................................... 189 A IMPORTÂNCIA DA AQUISIÇÃO DE CONHECIMENTOS REFERENTES À COVID-19 NO CICLO GRAVÍDICO-PUERPERAL Márcia Isabel Gentil Diniz Helena Gonçalves de Souza Santos DOI 10.37423/200902576 CAPÍTULO 13 .......................................................................................................... 201 CONSTRUÇÃO DE CARTILHA PARA ORIENTAÇÃO À VIAJANTES Dalila Augusto Peres Gleudson Alves Xavier Thays Helena Araújo da Silva DOI 10.37423/200902581 CAPÍTULO 14 .......................................................................................................... 227 HABILIDADES NECESSÁRIAS À ENFERMAGEM PARA ATUAÇÃO EM TERAPIA INTENSIVA Ana Patrícia Ricci Vanessa Pinto Oleques Pradebon Michele Batiston Borsoi Leila Patrícia Dantas DOI 10.37423/200902593 CAPÍTULO 15 .......................................................................................................... 248 CONSULTA DE ENFERMAGEM PUERPERAL AINDA NA MATERNIDADE: A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO NA VISÃO DOS ACADÊMICOS Ana Cristina de Oliveira Abraão Santesso Leticia Lopes Pereira Luana Fortes Bastos DOI 10.37423/200902616 SUMÁRIO CAPÍTULO 16 .......................................................................................................... 250 O PAPEL DO ENFERMEIRO NA SAÚDE REPRODUTIVA E GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA Michele Batiston Borsoi Isabela Cristina Fernandes de Souza Laysa Maria Fernades de Souza DOI 10.37423/200902659 SUMÁRIO Saúde em debate: coletânea de artigos multitemáticos 10.37423/200802293 Capítulo 1 SUPLEMENTAÇÃO DE VITAMINA D NA GESTAÇÃO: EVIDÊNCIAS E RECOMENDAÇÕES Tamires Cordeiro Borges Universidade de Gurupi Eliane Correa da Silva Universidade de Gurupi Alice Ruthe Mazutti Universidade de Gurupi Erika Carolina Vieira-Almeida Universidade de Gurupi http://lattes.cnpq.br/5580233329167567 Suplementação De Vitamina D Na Gestação: Evidências E Recomendações 1 Resumo: A suplementação de vitamina D é importante para saúde materna, para desenvolvimento do feto e a vida pós-natal. O presente estudo teve como objetivo elucidar as complicações a saúde gestacional ocasionadas pela hipovitaminose D, delimitando as consequências para a gestante, para o concepto e para a criança, as causas que levam a essa deficiência e as recomendações do tratamento para manutenção da saúde materno-infantil. Para tal, foi realizada uma pesquisa bibliográfica do tipo exploratória, usando as bases de dados Scielo, Lilacs e PubMed, considerando os últimos 10 anos. Foram encontrados 25 artigos que relacionam a carência de vitaminaD na gestação com implicações para a gestante, para o concepto e/ou para as crianças, como pré-eclampsia, aumento da frequencia de parto cesárea e prematuro, diabetes mellitus gestacional, baixo peso ao nascer, pequeno para a idade gestacional, raquitismo, entre outros. É importante rever a deficiência de vitamina D nas mães e seus filhos para que sejam implantadas estratégias para a prevenção na gestação e na lactação, com o intuito de evitar o seu impacto no decorrer da infância Palavras-chave: Vitamina D; Suplementação; Saúde; Gestação; Criança 8 Suplementação De Vitamina D Na Gestação: Evidências E Recomendações 2 1 INTRODUÇÃO A gestação é um processo natural que acarreta em modificações fisiológicas no organismo feminino, gerando a necessidade de reposição de vitaminas e minerais, incluindo também proteínas, carboidratos e lipídeos. Essa suplementação é essencial para o desenvolvimento e crescimento do feto, uma vez que sua alimentação depende exclusivamente da ingestão nutricional materna (BASILE et al., 2014). A vitamina D, ou colecalciferol, é um hormônio esteroide, cuja principal função incide na regulação da homeostase do cálcio, formação e reabsorção óssea, através da sua interação com as paratireoides, os rins e os intestinos. A principal fonte da vitamina D é representada pela formação endógena nos tecidos cutâneos após a exposição à radiação ultravioleta B. Entretanto, sua ingestão dietética é recomendada quando a exposição solar não é suficiente para alcançar as necessidades diárias (MARQUES et al., 2010). Sua forma ativa é a 1,25-diidroxicolecalciferol, ou calcitriol, importante também na mineralização óssea (BUENO, 2008). A comunidade científica tem despertado grande interesse em evidenciar a importância da vitamina D no que diz respeito a homeostase, sendo que nessa última década houve um número expressivo de estudos relatando os aspectos moleculares da fisiologia dessa vitamina e o impacto dos distúrbios no sistema hormonal na saúde humana. Desse modo, diversas avaliações epidemiológicas revelam que boa parte da população mundial apresenta baixos níveis de vitamina D (DE CASTRO, 2011). De acordo Pereira e Solé (2015), a deficiência de vitamina D é considerada como um problema de saúde pública em diversos países, e as gestantes tem sido identificada como um grupo de alto risco, em que essa deficiência oscila entre 20-40% podendo causar variadas e graves complicações à gestação e a criança. A deficiência de vitamina D é crescentemente reconhecida como um importante fator na ocorrência de alterações metabólicas que interferem na saúde gestacional e do concepto. Por existirem poucos estudos que reúnem informações sobre a deficiência de vitamina D na gestação, o presente estudo teve como objetivo elucidar as complicações a saúde gestacional ocasionadas pela hipovitaminose D, delimitando as consequências para a gestante, para o concepto e para a criança, as causas que levam a essa deficiência e as recomendações do tratamento para manutenção da saúde materno-infantil. 9 Suplementação De Vitamina D Na Gestação: Evidências E Recomendações 3 2 METODOLOGIA Este trabalho trata-se de um estudo qualitativo/quantitativo de natureza exploratória, baseado em revisão de literatura, onde foi realizado um levantamento de dados científicos, por meio de artigos relacionados ao objeto de estudo. Para a seleção dos artigos empregados na presente revisão, foram utilizadas as bases de dados Scielo, Lilacs e PubMed, avaliando-se como período de busca os últimos 10 anos, porém não foram excluídos artigos mais antigos, que apresentaram fatores históricos e relevância. Foram empregados os seguintes termos de busca: vitamina D, 25-hidroxivitamina D, deficiência de vitamina D, hipovitaminose D, suplementação com vitamina D, isolados ou em associações com os termos gravidez, concepto e criança. Para a recuperação de um número maior de referências bibliográficas, os termos usados foram empregados nas línguas portuguesa e inglesa, O presente trabalho não implicou em riscos ao sujeito, pois se trata de uma pesquisa cujas informações foram obtidas em materiais já publicados e disponibilizados na literatura, não havendo, portanto, intervenção ou abordagem direta junto a seres humanos. Dessa forma, não foi preciso ser submetido para aprovação junto ao Comitê de Ética em Pesquisa, conforme a resolução CNS 466/2012. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO A vitamina D é classificada como um hormônio secoesteroide (CHIELLINI, 2011). Também denominada como vitamina do sol. Para se tornar ativo, pelo fato de ser um pré-hormônio inerte, a vitamina D deve passar por duas hidroxilações (Figura 1): inicialmente o pré-hormônio sofre hidroxilação no fígado, no carbono 25 por ação da 25-vitamina D 1-hidroxilase (1-OHase), originando a 25-hidroxi-vitamina D (25(OH)D), chamada calcidiol. Como a 25(OH)D possui baixa atividade biológica, é transportada ao rim onde sofre a segunda hidroxilação, obtendo-se as formas ativas calcitriol (1-dihidroxivitamina D)(1,25(OH)2D) e a 24,25 dihidroxivitamina D (24,25(OH)2D), conhecido como 24-hidroxicalcidiol, pela ação respectiva das enzimas 1-OHase e da 24-vitamina D-hidroxilase (24-OHase), presentes nas mitocôndrias das células do túbulo contornado proximal (CHIELLINI, 2011). 10 Suplementação De Vitamina D Na Gestação: Evidências E Recomendações 4 Figura 1. Metabolismo resumido da vitamina D. (Fonte: Adaptada da National Academy of Sciences. Unraveling the Enigma of Vitamin D). As principais formas de vitamina D são a vitamina D2 conhecida como ergocalciferol e a vitamina D3 como colecalciferol (Figura 2). A vitamina D2 é obtida por meio da irradiação ultravioleta do ergosterol, encontrado em leveduras e cogumelos. Já a vitamina D3 é obtida da irradiação ultravioleta do percussor do colesterol-7-dihidrocolesterol. Esta é sintetizada na pele, mas pode ser encontrada alimentos como peixes gordos (ex. salmão), ovo e no leite (HOLICK, 2008). Segundo Jones (2008), a vitamina D3 é três vezes mais eficiente em aumentar a concentração sérica da vitamina D e permanecer o nível desta por mais tempo, uma vez que sua vida média é de cerca de 15 dias (JONES, 2008). 11 Suplementação De Vitamina D Na Gestação: Evidências E Recomendações 5 Figura 2. Estrutura química do ergocalciferol (vitamina D2) e do colecalciferol (vitamina D3). (Fonte: Adaptado de Holick, 1999). A principal origem da deficiência de vitamina D é a redução da sua produção endógena, ou seja, pela sintetização por radiação UVB. Qualquer fator que afete ou impeça a transferência de radiação causará a diminuição de 25(OH)D (CHICOTE; LORENCIO 2013). De acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria (2016), os mecanismos que levam a hipovitaminose D são: diminuição da síntese cutânea, através da exposição solar inadequada, pele escura, uso de protetor solar e roupas que cubram quase todo o corpo, poluição atmosférica e latitude; diminuição das atividades de hidroxilação no fígado e rins, devido a hepatopatia crônica e nefropatia crônica; diminuição da transferência materno-fetal, por prematuridade no parto e hipovitaminose D nas gestantes; e outros mecanismos, como diminuição da absorção e/ou aumento da degradação da vitamina D, pelo efeito de medicamentos, como anticonvulsivantes (ex: fenobarbital, fenitoína, carbama-zepina, oxcarbazepina, primidona), corticosteroides, antifúngicos azólicos (ex: cetoconazol), antirretrovirais,colestiramina, orlistat e rifampicina). Diversos aspectos podem ser levados em consideração quanto a exposição solar para a absorção de vitamina D, como radiação UVB, hora do dia, latitude, altitude, degradação do ar, pigmentação da pele e estação do ano (HOSSEIN et al., 2013). No verão, ao início e fim do dia, ou no inverno a qualquer horário do dia implicam na produção de vitamina D, devido as radiações UV-A e UV-B (GILCHREST, 2008). 12 Suplementação De Vitamina D Na Gestação: Evidências E Recomendações 6 Até pouco tempo, as concentrações séricas de vitamina D (25-hidroxivitamina D ou 25-OHD) eram classificadas em três categorias: deficiência, insuficiência e suficiência (ELIZONDO et al., 2009), quando estas se apresentavam abaixo de 20 ng/mL, entre 20 e 30 ng/mL ou entre 30 e 100 ng/mL, respectivamente (HOLICK et al, 2011). Entretanto, recentemente a Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (SBPC/ML) e a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) publicaram seu posicionamento oficial sobre os intervalos de referência da vitamina D (Tabela 1), considerando valores de referência de 25(OH)D de acordo com a faixa etária e características clínicas individuais (FERREIRA et al., 2017). TABELA 1. Indicadores de diferentes concentrações séricas de 25(OH)D. Intervalos de referência 25(OH)D Indicador > 20 ng/mL desejável para população saudável (até 60 anos) 30 e 60 ng/mL recomendado para grupos de risco, como: idosos (acima de 60 anos), indivíduos com fraturas ou quedas recorrentes, gestantes e lactantes, osteoporose, doenças osteometabólicas, tais como raquitismo, osteomalácia, hiperparatireoidismo, doença renal crônica, síndromes de má-absorção, como após cirurgia bariátrica e doença inflamatória intestinal, medicações que possam interferir com a formação e degradação da vitamina D (terapia antirretroviral, glicocorticoides e anticonvulsivantes), neoplasias malignas, sarcopenia e diabetes. >100 ng/mL risco de toxicidade e hipercalcemia. Fonte: Adaptado de Ferreira et al., 2017 A carência de vitamina D é classificada como problema de saúde pública mundial, sendo que as gestantes têm sido definidas como um grupo de grande risco, em que a predominância representa cerca de 20 a 40% (MULLIGAN, 2010). A gestação é um período no qual ocorrem profundas modificações endócrinas, somáticas e psicológicas no organismo da mulher, cujas alterações tornam a gestante passível a mudanças fisiológicas e patológicas. O prognóstico da gravidez é influenciado pelas condições nutricionais maternas, tanto no período pré-concepcional como também durante a gestação e amamentação. O 13 Suplementação De Vitamina D Na Gestação: Evidências E Recomendações 7 período gestacional é uma fase na qual as carências nutricionais são notáveis, resultante das adaptações fisiológicas da gestante e da busca de nutrientes para desenvolvimento do feto. Portanto, o estado nutricional materno atribui uma importância fundamental para o crescimento e desenvolvimento do recém-nascido (BASILE et al., 2014). No decorrer da gestação ocorrem modificações significantes no metabolismo do cálcio e vitamina D para fornecer o nutriente necessário para a mineralização óssea fetal. No percurso do primeiro trimestre, o feto acumula 2-3mg/dia de cálcio no esqueleto e essa taxa de acumulação dobra no último trimestre. No início da gravidez, a gestante adapta-se as necessidades fetais aumentando a absorção de cálcio, alcançando um nível máximo no último trimestre. A transferência é compensada pelo aumento da absorção intestinal e redução da excreção urinária de cálcio (MULLIGAN et al.,2010). Dados epidemiológicos têm demonstrado a existência de uma alta prevalência de deficiência de vitamina D em mulheres e recém-nascidos. A falta de vitamina D na gestação pode acarretar complicações tanto para a mãe, quanto para o concepto (QUERIDO et al., 2017). Dados da literatura, baseados nos últimos dez anos apresentam evidências associadas à hipovitaminose D gestacional e desfechos adversos que afetam tanto a saúde materna, como do concepto, estendendo-se ao decorrer da infância. Ao todo, foram encontrados 25 estudos que abordaram as consequências da hipovitaminose D associadas à gestação (Tabela 2). Restringindo-se as informações existentes, é nítido que está cada vez mais evidente uma relação causal entre baixos níveis de 25-OHD e conclusões maternos e neonatais adversas. Tabela 2: Consequências da hipovitaminose D em gestantes Autor/ano Consequências na gestação Mulligan et al., 2010; Shand et al., 2010; Hyppönen et al., 2013; Abedi et al., 2014; Pré- eclampsia Bodnar et al., 2009; Vaginose bacteriana Kumari et al., 2017 Lapillonne, 2010 Diabetes Mellitus Gestacional e pré- eclampsia Aghajafari et al., 2013; Weinert et al., 2015 Diabetes Mellitus, gestacional, pré- eclampsia e vaginose bacteriana Burris et al., 2012 Diabetes Mellitus Gestacional Regil et al., 2016 Aumento da frequência de parto cesáreo e prematuro e pré- eclampsia 14 Suplementação De Vitamina D Na Gestação: Evidências E Recomendações 8 Kaushal et al., 2013 Aumento da frequência de parto cesáreo e prematuro, Diabetes Mellitus Gestacional e vaginose bacteriana Merewood et al., 2009; Wagner et al., 2016 Aumento da frequência de parto cesáreo e prematuro Wei et al., 2013 Aumento da frequência de parto cesáreo e prematuro, Diabetes Mellitus Gestacional e pré- eclampsia Zhang et al., 2008 Diabetes Mellitus Gestacional Muitos estudos tem demonstrado que a deficiência de vitamina D no período gestacional está relacionada a complicações maternas, como pré-eclâmpsia, resistência à insulina, diabete gestacional, vaginose bacteriana e maior incidência de parto cesáreo (KAUSHAL, 2013). A deficiência de vitamina D pode ser um marcador de comprometimento do sistema imunológico e maior risco de cesárea. Estudos recentes evidenciam que essa deficiência na gestante leva ao aumento da frequência de parto cesáreo e prematuro, provocando uma ligeira diminuição do cálcio sérico que está relacionado tanto ao musculo esquelético como à força muscular lisa (MEREWOOD et al.,2009; KAUSHAL et al.,2013; WEI et al., 2013). De acordo com Wagner et al. (2016), uma dosagem sérica de 25[OH]D de 40 ng/mL reduziu, consideravelmente, a ameaça de parto precoce em confronto com 20 ng/mL. Esses resultados apresentam a importância de manter os níveis de 25[OH]D acima de 20 ng/mL. Uma concentração sérica de 40 ng/mL durante a gestação limitaria o risco de parto imaturo e chegaria a concentrações sub-ótimas da vitamina ativa. A vitamina D tem a função de regular a secreção de insulina pelas células beta pancreáticas, sendo assim, afetam os níveis circulantes de glicose. Portanto, autores relatam que a deficiência de vitamina no início da gestação aumenta gradativamente o risco de diabetes gestacional já no final da gestação. Diversos fatores influenciam esse quadro, dentre eles pode-se citar: idade materna, IMC, histórico familiar, etnia e raça (ZHANG et al., 2008; KAUSHAL et al., 2013; WEI et al., 2013; WEINERT et al., 2015). A pré-eclâmpsia é um distúrbio da gestação caracterizado por hipertensão e pela presença de proteínas na urina. Estudos conduzidos com gestantes em que foram combinadas doses de vitamina D e cálcio, verificaram uma redução de até 20% do risco de desenvolver a pré-eclâmpsia, além de reduzir os níveis séricos de marcadores de inflamação e peroxidação lipídica. Esse efeito pode ser atribuído ao 15 SuplementaçãoDe Vitamina D Na Gestação: Evidências E Recomendações 9 aumento da ativação de enzimas antioxidantes e supressão do paratormônio, que influenciam a composição esquelética e a força da musculatura lisa (SHAND et al., 2010; MULLIGAN et al., 2010; KAUSHAL et al.,2013; WEI et al., 2013; KUMARI et al., 2017). A vitamina D, também, é capaz intervir no desenvolvimento das doenças infecciosas no decorrer da gravidez. Níveis baixos de 25 (OH) D estão associados com o aumento dos casos de vaginose bacteriana no primeiro trimestre de gestação, apresentando resultados sobre o sistema imunológico, citocinas e peptídeos antibacterianos que certamente regulam a flora bacteriana. O estado nutricional de vitamina D foi recentemente relacionado ao sistema imunológico inato humano (BODNAR et al.,2009; KAUSHAL et al.,2013; WEINERT et al.,2015). Níveis favoráveis de vitamina D materna também são fundamentais para a saúde fetal e infantil. As concentrações de vitamina D no feto são sobretudo pertencentes da concentração materna, e a insuficiência materna pode levar a resultados desfavoráveis no concepto (Tabela 3). Alguns estudos consideraram que as concentrações maternas de vitamina D estão associadas com o baixo peso ao nascer, pequeno para a idade gestacional, hipocalcemia e com o crescimento durante os anos pós-natais. A suplementação com vitamina D na gestação está relacionada com a redução do risco de sibilância e diabetes tipo I na criança (MULLIGAN et al., 2010; THORNE-LYMAN et al., 2012; AGHAJAFARI et al., 2013; SORENSEN et al., 2012). Tabela 2: Consequências da hipovitaminose D no concepto Autor/ano Consequências para o concepto Aghajafari et al., 2013 Pequeno para idade gestacional e baixo peso ao nascer Burris et al., 2012; Wei et al., 2013 Pequeno para idade gestacional Camargo et al., 2011; Dawodu et al., 2012 Infecções respiratórias agudas Chen et al., 2015; Regil et al., 2016; Leffelaar et al., 2010; Nobles et al., 2015; Thorne-Lyman et al., 2012 Baixo peso ao nascer Mulligan et al., 2010 Baixo peso ao nascer e hipocalcemia neonatal Weinert et al., 2015 Baixo peso ao nascer e infecções respiratórias agudas Níveis inferiores de 25 (OH) D3 no sangue do cordão umbilical foram associados a elevado risco de desenvolver doenças respiratórias agudas devido à carência imunológica. Estudos realizados em alguns 16 Suplementação De Vitamina D Na Gestação: Evidências E Recomendações 10 países como na Índia, nos Estados Unidos, em Bangladesh e Coreia mostraram que inúmeras crianças nascem com baixos níveis de 25(OH) D, em virtude da alta deficiência de vitamina D materna, variando de 22,3% a 73,6%. Nestes casos, foram observados um maior risco de desenvolvimento de raquitismo infantil (CAMARGO et al., 2011; JAIN et al., 2011). A deficiência de vitamina D no decorrer da gravidez também está ligada a riscos de problemas de saúde mais tardiamente na infância, envolvendo doenças autoimunes e implicações significativas para o desenvolvimento neurológico da criança (MULLIGAN et al.,2010; CAMARGO et al.,2011; JAIN et al.,2011; WHITEHOUSE et al., 2012). É importante atentar-se aos fatores supracitados para prestar uma assistência de qualidade com vista à diminuição da morbimortalidade infantil ocasionada pela a deficiência da vitamina D. Portanto, a profilaxia deve ser iniciada desde os primeiros momentos de vida da criança, tendo em vista os benefícios referentes à prevenção de doenças e agravos nessa fase, principalmente relacionado a um relevante indicador da saúde infantil, que é o seu crescimento (LUIZ et al., 2018). A avaliação dos níveis séricos de 25(OH)D é o melhor indicador do estado nutricional de vitamina D. No diagnóstico laboratorial os métodos rotineiros mais utilizados são os imunoensaios e os radioimunoensaios, por serem procedimentos automatizados, mais rápidos e de baixo custo. Levando em consideração o método utilizado, é importante ressaltar que as exatidões dos testes variam entre laboratórios e entre os ensaios (CHICOTE; LORENCIO, 2013). Considera-se a Cromatografia Líquida Acoplada à Espectrometria de Massas (LC-MS) como método mais seguro na dosagem de 25(OH)D, sendo indicado pelo National Diet and Nutricion Survey (De LA HUNTY et al., 2010). De modo geral, todos os métodos disponíveis são aceitos para detectar deficiência de vitamina D grave. No entanto, nas deficiências moderadas há risco de erro que pode ser reduzido, levando em consideração os valores de referência de cada laboratório. Portanto é necessário que haja uma padronização dos métodos empregados para estudos mais aprofundados (MASVIDAL et al., 2012). Na maior parte dos países, a avaliação dos níveis séricos de 25(OH)D no período gestacional não é realizada. No entanto, em mulheres que apresentam fatores de risco para hipovitaminose D é recomendado que sejam avaliadas no início e na metade da gestação (PONSONBY, 2010). Sendo assim, diminuiria a incidência da deficiência de vitamina D na gravidez, evitando resultados negativos à saúde materna e fetal. Diversas organizações têm destacado e priorizado a importância de garantir níveis séricos de vitamina D superior a 30 ng/mL durante a gestação (PEREIRA; SOLÉ 2015; BENACHI, 2013). 17 Suplementação De Vitamina D Na Gestação: Evidências E Recomendações 11 Para que os níveis séricos de vitamina D se mantenham adequados, existem três fontes para a obtenção de 25(OH)D: a partir da exposição solar, dieta e suplementação (FRASER & MILAN, 2013). A exposição à luz solar fornece para a maioria das pessoas a quantidade necessária de vitamina D. A vitamina D produzida na pele pode durar, pelo menos, o dobro do tempo no sangue, comparada à sua forma ingerida (HADDAD et al., 1993). Quando um adulto é exposto a uma dose eritematosa mínima de radiação ultravioleta (aquela que causa uma ligeira coloração rosa na pele após 24 horas da exposição), a quantidade de vitamina D produzida é equivalente à ingestão de 10.000 a 25.000 UI (HOLICK e CHEN, 2008). Apesar da exposição solar constituir a principal fonte da vitamina D, devido à formação endógena nos tecidos cutâneos (MARQUES et al.,2010), a dieta adequada é fundamental para auxiliar a regularização dos níveis séricos ideias desta vitamina. Na sua forma natural, poucos alimentos contêm vitamina D. O óleo de fígado de peixe, os alimentos reforçados, como a margarina e os cereais matinais fortificados com vitamina D, peixes de águas profundas ricos em ômega-3 (salmão, atum, sardinha), ovo de galinha e fígado de boi são as principais fontes dietéticas de vitamina D (BUENO, 2008). Outra medida, de baixo custo e com grande relevância clínica é a suplementação oral, por meio de medicamentos contendo vitamina D isolada (PIRES, 2011). Existem várias marcas de medicamentos disponíveis no mercado para suplementação de vitamina D, com diferentes apresentações e concentrações. Quanto à dosagem da suplementação, é significativo analisar que se diferem de acordo com a necessidade e meta a ser atingida, faixa etária, riscos e alimentação (PIRES, 2011). A reposição das necessidades diárias de vitamina D, bem como o tratamento da deficiência, deve ser realizada para população de risco para hipovitaminose D. As crianças entre 0 a 18 meses precisam de uma dosagem de no mínimo 400 UI/dia de vitamina D. Da infância até aos 18 anos carecem de pelo menos 600 UI/dia para potencializar o desenvolvimento ósseo. Mas para manter níveis constante de 25(OH)D, talvez seja necessário à suplementação de 1.000 UI/dia (ALVES et., 2013). Na fase adultaé necessária a ingestão de no mínimo 600 UI/dia de vitamina D, para o bom desempenho do sistema muscular e fortalecimento esquelético. Pode ser que seja necessário suplementar com doses de 1.500-2.000 UI/dia para manter níveis adequados de vitamina D. Acima de 70 anos as carências de vitamina D aumentam para a escala de 800 UI/dia, atingindo doses de 1.500- 2.000 UI/dia. As gestantes e lactantes precisam de pelo menos de 600UI/dia de vitamina D para que possam manter níveis séricos superiores a 30ng/mL (ALVES et., 2013). 18 Suplementação De Vitamina D Na Gestação: Evidências E Recomendações 12 Atualmente, a Canadian Academy of Pediatrics recomenda a suplementação de 2.000 UI/dia de vitamina D durante a gestação e a lactação, enquanto o American College of Obstetricians and Gynecologists aconselha que a reposição seja feita de 1.000 a 2.000 UI/dia (CHEN et al., 2015; BARTOSZEWICZ et al., 2013). A suplementação de vitamina D é importante para saúde materna, para desenvolvimento do feto e a vida pós-natal, por este motivo tem sido sugerida como intervenção para proteger contra desfechos adversos materno-fetal. No entanto, mais estudos são necessários para avaliação dos efeitos da vitamina D bem como seus níveis séricos adequados para população em geral, gestantes e crianças (DE-REGIL et al., 2012). 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS A deficiência de vitamina D é considerada um problema alarmante na saúde pública em vários países, trazendo consequências futuras. A carência materna de vitamina D tem sido uma das principais causas da hipovitaminose D em crianças e recém-nascidos, causando atrasos no desenvolvimento e chances de apresentar problemas que comprometem a qualidade e a expectativa de vida. No entanto, a deficiência de vitamina D é um estado corrigível, sendo importante assegurar que as recomendações existentes para a ingestão de vitamina D sejam sistematicamente garantidas. Por fim, é importante rever a deficiência de vitamina D nas mães e seus filhos para que possivelmente, possam ser implantadas estratégias em sua prevenção na gestação e na lactação, com o intuito de evitar o seu impacto no decorrer da infância, visando uma possível diminuição no desenvolvimento futuro de doenças crônicas na fase adulta. 19 Suplementação De Vitamina D Na Gestação: Evidências E Recomendações 13 REFERÊNCIAS ABEDI, Parvin et al. The relationship of serum vitamin D with pre-eclampsia in the I ranian women. Maternal & child nutrition, v. 10, n. 2, p. 206-212, 2014. AGHAJAFARI, Fariba et al. Association between maternal serum 25-hydroxyvitamin D level and pregnancy and neonatal outcomes: systematic review and meta-analysis of observational studies. Bmj, v. 346, p. f1169, 2013. BASILE, Luiz Henrique. Gestante e necessidade da vitamina D. International Journal of Nutrology, v. 7, n. 1, p. 05-13, 2014. BARTOSZEWICZ, Zbigniew et al. 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Na prática clínica fonoaudiológica, os cantores atêm-se a cuidar da voz, esquecendo- se, muitas vezes, de que é necessário um cuidado com a audição também. O objetivo desse trabalho foi de correlacionar as principais queixas auditivas e as alterações vocais devido à exposição a ruídos no ambiente de trabalho que podem interferir no bom desempenho dos cantores em suas performances. Para a realização deste estudo, foi realizada uma entrevista individual, junto à aplicação de um questionário com 17 questões objetivas referentes à prática musical, o histórico auditivo e o histórico vocal de 50 cantores, profissionais e amadores, de distintos segmentos musicais em uma cidade localizada no norte do Paraná. Concluiu-se que com a presença dos ruídos através de sons elevados no ambiente de trabalho houve correlação entre as queixas auditivas e extra-auditivas e as alterações vocais os quais apresentam tontura, ouvido tampado e algum tipo de zumbido referente aos sintomas auditivos e rouquidão, voz cansada e pigarro como as principais alterações de voz. Palavras-chave: Qualidade da voz, Transtornos da Audição, Ruído, Distúrbios da Voz 25 A Correlação Entre As Queixas Auditivas E O Comportamento Vocal Em Cantores Devido À Exposição A Ruídos 2 1 INTRODUÇÃO As doenças ocupacionais são aquelas que comprometem a saúde do trabalhador por meio de seu ambiente de trabalho (ASCARI et al., 2013). Desse modo, os cantores são expostos, com frequência, a elevados níveis de sons e ruídos, devido aos ensaios e apresentações, os quais têm dificultado o bom desempenho da profissão, uma vez que eles passam horas em contato com intensidades sonoras elevadas, o que pode lhes causar danos à audição e à voz. Em outras palavras, pode-se dizer que esses sujeitos são suscetíveis a desenvolveralguma patologia relacionada aos fatores do ambiente de trabalho (MENDES, MORATA e MARQUES, 2007). De acordo com a legislação brasileira, o art. 20 da Lei 8.213/91, as doenças ocupacionais podem ser classificadas como doença profissional, “produzida ou desencadeada pelo exercício do trabalho peculiar à determinada atividade e constante” e doença do trabalho, “adquirida ou desencadeada em função de condições especiais em que o trabalho é realizado e com ele se relacione diretamente” (LEI Nº 8.213, 1991). Na primeira década do século XXI, passou-se a estudar o adoecimento e as condições de trabalho dos músicos no Brasil, visando à interdisciplinaridade e à criação de programas de prevenção para a saúde dessa população (GERALDO E FIORINI, 2017). Em específico para os cantores, existem literaturas que abordam isoladamente a saúde auditiva e a saúde vocal, entretanto focar na influência que os ruídos possuem na audição e na voz do cantor é importante, porque o monitoramento auditivo resulta em uma importante ação do controle vocal, abordando os parâmetros de frequência, intensidade e qualidade de voz, isto é, a qualidade auditiva é influente na qualidade vocal (CALDEIRA, VIEIRA E BEHLAU, 2012). Diante desse contexto, a justificativa para a idealização desta pesquisa originou-se nas diversas queixas vocais dos cantores, pois muitos deles procuram o fonoaudiólogo referindo-se a problemas vocais, por estarem em ambientes com som intenso e fazerem uso abusivo da voz. Porém nota-se que a preocupação está focada na qualidade vocal e não na qualidade da audição. Além de que este tema aborda um problema de saúde importante na atualidade, no qual os profissionais da voz cantada estão inseridos constantemente, seja nos ambientes com níveis sonoros elevados, no uso frequente de fones de ouvido ou no abuso vocal (GERALDO E FIORINI, 2017). Assim, este trabalho tem como objetivo correlacionar as principais queixas auditivas e as alterações vocais em cantores, devido à exposição a ruídos em seu ambiente de trabalho. Para tanto, verificaram- 26 A Correlação Entre As Queixas Auditivas E O Comportamento Vocal Em Cantores Devido À Exposição A Ruídos 3 se os recursos disponíveis para o retorno auditivo da voz do cantor, constatou-se tempo e frequência de exposição sonora e foi averiguado se os níveis elevados sonoros atrapalham no feedback auditivo da voz, durante o ato de cantar. 2 MÉTODOS Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Unicesumar (Centro Universitário de Maringá), sob o parecer nº 073045/2018. Todos os indivíduos envolvidos assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). A amostra de conveniência foi de 50 sujeitos que se constituem cantores de diversos segmentos musicais, sendo eles profissionais ou amadores, em uma cidade localizada no norte do Paraná. Participaram do estudo 28 homens e 22 mulheres. O critério de inclusão foi baseado no fato do sujeito cantar com a frequência de pelo menos uma vez por semana, com banda e equipamentos de som, assim como fazendo uso de microfone e com público presente. Foram excluídos cantores que faziam parte de coral, grupos ou que cantassem a capella e/ou com frequência de apresentação inferior a uma vez por semana. O material para a coleta dos dados foi um questionário com 17 questões fechadas e múltiplas (Apêndice A), elaborado pelos próprios pesquisadores, adaptado da pesquisa de Reis e Semiguen Enumo (2015). Esse questionário foi dividido em três partes: a primeira delas é composta por quatro questões sobre as práticas musicais em relação ao tempo e à frequência dos ensaios e apresentações; a segunda, composta por sete questões, voltada somente à história auditiva; a terceira, constituída por seis questões, volta-se a aspectos relacionados à saúde vocal. As questões foram objetivas. A pesquisa foi realizada na Clínica de Fonoaudiologia da Unicesumar – Centro de Ensino Superior de Maringá –, localizada no bloco 05 da instituição, situada na Avenida Guedner, número 1610, no Jardim Aclimação, na cidade de Maringá–PR, com agendamento prévio dos cantores/pacientes por meio de contato telefônico. Foi realizado o contato com os candidatos à pesquisa para convidá-los a participar e, mediante a autorização, foi estabelecido um agendamento individual. 27 A Correlação Entre As Queixas Auditivas E O Comportamento Vocal Em Cantores Devido À Exposição A Ruídos 4 Esta pesquisa é de caráter quantitativo e qualitativo, e a coleta de dados aconteceu por meio de aplicação de questionário para obter informações da história auditiva, da história vocal e da história musical que cada sujeito apresenta. A coleta de dados deu-se após o início do agendamento, no qual cada sujeito comparecia à Clínica Escola de Fonoaudiologia da Unicesumar em seu horário agendado. Para cada participante, foi explicado o objetivo da pesquisa e foram esclarecidas todas as dúvidas quanto ao preenchimento do questionário. Em seguida, iniciou-se a aplicação deste, em que o indivíduo respondia as perguntas sem a intervenção ou a influência de terceiros. Os dados obtidos foram digitados em planilha do programa Microsoft Excel 2010 e analisados estatisticamente com o auxílio do Software Statistica Single User versão 13.2. Foram calculadas as medidas descritivas: média, desvio padrão, máximo e mínimo para a idade dos entrevistados. Os sujeitos foram numerados de um a cinquenta para que, em caso de necessidade de comparação dos dados, fossem identificados. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Foram analisados dados de 50 cantores com idade média de 30,2±8,5 anos, a idade mínima foi de 18 e a máxima de 57 anos (tabela 1). Metade dos entrevistados, 50,0% (n=25) têm entre 18 e 28 anos, 100% (n=50) deles participam de algum conjunto/banda/orquestra há três anos ou mais, 42,0% (n=21) afirmaram que o tempo médio de duração do ensaio é de duas horas e 30,0% (n=15) ensaiam com a banda uma vez por semana. 42,0% (n=21) participam de apresentações semanais com a frequência de duas vezes na semana e 38,0% (n=19) afirmaram que a duração dessas apresentações é de duas horas (tabela 1). Desse modo, o tempo médio que esses indivíduos passam expostos a elevados níveis de pressão sonora (ruídos) é de seis horas semanais com a periodicidade de três vezes na semana; entretanto, de acordo com as Normas Regulamentadoras (NR 15) – Atividades e Operações Insalubres (15.000-6) (anexo 1), os limites de tolerância para ruídos contínuos ou intermitentes, a exposição ao ruído com duração de duas horas não deve exceder a 95 dBNA, porque, ultrapassando tal intensidade, já traz malefícios à audição (TRT-2ª Região, 2010). Contudo, esta pesquisa não utilizou o decibelímetro, equipamento responsável por quantificar o nível de pressão sonora de um ambiente, impossibilitando quantificar qual a intensidade de ruído a que esses indivíduos estão sujeitos e quais são seus efeitos para a audição. 28 A Correlação Entre As Queixas Auditivas E O Comportamento Vocal Em Cantores Devido À Exposição A Ruídos 5 TABELA 1: Distribuição numérica e percentual dos indivíduos entrevistados em relação à faixa etária, ao gênero e ao tempo e à frequência de exposição ao ruído. Variáveis n % Faixa etária De 18 a 28 anos 25 50,0 De 29 a 38 anos 19 38,0 De 39 a 48 anos 3 6,0 Mais de 49 anos 3 6,0 Gênero Masculino 28 56,0 Feminino 22 44,0 Quanto tempo faz parte de algum conjunto/banda/orquestra Três anos ou mais 50 100,0 Quantidade de ensaio com a banda Uma vez por semana 15 30,0 Duas vezes por semana 14 28,0 Três vezes porsemana 11 22,0 Nunca 10 20,0 Tempo médio de duração do ensaio Uma hora 13 26,0 Duas horas 21 42,0 Não ensaia 10 20,0 Três horas ou mais 6 12,0 Quantidade de apresentações semanais Uma vez por semana 14 28,0 Duas vezes por semana 21 42,0 Três vezes por semana ou mais 12 24,0 Nunca 3 6,0 Tempo médio de apresentação semanal Meia hora 9 18,0 Uma hora 13 26,0 Duas horas 19 38,0 Três horas ou mais 6 12,0 Não se apresenta 3 6,0 A maioria dos cantores, 70,0% (n=35), não possui dificuldade para escutar, porém é importante ressaltar que 30,0% (n=15) afirmaram que possuem dificuldade. Verificou-se que 48,0% (n=24) já fizeram avaliação audiológica com resultado normal. Em contrapartida, observou-se que 38,0% (n=19) desses indivíduos nunca fizeram avaliação audiológica. Diante desse contexto, dos sujeitos que possuem alguma dificuldade de escutar, nove nunca fizeram a avaliação audiológica, dois fizeram tal avaliação com resultado alterado, três fizeram com resultado 29 A Correlação Entre As Queixas Auditivas E O Comportamento Vocal Em Cantores Devido À Exposição A Ruídos 6 normal e uma pessoa fez, mas não lembra o resultado. Takishima et al. (2014) discutem dados semelhantes e consideram, referente ao não conhecimento da realização de avaliações audiológicas, que os motivos elencados por pacientes e familiares, quando questionados por não procurarem auxílio, são: falta de conhecimento, esquecimento, desinteresse e dificuldade financeira para realizar a avaliação. Mendes, Marota e Marques (2007) também constataram dados semelhantes, quando se referem ao cuidado com a saúde auditiva, porque de 34 indivíduos derivados em músicos, cantores e auxiliares de palco, “apenas 9 indivíduos (25,7%) afirmaram ter algum tipo de cuidado em relação à audição, e 25 (71,4%) não têm nenhum cuidado”. Foi possível observar que 62,0% (n=31) utilizam sistema de retorno vocal de palco, 18,0% (n=9) utilizam o sistema auricular individual/in ear e 12,0% (n=6) utilizam ambos. Verificou-se que 18,0% (n=9) possuem dificuldade de se ouvir cantando (feedback auditivo) durante apresentação/show, sendo que esses mesmos sujeitos são os que utilizam algum tipo de equipamento de retorno (tabela 2). Essa realidade descrita é justificada por Caldeira, Vieira e Behlau (2012) quando afirmam que “alguns parâmetros da produção vocal sofrem mudanças quando há impedimento ou interrupção do controle auditivo”, que, nesse caso, é o ruído, responsável por dificultar o ”monitoramento auditivo da voz, comprometendo a comunicação” (CALDEIRA, VIEIRA e BEHLAU, 2012). TABELA 2:Distribuição numérica e percentual dos indivíduos entrevistados em relação ao histórico auditivo, alterações auditivas e uso de retorno. Variáveis n % Percebe/possui dificuldade para escutar Não 35 70,0 Sim 15 30,0 Tem um ouvido melhor que o outro Sim (Orelha esquerda) 9 18,0 Sim (Orelha direita) 10 20,0 Não 31 62,0 Fez avaliação audiológica Já fiz com resultado normal 24 48,0 Nunca fiz esta avaliação 19 38,0 Já fiz, mas não lembro o resultado 3 6,0 Já fiz com resultado alterado 4 8,0 Dificuldade de se ouvir cantando durante show/apresentação Não 41 82,0 Sim 9 18,0 Utiliza sistema de retorno vocal Sim (Auricular individual) 9 18,0 Sim (Retorno de palco de chão) 31 62,0 30 A Correlação Entre As Queixas Auditivas E O Comportamento Vocal Em Cantores Devido À Exposição A Ruídos 7 Sim (Auricular individual e retorno de palco de chão) 6 12,0 Não 4 8,0 Quanto ao histórico vocal, 80,0% (n=40) dos entrevistados não possuem patologia vocal e 20,0% (n=10) possuem alguma patologia, sendo que três pessoas possuem mais de uma patologia vocal associada à outra (tabela 3). Um fator relevante é que 60,0% nunca fizeram o exame das pregas vocais, 68,0% (n=34) não tiveram acompanhamento fonoaudiológico e 40,0% (n=20) não tiveram professor de canto, mesmo utilizando a voz como instrumento de trabalho (tabela 3). Dentre os indivíduos que possuem patologia na voz, apenas um sujeito nunca realizou exame das pregas vocais; entretanto, assinalou a opção “outras”, por não saber qual patologia possui. Em contrapartida, três sujeitos assinalaram a opção de que realizaram o exame das pregas vocais e obtiveram resultado alterado, mas não assinalaram nenhum tipo de patologia (tabela 3). Observou-se também que o mesmo individuo que nunca realizou o exame das pregas vocais também nunca teve acompanhamento fonoaudiológico, mas está em acompanhamento com professor de canto. Dos demais nove sujeitos com patologia, seis já tiveram acompanhamento fonoaudiológico e três estão em tratamento. Quanto ao acompanhamento com professor de canto, seis já realizaram aulas, dois estão em acompanhamento e um sujeito nunca realizou tal acompanhamento (tabela 3). A maioria 72,0% (n=36) já teve alteração vocal após apresentação/show e 36,0% (n=18) têm esse tipo de sintoma após todo show/apresentação. TABELA 3: Distribuição numérica e percentual dos indivíduos entrevistados em relação ao histórico vocal, patologias e/ou alterações vocais. Variáveis N % Já teve/Tem patologia vocal Não possuo patologia vocal 40 80,0 Fendas 3 6,0 Outras 2 4,0 Fendas, Cisto, Edema 1 2,0 Fendas e cisto 1 2,0 Nódulo 1 2,0 Nódulo, Fendas e Sulco 1 2,0 Cisto 1 2,0 Fez exame da pregas vocais Nunca fiz avaliação 30 60,0 Já fiz com resultado alterado 12 24,0 Já fiz com resultado normal 8 16,0 31 A Correlação Entre As Queixas Auditivas E O Comportamento Vocal Em Cantores Devido À Exposição A Ruídos 8 Teve acompanhamento com fonoaudiólogo Não 34 68,0 Sim (estou em acompanhamento) 5 10,0 Sim (já estive em acompanhamento) 11 22,0 Teve professor de canto Não 20 40,0 Sim (já estive em acompanhamento) 18 36,0 Sim (estou em acompanhamento) 12 24,0 Alteração vocal após apresentação/shows Sim 36 72,0 Não 14 28,0 Frequência dos sintomas Após todo show/Apresentação 18 36,0 Não tem sintomas 11 22,0 Uma vez por semana 12 24,0 Duas vezes por semana 6 12,0 Três vezes por semana 3 6,0 Referindo-se aos sintomas auditivos e extra-auditivos, a maioria dos entrevistados, 66,0% (n=33), não apresentou nenhum sintoma auditivo, porém, 64,0% (n=32) possuem algum tipo de zumbido. Referente aos sintomas auditivos, 24,0% (n=12) afirmaram ter ouvido tampado, 14,0% (n=7) apontaram ter tontura e ninguém apresentou infecção de ouvido (tabela 4). Quanto aos sintomas extra-auditivos, 36,0% (n=18) apresentam zumbido após shows e 16,0% (n=8) têm zumbido após o uso do fone auricular/in ear, uma vez que apenas dois indivíduos fazem uso apenas do in ear (tabela 4). Como consequência desses sintomas, Mendes, Marota e Marques (2007) afirmaram que “medidas de prevenção da perda auditiva a músicos têm sido sugeridas em diversas pesquisas científicas, tais como: tratamento acústico dos ambientes de ensaio, acompanhamento audiológico e uso de proteção individual (EPI’s)” devido ao fato de que existe “associação entre exposição ao ruído e perda auditiva ocupacional”, fato que foi confirmado através da pesquisa desses autores, que através de uma entrevista com 34 sujeitos constatou-se que “as queixas auditivas referidas pelos músicos, cantores e operador de mesa de som foram incômodo a sons (58,8%), zumbido (47%), perda auditiva (25,7%) e sensação de ouvido tapado (4%)” (MENDES, MOROTA e MARQUES, 2007). Quanto aos indivíduos que afirmaram ter alguma alteração vocal após shows/apresentação, as principais alterações observadas foram rouquidão em 28% (n=28) dos entrevistados. 60,0% (n=30) afirmaramter voz cansada e 22,0% (n=11), pigarro (tabela 4). Conforme Ribeiro et al. (2012), se uma população de cantores apresentar uma quantidade superior a três problemas vocais, esses, então, já são considerados sujeitos de risco e propensos ao desenvolvimento patológico. Tais autores 32 A Correlação Entre As Queixas Auditivas E O Comportamento Vocal Em Cantores Devido À Exposição A Ruídos 9 complementam que a maioria dos problemas relacionados à voz cantada está na falta de conhecimentos técnicos e na falta de orientações quanto aos cuidados de voz. TABELA 4: Distribuição numérica e percentual dos indivíduos entrevistados em relação aos sintomas auditivos, zumbidos e alterações vocais. Variáveis Sim Não n % n % Sintomas Auditivos Ouvido tampado 12 24,0 38 76,0 Tontura 7 14,0 43 86,0 Dor de ouvido 2 4,0 48 96,0 Nenhum sintoma 33 66,0 17 34,0 Apresentou infecção 0 0,0 50 100,0 Zumbido Após cinema 1 2,0 49 98,0 Em shows 18 36,0 32 64,0 Após estudos 1 2,0 49 98,0 Após ensaio 7 14,0 43 86,0 Após apresentações 6 12,0 44 88,0 Após barulho 2 4,0 48 96,0 Música com fone 8 16,0 42 84,0 Outras situações de zumbido 6 12,0 44 88,0 Não sinto zumbido 18 36,0 32 64,0 Alterações Vocais Rouquidão 28 56,0 22 44,0 Voz cansada 30 60,0 20 40,0 Ardência 6 12,0 44 88,0 Bolo na garganta 6 12,0 44 88,0 Sem voz 3 6,0 47 94,0 Dor 5 10,0 45 90,0 Pigarro 11 22,0 39 78,0 Tosse 4 8,0 46 92,0 Não houve associação estatisticamente significativa entre gênero e as variáveis avaliadas. 80,0% (n=40) afirmaram que o som alto (ruído) e a dificuldade de se escutar cantando (feedback auditivo) são os fatores que levam ao maior esforço vocal (tabela 5). Houve também associação das faixas etárias, entre 18 e 38 anos, pois a maioria das pessoas que não tem patologia vocal acredita que a dificuldade em se escutar cantando (feedback auditivo) é devido ao ambiente onde trabalham possuir níveis elevados de ruído, responsável pelo abuso da voz. Com relação a essas afirmativas, Caldeira, Vieira e Behlau (2012) realizaram uma pesquisa na qual analisaram as modificações vocais em repórteres devido à situação de ruídos. Foram divididos dois grupos com 23 sujeitos respectivamente, um com repórteres e outro com indivíduos que não fazem uso da voz profissional (grupo controle), entretanto, as autoras concluíram que, na presença de ruídos, 33 A Correlação Entre As Queixas Auditivas E O Comportamento Vocal Em Cantores Devido À Exposição A Ruídos 10 qualquer indivíduo, profissional da voz ou não, apresenta alteração vocal, aumentando “loudness, pitch, tensão e precisão articulatória”. Isto constitui uma explicação para o fato dos quarenta cantores afirmarem que o ruído atrapalha no feedback auditivo, interferindo na qualidade vocal, porque “a ausência de monitoramento auditivo gera mudanças caracterizadas principalmente por descontrole na intensidade e deslocamento da frequência fundamental da voz” ( CALDEIRA, VIEIRA e BEHLAU, 2012). TABELA 5: Distribuição numérica e percentual dos indivíduos entrevistados em relação aos sintomas auditivos, zumbidos e alterações vocais. Variáveis n % O som alto (ruído) e a dificuldade de se escutar cantando (feedback auditivo) são os fatores que fazem ter maior esforço vocal Sim 40 80,0 Não 10 20,0 Verificou-se que existe uma limitação na pesquisa, devido ao curto prazo de acompanhamento com a amostra. Para determinar se essa população desenvolverá alguma patologia de voz e de audição e quais são elas, seria necessária uma pesquisa de longo prazo, a qual permitiria qualificar e quantificar, de fato, quais são as influências que os níveis elevados de ruídos exercem na saúde auditiva e vocal desses sujeitos. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Com a presença dos ruídos através de sons elevados no ambiente de trabalho, tanto nos ensaios quanto nas apresentações/show, houve correlação entre as queixas auditivas e as alterações vocais em cantores que passam a média de seis horas semanais, com frequência de três vezes na semana, expostos a altos níveis de pressão sonora. Os profissionais da voz cantada apresentaram tontura, ouvido tampado e algum tipo de zumbido referente aos sintomas auditivos e apresentaram rouquidão, voz cansada e pigarro como as principais alterações de voz. Esses sujeitos utilizam retorno de chão ou auricular/in ear como recurso disponível para o feedback auditivo da voz, entretanto, mesmo com o uso dos equipamentos de retorno, essa população afirma que os elevados níveis de ruído atrapalham no controle do feedback auditivo, dificultando o controle vocal durante ensaios, apresentações ou shows. 34 A Correlação Entre As Queixas Auditivas E O Comportamento Vocal Em Cantores Devido À Exposição A Ruídos 11 REFERÊNCIAS ASCARI, R. A. et al. Prevalência de doenças ocupacionais em profissionais da enfermagem: revisão de literatura. Resvista UNINGÁ Review, vol.15, n.2, p. 26-31, 2013. Disponível em: <http://revista.uninga.br/index.php/uningareviews/article/view/1449/1065>. Acesso em: jan. 2019. CALDEIRA, C. R. P.; VIEIRA V.P.; BEHLAU, M. Rev. Soc. Bras. Fonoaudiol., n. 17, p. 321-326, 2012. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rsbf/v17n3/14>. Acesso em: jan. 2019. Descritores em Ciências da Saúde: DeCS. *. Ed.rev. e ampl. 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Acesso em: jan. 2019. 35 A Correlação Entre As Queixas Auditivas E O Comportamento Vocal Em Cantores Devido À Exposição A Ruídos 12 ANEXO 1 36 A Correlação Entre As Queixas Auditivas E O Comportamento Vocal Em Cantores Devido À Exposição A Ruídos 13 37 A Correlação Entre As Queixas Auditivas E O Comportamento Vocal Em Cantores Devido À Exposição A Ruídos 14 38 A Correlação Entre As Queixas Auditivas E O Comportamento Vocal Em Cantores Devido À Exposição A Ruídos15 39 A Correlação Entre As Queixas Auditivas E O Comportamento Vocal Em Cantores Devido À Exposição A Ruídos 16 40 Saúde em debate: coletânea de artigos multitemáticos 10.37423/200802359 Capítulo 3 INTERFACES DA PSICOLOGIA ESCOLAR E O USO E ABUSO DE ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS NA ADOLESCÊNCIA EM UM INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO Jéssica Poliana de Oliveira Souza Centro universitário de Várzea Grande UNIVAG Layane Machado Buosi Centro universitário de Várzea Grande UNIVAG Renata Vilela Rodrigues Centro Universitário de Várzea Grande UNIVAG http://lattes.cnpq.br/6431911439967926 http://lattes.cnpq.br/5268369638744395 Interfaces Da Psicologia Escolar E O Uso E Abuso De Álcool E Outras Drogas Na Adolescência Em Um Instituto Federal De Educação 1 Resumo: Este projeto trata de uma pesquisa ação que foi desenvolvida em um instituto Federal de educação em Mato Grosso, com alunos do ensino médio. O objetivo deste trabalho foi realizar e coordenar oficinas abordando e discutindo o uso abusivo de álcool e drogas com os adolescentes do instituto, é essencial explorar os fatores que venham expor esses adolescentes ao uso dessas substancias e os motivos que os protegem. Inicialmente partimos de uma revisão bibliográfica sobre o tema Uso e abuso de álcool e outras drogas na adolescência relacionando com a psicologia escolar. Para a realização deste trabalho foi utilizada a metodologia interventiva das Oficinas Psicossociais. As oficinas psicossociais, pretendem investigar o que os alunos conhecem sobre o uso de drogas, fomentando reflexões a respeito das questões de conflitos descritas no questionário informal e nas rodas de conversas que serão utilizados como base para as oficinas. Este projeto parte da prática do Estagio supervisionado especifico I e II em Psicologia Escolar do curso de Psicologia do UNIVAG que é realizado em dois semestres nono e decimo. No nono semestre as atividades realizadas se referem a observação e escrita do projeto de intervenção que, por sua vez, é aplicado no decorrer do décimo semestre. Palavras-chaves: álcool, drogas, psicologia escolar, álcool e drogas na adolescência, álcool e drogas na escola. 42 Interfaces Da Psicologia Escolar E O Uso E Abuso De Álcool E Outras Drogas Na Adolescência Em Um Instituto Federal De Educação 2 INTRODUÇÃO Este projeto foi desenvolvido no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (IFMT) em Mato Grosso. Foi realizado uma revisão bibliográfica sobre o tema: Uso e abuso de álcool e outras drogas na adolescência, relacionando com a psicologia escolar, apresentando também uma pesquisa por meio de questionário e oficinas, tendo como foco os adolescentes que estudam no instituto. Esse assunto é relevante em todas as escolas e um problema na maioria delas, por conta disso, os profissionais da educação procuram estratégias que os ajudem a lidar com os adolescentes que fazem o uso dessas substancias, conciliando as normas e as regras vigentes das instituições com os atos dos adolescentes. Conforme Marques e Cruz (2000), até o início da década de 80, os estudos epidemiológicos não encontraram taxas de consumos alarmantes entre estudantes. Hoje, através da vivência dos profissionais da educação, essa realidade é diferente e mudou em todo território nacional. Elicker et al (2015), descrevem que o consumo de álcool atinge a 60,5% entre os adolescentes no brasil, de maneira que expõe o uso em alta predominância no país. Em países como Canadá e Espanha foram encontrados resultados semelhantes ao Brasil sendo eles de 59,1% (Canadá) e 84% (Espanha), em mais estudos realizados no Brasil citados pelos autores a prevalência de bebidas alcoólicas é de 86,8%, 68,9% e 51,0%. Levando em consideração os dados apresentados pelos autores, torna-se relevante discutir sobre álcool e outras drogas nas escolas. Por esse motivo pretendemos elaborar um projeto de prevenção e promoção para orientar os adolescentes que frequentam o instituto. Para que um projeto de prevenção e promoção possa dar certo, precisamos entender que a “adolescência é um incômodo lugar de onde nunca acabamos de sair completamente e para onde voltamos todas as vezes que nos sentimos inseguros e vulneráveis” (TOZZI e BOUER, 1998, p. 114), ou seja, a partir do momento em que entramos na adolescência sempre estaremos em contato com ela, mesmo após atingir a idade adulta. Percebemos então a importância de conhecer a natureza do uso de álcool e drogas por parte dos adolescentes, mas o que acreditamos ser importante são os fatores que expõe o adolescente ao uso dessas substâncias e os motivos que os protegem. Entre os fatores que desencadeiam o uso de álcool e outras drogas pelos adolescentes, os mais importantes são as emoções e os sentimentos associados ao intenso sofrimento psíquico, como depressão, culpa, ansiedade exagerada e baixa autoestima 43 Interfaces Da Psicologia Escolar E O Uso E Abuso De Álcool E Outras Drogas Na Adolescência Em Um Instituto Federal De Educação 3 (PASSOS, 2008), através disso, procuramos adquirir uma visão compreensiva da complexidade dos fatores de risco e de proteção para o uso de drogas na adolescência e levantar a prevalência do uso. Tozzi e Bouer (1998) e Casela et al (2014) realçam que os primeiros passos para elaboração de um projeto de prevenção é conhecer a comunidade que participará, considerar e respeitar as necessidades e características especificas do grupo participante, os métodos a ser pensados precisam ser planejados de maneira compreensiva envolvendo dados referentes ao participante, o meio social no qual está incluído e o uso de substâncias. De acordo com Casela et al (2014), o programa de prevenção precisa fazer parte do cotidiano, ser intensivo, precoce e duradouro, com a intenção de envolver pais e comunidade em suas atividades, para atingir os resultados esperados. O programa ideal é desenvolvido durante toda a escolaridade dos alunos, fortalecendo e criando novas estratégias de proteção que engloba ações preventivas e promocionais visando a diminuição dos riscos que acompanham os adolescentes na conscientização e nas mudanças de princípios e comportamentos em relação ao tema. Nessa direção, esse projeto tem a finalidade de contribuir com um programa de prevenção eficaz, que consiste num conjunto de ações direcionadas a prevenção e promoção do uso e abuso de álcool e outras drogas. O objetivo deste projeto é realizar uma pesquisa sobre as questões que envolvem a frequência do uso abusivo de álcool e outras drogas pelos alunos da instituição e coordenar oficinas psicossociais acerca da temática estudada, é essencial explorar os fatores que venham expor esses adolescente ao uso dessas substancias e os motivos que os protegem. Andaló (1984), descreve o psicólogo escolar como agente de mudanças, o mesmo pode trabalhar com a coordenação de grupos com alunos, professores e a equipe técnica, trabalhando o ensino- aprendizagem dos alunos, relação aluno-professor e as mudanças sociais que ocorrem dentro do ambiente escolar, o que inclui o assunto do uso e abuso de álcool e drogas. O Conselho Federal de Psicologia (2013), descreve que o psicólogo precisa conhecer o ambiente escolar e a comunidade que compõe a escola (professores, alunos, funcionários e pais), para assim, poder desenvolver melhor seu papel, é também relevante lembrar que qualquer atuação efetuada dentro da escola precisa ser pensada com o coletivo, tendo em vista o bem de todos
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